versoe reversoAfro-descendentes: uma históriacontada em brincadeira de CapoeiraIE / FNÉ importante que façamos uso da legitimidade histórica na nossa prática educativa para com os negros. Não se deveapenas contar metade da história dizendo que eles são descendentes de escravos. São descendentes de africanosque no Brasil souberam fazer história ante a opressão, em todos os lugares onde foram escravizados, criando mecanismosde defesa para perpetuar o seu jeito de ser.AFINAL ondeestá a escola?Thaís FernandaCastro RodriguesBolsista CNPQ/MOVER/UFSC, colaboradora doGrupalfa—pesquisa emalfabetização das classespopulares, UniversidadeFederal Fluminense,Rio de JaneiroPode parecer uma simples brincadeira, mas a partir dela, podemoster uma instigante vivência sobre dispositivos de preconceitoe sujeição: assim funciona “Pega-Congela Feitor”.Num grupo de crianças; um é o Feitor, ou seja, o que pega; osoutros, quando pegos, ficam imóveis, congelados e só saemdesta posição se forem salvos por um colega com um movimentode Capoeira.Os personagens nesta brincadeira nos remetem a um passadode exploração e preconceito para com muitos povos.Como então, no papel de educador, devemos tratar uma atividadeque propõe relações de poder sem apenas reproduzirdesigualdades?A realização desta atividade num curso de educadores popularesde Capoeira PERICAPOEIRA possibilitou inúmeras reflexõeshistóricas e políticas como: qual a melhor maneira deaplicar esta atividade. Como contextualizar com a criança osignificado de ser negro, sua ascendência e a situação atualdo negro no Brasil? Como valorizar sua identidade? Comolidar com o preconceito? E qual a verdade desta história?A relação Feitor e escravo na brincadeira dá indícios do poderoutorgado ao Feitor - ele persegue os escravos que, ao toquedo Feitor se submetem à ordem - paralisar-se. O escravo “livre”ou fugitivo deve manter-se alerta, correndo para não serpego, representando muito mais o papel do escravo fugitivoda Senzala, do que realmente Homem liberto. A brincadeiraestimula um ato de solidariedade na luta contra a açãodo Feitor, pois existe a possibilidade de libertar um escravo,com um golpe da Capoeira. Numa adaptação existe tambémo Quilombo, nome dado às comunidades de negros, índios e mestiços fugitivosdas Senzalas; um movimento de resistência ao sistema escravocrata. Nabrincadeira, o Quilombo é sinônimo da conhecida barra, que significa o lugarseguro, onde o Feitor não vai.Ao aprofundar nosso entendimento sobre o que representa o Feitor, sua relaçãocom o escravo, em que condições viviam e se esta situação de exploraçãoteve realmente um fim, percebemos a complexidade deste contexto querevela um paradoxo intrigante até os dias de hoje. Reconhecer a injustiça eo desrespeito aos Direitos Humanos cometidos e que ainda perduram atravésdo preconceito, abre caminhos à sensibilização deste momento histórico,oportunizando a conscientização de todos os tipos de discriminação a que osnegros foram submetidos e que persistem através do tempo, sendo colocadosà margem da sociedade que eles ajudaram a construir.É importante que façamos uso da legitimidade histórica em nossa práticaeducativa para com os negros. Não se deve apenas contar metade da históriadizendo que eles são descendentes de escravos. São descendentes de africanosque no Brasil souberam fazer história ante a opressão, em todos oslugares onde foram escravizados, criando mecanismos de defesa para perpetuarseu jeito de ser. A cultura dos afro-descendentes brasileiros é conhecidano mundo através da Umbanda, da Capoeira, das danças, da música e dagastronomia.Brincadeiras como esta podem ser um recurso educativo no aprendizado decontextos sociais complexos. Sendo uma proposta educacional de caráterinterdisciplinar, nos permite conhecer a história sob diferentes perspectivas,linguagens e interpretações, ampliando a compreensão da realidade vivida.PERICAPOEIRA: projeto realizado pelo Núcleo Mover – UFSC (Núcleo de Movimentos Sociais e Intercultura) e o Triplo C (ConfrariaCatarinense