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Esclerose Lateral Amiotrófica: sua manifestação no Brasil - Revista ...

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Neurociências1Volume 14 – <strong>no</strong> 2 – suplemento - 2006 ISSN – 0104-3579www.unifesp.br/dneuroversão eletrônica exclusivaAnais do V Simpósio <strong>Brasil</strong>eirode DNM/ELA“<strong>Esclerose</strong> <strong>Lateral</strong> Amiotrófica:<strong>sua</strong> manifestação <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>”eI Simpósio Verde Vida Saúde“Saúde com Equilíbrio”2006<strong>Revista</strong> Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006.


Neurociências2Editorial: <strong>Esclerose</strong> <strong>Lateral</strong> Amiotrófica (ELA)A <strong>Esclerose</strong> <strong>Lateral</strong> Amiotrófica (ELA), conhecida na França como Doença de Charcot, e <strong>no</strong>s EstadosUnidos da América como Doença de Lou Gehrig (em homenagem ao famoso jogador de beisebolamerica<strong>no</strong>) é uma das doenças raras que tem desafiado a área da saúde para o seu entendimento etratamento.A ELA compartilha várias características com outras doenças raras: não existem dados absolutos queestabeleçam <strong>sua</strong> prevalência (número de pacientes / 100.000 pessoas) exatas; seu diagnóstico definitivoexige um envolvimento multidisciplinar intenso e contínuo.Sendo uma doença de difícil diagnóstico e rara, a indústria farmacêutica não considera esta doença derentabilidade para o desenvolvimento e comercialização de <strong>no</strong>vos medicamentos.Talvez, isto explique que desde a <strong>sua</strong> descrição original por Charcot, em 1874, tão pouco tenha sidodesenvolvido em medicamentos. Somente em 1994, demonstrou-se que algum medicamento poderiaalterar a história natural da doença. O Riluzol, medicamento antiglutamatérgico, que diminui o processode excitoxicidade do neurônio motor, possibilitou o prolongamento da vida daqueles com ELA emalguns meses. Esta foi uma descoberta importante, mas ainda insuficiente. A doença permanece aprogredir. A fraqueza muscular, generalizada, continua avançando com aparecimento das múltiplasdificuldades: para movimentar-se; comunicar-se; alimentar-se; respirar.O inconformismo com esta evolução, estimulou em um grupo de profissionais brasileiros o desejo defundar uma associação para o combate a ELA.Assim, em 1998, foi fundada a ABRELA, com sede em São Paulo.Desde então, esta associação tem desenvolvido reuniões periódicas com profissionais da saúde,pacientes, familiares e cuidadores com vários objetivos: informação; orientação; intercâmbio deconhecimento e experiência; identificação da prevalência da doença <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>; estimulo a acesso amedicamentos e recursos para melhoria de qualidade de vida; estimulo à autoridades da Saúde paracriação de mecanismos de proteção e desenvolvimento de medicamentos ou equipamentos, mesmo paraas doenças órfãs.O V Simpósio de ELA, ocorrido em 19 e 20/05/2006 foi muito frutífero. Ele contou com a presença de200 congressistas, incluindo-se profissionais da área de saúde, das mais diversas partes do país,pacientes, familiares e cuidadores.Esta jornada possibilitou um maior engajamento político para o conhecimento da doença, além determos a certeza que conhecemos um pouco mais a respeito da etiopatogenia, da fisiopatologia, dasmanifestações clínicas e, sobretudo, com maior dignidade e respeito.Esta jornada permitiu, ainda, mantemos a esperança para um futuro melhor e mais rápido, para a <strong>sua</strong>possível cura. A terapia gênica e a célula-tronco, há um tempo só esperança, já estão se tornandorealidade. A história de cada paciente estimula dentro de nós o sentimento do desafio, o desafio de fazero hoje mais fácil, mais produtivo, mais dig<strong>no</strong>.Acary Souza Bulle Oliveira<strong>Revista</strong> Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006.


Neurociências3ÍndiceEpidemiologia: ELA <strong>no</strong> Mundo – Roberto Dias Batista Pereira.......................................... 09Histórico da ELA <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> – Abrahão Augusto Juvinia<strong>no</strong> Quadros..................................... 14Eletroneuromiografia: Estimativa do número de unidades motoras na ELA – MárioEmilio Dourado...................................................................................................................... 24Etiopatogenia da ELA: causa única ou várias causas? – Helga CA Silva.............................. 35Aspectos Genéticos da ELA – Monize Lazar......................................................................... 43Modelos Animais para doenças neuromusculares humanas – Mariz Vainzof ...................... 48Drogas com maior potencial de uso na ELA – Carlo Domenico Marrone............................ 52Avaliação das atividades da ABRELA: orientações oferecidas, expectativas atingidas?Isabela P Anequini.................................................................................................................. 57Fisioterapia Motora na ELA – Martina A Duran.................................................................. 65Uso da tec<strong>no</strong>logia para pacientes com <strong>Esclerose</strong> <strong>Lateral</strong> Amiotrófica – Adriana NKlein........................................................................................................................................ 70Suplementação nutricional em pacientes com doença do neurônio motor / ELA – PatríciaStanich.................................................................................................................................... 72Assistência integrada: paciente-cuidador-terapeuta-voluntário – Paulo E Ramos............... 76Medicina Tradicional Chinesa – Gislane Cristina Abe.......................................................... 80Terapia Gênica: futuro tratamento para ELA – Miguel Mitne-Neto...................................... 86Sessão de Posters.................................................................................................................... 91<strong>Revista</strong> Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006.


NeurociênciasEditor Chefe / Editor in ChiefGilmar Fernandes do Prado, MD, PhD, São Paulo,SPEditora Executiva / Executive EditorLuciane Bizari Coin de Carvalho, PhD, SãoPaulo, SPEditor Administrativo / Manager EditorMarco Antonio Cardoso Machado, SSD, PhD,São Paulo, SPCo-editor / Co-editorJosé Osmar Cardeal, MD, PhD, São Paulo, SP.Editores Associados / Associate EditorsAlberto Alain Gabbai, MD, PhD, São Paulo, SPEsper Abrão Cavalheiro,MD, PhD, São Paulo, SPFernando Menezes Braga, MD, PhD, São Paulo,SPCorpo Editorial / Editorial BoardDesordens do Movimento / Movement DisordersChefe / HeadHenrique Ballalai Ferraz, MD, PhD, São Paulo,SPMembros / MembersFrancisco Cardoso, MD, PhD, Belo Horizonte,MGSônia Maria Cézar de Azevedo Silva, MD, PhD,São Paulo, SPEgberto Reis Barbosa, MD, PhD, São Paulo, SPMaria Sheila Guimarães Rocha, MD, PhD, SãoPaulo, SPVanderci Borges, MD, PhD, São Paulo, SPRoberto César Pereira do Prado, MD, PhD,Aracajú, SEEpilepsia / EpilepsyChefe / HeadElza Márcia Targas Yacubian, MD, PhD, SãoPaulo, SPMembros / MembersAmérico Ceike Sakamoto, MD, PhD, São Paulo,SPCarlos José Reis de Campos, MD, PhD, SãoPaulo, SPLuiz Otávio Caboclo, MD, PhD, São Paulo, SPAlexandre Valotta da Silva, MD, PhD, São Paulo,SPMargareth Rose Priel, MD, PhD, São Paulo, SPHenrique Carrete Jr, MD, PhD, São Paulo, SPNeurofisilogia/NeurophysiologyChefe / HeadJoão Antonio Maciel Nóbrega, MD, PhD, SãoPaulo, SPMembros / MembersNádia Iandoli Oliveira Braga, MD, PhD, SãoPaulo, SPJosé Fábio Leopoldi<strong>no</strong>, MD, Aracajú, SEJosé Maurício Golfetto Yacozzill, MD, RibeirãoPreto, SPFrancisco José Carcchedi Luccas, MD, São Paulo,SPGilberto Mastrocola Manza<strong>no</strong>, MD, PhD, SãoPaulo, SPCarmelinda Correia de Campos, MD, PhD, SãoPaulo, SPReabilitação / RehabilitationChefe / HeadSissy Veloso Fontes, PhD, São Paulo, SPMembros / MembersJefferson Rosa Cardoso, PhD, Londrina, PR.Márcia Cristina Bauer Cunha, PhD, São Paulo, SPAna Lúcia Chiappetta, PhD, São Paulo, SãoPaulo, SPCarla Gentile Matas, PhD, São Paulo, SPFátima Abrantes Shelton, MD, PhD, Edmond,OK, USASandro Luiz de Andrade Matas, MD, PhD, SãoPaulo, SPLuci Fuscaldi Teixeira-Salmela, PhD, BeloHorizonte, MGFátima Valéria Rodrigues de Paula Goulart, PhD,Belo Horizonte, MGPatricia Driusso, PhD, São Paulo, SPDistúrbios do So<strong>no</strong> / Sleep DisordersChefe / HeadLucila Bizari Fernandes do Prado, MD, PhD, SãoPaulo, SPMembros / MembersMaria Ligia Julia<strong>no</strong>, SSD, São Paulo, SPFlávio Aloe, MD, São Paulo, SPStela Tavares, MD, São Paulo, SPDalva Poyares MD, PhD, São Paulo, SPAdemir Baptista Silva, MD, PhD, São Paulo, SPAlice Hatsue Masuko, MD, São Paulo, SPMaria Carmen Viana, MD, PhD, Vitória, ESVirna Teixeira, MD, PhD, São Paulo, SPGeraldo Rizzo, MD, Porto Alegre, RSRosana Cardoso Alves, MD, PhD, São Paulo, SPRobert Skomro, MD, FRPC, Saskatoon, CanadáSílvio Francisco, MD, São Paulo, SPDoenças Cerebrovasculares /Cerebrovascular DiseaseChefe / HeadAyrton Massaro, MD, PhD, São Paulo, SP.Membros / MembersAroldo Bacelar, MD, PhD, Salvador, BAAlexandre Longo, MD, PhD, Joinvile, SCCarla Moro, MD, PhD, Joinvile, SCCesar Raffin, MD, PhD, São Paulo, SPCharles Andre, MD, PhD, Rio de Janeiro, RJGabriel de Freitas, MD, PhD, Rio de Janeiro, RJJamary de Oliveira Filho, MD, PhD, Salvador,BAJefferson G. Fernandes, MD, PhD, Porto Alegre,RSJorge Al Kadum Noujain, MD, PhD, Rio deJaneiro, RJMárcia Maiumi Fukujima, MD, PhD, São Paulo,SPMauricio Friedirish, MD, PhD, Porto Alegre, RSRubens J. Gagliardi, MD, PhD, São Paulo, SPSoraia Ramos Cabette Fabio, MD, PhD, SãoPaulo, SPViviane de Hiroki Flumignan Zétola, MD, PhD,Curitiba, PROncologia / OncologyChefe / HeadSuzana Maria Fleury Mallheiros, MD, PhD, SãoPaulo, SP.Membros / MembersCarlos Carlotti Jr, MD, PhD, São Paulo, SPFernando A. P. Ferraz, MD, PhD, São Paulo, SPGuilherme C. Ribas, MD, PhD, São Paulo, SPJoão N. Stavale, MD, PhD, São Paulo, SPDoenças Neuromusculares / NeuromusculardiseaseChefe / HeadAcary de Souza Bulle de Oliveira, MD, PhD, SãoPaulo, SPMembros / MembersEdimar Za<strong>no</strong>teli, MD, PhD, São Paulo, SPHelga Cristina Almeida e Silva, MD, PhD, SãoPaulo, SPLeandro Cortoni Calia, MD, PhD, São Paulo, SPLuciana de Souza Moura, MD, PhD, São Paulo,SPLaboratório e Neurociência Básica /Laboratory and Basic NeuroscienceChefe / HeadMaria da Graça Naffah Mazzacoratti, PhD, SãoPaulo, SPMembros / MembersBeatriz Hitomi Kyomoto, MD, PhD, São Paulo,SPCélia Harumi Tengan, MD, PhD, São Paulo, SPMaria José S. Fernandes, PhD, São Paulo, SPMariz Vainzof, PhD, São Paulo, SPIscia Lopes Cendes, PhD, Campinas, SPDébora Amado Scerni, PhD, São Paulo, SPJoão Pereira Leite, MD, PhD, Ribeirão Preto, SPLuiz Eugênio A. M. Mello, MD, PhD, São Paulo,SPLíquidos Cerebroespinhal / Cerebrospinal FluidChefe / HeadJoão Baptista dos Reis Filho, MD, PhD, SãoPaulo, SP.Membros / MembersLeopoldo Antonio Pires, MD, PhD, Juiz de Fora,MGSandro Luiz de Andrade Matas, MD, PhD,SãoPaulo, SPJosé Edson Paz da Silva, PhD, Santa Maria, RSAna Maria de Souza, PhD, Ribeirão Preto, SPNeurologia do Comportamento / BehavioralNeurologyChefe / HeadPaulo Henrique Ferreira Bertolucci, MD, PhD,SãoPaulo, SP.Membros / MembersIvan Okamoto, MD, PhD, São Paulo, SPThais Minetti, MD, PhD, São Paulo, SPRodrigo Schultz, MD, PhD, São Paulo, SPSônia Dozzi Brucki, MD, PhD, São Paulo, SPNeurocirurgia / NeurosurgeryChefe / HeadMirto Nelso Prandini, MD, PhD, São Paulo, SPMembros / MembersFernando Antonio P. Ferraz, MD, PhD, SãoPaulo, SPAntonio de Pádua F. Bonatelli, MD, PhD,São Paulo, SPSérgio Cavalheiro, MD, PhD, São Paulo, SPOswaldo Inácio de Tella Júnior, MD, PhD,São Paulo, SPOrestes Paulo Lanzoni, MD, São Paulo, SPÍtalo Capraro Suria<strong>no</strong>, MD, São Paulo, SPSamuel Tau Zymberg, MD, São Paulo, SPNeuroimu<strong>no</strong>logia / Neuroimmu<strong>no</strong>logyChefe / HeadEnedina Maria Lobato, MD, PhD, SãoPaulo, SP.Membros / MembersNilton Amorin de Souza, MD, São Paulo, SPDor, Cefaléia e Funções Autonômicas / Pain,Headache and Auto<strong>no</strong>mic FunctionChefe / HeadDeusvenir de Souza Carvalho, MD, PhD, SãoPaulo, SPMembros / MembersAngelo de Paola, MD, PhD, São Paulo, SPFátima Dumas Cintra, MD, São Paulo, SPPaulo Hélio Monzillo, MD, São Paulo, SPJosé Cláudio Mari<strong>no</strong>, MD, São Paulo, SPMarcelo Ken-It Hisatugo, MD, São Paulo, SPInterdisciplinaridade e história daNeurociência / Interdisciplinarity andHistory of NeuroscienceChefe / HeadAfonso Carlos Neves, MD, PhD, São Paulo, SPMembros / MembersJoão Eduardo Coin de Carvalho, PhD, SãoPaulo, SPFlávio Rocha Brito Marques, MD, São Paulo, SPVinícius Fontanesi Blum, MD, São Paulo, SPRubens Baptista Júnior, MD, São Paulo, SPMárcia Regina Barros da Silva, PhD, São Paulo,SPEleida Pereira de Camargo, São Paulo, SPDante Marcello Claramonte Gallian, PhD, SãoPaulo, SPNeuropediatria / NeuropediatricsChefe / HeadLuiz Celso Pereira Vila<strong>no</strong>va, MD, PhD, SãoPaulo, SPMembros / MembersMarcelo Gomes, São Paulo, SP4<strong>Revista</strong> Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006.


5V SIMPÓSIO BRASILEIRO DE DNM/ELA<strong>Esclerose</strong> <strong>Lateral</strong> Amiotrófica:“Sua manifestação <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>”(5TH MND/ALS BRAZILIAN SYMPOSIUM ON MND/ALS“Amyotrophic <strong>Lateral</strong> Sclerosis:Its manifestation in Brazil”)e(and)I SIMPOÓSIO VERDE VIDA SAÚDE“Saúde com Equilíbrio”(1 st SYMPOSIUM GREEN LIFE HEALTH“Health with balance”)19 e 20 de maio de 2006(May 19-20, 2006)(São Paulo, Brazil)Assembléia Legislativa de São Paulo - ALESP(Place: Legislative Assembly of São Paulo)DIREÇÃO:(Symposium President)Prof. Dr. Acary Souza Bulle OliveiraCOORDENAÇÃO:(Organizers:)Ft. Ms. Abrahão Augusto Juvinia<strong>no</strong> QuadrosSS.Elica FernandesProfa. Dra. Helga Crisitna Almeida da SilvaFt. Roberto Dias Batista Pereira<strong>Revista</strong> Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006.


6REUNIÃO PRÉ-CONGRESSO(18/05/06 – quinta-feira)18:00 – 20:00h – Discussão de cunho científico – 3 º estudo epidemiológico de ELA(características clínicas)20:00h – Jantar de confraternização(19/05/06 – sexta-feira)Mestre de Cerimônia: Sr. Rodrigo Castanheira9:00h-9:30h – ABERTURA: Dr. Alberto A Gabbai, Dr. Acary SB Oliveira, Deput. Célia Leão,Sr. Afonso C Pucci, Ft.Ms. Abraão AJ Quadros, Dra. Helga CA Silva.Módulo 1 – EPIDEMIOLOGIA9:00 – 10:00h – Epidemiologia Mundial da ELA: Atualizações9:15 – 9:30h – ELA <strong>no</strong> mundo – Ft. Roberto Dias Batista Pereira9:30 – 9:45h – Histórico da ELA <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> – Ft. Ms. Abrahão A.J. Quadrosa) o início; b) a<strong>no</strong>s 909:45 – 10:45h – Atualidades – Experiência <strong>no</strong>s principais centros do país:UNIFESP – Dr. Marco Antonio ChiéiaSanta Casa – Maria Elizabeth Ferraz BallalaiHC Ribeirão Preto – Dr. Wilson MarquesRS – Dr. Varlo Domenico MarroneRN – Dr. Mario Emílio T. DouradoRJ – Dr. Cláudio Heitor Tvares GressMG – Dr. Facundo Burgos Ruiz Jr.SJRP – Dra. Maria da Penha Ananias MoritaMódulo 2 – ASPECTOS CLÍNICOS10:45 – 11:00h – Quando penso em ELA? – Dr.Wilson Marques11:00 – 11:15h - Fasciculação é ELA? Como realizo o diagnóstico – Dra. Luciana M. Alves11:15 – 11:30h – Eletroneuromiografia - Dr. Mario Emilio T. Dourado11:30 – 11:45h – Exames Marcadores – Dr. Antonio Rocha11:45 – 12:00h – Principais diagnósticos diferenciais – Dr. Marco Antonio Chiéia12:00 – 12:15h – Pode ser ELA: digo X não digo - Dr. Acary SB Oliveira, Dr. Carlo D.Marrone12:15 – 12:30h – Participação com a platéia<strong>Revista</strong> Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006.


7Módulo 3 – ETIOPATOGENIA14:00 –14:20h – Causa única? Ou várias causas? – Dra. Helga Crisitna A. da Silva14:20 – 14:40h - Aspectos genéticos – Dra. Monize Lazar14:40 – 15:00h - O meio ambiente e ELA - Dr. Anthony WongMódulo 4 – TERAPÊUTICA5:00 – 15:20h – O que é um ensaio clínico? – Dr. Isac de Castro15:20 – 15:40h - Modelos animais – Dra. Mariz Vainzof15:40 – 16:00h - Drogas em Estudo – Dr. Marco Antonio Chiéia16:00 – 16:20h - Drogas de maior potencial de uso – Dr. Carlo Domenico Marrone16:20 – 16:40h - Tratamento atual: o que usamos? Como usamos? Desde quandointroduzimos? – Dr. Acary S.B. Oliveira16:40 – 17:30h – Platéia(20/05/06 – sábado)Módulo 5 – TERAPIA E REABILITAÇÃO08:30 – 08:45h – Serviço Social – Orientação e disponibilização de recursos – Recursosutilizados? – Élica Fernandes08:45 – 09:00h – Justiça ou injustiça – Dra. Silvana Alves Scarance09:00 – 09:15h - Respirar, sempre – Ft. Ms. Maria Clareane Berto Hayashi09:15 – 09:30h – Eu mexo – Fisioterapia – Ft. Martina Duran09:30 – 09:45h – Eu mexo – Terapia Ocupacional – T.O. Adriana Klein09:45 – 10:00h – Eu falo – Fga. Ms. Adriana Leico Oda10:00 – 10:15h – Estou nutrido – Nut. Ms. Patricia Stanich10:15 – 10:30h – Assistência Domiciliar Integrada – Público X Privada – Enf.Ms. Ana PaulaGuarnieri10:30 – 10:45h – Eu sinto, penso e existo – Psicol. Vânia de CastroAssistência Integrada: paciente – cuidador – terapeuta – voluntário10:45 – 11:00h – Verde Vida – Ft. Paulo Ramos – Presidente11:00 – 11:15h – Medicina Tradicional Chinesa – Dra. Gislaine C Abe – Coordenadora docurso Verde Vida Saúde11:15 – 11:30h – Psicologia – Profa. Dra. Ligia Masagão Vitali11:30 – 11:45h - Arte Psic. – Dra. Gracinda Rodrigues Tsukimoto11:45 – 12:30h – Oficinas Externas:<strong>Revista</strong> Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006.


8Diretor de Estratégia do Verde Vida Saúde – José PeixotoCorpo Mole – Nilcéia Noli do Amaral e Noeme Alves BarretoÓcio Inútil – Renata Souza Teles e Leonilda Cardoso SantanaÓcio Gostoso – Dilson Nunes Machado e Josiane LopesProjeto Tutor – Psic. Ms. Antonio Geraldo A. Filho e Psic. Ana Luiza F. SteinerMódulo 6 – NOVIDADE14:00 – 14:30h – Terapia Gênica – Dr. Miguel Mitne Neto14:30 – 15:00h – Célula-Tronco – Dr. Luiz Eugenio de Mello15:00 – 15:30h – Terapia Nova: tentar sempre X esperar é bom – Dr. Julio Voltarelli e Dr.Gabriel Wolf Oselka15:30 – 16:30h – O que tem de <strong>no</strong>vo <strong>no</strong> pedaço? Representantes de Associações:<strong>Brasil</strong> Parkinson – Sr. Samuel Grossman – PresidenteABRELA – Abrahão Augusto J. Quadros – PresidenteABDIM – Dra. Ana Lucia Langer – Diretora ClínicaABRASSPP – Luiz Baggio – Presidente16:30 – 17:30h – Representantes PolíticosAssembléia Legislativa de São Paulo – Deputada Célia LeãoSecretaria Municipal da Saúde - Dra. Maria Cristina CurySecretaria Estadual da Saúde – Dr. Roberto Barradas BarataSecretaria Especial da Pessoa com Deficiência e Mobilidade Reduzida - Srta. Mara GabrilliDinâmica Saúde e Equilíbrio – Prof. Dr. Jou El JiaREALIZAÇÃO:ABRELA - Associação <strong>Brasil</strong>eira de <strong>Esclerose</strong> <strong>Lateral</strong> AmiotróficaUNIFESP/EPM/HSP – Universidade Federal de São Paulo/Escola Paulista de Medicina/Hospital SãoPauloABN – Academia <strong>Brasil</strong>eira de NeurologiaPATROCÌNIO: SANOFI-AVENTIS Ltda.PRÓ FÓRMULAAPOIO:ALESP – Assembléia Legislativa de São PauloPROJETO VERDE VIDA SAÚDECERTIFICAÇÃO PELA AMB – Associação Médica <strong>Brasil</strong>eira – 08 créditosCURSO OFICIAL PELA COMISSÃO NACIONAL DE ACREDITAÇÃO – CNA da AMB<strong>Revista</strong> Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006.


9Epidemiologia: ELA <strong>no</strong> MundoEpidemiology: ALS in WorldRoberto Dias Batista PereiraVice-Presidente da Associação <strong>Brasil</strong>eira de <strong>Esclerose</strong> <strong>Lateral</strong> Amiotrófica – ABRELA. Mestrando em Ciênciasda Saúde pela Escola Paulista de Medicina / Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP.Acredita-se que a incidência da <strong>Esclerose</strong> <strong>Lateral</strong> Amiotrófica (ELA) seja a mesma emtodo o mundo, contudo, não há um estudo comparativo bem conduzido da ELA entrepopulações diferentes, grupos étnicos ou área geográfica definida fora da Europa e daAmérica do Norte. No mundo a prevalência (número de casos existentes) é de 3 - 8 casos por100.000 habitantes, e tem uma incidência por a<strong>no</strong> (número de <strong>no</strong>vos casos) de 2/100.000.Entretanto, estudos isolados mostram que existem variações. Algumas seletas regiões <strong>no</strong>mundo chamam a atenção quanto à taxa de incidência por serem mais elevada, como na ilhade Guam, em Nova Guiné ocidental, e na península de Kii <strong>no</strong> Japão.Nos Estados Unidos a epidemiologia é bem conhecida devido ao grande número detrabalhos científicos realizados. Sabe-se que 5.000 <strong>no</strong>vos casos são diag<strong>no</strong>sticados com ELAa cada a<strong>no</strong>, correspondendo, aproximadamente, a 13 <strong>no</strong>vos casos por dia, incidência de2/100.00. A metade de todos os pacientes afetados vivem pelo me<strong>no</strong>s 3 a<strong>no</strong>s ou mais após odiagnóstico. Em tor<strong>no</strong> de 20% vivem 5 a<strong>no</strong>s ou mais, e até 10 % sobrevivem mais de 10 a<strong>no</strong>s.A maioria encontra-se entre 40 e 70 a<strong>no</strong>s. Acomete geralmente mais homens do quemulheres, embora, trabalhos mais recentes mostram que ambos os sexos estão sendo afetadosde forma semelhante.Relatos do aumento <strong>no</strong> número de casos de ELA em mulheres podem estarrelacionados a melhor identificação da população com estudos já realizados, a efeitos de umaexposição ambiental recente não identificada, e/ou mudanças <strong>no</strong> estilo de vida, fazendo comque estas sejam expostas à potenciais tóxicos, associando historicamente com os homens(fumo, exposições ocupacionais).Referente aos países europeus foi realizado uma pesquisa a qual foram selecionados26 estudos europeus e 28 não-europeus, apresentando uma incidência de ELA variando de1,7(Itália) a 2,4 (Finlândia média) por 100.000/a<strong>no</strong> na Europa e de 0,31 (China) a 1,98<strong>Revista</strong> Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006.


(Estônia) por 100.000/a<strong>no</strong> fora da Europa. Outros países e regiões com estudos de ELA <strong>no</strong>mundo (Tabela 1).10RegiõesTabela 1. Países países e regiões com estudos de ELA.Incidência(por 100.000 habitantes)PrevalênciaA<strong>no</strong>(por 100.000 habitantes) PublicaçãoGuam 3,9 2004Líbia 3,4 2005Austrália 2,9 2005Irlanda 2,8 4,7 1999Japão * 2,5 11,31 * Wakayama 2005Finlândia 2,4 2006EUA * 2,0 3 - 8 2004Canadá * 2,0 6,7 2005Estônia 1,9 2006Noruega 1,9 2005Inglaterra 1,7 2001Itália * 1,7 4,03 2005<strong>Brasil</strong> 1,5 1998França * 1,5 2000Grécia 1,3 2005Polônia 0,8 2005Chile 0,5 2005México 0,4 2005China 0,3 2006* Média da incidência dos trabalhos realizados <strong>no</strong> país.Nos EUA dois trabalhos de incidência e três em mortalidade sugerem um risco maiorpara ELA entre brancos quando comparados aos brancos lati<strong>no</strong>-america<strong>no</strong>s e aos afroamerica<strong>no</strong>s,entretanto, 0,61 maior em negros do que em brancos, 2,08 maior em espa<strong>no</strong>s easiáticos em relação a outros brancos.Outros fatores chamam a atenção, como a exposição ao choque elétrico severo,atividade física extenuante, soldados que serviram na primeira guerra do Golfo, e jogadoresde futebol profissional (soccer).<strong>Revista</strong> Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006.


Um estudo recente realizado na Irlanda discutindo a relação da ELA com a atividadefísica extenuante, identificou nas maratonas na cidade de Dublin (1980-2002) maratonistasirlandeses com diagnóstico de ELA. Num total de 59.604 maratonistas, 14.443 eramirlandeses, destes 661 eram acometidos com ELA, diag<strong>no</strong>sticados entre os a<strong>no</strong>s de 1993 –2002. Esse trabalho, ainda em continuidade, representa o primeiro estudo epidemiológico afim de determinar o risco de ELA entre um largo “cohort” de indivíduos envolvidos emexercícios vigorosos não-profissionais.Em relação aos vetera<strong>no</strong>s da guerra do Golfo, o risco relativo de morrer de ELA é de1,5 vezes maior que <strong>no</strong>s homens que não serviram. O aumento na mortalidade de ELA foiobservado entre os homens que serviram o exército ou a guarda nacional (RR = 1.54),marinha (RR = 1.87), força aérea (RR = 1.54), e guarda costeira (RR = 2.24); nenhumaumento <strong>no</strong> risco foi encontrado <strong>no</strong>s homens que serviram o corpo de fuzileiros navais,embora houvesse somente 13.670 homens neste grupo. Os números mostraram que 281.874homens que serviram as forças armadas dos EUA, 217 morreram de ELA, comparado a 63dos 126.414 que não serviram.Quanto aos jogadores de futebol profissional na Itália, 18 casos com ELA foramidentificados dentre 7.000 jogadores. Cientistas sugerem diversas explanações, nenhuma delascom certeza. Talvez a ELA esteja relacionada ao exercício físico pesado, e conseqüentementenão relacionado particularmente ao futebol, ou talvez envolvendo o trauma principal emcabecear a bola, ou a repetição dos traumas que envolvem os membros inferiores, sejam osfatores relacionados. As drogas terapêuticas ilegais ou legais podem também estar envolvidas,e é possível que as toxinas ambientais como os fertilizantes ou os herbicidas usados <strong>no</strong>scampos de futebol tenham a <strong>sua</strong> influência.A mortalidade mundial da ELA ainda não está bem definida, todavia, pode-se destacaros principais dados encontrados na literatura.Nos EUA as taxas totais da mortalidade de Doença do Neurônio Motor (DNM)aumentaram de 1.25 para 1.82/100.000, representando um aumento de 46% durante o períodode 30 a<strong>no</strong>s (1969-1998). As taxas entre as mulheres aumentaram 60% e continuamaumentando. As taxas entre homens cresceram 35% durante esse período. As taxas demortalidade entre afro-america<strong>no</strong>s e hispânicos foi aproximadamente 50% mais baixas do que11<strong>Revista</strong> Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006.


as taxas entre brancos não-hispânico. As taxas de mortalidade da DNM variam de 2.22 (1.89 a2.55) <strong>no</strong> <strong>no</strong>roeste, e 1.57 (1.44 a 1.71) <strong>no</strong> sudeste.Já na França foram analisados 9.005 mortes de ELA entre os a<strong>no</strong>s de 1968 e 1982. Astaxas totais de mortalidade eram 1.45/100.000 para homens e 0.90/100.000 para mulheres. Foiencontrado um aumento substancial na mortalidade de ELA sobre o tempo: as taxas ajustadas(por 100.000) <strong>no</strong> período de 1968 a 1971 eram 1.11 para homens e 0.63 para mulheres. Noperíodo 1979 a 1982, correspondem respectivamente entre 1.92 e 1.12. O aumento foiprincipalmente em pacientes abaixo de 55 a<strong>no</strong>s de idade e afetados na maior parte emmulheres identificadas <strong>no</strong>s primeiros a<strong>no</strong>s (1968 a 1978). Nos a<strong>no</strong>s mais recentes há umaumento similar em ambos os sexos.Estudos na Noruega mostram que a mortalidade anual de ELA dobrou em um estudo,elevando-se de 1.38 a 2.54 por 100.000 habitantes <strong>no</strong> fim do estudo. Esta mortalidadeaumentou na população acima de 60 a<strong>no</strong>s de idade, com um pico <strong>no</strong> grupo de idade entre 80 a84 a<strong>no</strong>s. O aumento era maior nas mulheres do que <strong>no</strong>s homens, e a relação entre os sexos foide 1.32. Os autores relataram que há um aumento na mortalidade de ELA na Noruega.Embora o aumento da mortalidade seja restrito à população com 65 a<strong>no</strong>s ou mais, isto nãopode ser explicado somente por um aumento da idade da população em geral.A ELA sempre foi conhecida como uma doença “rara”, entretanto, mundialmentechama a atenção pelo número crescente de <strong>no</strong>vos casos, mesmo isolados. Sendo assim,estima-se que a incidência mundial esteja em um crescente como um todo.12Referências Bibliográficas1. Noonan CW, White MC, Thurman D, Wong LY. Temporal and geographic variation in UnitedStates motor neuron disease mortality, 1969–1998. Neurology 2005;64:1215-1221.2. Seljeseth YM, Vollset SE, Tysnes OB. Increasing mortality from amyotrophic lateral sclerosis inNorway? Neurology 2000;55:1262-1266.3. Durrleman S, Alperovitch A. Increasing trend of ALS in France and elsewhere: are the changesreal? Neurology, 39(6):768-773.4. Kurtzke JF. Epidemiology of amyotrophic lateral sclerosis. Adv Neurol. 1982;36:281-302.<strong>Revista</strong> Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006.


