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Talento Esportivo no Desporto de Excelência - Ministério do Esporte

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TALENTO ESPORTIVOESTUDO DE INDICADORES SOMATO-MOTORES NA SELEÇÃO PARAO DESPORTO DE EXCELÊNCIAGaya, A.; Gonçalves da Silva, G.; Car<strong>do</strong>so, M. & Torres, L.ResumoNas diversas áreas das ativida<strong>de</strong>s artísticas, profissionais e esportivas a preocupação co m a <strong>de</strong>tecção e seleção <strong>de</strong>sujeitos com eleva<strong>do</strong> nível <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho ocupam estatuto privilegia<strong>do</strong>. I<strong>de</strong>ntificar crianças, jovens e adultosporta<strong>do</strong>res <strong>de</strong> aptidões superiores em diferentes <strong>do</strong>mínios tem se constituí<strong>do</strong> em objeto <strong>de</strong> estu<strong>do</strong> científico <strong>no</strong>smais varia<strong>do</strong>s campos disciplinares. Nas ciências <strong>do</strong> esporte, <strong>do</strong> mesmo mo<strong>do</strong>, tais preocupações são centrais econstituem-se provavelmente numa das áreas mais complexas e árduas <strong>de</strong> investigação. Neste senti<strong>do</strong>, este estu<strong>do</strong>objetiva discorrer sobre conceitos, pressupostos e procedimentos inerentes a prospecção, <strong>de</strong>tecção e seleção <strong>de</strong>talentos esportivos. Especificamente, trata-se <strong>do</strong> significa<strong>do</strong> genérico da expressão talento e as particularida<strong>de</strong>s daexpressão talento esportivo, das bases meto<strong>do</strong>lógicas para a <strong>de</strong>tecção <strong>do</strong> talento: a questão da avaliação e <strong>de</strong>cisão e<strong>do</strong>s procedimentos operacionais para a prospecção, <strong>de</strong>tecção e seleção <strong>de</strong> talentos esportivos, apresentan<strong>do</strong> asprincipais estratégias sugeridas pelo Projeto <strong>Esporte</strong> Brasil. Este tema é aborda<strong>do</strong> a partir <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong>experiências oriundas <strong>de</strong>ste projeto realiza<strong>do</strong> pela Re<strong>de</strong> Nacional <strong>de</strong> Centro <strong>de</strong> Excelência Esportiva (Re<strong>de</strong>CENESP) <strong>do</strong> Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong> <strong>do</strong> Brasil.Palavras Chave: indica<strong>do</strong>res somato-motores – seleção – talento esportivo – <strong>de</strong>sporto <strong>de</strong> excelênciaIntroduçãoNas diversas áreas das ativida<strong>de</strong>s artísticas,profissionais e esportivas a preocupação com a<strong>de</strong>tecção e seleção <strong>de</strong> sujeitos com eleva<strong>do</strong> nível <strong>de</strong><strong>de</strong>sempenho ocupam estatuto privilegia<strong>do</strong>.I<strong>de</strong>ntificar crianças, jovens e adultos porta<strong>do</strong>res <strong>de</strong>aptidões superiores em diferentes <strong>do</strong>mínios tem seconstituí<strong>do</strong> em objeto <strong>de</strong> estu<strong>do</strong> científico <strong>no</strong>smais varia<strong>do</strong>s campos disciplinares. Nas ciências<strong>do</strong> esporte, <strong>do</strong> mesmo mo<strong>do</strong>, tais preocupaçõessão relevantes e constituem-se provavelmentenuma das áreas mais complexas e árduas <strong>de</strong>investigação.O objetivo <strong>de</strong>ste estu<strong>do</strong> é o <strong>de</strong> discorrer sobreconceitos, pressupostos e procedimentos inerentesa prospecção, <strong>de</strong>tecção e seleção <strong>de</strong> talentosesportivos.Trataremos especificamente <strong>do</strong>s seguintestópicos:1. O significa<strong>do</strong> genérico da expressão talentoe as particularida<strong>de</strong>s da expressão talentoesportivo;2. As bases meto<strong>do</strong>lógicas para a <strong>de</strong>tecção <strong>do</strong>talento: a questão da avaliação e <strong>de</strong>cisão;3. Os procedimentos operacionais para aprospecção, <strong>de</strong>tecção e seleção <strong>de</strong> talentosesportivos, apresentan<strong>do</strong> as principais estratégiassugeridas pelo Projeto <strong>Esporte</strong> Brasil:3.1 Estu<strong>do</strong>s populacionais <strong>de</strong> <strong>de</strong>tecção <strong>de</strong>talentos motores;3.2 Estu<strong>do</strong>s <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lação da performanceesportiva;3.3 Procedimentos para a prospeção <strong>de</strong> talentosesportivos <strong>no</strong> âmbito da educação física e esporteescolar.3.4 Procedimentos para