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criatividade com vista à procura de soluções alternativase à possibilidade de transformação, se possa estendertanto à escola como à universidade?Sim, é nesse espírito de partilha de ideias, de identificação deproblemas comuns e de fluidez entre instituições que conduzimoseste processo, como forma de conseguirmos respondera problemas comuns mas também às possibilidades eopções existentes. Na perspectiva de que a nossa instituiçãosó é verdadeiramente educativa se estiver num processo permanentede aprendizagem.entrevista“A esperança é uma espécie de obrigaçãoprofissional para um educador”Ouvi recentemente uma entrevista na BBC com um ministrofinlandês, apresentado como o responsável peloplano social e económico que transformou o país, ondeera referido que a Finlândia possui o menor nível de disparidadese de discriminação (não sei se do mundo ou daEuropa), e ele pareceu-me muito modesto quando afirmounão ser difícil concretizar tais medidas. Desde então,costumo referir essa afirmação de que é possível fazerdesaparecer as disparidades que existem no mundo.No entanto, penso que a maioria dos governos não encaraessa possibilidade muito a sério, por não ser interessante,do ponto de vista dos valores do mercado, uma sociedadeonde não é estimulada a competição e o consumo.Como vê a situação na Finlândia após tal plano?A economia de mercado realmente não se interessa pelasmudanças que vêm acontecendo na Finlândia. Na verdadetrata-se de um novo modelo de engenharia social, de um ProjectoEconómico e Social. Hoje em dia os problemas são maiscomplexos do que eram antigamente e a social democraciaacredita na possibilidade de planeamento do futuro.Na Finlândia existe uma nova retórica e uma nova geração deadministradores públicos que encara a resolução dos problemascomo questões meramente técnicas. É o denominadoNew Public Management (Nova Administração Pública). Masnão é assim tão simples. Os problemas são muito complicados.Talvez no contexto anterior pudesse haver problemasque se limitassem a aspectos técnicos, mas hoje em dia jánão é assim.Será que alguma vez os problemas da humanidade foramfáceis de resolver…?Nunca foram fáceis de resolver, mas penso que talvez tenhaexistido uma crença nesse tipo de engenharia social. Em particularquando a social-democracia estava no poder e tinhauma forte convicção no seu optimismo em planear um futuroe nos indivíduos no seio da sociedade. Mas esse tipo de crençatem desaparecido.Acredita que um ideal de sociedade como a finlandesa temdesaparecido?Sim, tem desaparecido. E uma das marcas das sociedadespós-modernas em que vivemos é o desaparecimento da confiançae da própria ideia de progresso, e ao mesmo tempouma aceitação das contingências acompanhada da nostalgiada omnipotência do planeamento. Desapareceu o sentimentode poder controlar através do planeamento, característicados “tempos dourados”…Não acredita, então, nos tempos dourados. No que acreditaentão?Acredito na criatividade e acredito que nos movemos demasiadodepressa no sentido da destruição do planeta. Mas enquantoestivermos vivos haverá sempre esperança… Eu costumodizer em tom de brincadeira aos meus estudantes quea esperança é uma espécie de obrigação profissional paraum educador.O que diria para finalizar esta entrevista? Porque razãoescolhemos, e voltamos a escolher diariamente, a profissãode educadores?Muitas pessoas que me conhecem bem dizem que eu tenhouma perspectiva negra sobre muitos assuntos, mas que aomesmo tempo sou irritantemente optimista. Este aspecto daminha personalidade talvez esteja relacionado com a minhacuriosidade, com o meu interesse pela racionalidade e pelascomplexidades da vida. É uma espécie de paradoxo interior.É um dos mistérios da vida, e alguns parecem estar dentrode mim.Regina Leite Garcia“Qualquer tipo de inovação, de conhecimento científico ou de transformaçãocultural só tem reflexo nos currículos depois de há muitoter sido produzida fora da escola. A distância entre o que a escolapretende que a criança aprenda e o que as crianças desejam aprenderé imensa e talvez possa explicar o que vem sendo denominadofracasso escolar.”É habitualmente referido que a Finlândia possui o melhor sistema educativodo mundo. Aceita esta avaliação? E, em caso afirmativo, comoexplica esse sucesso?Eu penso que isso é apenas em parte verdade. Já tive oportunidade de conhecerdiferentes culturas e sistemas organizacionais e considero que nãose pode analisar separadamente os sistemas educativos das respectivas sociedades,das práticas políticas, da sociedade, da economia e das própriastendências sociais.Um bom sistema educativo está dependente de um conjunto de factores multifacetados.Não há, por isso, uma resposta simples relativamente ao que estána origem de um bom sistema educativo, até porque ele é resultado de umprocesso longo e amadurecido.Se o que diz é verdade, não considera ser injusto comparar diferentessistemas educativos, com diferentes contextos sociais, e procurarclassificá-los em função de parâmetros padronizados? Ou pior: tentartransferir experiências de um contexto para outro sem ter em conta asrespectivas especificidades? Qual é a sua opinião relativamente ao actualprocesso de comparação, avaliação e classificação dos sistemaseducativos a nível mundial?Penso que este modelo de avaliação e de comparação dos sistemas educativosa que temos vindo a assistir é injustificável. Tal como referi na minha palestra,é uma questão de estandardização do mundo, sob a égide da economia,que responde a uma lógica perversa do ponto de vista moral e político. Não háapenas uma resposta, já que a escola é produzida pela sociedade e é impossívelcomparar diferentes sistemas educacionais que acontecem em diferentescontextos e, a partir da comparação, classificação e avaliação premiar algunse punir outros e, tantas vezes chegando a sugerir que seja transplantado osistema considerado bem sucedido para contextos em que os sistemas foramconsiderados deficientes.Trata-se, mais uma vez, de um sistema disciplinador e punitivo, pelo que devemosquestionar-nos que tipo de poderes, ou quem nos órgãos de poder,estabeleceu este tipo de avaliação. Há muitas fontes identificáveis de poder,especialmente na área económica, que ilustram bem a actual relação entre aeconomia e a política. Hoje em dia é a economia que dita as regras e as práticassociais e educativas.Nesse sentido, reafirmo ser imoral estabelecer este tipo de abordagem e deprocurar fazer comparações entre nações com contextos muito diferentes.Mas ela é inerente à forte tendência de estandardização do mundo, que maisnão é do que uma forma de afirmar quem somos “nós” e quem são os “outros”.Trata-se mais uma vez de um processo de construção e manutençãoda hegemonia.Entrevista recolhida,conduzida e corrigidapor ReginaLeite GarciaTranscrita e compostapor RicardoJorge Costa37a páginada educaçãojulho 2006

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