5. Preux PM, Druet-Cabanac M, Couratier P, Debrock C, Truong T, Marcharia W, et al. Estimation ofthe amyotrophic lateral sclerosis incidence by capture-recapture method in the Limousin region ofFrance. J Clin Epidemiol. 2000;53(10):1025-1029.6. Beghi E. The role of epidemiology in research and care provision. Joint Opening Session 2003.7. Epidemiology Studies Explore Potential Risk Factors for ALS. One Study: Veterans May HaveHigher Risk of ALS; A<strong>no</strong>ther Suggests Physical Activity Not a Risk Factor, 2005.8. Logrosci<strong>no</strong> G, Beghi E, Zoccolella S, Palaga<strong>no</strong> R, Fraddosio A, Simone IL, et al. Incidence ofamyotrophic lateral sclerosis in southern Italy: a population based study. J Neurol Neurosurg Psychiatr2005;76:1094-1098.9. Elissa B. A Mind Trapped in a Body. Biology 2000, 202 Second Web Report on Serendip.10. Kihira T, Yoshida S, Hironishi M, Miwa H, Okamato K, Kondo T. Changes in the incidence ofamyotrophic lateral sclerosis in Wakayama, Japan. Amyotroph <strong>Lateral</strong> Scler Other Motor NeuronDisord. 2005;6(3):155-163.11. Logrosci<strong>no</strong> G, Beghi E, Zoccolella S, Palaga<strong>no</strong> R, Fraddosio A, Simone IL, et al. Incidence ofamyotrophic lateral sclerosis in southern Italy: a population based study. J Neurol NeurosurgPsychiatry. 2005;76(8):1094-1098.12. Weisskopf MG, O'Reilly EJ, McCullough ML, Calle EE, Thun MJ, Cudkowicz M, et al.Prospective study of military service and mortality from ALS. Neurology. 2005;64(1):32-37.13. Sejvar JJ, Holman RC, Bresee JS, Kochanek KD, Schonberger LB. Amyotrophic lateral sclerosismortality in the United States, 1979-2001. Neuroepidemiology. 2005;25(3):144-152.14. Argyriou AA, Polychro<strong>no</strong>poulos P, Papapetropoulos S, Ellul J, Andriopoulos I, Katsoulas G, et al.Clinical and epidemiological features of motor neuron disease in south-western Greece. Acta NeurolScand. 2005;111(2):108-113.15. Cronin S, Hardiman O, Tray<strong>no</strong>r BJ. Motor neuron disease: Ethnic diversity in ALS – a metaanalysis.16th Meeting of the European Neurological Society, 2006.16. Cronin S, Hardiman O, Tray<strong>no</strong>r BJ. Motor neuron disease: Risk of ALS in Irish marathon runners.16th Meeting of the European Neurological Society, 2006.13<strong>Revista</strong> Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006.


História da <strong>Esclerose</strong> <strong>Lateral</strong> Amiotrófica <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>History of Amyotrophic <strong>Lateral</strong> Sclerosis in BrazilAbrahão Augusto Juvinia<strong>no</strong> QuadrosFisioterapeuta, Mestre em Ciências da Saúde pela Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista deMedicina. Presidente da ABRELA – Associação <strong>Brasil</strong>eira de esclerose <strong>Lateral</strong> Amiotrófica14A esclerose lateral amiotrófica ainda é pouco conhecida <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, mesmo após 97 a<strong>no</strong>sda primeira descrição da doença em <strong>no</strong>sso país. Embora sendo considerada como uma doençarara a ELA não afeta somente a pessoa com a doença. Ela causa um grande impacto social eeconômico na família e na comunidade.Esta abordagem apresenta três momentos da a história da ELA <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: 1) Osprimeiros estudos - de 1909 até 1935, 2) Estudos epidemiológicos – de 1983 até 2002 e, 3)Atuação da Associação <strong>Brasil</strong>eira de <strong>Esclerose</strong> <strong>Lateral</strong> Amiotrófica - ABRELA.1 - Os Primeiros Estudos – 1909 a 1935Este período é caracterizado por estudos de casos clínicos, que proporcionaram asprimeiras contribuições para o entendimento da manifestação da ELA em <strong>no</strong>sso meio. Osestudos se concentraram <strong>no</strong>s Estados do Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e São Paulo,conforme mostrado na tabela 1.A primeira descrição da esclerose lateral amiotrófica <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> coube ao Dr. Cypria<strong>no</strong>de Souza Freitas, professor de anatomia e fisiologia patológica da Faculdade de Medicina doRio de Janeiro. Conhecedor na época de quatro casos de ELA. Escolheu para apresentar <strong>no</strong> IVCongresso Médico Lati<strong>no</strong> America<strong>no</strong> na cidade do Rio de Janeiro em agosto 1909,observações e comentários sobre um caso de ELA e em <strong>no</strong>vembro do mesmo a<strong>no</strong> publicou <strong>no</strong>Brazil-Médico com o título “Sobre um caso de esclerose lateral amyotrophica”, um casoclínico definido por ele como assas interessante, pela:1) Raridade da afecção entre nós;2) Idade de início dos sintomas;3) Dificuldade de formular, desde o começo, um diagnóstico preciso, assumindo osfenôme<strong>no</strong>s de uma forma frustra, bem diversa da forma clássica.<strong>Revista</strong> Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006.


Tratava-se de paciente do sexo masculi<strong>no</strong>, branco, 73 a<strong>no</strong>s de idade, sem antecedenteshereditários dig<strong>no</strong>s de referência. Trabalhava em especulações financeiras e praticava atividadefísica sendo definido como “bom andador”.Começou a sentir ligeiro enfraquecimento da mão direita, sobretudo dos dedos. Afraqueza evoluiu gradualmente acompanhada de atrofia dos músculos da mão.Examinado quatro meses após o início dos sintomas, apresentava paresia bemacentuada do membro superior direito. Atrofia muitíssimo acentuada na região tenar eacentuada na região hipotenar e dos interósseos. Apresentava também atrofia na musculaturado antebraço, braço e cintura escapular, fasciculação nas regiões atrofiadas, leve espasticidadee movimentos espasmódicos nas mãos. A musculatura do membro superior direito, da face,pescoço, tronco, e membros inferiores estava íntegra e com força <strong>no</strong>rmal.O reflexo estava vivo <strong>no</strong> membro afetado e <strong>no</strong>rmal <strong>no</strong>s outros segmentos. Asensibilidade estava <strong>no</strong>rmal em todo o corpo. Os sentidos intactos, inteligência perfeita, semdificuldade para comer e digerir e função esfincteriana <strong>no</strong>rmal.Reavaliado, três meses mais tarde, apresentava atrofia <strong>no</strong>s músculos da mão esquerdacom presença de fasciculação, sensibilidade <strong>no</strong>rmal e reflexos ora se mostravam vivos tanto<strong>no</strong>s membros superiores como os patelares, mas sem sinal de Babinski.Referiu que as vezes tinha embaraço na pronúncia das palavras. Ao exame apresentavaos movimentos de lábios e língua perfeitos, véu do palato simétrico, reflexo faríngeo <strong>no</strong>rmal,porém o reflexo masseteri<strong>no</strong> estava vivo.Um mês mais tarde, sofreu um forte ataque de gripe e ficou acamado por muitos dias.Após a recuperação da gripe, apresentava agravamento dos sintomas da ELA, comaparecimento de atrofia <strong>no</strong>s músculos do tronco e paresia <strong>no</strong>s membros inferiores, reflexospatelares exaltados (maior à direta), continuando a ausência do sinal de Babinski. Apareceramtambém dificuldade para deglutir, fasciculação de língua, impossibilidade de assobiar,insuficiência respiratória e acessos de sufocação, sobretudo a <strong>no</strong>ite.O período de avaliação foi de oito meses, de janeiro a agosto de 1909. Após a primeiraavaliação clínica, o Dr. Cypria<strong>no</strong> confirma o diagnóstico de ELA com o seguinte comentário:“A vista da amiotrofia e da insignificância dos fenôme<strong>no</strong>s espásticos, que exigem procurados,poder-se-ia supor que <strong>no</strong>s achávamos diante de um caso de atrofia muscular do tipo Aran-Duchenne. Mas, atendendo que a paresia não guardava relação com a atrofia e, sobretudo,15<strong>Revista</strong> Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006.


tendo em conta a vivacidade dos reflexos, fiz o diagnóstico de Moléstia de Charcot, de tipoamyotrophico”.A partir da descrição do Dr. Cypria<strong>no</strong> Freitas, vários casos foram registrados naliteratura médica nacional que contribuíram para o conhecimento da manifestação da ELA em<strong>no</strong>sso meio.Em julho de 1913, Eduardo Monteiro, apresentou “um caso de esclerose lateralamyotrophica” na Gazeta Clínica de São Paulo onde registra que o início da afecção se deu <strong>no</strong>membro superior direito.O Dr. Aloysio de Castro, professor de clínica médica da Universidade do Rio deJaneiro. Publicou, em 1914, o “Tractado de Semiótica Nervosa” que apresenta a descrição da<strong>Esclerose</strong> <strong>Lateral</strong> Amyotróphica (Mal de Charcot).Em 1915, o Dr. Gonçalves Vianna escreveu <strong>sua</strong>s observações “A respeito de um casode Mal de Charcot (Typo Mixto)”, na <strong>Revista</strong> dos Cursos da Faculdade de Medicina de PortoAlegre.O primeiro caso de ELA bulbar foi apresentado, em 1916, pelo Dr. Raul Moreira daSilva em <strong>sua</strong> tese, aprovada com distinção, intitulada “Mal de Charcot (A Respeito de UmCaso de Início bulbar)” apresentada a Faculdade de Medicina de Porto Alegre/RS. Tratava-sede Paciente do sexo masculi<strong>no</strong>, 56 a<strong>no</strong>s de idade, branco, europeu natural de Duppau(Boemia), residente na cidade de Porto Alegre/RS, exercia a profissão de Farmacêutico. Ossintomas iniciaram com o sentir certa dificuldade em deglutir os alimentos, em <strong>no</strong>vembro de1914.Os Doutores Luiz Guedes e Ney Cabral apresentaram, em 1918, um “Caso Clínico deAspecto de E.L.A” em Porto Alegre/RS. <strong>Revista</strong> dos Cursos da Faculdade de Medicina dePorto Alegre.Ainda do Rio Grande do Sul, em 1919, o Dr. Odi<strong>no</strong> Lelio Pinós Duarte apresentou <strong>sua</strong>tese sobre a dissertação de “Em tor<strong>no</strong> de um caso de <strong>Esclerose</strong> <strong>Lateral</strong> Amyotrophica (formaparaplegica)” à Faculdade de Medicina de Porto Alegre/RS.Em 1924, os Doutores C. Trétiakoff e Moacir F. Amorim publicaram em francês <strong>no</strong>jornal Memórias do Hospicio Juquery – São Paulo, “Um cas de sclérose latéraleamyotrophique pseudo-polynevritique, observée chez une alienée, atteinte de turbérculoseintestinale” (Um caso de esclerose lateral amiotrófica pseudo-polineuritica, observado em uma16<strong>Revista</strong> Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006.


alienada, portadora de tuberculose intestinal), em que apresentam os estudos de “autopsia eexame histopatológico” do Sistema Nervoso Central.O Dr. Gonçalves Vianna, professor catedrático de anatomia e fisiologia patológica daFaculdade de Medicina de Porto Alegre, publicou <strong>no</strong> livro Clínica Neurológica, em 1925, “Emtôr<strong>no</strong> de dois casos de esclerose lateral amyotrophica (Molestia de Charcot)”. Trata-se de doisestudos realizados na Faculdade de Medicina de Porto Alegre, em 1915 e 1916, o primeiropublicado na revista da faculdade e o segundo estudo realizado com alu<strong>no</strong>s do quinto a<strong>no</strong> demedicina, que resultou na tese de Raul Moreira da Silva.Em 1926, o Dr. Carlos da Motta Rezende apresenta <strong>sua</strong> tese de livre docência aFaculdade de Medicina do Rio de Janeiro, intitulada “Contribuições ao estudo da escleroselateral amyotrophica (Doença de Charcot)”.No mês de outubro de 1927, o jornal Brazil-Médico publica o artigo dos Doutores F.Espozel e Teixeira Mendes – “Sobre um caso de esclerose lateral amyotrophica de iníciopseudo-polyneurítico” ocorrido na cidade do Rio de Janeiro. Os autores chamam a atençãopara “a errônea <strong>no</strong>ção de que a doença de Charcot é rara entre nós”.Também em 1927, o Dr. Pauli<strong>no</strong> W. Longo apresenta <strong>sua</strong> tese à Faculdade de Medicinade São Paulo, sob o título de “Contribuições ao estudo da esclerose lateral amyotrophica”, emque registra oito casos, e discute a natureza infecciosa da ELA. Pela importância do estudo, aSociedade de Medicina e Cirurgia conferiu-lhe a medalha de ouro “Dr. Sergio Meira”.Dois trabalhos foram publicados em 1929: O primeiro em fevereiro <strong>no</strong> Arquivo<strong>Brasil</strong>eiro de Medicina, “Doença de Charcot” dos Doutores Waldomiro Pires e AloizioMarques. O segundo em agosto <strong>no</strong> Jornal <strong>Brasil</strong>-Medico, o relatório que foi apresentado em,junho do mesmo a<strong>no</strong>, <strong>no</strong> Congresso de Neurologia, Psiquiatria e Medicina Legal, <strong>no</strong> centenárioda Academia Nacional de Medicina, dos conceituados professores da Faculdade de Medicinado Rio de Janeiro, Antonio Austregesilo e F. Esposel – “Contribuições <strong>Brasil</strong>eiras ao Estudo de<strong>Esclerose</strong> <strong>Lateral</strong> Amyotrophica” em que tecem comentários sobre a “etiologia, pathogenia ephysiologia pathologica”, sobre os trabalhos publicados <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> e apresentam quatro casosclínicos. Afirmam em <strong>sua</strong>s conclusões: “1. A opinião de raridade da esclerose amyotrophica <strong>no</strong><strong>Brasil</strong> desapareceu com o apuro diagnóstico e a multiplicidade e publicações a respeito. 2.Apezar dos autores clássicos dizerem que não há alterações da sensibilidade na E.L.A., ascontribuições brasileiras e americanas referem-nas, sobretudo na fórma pseudo-polyneuritica.17<strong>Revista</strong> Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006.


3. A anatomia pathologica revela varias lesões que ultrapassam os systemas motores, o queexplica o facto acima referido. 4. A observação brasileira não apura a hereditariedade, oelemento familiar, nem até agora determi<strong>no</strong>u o agente causal da doença.”Em 1930, o Prof. Dr. Antonio de Moraes Austregesilo (Austragesilo Filho), apresenta<strong>sua</strong> tese de livre docência a congregação da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro,intitulada “Alterações da sensibilidade na doença de Charcot” onde apresenta seis casosclínicos, desses, quatro casos já publicados, em 1929.No a<strong>no</strong> de 1935, é publicada a segunda edição do livro Semiótica Nervosa do ProfessorAloysio de Castro. A ELA é apresentada de forma ilustrada <strong>no</strong> capítulo Semiotica das AtrofiasMusculares - Amyotrophias Deuteropathias.18Tabela 1 – Contribuições brasileiras ao estudo da ELA – número de casos por Estado de 1909 a 1935.Rio de Janeiro São Paulo Rio Grande do SulA<strong>no</strong> casos casos casos1909 011913 011915 011916 011918 011919 011924 011925 01 021927 04 081929 041930Total 10 10 062 – Estudos EpidemiológicosOs estudos epidemiológicos aparecem na literatura médica nacional somente a partir dadécada de 1980. Até o momento atual foram realizados seis estudos epidemiológicos regionaise um estudo nacional, conforme apresentamos a seguir.a) Estudos Epidemiológicos Regionais:1 – O primeiro estudo - Aspectos epidemiológicos da esclerose lateral amiotrófica nacidade do Rio de Janeiro, foi realizado em 1983, pelo Dr. José Mauro Braz Lima ecolaboradores. O estudo foi baseado <strong>no</strong>s dados de morbidade e mortalidade do Instituto deNeurologia Deolindo Couto (INDC/UFRJ), correspondentes a um período de 15 a<strong>no</strong>s (1963 a1977) de 136 pacientes com ELA. 92 homens (67.6%) e 44 mulheres (32.2%) uma taxa de 2:1.<strong>Revista</strong> Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006.


A média de Idade foi de 48,38 a<strong>no</strong>s, sendo que 51,14% tinham idade me<strong>no</strong>r que 50 a<strong>no</strong>s. Amaioria eram brancos (63,97%), seguidos de 20,58% de pardos e 15,44% de negros.O Coeficiente de Mortalidade 1965 – 1974 (10 a<strong>no</strong>s), variou de 0,3 – 0,9/100,000.Os sintomas iniciais começaram <strong>no</strong>s membros superiores em 50,73% dos pacientes, <strong>no</strong>smembros inferiores em 34,55% e, disartia e disfagia em 14,70%. As formas clínicas do inícioda doença são mostradas na tabela 2.19Tabela 2 – Formas clínicas de 136 pacientes com ELA <strong>no</strong> Instituto Deolindo Couto <strong>no</strong> período de1963 a 1977.Formas Clínicas No Homens (%) Mulheres (%)Espinhal 106 75 (55,14) 31 (22.79)Bulbar 20 11 (8,08) 9 (6.61)Pseudo-Polineuritica 10 6 (4,41) 4 (2.94)TOTAL 136 92 44Os demais estudos são mencionados pela ordem do a<strong>no</strong> de publicação, são eles:2 – Realizado <strong>no</strong> Rio de Janeiro - RJ em 1991, abrangendo um período de 7 a<strong>no</strong>s (1979– 1986), por Gomes M. M. – Envelhecimento e o aumento das doenças amiotróficas:Epidemiologia das doenças (crônicas) das células do cor<strong>no</strong> anterior da medula.3 – Realizado em São Paulo - SP em 1998, abrangendo um período de 6 a<strong>no</strong>s (1991 –1997), por Moraes L, Goldbaum M, Silva HCA, Callegaro D. – Taxa de incidência deesclerose lateral amiotrófica na cidade de São Paulo.4 – Realizado em Fortaleza – CE em 1999, abrangendo um período de 9 a<strong>no</strong>s (1980 –1999), por Castro-Costa CM, Oriá RB, Machado-Filho JA et al. – ELA. Análise clínica de 78casos de Fortaleza (<strong>no</strong>rdeste do <strong>Brasil</strong>).5 – Realizado em Salvador – BA em 2000, abragendo um período de 2 a<strong>no</strong>s (1997 –1999), por Antônio de Souza Andrade e colaboradores – Perfil clínico do paciente comesclerose lateral amiotrófica na Bahia – <strong>Brasil</strong>.6 – Realizado em Curitiba – PR em 2002, abrangendo um período de 14 a<strong>no</strong>s (1977 –2001), por Lineu César Werneck e colaboradores – Estudo clínico-epidemiológico de 226casos de ELA.<strong>Revista</strong> Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006.


) Estudo Epidemiológico Nacional:O único estudo epidemiológico nacional foi realizado em 1998 por iniciativa daABRELA e Aventis Farma, com a participação dos principais centros de referência e de 168neurologistas de várias regiões do país.Os autores deste trabalho foram: Flávia Dietrich-Neto, Dagoberto Callegaro, Elza DiasTosta, Helga Almeida Silva, Maria Elizabeth Ferraz, José Mauro Braz Lima, Acary SouzaBulle Oliveira.O tema: <strong>Esclerose</strong> <strong>Lateral</strong> Amiotrófica <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: registro nacional, 1998.Foram incluídos <strong>no</strong> trabalho 443 pacientes de várias regiões do <strong>Brasil</strong>, sendo 259homens (58,5%) e mulheres 184(41,5%), com uma taxa de 1.4/1. A média de idade foi 52 a<strong>no</strong>s±13, e a mediana 52 a<strong>no</strong>s de idade. A forma clínica inicial mais freqüente encontrada <strong>no</strong>estudo foi a espinhal. Apresentamos a tabela 3 com as formas clínicas e as demaiscaracterísticas da maneira como aparece <strong>no</strong> artigo.Os autores concluem que, as características epidemiológicas da doença são semelhantesa dos estudos internacionais, exceto para a idade dos primeiros sintomas (pacientes brasileirossão mais jovens).20Tabela 3 – Distribuição do sexo de acordo com as Formas Clínicas, tempo do primeiro sintoma até odiagnóstico, idade de início e sobreviventes.Características Homens Mulheres Num. TotalForma Clínica* N (%) N (%) N (%)Bulbar 38 (15)** 44 (24)** 82 (18.5)Apendicular 187 (73) 118 (65) 306 (69.1)Generalizada 32 (12) 20 (11) 52 (11.7)Tempo do primeiro sintoma até odiagnóstico (meses):Média (± SD) 17 (30) 20 (25) 18 (28)Mediana 10 12 11Máximo e mínimo 0 a 332 0 a 210 0 a 332Idade de início (a<strong>no</strong>s)Média (± SD) 50 (13) 54 (13) 52 (13)Mediana 51 54 52Sobreviventes(23 pacientes) N = 13 N = 10(meses)Média (± SD) 49 (46) 33 (18) 42 (37)Máximo e mínimo 7 a 60 9 a 191 7 a 191*Dados ig<strong>no</strong>rados de 3 pacientes** p< 0,05<strong>Revista</strong> Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006.


3 – Atuação da Associação <strong>Brasil</strong>eira de <strong>Esclerose</strong> <strong>Lateral</strong> Amiotrófica – ABRELAEm 1998, Acary Souza Bulle Oliveira, neurologista e responsável pelo Setor deInvestigação de Doenças Neuromusculares da Universidade Federal de São Paulo – EscolaPaulista de Medicina (UNIFESP-EPM), idealizou implantar <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> um modelo de suporte aopaciente com ELA/DNM, já existente <strong>no</strong>s Estados Unidos. Essa idéia mobilizou um grupo deneurologistas que reunidos deram o primeiro passo para a criação da ABRELA: iniciativapioneira de mobilizar a sociedade civil, científica e política da importância de conhecer adoença, <strong>sua</strong> manifestação na população brasileira e a necessidade de usar todos os recursosdisponíveis de efeito comprovado para o tratamento. A proposta era que a ABRELA tivesseuma atuação em todo o território nacional de informação e orientação.Ainda em 1998, a ABRELA, participou do primeiro estudo epidemiológico brasileiro,visando fazer conhecidas às características da doença <strong>no</strong> <strong>no</strong>sso país e desde então temparticipado de todos os eventos que envolvem a esclerose lateral amiotrófica.Em 2001, a ABRELA participou, pela primeira vez, do Simpósio Internacional deELA/DNM e, desde então, tem apresentado para a comunidade científica internacional váriosestudos realizados <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, e tem publicado por meio da parceria com a Sa<strong>no</strong>fi-Aventis oresumo do simpósio internacional para divulgação <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>.O primeiro Simpósio <strong>Brasil</strong>eiro de ELA/DNM foi realizado pela ABRELA em 2002,com a participação dos Doutores José Mauro de Braz Lima, Acary de Souza Bulle, Mamede deCarvalho, Helga Cristina Almeida da Silva e Wilsom Marques Júnior. A ABRELA realizasimpósios, anualmente, visando mobilizar a comunidade científica e profissionais da saúde.Hoje a ABRELA é membro da Aliança Internacional das Associações de ELA/DNM eda Associação Internacional de ELA/DNM, e está em fase de expansão de <strong>sua</strong>s atividades, coma criação das ARELAS (Associação Regional de ELA) – ARELA/RS (Associação Regional deELA do Estado do Rio Grande do Sul) já implantada e ARELA/MG (Associação Regional deELA do Estado de Minas gerais) em implantação, o objetivo é beneficiar um número maior depacientes.21Referências Bibliográficas1.Freitas CS. Sobre um caso de esclerose lateral amyotrophica. Brazil-Medico, an<strong>no</strong> XXIII, num 42,pag. 421-22, 8 de <strong>no</strong>vembro de 1909. Publicado também <strong>no</strong> Arch Bras Psychiatr Neurol Med Legal1910: 71.<strong>Revista</strong> Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006.


2.Monteiro E. Um caso de esclerose lateral amyotrophica. Gazeta Clínica de São Paulo, 1913, p.144.3.Castro A. Tractado de Semiótica Nervosa: Semiótica das formas exteriores e das desordens motoras.Rio de Janeiro: F. Briguiet & Cia., Livreiros –Editores, 1914.4.Vianna G. A respeito de um caso de Mal de Charcot (Typo Mixto). <strong>Revista</strong> dos Cursos da Faculdadede Medicina de Porto Alegre, 1915.5.Silva RM. Mal de Charcot (A Respeito de Um Caso de Início bulbar)” – These apresentada aFaculdade de Medicina de Porto Alegre/RS, em 2 de outubro de 1916.6.Guedes L, Cabral N. Caso Clínico de Aspecto de E.L.A.”. <strong>Revista</strong> dos Cursos da Faculdade deMedicina de Porto Alegre, 1918.7.Duarte OLP. Em tor<strong>no</strong> de um caso de <strong>Esclerose</strong> <strong>Lateral</strong> Amyotophica (forma paraplegica)” Theseapresentada a Faculdade de Medicina de Porto Alegre/RS em Dezembro de 1919.8.Trétiakoff C, Amorim MF. Um cas de sclérose latérale amyotrophique pseudo-polynevritique,observée chez une alienée, atteinte de turbérculose intestinale. Memórias do Hospício de Juquery,pp.259-266, São Paulo, 1924.9.Vianna G. Em tôr<strong>no</strong> de dois casos de esclerose lateral amyotrophica (Molestia de Charcot). ClínicaNeurológica, Porto Alegre: Editores Barcellos, Bertaso & CIA, 1a. Ed., 1925, pp 219-236.10.Rezende CM. Contribuições ao estudo da esclerose lateral amyotrophica (Doença de Charcot) –These de docencia livre apresentada a Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, 1926.11.Espozel F, Mendes T. Sobre um caso de esclerose lateral amyotrophica de início pseudopolyneurítico.Brazil –Medico, an<strong>no</strong> XLI, num 44, pp. 1147-1149, outubro de 1927.12.Longo PW. Contribuições ao estudo da esclerose lateral amyotrophica. These apresentada aFaculdade de Medicina de São Paulo,1927.13.Pires WP, Marques A. Doença de Charcot. Arch Bras Med 1929:74-81.14.Austregesilo A, Esposel F. Contribuições <strong>Brasil</strong>eiras ao Estudo de esclerose <strong>Lateral</strong> Amyotrophica.<strong>Brasil</strong>-Medico an<strong>no</strong> XLII n.34, 1929, p.999-1006.15.Austregesilo AM. (Austregésilo Filho). Alterações da sensibilidade na doença de Charcot. These delivre docencia apresentada a congregação da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, 1930.16.Castro A – SEMIOTICA NERVOSA. Semiótica das formas exteriores e das perturbações motoras.2a. ed. revista e augmentada. Rio de Janeiro: F. Briguiet & Cia, 1935.17.Lima JMB, Mesquita N, Duro LAA, Furtado AB. Epidemiological aspects of amyotrophic lateralsclerosis in Rio de Janeiro city. Rev bras Neurol 1983; 19(3):75-78.18.Gomes MM. Envelhecimento e o aumento das doenças amiotróficas: epidemiologia das doenças(crônicas) das células do cor<strong>no</strong> anterior da medula. Arq Bras Med 1991;65:589-594.22<strong>Revista</strong> Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006.


19.Moraes L, Goldbaum M, Silva HCA, Callegaro D. Incidence rate of amyotrophic lateral sclerosis(ALS) in São Paulo city, Brazil, 1991 – 1997. Arq Neuropsiquiatr 1998; 58(Supl 1):343.20.Castro-Costa CM, Oriá RB, Machado-Filho JA. Amyotrophic lateral sclerosis. Clinical analysis of78 cases from Fortaleza (<strong>no</strong>rtheastern Brazil). Arq Neuropsiquiatr 1999; 57:761-774.21.Andrade Filho AS, Lima JMB, Matos AES. Perfil clínico do paciente com <strong>Esclerose</strong> <strong>Lateral</strong>Amiotrófica na Bahia – BRASIL. Rev Bras Neurol Psiquiatr 2000; 4(3):81-85.22.Werneck LC, Bezerra R, Silveira Neto O, Scola RH. <strong>Esclerose</strong> <strong>Lateral</strong> Amiotrófica. Estudo Clínicoepidemiológicode 226 casos. O Dendrito 2002; 8:7.23.Dietrich-Neto F, Callegaro D, Tosta ED, Silva HCA, Balallai MEF, Lima JMB, et al. Amyotrophic<strong>Lateral</strong> Sclerosis in Brazil: 1998 National Survey. Arq Neuro-psiquiatr 2000; 58:607-615.23<strong>Revista</strong> Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006.


Eletroneuromiografia: Estimativa do número deunidades motoras na ELAElectroneuromiography: Estimate of the number of motorunits in ALSMário Emílio Teixeira Dourado JúniorNeurologista. End: Rua Marcílio Furtado 2042; Lagoa Nova. CEP 59063-360 – Natal-RN. Email:medourado@digi.com.br24INTRODUÇÃOPassados 132 a<strong>no</strong>s da descrição do quadro clínico da <strong>Esclerose</strong> <strong>Lateral</strong> Amiotrófica(ELA) por Charcot infelizmente a história natural desta enfermidade não se modificou. É adegeneração dos neurônios motores, cerebral e espinhal, responsável pelos principais sinais esintomas da doença, que leva a perda progressiva da função e ao óbito, em média, cinco a<strong>no</strong>sapós o diagnóstico.Nos últimos a<strong>no</strong>s, entretanto, houve um grande avanço <strong>no</strong> entendimento destaenfermidade, tornando-se um exemplo de doença neurodegenerativa como modelo para testesterapêuticos. 1Vários fatores têm sido implicados na <strong>sua</strong> patogênese, tais como a deficiência defatores tróficos, os defeitos <strong>no</strong> transporte axonal, disfunção dos receptores androgênicos,infecções virais, autoimunidade, fatores tóxicos exóge<strong>no</strong>s, excitotoxocidade endógena,mutações genéticas e a<strong>no</strong>rmalidades nas mitocôndrias. 1A possibilidade de <strong>no</strong>vos tratamentos tor<strong>no</strong>u o diagnóstico correto e precoce da ELAde grande importância. Portando, pesquisadores têm se esforçado para identificarbiomarcadores, substâncias biológicas que podem ser usadas para identificar a presença ou oinício de uma doença, bioquímicos, patológicos e genéticos na ELA. Entretanto, na ausênciade um marcador biológico ideal, o diagnóstico continua baseado em aspectos clínicos, tendo aeletroneuromiografia como exame fundamental para a caracterização do diagnóstico,demonstrando o envolvimento do segundo neurônio motor (espinhal). 2Faz-se necessário, também, marcadores da progressão da doença. Vários marcadoresde progressão são utilizados: força muscular, escalas funcionais, eletroneuromiografia,<strong>Revista</strong> Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006.


iopsia muscular, estimulação magnética transcraniana, ressonância magnéticaespectroscopia, biomarcadores. 3Se o número de axônios motores inervando um músculo pudesse ser estimado deforma reproduzível, isto teria um interesse fundamental em quantificar a desnervação,monitorar a progressão e acessar a eficácia do tratamento <strong>no</strong>s processos neuróge<strong>no</strong>s. Há 35a<strong>no</strong>s, a primeira técnica de estimativa do número de unidades motoras (ENUM) foi publicadapor McComas e colaboradores. 4 Posteriormente, várias outras técnicas foram criadas. Nosúltimos a<strong>no</strong>s, o interesse para a utilização da ENUM na ELA tem ressurgido.O objetivo desta publicação é fazer uma breve revisão das técnicas de ENUM eapresentar resultados de um estudo piloto com cinco pacientes portadores de ELA. Para umaprofundamento do assunto recomendamos a leitura dos resumos do primeiro simpósiointernacional de Motor Unit Number Estimation, publicado na Supplements to ClinicalNeurophysiology, volume 55, Elsevier, 2003.25Revisão das técnicasO princípio básico em todos os métodos é o mesmo, o número de unidades motoras écalculado dividindo a amplitude do potencial de ação composto muscular – onda M, obtidopor estímulo supra-máximo de um nervo motor, pela estimativa de um tamanho médio dospotenciais de ação de unidade motora. As várias técnicas de ENUM se diferenciam pela formade medir a amplitude de uma unidade motora.Técnica de IncrementoEm um dia de 1967, Dr Alan McComas, trabalhando <strong>no</strong> Johns Hopkins Hospital, lheocorreu provar se o sistema de registro era capaz de detectar o potencial de uma unidademotora individual, usando eletrodos de superfície na região hipotênar. A intensidade doestímulo era reduzida até a resposta tornar-se “tudo ou nada”. Neste momento se obteve aestimulação de um axônio motor. 5 Em 1971, McComas, agora com a colaboração de RobertoSica, Peter Fawcett e Malcolm Campbell, publica a primeira técnica de ENUM, chamadatécnica de incremento. 4Obtêm-se o PACM, com estímulo supramáximo, do nervo fibular <strong>no</strong> tor<strong>no</strong>zelo eregistra-se <strong>no</strong> músculo extensor curto dos dedos. Para calcular o potencial de uma unidade<strong>Revista</strong> Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006.


motora, estimula-se sublimiarmente até obter a resposta “tudo ou nada”. Esta é a principalsuposição da técnica, ou seja, a resposta tudo ou nada representa o potencial de unidademotora individual. A partir daí, neste mesmo ponto, se incrementa discretamente a intensidadedo estímulo até 11 sucessivas. A cada incremento assume-se que uma <strong>no</strong>va unidade motorafoi adicionada. A amplitude resultante é dividida pelo número de incrementos, tendo aqui aestimativa de amplitude de uma unidade motora. Dividindo a amplitude do PACM pela aestimativa da amplitude de unidade motora individual vamos ter a ENUM. Neste estudo amédia de ENUM era 199 +ou- 60. Posteriormente, este método foi adaptado para o nervomedia<strong>no</strong> e ulnar, com médias de ENUM de 250 a 420. 6,7O maior problema desta técnica, que pode levar falsos resultados, é o fenôme<strong>no</strong>de<strong>no</strong>minado pelos anglo-saxões de alternation. Alternation é o resultado de várias possíveisconfigurações da resposta da unidade motora individual com axônios que apresentam omesmo limiar de excitabilidade. Por exemplo, se duas unidades motoras (A e B) têm limiar deexcitabilidade similar com estímulo de intensidade constante, três configurações sãopossíveis: recrutamento da unidade A, recrutamento da unidade B ou recrutamento simultâneodas unidades A e B. Portanto, em uma das etapas de incremento de intensidade pode haver orecrutamento de vários axônios com mesmo limiar, consequentemente haverá umasubestimação da média do potencial de uma unidade motora e superestimação do número deunidades motoras. Outro problema da técnica á subjetividade inerente do método. É difícil tercerteza que a diferença da amplitude após o incremento representa o recrutamento de uma<strong>no</strong>va unidade motora individual. 526Estímulo em múltiplos pontosPara evitar alternation Doherty e Brown (1993) criaram o método de estimulação emmúltiplos pontos. 8 Esta técnica consiste em estimular o nervo media<strong>no</strong> em múltiplos pontosentre a porção distal do antebraço e o ponto motor do nervo media<strong>no</strong> e entre o cotovelo eaxila para coletar 10 ou mais potenciais de unidades motoras individuais. Em cada ponto sóum potencial, “tudo ou nada”, é selecionado. Para calcular a ENUM, a amplitude do PACM édividida pela média da amplitude dos potenciais de unidades motoras individuais. O método éaplicado para músculos distais.<strong>Revista</strong> Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006.