seleção e<strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong> talento esportivo.3.5 Pressupostos éticos <strong>do</strong> programas <strong>de</strong><strong>de</strong>tecção <strong>do</strong> talento esportivo.Nesta relação <strong>de</strong> tópicos que propomosabordar sugerimos um conjunto <strong>de</strong> termos quenecessariamente <strong>de</strong>vem ser <strong>de</strong>fini<strong>do</strong>soperacionalmente para que se mantenha uma clarae precisa compreensão sobre os conteú<strong>do</strong>s <strong>de</strong><strong>no</strong>sso projeto. Assim:• Por estu<strong>do</strong>s populacionais <strong>de</strong> <strong>de</strong>tecção <strong>de</strong>talentos motores <strong>de</strong>signamos os procedimentospassíveis <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar na população <strong>de</strong> escolaresindivíduos cujos os índices <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho numaou mais capacida<strong>de</strong>s ou habilida<strong>de</strong>s motorasrelacionadas ao rendimento esportivo situam-seem níveis superior em relação ao grupopopulacional <strong>de</strong> referência (resulta<strong>do</strong>s acima <strong>do</strong>percentil 98).• Por estu<strong>do</strong>s <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lação da performanceesportiva caracterizamos os procedimentos queapontam para a constituição <strong>de</strong> um quadro


complexo e hierárquico <strong>de</strong> exigências somáticas,motoras e psicológicas em diferentes modalida<strong>de</strong>sesportivas e em diferentes fases <strong>de</strong><strong>de</strong>senvolvimento motor capazes <strong>de</strong> prog<strong>no</strong>sticar,com alguma probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> acerto, o jovematleta <strong>de</strong> sucesso.• Por prospecção <strong>do</strong> talento esportivo<strong>de</strong>signamos os procedimentos que implicam emclassificar <strong>no</strong> grupo <strong>de</strong> talentos motores osindivíduos cuja configuração <strong>de</strong> sua estruturamorfológica e motora apresentam um perfil quecorresponda aos mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> performanceesportiva <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminadas modalida<strong>de</strong>s esportivas.• Por seleção <strong>do</strong> talento esportivorepresentamos o conjunto <strong>de</strong> procedimentosutiliza<strong>do</strong>s para a confirmação das capacida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><strong>de</strong>sempenho esportivo <strong>do</strong> jovem atleta (testes <strong>de</strong>laboratórios mais rigorosos e discriminantes etestes <strong>de</strong> habilida<strong>de</strong>s esportivas específicas,acompanhamento <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong>sindica<strong>do</strong>res <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho), bem como osprocedimentos para o encaminhamento <strong>de</strong>steatleta para quadros mais exigentes <strong>de</strong> performance(Projeto <strong>Talento</strong> <strong>Esportivo</strong>).Como já explicitamos, abordaremos o tema apartir <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> experiências oriundas <strong>do</strong>Projeto <strong>Esporte</strong> Brasil (Proesp-Br). Este projeto érealiza<strong>do</strong> pela Re<strong>de</strong> Nacional <strong>de</strong> Centro <strong>de</strong>Excelência Esportiva (Re<strong>de</strong> CENESP) <strong>do</strong>Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong> <strong>do</strong> Brasil.O Proesp-Br é um programa <strong>de</strong> alcancenacional e <strong>de</strong> cunho interinstitucional que envolvemais <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>zena <strong>de</strong> universida<strong>de</strong>s brasileiras ese realiza <strong>no</strong> âmbito da educação física e esporteescolar. Seu objetivo é o <strong>de</strong> <strong>de</strong>linear o perfil dascondições <strong>de</strong> crescimento e <strong>de</strong>senvolvimentosomatomotor, <strong>do</strong>s indica<strong>do</strong>res nutricionais e <strong>do</strong>sníveis da aptidão física relaciona<strong>do</strong>s à saú<strong>de</strong> e aorendimento esportivo <strong>de</strong> crianças e jovensbrasileiros na faixa etária entre 7 a 17 a<strong>no</strong>s.