A poética da fluidez em Michèle Roberts - UNESP-Assis
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Polliana Cristina de Oliveiradiários <strong>da</strong> médium vitoriana. Se a novela acabasse nesse ponto haveria certochão para este argumento; o final narrativo de Hattie é seguido, to<strong>da</strong>via, porvozes de Flora, Minny, Hat e Rosina.O final <strong>da</strong> narrativa de Flora é cheio de arrependimento e Hatdesaparece enquanto Minny e Rosina escrev<strong>em</strong> cartas para Mamma e Mrs.Redburn, respectivamente, a qual fala eloquent<strong>em</strong>ente de suas traições aoutras mulheres. As mulheres que parec<strong>em</strong> triunfar nesse romance são as quedramatizam a f<strong>em</strong>inili<strong>da</strong>de de forma b<strong>em</strong> sucedi<strong>da</strong>. A comunicação metafísicaentre Hat, Flora e Hattie estabelece uma linha invisível de conexão históricaentre mulheres, entretanto isso pouco subverte as configurações tradicionais degênero e poder.Nesses espaços ⎯ <strong>em</strong> algum lugar entre os discursos do determinismohistórico e a metafísica ⎯ há a esperança de um futuro diferente. Diante disso,é o espaço do possível, do epifânico, do transitório e <strong>da</strong> transformação. Cabe,assim, a comparação entre a ficção de <strong>Roberts</strong> e a descrição de imaginário deLe Doeff, que pensa no imaginário comoUm termo retórico que se refere a figures de imagética nafilosofia e <strong>em</strong> outros textos. Le Doeff vê isso como uma formade pensar <strong>em</strong> imag<strong>em</strong>, o uso <strong>da</strong> narrativa, estruturas deconhecimento pictórico ou alegórico. Nesse sentido, oimaginário é sintomático <strong>da</strong> elisão; aloca os textos filosóficosaonde o discurso não é hábil a admitir suas fun<strong>da</strong>ções, além deas cobri. Isso d<strong>em</strong>onstra, assim, um ponto crítico devulnerabili<strong>da</strong>de com textos e argumentos, um lugar que ain<strong>da</strong>permanece silenciado necessariamente para a função do texto(GROZS, 1989, p. xviii-xix).Desse modo, os romances de <strong>Roberts</strong> se engajam nos debates <strong>da</strong>steorias do f<strong>em</strong>inismo francês, as quais tentam assinalar caminhos para longe dofim com ponto final, elas indicam saí<strong>da</strong>s. Por meio <strong>da</strong> interrogação dosconceitos relativos à escrita de autoria f<strong>em</strong>inina, os romances r<strong>em</strong>ontam apratici<strong>da</strong>de e eficiência dessas saí<strong>da</strong>s aponta<strong>da</strong>s pelo f<strong>em</strong>inismo francês. Essasnarrativas são endereça<strong>da</strong>s e <strong>em</strong>pregam discursos <strong>da</strong> psicanálise <strong>da</strong> teoriaf<strong>em</strong>inista francesa, mas eles não as engole de todo.Miscelânea, <strong>Assis</strong>, vol.6, jun./nov.2009 207