Para assumir que a resposta obtida com estímulo sublimiar seja de uma unidademotora deve haver falta de decomposição deste potencial, ou seja, uma segunda resposta deveapresentar a mesma morfologia. A presença ocasional de onda F, de forma e tamanho idênticoa resposta direta, é mais uma evidência que foi estimulada uma unidade motora individual. Orelativo número de potenciais de unidade motora de diferentes tamanhos e latências obtidaspelo EMP sugerem que os axônios de peque<strong>no</strong>s e grandes diâmetros eram excitados comestímulos limiares, proporcionando uma amostra imparcial de unidades motoras individuais. 8A ENUM obtida pela técnica de EMP se correlaciona com estudos histológicos e é a técnicamais utilizada. 9,10Entre as vantagens do EMP estão à ausência de alternation e o fato de que a média dopotencial de unidade motora é derivada de uma “verdadeira” unidade motora e não de umaestimativa do tamanho de unidades motoras. Outra vantagem é que a técnica pode serrealizada em qualquer máquina de eletromiografia. As desvantagens do método é adependência da experiência do examinador e a impossibilidade de estudar músculosproximais. Por exemplo, precisa-se de habilidade do examinador para posicionar e pressionaro estimulador a fim de obter potencial de unidade motora. 11Com a finalidade de incrementar a velocidade de aquisição do potencial de unidademotora, Wang e Delwaide (M/N 1995) adaptaram a técnica de EMP combinando com atécnica incremental descrita por McComas.12,13 O nervo media<strong>no</strong> era estimulado emdiferentes pontos. Entretanto, em cada ponto o estímulo é incrementado para obter o primeiroe o segundo e algumas vezes o terceiro potencial de unidade motora individual subseqüenteelucidado da maneira “tudo ou nada”. Com esta variação pode-se limitar o teste para 4 a 10pontos de estímulos e registrar 10 a 20 unidades.27Técnica de onda FOndas F obtidas por estímulo supramáximo são compostas de uma ou várias respostassuperpostas de unidades motoras. Mas, com estimulação submáxima aumenta-se a chance deobter onda F de uma unidade motora. 14 A ENUM é obtida dividindo a amplitude do PACMcom a média da amplitude do pool de ondas F representantes da resposta de uma unidademotora individual As vantagens da técnica são: não invasiva, requer pouca habilidade do<strong>Revista</strong> Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006.


operador e pouca colaboração do pacientes. Entre as desvantagens estão à necessidade desoftware específico, pode ser demorada e não avalia músculos proximais.28Promediação de pontenciais de ação de unidades motoras com um triggerEsta técnica se diferencia das outras pela maneira de obter os potenciais de unidadesmotoras. Durante uma contração voluntária leve do indivíduo, a resposta de uma unidademotora é obtida com agulha concêntrica ou de fibra única, e o eletrodo é posicionado para queuma única unidade motora seja captada. Concomitantemente, potenciais de superfície sãoregistrados; a descarga de uma unidade motora é usada como um gatilho, de forma que umamédia de potenciais de superfície seja obtida. Ao alterar a posição da agulha será captada<strong>no</strong>va unidade motora, uma <strong>no</strong>va amostra de potenciais de superfície será gerada, e média daamplitude calculada. O cálculo do EMNE é similar às outras técnicas baseando-se na razão daamplitude (ou área) do potencial de ação muscular composto após estímulo supramáximodividindo pela média da amplitude (ou área) do potencial de superfície uma unidade motora. 15Tandan e col utilizaram a técnica com marcadores de progressão em um ensaio terapêuticocom ami<strong>no</strong>ácidos para ELA. 16A vantagem desta técnica é a possibilidade de estudar músculos proximais e aausência de alternation. O método necessita da cooperação do indivíduo testado, de softwareespecífico e da habilidade do examinador para disparar somente uma unidade motora. 17Técnica estatística (Poisson)Daube escreveu, em 1995, a técnica estatística para calcular EMNE. Nesta técnica,mediante uma análise estatística baseada na distribuição de Poisson, se calcula a amplitudemédia das unidades motoras individuais integrantes do potencial composto muscular, e apartir daí, e tendo em conta a voltagem deste último, a EMNE é calculada. A estimulação dasunidades motoras individuais é feita por estimulação elétrica e o registro com eletrodos desuperfície. Na análise estatística de Poisson o tamanho de uma unidade motora é igual àvariação de séries de respostas, constituídas de uma ou mais unidades. Breve resumo datécnica: se obtém o PACM máximo e o potencial limiar. Entre estas respostas, o sistemaidentifica quatro janelas; em cada uma delas se fará estímulos repetidos, de mesmaintensidade, registrando potenciais submáximos de amplitudes levemente variáveis. Após a<strong>Revista</strong> Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006.


análise de 30 potenciais o sistema para automaticamente e exibe o valor da variação dopotencial que representa o valor de uma unidade motora individual. A análise se repetirá pelome<strong>no</strong>s mais quatro vezes. O método é rápido, reproduzível e não sofre interferência doexaminador. Há necessidade de software específico só disponível por um fabricante. 15,19Recentemente a técnica estatística foi utilizada <strong>no</strong> estudo multicêntrico com creatina paraELA, e detectou perda de 23% de unidades motoras em seis meses. 2029Estudo piloto de ENUM em indivíduos com ELANós realizamos, num período de seis meses, pelo me<strong>no</strong>s três estudos de ENUM emquatro indivíduos com ELA. A técnica escolhida foi a versão adaptada de estímulo emmúltiplos pontos. 12,13Resumo da técnica: utilizei eletrodos descartáveis auto-adesivos; o eletrodo ativo foicolocado na porção média da eminência tênar e o eletrodo de referência sobre a falangeproximal do dedo do polegar; o eletrodo de terra posto <strong>no</strong> dorso da mão. Todos os estudosforam realizados <strong>no</strong> equipamento NihonKoden. Estimulei o nervo media<strong>no</strong> em diferentespontos entre o punho e cotovelo. O estímulo, um potencial de onda quadrada, teve a duraçãode 0,05ms. Entretanto Em cada ponto o estímulo foi incrementado, de 0,1 a 0,5mV, para obtero primeiro, e o segundo e, algumas vezes, o terceiro potencial de unidade motora individualsubseqüente, obtido de maneira “tudo ou nada”. Com esta variação pode-se limitar o testepara 4 a 10 pontos de estímulos e registrar 10 a 20 unidades. O potencial de unidade motoraindividual era registrado com ganho de 50-100uV/divisão. Para evitar alternation, o axôniomotor deve ser recrutado com diferente limiar, de maneira ordenada e reproduzível semfracionamento da resposta motora por estímulos sucessivos. Para o cálculo do número deunidades motoras dividiu-se a amplitude (ou área) do potencial de ação muscular máximocom a média da amplitude (ou área) dos diferentes potencias de unidades motoras.Exceto pelo primeiro potencial de unidade motora individual evocado numdeterminado ponto, a precisa morfologia dos demais não é vi<strong>sua</strong>lizada, pois representa asuperposição de dois ou mais potenciais de unidades motoras. Teoricamente é possívelregistrar o mesmo potencial de unidade motora individual duas vezes, já que <strong>sua</strong> morfologiapode não ser reconhecida. Entretanto, a morfologia deste potencial pode ser reconstituída por<strong>Revista</strong> Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006.


subtração da resposta do componente muscular pela <strong>sua</strong> precedente obtida <strong>no</strong> mesmo local e abaixa intensidade.Nos gráficos 1 e 2 estão apresentados os valores de ENUM, calculados por amplitudee área, respectivamente. Observa-se um decréscimo do número de unidades motoras com otempo <strong>no</strong>s cinco pacientes.Nos gráficos 3 e 4 estão plotados os resultados das amplitudes e áreas dos potenciaisde unidades motoras individuais. A reinervação colateral, mais acentuada <strong>no</strong> início da doença,explica o aumento da amplitude e da área dos potenciais de unidades motoras individuais.30Gráfico 1: ENUM (amplitude) em cinco indivíduos com ELA seguidos durante 6 mesesENUM amplitudeENUM4003503002502001501005001 2 3TempoGráfico 2: ENUM (área) em cinco indivíduos com ELA seguidos durante 6 mesesENUM - áreaENUM60050040030020010001 2 3Tempo<strong>Revista</strong> Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006.


31Gráfico 3: amplitude média dos potenciais de unidades motoras individuaisAmplitude média potencial UM600Amplitude média (uV)50040030020010001 2 3TempoGráfico 4: área média dos potenciais de unidades motoras individuaisÁrea média potencial UMÁrea média (uV)160014001200100080060040020001 2 3TempoCONCLUSÃOO método adaptado de estimulação em múltiplos pontos é confiável, não invasivo, nãoé desconfortável para o paciente, rápido e facilmente realizável em qualquer equipamento deeletromiografia. Nossos resultados preliminares demonstram a perda de unidades motorascom o tempo (gráficos 1 e 2) e a reinevação (gráficos 3 e 4) <strong>no</strong>s indivíduos portadores deELA, similares aos publicados. 13A ENUM é única forma em vida de determinar o número de unidades motoras. Poresta razão <strong>sua</strong> utilização é de grande interesse na avaliação da história natural das doenças<strong>Revista</strong> Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006.


neurogênicas, em especial a ELA. Outra importante aplicação clínica é determinar a perda deneurônios motores com a evolução da doença e correlacionar este resultado com a progressãoclínica. Como a velocidade de progressão da ELA varia grandemente entre os pacientes, aENUM pode estratificar pacientes segundo a velocidade de progressão clínica, sendo um forteindicador de sobrevida. 21,22Estudos seriados de ENUM na ELA mostram que a redução do número de unidadesmotoras é exponencial, e mais acentuado <strong>no</strong> início da doença. Aproximadamente, 70% dasunidades motoras são perdidas <strong>no</strong> primeiro a<strong>no</strong> de doença. 23,24 Em modelos animais de ELAestudos com ENUM mostram que a perda de unidades motoras acontece antes do início dossinais clínicos aparecerem. 15 Recentemente, várias publicações e apresentações em simpósiosinternacionais demonstram que a ENUM é mais sensível para detectar o declínio mensal deunidades motoras comparando com outros biomarcadores,. 25-29 o que justifica, também, <strong>sua</strong>utilização para monitorar o efeito de <strong>no</strong>vos medicamentos. 20,30Ainda, não há um consenso sobre qual a melhor técnica de ENUM. Os diversosmétodos mostram resultados similares. Fatores práticos tais como o conforto, a duração doexame e dificuldade técnica são importantes em determinar o método a ser utilizado. Algumastécnicas necessitam de software específicos. Entretanto outras técnicas, de incremento e a deestímulos em múltiplos pontos, são realizadas em qualquer máquina de eletromiografia.Espera-se, <strong>no</strong>s próximos a<strong>no</strong>s, que a utilização das técnicas de ENUM saia doslaboratórios de pesquisas para a prática clínica diária.32Referências Bibliográficas1.Shaw PJ. Molecular and cellular pathways of neurodegeneration in motor neurone disease. J NeuroNeurosurg Psychiatr 2005;76:1046-1057.2.Brooks BR. El Escorial World Federation of Neurology criteria for the diag<strong>no</strong>sis of amyotrophiclateral sclerosis. J Neurol Sci 1996;124:96-107.3.Cudkowicz M, Qureshi M, Shefner J. Measures and markers in amyotrophic lateral sclerosis.NeuroRx 1 2004;273-283.4.McComas AJ, Fawcett PRW, Campbell MJ, Sica REP. Electrophysiological estimation of thenumber of motor units within a human muscle. J Neuro Neurosurg Psychiat 1971;34:121-131.5.Sica R, McComas A. Review of MUNE over 30 years. Suppl clin neurophysiol 2003;55:3-13.<strong>Revista</strong> Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006.


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Etiopatogenia da ELA: causa única ou váriascausas?ALS etiopathogeny: unique cause or multiple causes?Helga Cristina Almeida da SilvaMédica neurologista, Doutora, Professora afiliada e orientadora da Pós-graduação da UNIFESP. Rua Pedro deToledo, 377. São Paulo - SP. Tel.: 5579-2668. e-mail: abrela99@hotmail.com351. O sistema motor <strong>no</strong>rmalA realização de movimentos voluntários pressupõe a integridade anatômica efuncional do sistema nervoso e a interação harmoniosa dos vários sistemas relacionados aomovimento. De forma simplificada, o sistema motor voluntário se inicia <strong>no</strong> neurônio motorsuperior (primeiro neurônio ou cortical) localizado <strong>no</strong> córtex motor primário do giro précentral.Esses neurônios ligam-se por meio dos seus axônios (trato cortico-espinal oupiramidal) ao neurônio motor inferior (segundo neurônio) localizado <strong>no</strong>s núcleos motores dotronco encefálico ou na porção ventral da coluna cinzenta da medula espinal. A sinapse queune os dois neurônios motores tem o glutamato como neurotransmissor. Por <strong>sua</strong> vez, essesneurônios espinais fazem parte da unidade motora, onde cada neurônio liga-se por meio doseu axônio (raízes motoras e nervos motores) às fibras musculares por ele inervadas, emregião especializada de<strong>no</strong>minada junção neuromuscular, onde a acetilcolina é o mediador.2. Doença do neurônio motorDoença do neurônio motor (DNM) refere-se às doenças que afetam primariamente oneurônio motor (ou motoneurônio) superior e/ou inferior. O protótipo desse grupo é aesclerose lateral amiotrófica (ELA), doença degenerativa caracterizada pela perda progressivade motoneurônios ao nível de medula espinal, tronco encefálico e córtex motor. O pico deincidência ocorre na sexta década, com ligeiro predomínio do sexo masculi<strong>no</strong>. A maior partedos casos é esporádica (somente uma pessoa afetada na família), mas 5 a 10% correspondemà forma familiar. O quadro clínico é caracterizado por fraqueza e atrofia muscularprogressivas e generalizadas, com evolução para paralisia de quatro membros, disfagia,<strong>Revista</strong> Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006.


disfonia, dispnéia. O óbito ocorre em média 3 a<strong>no</strong>s após o início dos sintomas, porinsuficiência respiratória.Há formas de doença do neurônio motor que afetam primariamente os neurôniosmotores inferiores (atrofia muscular espinal - AME) ou os neurônios motores superiores(esclerose lateral primária - ELP) e que apresentam etiopatogenias específicas. No caso daAME, por exemplo, ocorre mutação <strong>no</strong> gene da sobrevivência do neurônio motor (SMN).363. O neurônio motor na ELAO estudo anatomopatológico mostra perda neuronal nas áreas motoras (giro pré-central,núcleos motores de nervos crania<strong>no</strong>s e cor<strong>no</strong> anterior da medula espinal), gliose e esclerosedo trato piramidal.A análise dos neurônios sobreviventes mostra áreas de acúmulo a<strong>no</strong>rmal, como os corposde Bunina, descritos em 1962, e os corpos de Lewy. Outras inclusões são formadas poragregados variados, compostos de ubiquitina, periferina, neurofilamentos ou superóxidodismutase(SOD).4. Genética na ELAA mutação da enzima SOD é rara em casos esporádicos de ELA (1%), sendoencontrada em cerca de 20% dos casos familiares de ELA. Já foram descritas mais de 73mutações <strong>no</strong> gene da SOD (www.alsod.org), havendo desde formas agressivas (evoluçãorápida de até 18 meses) até formas benignas (evolução lenta de até 18 a<strong>no</strong>s).Nos outros 80% de casos familiares, já foram descritas várias outras mutações(cromossomos 2, 9, 15, 16, 18, 20, X e DNA mitocondrial), mostrando que mesmo <strong>no</strong>s casosfamiliares de ELA há grande heterogeneidade genética e, seguramente, variados mecanismosetiopatogênicos.Além disso, há evidências sugerindo que, mesmo quando se estuda um grupo com a mesmamutação, pode haver variação individual decorrente de fatores modificadores. Assim, oquadro clínico da ELA poderia ser modificado por alteração na expressão de outrassubstâncias, tais como neurofilamentos, VEGF (fator crescimento endotelial vascular), APEX(endonuclease apurínica/apirimídica - enzima reparadora de DNA), Apo E, CNTF (fatorneurotrófico ciliar) e LIF.SOD.<strong>Revista</strong> Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006.


O acúmulo da enzima SOD resulta de mutações <strong>no</strong> gene que codifica a proteína SOD,situado <strong>no</strong> cromossomo 21. Essa proteína <strong>no</strong>rmalmente é responsável pela neutralização deradicais livres produzidos pelo metabolismo oxidativo neuronal. Assim, o defeito genéticolevaria à morte neuronal por perda da função <strong>no</strong>rmal da enzima SOD (ESTRESSEOXIDATIVO POR AÇÃO DOS RADICAIS LIVRES), mas também por ganho tóxico defunção (PROTEÍNA SOD TÓXICA).37Estresse oxidativo por ação dos radicais livresNormalmente a SOD age sobre o radical livre superoxido (O - 2 ), produzindo águaoxigenada (H 2 O 2 ), que sofrerá então a ação da catalase, para produção de água (H 2 O). Quandoa SOD não atua de forma adequada, os radicais livres produzem estresse oxidativo e morteneuronal, com ativação da via da apoptose; os mecanismos envolvidos vão desde a lesãomitocondrial por peroxidação das membranas, até acúmulo de ubiquitinina e neurofilamentospor modificação protéica.Proteína sod tóxicaA ação tóxica da SOD ocorreria por mecanismos diversos, tais como:a) aumento de ligação da ubiquitinina (proteína que marca proteínas defeituosasdestinadas à destruição) à proteína SOD defeituosa (ubiquitinação protéica), com formação deagregados intracelulares que prejudicam o metabolismo celular;b) alteração de proteassomos (sistema responsável por destruição de proteínasa<strong>no</strong>rmais, entre elas a SOD mutada);c) efeito amilóide (acúmulo de proteína insolúvel);d) lesão secundária de mitocôndrias.5. ELA esporádicaOs aspectos anatômicos e clínicos da ELA sofreram poucas modificações desde adescrição original por Charcot <strong>no</strong> século 19. Entretanto, o conhecimento sobre a causa daELA e os mecanismos da doença tem se ampliado de forma impressionante, sem entretantoter permitido ainda a total compreensão da ELA e a <strong>sua</strong> cura.<strong>Revista</strong> Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006.


Acredita-se que a ELA esporádica pos<strong>sua</strong> mecanismo etiopatogênico multifatorial, emfunção das múltiplas alterações encontradas <strong>no</strong>s modelos animais de DNM e em pacientes.Entre as etiologias sugeridas, a principal é a excitoxidade pelo neurotransmissorglutamato. Mas também há evidências sugerindo participação da morte celular programada(apoptose), do acúmulo de neurofilamentos, da deficiência de fatores neurotróficos, dealterações da imunidade, de traumas físicos, de infecções virais persistentes (Poliovírus,Enterovírus, Retrovírus muri<strong>no</strong>), do processo de envelhecimento com deficiência relativa devitamina E, e até mesmo de fatores ambientais químicos (como contato com inseticidas nalavoura) e físicos (radiações resultantes de explosões nucleares).386. Excitoxidade pelo glutamatoPara o adequado funcionamento da sinapse glutamatérgica entre os motoneurôniossuperior e inferior, é preciso que o excesso de glutamato seja recaptado pelas célulasastrocíticas, por meio dos receptores GLT1 (transportador de glutamina específico daastroglia).Evidências indiretas sobre a ação tóxica do glutamato sobre os motoneurônios provêmda DNM <strong>no</strong> Latirismo, onde a lesão está associada à ingestão de vegetais ricos em BOAA (ßN oxalyl ami<strong>no</strong> L alanina), similar ao glutamato. Da mesma forma, estudos em modelosanimais de DNM têm mostrado melhora da evolução com o uso de antagonista do receptorglutamatérgico não-NMDA do motoneurônio inferior.Em pacientes com ELA há aumento dos níveis séricos e liquóricos de glutamato, alémde diminuição da concentração tecidual - por diminuição de captação astrocítica. Finalmente,na ELA ocorre diminuição da concentração e inibição de receptores astrocíticos GLT1. Oexcesso de estímulo glutamatérgico leva ao aumento dos níveis intracelulares de cálcio, comconseqüente ativação de sistemas enzimáticos dependentes de cálcio (calpaínas,endonucleases, fosfolipases, protei<strong>no</strong>quinase C, sintase do óxido nítrico), degradaçãoproteica, peroxidação lipídica e morte celular por apoptose.7. ApoptoseA apoptose do motoneurônio na ELA é a via final comum de múltiplos mecanismosetiopatogênicos, tais como me<strong>no</strong>r atividade da SOD, ação tóxica da SOD mutada e aumento<strong>Revista</strong> Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006.


de radicais livres. A resultante clivagem do DNA desencadeia então a morte celularprogramada. Moléculas pró-apoptóticas (bax, caspases) estão aumentadas na ELA, bem comohá diminuição de moléculas anti-apoptóticas (proto-oncogene bcl 2 ).398. NeurofilamentosNeurofilamentos são vitais para o transporte bidirecional de organelas. O acúmulo deneurofilamentos pode ser uma lesão secundária, como a que ocorre após a axo<strong>no</strong>tomiaexperimental. Por outro lado, existe um modelo animal de camundongo transgênico comDNM por mutação do gene que codifica os neurofilamentos de cadeia pesada (NFH). Oacúmulo de neurofilamentos tem sido descrito na ELA esporádica, bem como em família comELA por mutação do gene NFH, do cromossomo 11.9. NeurotrofinasNeurotrofinas são peptídeos expressos em várias regiões do sistema nervoso e queatuam por ligação a receptores específicos. Geralmente o seu nível está <strong>no</strong>rmal ou aumentadona ELA. Esse aumento pode ser decorrente da tentativa de preservar os neurôniossobreviventes. Entretanto, há um modelo animal de DNM associado à diminuição daprodução de CNTF.10. ImunidadeO papel da imunidade na ELA ainda é controvertido. Não se sabe, ainda, se a imunidade éum fator etiológico, fator de propagação ou simplesmente um epifenôme<strong>no</strong>.O aumento da imunidade na ELA foi sugerido por evidências tais como a presença deinfiltração de macrófagos e linfócitos <strong>no</strong>s locais de lesão, ativação de microglia e marcadoresMHC-I e II / HLA-DR. Além disso, foram detectados anticorpos com ação antineuronal, anticanal de cálcio (L / P) e anti GM1, capazes, em estudos “in vitro”, de aumentar a corrente decálcio intracelular e provocar citoxicidade. A ELA tem sido associada a paraproteinemias,linfomas e tireoidopatias. Finalmente, há um modelo animal experimental de DNMautoimune.Entretanto, até o momento, tentativas de inibir a imunidade na ELA não resultaram emcura da doença<strong>Revista</strong> Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006.


11. TraumaEstudos clínicos mostram que a atividade física extenuante, como aquela dostrabalhadores braçais, é um fator de risco para a ELA.Uma possível explicação para essa associação vem do exemplo do modelo animal demorte do neurônio motor resultante de axo<strong>no</strong>tomia de ratos jovens; nesse caso, possivelmentea agressão ocorre em uma época da vida em que a ação protetora dos fatores neurotróficosainda não é completa, resultando na morte do neurônio cujo axônio foi seccionado.4012. Seletividade da lesãoAlém de conhecer a causa e o mecanismo da ELA, é importante saber porque a lesão éseletiva - para o sistema nervoso e para o neurônio motor.A seletividade da lesão <strong>no</strong> sistema nervoso está relacionada à <strong>sua</strong> alta taxa oxidativa, àme<strong>no</strong>r quantidade de sistemas anti-oxidativos e proteínas de ligação ao cálcio (calbindina,calmodulina, parvalbumina) e à propensão de acúmulo de íons metálicos.A seletividade para a lesão do neurônio motor relaciona-se ao maior tamanho do seupericário, à maior quantidade e extensão de dendritos - axônios - citoesqueleto(neurofilamentos), à concentração de colina acetil transferase e à me<strong>no</strong>r quantidade dereceptores para cálcio, andróge<strong>no</strong>s e neurotrofinas.13. Autosustentabilidade da lesãoOutro ponto a considerar na etiopatogenia da ELA é a questão da continuidade damorte neuronal, com permanência da lesão após a agressão inicial.Possivelmente, uma agressão inicial, como por exemplo o estresse oxidativo resultanteda mutação da SOD, se propaga ao longo do tempo para um número cada vez maior deneurônios por meio da excitoxidade e se dissemina <strong>no</strong> espaço por meio dos mediadoresliberados por cada neurônio que morre.Por outro lado, se consideramos a excitoxidade como agressão inicial, é possível queessa agressão gere um círculo vicioso de aumento de cálcio intracelular, seguido de aumentode radicais livres com estresse oxidativo e finalmente lesão mitocondrial, que em conjuntolevam à morte celular.<strong>Revista</strong> Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006.


14. Lesão inicialA definição do tipo de agressão inicial e do local da lesão primária na ELA é difícil deprecisar, visto que <strong>no</strong> momento do início dos sintomas clínicos já houve perda de 50% dosmotoneurônios. Assim, como a agressão inicial ocorreu <strong>no</strong> passado, torna-se difícil a <strong>sua</strong>investigação precisa. Por esse motivo, também é discutível o local da lesão inicial: córtexmotor, interneurônios, neurônio motor espinhal ou neuroglia.A teoria cortico-motoneuronal postula que a ELA começa com a disfunção doneurônio motor superior e defeito da transmissão glutamatérgica. A teoria interneuronalsugere que a disfunção dos interneurônios não piramidais com ação inibitória poderia levar aoexcesso de liberação de glutamato. Na teoria neuroglial, essas células poderiam iniciar oprocesso da morte do neurônio motor por mecanismos variados, como produção desubstâncias tóxicas, diminuição de captação de glutamato ou diminuição de produção deneurotrofinas.Na visão tradicional a ELA sempre foi considerada como doença somatocêntrica, ouseja, resultante de lesão primária do corpo (ou soma) do neurônio. Entretanto, <strong>no</strong>vasevidências sugerem que alguns casos de DNM podem ser resultantes de lesão primária doaxônio (doença axo<strong>no</strong>cêntrica), com morte do neurônio secundária. Ainda, tanto em modelosanimais de DNM como em pacientes com ELA, foi descrita perda precoce e seletiva na placamioneural que precedeu as outras alterações.O impacto das descobertas sobre a etiopatogenia da ELA é evidente ao se verificar onúmero crescente de estudos com <strong>no</strong>vas drogas para essa doença. Cada vez mais prevalece ateoria de que a ELA é uma doença com muitas causas, assim cada paciente é único e otratamento ideal seria feito com múltiplas medicações.41Referências Bibliográficas1.Brown RH. Amyotrophic lateral sclerosis. Arch Neurol 1997; 54:1246-1250.2.Cluskey S, Ramsden DB. Mechanisms of neurodegeneration in amyotrophic lateral sclerosis. J ClinPathol: Mol Pathol 2001; 54:386-392.3.Fischer LR, Culver DG, Tennant P, Davis AA, Wang M, Castella<strong>no</strong>-Sanchez A, et al. Amyotrophiclateral sclerosis is a distal axo<strong>no</strong>pathy: evidence in mice and man. Exp Neurol 2004; 185(2):232-40.4.Hand CK, Rouleau GA. Familial amyotrophic lateral sclerosis. Muscle Nerve 2002; 25:135-159.<strong>Revista</strong> Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006.