É importante sublinhar que o Proesp-Br,representa um conjunto amplo <strong>de</strong> intervenções <strong>no</strong>espaço da educação física e esporte escolar e quevão muito além das preocupações exclusivas com apromoção <strong>do</strong> talento esportivo expressas nesteestu<strong>do</strong>. O Proesp-Br <strong>de</strong>senvolve investigações <strong>de</strong>abordagem epi<strong>de</strong>miológica, projetos pedagógicos<strong>de</strong> intervenções na área da promoção da saú<strong>de</strong> e<strong>do</strong> ensi<strong>no</strong> <strong>do</strong>s jogos esportivos.O significa<strong>do</strong> genérico da expressão talento ea <strong>de</strong>finição operacional <strong>de</strong> talento esportivoDo ponto <strong>de</strong> vista etimológico, conforme oNovo Dicionário Aurélio (p. 1348), a expressãoorigina-se <strong>do</strong> latim talentu e <strong>do</strong> grego tálanton erefere-se a uma medida <strong>de</strong> peso e uma moedacorrente na antiguida<strong>de</strong>.Conforme Csikszentmihaly et al. (1972, cita<strong>do</strong>por Böhme, 2002) a utilização da expressão talento<strong>no</strong> senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> aptidão inata ou adquiridaprovavelmente tenha origem bíblica <strong>de</strong>corrente daparábola <strong>do</strong>s talentos (Mateus 25). Nesta passagem<strong>do</strong> Novo Testamento Jesus conta a história <strong>de</strong> umfazen<strong>de</strong>iro que ten<strong>do</strong> <strong>de</strong> realizar uma longa viagemdistribui a seus servos alguns talentos sugerin<strong>do</strong>que fizessem bom uso. No retor<strong>no</strong> da viajem ofazen<strong>de</strong>iro pe<strong>de</strong> contas aos seus servos. Um <strong>de</strong>lesmultiplicou as moedas que recebeu, enquantooutro, por me<strong>do</strong> <strong>de</strong> perdê-las escon<strong>de</strong>u-as emlugar seguro <strong>de</strong>volven<strong>do</strong>-as para o seu senhor.Refere a parábola que o fazen<strong>de</strong>iro elogiou o servoque utilizou a maior parte <strong>de</strong> seus talentos comhabilida<strong>de</strong> e repreen<strong>de</strong> aquele que, com me<strong>do</strong> <strong>de</strong>perdê-los apenas os escon<strong>de</strong>u.Decorrente <strong>de</strong> sua evolução semântica aexpressão talento consagrou-se com o significa<strong>do</strong><strong>de</strong> algo raro e valioso <strong>no</strong> <strong>do</strong>mínio intelectual ouartístico, ou, ainda, como aptidão natural ouhabilida<strong>de</strong> adquirida (Maia, 1996).No âmbito das práticas esportivas, como refereBorms (1997), um talento po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>fini<strong>do</strong> comoum indivíduo que, num <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> estágio <strong>de</strong><strong>de</strong>senvolvimento, dispõe <strong>de</strong> certas característicassomáticas, funcionais, psicológicas e <strong>de</strong>envolvimento social que o capacita, com gran<strong>de</strong>probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> acerto, para altas performancesem <strong>de</strong>terminadas disciplinas esportivas. Portanto,po<strong>de</strong>-se i<strong>de</strong>ntificar um talento esportivo como umindivíduo: (a) capaz <strong>de</strong> apresentar <strong>de</strong>sempenhosuperior num conjunto <strong>de</strong> habilida<strong>de</strong>s ecapacida<strong>de</strong>s; (b) capaz <strong>de</strong> manter uma elevadaestabilida<strong>de</strong> nestas habilida<strong>de</strong>s e capacida<strong>de</strong>sexcepcionais.Enfim, o talento esportivo é um indivíduoatípico <strong>no</strong> seio <strong>de</strong> sua população.Duas categorias <strong>de</strong> análise perfazem o conceito<strong>de</strong> talento expresso <strong>no</strong> parágrafo anterior: (a) o<strong>de</strong>sempenho superior ou atípico e, (b) a elevadaestabilida<strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>de</strong>sempenho. Esta duas categoriasnecessitam ser <strong>de</strong>finidas operacionalmente <strong>de</strong>forma a fundamentar os procedimentosmeto<strong>do</strong>lógicos que adiante serão <strong>de</strong>scritos.O <strong>de</strong>sempenho superior ou atípicoO significa<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho superior ouatípico conduz, conforme <strong>no</strong>ssa perspectiva <strong>de</strong>análise, aos quadros conceituais da estatística(Maia, 1993). O conceito <strong>de</strong> superior ou atípico é<strong>de</strong>corrente <strong>do</strong> conceito estatístico <strong>de</strong> <strong>no</strong>rmalida<strong>de</strong>.Normalida<strong>de</strong> objetivamente significa aprobabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ocorrência <strong>de</strong> um fenôme<strong>no</strong> <strong>de</strong>acor<strong>do</strong> com a curva <strong>no</strong>rmal ou curva <strong>de</strong> Gauss.


