imensidão dos mares silenciosos, das estrelas. Reprimindo a criançaque existe nele, o homem moderno aniquila os deuses do júbilo emseu coração. Deixa de improvisar sua vida, enquadrando-se namarcha uniforme da sociedade organizada & vestida ” (<strong>PIVA</strong>, 2008, p.181-182)O diagnóstico realizado por Piva do mundo urbano-industrial aproxima-se deuma leitura sociológica efetuada por Max Weber sobre o desenvolvimento docapitalismo levado às suas últimas consequências:Ainda ninguém sabe quem habitará essa estrutura vazia no futuro ese, ao cabo desse desenvolvimento brutal, haverá novas profecias ouum renascimento vigoroso de antigos pensamentos e ideais. Ou se[...] tudo desembocará numa petrificação mecânica, coroada por umaespécie de auto-afirmação convulsiva. Nesse caso, para os “últimoshomens” dessa fase da civilização tornar-se-ão verdade as seguintespalavras: “especialistas sem espíritos, folgazões sem coração – estesnadas pensam ter chegado a um estádio da humanidade nunca antesatingido” (WEBER, 1990, p. 130-140).A poesia de Roberto Piva, em sua criação de uma linguagem imanenteinscrita nas energias cósmicas da natureza, configura-se como uma tomada de partidopor uma revolução nos hábitos, na mentalidade e no modo de vida do homemmoderno. A poesia, como linguagem faiscante e encantada, convida a participaçãonum rito de imersão na natureza selvagem. A poesia, como palco/espaço de recriaçãoda cena xamânica, recoloca o homem moderno em face da possibilidade de suaconexão com o sagrado e as repercussões do mundo mítico. A poesia xamânica deRoberto Piva atua como geradora de novas profecias e registro de vidências, pondoem movimento os “cometas vivos do êxtase”.O poeta - trabalhando com os mananciais do imaginário e dos ritos ancestrais- cria um cenário simultaneamente sereno e delirante para um convívio fraterno ealucinado entre os diversos seres da rede da vida. A poesia de Roberto Piva abriga nomesmo peito as visões e as vertigens da natureza cósmica, povoada por rios,montanhas, pássaros, espíritos etc.O poeta-xamã mobiliza os sentidos para uma reinvenção da existência dohomem moderno. A poesia atua numa operação de guerrilha psíquica contra a ordemestabelecida do capitalismo. O poeta retrabalha o imaginário a favor de umareeducação das posturas dos sujeitos contemporâneos e seus modos de serelacionarem com a Terra. A poesia, criada num regime de vivência dos devaneios,repercute uma dimensão mágica e alucinada no nosso corpo mamífero. Roberto Pivaescreve:come teu cogumelo660
no coração do sagradofazendo sinais arcaicosprocura entre praias, montanhas& manguesa mutação das formassonha o mundo num só tempoo cogumelo mostrará o caminhosó o predestinado falaa luz lilás do cogumelolevará ao rio das imagensSombras dançam neste incêndio.(<strong>PIVA</strong>, 2008, p. 111)Referências bibliográficasBERGER, J. Sobre o olhar. São Paulo: Editorial Gustavo Gili, 2003CAPRA, F. As conexões ocultas. São Paulo: Editora Cultrix, 2002ELIADE, M. O sagrado e o profano. São Paulo: Martins Fontes, 2008______. O xamanismo e as técnicas arcaicas do êxtase. São Paulo: Martins Fontes,2002GARRARD, G. Ecocrítica. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2006<strong>PIVA</strong>, R. Mala na mão & asas pretas. São Paulo: Globo, 2006______. Estranhos sinais de saturno. São Paulo: Globo, 2008SLOTERDIJK, P. Mobilização copernicana e desarmamento ptolomaico. Rio deJaneiro: Tempo Brasileiro, 1992.URBAN, Paulo. Animais de poder. Disponível em:http://www.amigodaalma.com.br/conteudo/artigos/xamanismo_animaispoder.htmAcesso em 27 out. 2009.URBAN, Paulo. Animais de poder. disponível em:http://www.amigodaalma.com.br/conteudo/artigos/xamanismo_animaispoder.htmAcesso em 27 out. 2009.WILLER, Claudio. A poética de Roberto Piva. disponível em:http://adiu.multiply.com/reviews/item/6 Acesso em 1 nov. 2009.WEBER, Max. A ética protestante e o espírito do capitalismo. Lisboa: Presença, 1990.661