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a produção da subjetividade ea apropriação do espaço na periferia ...

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acesso às crenças e às len<strong>da</strong>s <strong>da</strong> sua cultura.Do<strong>na</strong> Iraci pôde estabelecer uma forte ligação afetiva com sua mãe. Um eloapoia<strong>do</strong> num “ponto fixo”, a “valência positiva”, <strong>na</strong> perspectiva de Damergian (2001, p. 90).Esse apoio permitiu experiências <strong>na</strong>s quais a pulsão de vi<strong>da</strong> pudesse fluir, ou seja,experiências de troca de afetos e relacio<strong>na</strong>mentos saudáveis. Como disse Damergian (2001, p.101): “é de se pensar a luta heróica dessas mães para <strong>da</strong>r amor, acima de to<strong>do</strong>s os sofrimentosa que estão expostas”:Olha, minha mãe era uma pessoa pobre, mais muito boa de coração, minha mãe,meu pai eram pobres, mais pobres mesmo de não tê o que comê, mais ela tambémnão desprezou nem um filho, ela abraçava to<strong>do</strong>s os <strong>do</strong>ze com as mãos. (DONAIRACI, abril/2008)O modelo de mãe que Do<strong>na</strong> Iraci teve abraçava os <strong>do</strong>ze filhos com as mãos (nãocom tentáculos), portanto, sua subjetivi<strong>da</strong>de é forma<strong>da</strong> também pela prática pelo acolhimento,pelo carinho dividi<strong>do</strong> igualmente <strong>na</strong> hora <strong>da</strong> competição pelo abraço <strong>da</strong> mãe, ou seja, umasubjetivi<strong>da</strong>de fun<strong>da</strong><strong>da</strong> num ponto fixo que agrega, acolhe e compartilha o amor com to<strong>do</strong>sigualmente.Do<strong>na</strong> Iraci se emocionou ao relembrar a <strong>do</strong>r que foi perder esta principal figura desua vi<strong>da</strong> aos catorze anos de i<strong>da</strong>de. Sua mãe faleceu, vítima <strong>da</strong> varíola, após o parto de seudécimo terceiro filho, que não resistin<strong>do</strong> à <strong>do</strong>ença e ao parto prematuro de sete meses degestação, também morreu. São as adversi<strong>da</strong>des <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> para as quais, geralmente, não se estáprepara<strong>do</strong> para enfrentar.Entretanto, a jovem Iraci precisava elaborar a morte de sua mãe ocorri<strong>da</strong> após esseparto, e então foi trabalhar como parteira em um hospital <strong>da</strong> região: “Depois... depois que aminha mãe morreu... fui procurar a minha vi<strong>da</strong>, né?” disse Do<strong>na</strong> Iraci, emocio<strong>na</strong><strong>da</strong>. Isso nosremete a Freud (apud HALL; CAMPBELL & LINDZEY, 2000) quan<strong>do</strong> refere a umapossibili<strong>da</strong>de de reparação. Segun<strong>do</strong> Do<strong>na</strong> Iraci ela “sumiu”, precisava exorcizar umdemônio:[...] Eu fui pro inter<strong>na</strong>to (...) mais aí era muito puxa<strong>do</strong> (...) tinha uma freira que eramuito ruim, era muito ruim, a irmã Lídia... era o satanás, aquela não era nem pra serirmã, acho que ela era o capeta vesti<strong>do</strong> de gente. (...) Era uma atenta<strong>da</strong> aquela freira,aquela lá nem era pra ser freira, aquela... depois ela morreu. Meu pai, minhas irmãnão sabio onde é que an<strong>da</strong>va. Saí de casa sem mais nem menos, eu sumi. (...) Fuitrabalhar no hospital de Lagu<strong>na</strong> (...) porque eu tinha vontade de ser enfermeira. Aí<strong>na</strong>quela época eu fiz um curso, lá mesmo dentro <strong>do</strong> hospital fiz um curso e fuiaju<strong>da</strong>nte de parteira. (...) Porque eu gostava de criança, li<strong>da</strong>r com gente <strong>do</strong>ente,a<strong>do</strong>rava cui<strong>da</strong>r de gente <strong>do</strong>ente. (DONA IRACI, abril/2008).Elaborar as per<strong>da</strong>s, reparar os <strong>da</strong>nos sofri<strong>do</strong>s e causa<strong>do</strong>s fazem parte <strong>da</strong>subjetivi<strong>da</strong>de que é forma<strong>da</strong> e reforma<strong>da</strong> a partir de uma eleva<strong>da</strong> auto-estima.

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