compararmos indica<strong>do</strong>res <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho emunida<strong>de</strong>s diferentes (velocida<strong>de</strong>, força, resistência,etc.), permitin<strong>do</strong> uma análise abrangente <strong>do</strong>sindica<strong>do</strong>res <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho. A estratégia ZCELAFISCS é um exemplo da utilização <strong>de</strong>escores Z como preditores <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho empráticas esportivas diversificadas (Matsu<strong>do</strong> et al.,1986).Consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> a curva <strong>de</strong> Gauss atribui-secomo <strong>no</strong>rmal os valores referentes a uma certacaracterística populacional que ocorre com maiorfreqüência e com maior regularida<strong>de</strong>.Acompanhan<strong>do</strong> a proposta <strong>do</strong> Programa Nacional<strong>de</strong> I<strong>de</strong>ntificação e Desenvolvimento <strong>de</strong> <strong>Talento</strong>s<strong>Esportivo</strong>s (Talent Search Program) <strong>do</strong> InstitutoAustralia<strong>no</strong> <strong>de</strong> <strong>Esporte</strong>s (Australian Institute ofSport, s.d.) i<strong>de</strong>ntificamos como indivíduos <strong>de</strong><strong>de</strong>sempenho superior ou atípicos os que situam-sealém <strong>de</strong> <strong>do</strong>is <strong>de</strong>svios padrão da média.Assim, para i<strong>de</strong>ntificarmos um talento énecessário situá-lo <strong>no</strong> seio <strong>de</strong> sua população e,mais que isso, verificar se ele está situa<strong>do</strong> além <strong>do</strong>scritérios <strong>de</strong> <strong>no</strong>rmalida<strong>de</strong> (operacionalmente<strong>de</strong>fini<strong>do</strong> como índices superiores ao percentil 98).A medida usual para a localização <strong>de</strong> um<strong>de</strong>termina<strong>do</strong> indivíduo <strong>no</strong> âmbito <strong>de</strong> suapopulação <strong>de</strong> origem é o Escore Z.Z = (X - M) / sX = valor obti<strong>do</strong> numa <strong>de</strong>terminada variávelM = média da populaçãos = Desvio padrãoO Escore Z é um escore padrão <strong>de</strong> média zeroe o <strong>de</strong>svio padrão 1. É, portanto, uma medidarelacionada ao <strong>de</strong>svio padrão que <strong>no</strong>s permitenumericamente situar em que espaço da curva <strong>de</strong>Gauss situa-se <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> indivíduo.Consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> este padrão <strong>de</strong> análise numadistribuição <strong>no</strong>rmal o atleta <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenhosuperior está localiza<strong>do</strong> acima <strong>de</strong> <strong>do</strong>is <strong>de</strong>sviospadrão ou 2Z o que correspon<strong>de</strong>aproximadamente ao percentil 98 <strong>de</strong> umapopulação com distribuição <strong>no</strong>rmal 1 . A utilização<strong>do</strong> escore Z é a<strong>de</strong>quada na medida em que permite1 Referem Kovar (1981) e Mali<strong>no</strong>wski, (1986), cita<strong>do</strong>spor Maia (1993, p.14) , a i<strong>de</strong>ntificação consistente <strong>de</strong>um talento apresenta a probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 0,0001, ou, emoutras palavras, diz-se que a probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>tecção<strong>de</strong> um talento é <strong>de</strong> 1 sujeito para cada 10000 <strong>no</strong> seio <strong>de</strong>uma população com características <strong>de</strong> distribuição<strong>no</strong>rmal.A estabilida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s indica<strong>do</strong>res <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenhoA prospecção e <strong>de</strong>tecção <strong>do</strong> talento esportivotem como pedra fundamental o conceito <strong>de</strong>estabilida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s indica<strong>do</strong>res <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho. Estacategoria <strong>de</strong> análise po<strong>de</strong> ser claramenteevi<strong>de</strong>nciada por questões muito simples. Questõesque resi<strong>de</strong>m <strong>no</strong> cotidia<strong>no</strong> <strong>de</strong> professores etreina<strong>do</strong>res cujas as preocupações centram-sesobre o prognóstico <strong>de</strong> um jovem atleta <strong>de</strong>sucesso. Questões <strong>do</strong> tipo: como prever que umpré-a<strong>do</strong>lescente campeão aos 10 a<strong>no</strong>s <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>po<strong>de</strong>rá também sê-lo aos 20 a<strong>no</strong>s? Como preverque um pré-a<strong>do</strong>lescente que hoje está mais forte eveloz que seus colegas <strong>de</strong> mesma ida<strong>de</strong>cro<strong>no</strong>lógica manterá esta superiorida<strong>de</strong> ao