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43Aspectos genéticos da <strong>Esclerose</strong> <strong>Lateral</strong> AmiotróficaGenes and Amyotrophic <strong>Lateral</strong> SclerosisMonize Lazar Magalhães 1 , Mayana Zatz 21. Pós-graduanda em Genética Humana, Centro de Estudos do Ge<strong>no</strong>ma Huma<strong>no</strong>, Departamento de Genética eBiologia Evolutiva, Instituto de Biociências, Universidade de São Paulo. 2. Professora titular de GenéticaHumana e Coordenadora do Centro de Estudos do Ge<strong>no</strong>ma Huma<strong>no</strong>, Departamento de Genética e BiologiaEvolutiva, Instituto de Biociências, Universidade de São PauloOs distúrbios neurodegenerativos, que se caracterizam por afetar múltiplos sistemas docorpo huma<strong>no</strong> em decorrência de problemas <strong>no</strong>s neurônios sensoriais e/ou motores, incluemdiversas doenças crônicas progressivas, entre elas, as doenças do neurônio motor (DNM),assim de<strong>no</strong>minadas por acometer, especialmente, os neurônios efetores.O comprometimento das células nervosas tem como conseqüência a degeneraçãomuscular, que se agrava com maior ou me<strong>no</strong>r intensidade dependendo do distúrbio emquestão.As doenças do neurônio motor apresentam características distintas de acordo com ogrupo de células acometidas: quando os neurônios motores inferiores estão afetados, podemresultar em um quadro característico de atrofia espinhal progressiva (AEP) ou de atrofiamuscular espi<strong>no</strong>bulbar (doença de Kennedy), por exemplo; <strong>no</strong>s casos em que o problema seencontra <strong>no</strong>s neurônios motores superiores, manifesta-se um dos diversos tipos de paraplegiasespásticas ou a esclerose lateral primária, entre outras doenças; e, por fim, quando ambos osgrupos de células nervosas encontram-se envolvidos, pode ser observado um quadro deesclerose lateral amiotrófica (ELA), por exemplo.A ELA (ou doença de Lou Gehrig), descrita por Jean-Martin Charcot em 1869, é aforma mais comum de DNM, com uma incidência de 1-2 a cada 100.000 indivíduos.Constitui um grupo extremamente heterogêneo de doenças, que se caracterizam pela mortedos neurônios motores localizados <strong>no</strong> córtex cerebral, tronco encefálico e medula espinhal. Ospacientes podem apresentar uma gama bastante ampla de sintomas: câimbras, fasciculações,atrofia e fraqueza musculares progressivas, podendo haver até mesmo a paralisia de algunsmúsculos. Pode ocorrer também o comprometimento bulbar ou do trato piramidal dos<strong>Revista</strong> Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006.


afetados, quando surgem a disfagia, a disartria e a sialorréia, entre outros sintomas. Em geral,esses indivíduos falecem em decorrência de complicações respiratórias em um intervalo detrês a cinco a<strong>no</strong>s após a manifestação dos primeiros sintomas.Os casos de ELA podem ser divididos em familiais (correspondem a cerca de 10% dototal de relatos) e esporádicos (aproximadamente os 90% restantes).Até o presente momento, foram descritas onze formas de ELA familial, sendo duas deherança autossômica recessiva, uma com padrão de herança ligada ao sexo e as demais deherança autossômica dominante. Entretanto, somente cinco genes foram identificados paraessa doença.44<strong>Esclerose</strong> lateral amiotrófica tipo 1 (ELA1)A ELA 1 (MIM 105400) foi a primeira forma a ser descrita e agrupa os casos dadoença relacionados a mutações <strong>no</strong> gene SOD 1, que se localiza <strong>no</strong> cromossomo 21q22.1 1 ecodifica a proteína Cu/Zn superóxido dismutase, expressa em todos os tecidos do corpo.Tal proteína, presente <strong>no</strong> citossol, <strong>no</strong> núcleo, em peroxissomos e <strong>no</strong> espaço existenteentre as membranas externa e interna da mitocôndria, tem a função de transformar os radicaissuperóxido em oxigênio molecular e peróxido de hidrogênio, me<strong>no</strong>s <strong>no</strong>civos à célula do queos primeiros.Uma hipótese explicativa para a lesão neuronal causada pela Cu/Zn superóxidodismutase quando mutada seria decorrente da aquisição de uma função tóxica à vida celular,que levaria ao acúmulo de radicais superóxido <strong>no</strong> seu interior, comprometendo, inicialmente,<strong>sua</strong>s funções e, em um segundo momento, levando-a à morte.Os casos de ELA1 têm idade de início e progressão variáveis e, predominantemente,herança autossômica dominante, havendo, na literatura, uma única mutação descrita compadrão de herança autossômica recessiva 2 .<strong>Esclerose</strong> lateral amiotrófica tipo 2 (ELA2)A ELA 2 (MIM 205100) constitui uma forma da doença com herança autossômicarecessiva, que se manifesta durante a fase juvenil e apresenta progressão lenta. Encontra-seassociada a mutações <strong>no</strong> gene da alsina, localizado <strong>no</strong> cromossomo 2q33 3,4 , que codifica umaproteína de mesmo <strong>no</strong>me, expressa em diversos tecidos do corpo. Essa proteína parece estar<strong>Revista</strong> Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006.


envolvida com o tráfego de moléculas de sinalização, essenciais para o desenvolvimento e ofuncionamento corretos do neurônio motor 5 .Mutações nesse mesmo gene foram associadas à esclerose lateral primária 3,4 e àparaplegia espástica 6,7 .45<strong>Esclerose</strong> lateral amiotrófica tipo 4 (ELA4)A ELA 4 (MIM 602433) é uma forma com padrão de herança autossômica dominante,que se inicia ao longo da fase juvenil do indivíduo e apresenta progressão relativamente lenta.Manifesta-se em decorrência de mutações <strong>no</strong> gene da senataxina (SETX), localizado em 9q348 . Esse gene codifica para uma proteína que apresenta um domínio DNA/RNA helicase, maspouco se conhece sobre <strong>sua</strong> atividade específica <strong>no</strong> interior da célula. Proteínas com essedomínio são responsáveis por desempenhar importantes funções como o reparo, a replicação ea transcrição do DNA, assim como o processamento e a tradução do RNA.<strong>Esclerose</strong> lateral amiotrófica tipo 8 (ELA8)Nosso grupo descreveu mais uma variante da doença, caracterizada por herançaautossômica dominante 9 . As primeiras manifestações ocorrem já na fase adulta – entre aterceira e a quinta décadas de vida – e a progressão é considerada extremamente lenta quandocomparada aos outros tipos de ELA. Esse distúrbio afeta igualmente homens e mulheres e, atéo presente momento, não há evidências de antecipação clínica. Constitui uma forma atípica deesclerose lateral amiotrófica, uma vez que ocorrem alterações fe<strong>no</strong>típicas peculiares, como,por exemplo, o tremor postural, que não se apresenta nas outras modalidades dessa doença. Amutação correlacionada com a DNM em questão foi identificada <strong>no</strong> gene VAPB (vesicleassociated-associated protein B), que se localiza em 20q13.3 e é responsável pela codificaçãoda proteína VAPB, assim de<strong>no</strong>minada por se associar à proteína VAMP/sinaptobrevina,encontrada na membrana de vesículas de secreção.As alterações características de ELA8 resultam da substituição de uma citosina poruma timina na posição 166 do exon 2 do VAPB, o que provoca a entrada de uma serina emlugar de uma prolina <strong>no</strong> códon 56 10 . Nishimura e cols. em 2005, identificaram um efeitofundador para essa mutação. Possivelmente, essa mutação proporciona uma alteração dopadrão de ligação da VAPB com outras proteínas <strong>no</strong> interior da célula (comunicação oral).<strong>Revista</strong> Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006.


A VAPB está localizada nas membranas do retículo endoplasmático e das estruturasque conectam essa organela ao complexo de Golgi 11 ; expressa-se em todos os tecidos docorpo, apesar de a mutação Pro56Ser só comprometer os neurônios motores, sem afetar,aparentemente, outros tipos celulares.46<strong>Esclerose</strong> lateral amiotrófica associada a Doença de Parkinson e Demência frontotemporal(ELA - DP/DFT)A ELA – DP/DFT (MIM 600274) é uma forma que se inicia durante a fase adulta doindivíduo e que apresenta padrão de herança autossômica dominante. Foi relacionada amutações <strong>no</strong> locus 17q21, mais precisamente <strong>no</strong> gene que codifica a proteína Tau associada amicrotúbulos (MAPT – microtubule associated protein tau). A proteína tau mutada formainclusões filamentosas e agregados insolúveis que estão ligados ao processoneurodegenerativo 5 .Considerações finaisEmbora a ELA seja a DNM mais freqüente, pouco se conhece sobre <strong>sua</strong> etiologia.Com cinco genes já identificados para as formas familiais, quase nada se sabe sobre osprocessos celulares que desencadeiam a degeneração e, posteriormente, a morte dos neurôniosmotores em cada um dos casos.Novas perspectivas <strong>no</strong> campo de estudos das DNM incluem o uso de modelos animaisque possibilitem a compreensão do processo neurodegenerativo, bem como a utilização de<strong>no</strong>vas drogas que retardem a degeneração neuronal.Referências Bibliográficas1 - Rosen DR, Siddique T, Patterson D, Figlewicz DA, Sapp P, Hentati A, et al. Mutations in Cu/Znsuperoxide-dismutase gene are associated with familial amyotrophic-lateral-sclerosis. Nature 1993;362:59–62.2.Al-Chalabi A, Andersen PM, Chioza B, Shaw C, Sham PC, Robberecht W, et al. Recessiveamyotrophic lateral sclerosis families with the D90A SOD 1 mutation share a common founder:evidence for a linked protective factor. Hum Molecul Genet 1998; 7(13):2045-2050.<strong>Revista</strong> Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006.


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Modelos animais para doenças neuromusculareshumanasAnimal models for human neuromuscular diseasesMariz Vainzof 1 , Patrícia M Kossugue 1 , Danielle Ayub 1 , Paula CG O<strong>no</strong>fre 1 ,Di<strong>no</strong>rah Zilberztajn 1 , Karen Sell 1 , Lydia U Yamamoto 1 , Poliana CMMartins 1 , Lucas S Maia 1 , Mayana Zatz 1 , Helga CA Silva 1 , Maria AMigli<strong>no</strong> 2 , Carlos E Ambrosio 2 , José Xavier Neto 31.Centro de Estudos do Ge<strong>no</strong>ma Huma<strong>no</strong>, IBUSP; 2.FMVZ, USP; 3.Incor, FMUSP. Auxílio financeiro:FAPESP-CEPID, CNPq, ABDIM.48As afecções neuromusculares humanas constituem um grupo heterogêneo de doençasgenéticas caracterizadas por degeneração muscular progressiva, levando ao desenvolvimentode fraqueza muscular e perda de capacidade motora. Na última década foram identificadasmutações em vários genes, resultando na deficiência ou perda de função de diversas proteínasmusculares de importância significativa para o bom funcionamento do músculo. Estudosbioquímicos e imu<strong>no</strong>histológicos têm localizado estas proteínas <strong>no</strong>s diversos compartimentosda fibra muscular. Associadas à membrana sarcolemal, encontram-se a distrofina, as 4sarcoglicanas, disferlina e caveolina 3; na matriz extracelular, a α2-laminina e coláge<strong>no</strong> VI;<strong>no</strong>s sarcômeros, a teletonina, miotilina, titina, actina e tropomiosina; <strong>no</strong> citosol muscular,canal de Cálcio (receptor de ria<strong>no</strong>dina), a calpaina 3, FRPR, TRIM32, miotubularina; e <strong>no</strong>snúcleos, a emerina, lamina A/C, proteína SMN. Algumas das doenças associadas a alteraçõesnestas proteínas são as distrofias musculares progressivas e as miopatias congênitas.Estudos clínicos e neurológicos em animais com fraqueza muscular têm ajudado aidentificar alguns modelos animais tais como camundongos, cães e gatos, deficientes paradiferentes proteínas musculares. Os estudos realizados nestes animais são cruciais paraaumentar <strong>no</strong>ssos conhecimentos a respeito de doenças genéticas humanas e para ainvestigação de terapias experimentais. A facilidade com que o ge<strong>no</strong>ma muri<strong>no</strong> pode sermanipulado faz do camundongo uma ferramenta bastante utilizada em testes moleculares e naavaliação de complexos protéicos musculares. Dentre os modelos muri<strong>no</strong>s, o camundongo<strong>Revista</strong> Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006.


mdx, apresenta uma mutação de ponto <strong>no</strong> gene da distrofina, e uma ausência total da proteína<strong>no</strong> músculo, constituindo um modelo molecular e protéico para a distrofia muscular deDuchenne humana (DMD). O camundongo dy/dy, é o modelo muri<strong>no</strong> para a distrofiamuscular congênita com deficiência de α2-laminina, e apresenta fraqueza clinicasignificativa. Diversos camundongos transgênicos e k<strong>no</strong>ckout para as proteínassarcoglicanas, caveolina e disferlina já foram gerados, e estão ajudando <strong>no</strong> estudo dosmecanismos de composição e funcionamento destes complexos protéicos <strong>no</strong>s animaisafetados. Alem disso, existem modelos diversos para outras doenças genéticas, tais como omodelo porci<strong>no</strong>, com mutação <strong>no</strong> gene RYR1, que apresenta os sinais clínicos observados nacrise de Hipertermia Maligna.Devido à deficiência da proteína distrofina, como em pacientes com DMD, o músculode camundongos mdx é afetado por degeneração e necrose. Entretanto, o camundongo mdxexibe um curso clínico mais brando. Além disso, a fraqueza muscular não é característica e otempo de vida não é reduzido. Esse camundongo também apresenta um grande número defibras revertentes (2-3%), que passam a sintetizar <strong>no</strong>vamente de forma espontânea adistrofina. Como a presença natural destas fibras dificulta a análise de terapias que visam aexpressão de distrofias, outros modelos muri<strong>no</strong>s de DMD foram experimentalmenteinduzidos. Embora o camundongo mdx seja um bom modelo molecular, não é um bommodelo clínico, por não apresentar fraqueza muscular significativa, dificultando o seu uso naavaliação clínica da eficácia de triagens terapêuticas. Neste sentido, a identificação domodelo cani<strong>no</strong> da raça Golden Retriever com deficiência de distrofina trouxe <strong>no</strong>vasperspectivas, uma vez que apresenta fraqueza muscular significativa, simulando a distrofiahumana. A patogênese do GRMD tem manifestação in utero com o desenvolvimento delesões musculares linguais. Extensas necroses dos músculos dos membros, tronco e pescoçopodem ser identificadas já ao nascimento. Assim como na doença humana e <strong>no</strong> modelo mdx,as concentrações da enzima creati<strong>no</strong> quinase sérica estão também extremamente elevadasdesde o nascimento. Em seis meses, desenvolvem-se fibrose muscular e contraturas nasjunções. Além disso, cães jovens com GRMD podem também morrer por falha cardíaca ourespiratória, embora alguns sobrevivam e alcancem muitos a<strong>no</strong>s de vida. Diversos estudos deterapia gênica e celular estão em andamento <strong>no</strong> modelo cani<strong>no</strong> da distrofia de Duchenne.49<strong>Revista</strong> Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006.


O desenvolvimento de ferramentas moleculares possibilitou a geração de animaistransgênicos que expressam a proteina gfp, proteína naturalmente presente em um tipo deágua viva marinha. Desta forma todas as células (somáticas e tronco-embrionárias) geradas apartir destes animais expressam esta proteína, e podem ser identificadas por <strong>sua</strong> fluorescênciaverde. Esta é uma ferramenta poderosa <strong>no</strong> rastreamento destas células, quando injetadas emanimais com doenças genéticas diversas.A identificação e caracterização de modelos animais com deficiências muscularessemelhantes às descritas nas doenças humanas constituem importante ferramenta para aavaliação fisiopatológica do respectivo defeito molecular primário. Além disso, podem ter umpapel significativo como modelo bioquímico e clínico para ensaios terapêuticos. Nestesentido, estudos em andamento visam testar o potencial de diversas células-tronco adultas eembrionárias de se diferenciar nas células do tecido afetado, e produzir a proteína neledeficiente. Desta forma, espera-se que a reposição da proteína ausente ou deficiente possacorrigir o quadro decorrente do processo degenerativo.Quanto à <strong>Esclerose</strong> <strong>Lateral</strong> Amiotrófica (ELA), até o momento foram criados portécnicas de transgenia pelo me<strong>no</strong>s tres modelos muri<strong>no</strong>s diferentes. Duas linhagenstransgênicas apresentam mutações diferentes <strong>no</strong> gene SOD1 (G93A e G37R), e o terceiromodelo consiste em camundongo com superexpressão da proteína dinamitina, que tambémresulta em quadro típico de ELA. Estes modelos vem sendo utilizados em diferentestentativas terapêuticas, dentre elas o tratamento com inibidor de ciclooxigenase-2 (COX2),superexpressão de SOD1, injeção de fator de crescimento endotelial vascular (VEGF) eutilização de RNAi inibindo o alelo mutado do gene SOD1.50Referências Bibliográficas1.Allamand V, Campbell KP. Animal models for muscular dystrophy: valuable tools for thedevelopment of therapies. Human Mol Genet 2000; 9:2459-2467.2.Barone V, Bertocchini F, Bottinelli R, Protasi F, Allen PD, Franzini Armstrong C, et al. Contractileimpairment and structural alterations of skeletal muscles from k<strong>no</strong>ckout mice lacking type 1 andtype 3 rya<strong>no</strong>dine receptors. FEBS Lett 1998; 422:160-164.3.Cooper BJ, Winand NJ, Stedman H, Valentine BA, Hoffman EP, Kunkel LM, et al. The homologueof the Duchenne locus is defective in X-linked muscular dystrophy of dogs. Nature 1988; 334: 154-156.<strong>Revista</strong> Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006.


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Drogas com maior potencial de uso na <strong>Esclerose</strong><strong>Lateral</strong> AmiotróficaDrugs with potential greater of use in Amyotrophic <strong>Lateral</strong>SclerosisCarlo Domênico MarroneNeurologista e Neurofisiologista Clínico, Ambulatório de Doenças Neuromusculares do Hospital São Lucas daPUCRS – Porto Alegre / RS.52A patogênese da <strong>Esclerose</strong> <strong>Lateral</strong> Amiotrófica (ELA) não está definida, tendo comoprincipais possibilidades, a excitotoxicidade glutamatérgica sobre os neurônios motores, adisfunção mitocondrial, o estresse oxidativo, a agregação proteica, o déficit de transporteaxonal, aliado a inflamação peri-neuronal, sinalização aberrante de fatores de crescimento e,provavelmente outras causas ainda não aventadas ou me<strong>no</strong>s “votadas”. Portanto, cominúmeras hipóteses, a ciência neurológica não sabe, verdadeiramente, a(s) causa(s) da ELA.Para uma adequada terapêutica, o conhecimento das causas da enfermidade seriafundamental. Como visto acima, a etiologia não está definida, assim, está sendo necessáriolançar mão de algumas estratégias para tentar <strong>no</strong>vas terapêuticas. Entre estas estratégicas estáa indução de animais mutantes com características clínicas semelhantes às da ELA humana,em especial a deficiência da enzima superóxido dismutase I, encontrada em uma forma deELA familiar. Desta forma pode-se realizar estudos pré-clínicos na tentativa de desenvolvermedicamentos com base nas teorias etiológicas acima expostas.Outra estratégia para se encontrar outras drogas é a de, após escolhido o mecanismocausador a ser estudado, geralmente de forma prévia por estudos em animais, verifica-se <strong>no</strong>mercado se já há drogas existentes e licenciadas que se enquadrem <strong>no</strong> perfil de combate apossível etiologia em estudo. Desta forma pode-se iniciar testes clínicos com maior rapidez egrande eco<strong>no</strong>mia.Para exemplificar tal estratégia, pode-se tomar como base a seguinte premissa: aredução do nível de glutamamto ns sinpases se deveria ao aumento da captação dessasubstância por células nervosas (astrócitos e gliócitos). Isso é mediado pela expressão de umtransportador de glutamamto (EAAT2). Assim, foram avaliados 1040 compostos aprovados<strong>Revista</strong> Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006.


pelo FDA (Food and Drug Administration – Estados Unidos), sendo que 15 antibióticosapresentavam tal ação, iniciando-se estudos clínicos.Em relação aos ensaios clínicos, vale a pena relembrar de forma sucinta que existem04 fases para avaliar a droga em estudo. A fase I que verifica a tolerância e o metabolismo dofármaco. A fase 2 que procura doses adequadas, geralmente com poucos pacientes, umaespécie de estudo piloto. A fase III que determina, em um número bem maior de enfermos aeficácia e a segurança através da comparação e, posteriormente ao lançamento <strong>no</strong> mercado, afarmacovigilância, sendo a fase 4 (nem sempre realizada)Foi assim com o Riluzole® que, mesmo com todas as limitações que não cabe aquidiscutir, tenta diminuir a excitotoxicidade do Glutamato e a progressão da morte neuronal. Talmedicamento não será alvo de discussão nesta revisão.A lista de <strong>no</strong>vos fármacos que tentam auxiliar <strong>no</strong> combate a ELA é imensa,praticamente cada semana surge uma idéia <strong>no</strong>va. Para exemplificar, foi tomado como base 04medicamentos seguindo as estratégias já referidas (vide tabela 1).53COMPOSTO FASE ALVOMi<strong>no</strong>ciclinaIIINeuro-InflamaçãoTamoxifenII / IIITox. GlutamatoArimoclomolI / IIIndução “Heat-Shock Proteins”Fenilbutirato SódicoIInibição“Morte celular”Tabela 1. Exemplo de 04 drogas com potencial de uso na ELA.Mi<strong>no</strong>ciclinaA mi<strong>no</strong>ciclina é um antibiótico (tetraciclina) com alta penetrabilidade <strong>no</strong> sistemanervoso central, podendo ser tomado por via oral, tendo passados por estudos fase I e II<strong>Revista</strong> Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006.


(Neurology, 62,May, 2004 e Neurogical Science, 26, 2005), estando em fase III de ensaioclínico com cerca de 400 pacientes. Tem como alvo a inibição a morte através da redução daativação de enzimas pró-apoptose (redução da ação das caspases) e de enzimas próinflamação(redução da sintase do óxido nítrico e da COX-2). Foi encontrado retardo <strong>no</strong> inícioda patologia e o aumento da sobrevida em modelos animais de ELA. Teria uma excelenteaplicabilidade na ELA, pois é bem tolerado pelos pacientes, poderia agir sinergicamente como Riluzole, porém <strong>no</strong> estudo fase III, infelizmente não está sendo demonstrado a eficácia dosestudos pré-clínicos.54Tamoxife<strong>no</strong>Este medicamento é usado há muito tempo para tratamento de câncer de mama,competindo com receptores de estrogênio, além de inibir a Proteina-Kinase (PKC). Essaenzima é age em uma das vias da excitotoxicidade do glutamato e foi constatado que <strong>sua</strong> açãoestá a<strong>no</strong>rmalmente aumentada na medula de pacientes com ELA. Pode ser utilizado por viaoral, estando em fase II, mostrando, em resultados preliminares, que doses de 20 mg/dia, asobrevida em 02 a<strong>no</strong>s era de 73% , contra 48% com doses me<strong>no</strong>res. Está sendo indicado,mesmo que ainda não tenha sido estudo fase III (ex.: vide boletim informativo da Associação<strong>Brasil</strong>eira de <strong>Esclerose</strong> <strong>Lateral</strong> Amiotrófica - ABRELA).ArimoclomolÉ uma droga que estimula a ação da “Chaperonas”, que por <strong>sua</strong> vez são proteínascitoplasmáticas que agem na interação de proteína com proteína, fazendo com que hajaprevenção de agregação proteica indesejável. Isso se dá por adequada conformação proteica,evitando agrupamento e e<strong>no</strong>velamento as mesmas. Portanto estimulam a reparação celularnatural (Nature Neuroscience 2005;6:11-22). Além disso foi comprovado que a ação das“Heat Shock Proteins” ( que fazem parte da resposta corporal ao estresse) são ativadas comdificuldade pelos motoneurônios, assim fazendo que haja mais um fator de vulnerabilidade naELA. O Arimoclomol ativaria o mecanismo de citoproteção das células sob estresse e retardaa progressão e aumenta a sobrevida em ratos mutantes SOD1, mesmo após iniciada a doença.Pode ser administrado por via oral, estando em fase II (Nature Medicine 2004;10:402-405).<strong>Revista</strong> Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006.


Em estudos pré-clínicos foi encontrado melhora na função muscular e aumento na sobrevidado motoneurônio em 22%.55Fenilbutirato SódicoÉ um fármaco utilizado em erros inatos do metabolismo (anti-hiperamoníaco), tendoum mecanismo de ação “multi-alvo”, regulando a expressão gênica. Isso se deve ao fato deinibir a enzima histona deacetilase (que controla o “empaotamento”do DNA). A medicaçãoseria uma espécie de “Chaperona química”, promovendo ou modificando a estabilidadeproteica. Em animais (ratos SOD1) há uma lentificação da progressão da doença pelaregulação de proteína anti-apoptótica (Bcl-2), sendo administrado por via oral. Tem estudosfase I e II, existindo dados a favor contra conforme os estudos ou america<strong>no</strong>s ou europeus.Como foi mencionado que os ensaios clínicos são realizados após terminados estudosem modelos animais, deve-se ter em mente que, para a ELA, tais modelos são baseadosprincipalmente em ratos SOD1, portanto um tipo de ELA familiar. A ELA familiarcorresponde a me<strong>no</strong>s de 10% da ELA em huma<strong>no</strong>s (Esporádica - 90%). Além disso, ostratamentos <strong>no</strong>s estudos pré-clinicos, iniciam antes da doença estar instalada, o que não ocorrena ELA esporádica, pois não sabemos quem terá ELA. Consequentemente, devemos tomarcuidado com as extrapolações dos resultados dos estudos com animais para huma<strong>no</strong>s.Para concluir, mesmo que <strong>no</strong> momento não exista uma forma eficaz de tratarmedicamentosamente a doença ELA, a tendência é de se utilizar multi-terapias (multi-drogas,terapia gênica, etc.). Com tal abordagem poderiam ser enquadrados múltiplos mecanismospatogênicos, tendo ação sobre vários alvos, podendo trazer benefícios sinérgicos. Casofuncionasse esse tipo de estratégia, teríamos uma dúvida sobre realmente qual dos tratamentosestaria realmente beneficiando, o que, em termos de ELA, do ponto de vista prático para ospacientes, não teria tanta importância, pois o que se quer é melhor ou pelo me<strong>no</strong>s parar aprogressão da patologia.No momento atual, o cuidado do doente de uma forma ampla e multidisciplinar(médicos, enfermeiros, terapêutas ocupacionais, fisioterapêutas, nutricionistas, psicólogos,assistentes sociais, etc.) parecer ser mais importante que tratar somente a doença.<strong>Revista</strong> Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006.


56Referências Bibliográficas1.Gordon PH, Moore DH, Gelinas DF, Qualls C, Meister ME, Werner J, et al. Palcebo controlledphase I / II studies of mi<strong>no</strong>cycline in amyotrophic lateral sclerosis. Neurology 2004, 62: 1845-1847.2.Pontieri FE, Ricci A, Pellica<strong>no</strong> C, Benincasa D, Buttarelli FR. Mi<strong>no</strong>cycline in amyotrophic lateralsclerosis: a pilot study. Neurol Sci 2005, 26: 285-287.3.Quadros AJQ, Oliveira ASB, Silva HCA. ELA – <strong>Esclerose</strong> <strong>Lateral</strong> Amiotrófica - Atualização.Livreto informativo, Graf. RJR, São Paulo, 2006, p.22.4.Muchowski PJ, Wacker JL. Modulation of neurodegeneration by molecular chaperones. Nat RevNeurosci 2005, 6: 11-22.5.Kieran D, Kalmar B, Dick JR, Riddoch-Contreras J, Burnstock G, Greensmith L. Treatment witharimoclomol, a coinducer of heart chocks proteins, delay disease progression in ALS mice. Nat Med2004, 10 (4): 345-407.<strong>Revista</strong> Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006.


Avaliação das atividades da ABRELA: orientaçõesoferecidas, expectativas atingidas?Evaluation of the activities of ABRELA: offered orientations,achieved expectations?Isabela P Anequini, Juliana B Pallesi, Élica Fernandes, Francis M Fávero,Sissy V Fontes 4 , Abrahão AJ Quadros 5 , Helga CA Silva 6 , Acary SBOliveira 7 .1 Fisioterapeutas – UNIFESP/EPM, 2 Assistente social, mestranda – UNIFESP/EPM, 3 Fisioterapeuta, mestre –UNIFESP/EPM,4 Fisioterapeuta, doutora – UNIFESP/EPM,5 Fisioterapeuta, mestre – UNIFESP/EPM,presidente da ABRELA,6 Professora doutora – UNIFESP/EPM,7 Doutor, responsável pelo setor deNeuromuscular – UNIFESP/EPMA <strong>Esclerose</strong> <strong>Lateral</strong> Amiotrófica (ELA) é uma doença neuromuscular caracterizadapela degeneração progressiva dos neurônios motores superiores (NMS) e inferiores (NMI).Apesar das inúmeras hipóteses propostas <strong>sua</strong> etiologia ainda permanece incerta. O diagnóstico<strong>no</strong>rmalmente é clínico e, até o momento, não existem testes laboratoriais disponíveis paraconfirmar um diagnóstico de ELA.Pode-se considerar várias formas de apresentação da doença: a) dependendo dasregiões acometidas (bulbar, cervical, medula torácica e medula lombar); b) dependendo dahistória: esporádica (forma clássica), familiar e do Pacífico Oeste. Quanto à subclassificaçãopode-se considerar como definida/típica (NMI + NMS em 3 ou mais regiões), provável (NMI+ NMS em 2 regiões), possível (NMI + NMS em 1 região ou NMS em 2 ou 3 regiões) oususpeita (MNS em mais de 1 região ou NMI em pelo me<strong>no</strong>s 2 regiões). A forma esporádicaisto é, quando não ocorrem outros casos na família, é a mais comum, acometendo cerca de90% dos casos <strong>no</strong> mundo.Verifica-se que o sexo masculi<strong>no</strong> é mais acometido que o femini<strong>no</strong> em uma proporçãode 1,5:1 a 2:1 e os brancos são mais afetados que os negros, instalando-se <strong>no</strong>rmalmente apósos quarenta a<strong>no</strong>s. O óbito ocorre geralmente em tor<strong>no</strong> de 2 a 5 a<strong>no</strong>s após o início da doença.Segundo Scanlan 2000, 80% dos pacientes morrem em 5 a<strong>no</strong>s de doença.57<strong>Revista</strong> Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006.


A incidência mundial está em tor<strong>no</strong> de 1 a 3 por 100.000 habitantes enquanto que aprevalência é de 4 a 6 por 100.000 habitantes. Estima-se que a incidência <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> é de 1,5casos/100.000 pessoas, ou seja, 2.500 pacientes/a<strong>no</strong>.A fadiga ou a perda de resistência a exercícios é a queixa mais comum entre ospacientes com ELA. Em pelo me<strong>no</strong>s 70% dos casos a fraqueza muscular inicia <strong>no</strong>s membrossuperiores pela região dos dedos, mãos, antebraço e braço, respectivamente. Progredindo,posteriormente, para a musculatura da garganta, tronco e membros inferiores, nestes, elageralmente afeta os dorsiflexores antes dos flexores plantares, resultando na quedaprogressiva do pé.Sua evolução causa debilidade e atrofia progressiva da musculatura respiratória e dosmembros, espasticidade, transtor<strong>no</strong>s do so<strong>no</strong>, estresse psico-social e sintomas de origembulbar como disartria e disfagia, podendo resultar em morte ou ventilação mecânicapermanente, conservando na maioria das vezes <strong>sua</strong> capacidade intelectual.Sabe-se, porém, que a progressão da doença pode variar consideravelmente entre ospacientes.O tratamento por meio de uma equipe multidisciplinar torna-se necessário paraauxiliar paciente e família na luta diária contra as múltiplas perdas proporcionadas peladoença, entre elas fala, deglutição, respiração, movimentação e realização das atividades devida diária (AVD´s). A depressão, raiva, negação, hostilidade, desesperança, incertezas sãocaracterísticas presentes na vida destes pacientes; portanto, os diversos profissionais devemavaliá-los em cada estágio, direcionando seu tratamento para suprir a necessidade atual dopaciente/familiar.A fisioterapia motora e respiratória deve ter inicio desde os estágios iniciais da doença,a fim de reduzir os índices de quedas, as contraturas, as dores articulares, os efeitos daimobilização e os problemas respiratórios, além de prevenir a atrofia por desuso e os da<strong>no</strong>spor excesso de uso, possibilitando a função motora e maior independência nas atividades devida diárias.Apesar de todas as controvérsias quanto à correta intervenção fisioterapêutica, indicasea realização de exercícios de alongamentos globais, exercícios leves de intensidadesubmáxima <strong>no</strong>s grupos musculares sem fraqueza intensa, além de terapias manuais,58<strong>Revista</strong> Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006.


facilitação neuromuscular proprioceptiva, estimulação elétrica transcutânea – TENS etécnicas de relaxamento.Nas fases mais avançadas da doença, a prevenção das complicações respiratórias e aavaliação da necessidade da ventilação mecânica são os focos principais do tratamento daELA.Desta forma, por ser uma doença degenerativa de evolução progressiva, incurável,para qual, até o momento, só estão disponíveis tratamentos paliativos e/ou que retardem oprocesso da perda funcional, faz-se necessária a disponibilização de recursos de apoiosfinanceiros, informativos, huma<strong>no</strong>s e material a fim de minimizar o sofrimento, melhorando eampliando a qualidade de vida.Os recursos informativos contêm explicações sobre a doença, os diretos do pacientecom ELA e orientações gerais sobre cuidados.Dentre os recursos huma<strong>no</strong>s estão os profissionais da área da saúde que podemauxiliar aliviando os sintomas tais como: assistentes sociais, neurologistas, enfermeiros,fisioterapeutas, fo<strong>no</strong>audiólogos, nutricionistas, psicólogos, terapeutas ocupacionais.O recurso material é diretamente relacionado com as necessidades e limitaçõesimpostas pela doença, como, por exemplo, camas hospitalares, sondas, fraldas descartáveis,cadeiras de rodas e de banho, colchão caixa-de-ovo, gastrostomia-endoscóspica percutânea,medicação, entre outros.A ABRELA – Associação <strong>Brasil</strong>eira de <strong>Esclerose</strong> <strong>Lateral</strong> Amiotrófica, fundada em1998, iniciou seu atendimento nas dependências do ambulatório de Neuromuscular daUNIFESP/EPM/HSP, a partir de 1999. É uma entidade sem fins lucrativos, com a missão de“promover uma melhor qualidade de vida aos pacientes com ELA, por meio de informação,orientação e apoio social ao paciente e familiar, bem como divulgar informações à sociedadee aos profissionais interessados na doença e em seu tratamento”.A ABRELA oferece orientação aos cadastrados por telefone, fax, e-mail e site;disponibiliza material informativo impresso aos pacientes, familiares e interessados; ofereceempréstimo de material durável e doação de material não durável; realiza reuniões bimestraissobre assuntos de interesse direto dos pacientes e familiares, inclusive com <strong>no</strong>vidades empesquisa e tratamento.59<strong>Revista</strong> Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006.


