4 <strong>Brasil</strong> Econômico Sábado, 17 de abril, 2010DESTAQUE CULTURALei Rouanet devemorrer antes dos20 anos de idadeCULTURA EM NÚMEROSLevantamento do MinC demonstraconcentraçãode recursos incentivados na região Sudestee crescimento do valor captado ao longo dos anosModelo de financiamento da cultura é posto em xeque pelogoverno federal, que busca novas regras de financiamentoRuy Barata Netorneto@brasileconomico.com.brO governo Lula reservou para oúltimoanodesuagestãoapropostade um debate mais acaloradoem torno do modelo de financiamentode cultura estabelecidopela Lei Rouanet, assinadaem 1991. A discussãomobiliza <strong>empresas</strong> patrocinadoras,produtores culturais,advogados e a classe artísticade modo geral à medida em queavança no Congresso Nacionalo projeto de Lei 6.277/10 — quepropõe a revogação do atualsistema de patrocínio a projetosculturais. A Comissão de Educaçãoe Cultura da Câmaraanalisa o projeto e marcará novasaudiências públicas emtornodotema,quejávemsendodebatido desde de 2009.“Independentemente das eleições,trabalharemos até o últimodia para conseguir aprovar a propostaainda este ano”, diz o secretárioadjunto de cultura, AlfredoManevy, que, junto com o ministroda Cultura, Juca Ferreira, elaborouos itens da PL, conhecidacomo Procultura. Mas, diante daoposição que enfrenta, o projetopode acabar inflando a disputaeleitoral, a partir de junho. “Aproposta do vale-cultura [benefíciode R$ 50 por mês para trabalhadorescom salários de atéR$ 2.550] entrou no Congressoem agosto de 2009 e até agoranão foi aprovada. O Proculturatambém deve demorar”, diz oator Odilon Wagner, presidenteda Associação dos ProdutoresTeatrais Independentes (APTI) eque vem acompanhando os debatesem Brasília.Wagner é um dos mais fervorososcríticos do PL por conta doitem que determina que as <strong>empresas</strong>privadas possam pedirrenúncia fiscal de apenas 80%do total aplicado em um projeto.Isto é, 20% do investimento sairiarealmentedocaixadaempresa.A Lei Rouanet, desde quepassou a valer, estabelece queaté 100% do orçamento de umprojeto pode ser de recursos incentivados,ou seja, têm direitoà renúncia fiscal, desde que estejamdentro do montante de“Oincentivovirou uma dose deremédio que todos osprodutores culturaisusam para viabilizarseus projetosAlfredo Manevy,secretário-adjunto de cultura4% do Imposto de Renda (IR)devido a Receita Federal.Só para ter uma ideia do que éisso: instituições privadas comoo Bradesco, que têm alta lucratividade,conseguem destinaranualmente R$ 40 milhões àcultura com o mecanismo. ParaWagner, a mudança abrupta dalei afugentará as <strong>empresas</strong> deprojetos culturais — ou pelo menos,de imediato, do teatro, damúsica e das artes plásticas — jáque a Lei do Audiovisual (de1993) e a Lei de Incentivo ao Esporte(de 2006) autorizam projetosdessas searas a captar 100%do orçamento com verba pública.O argumento do secretárioManevyédeque,em18anosdeexistência, a Lei Rouanet nãoatingiu a meta de formar ummercado cultural. Os recursosaplicados por <strong>empresas</strong>, via incentivo,concentram-se na regiãosudeste e ainda sobram recursosque poderiam ser usadospelas <strong>empresas</strong>: do teto de R$ 1,4bilhão autorizado pela Lei Orçamentáriapara captação de projetosculturais em 2009, poucomais de R$ 900 milhões foramusados. Apenas 1,3 mil projetosdos6milaprovadospeloMinCchegaram ao público. “O modelofracassou”, afirma o secretário.“A única coisa que o governofez foi transferir dinheiropúblico para o setor privado”,diz Manevy. Os números do Ministérioda Cultura (MinC)apontamque,nesses18anos,R$ 8 bilhões foram aplicados nacultura, dos quais 90% a partirde verba incentivada.As razões, segundo Manevy,é que, nesse período, o Estadobrasileiro se omitiu da responsabilidadede gerir os própriosrecursos e promover uma políticapública para a cultura, conformeé feito em outros países.O que o governo federal quer,na realidade, é retomar a gerênciasobre a gestão da cultura, o que —não por coincidência — ganhaforça no contexto pós-crise econômicaem que, no mundo, o Estadoassume um papel mais fortena direção dos rumos da economia.E, em ano eleitoral, quasecertamente e discussão fará partedos debates políticos. ■VERBA INCENTIVADA CAPTADAPOR REGIÃO DO PAÍS EM 2009NORTER$ 4 milhõesCENTRO-OESTER$ 35,7 milhõesEVOLUÇÃO DO ORÇAMENTO DESTINADOÀ CULTURA DURANTE OS GOVERNOSFHC E LULAOrçamento, Execução Orçamentária:Ministério da Cultura de 1995 a 2010,em R$ milhões nominais151Orçamento257 259 276Execução Orçamentária188 204 193 228264267 3251995 1996 1997 1998 1999 2000FHC271Fontes: LOA - Dotação Autorizada: Balanço Geral da União, para 1995a 2006; Siafi Gerencial, para 2007 a 2009; Lei nº 12.214, para 2010.Empenhado - Ministério da Fazenda/STN, Execução Orçamentáriado Governo Federal, para 1995 a 1999; CGOF/DGE/MinC para 2000 a 2009.Observações: Os recursos relativos à Ancine são contabilizadosa partir de 2004. Não estão incluídos os recursos relativos a Operações Oficiaisde Crédito sob supervisão do MinC. *valores arredondados