longo<strong>do</strong> tempo? Evi<strong>de</strong>ntemente, tais respostas<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m da possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> que os indica<strong>do</strong>res<strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho <strong>de</strong>sses jovens atletas possammanter certa estabilida<strong>de</strong> ao longo <strong>do</strong> tempo.Vejamos em <strong>de</strong>talhes o significa<strong>do</strong> <strong>de</strong>stesconceitos.Sobre os indica<strong>do</strong>res e critérios <strong>de</strong><strong>de</strong>sempenhoConsi<strong>de</strong>ramos como indica<strong>do</strong>res <strong>de</strong><strong>de</strong>sempenho o conjunto <strong>de</strong> variáveis somáticas,motoras, volitivas que estão na base <strong>do</strong>s critérios<strong>de</strong> seleção <strong>de</strong> jovens para as práticas esportivas.Em outras palavras, é o conjunto <strong>de</strong> variáveis quesão, por hipótese, capazes <strong>de</strong> dar visibilida<strong>de</strong> aaptidão motora em suas diversas componentes.Por exemplo: o Proesp-Br, em sua bateria <strong>de</strong> testesconsi<strong>de</strong>ra como indica<strong>do</strong>res <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenhosomático a massa corporal, a estatura eenvergadura; como indica<strong>do</strong>res motoresrelaciona<strong>do</strong>s especificamente ao <strong>de</strong>sempenhoesportivo consi<strong>de</strong>ra a velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>slocamento,agilida<strong>de</strong>, força explosiva <strong>de</strong> membros superiores einferiores e a capacida<strong>de</strong> aeróbia; como indica<strong>do</strong>rvolitivo consi<strong>de</strong>ra as características relacionadas aosucesso esportivo evi<strong>de</strong>nciadas através <strong>de</strong> umquestionário sobre motivação.Como critérios <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho para os testesmotores, como já referimos anteriormente,utilizamos valores superiores ao percentil 98.


Sobre a estabilida<strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>de</strong>sempenhoOs programas <strong>de</strong> <strong>de</strong>tecção e seleção <strong>de</strong> talentosesportivos estruturam-se sobre o postula<strong>do</strong> daestabilida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s indica<strong>do</strong>res <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho. Porestabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>signamos a manutenção absoluta ourelativa <strong>de</strong> um ou <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> indica<strong>do</strong>res<strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho <strong>no</strong> interior <strong>de</strong> uma distribuição <strong>de</strong>valores. A estabilida<strong>de</strong> absoluta eu estritarepresenta a ausência <strong>de</strong> alteração significativa <strong>de</strong>um indica<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho ao longo <strong>do</strong> tempoou a partir <strong>de</strong> um <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> perío<strong>do</strong>. Emlinguagem estatística representa a ausência <strong>de</strong>alteração significativa na magnitu<strong>de</strong> das médiasobtidas em diferentes pontos <strong>do</strong> tempo (Maia,s.d.). Exemplo: o tamanho <strong>do</strong>s pés, a partir <strong>de</strong> um<strong>de</strong>termina<strong>do</strong> perío<strong>do</strong>, mantém-se estável.A estabilida<strong>de</strong> relativa, também <strong>de</strong><strong>no</strong>minadacomo estabilida<strong>de</strong> <strong>no</strong>rmativa (Maia, 1993), po<strong>de</strong>ser operacionalizada pelos conceitos estatísticos <strong>de</strong>canal percentílico (canalização).No conceito <strong>de</strong> canalização os indivíduosmantêm as suas posições uns relativamente aosoutros, em cada distribuição <strong>de</strong> valores <strong>no</strong>sdiferentes pontos <strong>do</strong> tempo. Em outras palavras,há a canalização quan<strong>do</strong> um traço métrico ten<strong>de</strong> apossuir um padrão claramente <strong>de</strong>fini<strong>do</strong> <strong>de</strong>mudança em função da ida<strong>de</strong>.Em relação ao conceito <strong>de</strong> talento motorinteressa verificar a manutenção <strong>de</strong> escoreseleva<strong>do</strong>s relativamente às <strong>no</strong>rmas <strong>de</strong> referência dapopulação ao longo <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> crescimento(gráficos 1 e 2 representam isto).Todavia, é muito importante sublinhar que oconceito <strong>de</strong> estabilida<strong>de</strong> em se tratan<strong>do</strong> <strong>de</strong>indica<strong>do</strong>res <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho motor é muitopolêmico (ver Maia, 1993). Afirmar