de Capoeira)O OVO e a GALINHACientista Britânico confirma que o ovo existiu antes da galinha18a páginada educaçãojulho 2006Eis um quebra-cabeças que parece ter chegado ao fim. O filósofo e cientistabritânico John Brookfield veio dar força aos que afirmam que o ovo surgiu antesda galinha, informaram jornais britânicos no final de Junho. A conclusão docientista resulta dos seus trabalhos no campo da Genética Evolutiva.A chave do enigma reside no facto de que o material genético não evolui durantea vida de um organismo vivo, motivo pelo qual o primeiro pássaro que se transformouem galinha teve de existir em forma de embrião dentro de um ovo.O professor Brookfield, especialista em Genética Evolutiva da Universidade de Nottingham, lesteda Inglaterra, afirmou que “podemos concluir, sem lugar para dúvidas, que a primeira matéria vivamembro desta espécie foi o ovo. O ovo precedeu, necessariamente, o organismo vivo a que chamamosgalinha”.As suas conclusões foram apoiadas por vários professores britânicos, de acordo com vários jornais,entre eles “The Times” e “The Independent”.Fonte:AFP
Vistas da esquerdaversoe reversoANTICONCEPCIONAIS:A NOVA GUERRA DEGEORGE W. BUSH?Associações feministas e um sector da esquerdaamericana denunciam a “guerra contra a contracepção”da administração George W. Bush e de gruposreligiosos conservadores, que pensam já ter ganho abatalha contra o direito ao aborto.Embora nunca tenha sido declarada oficialmente, esta«guerra» assumiu diferentes formas: do bloqueioà venda livre nas farmácias da «pílula do dia seguinte»à promoção da abstinência como único métodoanticoncepcional, passando pela tentativa de agregarà lei cláusulas de consciência que permitam aos farmacêuticosnegar-se a vender anticoncepcionais.Nenhuma associação conservadora tomou abertamenteuma posição oficial contra os anticoncepcionais,temendo despertar a ira das mulheres americanasque tomam a pílula. “Não acho que haja umaguerra contra a anticoncepção”, disse à AFP a portavozda associação conservadora «Focus on the Family»,Carrie Gordon-Earll.No entanto, as feministas respondem que os factosapontam para o contrário. Bush nomeou uma militantecontra o aborto para a chefia do organismo socialencarregado da contracepção para mulheres debaixos rendimentos.Além disso, mencionam a recusa inexplicada daagência federal que regula alimentos e medicamentosno país (FDA) em autorizar a venda livre da «pílulado dia seguinte» e das campanhas para impedirque as seguradoras assumam os custos da pílula.Destacam, inclusivamente, que sob a capa da lutacontra o aborto ou gravidez na adolescência, ascampanhas oficiais dão destaque aos “perigos” dacontracepção.Por exemplo, o site de uma das principais associaçõesconservadoras, «Concerned Women for America»,qualifica o DIU (dispositivo intra-uterino) de«contraceptivo abortivo», embora não tenha sidoprovado por médicos.Os estados de Arkansas, Geórgia, Mississipi e Dakotado Sul, votaram leis que permitem aos farmacêuticosrecusarem vender a pílula.“Aqui não é a ‘eleição’ [ao direito do aborto] que éatacada, é a contracepção”, resumiu na terça-feira,em Washington, Hillary Clinton, senadora por NovaYork e possível candidata democrata à Casa Branca.Depois de terem combatido o aborto, “os militantes do‘direito à vida’ deram um passo adicional” contra oscontraceptivos, declarou à AFP Cristina Page, da associaçãofeminista Naral. “Ganharam tão amplamentea guerra contra o aborto, que já não esperam que umjuiz do Supremo de 86 anos se retire”, acrescentou.Se o presidente Bush nomear um terceiro juiz conservador(de um total de nove juízes vitalícios), onovo equilíbrio do Tribunal poderia levar a pôr emcausa o direito ao aborto, que data de 1973.