Outras associações mundiais foram criadas com intuito de promover uma consciênciamundial da ELA, tendo como objetivo: favorecer intercâmbios de informações; investir eestimular a formação de <strong>no</strong>vas associações; investigar <strong>no</strong>vos tratamentos; dar suporte por meiode redes de apoio e melhorar a qualidade de vida dos pacientes, entre elas está a AliançaInternacional das Associações de ELA, fundada em 1992.A Associação Espanhola de <strong>Esclerose</strong> <strong>Lateral</strong> Amiotrófica – ADELA, além dedesenvolver projetos com atendimento domiciliar de profissionais fisioterapeutas e terapeutasocupacionais, auxilia na criação e manutenção de instituições como a Associação Peruana deELA (APELA) e da Associação de ELA <strong>no</strong> Chile (ADELAICH).Este estudo visou caracterizar em um grupo de pacientes atendidos pela ABRELA se asinformações dadas permitem acesso aos recursos disponíveis (informativos, huma<strong>no</strong>s, desuporte e material). Ainda, se as expectativas atenderam as necessidades dos pacientes; alémde verificar se há diferença de acesso aos recursos entre São Paulo e outros Estados.Dentre os pacientes cadastrados na ABRELA 30 foram selecionados sendo 15 doEstado de São Paulo e 15 dos demais estados brasileiros, obedecendo aos seguintes critérios:• Inclusão: diagnóstico de ELA segundo os critérios de El Escorial World Federation ofNeurology e ter o diagnóstico confirmatório há pelo me<strong>no</strong>s 1 a<strong>no</strong>.• Exclusão: pacientes com a forma paralisia bulbar progressiva.A avaliação foi realizada por meio de questionário semi-estruturado contento perguntasde identificação pessoal do paciente (sexo, idade, estado civil e estado onde reside); questõessobre a doença (tempo de diagnóstico, quem são os cuidadores, se conhecia a doença antes dereceber o diagnóstico, se ao ser diag<strong>no</strong>sticado recebeu orientações esclarecedoras sobre adoença, qual era a expectativa ao ser indicado para a ABRELA, se a expectativa foi atendida,qual expectativa não foi atendida e se a associação proporcio<strong>no</strong>u alguma mudança em <strong>sua</strong>vida e qual) e, questões pertinentes ao acesso a recursos (se possui algum suporte dacomunidade e qual, quais assistências terapêuticas têm acesso, qual das assistências existentesconsidera a mais importante e qual a me<strong>no</strong>s importante, se existe alguma assistênciaterapêutica que não tem acesso e gostaria de ter e qual recurso material a que tem acesso).O questionário foi aplicado por telefone pelos pesquisadores responsáveis, diretamentecom o paciente ou com cuidador/familiar responsável.60<strong>Revista</strong> Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006.


Os entrevistados receberam por correio um termo de consentimento livre esclarecido deacordo com as <strong>no</strong>rmas do comitê de ética da UNIFESP/EPM.As questões relacionadas ao acesso aos recursos terapêuticos e material foram aindaavaliadas sob o ponto de vista da localização do paciente. Confrontando-se, assim, os dadosobtidos dos pacientes do estado de São Paulo, onde se localiza a ABRELA com os dospacientes do restante do país.A maioria dos entrevistados (86,7%) não conhecia a doença antes de receber odiagnóstico. As orientações <strong>no</strong> momento do diagnóstico foram esclarecedoras em 56,7% doscasos. Quando questionados quais as expectativas em relação a ABRELA, as respostas maiscitadas foram o conhecimento sobre a doença por meio de informações e orientações (30,2%)e a busca de informações de tratamento e profissionais (26,4%); seguidos pelo recebimento demedicamentos (9,4%); colaboração com a associação e conhecer outros pacientes (7,6%);ajuda por meio de apoio, carinho, dedicação e atenção (7,6%); melhora da qualidade de vida(5,7%); participação de congressos (3,7%) e confirmação de diagnóstico (3,7%). Entretanto,5,7% não relataram expectativas. As expectativas não atingidas foram em <strong>sua</strong> maioriareferentes ao acesso a ABRELA (comunicação paciente/associação, sede regional) com 50%;seguido das <strong>no</strong>vidades de tratamento com 25%. Outras necessidades citadas foram auxílio aotransporte para tratamento, orientação sobre a doença e tratamento com células-tronco, com8,3% cada. A grande maioria (73,3%) relatou que a ABRELA proporcio<strong>no</strong>u alguma mudançaem <strong>sua</strong>s vidas, destacando-se: orientações sobre os cuidados com os doentes (30%);informações gerais sobre a doença (20%); melhor forma de enxergar a doença e conviver coma mesma, com apoio e esperança (16,7%); disponibilização de recurso material (13,3%);informações sobre pesquisas científicas e tratamentos (6,7%); possibilidade de conheceroutros pacientes (6,7%) e possibilidade de contribuir com a associação (3,3%). Não souberamresponder a questão 3,3%. O auxilio de outras instituições e da comunidade esteve presenteem 80% dos casos. Em relação à assistência terapêutica mais importante, 26,3% responderamser a fisioterapia neurológica e 21,1% responderam que todas as assistências são importantes.Seguidos de fisioterapia respiratória (18,4%); fo<strong>no</strong>audiologia (7,9%); outras assistênciascomo acupuntura, hidroterapia e psiquiatria (7,9%); nutrição (5,3%) e tratamentomedicamento/médico (5,3%). Uma pessoa não soube responder.61<strong>Revista</strong> Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006.


Ao questionarmos qual a assistência me<strong>no</strong>s importante, 71,4% responderam que todassão importantes, 17,9% não souberam responder, 7,1% responderam fo<strong>no</strong>audiologia e 3,6%,fisioterapia neurológica.Dos entrevistados, 76,7% relataram que gostariam de ter acesso aassistências terapêuticas que não possuem <strong>no</strong> momento, enquanto 20% encontravam-sesatisfeitos com as assistências atuais e 3,3% não souberam responder. Dentre os entrevistados,55,6% relataram ter <strong>sua</strong>s expectativas atingidas. Dentre os 44,4% que não tiveram asexpectativas atingidas, 75% residiam fora do estado de SP.62Referências Bibliográficas1.Za<strong>no</strong>teli E, Perez ABA, Oliveira ASB, Gabbai AA. Biologia molecular nas doenças do neurôniomotor. Rev Neurociências 2004;12:1-8.2.Cassemiro CR, Arce CG. Comunicação vi<strong>sua</strong>l por computador na esclerose lateral amiotrófica. ArqBras Oftalmol 2004;67(2):1-12.3.Delisa JA, Bruce MG. Tratado de medicina e reabilitação: princípios e práticas. 3.ed. São Paulo:Ma<strong>no</strong>le, 2002, p.1631-1633.4.Associação <strong>Brasil</strong>eira de <strong>Esclerose</strong> <strong>Lateral</strong> Amiotrófica. Resumo do XV Simpósio internacional emesclerose lateral amiotrófica e outras doenças do neurônio motor; 2004 dez 2-4; Filadelphia-EUA. SãoPaulo: Associação <strong>Brasil</strong>eira de <strong>Esclerose</strong> <strong>Lateral</strong> Amiotrófica, 2006.5.Oliveira ASB, Gabbai, AA. Doenças neuromusculares. In: Prado FC, Ramos J, Valle JR.Atualização terapêutica: manual prático de diagnóstico e tratamento. 20.ed. São Paulo: Artes Médicas,2001, p.815-825.6.Umprhred DA. Reabilitação neurológica. In. Hallum A. Doenças neuromusculares 4.ed. São Paulo:Ma<strong>no</strong>le, 2004, p.384-405.7.Palermo S, Silva MP. Aspectos fo<strong>no</strong>audiológicos na esclerose lateral amiotrófica (ELA): resultadospreliminares. Rev Bras Neurol 2003;39(2):21-35.8.Calia LC, Annes M. Afecções neurológicas periféricas. In: Levy JA, Oliveira ASB. Reabilitação emdoenças neurológicas: guia terapêutico prático. São Paulo: Atheneu 2003, p.31-6.9.Associação <strong>Brasil</strong>eira de <strong>Esclerose</strong> Lareral Amiotrófica (ABRELA). Manual de esclerose lateralamiotrófica. São Paulo: ABRELA, 2002, 34p.10.Castro-Costa CM, Oriá R, Machado-Filho JA, Franco MTG, Diniz DLO, Giffoni SD, et al.Amyotrophic lateral sclerosis: clinical analysis of 78 cases from Fortaleza (Northeastern Brazil). ArqNeuro-psiquiatr 1999;57(3):1-11.<strong>Revista</strong> Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006.


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Fisioterapia Motora na <strong>Esclerose</strong> <strong>Lateral</strong>AmiotróficaPhysical Therapy in Amyotrophic <strong>Lateral</strong> SclerosisMartina Araújo DuránFisioterapeuta, Escola Paulista de Medicina / Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP65A <strong>Esclerose</strong> <strong>Lateral</strong> Amiotrófica caracteriza-se por uma doença degenerativa, queafeta o cor<strong>no</strong> anterior da medula, tronco cerebral e célula de Betz do córtex motor, causandomorte <strong>no</strong> corpo celular do neurônio motor de maneira crônica e rapidamente progressiva comóbito em tor<strong>no</strong> de 03 a 05 a<strong>no</strong>s após o início da sintomatologia.O envolvimento dos neurôniosmotores superiores leva a espasticidade, clônus e hiperreflexia, enquanto a alteração dosneurônios motores inferiores resulta em fasciculação, atrofia, fraqueza e hiporreflexia.Somando a isso, podem-se presenciar sinais bulbares, incluindo disartria, disfagia, e labilidadeemocional.O tratamento destes pacientes exige uma atenção multidisciplinar com múltiplasorientações a fim de contribuir na melhora da qualidade de vida. O tratamento fisioterápico éessencial para o portador de ELA, e a abordagem permeará durante toda a evolução dadoença. A conduta é baseada na prevenção e <strong>no</strong> quadro clínico atual do paciente.E, apesar dotratamento ser específico e individualizado, é possível estabelecer diretrizes gerais para areabilitação.O fisioterapeuta busca avaliar e prescrever exercícios para a manutenção da amplitudede movimento, para otimizar a função muscular ainda existente e para prevenir ascomplicações decorrentes do desuso e da lesão, para a manutenção do tônus muscular, eprevenção de possíveis quadros álgicos e edemas. São propostas duas a três sessões semanaiscom duração aproximada de 45 minutos realizadas por um profissional, em conjunto com umprograma de exercícios diários realizados pelos cuidadores.São indicados exercícios demoderada para baixa resistência onde a prescrição é feita de acordo com o quadro apresentadopelo paciente determinando intensidade, duração e repetições apropriada para cada situação,buscando evitar quadros de fadiga e dor, mobilização passiva das articulações, técnicas<strong>Revista</strong> Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006.


neuromusculares proprioceptivas de facilitação e de relaxamento muscular, exercícios deequilíbrio postural e dinâmico, alongamentos e massagem.Devido ao quadro de rápida evolução e conseqüente perda de funcionabilidade, oterapeuta tem que dispor de recursos auxiliares para a reabilitação e melhora das atividades devida diária.A prescrição de órteses e equipamentos como: tor<strong>no</strong>zeleira antieqüi<strong>no</strong>, talas,andadores, bengalas e muletas podem ser indicadas como estratégias para otimizar adeambulação. É indicado colar cervical macio para a fase inicial de fraqueza muscular depescoço e, posteriormente, o semi-rígido para os casos de “drop head”. Também a utilizaçãode talas e goteiras para prevenção da instalação de possíveis retrações ou deformidades emmembros superiores ou inferiores, assim como de colchões e almofadas adequadas paraprevenção de úlceras de decúbito e finalmente em conjunto com a equipe da TerapiaOcupacional a indicação de cadeira de roda adaptada prescrita em uma fase anterior à perdade marcha, como um recurso de conservação de energia.É papel também do fisioterapeuta monitorar as habilidades funcionais dos pacientes,determinar modos eficientes e efetivos para realizar <strong>sua</strong>s atividades de vida diárias, explicar amecânica corporal com o intuito de facilitar as trocas posturais, ensinar as técnicas detransferências para o paciente e cuidadores, avaliar o domicílio e solicitar mudanças <strong>no</strong>ambiente com intuito de proporcionar ao paciente maior liberdade de movimentos seguros.Independente do momento que se encontra o tratamento abrir um diálogo sincero e objetivocom o paciente e familiares,aliar-se a eles para poder proporcionar o melhor atendimento,ensinar e esclarecer dúvidas são atos que, além de trazer benefícios reais ao tratamento,aumentam a confiança e o respeito da família pelo fisioterapeuta, pois demonstram não só oprofissionalismo mas também humanidade e solidariedade para com eles.66Tratamento Hidroterápico na ELAÉ indiscutível a sensação de bem estar que a água provoca às pessoas em geral. Desdea <strong>no</strong>ssa origem <strong>no</strong> útero mater<strong>no</strong>, até o simples prazer de um banho. Atualmente ahidroterapia tem sido bastante prestigiada, especialmente na reabilitação de pacientesportadores de doenças neurológicas através de métodos mais moder<strong>no</strong>s como Bad Ragaz ,Halliwick e Watsu.<strong>Revista</strong> Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006.


A hidroterapia é uma forma de terapia realizada em piscina aquecida, com atemperatura oscilando de 32 a 34 °C. A piscina terapêutica tem de ser adaptada com rampas,escadas, corrimões com profundidades diferentes, assim como uma boa acessibilidade para ospacientes portadores de deficiências físicas.A água <strong>no</strong>s proporciona efeitos físicos que <strong>no</strong>s favorecem em vários aspectos: aflutuação <strong>no</strong>s auxilia a dar uma maior amplitude de movimentos, o empuxo <strong>no</strong>s proporcioname<strong>no</strong>r resistência aos movimentos, a pressão hidrostática por igual em todas as partes docorpo auxilia a sustentação do mesmo em diversas posições, assim como o calor <strong>no</strong>sproporciona efeitos fisiológicos favoráveis aos <strong>no</strong>ssos objetivos.Na ELA o hidroterapeuta tem que trabalhar em conjunto com o médico e a equipe dafisioterapia respiratória para monitoração da capacidade vital dos pacientes (acima de 50% deperda da capacidade vital do paciente é contra-indicada a hidroterapia devido à pressãohidrostática ocasionada na caixa torácica causando desconforto respiratório).Além das facilidades relacionadas acima para o tratamento da ELA, a água <strong>no</strong>s fornece outrosbenefícios tais como: 1) Efeitos terapêuticos: alívio da dor, relaxamento, manutenção eaumento das amplitudes de movimentos, manutenção muscular, melhora das condiçõesfuncionais da marcha, estímulos de movimentos não realizados fora da água, estímulo doequilíbrio. 2) Efeitos psicológicos: sucesso e senso de realização, liberdade de movimentos,desenvolvimento da independência, sensação de bem-estar, oportunidade de extravasamentoemocional e criativo, sociabilização e recreação.O tempo de duração de uma sessão é de aproximadamente 45 min. com freqüência de2 vezes semanais. A terapia se divide em três fases: aquecimento, exercícios específicos erelaxamento. O tratamento consiste em exercícios ativos, ativos-assistidos e passivos combaixas repetições, mobilização das articulações, exercícios de alongamento, massagens eexercícios para relaxamento.Os cuidados e precauções que o hidroterapeuta deve ter são: avaliação médica erespiratória prévia à adaptação do paciente ao meio líquido, temperaturas da água e ambienteadequados e contra-indicação para pacientes com doenças dermatológicas e distúrbioscardiovasculares. O fisioterapeuta tem que acreditar <strong>no</strong>s benefícios causados pelos exercícios,mas não descartar a possibilidade da fraqueza e degeneração das fibras musculares serem67<strong>Revista</strong> Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006.


aceleradas por excesso de exercícios e cargas. Estar sempre atento a sinais de fadigamuscular, moldando <strong>sua</strong> terapia tentando evitá-la.68Referências Bibliográficas1.ALS SOCIETY OF CANADA. Resources for ALS Healthcare Providers. 1 st ed. Canada:ALSSociety of Canada, 1994.2.Bates A, Hanson N. Exercícios Aquáticos Terapêuticos. 1ed. São Paulo: Ma<strong>no</strong>le, 1998.3.Borasio G, Miller R. Clinical Characteristics and Management of ALS. Sem Neurol 2001; 21(2):155-166.4.Campion MR. Hidroterapia princípios e prática. 1ed. São Paulo: Ma<strong>no</strong>le, 2000.5.Campion MR. Hydrotherapy in Pediatrics. Oxford: Heinemann Medical Books, 1985.6.Campion MR. Adult Hydrotherapy: a practical approach. Oxford: Heinemann medical Books, 1990.7.Caroma<strong>no</strong> FA, Themudo MR, Candeloro JM. Efeitos fisiológicos da imersão e do exercício na água.Fisioter Bras 2003; 4(1): 60-65.8.Chan & Sinaki. Rabilitation Management of ALS Patient. In Belsh JM, Schiffman PL. Amiotrophic<strong>Lateral</strong> Sclerosis, Diag<strong>no</strong>sis and Management for the clinican. Futura Publishing Company,Inc.,1996.9.Haas VD, Kloss AD, Mitsumoto II. Physical Therapy for a Patient Through Six Stages ofAmyotrophic <strong>Lateral</strong> Sclerosis. Phys Ther 1998,78(12)1312-1324.10.Drory VE, Goltsman E, Reznik JG, Mosek A, Korczyn AD. The value of muscle exercise inpatients with amyotrophic lateral sclerosis. J Neurol Sci 2001; 191:133-137.11.Johnson CR. Aquatic therapy for an ALS patient. Am J Occup Ther 1988;42(2):115-120.12.Mendonza M, Rafter E. Functioning when your mobility is affected. 2 nd ed, California: ALSAssociation, 2005.13.Mitsumoto H, Munsat T. Amyotrophic <strong>Lateral</strong> Sclerosis: A guide for patients and families. 2 nd ed.,New York: Demos, 2001.14.Mc Carthy J. A manual for people living with ALS. 3 rd ed., Toronto: Amyotrophic <strong>Lateral</strong> SclerosisSociety of Canada, 2005.15.Norm A, Hanson B. Exercícios Aquáticos Terapêuticos. São Paulo: Ma<strong>no</strong>le, 1998.16.Oliveira ASB, Gabbai AA. Doenças Neuromusculares. In: Prado FC. Atualização Terarapêutica.São Paulo: Art. Médicas, 2001.17.Stokes M. Neurologia para Fisioterapeutas. 1º ed, São Paulo: Premier, 2000.18.Sinaki & Mulder. Reabilitation in Amyotrophic <strong>Lateral</strong> Sclerosis. V.53. Mayo ClinicProceding,1978.<strong>Revista</strong> Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006.


19.Williams D, Windebank A. Motor Neuron Disease (Amyotrophic <strong>Lateral</strong> Sclerosis). In: MayoClinic Proc 1991; 66:54-82.69<strong>Revista</strong> Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006.


Uso da Tec<strong>no</strong>logia para pacientes com escleroselateral amiotrófica.Assistive Tech<strong>no</strong>logy for patients with amyotrophic lateralsclerosisAdriana Nathalie KleinTerapeuta ocupacional, Especialista em Reumatologia e Doenças Neuromusculares pela UNIFESP70Nas primeiras manifestações da <strong>Esclerose</strong> <strong>Lateral</strong> Amiotrófica (ELA), os pacientespoderão apresentar pequenas dificuldades em simples atividades cotidianas, como, porexemplo, abotoar uma blusa, virar uma chave na porta, utilizar uma faca para cortar alimentosentre outros, até progressivamente perder a capacidade de exercer cuidados pessoais, comohigiene, vestuário e alimentação.Entre os profissionais envolvidos com a reabilitação dos pacientes com ELA, está oterapeuta ocupacional, que por meio de uma avaliação da capacidade funcional dos membrossuperiores (MMSS) e do levantamento das principais dificuldades nas atividades de vidadiária (AVD’s) e de vida prática (AVP’s) que este virá apresentar, poderá fazer uso derecursos de tec<strong>no</strong>logia assistiva.A tec<strong>no</strong>logia assistiva tem sido cada vez mais utilizada na reabilitação, <strong>no</strong> entantotrata-se de recursos (órteses, adaptações e sistema de adequação postural em cadeiras derodas, entre outros) que exigem um alto custo financeiro, e ainda é restrita a uma pequenaparcela da população. No <strong>Brasil</strong> acaba-se utilizando diversos tipos de materiais alternativos ecom me<strong>no</strong>r custo como, por exemplo, conduites de construção civil para substituir osonerosos adaptadores de talheres.<strong>Revista</strong> Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006.


O terapeuta ocupacional deve propor uma ampla intervenção, partindo de simplesorientações de técnicas de conservação de energia, para evitar a fadiga desnecessária ematividades do dia-a-dia, a indicação de dispositivos de adaptação para maximizar a função emdeterminadas tarefas, a confecção de órteses de membros superiores com a finalidade depotencializar certos movimentos e também prevenir/amenizar as deformidades das mãos e aprescrição adequada de um sistema de adequação postural em cadeira de rodas para amenizaro desequilíbrio muscular de tronco e pescoço.Referências Bibliográficas1. Bello-Hass VD, Kloos AD, Mitsumoto H. Phisical therapy for a patient througt six stages ofamyitrophic lateral sclerosis. Phis ther 1998,78: 1312-14.2. Levy AJ, Oliveira AS. Reabilitação em doenças neurológicas – Guia terapêutico prático. SãoPaulo: Atheneu, 2003.3. Lianza S. Medicina de reabilitação. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1989.4. Miller RG, Sufit R. New approaches to the treatment of ALS. Neurology 1997; 41/48: S28-S32.5. Sinaki M, Murder D W. Reabilitation techniques for patients with ALS. Mayo Clin 1978; 53:S173-178.6. Teixeira E, Sauron F, Santos L, Oliveira M. Terapia ocupacional na reabilitação física. São Paulo:Roca, 2003.7. Weber M, Eisen A, Stewart H, Horota N. The split hand in ALS has a cortical basis. J Neurol Sci2000; 180:66-70.8. Willard & Spackman. Terapia Ocupacional. 9 o edição. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2002.9. ABRELA – Associação <strong>Brasil</strong>eira de <strong>Esclerose</strong> <strong>Lateral</strong> Amiotrófica - e-mail:abrela99@hotmail.com , site www.abrela.com.br71<strong>Revista</strong> Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006.


Suplementação nutricional em pacientes com doençado neurônio motor/ esclerose lateral amiotróficaNutritional supplements in patients with motor neuronedisease/ amyotrophic lateral sclerosisPatrícia StanichNutricionista - Mestre em Neurologia/Neurociências UNIFESP72A prevenção de complicações secundárias, como a deficiência nutricional e adesidratação, decorrentes da evolução da doença, requer cuidados especiais e uma avaliaçãoprecisa da capacidade funcional do sistema estomatognático.O ato de alimentar-se, além de proporcionar prazer ao ser huma<strong>no</strong>, traz consigo atarefa de suprir algumas necessidades fundamentais ao organismo, dentre elas a aquisição desubstratos energéticos para manter os processos fisiológicos.O gasto energético basal (GEB) associado aos fatores térmicos da atividade física edos alimentos determina o gasto energético necessário nas 24 horas para suprir asnecessidades nutricionais individuais.A manutenção do peso corporal dentro dos padrões de <strong>no</strong>rmalidade tem-se constituídoem busca constante. Tal comportamento justifica-se pela clara relação entre o peso corporal ea doença. É possível compreender o peso corporal como o resultado da relação entre aingestão de energia e o gasto energético, caracterizando o balanço energético em: negativo(perda ponderal), positivo (ganho ponderal) ou neutro (manutenção do peso corporal) 1 .A utilização de um parâmetro nutricional isolado pode não caracterizar a condição realdo paciente, sendo necessários a associação de vários indicadores para melhor precisão eacurácia do diagnóstico nutricional. A avaliação do estado nutricional, além de permitir aidentificação de distúrbios nutricionais, cria a possibilidade de intervenção adequada, deforma a auxiliar na recuperação e/ou manutenção do indivíduo.Até o presente momento, são limitadas as informações sobre o papel da alimentaçãona etiologia, seu efeito protetor e progressão da ELA.<strong>Revista</strong> Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006.


Dos poucos estudos realizados, podemos citar o trabalho de Nelson et al 2 . O objetivodo estudo foi avaliar a alimentação dos pacientes com ELA e <strong>sua</strong> possível relação com odesenvolvimento da doença. Eles analisaram a ingestão total de calorias, macronutrientes –proteínas, lipídes e carboidratos –, com ênfase em alguns ami<strong>no</strong>ácidos, micronutrientes(Vitaminas A, C e E, zinco e cobre) e fibras alimentares. Os resultados demonstraramdiferença significativa apenas para o total de gordura, fibras solúveis e glutamato ingeridos.Para a ingestão de gordura, dados semelhantes foram encontrados em outra doençaneurodegenerativa (Doença de Parkinson). Quanto à ingestão de fibras solúveis, as relaçõesainda são desconhecidas. Porém, os resultados encontrados quanto à ingestão de glutamato sóvêm reforçar a existência de estreita relação entre a ingestão alimentar e o efeito excitatóriodesse ami<strong>no</strong>ácido na ELA, conforme achados de estudos anteriores.Em relação ao metabolismo de carboidratos na ELA, alguns estudos sugerem apresença de intolerância à glicose e diminuição <strong>no</strong>s valores de insulina. A alteração na taxa deglicose é inversamente proporcional à gravidade da doença; sugerindo que o antagonismo dainsulina não é a primeira a<strong>no</strong>rmalidade da ELA, mas pode estar relacionado à inatividadefísica presente nas doenças progressivas 3 .Não é incomum observarmos elevação abrupta dos valores séricos de lipídeos.Observamos a presença de hipercolesterolemia em alguns pacientes <strong>no</strong>s estágios iniciais dadoença, e hipertrigliceridemia em vários pacientes terminais.A respeito do metabolismo de proteínas, estudos observaram alteração na absorção e<strong>no</strong>s níveis séricos de arginina, enquanto outros sugerem elevação sérica de outrosami<strong>no</strong>ácidos na ELA, entre eles tirosina, lisina e leucina 4 .Algumas outras alterações bioquímicas se fazem presentes na ELA, assim como emoutras doenças neuromusculares, alterações essas que resultam em destruição muscular.Dentre elas, observamos alterações <strong>no</strong>s valores séricos de creatina, refletindo diretamentesobre a síntese protéica e na excreção de creatina, enxofre, potássio, magnésio e zinco.Vários fatores determinam diminuição da ingestão alimentar na ELA. Dentre elas:inapetência, disfagia, fraqueza, dispnéia e depressão 2,4,5 .Dos comprometimentos bulbares da ELA, a disfagia é o sintoma mais comum,apresentando-se em 10% dos casos como o primeiro sintoma da doença.73<strong>Revista</strong> Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006.


O reconhecimento clínico da disfagia orofaríngea da ELA nem sempre écorrelacionado com a diminuição da ingestão alimentar. Em estudo realizado por Karsarskis& Neville, em 1996, foi observada diminuição da ingestão alimentar em pacientes com ELA,porém sem a concomitância da diminuição da ingestão protéica e de micronutrientes. Valeressaltar que a diminuição da ingestão alimentar não ocorre somente <strong>no</strong>s estágios terminais dadoença, podendo ser um sinal clínico da ELA.A perda de peso corpóreo, associado às alterações bulbares (disfagia e respiração),demonstra a necessidade de cuidado nutricional precoce e específico a cada estadio dadoença 6 . A perda de 10% do peso corpóreo total é um bom indicador de risco nutricional 4 .A progressiva atrofia muscular pode mascarar o aumento da demanda metabólica,característica essa das doenças progressivas. Uma vez que as energias estão canalizadas para amanutenção da ventilação pulmonar, justifica-se o aumento do gasto energético basal dospacientes com ELA 5,7 .Slowie 4 et al, concluiram em seu estudo que o suporte nutricional pode retardar a perdade peso e a atrofia muscular. O suporte nutricional compreende a precoce detecção dadiminuição da ingestão alimentar, principalmente em quilocalorias, a modificação daconsistência da dieta e a indicação precoce de via alternativa de alimentação. As viasalternativas de alimentação para os pacientes com ELA incluem sondas ou ostomias(gastrostomia ou jeju<strong>no</strong>stomia).MazziniI et al. 8 , comparando a utilização de nutrição enteral via sonda nasogástrica egastrostomia endoscópica percutânea (PEG) em pacientes com ELA, observaram diferençasignificativa <strong>no</strong> índice de massa corpórea (IMC) dos pacientes com PEG em relação aos comsonda nasogástrica, além da melhor aceitação social e, conseqüentemente, da qualidade devida dos pacientes estudados. Complementando o estudo de Mazzini et al., em 1995, outrosestudos relatam as necessidades mínimas para a indicação com sucesso da PEG. A capacidadevital em tor<strong>no</strong> de 50% do predito seria uma delas. Na presença de valores inferiores a esse,existem riscos de hipóxia durante o procedimento 9 .A PEG representa uma opção <strong>no</strong> tratamento sintomático do paciente com ELA,proporcionando nutrição adequada, estabilização da perda de peso e uma alternativa para aadministração de medicamentos.74<strong>Revista</strong> Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006.


Na vigência de alimentação por via oral, em estudo realizado por Karsarskis &Neville 5 , foi observada diminuição da composição corpórea (massa magra e gorda), forçamuscular e balanço nitrogenado, e aumento do gasto energético basal em doentes com ELAna fase terminal. A média de ingestão alimentar variou entre 84 e 126% em relação àsrecomendações dietéticas, demonstrando que esses pacientes apresentam ingestão calóricoproteicaabaixo do recomendado. Esse fato, associado ao aumento da demanda metabólica,sugerem necessidade de suplementação nutricional <strong>no</strong>s pacientes com ELA.Estudando o estado nutricional com um fator prognóstico de sobrevida em pacientescom ELA, Desport et al. 7 , observaram desnutrição com piora da sobrevida em 16,4 % dos 55pacientes estudados, sugerindo que a vigilância nutricional deve fazer parte do tratamento dospacientes com ELA.Diante das evidências citadas, como ingestão calórico-proteica inadequada e aumentoda demanda metabólica, é possível que a suplementação nutricional possa trazer benefíciossobre a desnutrição em pacientes com ELA.75Referências Bibliográficas1.ADA’s . Definitions for nutrition scienning and nutrition assessment. J Am Diet Assoc 1994 ; 94 (8): 838-839.2.Nelson LM, Matkin C, Longstreth WT, Mcguire V. Population - based case - control study ofamyotrophic lateral sclerosis in Western Washington State. Am J Epidemiol 2000;151(2):164-173.3.Hubbard RW, Will AD , Peterson MD, Sanchez A, Gillan WW, Tan SA. Elevated plasma glucaconin amyotrophic lateral sclerosis. Neurology 1992;42:1532-1534.4.Slowie LA, Paige MS, Antel JP. Nutritional Considerations in the management of patients with ALSamyotrophic lateral sclerosis. J Am Diet Assoc 1983;83(1):44-47.5.Karsarskis EJ, Neville HE. Management of ALS. Neurology 1996;47(2 Suppl):S118-S120.6.Kasarskis EJ, Berryman S, Vanderleest JG, Schneider AR, McClain CJ. Nutritional status of patientswith amyotrophic lateral sclerosis: relation to the proximith of death. Am J Clin Nutr 1996;63(1):130-137.7.Desport JC, Preux PM, Truong TC, Vallat JM, Sautereau D, Couratier P. Nutrition status is aprog<strong>no</strong>stic factor fou survival in ALS patients. Neurology 1999;53(5):1059-1063.8.Mazzini L, Corra T, Zaccala M, Mora G, Del Pia<strong>no</strong> M, Galante M. Percutaneous endoscopicgastrostomy and enteral nutrition in amyotrophic lateral sclerosis. J Neurol 1995;242:695-698.9.Silani V, Karsarskis EJ, Yanagisawa N. Nutritional management in amyotrophic lateral sclerosis : aworldwide perspective . J Neurol 1998;243(2 Suppl):S13-19.<strong>Revista</strong> Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006.


Assistência Integrada: Paciente – Cuidador –Terapeuta – VoluntárioIntegrated Assistance: Patient - Caregiver - Therapeutic -VoluntaryPaulo Eduardo RamosFisioterapeuta Especializado em Medicina Tradicional Chinesa. Diretor Presidente do Projeto Verde Vida Saúde,Universidade Federal de São Paulo / Escola Paulista de Medicina - Setor de Investigação de DoençasNeuromusculares.76Verde Vida Saúde atua na sala de espera do ambulatório do setor de investigações dedoenças neuromusculares - Escola Paulista de Medicina, com atividades recreativas, lúdicas ede autoconhecimento, tornando o tempo ocioso de pacientes e cuidadores em uma reflexão àvida.Acreditando que para promover a saúde integral, é necessário um conjunto desituações que contribuem diretamente e indiretamente <strong>no</strong> processo de recuperação depacientes, que por um momento de <strong>sua</strong> vida encontra se doentes.Com esta visão foram incorporadas algumas das ações na rotina do ambulatórioatravés de ações de voluntários e alu<strong>no</strong>s de especialização junto a pacientes e na recepção dosetor a exemplo: Ikebana, medicina tradicional chinesa, atividades <strong>no</strong>s parques públicos,esporte adaptado, arte terapia e cão terapêutico.O setor de doenças neuromusculares tem por perfil um total de 37 (trinta e sete)ambulatórios, sendo que dividido em:16 (dezesseis) ambulatórios de médicos;19 (deze<strong>no</strong>ve) equipes multidisciplinares (fisioterapeutas, nutricionistas,fo<strong>no</strong>diologos, terapeuta ocupacional, enfermeiros, educadores físicos epsicólogos);02 procedimentos (biopsia muscular e pulsoterapia).O fluxo de pacientes atendido por a<strong>no</strong>:Em 2003 foram atendidos pelo setor 8.079;<strong>Revista</strong> Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006.


