E n t r e v i s t aA lógica do semeadorIlana LanskyDéb o r a Ho r n6Locus • Janeiro 2009Formado engenheiro eletricista pelaUniversidade Federal de Minas Gerais(UFMG), Carlos Eduardo Guillaumedeixou uma promissora carreira executivana Microsoft para criar uma das maioresempresas brasileiras da área de capitalsemente. A Confrapar foi fundada em 2005por um grupo de 10 pessoas – alguns eramseus amigos, outros apenas conhecidos. Emcomum, o fato de todos trabalharem comtecnologia. “Conversávamos muito sobrequais tecnologias iriam decolar, quaisempresas seriam um bom investimento equem eram os empreendedores nos quaisapostaríamos. Decidimos que era melhorparar de falar e fazer”, conta Guillaume.Como os outros nove sócios, ele assinou umcheque de R$ 50 mil para dar início aonegócio. Os primeiros anos no novo nichomostraram que a formação de uma redemaior de investidores poderiapotencializar o conhecimento sobre aindústria e o próprio processo deinvestimento. Para atrair novossócios, a Confrapar fez doisaumentos de capital e fundiu-se coma Estufa Investimentos, co-gestorado fundo Rotatec, focado em projetosinovadores no pólo eletroeletrônicoda região de Santa Rita do Sapucaí(MG). Com a fusão, o volume derecursos geridos pela Confraparpassou para cerca de R$ 90 milhões.Em entrevista à Locus, Guillaumerevela as razões que levaminvestidores a alocar recursos emempresas nascentes e dá dicas sobreos atributos indispensáveis aempreendimentos que buscam o seedcapital para sair do papel.
Locus: Como você avalia o mercado deseed capital brasileiro atualmente?Quais as principais diferençasobservadas em relação a outros países?Guillaume: O mercado de seed capitalno Brasil ainda é muito pequeno. Sãopoucos os gestores de seed capital queatuam de maneira profissional. O Brasilse destaca em relação a outros paísespor bons e maus motivos. Por um lado,temos uma cultura bastante empreendedora,em que novas empresas e idéiassurgem a todo momento. Por outro lado,temos ainda uma taxa de juros bastantealta, o que não ajuda o investimento nosetor produtivo, pois o capital acabasendo atraído para outros tipos de investimento,como a renda fixa. Se asperspectivas dos analistas para os próximosmeses se concretizarem, com taxasde juros na casa dos 11%, o nível de seedcapital tende a aumentar, pois haveráuma migração de investimentos.Locus: O sistema de inovaçãobrasileiro é favorável aodesenvolvimento do seed capital?Guillaume: Vários programas estão favorecendoo desenvolvimento dessa indústria.Vale citar dois exemplos da Financiadorade Estudos e Projetos(Finep). Um é o programa Inovar Semente,que investe até 40% em fundosselecionados de seed capital, e do qual aConfrapar já participa. Outro é o Prime(Programa Primeira Empresa Inovadora),que irá incentivar empresasnascentes com recursos da ordem de R$120 mil por empreendimento.Locus: Que mecanismos serianecessário aperfeiçoar paraalavancar investimentos?Guillaume: Esperávamos mudançasmais rápidas após a Lei da Inovação,mas hoje percebemos que o avançolento se deve à própria cultura do pesquisadorbrasileiro. No Brasil ainda dependemosde muitos cases de sucesso,de cientistas que se tornaram empreendedores,para sensibilizar outros pesquisadores,fazendo com que eles descubramque há a opção de empreender.Essa mudança de cultura não ocorre deforma rápida, pois os cientistas, assimcomo a maioria dos profissionais, foramformados para ter emprego e nãopara serem empreendedores.Os cientistas, assim como a maioria dosprofissionais, foram formados para teremprego e não para serem empreendedoresLocus: O que motiva um investidor aaplicar recursos em uma empresanascente? Que riscos e possibilidadesde retorno costumam ser avaliados?Guillaume: Os retornos financeiro esocial são os dois principais motivospara o investidor. A indústria norteamericanaapresentou resultados superioresa 37% ao ano para o investidorna última década. Espera-se retorno financeiroda mesma ordem para o Brasilnos próximos 10 anos, embora sejasempre difícil fazer previsões, principalmentepelo fato de termos gestoresinexperientes nesse mercado, o que aumentaa chance de erros. Mas temos oventure capital crescendo junto com opaís, assim como várias oportunidadesde inovação aguardando recursos. Ouseja: há uma grande quantidade de projetosrepresada, que permitirão boaperformance aos fundos de investimentonos próximos anos. Além do aspectofinanceiro, outro motivo gratificantepara se investir no setor é saber queaquele dinheiro vai criar novas empresas,empregos, arrecadação de impostos– já que investimos somente em empresas100% formais – e alavancar novastecnologias no Brasil.Locus: Como a Confrapar tem aferido7Locus • Janeiro 2009