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TropicáliaAinda no segun<strong>do</strong> semestre, Caetano, Gil eOs Mutantes estrearam na boate Sucata, noRio de Janeiro, um show provoca<strong>do</strong>r. No cenário,duas bandeiras: em uma, se lia “Yes,nós temos bananas”, e, na outra, “Seja herói,seja marginal”, a já famosa homenagemde Hélio Oiticica ao bandi<strong>do</strong> Cara de Cavalo.Em cena, Caetano gritava “Chega de saudade”,segui<strong>do</strong> de gritos e ruí<strong>do</strong>s distorci<strong>do</strong>sde guitarra, dava cambalhotas e se arrastavapelo chão. Parte <strong>do</strong> público a<strong>do</strong>rava, parteodiava. “Isso é uma apelação, fora, fora!”,protestou uma moça, sem saber que ela faziaparte <strong>do</strong> espetáculo, já que os holofotestambém se voltavam para a plateia. Umboato de que Caetano teria canta<strong>do</strong> o HinoNacional em cena provocou a proibição <strong>do</strong>espetáculo e o fechamento da boate. Umadenúncia, algo muito comum no clima políticoda época, levou à prisão <strong>do</strong>s músicosbaianos, que depois de soltos foram obriga<strong>do</strong>sa se exilar em Londres.Meu caminho pelo mun<strong>do</strong>Eu mesmo traçoA Bahia já me deuRégua e compassoQuem sabe de mim sou euAquele abraço!Aquele Abraço(Gilberto Gil)Para o jornalista Zuenir Ventura, “essa grandeaventura não foi um folhetim de capae espada, mas um romance sem ficção. Omelhor de seu lega<strong>do</strong> não está no gesto –muitas vezes desespera<strong>do</strong>; em outras, autoritário– mas na paixão com que foi à luta,dan<strong>do</strong> a impressão de que estava dispostaa entregar a vida para não morrer de tédio”.Segun<strong>do</strong> os jornalistas Ernesto Soto e ReginaZappa, “1968 indicou a necessidade decriação de uma nova ordem mundial voltadafundamentalmente para o homem, coma implantação da igualdade entre os sexos,<strong>do</strong> respeito à vida e ao meio ambiente, <strong>do</strong>planejamento ecológico e da defesa <strong>do</strong>s direitosdas minorias”.22 . Caetano Veloso na boate Sucata, no Rio, em 1968O sonho continuaMuitas das paixões nascidas em 1968 edes<strong>do</strong>bradas pelo Tropicalismo continuamvivas. Hoje, estudiosos <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> afirmamque estudantes, músicos e intelectuais experimentarame ampliaram os limites <strong>do</strong>shorizontes políticos, sexuais, comportamentaise existenciais.23 . Capa <strong>do</strong> livro<strong>do</strong> jornalista ZuenirVentura sobreos acontecimentosque marcaram oano de 1968200