Sábado, 17 de abril, 2010 <strong>Brasil</strong> Econômico 5LEIA MAISO Ministério da Culturadeve economizar pelomenos R$ 200 milhões coma mudança da Lei de Incentivo.Todo ano, o governo abremão de receber R$ 1 bilhão.O Bradesco, que investetodos os anos R$ 80milhões, dos quais R$ 40milhões com incentivos, diz quenão reduzirá os recursos queaplica em projetos culturais.A fim de ganhar simpatiados produtores e abrircaminho para o Procultura,ministério solta, em maio,uma instrução normativa queauxilia a aprovação de projetos.infografia Alex SilvaNORDESTER$ 64 milhõesSUDESTER$ 753,3 milhõesSULR$ 109 MILHÕES318 277 275366415 39739952415001200LIMITE DE CAPTAÇÃO DE RECURSOS PARAPROJETOS CULTURAISEvolução do teto estabelecido pelo Minc para recursosincentivados por <strong>empresas</strong> durante o Governo Lula,em R$ milhões00 1.4009006003000543671160401 299 568 945 8882003 2004 2005 2006 2007 2008 20097872001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010661824LULA1.0789821.2221.334 1.390 2.232Fonte: MinCOrçamento totalautorizado paraeste anoPropostas do MinCVerba incentivada podechegar a 40%, 60% ou 80%O texto do Proculturaestabelece que todosos projetos, independentesde sua área — cinema, teatroou dança, por exemplo — podemse candidatar ao benefíciode utilizar 80% de recursosoriundos de renúncia fiscal.Analistas do Ministério daCultura (MinC) dividirão projetosanalisados em uma escala de40%, 60% e 80% de verbaincentivada, com o restantesendo bancado pelo patrocinador.Com a mudança, o FundoNacional de Cultura (FNC),gerido pelo MinC, deve passaraseroprincipalmecanismode financiamento dosespetáculos. O Fundo contarácom outros nove outros fundossetoriaissobsuasasas—paramúsica, teatro, cinema, leituraeaté“deaçõestransversaise equalização”. Cada umdesses fundos setoriais nãopoderá ter verba superiora 30% do FNC — que nesteanoserádeR$800 milhões(mas ainda sem garantias,diante da possibilidade decontingenciamento de recursoscom as eleições). O FNC ficaobrigado a repassar 30%da sua verba para estados emunicípios, com o intuito dedemocratizar a distribuição derecursos. O Procultura tambémcria incentivo de 80% dededução no imposto de rendapara <strong>empresas</strong> que decidiremfinanciar instituições de culturasem patrocínio de marcas.O projeto também move oincentivo fiscal de 100% paraoFicart—umfundoprivado,formado pelas <strong>empresas</strong> — noqual os recursos podem seraplicados em um projeto culturalO Ficart é contemplado naRouanet, mas nunca foi usado.Fundo Nacional deCultura, como novesetores, terá orçamentode R$ 800 milhõesO que diz a oposiçãoFinanciamento sem incentivopode afugentar <strong>empresas</strong>Produtores teatrais de São Pauloe do Rio de Janeiro argumentamque a inclusão de umacontrapartida das <strong>empresas</strong> — quepode ser de 20% a 60% do valorde um projeto cultural — iráafugentar patrocinadores. Ficarámais vantajoso investir emprojetos esportivos e de cinema,que podem ser financiadosintegralmente pelo recurso deisenção fiscal. “É precisoestabelecer uma mudançagradativa de adaptação das<strong>empresas</strong> para o novo formato”,diz o advogado Fabio Cesnik.Eles querem que fique mantida aopçãodeprojetosparacaptaçãode 100% de verba incentivada.Para melhor distribuição derecursos em estados do Norte,por exemplo, a ideia seriaaumentar a alíquota de deduçãodo Imposto de Renda das<strong>empresas</strong> — dos 4% para até 15%,já que elas não possuem umabase de lucro real alta comoacontece em São Paulo, o quejustifica o patrocínio.Outra demanda diz respeitoa garantias, em lei, de que oincentivo fiscal será permanente.“Corremos o risco de trocar ocerto e permanente pelo incertoe temporário”, afirma OdilonWagner, presidente da Associaçãodos Produtores TeatraisIndependentes (APTI).Ele ainda reivindica garantiasde que a centralização dofinanciamento no MinC nãoaumente a burocracia de análisedosprojetos—oqueaconteceatualmente. Além disso, Cesnikcritica um artigo específico danova lei, quando o direito sobreuma obra ganha fim educacionalno final de sua comercializaçãono mercado. “Isso fere aConstituição e a legislaçãodo direito autoral”, afirma.Alíquota de dedução para<strong>empresas</strong> nos estadosdo Norte poderia passarde 4% para 15% do IR
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