12.07.2015 Views

A cidade sob a visão lírica de Manuel Bandeira - Eutomia

A cidade sob a visão lírica de Manuel Bandeira - Eutomia

A cidade sob a visão lírica de Manuel Bandeira - Eutomia

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

A <strong>cida<strong>de</strong></strong> <strong>sob</strong> a visão lírica <strong>de</strong> <strong>Manuel</strong> Ban<strong>de</strong>iraComo acreditava o poeta, a poesia está em tudo, inclusive naquilo que éprosaico e fugaz como a matéria do jornal e, em pouquíssimos versos, Ban<strong>de</strong>iracomprova sua tese ao poetizar tal situação. Tem-se, então, nesses versos, orelato da vida <strong>de</strong> um e sujeito simples “carregador <strong>de</strong> feira-livre”, porémsensual, e que vai a um bar para aliviar a aspereza <strong>de</strong> sua quase imperceptívelvida, on<strong>de</strong> bebe, canta, dança e <strong>de</strong>pois da alegria última, banalmente morreafogado.O leitor é convidado a a<strong>de</strong>ntrar os versos e se a comover com a situaçãosocial e existencial <strong>de</strong> João Gostoso que é mais um na multidão e que estásozinho, pois esse <strong>de</strong>svalido pratica as ações sem a presença <strong>de</strong> um outro.Apenas o leitor <strong>de</strong>sempenha esse papel <strong>de</strong> receptor da linguagem, ouvinte,companheiro e, que logo se compa<strong>de</strong>ce com tamanha banalida<strong>de</strong> da vida breveque foi possível a esse praticante da <strong>cida<strong>de</strong></strong> sem esperança.A <strong>cida<strong>de</strong></strong> gran<strong>de</strong> se apresenta como um não-lugar on<strong>de</strong> João Gostoso nãotem nem mesmo um <strong>sob</strong>renome que o diferencie dos <strong>de</strong>mais, que realmente onomeie e que o torne digno. E Ban<strong>de</strong>ira, nessa sua fase madura <strong>de</strong> Libertinagem,e com seu gosto refinado pelo “humil<strong>de</strong> cotidiano” capta, como em muitosoutros momentos, o instante poético tirado do banal cotidiano <strong>de</strong>sse pobrehomem, instante do agora que se torna eterno ao entrar na poesia. Instante quefala, ao mesmo tempo, do que é objetivo e do que é humano. Assim,A poesia é uma metafísica instantânea. Num curto poema, ela <strong>de</strong>vedar uma visão do universo e o segredo <strong>de</strong> uma alma, um ser eobjetos, tudo ao mesmo tempo. Se segue simplesmente o tempo davida, ela é menos que esta; só po<strong>de</strong> ser mais que a vida imobilizandoa,vivendo no próprio lugar a dialética das alegrias e das dores.(BACHELARD, 2007, p. 99).Este curto poema fala das alegrias e das dores <strong>de</strong> alguém e <strong>de</strong> todos aomesmo tempo, porque traz o ser humano para sua pequena estrutura que étambém ampla, o que proporcionou ao poeta a síntese da vida humana que é<strong>de</strong>nsa e complexa. Dessa forma, esse instante poético é complexo, comove,Revista <strong>Eutomia</strong> Ano II – Nº 01( 408-427) 418

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!