“Várias vezes me surpreendi ao encontrar legisladoresno Congresso que apoiam firmemente os anticoncepcionais,mas que acreditam que a «pílula dodia seguinte» equivale a um aborto”, declarou à AFPLara Foley, professora de Sociologia da Universidadede Tulsa (Oklahoma, sul).Isabel MalsangAFP / PÁGINADa leitura de imagemao prazer da leiturarelato de uma experiênciaO coro pausado de cada sílaba se misturava ao silêncio da sala.As crianças já não se contentavam com um livro por encontro,mas exigiam dois e, às vezes, três.No começo de tudo são as imagens quenos fazem despertar para o mundo: aimagem da mãe, do pai, do ambiente,das coisas. Assim é também o despertarpara o prazer de ler, o prazer da leitura.Não quero, neste espaçotempo dotexto, dar soluções e fórmulas pedagógicaspara o ensino de leitura, mesmoporque não acredito que isso possa serensinado. Quero relatar acertos e errosdos quais fui testemunha ativa enquantobolsista de extensão do Programa deIncentivo à Leitura LerUERJ, do Institutode Letras da Universidade do Estado doRio de Janeiro (UERJ) e, posteriormente,como coordenadora de projetos de leituraem organizações não governamentais(ONGs) localizadas em comunidades debaixa renda, mas chamadas ‘favelas’.Quem em sua infância não se lembra deter ouvido histórias que fizeram sonhar epedir para que fossem recontadas? Jáhá muito contava histórias para minha filhae percebi que ela passara a olhar asimagens dos livros e a recontar a históriaouvida e sentida. Pensei, então, fazer omesmo com as crianças que vinham visitarnossa biblioteca todas as terças equintas-feiras, provenientes das classesde alfabetização de uma escola municipallocalizada ao lado da ONG. Pois foiatravés da contação de histórias que tiveminha primeira experiência como dinamizadorade leitura nessas comunidades.Nosso primeiro encontro foi um momentode conhecimento e reconhecimentodo espaço. Elas precisavam saber ondeestavam, quem eu era, o que faziam ali eporque tanta cor, tantas almofadas coloridas,colchonetes, e por fim, tantos livros. Ouvi de tudo:“A tia vai contar historinhas” outra retrucou: “não, ela jásabe ler, não precisa contar, vai ler”, “tem livrinho à beçaaqui, você já leu tudo, tia?”. O olhar delas brilhava comose estivessem em um parque de diversões, e porquenão? Ali era um lugar de sonhos e de desejos. Podiamnaquele espaçotempo desejar, podiam esquecer a realidadeque as esperava lá fora, podiam ter medos imagináriose esquecer os medos reais que sentiam a cada dia, acada noite... Aquilo tudo era só delas!Encontro após encontro, contava uma história diferente edepois a dinamizava com o resgate das brincadeiras deinfância, de minha infância: trava-línguas, o que é o queé, etc... Mas sempre vinha o mesmo pedido: “Conta, tia,aquela história de novo”. Então eu argumentava: “ Hojevou contar uma nova, mas depois deixo alguém contarpros colegas a do encontro passado”. Sendo assim, erapreciso pensar muito para escolher a criança que iria narrar.A cada vez, entregava o livro escolhido a cada umadelas. Com a ajuda das imagens e do que havia absorvidoda história, cada criança na sua vez, a ia contandonuma seqüência lógica e emocionada. Agora era eu queos admirava.Essa dinâmica se deu por mais de quatro meses. Quandoa maioria já conseguia ler algumas sílabas, passei a apresentar-lhesos livros com palavras. Agora não mais apenasimagens, mas letras e imagens que contavam histórias. Ocoro pausado de cada sílaba se misturava ao silêncio dasala. As crianças já não se contentavam com um livro porencontro, mas exigiam dois e, às vezes, três. Será que jáeram leitores/leitoras? Bem, acredito que já tinham prazerno que faziam: não era para elas/eles uma obrigação parapassar em provas e ter notas, mas era o momento delas/deles com aquele novo brinquedo: O LIVRO!Nota: ERRO de a Página — o artigo publicado nesta rubrica no mês de Junho com o título:«Meio ambiente, turistas e urubus», não é da autoria de Nilda Guimarães Alves mas sim deNeila Guimarães Alves, pelo erro as nossas desculpas às nossas duas colaboradoras.IE / FNFORA da escolaRenata Bastosdos SantosAluna do Mestradoem Educação daUniversidade do Estadodo Rio de Janeiro, UERJ,membro do Grupode pesquisa “Redesde conhecimento emeducação e comunicação:questão de cidadania”,do Laboratório Educaçãoe Imagem.19a páginada educaçãojulho 2006