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amor-degradação-morte em dois contos de lygia fagundes telles

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Revista Litteris Literatura Número 6Nov<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 2010Amor e <strong>morte</strong> são as forças relacionadas à criação e à <strong>de</strong>struição, intimamenteligadas à experiência humana, traduzindo essencialmente o conflito da existência, os <strong>dois</strong>extr<strong>em</strong>os ao mesmo t<strong>em</strong>po inconciliáveis e compl<strong>em</strong>entares: o impulso <strong>de</strong> manutenção eperpetuação da vida e sua aniquilação inevitável 1 .O t<strong>em</strong>a do <strong>amor</strong> associado ao da <strong>morte</strong> talvez seja dos mais universais eantigos na história da literatura. Da mitologia e tragédia gregas, passando pelos pares<strong>amor</strong>osos consagrados como Tristão e Isolda, Romeu e Julieta, até os nossos dias, o <strong>amor</strong> évisto como a força que nos incita a enfrentar as contingências da vida, mas também provocaas dores mais difíceis <strong>de</strong> suportar e a iminência da <strong>de</strong>struição duma parte ou mesma datotalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> nós próprios. Eros e Thanatos, as duas faces da mesma moeda, pois a <strong>morte</strong> estás<strong>em</strong>pre à sombra do <strong>amor</strong>.É com o movimento romântico que o t<strong>em</strong>a do <strong>amor</strong> e da <strong>morte</strong> adquirerelevância: o <strong>amor</strong> como possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida e <strong>de</strong> transcen<strong>de</strong>r a <strong>morte</strong>. E a idéia <strong>de</strong> <strong>morte</strong>resulta ou do <strong>de</strong>sencanto <strong>amor</strong>oso, ou da falta ou da impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> concretizar asd<strong>em</strong>andas do sentimento <strong>amor</strong>oso, o qual se inscreve s<strong>em</strong>pre como impasse, já que é daangustiante incerteza <strong>de</strong> relação, <strong>de</strong> recobrimento e correspondência que se mantém.Octavio Paz (1994) afirma que os românticos nos ensinaram a viver, a morrer,a sonhar e, sobretudo, a amar. No seu enten<strong>de</strong>r, os românticos não nos ensinaram a pensar,mas a sentir. O <strong>amor</strong> não comporta a razão, mas o irracional, a fantasia e o sonho; tece<strong>de</strong>stinos, dirige escolhas, caminhos, traz a saú<strong>de</strong> física e psíquica, ou a contamina, <strong>de</strong>grada-a.Para o hom<strong>em</strong> oci<strong>de</strong>ntal, o <strong>amor</strong> romântico ainda surge como um i<strong>de</strong>al a ser conquistado (ouconsumido?).Tanto o <strong>amor</strong> que se dispõe a princípio a envolver, capturar o objeto <strong>amor</strong>oso,a subjugá-lo, como o que se projeta para a experiência da alterida<strong>de</strong> e se mantém e se reforçadurante a vida, está longe <strong>de</strong> ser uma das realizações das personagens criadas por LygiaFagun<strong>de</strong>s Telles, escritora conceituada no cenário da literatura brasileira, cujo nome está <strong>em</strong>voga <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a geração <strong>de</strong> 45, dona <strong>de</strong> uma produção ininterrupta há mais <strong>de</strong> meio século,abarcando romances, <strong>contos</strong> e crônicas.Nos enredos construídos pela autora, os sujeitos ficcionais viv<strong>em</strong> suas relaçõesafetivas <strong>de</strong>svirtuadamente. Seus conflitos sintetizam toda a probl<strong>em</strong>ática da socieda<strong>de</strong>cont<strong>em</strong>porânea, <strong>em</strong> que o sentimento <strong>amor</strong>oso está totalmente <strong>de</strong>stituído <strong>de</strong> seu estatutosagrado, pois os relacionamentos <strong>amor</strong>osos são fadados a terminar e esse fim é extr<strong>em</strong>amenteRevista Litteris www.revistaliteris.com.br ISSN: 1983 7429www.revistaliteris.com.br Número 6

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