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Boletim nº 3 - Escola Superior de Educação de Viana do Castelo ...

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Crónicas <strong>de</strong> CooperaçãoUm professor <strong>de</strong> línguaportuguesa em Cabo Ver<strong>de</strong>1. Cooperação: da i<strong>de</strong>ia à sua concretizaçãoA i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> participar num projecto <strong>de</strong> voluntaria<strong>do</strong> paraa cooperação com um país lusófono não era nova mas, porrazões diversas, não tinha si<strong>do</strong> ainda possível concretizar atéque em Outubro <strong>de</strong> 2005 apresentei a minha disponibilida<strong>de</strong>ao Doutor Júlio Santos, director <strong>do</strong> programa Educar semFronteiras e <strong>do</strong> Gabinete <strong>de</strong> Estu<strong>do</strong>s para a <strong>Educação</strong> eDesenvolvimento (GEED), da <strong>Escola</strong> <strong>Superior</strong> <strong>de</strong> <strong>Educação</strong><strong>do</strong> Instituto Politécnico <strong>de</strong> <strong>Viana</strong> <strong>do</strong> <strong>Castelo</strong> (ESE-IPVC). Semo saber, a minha <strong>de</strong>claração <strong>de</strong> intenções enquadrava-seplenamente no conjunto <strong>de</strong> projectos que, uns giza<strong>do</strong>s e outrosem marcha, estão a ser leva<strong>do</strong>s a cabo por aquele pólodinamiza<strong>do</strong>r com a Guiné-Bissau, Angola e Cabo Ver<strong>de</strong>.Dada a minha formação profissional, <strong>de</strong> imediato essai<strong>de</strong>ia encontrou eco na <strong>Escola</strong> <strong>de</strong> Formação <strong>de</strong> Professores<strong>do</strong> Ensino Básico <strong>de</strong> Assomada, Instituto Pedagógico <strong>de</strong> CaboVer<strong>de</strong>, com a qual a ESE-IPVC <strong>de</strong>senvolveu já diversosprotocolos <strong>de</strong> cooperação não só a nível <strong>de</strong> formação comoatravés da instalação <strong>de</strong> um centro <strong>de</strong> recursos para alunos<strong>do</strong> IPCV, professores, orienta<strong>do</strong>res <strong>de</strong> estágio e gestoresescolares <strong>do</strong> concelho <strong>de</strong> Santa Catarina, na ilha <strong>de</strong> Santiago.A minha iniciativa permitiu assim resolver um problema já quea escola não dispunha, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início <strong>do</strong> ano lectivo, <strong>de</strong>professor para a disciplina <strong>de</strong> Aprendizagem <strong>de</strong> LínguaPortuguesa e produziu nos oitenta alunos distribuí<strong>do</strong>s por duasturmas uma gran<strong>de</strong> expectativa. Tinha portanto reunidas ascondições para <strong>de</strong>senvolver um trabalho sério e humana eprofissionalmente interessante.2. As primeiras impressõesPara um português que acaba <strong>de</strong> chegar pela primeiravez a África há certas coisas que o perturbam <strong>de</strong> imediato:número eleva<strong>do</strong> <strong>de</strong> pessoas, sobretu<strong>do</strong> crianças, com as quaisnos cruzamos, maior sujida<strong>de</strong> nas ruas, casas por rebocar epintar, partilha <strong>de</strong> certos espaços públicos com alguns animais<strong>do</strong>mésticos como porcos, cabras e galinhas, uma certa animaçãosonora com música, vozes e buzinas, acordar frequentementeao som <strong>de</strong> animais a serem abati<strong>do</strong>s ou sentir tonturas ao ver,<strong>de</strong>penduradas nas árvores, vacas esventradas em processo<strong>de</strong> esquartejamento para venda ou para serem cozinhadas alimesmo. A <strong>de</strong>slocação <strong>de</strong> um europeu também não é fácil:precisa <strong>de</strong> algum tempo para enten<strong>de</strong>r o sistema <strong>de</strong> transportescolectivos na ilha <strong>de</strong> Santiago: em hiace, com lotação máxima(sempre “cheia”, teoricamente mas não legalmente, ilimitada)e um grau <strong>de</strong> comodida<strong>de</strong> variável; em hilux como carga assenteem <strong>do</strong>is bancos laterais convidativos à intercomunicação. Emambos os casos a sua utilização frequente diminui drasticamentea sensibilida<strong>de</strong> aos solavancos provoca<strong>do</strong>s pelas irregularida<strong>de</strong>s<strong>do</strong> piso das estradas. Já percebeu que está noutro país mas,ao contrário <strong>do</strong> que julgava, não enten<strong>de</strong> nada <strong>do</strong> que “eles”dizem, ouvin<strong>do</strong> apenas, aqui e ali, uma ou outra palavraportuguesa mas no meio <strong>de</strong> uma sequência que não enten<strong>de</strong>.Apren<strong>de</strong> então o mais importante: se está a chegarao seu <strong>de</strong>stino <strong>de</strong>verá dizer, no meio <strong>de</strong> uma música altíssima,“Pára li” e a viatura quase instantaneamente se imobiliza (jáse vê que o advérbio “li” significa “aqui”, “já”) ou outra fraseperformativa “Aguenta li”. E a música prossegue sem qualquerinterrupção.Po<strong>de</strong> haver ao seu la<strong>do</strong> uma corpulenta ven<strong>de</strong><strong>de</strong>iraque emite o<strong>do</strong>res a que não está habitua<strong>do</strong> ou cujas ná<strong>de</strong>gaso amarfanham mas se conseguir esquecer essas pequenasvicissitu<strong>de</strong>s <strong>de</strong> viajante, olha à sua volta e vê como são bonitasas pessoas e em quantas <strong>de</strong>las i<strong>de</strong>ntifica traços <strong>de</strong> seusconterrâneos portugueses. Rapidamente, se assim quiser,po<strong>de</strong>rá entrar em conversas ou discussões já encetadas outrazer à liça outros assuntos. Em Cabo Ver<strong>de</strong> saberá quantoa água é um bem precioso e a luz eléctrica uma conquistahumana sobre a natureza. Apren<strong>de</strong>rá também que não é precisoestar sempre a agra<strong>de</strong>cer ou a pedir favores a ninguém masé natural cumprimentar aqueles com quem nos cruzamos nocaminho. Relembramos hábitos já longínquos das al<strong>de</strong>iasportuguesas afinal os mesmos que os outros europeus utilizampolidamente e nós cada vez menos.15Novembro 2006 - educ@r sem fronteiras

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