que um jovemque hoje apresenta níveis superiores <strong>de</strong> força emrelação a seus colegas <strong>de</strong> mesma faixa etáriamanterá esta superiorida<strong>de</strong> ao longo <strong>do</strong> tempo, éum risco excessivo. É necessário consi<strong>de</strong>rar queto<strong>do</strong> o processo <strong>de</strong> crescimento e<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> um pré-a<strong>do</strong>lescente, porexemplo, é regula<strong>do</strong> por fatores biológicos, <strong>de</strong>envolvimento e <strong>de</strong> intervenção. Há <strong>de</strong>terminantesgenéticas que possivelmente <strong>de</strong>finempotencialida<strong>de</strong>s e <strong>de</strong>signam capacida<strong>de</strong>s máximas<strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho. Há que consi<strong>de</strong>rar to<strong>do</strong>s osaspectos <strong>de</strong> envolvimento cultural que, em maiorou me<strong>no</strong>r escala, oportuniza ao indivíduo <strong>de</strong>dicarseou não a <strong>de</strong>terminada prática motora ouesportiva. Há, por fim, a intervenção <strong>do</strong>sprogramas <strong>de</strong> educação física, <strong>de</strong> treinamento, etc.Enfim, a complexida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fatores que envolve ocrescimento e <strong>de</strong>senvolvimento somatomotor nãopermite que possamos <strong>de</strong>linear quadros<strong>no</strong>rmativos genéricos para os indica<strong>do</strong>res <strong>de</strong>rendimento que possibilitem com firmeza indicarparâmetros para o prognóstico a longo prazo.Gráfico 1. Curvas <strong>de</strong> Estatura <strong>de</strong> Jovens Escolares <strong>do</strong> SexoMasculi<strong>no</strong> da Região Sul <strong>do</strong> BrasilEstatura (cm)SEXO MASCULINOIda<strong>de</strong>Gráfico 2. Curvas <strong>de</strong> Peso <strong>de</strong> Jovens Escolares <strong>do</strong> SexoMasculi<strong>no</strong> da Região Sul <strong>do</strong> BrasilPeso (kg)190185180175170165160155150145140135130125120115110795908580757065605550454035302520151078899101112São vários os estu<strong>do</strong>s em distintas variáveissomáticas e motoras que através da técnica <strong>de</strong>auto-correlação 2 <strong>de</strong>mostram a instabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>indica<strong>do</strong>res <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho motor em perío<strong>do</strong>salarga<strong>do</strong>s. Estu<strong>do</strong>s que realizamos <strong>no</strong> Proesp-Br,<strong>de</strong>monstraram claramente as dificulda<strong>de</strong>s daestabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> indica<strong>do</strong>res <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho,principalmente durante o perío<strong>do</strong> da puberda<strong>de</strong>.Em síntese, po<strong>de</strong>mos afirmar que oprognóstico sobre o futuro <strong>de</strong> um atleta <strong>de</strong> sucessose torna <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> um processo contínuo <strong>de</strong>acompanhamento, pelo me<strong>no</strong>s, e esta é aexperiência que temos a compartilhar, durante o2 A auto-correlação é o procedimento proposto porBloom (1964) para avaliar a estabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma variável<strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho em estu<strong>do</strong>s longitudinais. O autorconsi<strong>de</strong>ra como uma variável estável quan<strong>do</strong> o índice <strong>de</strong>correlação é igual ou superior a 0,50.1314SEXO MASCULINO101112Ida<strong>de</strong>1314151516161717percentil 90percentil 50percentil 10NCHS p90NCHS p50NCHS p10percentil 90percentil 50percentil 10NCHS p90NCHS p50NCHS p10


perío<strong>do</strong> peri-pubertário, on<strong>de</strong> a maturação sexual 3constitui uma variável interveniente <strong>de</strong> significativarelevância, alteran<strong>do</strong> <strong>de</strong>cisivamente a estabilida<strong>de</strong><strong>do</strong>s indica<strong>do</strong>res <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho em muitos jovensatletas.Procedimentos para <strong>de</strong>tecção <strong>do</strong> talentoesportivoPor tu<strong>do</strong> que até aqui <strong>de</strong>screvemos fica claroque os procedimentos para i<strong>de</strong>ntificar um talentoesportivo, em última análise, resumem-se emselecionar. Selecionar alguns sujeitos, por algumcritério <strong>no</strong> interior <strong>de</strong> um grupo. Portanto,selecionar um talento esportivo implica escolheralguém ou alguns entre vários sujeitos a partir <strong>de</strong>um critério <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> superior. Para que aseleção ocorra, <strong>no</strong> entanto, se faz necessário umaavaliação <strong>do</strong>s sujeitos, seguin<strong>do</strong>-se o processo <strong>de</strong><strong>de</strong>cisão baseada