III Simpósio Nacional Discurso, I<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e Socieda<strong>de</strong> (III SIDIS)DILEMAS E DESAFIOS NA CONTEMPORANEIDADEretórico da reafirmação <strong>de</strong> <strong>uma</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>.Dessa maneira, o engajamento com a questão parece ter representado, paraos participantes, a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> reafirmação dos vínculos <strong>de</strong> <strong>uma</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>nacional fortemente afirmada em <strong>uma</strong> relação <strong>de</strong> oposição nós/eles a partir dai<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> <strong>uma</strong> dupla relação <strong>de</strong> “traição” à britishness até então associada àempresa, tanto mais forte porque <strong>de</strong>tentora do “Royal Assesment” – aos olhos dosparticipantes, a Twinings, em <strong>uma</strong> dupla ruptura com seu status <strong>de</strong> representação <strong>de</strong>um “modo <strong>de</strong> ser” britânico, alterou um sabor tradicional e mudou sua fábrica para aPolônia.A discussão do tema articulou-se a partir <strong>de</strong> dois principais eixos <strong>de</strong>argumentação: <strong>de</strong> um lado, a referência exclusiva ao sabor do produto, criticando asalterações feitas, o que, em alguns momentos, implicava na sugestão <strong>de</strong> <strong>uma</strong> volta àfórmula anterior. O segundo aspecto, talvez mais importante na medida em quepo<strong>de</strong> ser revelador <strong>de</strong> <strong>uma</strong> natureza <strong>de</strong>liberativa da esfera pública <strong>online</strong>, é <strong>uma</strong>intensa politização do tema, observada <strong>sobre</strong>tudo a partir <strong>de</strong> três fatores <strong>de</strong>argumentação:Notou-se <strong>uma</strong> intensa politização do tema, percebida <strong>sobre</strong>tudo em trêsprincipais aspectos (a) O uso do tema como crítica da política inglesa, na medida emque a transferência da fábrica da Twinings da Inglaterra para a Polônia, em 2010, foiusada como argumento não apenas para criticar o <strong>no</strong>vo sabor, mas também parasugerir um boicote à marca; (b) A associação do consumo <strong>de</strong> chá a <strong>uma</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>específica, constituinte da auto-representação <strong>de</strong> um “modo <strong>de</strong> ser” britânico(“Britishness”) e, nesse aspecto, <strong>de</strong> caráter político; e (c) A <strong>de</strong>manda pública porinfluência na tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão da companhia: como resultado prático doengajamento <strong>online</strong> dos interessados na política comercial da empresa, <strong>de</strong>cidiu-se<strong>de</strong>sistir da <strong>no</strong>va fórmula e retomar o sabor antigo do chá em questão.Assim, não se trata do engajamento apenas em <strong>uma</strong> discussão <strong>sobre</strong> aalteração na quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ingredients <strong>de</strong> um chá, mas do <strong>de</strong>bate político dos laços<strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> vinculados ao consumo <strong>de</strong>ssa <strong>bebida</strong> – <strong>uma</strong> mitologia que, <strong>de</strong>safiada,leva a sua reafirmação imediata, na reiteração <strong>de</strong> <strong>uma</strong> representação da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>como elemento <strong>de</strong> afirmação <strong>de</strong> espaços sociais que a luta pelo direito <strong>de</strong> imposição<strong>de</strong> <strong>uma</strong> representação transforma, em vários aspectos, em um espaço político.
III Simpósio Nacional Discurso, I<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e Socieda<strong>de</strong> (III SIDIS)DILEMAS E DESAFIOS NA CONTEMPORANEIDADEReferências bibliográficasBARTHES, R. Mitologias. São Paulo: Difel, 1996.BHABHA, H. The location of culture. Londres: Routledge, 2008.BENINGTON, G. “Postal politics and the institution of the nation”. In: BHABHA, H.Nation and Narration. Londres: Routledge, 1991.CASTELLS, M. Communication power. Oxford: Oxford University Press, 2011.DURING, S. Cultural Studies: a critical introduction. Londres: Routledge, 2005.FERNBACK, J. “The individual within the collective: virtual i<strong>de</strong>ology and therealization of the collective principles”. In. JONES, S. G. Virtual Culture. Londres:Sage, 1997.GARCÊZ, L. “Luta por reconhecimento e participação política <strong>no</strong> Orkut”. In: MAIA, R.,GOMES, W. e MARQUES, F. P. J. A. Internet e participação política <strong>no</strong> Brasil. PortoAlegre: Sulina, 2011.GOMES, W. “Participação política <strong>online</strong>: questões e hipóteses <strong>de</strong> trabalho”. In:MAIA, R., GOMES, W. e MARQUES, F. P. J. A. Internet e participação política <strong>no</strong>Brasil. Porto Alegre: Sulina, 2011.GOMES, W. e MAIA, R. Comunicação e Democracia. São Paulo: Paulus, 2009.GRAHAM, T. “Needles in a haystack: a new approach for i<strong>de</strong>ntifygin and assessingpolitical talk in <strong>no</strong>n-political forums”. Jav<strong>no</strong>st – The Public. Vol. 15, <strong>no</strong>. 2, 2008.HABERMAS, J. The theory of communicative action.Vol.1. Boston: Beacon Press,1984.HABERMAS, J. Mudança estrutural da esfera pública. Rio <strong>de</strong> Janeiro: TempoBrasileiro, 1989.HABERMAS, J. A inclusão do outro. São Paulo: Loyola, 2007.