77Em 2004 foram atendidos pelo setor 8.216;Em 2005 foram atendidos pelo setor 12.000.Estima-se que em 2006 este número chegue à casa de 12.500 pacientes a<strong>no</strong>s, ou seja,em média um fluxo de aproximadamente 300 pacientes por semana.Dentre os procedimentos realizado pelo setor, os processo de alto custo representa80% das tarefas realizadas, sendo que antes do envolvimento dos voluntários e alu<strong>no</strong>s deespecialização do Verde Vida Saúde, os mesmo procedimentos sofriam com questãoburocráticas, levando muitas vezes ao cuidador, representante da família retornar até 03 vezes<strong>no</strong> setor para conseguir um determinado procedimento, e, destes 80% não se concluía <strong>sua</strong>totalidade, após implantação de ações de qualidade total este percentual chegou a quase100%, sendo que os implicativos foram cadastros incompleto e perda de informações(documentos) de pacientes.Atualmente este procedimento se da com uma única ida ao setor e, o tempo de esperaque era de 15 minutos/pacientes passou para 05 minutos /pacientes.Estas ações implicaram em muito na melhora do atendimento <strong>no</strong> setor, facilitando aocuidador a possibilidade de evitar os gastos financeiros decorrente das varias investida paraque determinada ação pudesse ser concluída, permitindo um tempo a mais com o ente queridoque se encontre em momento de aflição e a questão da dispensa dos serviços para tal fim. Istoresultou em qualidade total, e acima de tudo, mesmo com todas as dificuldades que qualquerrepartição de saúde pública. O paciente, cuidador e familiar sentiu se respeitado pelo setor,sentindo valer se seu direito de cidadão.Objetivos alcançados:1. Eco<strong>no</strong>mia financeira;2. Atitude de afetividade na abordagem do paciente, cuidador e familiar;3. Melhora <strong>no</strong> convívio social dentro do setor;4. Respeito pelo paciente, cuidador e familiar;5. Saúde integral.Além da questão da gestão na abordagem dos pacientes <strong>no</strong> momento da recepção, setratando da questão administrativa, foram realizadas atividades na sala de espera a fim de<strong>Revista</strong> Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006.


ocupar o tempo ocioso dos pacientes durante a espera de atendimento médico ou da equipemultidisciplinar através de atividades lúdico/terapêutica e de autoconhecimento, através de 03oficinas:78Ócio GostosoAtravés de atividades como jogos, arte terapia, arranjos de ikebana, dobradura,pintura, música; associando conceito da filosofia oriental, proporcionando aopaciente/cuidador uma reflexão à vida e um introspecção a si mesmo.Corpo MoleAtravés de atividades de exercícios físicos, automassagem e meditação,proporcionando ao paciente/cuidador momentos de relaxamento e consciência corporal, comconceitos simples e de aplicabilidade para o quotidia<strong>no</strong>, despertando possibilidades de ver deforma <strong>no</strong>va a situações do dia-dia.Cultura InútilAtravés de atividades de leitura, conto de estórias, bate papo e dinâmicas de grupo,promovendo a interação de paciente, cuidadores e equipe profissional, valorizando as relaçõeshumanas, tornando assim a sala em um ambiente agradável e descontraído.O objetivo destas ações é de promover uma qualidade <strong>no</strong> atendimento, a qual se traduz pelorespeito pelo paciente, oferecer atividades de autoconhecimento que possibilite ao paciente,cuidador, familiar e equipe de saúde a promover a cultura da saúde. Tornar o ambientehospitalar em um local de alegria e mais huma<strong>no</strong>.Estas ações foram possível através de capacitações das equipes envolvidas através de cursosde empreededorismo, qualidade de vida, medicina tradicional chinesa aplicada à sala deespera e gestão em sala de espera.Referências Bibliográficas1.Almeida F. Como Ser Um Empreendedor de Sucesso. Belo Horizontr: Editora Leitura, 2001.2.Anderson NB. Longevidade Emocional. Rio de Janeiro: Editora Best Seller, 2005.3.Chiavenato I. Teoria Geral da Administração. 3º ed. São Paulo: Editora McGraw-hill, 1987.<strong>Revista</strong> Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006.


4.Degen R. O Empreendedor. 8ºed. São Paulo: Editora Mkron Books, 1989.5.Fernandes A. Administração Inteligente. São Paulo: Editora Futura, 2001.6.Gazzaniga MS. Ciência Psicológica: mente, cérebro e comportamento. Porto Alegre: Artmed, 2005.7.Hilsorf C. Atitudes vencedoras. 6ºed. São Paulo: Editora SENAC, 2004.8.Hunter JC. O Monge e o Executivo. Rio de Janeiro: Editora Sextante, 2004.9.Lima LMS. Caminhando para uma <strong>no</strong>va (?) consciência: uma experiência de introdução da ArteMarcial na Educação. Campinas, 1999.10.Lima LMS. O Tao da Educação: a filosofia oriental na escola ocidental. São Paulo: Agora, 2000.11.Martins JM. A Lógica das Emoções: na ciência e na vida. Petrópolis: Vozes, 2004.12.Póvoa H. A Chave da Longevidade. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.13.Ribeiro L. Excelência Emocional. Belo Horizonte: Editora Leitura, 2002.14.Wong E. As Artes Taoístas da Saúde, da Longevidade e da Imortalidade – Os Ensinamentos dosImortais Chung e Lü. São Paulo: Landy, 2003.15.Wu JC. A Alquimia do Movimento. 4ª ed. Rio de Janeiro: Mauad, 1998.79<strong>Revista</strong> Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006.


80Medicina Tradicional Chinesa (MTC)Tradicional Chinese Medicine (TCM)Gislaine Cristina AbeNeuropediatra, Acupunturista, Assistente do curso de pós-graduação em MTC do HSPM, e Faculdade deMedicina de Jundiaí. Responsável pelo ambulatório de MTC <strong>no</strong> setor de doenças neuromusculares da UNIFESP-EPM.Conceitos básicosA Medicina Tradicional Chinesa (MTC) tem seus primeiros registros datados de 5000a.C. São livros antigos, com informações codificadas, muitas vezes em forma de poesia,música, imagens. São conceitos diferentes que implicam numa mudança do estilo de vida,onde se ressalta como papel fundamental a prevenção. Para isso é essencial a difusão deinformações, fazendo-se necessário um constante “movimento” em relação aos hábitos ecostumes. A abordagem de cada paciente é global, envolvendo corpo, mente, espírito, eambiente.FilosofiaBaseada <strong>no</strong> budismo, taoísmo, e confucionismo, que são os pilares filosóficos daMTC. As doenças são apenas caminhos onde o objetivo é a TRANSFORMAÇÃO PESSOAL.Atualmente existe ênfase em pesquisas ligadas ao mecanismo de ação da acupuntura,meditação e práticas físicas. A modernização de equipamentos utilizados em diagnósticopermitiu o entendimento parcial das técnicas, o que possibilitou a inclusão da acupunturacomo especialidade médica em 1999. Desde então, muitos métodos foram desenvolvidos <strong>no</strong>ocidente, e incorporados às técnicas antigas, devido à i<strong>no</strong>vação tec<strong>no</strong>lógica. A associação coma medicina ocidental é vista como sendo o ideal, possibilitando que os profissionais tenhamuma visão mais abrangente, e com maior número de ferramentas visando a saúde integral doindivíduo.<strong>Revista</strong> Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006.


81Mecanismo neuroimu<strong>no</strong>humoralAtualmente a ação da acupuntura é explicada por mecanismo neuroimu<strong>no</strong>humoral. As demaistécnicas da MTC possivelmente atuam da mesma forma, mas ainda estão em estudo.Estruturação ParticularO homem é visto tendo três componentes básicos:❧ Energia ( Chi)❧ Matéria (Jin)❧ Mente (Shen)A terapêutica pode ser feita através da atuação em qualquer um deles, isoladamente ou emassociação.As técnicas da MTC são: acupuntura, dietoterapia, fitoterapia, meditação, exercícios físicos, etoque, sendo que as três últimas (grifadas) são as utilizadas na sala de espera.FisiopatologiaAlterações da fisiologia podem ter causas internas, externas e “mistas”(<strong>no</strong>menclaturautilizada pelas escolas de MTC <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>).Causas internas são emoções: raiva, mágoa, tristeza, preocupação, alegria.Causas externas são fatores climáticos, variações de temperatura, vírus, e bactérias.Causas “mistas”são traumatismos, picaduras, envenenamento, alimentação.Cada indivíduo apresenta uma predisposição peculiar, seja por fatores familiares,temperamento, ambiente, astrológicos, espirituais, etc.Nada é definitivo ou impossível.A DOENÇA significa que MUDANÇAS SÃO NECESSÁRIAS. Como ela é encaradacomo um processo, não como fato isolado, é essencial que o indivíduo modifique algunshábitos e costumes que possam ter contribuído para o adoecimento.IMPORTANTE: a associação de técnicas é vista como benéfica porque o tratamentonão deve ser isolado. Ele deve ser incorporado em vários aspectos da vida cotidiana para que<strong>no</strong>vas rotas físicas e mentais sejam formadas para romper o processo de adoecimento.<strong>Revista</strong> Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006.


82Aplicação de técnicas da MTC na sala de esperaA atividade desenvolvida na sala de espera foi resultado de um processo, que incluiu apreparação de alu<strong>no</strong>s através de cursos de extensão e especialização. Esses cursos tiveraminício em 2004, e passaram pelas seguintes fases:❧ adaptação dos profissionais e alu<strong>no</strong>s: todos eram de áreas profissionais diferentes, etraziam conhecimentos diversos para serem adaptados à sala de espera.❧ adaptadação ao público alvo, e à sala de espera. Os profissionais envolvidos nãotinham experiência com atuação nesse ambiente, principalmente levando emconsideração o setor, que atende doenças muito especificas, e com necessidadespeculiares.❧ as práticas foram escolhidas de acordo com tipo de doença. Dentro da MTC existeuma grande variedade de técnicas, com finalidades especificas. Foi levado emconsideração: o tipo de dificuldade física, o tipo de doença, praticidade, e facilidade deexecução.❧ as técnicas possibilitam a inclusão do cuidador nas atividadesA participação é opcional, sendo feito um CONVITE aos pacientes e cuidadores.A prática é realizada <strong>no</strong> ambulatório de MTC.Dificuldades:❧ Tempo – nem sempre o tempo de espera é suficiente. Por isso enfatizamos atividadesmais rápidas.❧ Conscientização dos pacientes e cuidadores – a “prática consciente” deve serestimulada, baseada <strong>no</strong> princípio zen do autoconhecimento, e do aqui e agora. É a basedo pensamento corpo, mente, espírito integrados.❧ A prática deve ser regular. Atividades esporádicas propiciam bem estar, mas o efeito éfugaz.Atividades desenvolvidas:1. Meditação<strong>Revista</strong> Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006.


83Características:❧ Aplicada em grupos que aguardavam a aplicação de acupuntura e seus cuidadores❧ Benefícios comprovados pela medicina, mas NÃO ESPECIFICAMENTE PARA ELA❧ Sem contra indicações.❧ Fácil execução. Pode ser feita em posição sentada, deitada, de pé (andando)❧ Várias técnicas são utilizadas. No setor optamos pelo “Sorriso inter<strong>no</strong>”2. ToqueCaracterísticas:❧ Feita com uma leve pressão com intuito de circular energia estagnada, semcomprometer a musculatura.❧ Objetivo: estimular circulação geral❧ Propicia uma sensação de bem estar3. Chi Kung:Características:❧ Nomenclatura usada para exercícios executados em sincronia com respiração❧ Movimentos específicos, mas podem ser adaptados. Na China existem mais de 2 miltipos para diversas finalidades❧ Objetivo: aumento energético, equilíbrio❧ Estudos científicos em andamento❧ Fácil execução, mas requer trei<strong>no</strong> regular. Assim como a meditação, não funciona sefeito esporadicamente❧ Pode ser executado por pacientes e cuidadores.Objetivo das atividades: MELHORIA DA QUALIDADE DE VIDAConcluindo 2 a<strong>no</strong>s de trabalho, pudemos chegar às seguintes conclusões e reflexões:❧ Os métodos oferecem ferramentas para que as pessoas passem a cuidar de si próprias.❧ Embora não validada pela ciência moderna (com exceção da acupuntura), a MTC éconsagrada há milhares de a<strong>no</strong>s através das práticas difundidas entre a população dos<strong>Revista</strong> Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006.


países asiáticos, mais especificamente a CHINA. Observamos que a incidência deELA na China é 0,3/ 100.000 habitantes. Em relação a outros países, é uma incidênciamuito baixa. O Japão, <strong>Brasil</strong> e Estados Unidos da América apresentam a incidência,respectivamente, de 2,5; 1,5; e 1,9/100.000 habitantes. Se os dados divulgados pelaChina estiverem corretos, podemos pensar que algum fator da região os diferencia dorestante do mundo, sendo necessário conhecer, entender, e praticar.❧ Os métodos são simples, rápidos e gratuitos.❧ Pode ser feito por pacientes e cuidadores.84Referências Bibliográficas:1.Anderson NB. Longevidade Emocional. Rio de Janeiro: Editora Best Seller, 2005.2.Carter R. O Livro de Ouro da Mente. Rio de janeiro: Ediouro, 2003.3.Cleary T. Meditação Taoísta – Métodos para Cultivar a Saúde da Mente e do Corpo. Brasília:Editora Teosófica, 2000.4.Dantas EHM. Psicofisiologia. Rio de Janeiro: Sharpe, 2001.5.Gazzaniga MS. Ciência Psicológica: mente, cérebro e comportamento. Porto Alegre: Artmed, 2005.6.Gil R. Neuropsicologia. 2ª ed. São Paulo: Santos, 2003.7.Goswami A. A Física da Alma. São Paulo: Aleph, 2005.8.Hsing Y. Sutra do Buda da Medicina: Introdução, comentários e preces. Tradução deLuciana Franco Piva. São Paulo: Mirian Paglia Editora de Cultura Ltda., 2004.9.Hyams J. O Zen nas Artes Marciais. São Paulo: Pensamento, 1996.10.Hyams J. O Zen nas Artes Marciais. São Paulo: Pensamento, 1979.11.Huai CN. TAO Transformação da Mente e do Corpo. São Paulo: Editora Pensamento, 1993.12.Jia JE. Ch’an Tao. Medicina Tradicional Chinesa – conceitos básicos 1ª ed.. São Paulo: editoraÍcone, 2004.13.Jung CG. O Segredo da Flor de Ouro. Silva DF, Appy ML (trad.). 7ª ed. Rio de Janeiro: Vozes,1992.14.Li D. O Qi Gong Meridia<strong>no</strong> - Transporte da Energia pelo Meridia<strong>no</strong>. São Paulo: Editora Ícone,1987.15.Lie T. Tratado do Vazio Perfeito. São Paulo: Landy, 2001.16.Lima LMS. Caminhando para uma <strong>no</strong>va (?) consciência: uma experiência de introdução da ArteMarcial na Educação. Campinas, 1999.17.Lima LMS. O Tao da Educação: a filosofia oriental na escola ocidental. São Paulo: Agora, 2000.<strong>Revista</strong> Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006.


18.Maciocia G. A Prática da Medicina Chinesa Tratamento de Doenças com Acupuntura e ErvasChinesas. São Paulo: Editora Roca, 1996.19.Ross J. Combinações dos pontos de acupuntura. 1ª ed. São Paulo, 2002.20.Silvia G. Budismo, psicologia do auto conhecimento. São Paulo: Editora Pensamento, 2002.21.Thich NH. Aprendendo a Lidar com a Raiva – Sabedoria para a Paz Interior. Rio de Janeiro:Editora GMT, 2003.22.Thich NH. Aprendendo a Lidar com a Raiva – Sabedoria para a Paz Interior. Rio de Janeiro:Sextante, 2003.23.Wang HY. The Origins of Chinese Characters. Beijing: Si<strong>no</strong>lingua, 1994.24.Wang HY. The Origins of Chinese Characters. Beijing: Si<strong>no</strong>lingua, 1994.25.Wong E. As Artes Taoístas da Saúde, da Longevidade e da Imortalidade – Os Ensinamentos dosImortais Chung e Lü. São Paulo: Landy, 2003.26.Wu JC. A Alquimia do Movimento. 4ª ed. Rio de Janeiro: Mauad, 1998.27.Yudelove ES. 100 Dias para Melhorar a Saúde, a Atividade Sexual e ter Vida Longa. São Paulo:Editora Érica, 1999.85<strong>Revista</strong> Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006.


Terapia Gênica: Futuro tratamento para a <strong>Esclerose</strong><strong>Lateral</strong> Amiotrófica?Gene Therapy: Treatment Future for Amyotrophic <strong>Lateral</strong>Sclerosis?Miguel Mitne-Neto 1 , Mayana Zatz 11 Biólogo do Centro de Estudos do Ge<strong>no</strong>ma Huma<strong>no</strong>, Instituto de Biociências, Universidade de São Paulo – USP,2 Coordenadora do Centro de Estudos do Ge<strong>no</strong>ma Huma<strong>no</strong> do Instituto de Biociências, Universidade de SãoPaulo – USP86A Terapia Gênica envolve uma série de procedimentos, que tem como objetivo atransferência de material genético para as células de um indivíduo, na tentativa de gerar algumbenefício para este. Na década de 1960 começaram as primeiras especulações à cerca dopotencial terapêutico ligado à manipulação genética, ou, terapia gênica. Porém, os primeirosensaios com essa abordagem em seres huma<strong>no</strong>s só vieram a ocorrer na década de 1990 <strong>no</strong>sEstado Unidos 1 .A terapia gênica envolve os processos de injeção de material genético exóge<strong>no</strong>(transgene) <strong>no</strong> indivíduo; o direcionamento deste material para o(s) tecido(s) alvo(s), seguidoda <strong>sua</strong> entrada nestas células (transfecção); em alguns casos, incorporação do transgene <strong>no</strong>ge<strong>no</strong>ma do indivíduo; geração do produto gênico proveniente da transfecção e posteriorcorreção da a<strong>no</strong>rmalidade alvo 1 .Potencialmente a transferência gênica pode se dar de várias formas, que diferem deacordo com <strong>sua</strong> eficácia e estratégia de terapêutica.Injeção de DNA nu: o DNA purificado (vetor plasmidial) é injetado diretamente <strong>no</strong> músculopodendo manter uma expressão continuada do transgene in vivo. Sua eficiência é baixa,porém tem sido utilizada para o desenvolvimento de vacinas de DNA, capazes de desenvolverresposta imune celular e não apenas humoral.Lipossomos: os lipossomos são constituídos de uma bicamada lipídica que tem comoprincipal característica a formação de micelas. Essas estruturas mantêm uma fase aquosa naporção interior da bicamada, onde pode ser inserido o fragmento de DNA. Sua eficiência é<strong>Revista</strong> Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006.


muito baixa, porém, o tamanho das seqüências que eles podem carregar, a ausência deresposta imune e seu baixo custo, justificam as tentativas de <strong>sua</strong> utilização.Vetores virais: São vírus modificados, <strong>no</strong>s quais os genes responsáveis pela produção deproteínas prejudiciais ao hospedeiro foram substituídos pela seqüência do transgene. Váriostipos de vírus têm sido empregados:Vetores Ade<strong>no</strong>virais – podem ser obtidos com altas titulações, são eficientes na infecção devários tecidos e possuem ge<strong>no</strong>ma com DNA dupla fita, o que permite a inserção de grandesseqüências de DNA exóge<strong>no</strong>. Suas desvantagens são causadas pelo fato de não integrarem otransgene ao ge<strong>no</strong>ma do hospedeiro, gerando apenas uma expressão transiente e porinduzirem resposta imune celular 1 .Vetores Ade<strong>no</strong>- Associados: podem, também, ser obtidos com altas titulações, possuem DNAsimples fita e integram seu DNA ao material do hospedeiro, permitindo expressão prolongadado transgene. No entanto, necessitam de co-transfecção com um vírus auxiliar devido à <strong>sua</strong>incapacidade de infectarem as células sozinhos 1 .Vetores retrovirais - são os mais utilizados em protocolos de terapia gênica atualmente. Suagrande vantagem está na inserção de seu material ao ge<strong>no</strong>ma do hospedeiro, por serem vírusde RNA 1 e em teoria, ser necessária apenas uma injeção do vetor. Possuem capacidade decarregar seqüências de tamanho médio e induzem resposta inflamatória mínima 2 . Nesta classeestão inclusos os lentivírus. Esses são derivados principalmente do vírus da imu<strong>no</strong>deficiênciahumana 1 (HIV-1) 1 . Os lentivírus são os vetores de maior promessa para o tratamento dedoenças neurodegenerativas 2 .87Terapia Gênica: <strong>Esclerose</strong> <strong>Lateral</strong> Amiotrófica (ELA)A ELA é uma doença neurodegenerativa, resultante da morte seletiva dos neurôniosmotores superiores e/ou inferiores 3 . Cerca de 90% dos casos são esporádicos enquantoaproximadamente 10% são hereditários. Desses últimos, 20% devem-se a mutações <strong>no</strong> geneSOD1. Ele é responsável pela produção da enzima Superóxido Dismutase, que está envolvidana metabolização do íon superóxido, um dos radicais livres mais reativos que ataca tanto omaterial genético quanto membranas e proteínas. A atividade incorreta, decorrente demutações nessa enzima pode levar à morte dos neurônios motores devido à toxicidade. Asmutações <strong>no</strong> SOD1 levam a formação de enzimas que passam a exercer uma função que não<strong>Revista</strong> Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006.


ealizavam anteriormente, (ganho de função), ao invés de apenas perder <strong>sua</strong> atividade natural.Ela passaria a exercer uma função tóxica nas células, sendo os neurônios motoresespecialmente sensíveis a estas variações.As tentativas de terapia gênica em ELA têm tido como principal alvo a correção daatividade defeituosa da superóxido dismutase. Esses experimentos só foram possíveis após odesenvolvimento de modelos animais. Eles são transgênicos que na maior parte dos trabalhosexpressam o gene SOD1 contendo a mutação G93A e apresentam fenótipo que é clínica epatologicamente semelhante ao huma<strong>no</strong>. Como previamente descrito as mutações neste geneexpressam proteínas com um ganho de função. Desta forma atualmente algumas terapias têmtentado inibir a ação da proteína mutante, ou seja, diminuir <strong>sua</strong> expressão ao invés de apenastentar fazer a reposição da proteína <strong>no</strong>rmal.A principal ferramenta de correção desta atividade tem sido a utilização de RNA deinterferência (RNAi). Os RNAis estão envolvidos em um processo inato, conservadoevolutivamente, de silenciamento pós-transcricional, ou seja, diminuição dos níveis dedeterminado RNAm, induzido pela presença de RNA dupla fita 3 . O RNA dupla fita é usadopara direcionar os complexos Dicer e RISC na clivagem do RNAm que possui seqüênciacomplementar a este RNA dupla fita. Dessa forma, o RNAm não é traduzido em proteínas e,portanto, <strong>sua</strong> ação fica silenciada.Para exemplificar os usos de RNAi podemos citar o trabalho de Ralph et al 3 . Neste osautores, utilizaram um vetor do tipo Lentivirus, mais especificamente vírus da anemiainfecciosa eqüina (EIAV), e mostraram que a injeção desses vetores via intramuscular é capazde conduzi-los aos neurônios da coluna espinhal e do córtex motor por meio de transporteretrógrado, ou seja, passando dos músculos para os neurônios. Esses vetores continhamseqüências específicas do gene SOD1, que quando transcritas formavam uma estrutura emdupla fita ligada por um “grampo” (RNA dupla fita). Pela ação desse RNAi os animaistransgênicos usados neste estudo, tinham dificuldades em expressar a Superóxido Dismutasemutante.Estudos que utilizaram RNAi para o silenciamento do SOD1 mutante, demonstraramum aumento da sobrevivência dos neurônios motores vulneráveis na espinha dorsal e córtexmotor. Este silenciamento aumentou a performance dos animais tratados resultando emconsiderável retardo do início dos sintomas e aumento significante da <strong>sua</strong> sobrevivência 3 .88<strong>Revista</strong> Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006.


Outra estratégia, proposta por Xia et al 4 é o silenciamento tanto do SOD1 mutantequanto selvagem, com concomitante expressão de SOD1 exóge<strong>no</strong> resistente a esse RNAi. ORNAm resistente foi gerado por uma mutação de troca de base, sem modificação doami<strong>no</strong>ácido e transfectado para as células em cultura. Os resultados demonstram a diminuiçãoda expressão da Superóxido Dismutase mutante e selvagem, bem como a expressão daSuperóxido Dismutase de origem exógena. Estes experimentos ainda necessitam decomprovação in vivo.Recentemente foi demonstrado que níveis reduzidos do fator de crescimento endotelial(VEGF) predispõem huma<strong>no</strong>s e camundongos ao desenvolvimento de ELA. O VEGF é umfator indispensável à angiogênese e parece estar envolvido com a neuroproteção 5 . A partirdesses dados Azzouz et al 5 basearam-se <strong>no</strong> aumento da expressão de VEGF como forma deproteção aos neurônios em camundongos transgênicos, portadores da mutação G93A. Elesdemonstraram que a aplicação de vetores de lentivírus, carregando a seqüência que codifica oVEGF, por transporte retrógrado, em determinadas musculaturas levou ao aumento na idadede início dos sintomas bem como à diminuição da progressão da doença nesses camundongos.Chama a atenção que o VEGF manteve <strong>sua</strong>s características de neuroproteção, mesmo quandoo tratamento foi iniciado após o início dos sintomas, especificamente neste caso quandometade dos neurônios motores já havia morrido.Este tipo de terapia para as doenças neuromusculares promete grandes avanços <strong>no</strong>spróximos a<strong>no</strong>s, entretanto vários obstáculos precisam ainda ser vencidos; como a grandequantidade de vetores necessários para eficácia do tratamento; o direcionamento dos vetoresexclusivamente para os neurônios motores, a expressão contínua e não apenas transiente dostransgenes; a correção dos defeitos sem efeitos colaterais tóxicos e a aplicação dessas terapiasàs diferentes formas de Doença do Neurônio Motor e ELA, não se limitando apenas a algunsmodelos.89Referências Bibliográficas1.Nance BN, Ventura AM. Terapia Gênica. Mir L (org.) Genômica. São Paulo: Atheneu, 2004, cap.30.2.Federici T, Boulis NM. Gene-based treatment of motor neuron diseases. Muscle Nerve.2006;33(3):302-323.<strong>Revista</strong> Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006.


3.Ralph GS, Radcliffe PA, Day DM, Carthy JM, Leroux MA, Lee DC, et al. Silencing mutant SOD1using RNAi protects against neurodegeneration and extends survival in an ALS model. Nat Med.2005;11(4):429-433.4.Xia XG, Zhou H, Zhou S, Yu Y, Wu R, Xu Z. An RNAi strategy for treatment of amyotrophiclateral sclerosis caused by mutant Cu, Zn superoxide dismutase. J Neurochem. 2005;92(2):362-367.5.Azzouz M, Ralph GS, Storkebaum E, Walmsley LE, Mitropha<strong>no</strong>us KA, Kingsman SM, et al.VEGF delivery with retrogradely transported lentivector prolongs survival in a mouse ALS model.Nature. 2004;429(6990):413-417.90<strong>Revista</strong> Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006.


91SESSÃO DE POSTERSEstudo comparativo da função e fadiga antes e após o tratamentofisioterápico na Esclarose <strong>Lateral</strong> Amiotrófica.Chaves ACX, Duran MA, Conceição ECG, Silva TM, Cunha MCB, Oliveira ASB.Setor de Doenças Neuromusculares da Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de MedicinaUNIFESP/EPMIntrodução: A <strong>Esclerose</strong> <strong>Lateral</strong> Amiotrófica (ELA) é uma doença neuromuscular de caráterprogressivo, decorrente da degeneração dos neurônios motores superior e inferior. A fraquezamuscular causa problemas clínicos associados a ELA, como diminuição da função física,mobilidade, e performance das atividades de vida diária. Clinicamente a fadiga pode seravaliada através de escalas subjetivas. Estudos prévios mostram que os pacientes com ELAexperimentam a fadiga motora ou periférica.Objetivo: Analisar estatísticamente a fadiga e a funcionalidade dos pacientes com ELA, antese após um período de tratamento, em clínicas de fisioterapia multicêntricas.Material e Método: Foram avaliados 20 pacientes (12 homens e 08 mulheres) comdiagnóstico de ELA definida e idade entre 30 e 83 a<strong>no</strong>s (média de idade de 53 a<strong>no</strong>s), pelaequipe da fisioterapia motora do ambulatório de ELA <strong>no</strong> Setor de Doenças Neuromuscularesda UNIFESP/EPM. Foram aplicadas as seguintes escalas: Escala de Funcionalidade (FRS) eEscala de Severidade de Fadiga (FSS) antes e após 04 meses de tratamento fisioterápicomulticêntrico. Os dados foram analisados pelo método estatístico “Wilcoxon Matched – PairSigned – Ranks Test”.Resultados: De acordo com a análise das escalas usando um nível de significância de 0,05, afadiga apresentou uma melhora de 1,15 e a funcionalidade houve uma piora de 2,72.Desta forma a escala de fadiga não mostrou diferença significativa antes e após um período de4 meses de tratamento fisioterápico, já na escala de funcionalidade houve uma diferençasignificante entre os dois períodos.Conclusão: Os resultados obtidos com a aplicação das escalas FRS e FSS mostraram que afadiga teve uma melhora, porém estatisticamente sem significância, ao passo que afuncionalidade apresentou uma piora, compatível com o quadro clínico por se tratar de umadoença degenerativa e de rápida progressão.<strong>Revista</strong> Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006.


92Principais orientações da fisioterapia motora <strong>no</strong> ambulatório de <strong>Esclerose</strong><strong>Lateral</strong> Amiotrófica da UNIFESP/EPMDurán MA, Klein AN, Conceição ECG, Silva TM, Chaves ACX, Labronici RHDD,Cunha MCB, Oliveira ASB.Setor de Doenças Neuromusculares da Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de MedicinaUNIFESP/EPMIntrodução: A <strong>Esclerose</strong> <strong>Lateral</strong> Amiotrófica (ELA) caracteriza-se por uma doençaneuromuscular progressiva decorrente da degeneração dos neurônios motores superior einferior. Durante a evolução da ELA há um declínio das habilidades do paciente e perda deforça muscular global, fazendo com que este tenha que permanecer <strong>no</strong> leito ou cadeira derodas, com total dependência. O tratamento destes pacientes exigem uma atençãomultidisciplinar com múltiplas orientações afim de contribuir na melhora da qualidade de vidadestes pacientes, assim como nas atividades de vida diária dos mesmos.Objetivo: Identificar as tendências de orientações fisioterapêuticas aos pacientes com ELAem um serviço ambulatorial.Casuística e Método: Foram avaliados 120 pacientes (65 homens e 55 mulheres), comdiagnóstico de ELA segundo critérios do El Escore, durante 03 a<strong>no</strong>s. As orientações prédeterminadasforam divididas em 04 grupos: grupo 1 (exercícios domiciliares), grupo 2(conservação de energia), grupo 3 (posicionamento e transferência) e grupo 4 (indicações deórteses e adaptações). Com a intenção de manter as amplitudes de movimentos, alívio de dor emanutenção muscular, são propostos exercícios domiciliares diários como tratamentoconjunto a fisioterapia. A conservação de energia é um conceito utilizado na reabilitação paraanalisar, planejar e realizar as atividades do cotidia<strong>no</strong> do paciente, com propósito deminimizar a fadiga. As orientações de posicionamentos adequados são propostos para evitaras alterações posturais e, as transferências facilitam na realização das atividades de vidadiária. As órteses e adaptações são indicadas para evitar deformidades e facilitar a qualidadede vida do paciente.Resultados: Verificamos que o percentual de pacientes que receberam uma orientação foi de64,8% (43,2% de exercícios domiciliares, 14,4% de conservação de energia, 3,6% deposicionamentos e transferências e 3,6% de órteses e adaptações); percentual de duas<strong>Revista</strong> Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006.


orientações foi de 44,4% (5,9% de Exercícios Domiciliares + Conservação de Energia, 7,9%de Exercícios Domiciliares + Posicionamentos e Transferências, 9,6% de ExercíciosDomiciliares + Órteses e Adaptações, 7,06% de Conservação de Energia + Posicionamentos eTransferências, 5,9% de Conservação de Energia + Órteses e Adaptações, 8,08% dePosicionamentos e Transferências + Órteses e Adaptações); o percentual de três orientaçõesfoi de 26,4% (9,35% de Exercícios Domiciliares + Conservação de Energia +Posicionamentos e Transferências, 6,76% de Exercícios Domiciliares + Conservação deEnergia + Órteses e Adaptações e 10,29% de Órteses e Adaptações + Posicionamentos eTransferências + Conservação de Energia) e 8,4% dos pacientes receberam todas asorientações.Discussão e Conclusão: Verificamos que as orientações mais indicadas foram para realizaçãode exercícios domiciliares e conservação de energia, já que são necessárias em todas as fasesda doença; o que não ocorre com as orientações sobre posicionamento e transferências eórteses e adaptações, que são mais necessárias quando o paciente passa a precisar de auxíliospara <strong>sua</strong>s atividades. A baixa percentagem das orientações sobre órteses e adaptações tambémpode ser atribuídas ao longo período de adaptação e ao alto custo da confecção da órtese efabricação de uma adaptação, visto que o tempo de uso por um paciente é limitado devido àrápida progressão da doença.93A importância da recreação na sala de espera abulatorialSantana LC 1 , Moreira JM 1 , Macário MF 21-Educadora Física voluntárias do Verde Vida Saúde 2-Assistente Social da ABRELASetor de Doenças Neuromusculares da Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de MedicinaUNIFESP/EPMIntrodução: É <strong>no</strong>tório que quando uma pessoa vem procurar um ambulatório médico quetrata de especialidades como doenças do sistema Neuromuscular, ela já esta com um nível deestresse e ansiedade alterados,pois a busca desesperadora por informações sobre a <strong>sua</strong>patologia em que em muitos casos não foi dado a devida atenção o deixa com <strong>sua</strong> auto estimabaixa.Objetivo: O objetivo do lazer é elevar o estado de espírito do paciente, pois este tempo ociosoque fica na sala de espera deve ser trabalhado o lúdico (diversão, alegria e entretenimento)<strong>Revista</strong> Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006.


dentro de <strong>sua</strong>s limitações, pois as atividades lúdicas devem permitir que a pessoa se expresse,se sinta útil, alegre gratificada, que possa desenvolver as situações de forma criativa sentindoo prazer pela atividade.Método: Formas de atividades: jogos de dama adaptados, dominó com ajuda de um monitorou cuidador, confecções de sacos para jogar as Cinco Marias (pelas mulheres), pinturas emmadeiras, leituras, jogos de construção, jogos cooperativos. Materiais utilizados para asatividades: jogos de encaixe ou similares, papéis diversos, fita crepe, lápis de cor, giz de cera,guache, tinta para tecido e madeira, EVA e TNT, materiais alternativos como garrafasplásticas, tampinha, madeiras rolos de papel, palitos de sorvete, bolas de meia, copinhosplásticos, jornais, revistas, tecidos coloridos. Muitos dos materiais foram trazidos pelospróprios pacientes.Resultados. Segundo Winniicott, (1975) brincar é o fazer em si um fazer que requer tempo eespaço próprio, um fazer que constitui de experiências culturais que é universal da própriasaúde porque facilita o crescimento e conduz aos relacionamentos grupais podendo ser umaforma de comunicação consigo mesmo (a criança) e o outro.Benefícios alcançados – Depoimentos dos pacientes e familiares:Sujeito l “O meu marido ia fazer uma traqueostomia e estava muito nervoso erelutante, após um simples jogo de dominó (com ajuda dos monitores) ele relaxou e atéesqueceu por um período de tempo o que iria fazer, coisa que a família não conseguiaconvencê-lo.”Sujeito 2 “Para mim os benefícios que trouxe foi uma melhora na qualidade de vida,uma integração social, alegria do paciente de poder participar de atividades com outrospacientes (semelhantes).”Sujeito 3 “Quanto a atuação da recreação <strong>no</strong> ambulatório na vida do meu filho, sóteve a acrescentar coisas boas. Hoje ele chega e já quer vir para os fundos pega os brinquedoscomo se fossem dele, conhece todos e cuida com carinho isto lhe trouxe muitos benefíciosmentais, físicos, afetivos e sociais.Sujeito 4 “Quando falo que venho na Neuromuscular o meu filho que vir comigo porcausa das tias e das brincadeiras para mim foi uma mudança de atitude tremenda.”Na confecção dos saquinhos das Cinco Marias os participantes trocavam experiênciasde vida recordando <strong>sua</strong>s infâncias muitas lembravam do tempo em que faziam roupas para94<strong>Revista</strong> Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006.