nesta avaliação. A avaliação <strong>do</strong>ssujeitos da população necessariamente envolvemedição, pontuação ou or<strong>de</strong>nação e <strong>de</strong>ve sersuportada por méto<strong>do</strong> científico através <strong>de</strong>robustos procedimentos estatísticos. Por último,embora seja óbvia tal afirmação, para que to<strong>do</strong>esse processo <strong>de</strong> seleção ocorra é necessário aexistência <strong>de</strong> variabilida<strong>de</strong> na característica aselecionar, posto que, com é evi<strong>de</strong>nte, se foremto<strong>do</strong>s iguais a escolha é indiferente e a seleção nãofaz qualquer senti<strong>do</strong>.Em síntese como refere Monteiro:Trata-se, essencialmente <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> avaliação.Partin<strong>do</strong> <strong>do</strong> pressuposto que a variabilida<strong>de</strong> existe napopulação a selecionar. Com uma avaliação correta,segue-se que a <strong>de</strong>cisão, embora condicionada porlimitações externas, como espaço, tempo, dinheiro, etc.,po<strong>de</strong> ser sempre tomada <strong>de</strong> forma objetiva e eficaz. (In.Maia, 2001, p.31).Torna-se especialmente relevante explicitar queas razões que <strong>no</strong>s levam a selecionar algunsa<strong>do</strong>lescentes e jovens em relação a outros<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m <strong>do</strong>s objetivos da seleção. Isto éevi<strong>de</strong>nte, todavia, o problema é que nem sempretais objetivos são diretamente quantificáveis ou,por outro la<strong>do</strong>, só po<strong>de</strong>m ser avalia<strong>do</strong>s após aseleção. Monteiro (Ibidém) <strong>no</strong>s traz um exemplo:<strong>no</strong> esporte o objetivo <strong>de</strong> ganhar competições não édiretamente mensurável e nem po<strong>de</strong> ser avalia<strong>do</strong>numa situação pré-seletiva. Por conseguinte tornaseimprescindível <strong>de</strong>finir através <strong>de</strong> análisesretrospectivas os indica<strong>do</strong>res <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho ou,3 Sem dúvida, o acompanhamento da maturação sexualrepresenta um procedimento muito importante <strong>no</strong>processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>tecção <strong>do</strong> talento esportivo.em outras palavras, os constituintes principais dacapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> prestação esportiva, <strong>de</strong> forma amaximizar a sua correlação com esse objetivo final.Esta é, em última análise o princípio quefundamenta os procedimentos <strong>de</strong> <strong>de</strong>tecção <strong>do</strong>talento esportivo. É a partir <strong>de</strong>stes princípios que<strong>de</strong>senvolvemos <strong>no</strong>ssos estu<strong>do</strong>s <strong>no</strong> âmbito <strong>do</strong>Projeto <strong>Esporte</strong> Brasil em sua vertente da aptidãofísica relacionada ao rendimento esportivo <strong>no</strong>interior da Re<strong>de</strong> CENESP.Por outro la<strong>do</strong>, <strong>de</strong>vemos consi<strong>de</strong>rar <strong>no</strong>processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>tecção <strong>do</strong> talento esportivo apresença <strong>de</strong> duas componentes <strong>de</strong> avaliação e<strong>de</strong>cisão. A primeira envolve uma dimensãoambiental representada por exemplo: pelosprogramas <strong>de</strong> trei<strong>no</strong>, componentes sociais epsicológicas, etc. A segunda envolve umadimensão pessoal mais ou me<strong>no</strong>s condicionadapelas características inatas <strong>do</strong> sujeito(características genéticas) por exemplo: suatreinabilida<strong>de</strong>, sua estrutura morfológica efuncional, etc. É claro que o produto final quegarante o sucesso <strong>de</strong> um esportista, bem como avalida<strong>de</strong> da escolha ou seleção <strong>do</strong>s sujeitos comalto <strong>de</strong>sempenho vai <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r da contribuição dasduas componentes: das componentes ambientais ecomponentes genéticas. No entanto, é <strong>de</strong>fundamental importância que se registre que se osfatores ambientais (os programas <strong>de</strong> trei<strong>no</strong>, porexemplo) fossem os fatores <strong>de</strong>terminantes únicosda performance, então a i<strong>de</strong>ntificação precoce <strong>de</strong>indivíduos mais fortes, velozes, resistentes etc., nãofaria qualquer senti<strong>do</strong>. Em outras palavras,po<strong>de</strong>mos afirmar que os programa <strong>de</strong> <strong>de</strong>tecção <strong>do</strong>talento esportivo só são viáveis se assumirmos ahipótese <strong>de</strong> que a intervenção das habilida<strong>de</strong>spessoais (características genéticas) são as principais<strong>de</strong>terminantes da performance. Enfim, <strong>de</strong>vemosressaltar que somente a partir <strong>de</strong>sse