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amor-degradação-morte em dois contos de lygia fagundes telles

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Revista Litteris Literatura Número 6Nov<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 2010associações: para que serve um corpo s<strong>em</strong> arrebatar mais o <strong>de</strong>sejo <strong>amor</strong>oso? Assim, ocontrário da vida, não seria a <strong>morte</strong>, mas a nulificação dos sentidos da existência, s<strong>em</strong> <strong>amor</strong> e<strong>de</strong>sejo não há mais o élan para participar das construções, peripécias e realizações do viver.LUA CRESCENTE EM AMSTERDÃEste conto apresenta um diferencial <strong>em</strong> relação ao outro, pelo fato <strong>de</strong> seenveredar por caminhos fantásticos, linha bastante explorada por Telles, <strong>em</strong> que há a irrupçãodo insólito, do irracional e do onírico.Um narrador heterodiegético é o condutor do relato, <strong>em</strong> que a focalizaçãooscila entre externa (apresentação das ações e transcrição das falas das personagens) e interna(apresentação dos sentimentos e pensamentos das personagens), por isso há o uso do discursodireto e do indireto livre.O enredo também apresenta uma ação mínima: um jov<strong>em</strong> casal chega a umjardim 6 da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Amsterdã, na Holanda, para passar<strong>em</strong> a noite e pretend<strong>em</strong> acomodar-senum banco <strong>de</strong> pedra. O rapaz e a moça parec<strong>em</strong> aventureiros viajantes, cujos recursosfinanceiros se esgotaram por completo, e estão famintos, maltrapilhos e sujos. Uma meninaloura surgiu comendo uma fatia <strong>de</strong> bolo e ficou observando-os. A jov<strong>em</strong>, <strong>de</strong>sesperada <strong>de</strong>fome, através <strong>de</strong> mímicas, pe<strong>de</strong>-lhe um pedaço. A menina não enten<strong>de</strong>ndo a língua dos<strong>de</strong>sconhecidos, correu assustada. Ao tentar chamar a criança, o rapaz observa que a “alameda<strong>de</strong> areia branco-azulada”(TELLES, 1999, p. 95) por on<strong>de</strong> a menina viera e retornara correndo,bifurcava-se <strong>em</strong> duas, contornando o pequeno jardim redondo. A partir <strong>de</strong>ste fato sãoestabelecidos os fios discursivos que vão tecer o <strong>em</strong>aranhado <strong>de</strong> <strong>de</strong>sencontros, conflitos efrustrações <strong>em</strong> que se <strong>de</strong>bat<strong>em</strong> as personagens.A bifurcação da alameda <strong>em</strong> torno do jardim, suscita no rapaz a evocação <strong>de</strong>imagens que se configuram como índices do conflito da narrativa:- Um abraço tão apertado – ele disse. – Acho que este é o jardim do <strong>amor</strong>.Tinha lá <strong>em</strong> casa uma estatueta com um ano nu fervendo <strong>de</strong> <strong>de</strong>sejo, apesar<strong>de</strong> mármore, todo inclinado para a amada s<strong>em</strong>inua, chegava a enlaçá-la.Mas as bocas a um milímetro do beijo, um pouco mais que ele abaixasse...A aflição que me davam aquelas bocas entreabertas, s<strong>em</strong> po<strong>de</strong>r se juntar.S<strong>em</strong> po<strong>de</strong>r se juntar (TELLES, 1998, p. 95-96).Revista Litteris www.revistaliteris.com.br ISSN: 1983 7429www.revistaliteris.com.br Número 6

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