<strong>sua</strong>s bonecas sendo que algumas se tornaram costureiras lembrando com saudade do tempoque que as mãos obedeciam melhor (antes dos primeiros sintomas de ELA), pois aquelas emque não podiam mais costurar ajudavam cortar o encher o saquinho com grão de feijão.Conclusão: O trabalho atingiu <strong>sua</strong>s metas, pois apesar da limitação dos monitores em lidarcom estas patologias houve o auxilio dos diversos profissionais que atuam <strong>no</strong> setor unsatuando na manutenção da saúde (condicionamento físico), minimizando o estresse,recuperando psicossomaticamente o ser e promovendo os desenvolvimentos educacionais,sociais, morais e afetivos, conquistando assim o bem estar e integrando os pacientes nas fasesdo tratamento, a vida <strong>no</strong>rmal e ao seu antigo cotidia<strong>no</strong>, que certamente sofreu algumasmodificações após o agravamento da <strong>sua</strong> doença. Os monitores geralmente, atuam em equipecom médicos, fisioterapeutas, nutricionistas, assistente social e demais profissional dosserviços do setor. Com o presente estudo constatou-se a necessidade da formulação de umprograma de atividades lúdicas recreativas, para que haja uma modificação na rotina dosindivíduos de todos <strong>no</strong>s ambulatórios, mesmo não existindo um local específico para isto,utilizando as áreas abertas e salas que estas instituições possuem.95Projeto TutorAbreu Filho AG¹, Steiner ALF², Quadros AAJ³, Silva HCA³, Tardivo LC 41- UNIFESP - Laboratório APOIAR-USP, 2- Laboratório APOIAR-USP, 3- ABRELA – UNIFESP, 4-Instituto de Psicologia-USP.O projeto Tutor teve seu início a partir da parceria estabelecida em 2002, entre aAssociação <strong>Brasil</strong>eira de <strong>Esclerose</strong> <strong>Lateral</strong> Amiotrófica (ABRELA), presidido atualmentepelo fisioterapeuta Abrahão Quadros e o Laboratório de Saúde Mental e Psicologia ClínicaSocial – <strong>no</strong> Projeto APOIAR do Departamento de Psicologia Clínica, do Instituto dePsicologia da Universidade de São Paulo (IPUSP), sob a coordenação da Profa. Livre DocenteLeila Salomão de La Plata Cury Tardivo.Esta parceria surgiu em decorrência da preocupação que se tem com o sofrimentopsíquico gerado pela doença tanto para os pacientes como para os cuidadores, familiares eprofissionais que lidam com a ELA. Tem como base a busca de intervenções amplas , alémdas intervenções ligadas à saúde física propriamente, que possam dar conta deste sofrimento atodos que lidam diretamente ou não com a doença.<strong>Revista</strong> Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006.


Tardivo (2004) desenvolveu a idéia que em Psicologia Clínica, as atividades depesquisa e intervenção estão sempre integradas, pois têm como finalidade atender a grandedemanda de atenção psicológica gerada pelo sofrimento huma<strong>no</strong> causado pelas condições davida contemporânea.Portanto <strong>no</strong>ssa parceria e os serviços daí decorrentes buscam integrar ensi<strong>no</strong>, pesquisae prática clínica, oferecendo estágio supervisionado a alu<strong>no</strong>s de graduação, pós-graduação ecolaboradores, proporcionando campo de investigação clínica para trabalho acadêmico depós-graduados e para articulações teóricas de docentes e pesquisadores. (Tardivo, 2003).A fundamentação teórica dos projetos do APOIAR, se baseia em teoriaspsicodinâmicas, em especial, com inspiração winnicottiana, visando compreendermanifestações do sofrimento huma<strong>no</strong>, como essas, e partir daí, a busca de enquadresdiferenciados para atender às distintas demandas (Winnicott, 1984).Os atendimentos são pensados como encontros inter-huma<strong>no</strong>s, onde é possívelacontecer o acolhimento e a sustentação necessários à retomada do amadurecimento pessoalem um ambiente huma<strong>no</strong> suficientemente bom, que favoreça a valorização do viver.(Tardivo,2003).O projeto TUTOR , fruto da parceria ABRELA e APOIAR já atendeu em tor<strong>no</strong> de dezpacientes com a participação de quase trinta alu<strong>no</strong>s de Psicologia da Universidade de SãoPaulo e de Enfermagem da UniFMU - Faculdades Metropolitanas Unidas - <strong>no</strong> decorrer doprocesso, desde 2003.Atualmente contamos com alu<strong>no</strong>s de ambos os curso de graduação em Psicologia,Enfermagem, bem como pós-graduandos e colaboradores que estão subdivididos em trêsníveis: Tutor nível 1, 2 e 3.O Tutor nível 1 é composto por alu<strong>no</strong>s e colaboradores que estão ingressando <strong>no</strong>Projeto; passam por um curso de extensão de<strong>no</strong>minado Curso de Tutores da ABRELA,recebendo informações através de aulas com a equipe multiprofissional, envolvendoneurologistas, fisioterapeutas, fo<strong>no</strong>audiólogos, nutricionistas, assistentes sociais, psicólogos,advogados, etc, objetivando um conhecimento da doença, bem como da atuação dosprofissionais envolvidos na equipe. Após essa aula, assinam um Termo de ConsentimentoLivre e Esclarecido, submetem-se à aplicação de alguns instrumentos psicológicos antes eapós o contato com os pacientes, com o propósito de se ver se houve, ou não, mudanças tanto96<strong>Revista</strong> Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006.


na visão de como concebiam tal doença, como da postura frente a esses pacientes.Semanalmente, durante seis meses, os alu<strong>no</strong>s vão em duplas à casa dos pacientes, ficandosessenta minutos com os mesmos, atendendo as demandas feitas pelos próprios pacientes,como, por exemplo, ler um livro, jornal, assistir a um filme, dar uma volta na rua se aindaestiverem em condições de andar, sem qualquer tipo de interferência, apenas acolhem asdemandas feitas pelos pacientes. Recebem supervisão dos responsáveis pelo Projeto, dosatendimentos semanalmente feitos em grupo, para que se possa discutir como foram osatendimentos, entender as posturas dos pacientes, bem como as <strong>sua</strong>s próprias.Depois de seis meses, caso o paciente demonstre interesse em continuar sendoatendido, a dupla de estudantes prontifica-se a dar continuidade por mais seis meses às visitasdomiciliares, agora podendo acontecer pequenas intervenções mediante as demandas dospacientes, <strong>no</strong> sentido de convidá-los a pensar o que os levou a propor determinada atividade,ou coisas que tais, sempre tendo em vista a questão do apoio, procedimentos que constitui oProjeto Tutor de nível 2.O Tutor nível 3, após ter vivenciado os dois níveis anteriores, sempre com supervisãodos atendimentos, continuam participando dos encontros semanais de supervisão e apósanálise de como desempenharam <strong>sua</strong>s funções de tutores durante os períodos de atendimentoscom os pacientes, terão a oportunidade agora de auxiliar na formação de <strong>no</strong>vos tutores, ouseja, daqueles estudantes e colaboradores que ingressarem <strong>no</strong> projeto para percorram ocaminho dos tutores níveis 1 e 2, havendo com isso multiplicação desta função.Enfim este projeto tem se desenvolvido de modo bastante dinâmico pois tem semprecomo base a qualidade e o amadurecimento .Até o presente momento, podemos observar o amadurecimento profissional crescentepor parte dos alu<strong>no</strong>s, assim como a mudança do olhar e a da escuta. Estas mudanças foramobservadas <strong>no</strong> decorrer do processo através das discussões clínicas feitas semanalmente e doscontatos com os pacientes e seus cuidadores que colocam o quanto é importante este trabalho.97<strong>Revista</strong> Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006.


Medicina Tradicional Chinesa (MTC) – ATIVIDADES EM SALA DEESPERA: PROJETO VERDE VIDA SAÚDE/ UNIFESP – EPMAbe GCNeuropediatra, Acupunturista, Assistente do curso de pós-graduação em MTC do HSPM, e Faculdade deMedicina de Jundiaí. Responsável pelo ambulatório de MTC <strong>no</strong> setor de doenças neuromusculares da UNIFESP-EPM.Conceitos básicos. A Medicina Tradicional Chinesa (MTC) tem seus primeiros registrosdatados de 5000 a.C. São livros antigos, com informações codificadas, muitas vezes em formade poesia, música, imagens. São conceitos diferentes que implicam numa mudança do estilode vida, onde se ressalta como papel fundamental a prevenção. Para isso é essencial a difusãode informações, fazendo-se necessário um constante “movimento” em relação aos hábitos ecostumes. A abordagem de cada paciente é global, envolvendo corpo, mente, espírito, eambiente.Filosofia. Baseada <strong>no</strong> budismo, taoísmo, e confucionismo, que são os pilares filosóficos daMTC. As doenças são apenas caminhos onde o objetivo é a TRANSFORMAÇÃO PESSOAL.Atualmente existe ênfase em pesquisas ligadas ao mecanismo de ação da acupuntura,meditação e práticas físicas. A modernização de equipamentos utilizados em diagnósticopermitiu o entendimento parcial das técnicas, o que possibilitou a inclusão da acupunturacomo especialidade médica em 1999. Desde então, muitos métodos foram desenvolvidos <strong>no</strong>ocidente, e incorporados às técnicas antigas, devido à i<strong>no</strong>vação tec<strong>no</strong>lógica.A associação com a medicina ocidental é vista como sendo o ideal, possibilitando que osprofissionais tenham uma visão mais abrangente, e com maior número de ferramentas visandoa saúde integral do indivíduo.Mecanismo Neuroimu<strong>no</strong>humoral. Atualmente a ação da acupuntura é explicada pormecanismo neuroimu<strong>no</strong>humoral. As demais técnicas da MTC possivelmente atuam da mesmaforma, mas ainda estão em estudo.Estruturação Particular. O homem é visto tendo três componentes básicos: Energia ( Chi);Matéria (Jin); Mente (Shen). A terapêutica pode ser feita através da atuação em qualquer umdeles, isoladamente ou em associação. As técnicas da MTC são: acupuntura, dietoterapia,fitoterapia, meditação, exercícios físicos, e toque, sendo que as três últimas (grifadas) são asutilizadas na sala de espera.98<strong>Revista</strong> Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006.


Fisiopatologia. Alterações da fisiologia podem ter causas internas, externas e“mistas”(<strong>no</strong>menclatura utilizada pelas escolas de MTC <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>).Causas internas são emoções: raiva, mágoa, tristeza, preocupação, alegria.Causas externas são fatores climáticos, variações de temperatura, vírus, e bactérias.Causas “mistas”são traumatismos, picaduras, envenenamento, alimentação.Cada indivíduo apresenta uma predisposição peculiar, seja por fatores familiares,temperamento, ambiente, astrológicos, espirituais, etc.Nada é definitivo ou impossível.A DOENÇA significa que MUDANÇAS SÃO NECESSÁRIAS. Como ela é encarada comoum processo, não como fato isolado, é essencial que o indivíduo modifique alguns hábitos ecostumes que possam ter contribuído para o adoecimento.IMPORTANTE: a associação de técnicas é vista como benéfica porque o tratamento não deveser isolado. Ele deve ser incorporado em vários aspectos da vida cotidiana para que <strong>no</strong>vasrotas físicas e mentais sejam formadas para romper o processo de adoecimento.Aplicação de técnicas da MTC na sala de esperaA atividade desenvolvida na sala de espera foi resultado de um processo, que incluiu apreparação de alu<strong>no</strong>s através de cursos de extensão e especialização. Esses cursos tiveraminício em 2004, e passaram pelas seguintes fases:❧ adaptação dos profissionais e alu<strong>no</strong>s: todos eram de áreas profissionais diferentes, etraziam conhecimentos diversos para serem adaptados à sala de espera.❧ adaptadação ao público alvo, e à sala de espera. Os profissionais envolvidos nãotinham experiência com atuação nesse ambiente, principalmente levando emconsideração o setor, que atende doenças muito especificas, e com necessidadespeculiares.❧ as práticas foram escolhidas de acordo com tipo de doença. Dentro da MTC existeuma grande variedade de técnicas, com finalidades especificas. Foi levado emconsideração: o tipo de dificuldade física, o tipo de doença, praticidade, e facilidade deexecução.❧ as técnicas possibilitam a inclusão do cuidador nas atividadesA participação é opcional, sendo feito um CONVITE aos pacientes e cuidadores.A prática é realizada <strong>no</strong> ambulatório de MTC.99<strong>Revista</strong> Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006.


Dificuldades. Tempo – nem sempre o tempo de espera é suficiente. Por isso enfatizamosatividades mais rápidas. Conscientização dos pacientes e cuidadores – a “prática consciente”deve ser estimulada, baseada <strong>no</strong> princípio zen do autoconhecimento, e do aqui e agora. É abase do pensamento corpo, mente, espírito integrados. A prática deve ser regular. Atividadesesporádicas propiciam bem estar, mas o efeito é fugaz.100Atividades desenvolvidas:4. Meditação❧ Aplicada em grupos que aguardavam a aplicação de acupuntura e seus cuidadores❧ Benefícios comprovados pela medicina, mas NÃO ESPECIFICAMENTE PARA ELA❧ Sem contra indicações.❧ Fácil execução. Pode ser feita em posição sentada, deitada, de pé (andando)❧ Várias técnicas são utilizadas. No setor optamos pelo “Sorriso inter<strong>no</strong>”5. Toque❧ Feita com uma leve pressão com intuito de circular energia estagnada, semcomprometer a musculatura.❧ Objetivo: estimular circulação geral❧ Propicia uma sensação de bem estar6. Chi Kung:❧ Nomenclatura usada para exercícios executados em sincronia com respiração❧ Movimentos específicos, mas podem ser adaptados. Na China existem mais de 2 miltipos para diversas finalidades❧ Objetivo: aumento energético, equilíbrio❧ Estudos científicos em andamento❧ Fácil execução, mas requer trei<strong>no</strong> regular. Assim como a meditação, não funciona sefeito esporadicamente❧ Pode ser executado por pacientes e cuidadores.Objetivo das atividades: MELHORIA DA QUALIDADE DE VIDA<strong>Revista</strong> Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006.


101Concluindo 2 a<strong>no</strong>s de trabalho, pudemos chegar às seguintes conclusões e reflexões:❧ Os métodos oferecem ferramentas para que as pessoas passem a cuidar de si próprias.❧ Embora não validada pela ciência moderna (com exceção da acupuntura), a MTC éconsagrada há milhares de a<strong>no</strong>s através das práticas difundidas entre a população dospaíses asiáticos, mais especificamente a CHINA. Observamos que a incidência deELA na China é 0,3/ 100.000 habitantes. Em relação a outros países, é uma incidênciamuito baixa. O Japão, <strong>Brasil</strong> e Estados Unidos da América apresentam a incidência,respectivamente, de 2,5; 1,5; e 1,9/100.000 habitantes. Se os dados divulgados pelaChina estiverem corretos, podemos pensar que algum fator da região os diferencia dorestante do mundo, sendo necessário conhecer, entender, e praticar.❧ Os métodos são simples, rápidos e gratuitos.❧ Pode ser feito por pacientes e cuidadores.Exercício de baixa intensidade na água em pacientes com DNM/ <strong>Esclerose</strong><strong>Lateral</strong> Amiotrófica (ELA)Quadros AAJ, Durán MA, Berto MC, Labronice RHDD, Oliveira ASB, Gabbai AA.Universidade Federal de São Paulo / Escola Paulista de Medicina – UNIFESP/ EPM. Departamento deNeurologia e Neurocirurgia – Setor de Doenças NeuromuscularesIntrodução: A Escçerose <strong>Lateral</strong> Amiotrófica (ELA) é uma doença do neurônio motorcaracterizada por fraqueza muscular progressiva, atrofia e espasticidade, causada peladegeneração do neurônio motor na medula espinha, <strong>no</strong> tronco cerebral e córtex motor. Se aatividade física aumenta os riscos ou promove a progressão da degeneração do neurôniomotor na ELA ainda é debatido. Entretanto, estudos mostram que um programa de exercíciofísico regular tem um peque<strong>no</strong> efeito positivo na deficiência dos pacientes de ELA e pode serrecomendado. A hidroterapia é reconhecida como um bom recurso da fisioterapia para serusado <strong>no</strong> tratamento de muitas das doenças neuromusculares, pelos efeitos físicos eterapêuticos da água aquecida como, a diminuição da força da gravidade permite me<strong>no</strong>rdescarga axial nas articulações, promove liberdade de movimento, relaxa e aquece amusculatura.<strong>Revista</strong> Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006.


Objetivos: Verificar, os efeitos gerais do exercício de baixa intensidade na água aquecida empacientes com ELA.Método: Foram incluídos pacientes atendidos <strong>no</strong> setor de doenças neuromusculares daUNIFESP/EPM, com diagnóstico de ELA provável ou definitiva de acordo com El Escorial.Foi realizado um estudo piloto com tratamento prospectivo em piscina terapêutica em seispacientes, num período de dez meses, com sessões de 40 minutos duas vezes por semana. Oprograma era realizado em três etapas: aquecimento, treinamento e relaxamento. Osexercícios envolvendo os grandes grupos musculares dos quatro membros e tronco, foramministrados e assistidos individualmente por fisioterapeutas. Os instrumentos de avaliaçãoutilizados foram: teste de força muscular manual (MMT), escala de funcionalidade (ALSFRS), escala vi<strong>sua</strong>l analógica de dor (EVA-dor), escala de severidade de fadiga (FSS),questionário de qualidade de vida (ALSQoL40), pressão inspiratória máxima (PImax),pressão expiratória máxima (PEmax) e capacidade vital forçada (CVF).Resultados: Os dados demográficos dos pacientes são mostrados na tabela 1. E os resultadosdas escalas são mostrados na figura 01. O tempo de treinamento foi de dez meses comaderência de 75%, não foram vistos efeitos negativos. Três pacientes tiveram dificuldade pararealizar a avaliação pulmonar pela incapacidade da oclusão labial. A função pulmonarmostraram PImax (-42, -60, -66), PEmax (54, 48, 36 cmH 2 O) e CVF (2.2, 2.74, 3.84 L).102Tabela 1 – Dados demográficos dos pacientesGrupo de Tratamento (n = 06)Sexo 03 homens (50%)RaçaBranco 04 (66%)Negro 01 (17%)Amarelo 01 (17%)IdadeMédia de idade do início da doença (a<strong>no</strong>s) 45 – 67 (58.5 ± 7.9)Tempo de doença (a<strong>no</strong>s) 48 – 66 (57.0 ± 7.5)Início bulbar 02 (33%)<strong>Revista</strong> Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006.


SCORE3530252015FIGURE - 01FRSFATIGUEPAIN10310501 2 3 4EVALUATIONSCORE25201510FIGURE - 02ADLMobilityPsychFeeding501 2 3 4EVALUATIONConclusão: Um programa de exercício de baixa intensidade na água aquecida tem umimpacto positivo na qualidade de vida do indivíduo com ELA. Todos pacientes com CVF de1.51L, sem sinais clínicos de dispnéia podem ser submetidos a hidroterapia. O programa foibem tolerado, (nem um efeito adverso foi observado) e pode ser recomendado para serrealizado em grupo de pacientes.Agradecimentos:ABRELA – Associação <strong>Brasil</strong>eira de <strong>Esclerose</strong> <strong>Lateral</strong> AmiotróficaCNPq – Conselho Nacional Científico e Tec<strong>no</strong>lógico<strong>Revista</strong> Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006.


104Laboratório Sa<strong>no</strong>fi Aventis LTDACEMAFE – Centro de Medicina da Atividade Física e do EsportePerfil nutricional de pacientes com Doença do Neurônio Motor / <strong>Esclerose</strong><strong>Lateral</strong> AmiotróficaStanich P, Dinalli B, Chiappetta ALML, Yahashi MCB, Oliveira ASB, Gabbai AA.Universidade Federal de São Paulo / Escola Paulista de Medicina – UNIFESP/ EPM. Departamento deNeurologia e Neurocirurgia – Setor de Doenças NeuromuscularesIntrodução: A <strong>Esclerose</strong> <strong>Lateral</strong> Amiotrófica (E.L.A.) é uma doença degenerativa do sistemanervoso que afeta a motricidade de forma generalizada, irreversível e progressiva. Dentre oscomprometimentos, destaca-se a disfagia, que induz diminuição de massa corporal,desidratação e desnutrição. Associada à diminuição da ingestão alimentar , observa-seaumento da taxa de metabolismo basal e das necessidades nutricionais, que determinamperda ponderal <strong>no</strong>s indivíduos com E.L.A . Reconhecer o perfil nutricional e intervirprecocemente pode ser um diferencial <strong>no</strong> tratamento .Objetivo: O objetivo deste estudo consistiu em descrever o perfil nutricional dos pacientes eas mudanças alimentares que ocorrem durante o curso da doença.Métodos: Foram estudados 20 pacientes com diagnóstico de E.L.A., <strong>no</strong>s meses de Maio eJunho de 2003 , que faziam acompanhamento multiprofissional periodicamente ,sobprotocolo rígido, incluindo-se esquema terapêutico pré-estabelecido. Para avaliaçãonutricional foi utilizado o índice de massa corpórea (IMC) associado`a avaliação nutricionalsubjetiva global (ANSG), proposta por DETSKY,1984. Para análise da ingestão alimentar, foiutilizado o recordatório de 24horas e a frequência de alimentos, comparados com a pirâmidealimentar proposta por PHILIPPI em 1999, sendo os cálculos efetuados através de programaespecífico.Resultados: A faixa etária estudada variou de 36 a 70 a<strong>no</strong>s, com mediana de idade de 49,9a<strong>no</strong>s, sendo 12 indivíduos do sexo masculi<strong>no</strong> e 8 do sexo femini<strong>no</strong>.<strong>Revista</strong> Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006.


105Gráfico 1 – IMC262524Resposta23222120190 2 4 6TempoGráfico 2 – Relação massa magra/gorda765Resposta432100 2 4 6Tempo<strong>Revista</strong> Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006.


106Gráfico 3 – Ingestão Caloria76Resposta5432100 2 4 6TempoGráfico 4 – Ingestão Proteina140120Resposta1008060402000 2 4 6TempoConclusões: Observamos aumento espontâneo na ingestão de calorias e proteinas em 80% doscasos Manutenção da relação massa magra/gorda A depleção do estado nutricional evoluiu mais rapidamente <strong>no</strong>s indivíduos comParalisia Bulbar Progressiva (P.B.P.)<strong>Revista</strong> Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006.


O suplemento alimentar foi o veículo utilizado para melhor aceitação das orientaçõesmultiprofissionais.107Associação <strong>Brasil</strong>eira de <strong>Esclerose</strong> <strong>Lateral</strong> Amiotrófica (ABRELA): Relatodo Serviço SocialFernandes E, Macario MF, Quadros AJQ, Silva HCA, Oliveira ASB.ABrELA – Associação <strong>Brasil</strong>eira de <strong>Esclerose</strong> <strong>Lateral</strong> AmiotróficaA ABRELA – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ESCLEROSE LATERALAMIOTRÓFICA, foi fundada em 28.06.99, por médicos interessados na doença e seutratamento, tendo em vista a dificuldade do paciente e família para o enfrentamento dadoença.É uma organização sem fins lucrativos, que tem como objetivo principal a conscientização dasociedade sobre a importância e a emergência da doença <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. Tem como Missão: “Promover uma melhor qualidade de vida aos portadores de esclerose lateral amiotrófica,através da informação, orientação e apoio social ao paciente e familiar, bem como divulgarinformações à sociedade e aos profissionais interessados na doença e seu tratamento.”O Serviço Social iniciou seu trabalho na ABRELA em março de 2000, implantando esistematizando o atendimento social, bem como a captação de recursos e formação de bancode dados de recursos da comunidade.Realizou também, aliança com o Serviço Social do Hospital São Paulo/UNIFESP/EPM,facilitando assim, o acesso à rede de recursos da comunidade UNIFESP aos pacientes e atroca de informações com os profissionais da rede.O que é ELA? A esclerose lateral amiotrófica (ELA) é uma doença degenerativa do neurôniomotor que provoca fraqueza e atrofia muscular progressiva, levando o paciente à morte emmédia após 3 a<strong>no</strong>s do diagnóstico, por falência respiratória.Objetivo do Serviço Social: Executar ações que promovam a concretização da missão institucional. Atender paciente e familiar, bem como profissionais da saúde, por meio de orientação,informação e apoio social.<strong>Revista</strong> Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006.


O que o Serviço Social da ABRELA tem feito? Coordenação da Associação; Reuniões Bimestrais para orientação e informação a pacientes, familiares, cuidadores,profissionais e pessoas interessadas; Pesquisa qualitativa junto ao público alvo; Participação em congressos de neurologia nacionais e internacionais, feiras dereabilitação e outros eventos para divulgação do trabalho e sensibilização da sociedade; Participação em congressos, simpósios e cursos de Serviço Social, Cuidados Paliativos e3º Setor; Levantamento das necessidades do paciente e família, para auxiliá-los na busca derecursos de apoio e atendimento tais como: (psicólogos, fisioterapeutas, locais pararealização de exames), incluindo equipamentos de apoio (cadeiras de rodas e de banho,andadores, respiradores, órteses, fraldas descartáveis,etc.) entre outros materiais por elesutilizados, Atendimento em parceria com a equipe multiprofissional da UNIFESP/EPM.; Visitas domiciliares, em conjunto com equipe ou isoladamente; Orientação e informação ao paciente e família sobre a doença e tratamento, por meio dematerial informativo, telefone, pessoalmente, por carta ou e-mail. Doações e empréstimos de materiais e equipamentos necessários à sobrevida do paciente eauxílio à família; Coordenação de voluntariado para captação de recursos para a ABRELA e pacientes, pormeio de eventos: bazares, exposições de artes, chás, jantares e outros. Parcerias com outras instituições, tais como: farmácia de manipulação, universidades eempresas;108<strong>Revista</strong> Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006.


109Resultados:Atendimentos Período:2000 – 2001 – 2002 - 20032000 2001 2002 2003 TOT.Pacientes 088 215 230 490 1023Familiares 324 915 905 1612 3756ProfissionaisOutras Pessoas(amigos, interessados)126 179 375 1280 196047 080 085 174 386TOTAL 585 1389 1595 3556 7125EVENTOS REALIZADOS2000 2001 2002 2003Reunião Informativa 06 06 04 03Festa de Confraternização -- -- 02 02Captação de Recursos 01 05 06 01Simpósio -- -- -- 02Feira 3º Setor -- 01 02 01Parcerias efetivadas: UNIFESP/EPM – uso do espaço para sede da ABRELA, <strong>no</strong> ambulatório deneuromuscular; PRÓ FÓRMULA - farmácia de manipulação para doação de medicamentos; USP – Universidade de São Paulo/Projeto Apoiar : atendimento psicológico <strong>no</strong> domicílio; FMU – atendimento de enfermagem <strong>no</strong> domicílio.Conquistas sociais:- Portaria nº 141 - regulamentando a distribuição gratuita do Riluzol/Rilutek – jul/2002Custo: R$ 1.100,00;- Acordo com Secretaria de Saúde de São Paulo – 2003 – para fornecimento gratuito doBIPAP – respirador (Ventilação Mecânica Não Invasiva) – Custo: R$ 18.000,00;<strong>Revista</strong> Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006.


