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face a faceAna Alvimque escreve para um jornal ou uma revista. Tambémaí existem diferentes graus de importância quandose pronunciam sobre o trabalho dos outros.Mas quem determina, por exemplo, que um quadrodo pintor austríaco Gustav Klimt possa estaravaliado em 180 milhões de dólares? Haveráinstituições de tal forma influentes que inflacionamo valor de determinadas obras transformando-asno centro de um jogo especulativo?Mais uma vez penso que é a lei da oferta e daprocura quem estipula esses valores. Uma vez determinadoo valor de mercado de um determinadoartista – e o que referiu é sem dúvida uma referênciaincontornável do mundo da pintura contemporânea–, existe sempre quem procure adquirir umaobra desse autor, muitas vezes independentementede gostarem ou não da sua obra ou da relaçãoque tenham com ela, pelo valor acrescentado queela representa.Por outro lado, há quem também adquira obrasreconhecidas no mercado de arte pelo prestígiosocial que elas conferem. E essa situação tantodecorre no contexto internacional como a nível nacional,com obras de artistas como Júlio Resendeou Vieira da Silva.Nesse sentido, até que ponto o mercado nãodetermina, ou pelo menos influencia, a produçãodos artistas plásticos?Correndo o risco de poder especular na respostaque vou dar, acho muito possível que haja essetipo de influência. Pegando no exemplo concretode um artista cujos trabalhos se estejam a venderbem – e esse sucesso está directamente relacionadocom quem comercializa os trabalhos, habitualmentea cargo de uma galeria de arte –, existesempre a possibilidade de o galerista tentar persuadiro autor a manter a mesma linha de produção,independentemente da vontade de este querermudar o rumo do seu trabalho.O mesmo pode acontecer em termos pessoais,isto é, de trabalhar, mesmo que inconscientemente,em função da necessidade de vender ou deprocurar agradar aos potenciais compradores, oque também condiciona o trabalho de um autor.Nestes casos, ou se tem um outro emprego quepermita dar livre curso à criatividade ou está-sesujeito a todo o tipo de pressões, a começar poraquelas que são levantadas a nível interior.Como é que um artista, nomeadamente em Portugal,se promove e constrói um percurso? Apenasatravés das galerias de arte ou é possívelconstruir um percurso através de freelancer?As galerias de arte não estão acessíveis a qualquerartista que apresente as suas propostas. Partindoda minha própria experiência, sei que as galeriasque estão implantadas no mercado têm um determinadolote de artistas com quem trabalham regularmente.Nesse sentido, não se mostram particularmenteinteressadas em receber novos autores.E tendo de promover regularmente exposiçõesdos artistas que representam, habitualmente chegamao final da lista e voltam ao primeiro…As galerias mais recentemente implantadas sãoaquelas que estarão, à partida, mais receptivas areceber propostas de novos autores.Para além disso, há sempre a hipótese de recorrera espaços institucionais públicos ou privados, quesão mais acessíveis a propostas de artistas queainda não tenham nome no mercado e pretendammostrar o seu trabalho.Considera a Internet como um veículo válido depromoção da arte ou ela não permite a proximidadeexigida à contemplação do objecto artístico?De facto, a Internet limita-se a oferecer-nos a reproduçãode um trabalho, dando-nos apenas umaimagem do que ele representa. Ou já se conhecea obra do autor em questão e essa imagem é suficientepara avaliá-la ou de outra forma penso quedificilmente se comprará pela Internet um quadroque não se possa ver ao vivo. Falando em concretoda pintura, penso que ela pressupõe uma interacçãoentre o observador e a obra.No entanto, admito que enquanto veículo de divulgaçãoa Internet possa ter possibilidades interessantes,quanto mais não seja como forma delevar as pessoas a terem curiosidade de conhecero trabalho em presença.Partindo da sua experiência de professor noensino básico, considera que se valoriza suficientementeo ensino artístico na escola?Do ponto de vista teórico, penso que os programasmostram alguma preocupação no que se refereà importância do contacto e da apreciaçãoda obra de arte e à aquisição de conhecimentosde linguagem visual. De facto, para poder entenderaquilo que tenho à minha frente, ou pelomenos favorecer a sua compreensão, eu precisode dominar de algum modo aquele tipo de linguagem.A obra de arte deve ter em si uma presença suficientepara comunicar com o espectador, independentementedo seu nível cultural, mas essacomunicação será enriquecida existindo uma bagagemque abra perspectivas para aquilo que seprocura descodificar.Porém, em termos práticos, tenho algumas dúvidasrelativamente à possibilidade da implementaçãodos conteúdos dos programas, já que estadimensão teórica acaba por ser preterida em favorde actividades mais pragmáticas que esgotam otempo disponível para a sua concretização.Além disso, o programa de educação visual e tecnológicanão obedece a uma sequência temporale de conteúdos que permita a todos os professoresestarem mais ou menos em sintonia e agiremconcertadamente, o que determina a dispersão demeios e de objectivos.Em resultado disto, passa-se um ano a tentar darresposta a situações práticas muito concretas,como as efemérides, para mostrar trabalho à comunidadeescolar. Claro que nestas actividadeshá conteúdos que acabam por ser interiorizadospelos alunos, mas elas absorvem a maior parte daactividade de professores e alunos.Entrevistaconduzida porRicardo Jorge Costa27a páginada educaçãojulho 2006

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