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amor-degradação-morte em dois contos de lygia fagundes telles

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Revista Litteris Literatura Número 6Nov<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 2010Miguel que, através <strong>de</strong> suas falas, <strong>de</strong>ixa transparecer fragilida<strong>de</strong> <strong>em</strong>ocional e perturbaçãopsíquica. A esposa, Lorena, que se encontrava sentada, confeccionando um colar, mostra-seum tanto distante, impassível, compenetrada no trabalho que realiza. Ele, diante da friasobrieda<strong>de</strong> da mulher, encena um comportamento que se ass<strong>em</strong>elha ao <strong>de</strong> uma criançatentando capturar a atenção da mãe. Rel<strong>em</strong>bra hábitos infantis <strong>de</strong> soprar canudo <strong>de</strong> mamoeiropara fazer bolhas <strong>de</strong> sabão e comer pasta <strong>de</strong> <strong>de</strong>nte; também faz uma série <strong>de</strong> perguntas aomanusear certos objetos (um globo <strong>de</strong> vidro, um anjo dourado, uma adaga), aponta paraoutros e discorre sobre o valor e a utilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>les:Veja, Lorena, aqui na mesa este anjinho vale tanto quanto o peso <strong>de</strong> papels<strong>em</strong> papel ou aquele cinzeiro s<strong>em</strong> cinza, quer dizer, não t<strong>em</strong> sentido nenhum.Quando olhamos para as coisas, quando tocamos nelas é que começam aviver como nós, porque continuam. O cinzeiro recebe a cinza e fica cinzeiro,o vidro pisa o papel e se impõe...(TELLES,1999, p.12).É importante <strong>de</strong>stacar o olhar <strong>de</strong> cada personag<strong>em</strong> direcionado aos objetos,pois este já traduz a ambivalência que marca o modo <strong>de</strong> ser e agir <strong>de</strong> cada um. Enquanto paraLorena, os objetos à sua volta representam apenas bugigangas; para Miguel, sãopersonificações da capacida<strong>de</strong> humana <strong>de</strong> subjetivar o mundo, atribuindo às coisas existentesuma essência, uma existência, um sentido, um <strong>de</strong>stino. A partir <strong>de</strong>sses modos distintos <strong>de</strong>experienciar o mundo físico, é possível afirmar que Lorena t<strong>em</strong> um comportamento maisracional e prático, e o narrador alu<strong>de</strong> metaforicamente a essa peculiarida<strong>de</strong> ao registrar que,durante o ato <strong>de</strong> confeccionar o colar, a mulher <strong>de</strong>scartava as contas que apresentavam o furoobstruído. Miguel parece mais <strong>em</strong>otivo, sensível e suscetível a dil<strong>em</strong>as existenciais. Em vistadisso, o olhar <strong>de</strong> Miguel lançado aos objetos supõe um contato, um encontro, uma <strong>de</strong>scoberta,acionando vislumbres epifânicos. E é através <strong>de</strong>sse olhar que o leitor po<strong>de</strong> ver/ler essesobjetos como metáforas dos <strong>de</strong>sencontros, conflitos e frustrações <strong>em</strong> que se transformou arelação do casal.Em contraponto ao discurso infantilizado do marido, Lorena assume um tommaternal, manifestando ora paciência, procurando respon<strong>de</strong>r às suas perguntas com tolerânciae objetivida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>ntro da lógica que ele instaura (<strong>em</strong>otiva, fantasiosa), como, às vezes, faz<strong>em</strong>as mães diante da curiosida<strong>de</strong> das crianças:Revista Litteris www.revistaliteris.com.br ISSN: 1983 7429www.revistaliteris.com.br Número 6

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