<strong>Esclerose</strong> <strong>Lateral</strong> Amiotrófica (ELA): o uso da entrevista aberta e do TATnum enquadre de consulta terapeutica na avaliação do impacto psicológicodas possíveis perdas das funções motoras através do estudo de casoAbreu Filho AG 1 , Steiner AL 1 , Quadros A 2 , Silva HCA 2 , Tardivo LC 31.Laboratório Apoiar – USP. 2. ABRELA - Associação <strong>Brasil</strong>eira de <strong>Esclerose</strong> <strong>Lateral</strong>Amiotrófica. 3. Psicóloga - Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP).Apresentação: A partir da parceria entre o Projeto Apoiar do Laboratório de Saúde Mental ePsicologia Clínica Social do Departamento de Psicologia Clínica do Instituto de Psicologia daUniversidade de São Paulo e ABRELA - Associação <strong>Brasil</strong>eira de <strong>Esclerose</strong> <strong>Lateral</strong>Amiotrófica, está sendo desenvolvido um amplo projeto com pacientes acometidos por ELA eseus familiares, num enfoque interdisciplinar.Introdução: A <strong>Esclerose</strong> <strong>Lateral</strong> Amiotrófica (ELA) é definida como sendo uma doençaprogressiva e degenerativa. Caracteriza-se pela degeneração progressiva dos neurôniosmotores do cérebro e da medula espinhal, não havendo até o presente momento prognósticode cura. A partir deste contexto, foi realizado Estudo de Caso de um paciente portador deELA através da aplicação do TAT, teste projetivo, de forma interventiva, seguindo umembasamento de consultas terapêuticas (Winnicott, 1984), com enfoque psicanalítico. O TATfoi empregado como uma proposta de se realizar um Psicodiagnóstico Compreensivo (Trinca,1984) e ao mesmo tempo como instrumento de intervenção clínica <strong>no</strong> momento da aplicação,sendo assim possível compreender a vivência da evolução da doença ELA, especificamentedas repercussões das perdas gradativas das funções motoras e das possíveis repercussõespsicológicas, afetivas e emocionais, e ao mesmo tempo fornecer um ambiente de escuta econtinência para essa dor.Objetivo: Entrar em contato com a percepção que o paciente portador de ELA tem de simesmo, da evolução do processo da <strong>sua</strong> doença e de como esta é percebida e vivenciada, e aomesmo tempo intervir, acolhendo o sofrimento decorrente de toda a experiência.Método: Clínico – estudo de caso, com instrumentos: entrevista aberta e aplicação do TAT.Resultados: Os resultados finais apontaram para mecanismos de negação e cisão bemacentuados, além de nível elevado de angústia.No contexto de consulta terapêutica observamos que houve um holding adequado quepermitiu que o paciente entrasse em contato com seu sofrimento e vivenciasse a relaçãoterapêutica como algo possível de sustentar e expressar seu sofrimento psíquico. Esses dados110<strong>Revista</strong> Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006.


foram sendo devolvidos à medida que ocorria a entrevista e a aplicação das pranchas. Notouseum alívio e uma sensação de ser compreendido em <strong>sua</strong> dor, ao mesmo tempo em que aindalhe sobram recursos.Conclusões: Por meio desse trabalho pode-se constatar que a partir da enfermidade (ELA) opaciente pôde trazer outros elementos de <strong>sua</strong> vida, sendo, nesse caso, a doença, umapossibilidade de se iniciar esse contato e esse acesso.No decorrer tanto da entrevista, quanto da aplicação do TAT, mais do que a doença, apareceuo ser huma<strong>no</strong> com <strong>sua</strong> história de vida, refletindo <strong>sua</strong>s fragilidades e conseqüentes defesasempregadas de seu funcionamento psíquico. Mais uma vez se constata a necessidade dotrabalho interdisciplinar, cabendo ao psicólogo na equipe o olhar para a sustentação para osofrimento psíquico. Mais ainda se evidencia a existência e a presença do ser huma<strong>no</strong> comtodas as <strong>sua</strong>s condições que, mesmo enfrentando uma patologia fatal, não se reduz a ela.Palavras Chaves: <strong>Esclerose</strong> <strong>Lateral</strong> Amiotrófica; Sofrimento Huma<strong>no</strong>, TAT, Mecanismos deDefesa, Funções Motoras.111ANÁLISE DO TEMPO DE PERDA DE MARCHA EM PACIENTESCOM ESCLEROSE LATERAL AMIOTRÓFICAConceição ECG, Durán MA, Silva TM, Chaves ACX, Cunha MCB, Labronici RHDD,Oliveira ASB.Setor de Doenças Neuromusculares da Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista deMedicina UNIFESP/EPMIntrodução: A <strong>Esclerose</strong> <strong>Lateral</strong> Amiotrófica (ELA) caracteriza-se por uma doençaneurodegenerativa com acometimento dos neurônios motores inferior (NMI) e superior(NMS), que causa alterações motoras graves levando a níveis progressivos de incapacidadefuncional, incluindo a perda de marcha.Objetivo: Realizar uma análise do tempo de progressão de perda da marcha em pacientescom ELA definida, com comprometimento bulbar e apendicular.Casuística e Método : Foram acompanhados durante 03 a<strong>no</strong>s, 54 pacientes, sendo 42 comdiagnóstico de ELA definida apendicular (28 homens e 14 mulheres), com idades entre 28 e83 a<strong>no</strong>s (média – 55.5 a<strong>no</strong>s), e 12 com diagnóstico de ELA bulbar (2 homens e 10 mulheres),com idades entre 53 e 75 a<strong>no</strong>s (média - 64 a<strong>no</strong>s), sem alterações na marcha na avaliação<strong>Revista</strong> Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006.


inicial. A avaliação foi realizada pela equipe da fisioterapia motora do Ambulatório de ELA,<strong>no</strong> Setor de Doenças Neuromusculares da UNIFESP/EPM. Na avaliação fisioterapêutica, foiaplicado somente o item H, referente à marcha, da escala de funcionalidade (Amyotrophic<strong>Lateral</strong> Sclerosis Functional Rating Scale - FRS). Foi analisado o tempo de início dasprimeiras adaptações, com uso de tor<strong>no</strong>zeleira anti-eqüi<strong>no</strong>, bengala, muleta e andador e aprogressão para perda total da marcha.Resultados: Foi verificado que o tempo médio após o diagnóstico, para o início do uso deadaptações foi de 15 meses, e o tempo para perda de marcha foi de 24 meses, com média de 9meses de progressão entre o uso de adaptações e a perda total da marcha (Gráficos 1, 2 e 3).Relacionado ao tempo de progressão do uso das primeiras adaptações foi verificado umamédia de 11 meses para mulheres e 14 meses para homens, progredindo para a perda damarcha com média de 11 meses para as mulheres e 8 meses para os homens (Gráfico 4). Nospacientes com acometimento bulbar foi verificado que 7 indivíduos não apresentaramalteração na marcha, 2 utilizaram algum tipo de adaptação e 3 progrediram para a perda damarcha (Gráfico 5).Conclusão: Foi verificado que o tempo médio de perda da marcha <strong>no</strong>s pacientes avaliados éde 24 meses, sendo que o tempo para a utilização das primeiras adaptações é mais rápido emmulheres do que em homens, porém, na progressão de perda da marcha, os homensapresentaram me<strong>no</strong>r tempo em relação as mulheres. Relacionado aos pacientes comacometimento bulbar, foi verificado que estes não apresentam um grau de severidade <strong>no</strong>comprometimento da marcha, comparados aos pacientes com acometimento apendicular.112ATIVIDADES RECREATIVAS COMO PROPOSTA DE UTILIZAÇÃODO TEMPO DE ESPERA EM CONSULTAS MÉDICAS UNIFESP / EPM/ HSPMacário MF 1 , Amaral NN 2 , Oliveira RG 3 , Moreira VC 4 , Alves ACL 3 , Barreto NA 3 ,Cervera F 2 , Fávero AA 5 , Federicci DCC 6 , Franco MF 3 , Gomes RK 2 , Gomes IS 3 ,Gonzaga RM 3 , Miranda TAO 3 , Mucciolo LS 2 , Silva ZL 7 , Vital CB 3 , Oliveira ASB,Gabbai AA.1. Assistente Social – ABRELA e Setor de Doenças Neuromuscular da UNIFESP / EPM / HSP. 2.Fisioterapeutas Motoras – Voluntários do Verde Vida Saúde. 3. Educadores Físicos – Voluntários do Verde VidaSaúde. 4. Psicóloga da ABRELA e Setor de Doenças Neuromuscular da UNIFESP / EPM / HSP. 5. Psicóloga –Voluntária do Verde Vida Saúde. 6. Terapeuta Ocupacional – Voluntária do Verde Vida Saúde. 7. Bióloga –Voluntária do Verde Vida Saúde.<strong>Revista</strong> Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006.


Introdução: Iniciado em Fevereiro de 2004, <strong>no</strong> Setor de Doenças Neuromusculares, umtrabalho i<strong>no</strong>vador de atividades recreativas para a utilização do tempo de espera dospacientes, cuidadores e familiares. O objetivo é proporcionar lazer, recreação e interaçãosocial. O trabalho é realizado por integrantes do projeto Verde Vida, composto porprofessores e alu<strong>no</strong>s do curso de especialização “Saúde Integrativa em Indivíduos comAfecções Músculo- Esquelética”. Os participantes são graduados em Biologia, EducaçãoFísica, Fisioterapia, Psicologia, Serviço Social e Terapia Ocupacional.Material e Método: População: Pacientes, de ambos os sexos e de todas as idades eacompanhantes. Instrumentos: Jogos recreativos, dinâmicas de grupos, desenhos, leitura deestórias infantis e revistas informativas e práticas corporais. Procedimentos: Osespecializandos, citados, formam grupos com média de 12 participantes, programamatividades mensalmente e atuam <strong>no</strong>s períodos da manhã e tarde, de segunda à sexta-feira, <strong>no</strong>Setor de Doenças Neuromusculares e às terças-feiras (tarde), <strong>no</strong> Setor de Ginecologia eObstetrícia (GO) da UNIFESP. Os integrantes de cada grupo revezam-se na atividade deabordagem da população alvo, detalhando a proposta do Projeto e oferecendo as diversasatividades do período, convidando-os a participarem e procedendo a execução das mesmas.Resultados: Entre Fevereiro e Junho de 2004, foram realizados 604 atendimentos, dos quais556 na Neuromuscular e 48 na GO. Houve considerável crescimento sendo o primeiro mês:39 atendimentos e <strong>no</strong> último mês: 153, motivando a Equipe do Verde Vida a entusiasmar-se,ainda mais, com a proposta que demonstra estar vencendo as primeiras barreiras procedentesdo próprio paciente/familiar que <strong>no</strong> contato inicial evidenciam medo de afastar-se do recintoambiental e perder a consulta agendada. Nossa atuação tem sido, para a população alvo, ummecanismo facilitador de recebimento de diagnósticos e orientações.Conclusão: 1- Aceitação do público alvo de atividades de lazer em “sala de espera”; 2-Diminuição de angústia e ansiedade para a consulta médica; 3-Facilitação para recebimentode orientações e diagnósticos, incluindo-se “bad-news”.113PROJETO VERDE VIDA: ATIVIDADES MULTIPROFISSIONAIS EMAMBULATÓRIOS DA UNIFESP / EPM / HSPMacário FM, Amaral NN, Oliveira RG, Moreira VC, Abe GC, Ramos PE, Costa MO,Oliveira ASB, Gabbai AA.<strong>Revista</strong> Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006.


Setor de Doenças Neuromusculares da Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de MedicinaUNIFESP/EPM114Introdução: O Projeto Verde Vida teve início em fevereiro de 2004, <strong>no</strong> Setor de DoençasNeuromusculares, estendendo-se ao Setor de Ginecologia e Obstetrícia da UNIFESP/EPM. Oobjetivo é formar indivíduos capacitados a realizar atividades em equipes multiprofissionaiscom o intuito de utilizar criativamente o tempo de pacientes e acompanhantes que aguardam aconsulta previamente agendada.Material e Método: População: alu<strong>no</strong>s graduados e graduandos (Biologia, Educação Física,Fisioterapia, Psicologia, Serviço Social e Terapia Ocupacional), supervisores e coordenadoresdo Projeto Verde Vida; de ambos os sexos; com idade entre 19 e 50 a<strong>no</strong>s; pacientes eacompanhantes que comparecem aos referidos setores. Instrumentos: jogos recreativos,relaxamento, leitura de histórias e revistas, desenhos, dinâmicas grupais e práticas corporais.Procedimento: 1. Tomando-se por base a visão integral do ser huma<strong>no</strong> é ministrado um cursode especialização e extensão “Saúde Integrativa em Indivíduos com Afecções Musculo-Esqueléticas”. 2. Os alu<strong>no</strong>s do curso dividem-se em grupos de até 12 participantes e realizama parte prática do Projeto Verde Vida desenvolvendo atividades com os pacientes eacompanhantes, de segunda à sexta-feira, <strong>no</strong>s períodos da manhã e tarde, <strong>no</strong>s referidossetores.<strong>Revista</strong> Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006.


115ATENDIMENTO AMBULATORIAL DO ANO DE 2004225210195180165150135120105907560453015039FEVEREIROMARÇO69ABRIL172MAIO171JUNHO153JULHO39AGOSTO214116SETEMBROResultados: 1. Entre fevereiro e junho de 2004, foram realizados em média 120,8atendimentos / mês atingindo um total de 604 atendimentos. 2. Formação de 5 equipes cadauma sob a supervisão de um profissional. 3. A média de 15 horas semanais de atenção aospacientes e acompanhantes. 4. Um total de 85 pessoas envolvidas entre professores e alu<strong>no</strong>s.5. Participação de professores e alu<strong>no</strong>s em 6 atividades extracurriculares, como simpósios,feiras, cursos e visitas à Estação Especial da Lapa.Conclusão: Formação e motivação do profissional de saúde para uma relação afetiva, lúdica,criativa, reflexiva e instrutiva com pacientes e acompanhantes <strong>no</strong> período de espera daconsulta. Valorização da saúde em detrimento da doença. Humanização das relações na áreada saúde.Análise dos Instrumentos de Avaliação da Qualidade de So<strong>no</strong> em pacientescom <strong>Esclerose</strong> <strong>Lateral</strong> Amiotrófica (ELA).Rezende MM, Ghezzi SR, Fontes SV, Fukujima MM, Carvalho LBC, Fávero FM,Oliveira ASB, Prado GF.Setor de Doenças Neuromusculares da Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de MedicinaUNIFESP/EPM<strong>Revista</strong> Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006.


Introdução: A esclerose lateral amiotrófica (ELA) é uma doença neurodegenerativa queleva a morte seletiva dos neurônios motores superiores (NMS) e neurônios motoresinferiores (NMI), promovendo fraqueza muscular progressiva. Em conseqüência a fraquezados músculos respiratórios pode ocorrer hipoventilação, principalmente durante o so<strong>no</strong>, quepode implicar em disfunções respiratórias nesta fase e conseqüentes distúrbios do so<strong>no</strong>. Aprivação do so<strong>no</strong> pode causar disfunções cognitivas, depressão, ansiedade e, portanto,alterações na qualidade de vida dos pacientes com ELA. O objetivo deste estudo foianalizar qual das escalas de so<strong>no</strong> Stanford Sleepiness Scale (SSS), Epworth SleepinessScale (ESS), Mini-Sleep Questionnaire (MSQ) possui maior correlação entre elas, e entreas escalas de psicológicas Beck Depression Inventory (BDI) e State-Trait AnxietyInventory (STAI I-II) quando aplicados a pacientes com ELA.Método: Foram avaliados 53 pacientes com ELA (39 homens e 14 mulheres), atendidos <strong>no</strong>ambulatório de Doenças Neuromusculares da Universidade Federal de São Paulo – EscolaPaulista de Medicina (UNIFESP-EPM), com média de 54,79 a<strong>no</strong>s. Todos foramsubmetidos a aplicação das escalas de so<strong>no</strong>: SSS, ESS, MSQ; e de avaliação psicológicaBDI e STAI I-II. Foram utilizados para a análise dos resultados o teste do quiquadrado,para as proporções das variáveis categóricas como sexo, história de distúrbio do so<strong>no</strong>, usode BIPAP, história de depressão, ELA familiar; teste de Mann-Whitney para as variáveisclassificadas como ordinais, SSS, STAI I domínio 8, STAI II domínio 6, STAI II domínio2, STAI II domínio 8; teste de Pearson para correlação entre pares de variáveis escalares eordinais. Para todos os testes considerou-se um p


117Tabela. Relação das correlações entre as escalas (valor de r).idadeMinimentalSSS ESS MSQ BDI STAI I STAIIIMinemental-0,452* -0,237 -0,282 -0,045 -0,14 0,071 -0,214ESS 0,119 -0,282* 0,431* 0,107 0,322* -0,195 -0,093MSQ 0,194 -0,045 0,374* 0,107 0,345* 0,001 0,323*BDI 0,294* -0,135 0,323* 0,322* 0,345* -0,19 0,15*STAI I-8 0,081 0,171 0,283* -0,107 -0,101 -0,06 0,383* -0,031STAI II 0,317* -0,214 0,232 -0,093 0,323* 0,15 0,101Conclusão: A SSS foi a escala de so<strong>no</strong> que apresentou melhor correlação com as demaisescalas de so<strong>no</strong> (ESS e MSQ). A escala de avaliação de depressão (BDI) apresentoucorrelação com todas as escalas de so<strong>no</strong>.Avaliação dos Distúrbios do So<strong>no</strong> em pacientes com <strong>Esclerose</strong> <strong>Lateral</strong>Amiotrófica (ELA).Rezende MM, Ghezzi SR, Fontes SV, Fukujima MM, Carvalho LBC, Fávero FM,Oliveira ASB, Prado GF.Setor de Doenças Neuromusculares da Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de MedicinaUNIFESP/EPMIntrodução: A esclerose lateral amiotrófica (ELA) é uma doença neurodegenerativa dosistema nervoso central que leva a morte seletiva dos neurônios motores superiores (NMS) eneurônios motores inferiores (NMI), promovendo comprometimento motor (fraquezamuscular progressiva), e não motor (prejuízo cognitivo). A fraqueza dos músculosrespiratórios leva a hipoventilação, principalmente durante o so<strong>no</strong>, que pode implicardisfunções respiratórias nesta fase. A privação do so<strong>no</strong> pode causar disfunções cognitivas ealterações na qualidade de vida dos pacientes com ELA. É importante considerar a depressãoe a ansiedade, pois, ambos podem ser fatores preditores de distúrbios do so<strong>no</strong>. O objetivodeste estudo foi avaliar se pacientes com ELA apresentam maior predisposição a distúrbiosdo so<strong>no</strong> do que indivíduos sem ELA.<strong>Revista</strong> Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006.


Método: Foram avaliados 53 pacientes com ELA (39 homens e 14 mulheres), atendidos <strong>no</strong>ambulatório de Doenças Neuromusculares da Universidade Federal de São Paulo – EscolaPaulista de Medicina (UNIFESP-EPM), com média de 54,79 a<strong>no</strong>s, e um grupo controle com27 indivíduos pareados em relação a idade e o sexo. Todos foram submetidos à aplicação dasescalas de so<strong>no</strong>: SSS, ESS, MSQ; e de avaliação psicológica BDI e STAI I-II. Foramutilizados para a análise dos resultados o teste do quiquadrado, para as proporções dasvariáveis categóricas como história de distúrbio do so<strong>no</strong>, uso de BIPAP, história dedepressão, ELA familiar; teste de Mann-Whitney para as variáveis classificadas comoordinais, SSS, STAI I domínio 8, STAI II domínio 6, STAI II domínio 2, STAI II domínio 8;T de Student para comparação das médias das variáveis escalares, idade, Mini-Mental, ESS,MSQ, BDI, STAI I, STAI II; teste de Pearson para correlação entre pares de variáveisescalares e ordinais <strong>no</strong> grupo de portadores de ELA. A homogeneidade dos grupos foianalisada pela comparação das médias das idades e das proporções dos sexos. Para todos ostestes considerou-se um p


depressão leva ao distúrbio do so<strong>no</strong>, necessitando de um estudo mais específico paraidentificá-los.119Relação entre degeneração do trato córtico-espinhal, através de RessonânciaMagnética, e Escala Funcional (ALSFRS) em pacientes com <strong>Esclerose</strong> <strong>Lateral</strong>Amiotrófica.Garcia LN, Silva AV, Carrete Jr. H, Fávero FM, Fontes SV, Moneiro MT, Oliveira ASBSetor de Doenças Neuromusculares da Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de MedicinaUNIFESP/EPMIntrodução: A <strong>Esclerose</strong> <strong>Lateral</strong> Amiotrófica (ELA) é uma doença neurodegenerativaprogressiva, associada à perda de neurônios motores do córtex cerebral, tronco encefálico emedula espinhal, afetando as fibras do trato córtico-espinhal (TCE). A escala funcional deavaliação em esclerose lateral amiotrófica (Amyotrophic <strong>Lateral</strong> Sclerosis Functional RatingScale - ALSFRS) quantifica e avalia as lesões motoras dos pacientes com ELA, funcionandocomo um indicativo prognóstico. A imagem de ressonância magnética (RM) por tensor dedifusão (diffusion tensor imaging - DTI) é atualmente o método mais sensível para avaliar aintegridade das fibras da substância branca. O grau de deterioração das fibras pode serquantificado pelo índice “fractional anisiotropy” (FA). O objetivo do presente estudo foideterminar se existe correlação entre a pontuação obtida através da ALSFRS e a degeneraçãodo TCE através da RM por DTI em diferentes regiões de interesse.Método: No presente estudo, pacientes com ELA definida foram avaliados pela ALSFRS eimediatamente submetidos à DTI. O diagnóstico de ELA foi definido segundo os critérios doEl Escorial (Brooks et al. 2000), sendo excluídos pacientes com ELA bulbar e pacientes comsintomas avançados. Os critérios de exclusão para a realização da RM foram: claustrofobia,desconforto respiratório grave, ventilação mecânica assistida diurna, marcapasso e prótesesmetálicas. O estudo foi realizado com sete pacientes (três mulheres e quatro homens), comidade média de 54,7 ± 11,1 a<strong>no</strong>s e duração média dos sintomas de 33,8 ± 23 meses. No dia darealização da ressonância magnética, cada um dos pacientes respondeu ao questionário defuncionalidade (ALSFRS), usado para avaliar o grau de gravidade da doença. Para a análiseda RM, as imagens dos pacientes (N=7) foram comparadas àquelas obtidas de indivíduossaudáveis (N=10), utilizando o teste t não pareado. A FA foi medida ao longo do tratocorticoespinhal de ambos os hemisférios cerebrais. Cinco regiões de interesse foram<strong>Revista</strong> Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006.


selecionadas do grupo de pacientes e de controles, a saber: braço posterior da cápsula interna(CI), parte média do pedúnculo cerebral (PC), substância branca subjacente à área motoraprimária (M1), substância branca subjacente à área motora secundária (M2) e substânciabranca subjacente à área somestésica (SI) de ambos os lados. Os resultados da RM e daALSFRS foram posteriormente comparados para verificar a possível relação entre osparâmetros adquiridos (Teste de Sperman).Resultados: Os pacientes apresentaram valores de FA significantemente me<strong>no</strong>res que oscontroles em todas as regiões, exceto na área motora secundária (M2), com uma maiordiferença nas áreas inferiores (pedúnculo cerebral e cápsula interna) e uma tendência a maiorredução <strong>no</strong> hemisfério direito (Tabela 1). Houve ainda redução estatisticamente significantede FA na área somestésica direita dos pacientes, quando comparados com os controles (p =0,009). Em relação à ALSFRS, os pacientes apresentaram valores variando de 8 a 28, compontuações me<strong>no</strong>res <strong>no</strong>s itens referentes à escrita, alimentação, mobilidade <strong>no</strong> leito e subirescadas. O tempo dos sintomas da doença varia de 13 a 84 meses. Observamos correlaçãoestatisticamente significante entre a ALSFRS e o FA nas regiões do pedúnculo cerebral ecápsula interna à esquerda. Observamos ainda uma tendência à correlação entre o tempo dossintomas e os valores de FA na área motora primária (Tabela 2).Conclusão: De um modo geral, <strong>no</strong>ssos resultados sugerem que a ALSFRS não guardarelação direta com o da<strong>no</strong> estrutural nas porções encefálicas do TCE. Além disso, o presentetrabalho reforça a hipótese da degeneração caudo-cefálica do TCE em pacientes com ELA eaponta, pela primeira vez, um possível envolvimento da área somestésica na fisiopatologiadessa doença.120<strong>Revista</strong> Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006.


121Tabela 1. Valores de FA de diferentes regiões em pacientes e controles.Pacientes Controles P XCPedúnculo cerebral D 0,65±0,05 0,76±0,04 p =0,001**E 0,67±0,05 0,74±0,04 p =0,01*DXE p =0,6 p =0,3Cápsula interna D 0,62±0,03 0,7±0,03 p =0,0002***E 0,6±0,05 0,69±0,03 p =0,007*DXE p =0,3 p =0,1Área motora secundária D 0,5±0,12 0,54±0,08 p =0,44E 0,49±0,07 0,55±0,08 p =0,13DXE p =0,8 p = 0,5Área motora primária D 0,49±0,07 0,58±0,06 p = 0,02*E 0,46±0,05 0,53±0,07 p = 0,04*DXE p = 0,5 p =0,01*Área Somestésica D 0,37±0,09 0,5±0,05 p = 0,009*E 0,44±0,07 0,49±0,1 p = 0,21DXE p =0,2 p =0,8Legenda: D: direito; E: esquerdo; P: pacientes; C: controles; (*): significante; (**) muito significante; (***)extremamente significante. Analise estatística: Pacientes X Controles: Teste t não pareado; Lado direito X Ladoesquerdo: Teste t pareado.Tabela 2. Correlação linear entre os parâmetros clínicos (ALSFRS score e tempo de sintomas)e os valores de FA em diferentes regiões de interesse.FA X ALSFRS score FA X Tempode sintomasPedúnculo cerebral D p =0,85 p = 0,1E p = 0,04* p = 0,9Cápsula interna D p = 0,57 p = 0,43E p = 0,02* p = 0,53Área motora secundária D p = 0,96 p = 0,53E p = 0,6 p = 0,41Área motora primária D p = 0,98 p = 0,052E p = 0,15 p = 0, 49Área Somestésica D p = 0,53 p = 0,78E p = 0,14 p = 0,64Legenda: D: direito; E: esquerdo; (*): significante; (**) muito significante; (***) extremamente significante.Analise estatística: Teste de Correlação Linear de Pearson.<strong>Revista</strong> Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006.


Proposta de um protocolo para avaliação fisioterapêutica neurofuncionaldo paciente com <strong>Esclerose</strong> <strong>Lateral</strong> AmiotróficaFávero FM, Dupont GAF, Aguiar IC, Fontes SV, Quadros AAJ, Castro I, Oliveira ASBUniversidade Federal do Estado de São Paulo – Escola Paulista de Medicina (Unifesp – EPM) – Depto. DeNeurologia/Neurocirurgia122Resumo: A <strong>Esclerose</strong> <strong>Lateral</strong> Amiotrófica (ELA) é uma doença neuromuscular degenerativacom acometimento do Sistema Nervoso Central e alterações motoras. Esta expressa por sinaisprogressivos e disseminados de neurônios motores superiores e inferiores. Manifesta-se cominicio de fraqueza muscular assimétrica, posteriormente problemas na deglutição, mastigação,fala e comprometimento da musculatura respiratória. Aliado as estes fatores há ainda oaspecto de alterações nutricionais, psicológicas e do so<strong>no</strong>. Mas, <strong>no</strong> entanto, a multiplicidadedas complicações que a doença apresenta, é necessário que seu acompanhamento se já feitopor uma equipe multidisciplinar.Objetivo: Proposta de um protocolo para uma avaliação neurofuncional do paciente com<strong>Esclerose</strong> <strong>Lateral</strong> Amiotrófica, para o Setor de Investigação em Doenças Neuromusculares naDisciplina de Neurologia Clínica, Departamento de Neurologia/Neurocirurgia daUniversidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina (UNIFESP/ EPM).Método: Foram utilizadas dez escalas adaptadas para o paciente com <strong>Esclerose</strong> <strong>Lateral</strong>Amiotrófica, englobando todos os aspectos das alterações nestes pacientes.Resultado: Foi elaborada uma proposta de um protocolo neurofuncional para o Setor deInvestigação em Doenças Neuromusculares na Disciplina de Neurologia Clínica,Departamento de Neurologia / Neurocirurgia da Universidade Federal de São Paulo – EscolaPaulista de Medicina (UNIFESP/ EPM).Conclusão: A elaboração deste protocolo tem como objetivo facilitar o processo avaliativo eobter informações que possa levar um diagnóstico precoce de <strong>Esclerose</strong> <strong>Lateral</strong> Amiotrófica.<strong>Revista</strong> Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006.


123NORMAS PARA PUBLICAÇÃOA <strong>Revista</strong> Neurociências é voltada à Neurologia e às ciênciasafins. Publica artigos de interesse científico e tec<strong>no</strong>lógico,realizados por profissionais dessas áreas, resultantes de estudosclínicos ou com ênfase em temas de cunho prático. São aceitosartigos em português, inglês e espanhol. Os artigos devem serinéditos e fica subentendido que serão publicadosexclusivamente nesta revista, com o que se comprome em seusautores. O Corpo Editorial da revista reserva-se o direito deavaliar, aceitar ou recusar artigos. Quando aceitos, sugerirmodificações para aprimorar seu conteúdo, se necessário,aperfeiçoar a estrutura, a redação e a clareza do texto. Parapublicação, será observada a ordem cro<strong>no</strong>lógica de aceitação dosartigos. Os artigos são de responsabilidade de seus autores.Submissão do artigo: os artigos devem ser encaminhados aoEditor Chefe em disquete mais três cópias do texto originaldigitado ou via e-mail e poderão ser utilizados editores de texto“Word”, alternativamente <strong>no</strong> formato “doc”. Adotar asrecomendações abaixo.Título: em português e em inglês ou espanhol e em inglês,sintético e restrito ao conteúdo, mas contendo informaçãosuficiente para catalogação. A <strong>Revista</strong> prefere títulosinformativos.Autor(es): referir <strong>no</strong>me(es) e sobre<strong>no</strong>me( s) do modo comopreferir para indexação, seu grau e posição. Referir a instituiçãoem que foi feita a pesquisa que deu origem ao artigo. Referir otítulo maior de cada autor ou grupo de autores, ex.: 1- Professoradjunto,2- Pós-graduando, 3- Residente. Identificar o autor eendereço para correspondência.Resumo e Summary Summary: devem permitir uma visãopa<strong>no</strong>râmica do trabalho, contendo objetivos, métodos, resultadose conclusões. Não exceder 200 palavras. Orientamos os autores aproduzirem resumos estruturados.Unitermos e Keywords: Máximo de 6 (seis), referir após oResumo e o Summary, respectivamente. Como guia, consultedescritores em ciências da saúde (http://decs.bireme.br).Texto: apresentar a matéria do artigo seqüencialmente:introdução, material (casuística) e método, resultados,comentários (discussão e conclusões), referências bibliográficas,eventualmente agradecimentos, suporte financeiro. Não repetir<strong>no</strong> texto dados que constem em tabelas e ilustrações.Quadros, Gráficos e Tabelas: até cinco, apresentadas empáginas separadas e <strong>no</strong> final do texto. Em cada uma, devemconstar seu número de ordem, título e legenda.Figuras: até duas ilustrações com tamanho não superior a 6 cmx 9 cm cada uma. Fotos em preto e branco bem contrastadas;eventuais detalhes com setas, números ou letras. Identificar cadailustração com seu número de ordem, <strong>no</strong>me do autor e do artigo,com etiqueta colada <strong>no</strong> verso e nela marcada na parte superior.Não grampear e nem colar as ilustrações, embalar cada uma emseparado. Encaminhar separadamente as respectivas legendas.Ilustrações reproduzidas de textos já publicados devem seracompanhadas de autorização de reprodução, tanto do autorcomo da publicadora. Ilustrações em cores podem serpublicadas; dado seu custo elevado, será de responsabilidade dosautores, assim como o custo por número de tabelas e ilustraçõesacima dos mencionados e desde que <strong>sua</strong> publicação sejaautorizada pela editora. O material recebido não será devolvidoaos autores. Manter os negativos destas.Referências: Até cerca de 30 (para artigos originais ou deatualização), restritas á bibliografia essencial ao conteúdo doartigo. Para artigos de revisão, até 100 referências. Todos osautores e trabalhos citados <strong>no</strong> texto devem constar na listagemde referências bibliográficas. No texto, as citações devem seguiro sistema numérico, isto é, são numerados por ordem de <strong>sua</strong>citação <strong>no</strong> texto, utilizando-se números arábicossobrescritossegundo o estilo Vancouver(www.icmje.org). Porexemplo: “....o horário de ir para a cama e a duração do so<strong>no</strong> nainfância e adolescência6-12,14,15.” As referências devem serordenadas consecutivamente na ordem na qual os autores sãomencionados <strong>no</strong> texto. Listar todos os autores <strong>no</strong> máximo de 6,quando forem 7 ou mais, listar os 3 primeiros seguidos de “etal.”.a) Artigos: Autor(es). Título do artigo. Título do periódico(abreviados de acordo com o Index Medicus) a<strong>no</strong>; volume:página inicial – final. Ex.: Wagner ML, Walters AS, Fisher BC.Symptoms of attention-deficit/hyperactivity disorder in adultswith restless legs syndrome. Sleep 2004; 27: 1499-504.b) Livros: Autor(es) ou editor(es). Título do livro. Edição, senão for a primeira. Tradutor(es), se for o caso. Local depublicação: editora, a<strong>no</strong>, total de páginas. Ex.: Ferber R, KrigerM. Principles and practice of sleep medicine in the child.Philadelphia: W.B. Saunders Company, 1995, 253p.c) Capítulos de livros: Autor(es) do capítulo. Título do capítulo.In: Editor(es) do livro. Título do livro. Edição, se não for aprimeira. Tradutor(es), se for o caso. Local de publicação:editora, a<strong>no</strong>, página inicial e página final. Ex.: Stepanski EJ.Behavioral Therapy for Insomnia. In: Kryger MH; Roth T,Dement WC (eds). Principles and practice of sleep medicine. 3rded. Philadelphia: W.B. Saunders Company, 2000, p.647-56.d) Resumos: Autor(es). Título. Periódico a<strong>no</strong>; volume(suplemento e seu número, se for o caso): página(s). Quando nãopublicado em periódico: Título da publicação. Cidade em que foipublicada: editora, a<strong>no</strong>, página(s). Ex.: Carvalho LBC, Silva L,Almeida MM, et al. Cognitive dysfunction in sleep breathingdisorders children. Sleep 2003; 26(Suppl):A135.e) Comunicações pessoais só devem ser mencionadas <strong>no</strong> textoentre parênteses.f) Tese: Autor. Título da obra, seguido por (tese) ou(dissertação). Cidade: instituição, a<strong>no</strong>, número de páginas. Ex.:Fontes SV. Impacto da fisioterapia em grupo na qualidade devida de pacientes por AVCi (Tese). São Paulo: UNIFESP, 2004,75p.g) Documento eletrônico: Título do documento. Endereço naInternet, data e hora do acesso. Ex.: Agentes dopaminérgicos <strong>no</strong>tratamento da Síndrome das Pernas Inquietas. Diponível <strong>no</strong> site:http:// www.sindromedaspernasinquietas.com.br, acessado em10/05/2005, às 14h.Categoria: O próprio autor deve indicar a qual categoriapertence seu texto.a) artigo originalb) artigo de revisãoc) artigo de atualizaçãod) relato de casoEndereço para submissão de artigos para revista Neurociências:Prof.Dr. Gilmar Fernandes do Prado – Editor ChefeR: Cláudio Rossi, 394 – Jardim da GlóriaSão Paulo - SP - <strong>Brasil</strong>CEP: 01547-000Telefone/fax: 5081-6629E-mail: revistaneurociencias@yahoo.comhttp://www.unifesp.br/dneuro<strong>Revista</strong> Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica) –abr/jun, 2006.

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