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karawa, iri' wari' - Fundação Nacional de Saúde - Funasa

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CAPÍTULO 11INTRODUÇÃOSete meses após minha chegada a Santo André, em certa ocasião conversava com umdos homens wari’. Em um dado momento, relembrávamos meus primeiros dias na al<strong>de</strong>ia.Ele, rindo e em tom amistoso, disse-me em bom português: “-Maurício, você quandochegou aqui era muito burro, mesmo. Você não entendia nada.” Naturalmente, <strong>de</strong>mosjuntos boas risadas por conta da magnitu<strong>de</strong> da minha ignorância, agora parcialmenteminimizada, com relação tanto à língua como aos <strong>de</strong>mais aspectos da vida e dopensamento wari’. Este <strong>de</strong>sconhecimento, infelizmente, não estava limitado a mim: meusinterlocutores tinham muito claro para si o grau <strong>de</strong> <strong>de</strong>sinformação dos brancos acerca <strong>de</strong>seu quotidiano e <strong>de</strong> seu modo <strong>de</strong> pensar.Por outro lado, não foram poucas as vezes em que ouvi explicações dos brancos quetrabalhavam junto a eles sobre os motivos da precária situação nutricional wari’, e que <strong>de</strong>modo geral os responsabilizavam por suas condições <strong>de</strong> vida e saú<strong>de</strong>: ora diziam-me quenão alimentavam a<strong>de</strong>quadamente suas crianças, ora que só tomavam a iniciativa <strong>de</strong> trazercomida para casa quando já não havia mais o que comer, que não sabiam aproveitara<strong>de</strong>quadamente os alimentos, ou então simplesmente porque não queriam fazer roças.Neste tipo <strong>de</strong> discurso, os Wari’ não sabiam como proce<strong>de</strong>r a<strong>de</strong>quadamente ou eramsimplesmente indolentes; em ambos os casos, o resultado final era o comprometimento <strong>de</strong>suas condições <strong>de</strong> nutrição. Caberia aos brancos, portanto, orientá-los e ensiná-los. Comoficará claro ao longo <strong>de</strong>sta tese, não posso concordar com este tipo <strong>de</strong> visão, sob qualquerforma.Assinalo que contrasto as falas <strong>de</strong> um wari’ sobre um branco, e a dos brancos emgeral sobre os Wari’, para chamar a atenção para um aspecto aparentemente óbvio – ouque ao menos <strong>de</strong>veria sê-lo, para os profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> que atuam não somente junto aeles, mas também junto a outras populações indígenas do país -, e que apresenta<strong>de</strong>sdobramentos importantes. Refiro-me ao fato <strong>de</strong> que, em primeiro lugar, as populaçõesnativas não agem aleatoriamente – e nisso inclui-se as práticas relacionadas à alimentação -, mas sempre possuem (bons) motivos e critérios a orientar suas condutas. Critérioslógicos, e coerentes com suas visões <strong>de</strong> mundo. Reconhecer a existência <strong>de</strong>ste conjunto <strong>de</strong>idéias e, mais que isso, a sua legitimida<strong>de</strong>, constituem pré-requisitos para o seuentendimento; este, por sua vez, é um passo essencial para o diálogo que qualquer tipo <strong>de</strong>atuação junto a estas populações inevitavelmente exige. Além disso, a idéia <strong>de</strong> que a

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