12.07.2015 Views

A poética da fluidez em Michèle Roberts - UNESP-Assis

A poética da fluidez em Michèle Roberts - UNESP-Assis

A poética da fluidez em Michèle Roberts - UNESP-Assis

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Polliana Cristina de Oliveiraf<strong>em</strong>inista: não se pode escapar <strong>da</strong>s definições de gênero s<strong>em</strong> mu<strong>da</strong>r aestrutura social a qual estão essas definições estão incrusta<strong>da</strong>s. Hat tenta sereinventar como masculina, mas as associações culturais de sexo e gêneroviv<strong>em</strong> mais que ela. Flora se inventa como f<strong>em</strong>inino, traindo suas amigas efamília quando ela prioriza os homens <strong>em</strong> sua vi<strong>da</strong>. Se In the Red Kitchenpersonifica a moral f<strong>em</strong>inista, nós pod<strong>em</strong>os considerar a saí<strong>da</strong> desse impasse amulher do século 20, Hattie King? Seria confortável ler In the Red Kitchen comoum texto que propõe uma história f<strong>em</strong>inista progressiva ⎯ com Hat tentando amasculini<strong>da</strong>de e Flora a f<strong>em</strong>inili<strong>da</strong>de e já Hattie King triunfando com aidenti<strong>da</strong>de cont<strong>em</strong>porânea que se move para além dos estereótipos, to<strong>da</strong>via,não são ofereci<strong>da</strong>s aqui conclusões ordena<strong>da</strong>s.Hattie King não é uma mulher que existe fora <strong>da</strong>s definições culturaisde gênero, melhor, ela reconhece essas definições e as manipula com o intuitode atingir seus objetivos, por ex<strong>em</strong>plo, ter sua própria casa. Contrariamente àsuas predecessoras Hat e Flora, Hattie King viaja através de culturas e países,se recriando como chauffer, cozinheira, escritora e prostituta. Sua relação comgênero é, no mínimo, a de um escultor com sua obra de arte, menos constritivaque aquelas exerci<strong>da</strong>s por Flora e Hat, no entanto, os parâmetros ain<strong>da</strong>exist<strong>em</strong>. Hattie não é então um modelo utópico, é sim conseqüência de suasancestrais espirituais. A casa a qual Hattie compra é a casa de Flora Milk,ressoa<strong>da</strong> com os ecos <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> vitoriana, um fantasma do passado, visto eouvido apenas por Hattie. Hattie, de certa forma, t<strong>em</strong> acesso a essa móvel eincerta forma de história, mas há também uma história mais concretaescondi<strong>da</strong> na caixa do sótão ⎯ uma história confisca<strong>da</strong> no fim do romance. Umdescendente de Flora chega para levar as duas caixas de fotografias.Pode-se inferir desta passag<strong>em</strong> que pouco mudou: os homens estãoain<strong>da</strong> escondendo a história, fechando as caixas, não querendo que asmulheres saibam <strong>da</strong> história. Os cartões provavelmente têm a história de Flora,<strong>em</strong> suas próprias palavras, nesses pequenos diários. Suas visões de Floracertamente oferec<strong>em</strong> uma história muito mais autêntica que até todos osMiscelânea, <strong>Assis</strong>, vol.6, jun./nov.2009 206

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!