pressuposto éque se torna relevante os esforços <strong>no</strong> âmbito dainvestigação científica relaciona<strong>do</strong> à i<strong>de</strong>ntificaçãoprecoce <strong>do</strong> talento esportivo.Aspectos meto<strong>do</strong>lógicos para a <strong>de</strong>tecção <strong>do</strong>talento esportivoA meto<strong>do</strong>logia para <strong>de</strong>tecção <strong>do</strong> talentoesportivo <strong>do</strong> Projeto <strong>Esporte</strong> Brasil, como járeferimos, compõe-se <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong>estratégias que abrange os seguintes aspectos: (1)os estu<strong>do</strong>s populacionais <strong>de</strong> <strong>de</strong>tecção <strong>de</strong> talentosmotores (2) os estu<strong>do</strong>s em populações específicasna área das modalida<strong>de</strong>s esportivas (mo<strong>de</strong>lação daperformance), (3) os estu<strong>do</strong>s para a prospeção <strong>de</strong>talentos esportivos <strong>no</strong> âmbito da educação física eesporte escolar e, (4) Procedimentos para seleção e<strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong> talento esportivo


Os Estu<strong>do</strong>s populacionais <strong>de</strong> <strong>de</strong>tecçãoOs estu<strong>do</strong>s populacionais <strong>de</strong> <strong>de</strong>tecção <strong>de</strong>talentos motores constituem a primeira fase <strong>do</strong>programa <strong>de</strong> <strong>de</strong>tecção <strong>do</strong> talento esportivo. Nestaprimeira fase selecionamos através <strong>do</strong> conjunto <strong>de</strong>medidas e testes <strong>de</strong> campo pré-a<strong>do</strong>lescentes ea<strong>do</strong>lescentes, <strong>no</strong>rmalmente escolares, queapresentam perante seu grupo níveis eleva<strong>do</strong>s em<strong>de</strong>terminadas qualida<strong>de</strong>s físicas e psicológicas.Portanto, são sujeitos que provavelmenteapresentam algumas qualida<strong>de</strong>s genéticas que lheimputam uma significativa variação <strong>do</strong> fenótipo <strong>no</strong>seio <strong>de</strong> seu próprio grupo. São sujeitos com gran<strong>de</strong>potencial somatomotor, elevada motivação parafatores relaciona<strong>do</strong>s à performance esportiva eeleva<strong>do</strong> grau <strong>de</strong> persistência na busca <strong>de</strong> seusobjetivos, o que, por hipótese, sugere boaprobabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> confirmarem -se como esportista<strong>de</strong> sucesso.A estratégia é simples e resulta: em primeirolugar da avaliação <strong>no</strong>rmativa. Ou seja A partir <strong>de</strong>um conjunto <strong>de</strong> valores <strong>de</strong> referência quecaracterizam um da<strong>do</strong> estrato populacional numconjunto <strong>de</strong> testes <strong>de</strong> aptidão física em escalapercentílica, selecionam-se os sujeitos que situamseacima <strong>do</strong> percentil 98 em algum <strong>do</strong>s testesmotores relaciona<strong>do</strong>s ao rendimento 4 .Exemplo: Em um conjunto <strong>de</strong> 505 estudantesentre 12 e 14 a<strong>no</strong>s <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is sexos avalia<strong>do</strong>s <strong>no</strong>âmbito <strong>do</strong> Projeto <strong>Esporte</strong> Brasil <strong>no</strong> Rio Gran<strong>de</strong><strong>do</strong> Sul aplicou-se o seguinte conjunto <strong>de</strong> testes <strong>de</strong>aptidão física relacionada ao rendimento esportivo<strong>de</strong>scritos <strong>no</strong> quadro 1.Quadro 1. Bateria <strong>de</strong> testes PRODESP relaciona<strong>do</strong> aorendimentoTestesObjetivosO teste <strong>do</strong> quadra<strong>do</strong> Agilida<strong>de</strong>(4x4m.)20 metros (em seg) Velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>slocamentoSalto longitudinal (cm) Força explosiva <strong>de</strong> membrosinferioresCorrida <strong>de</strong> 9 minutos Resistência <strong>de</strong> longa duração(distância em m)Consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> o ponto <strong>de</strong> corte como percentil98 obtivemos os seguintes resulta<strong>do</strong>s:• 0,5% (3) atingiram o ponto <strong>de</strong> corte emum teste• 0,2% (1) atingiu o ponto <strong>de</strong> corte em <strong>do</strong>istestes (velocida<strong>de</strong> e salto horizontal)• 0,2% (1) atingiu o ponto <strong>de</strong> corte em trêstestes (velocida<strong>de</strong>, agilida<strong>de</strong> e salto horizontalEm resumo nesta primeira fase <strong>de</strong> estu<strong>do</strong>spopulacionais, partin<strong>do</strong> da hipótese que atingir<strong>de</strong>sempenho eleva<strong>do</strong> num conjunto <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong>somatomotoras pressupõe predisposição genética(Cooper, 1991), <strong>no</strong> Projeto <strong>Esporte</strong> Brasilselecionamos estudantes com índices <strong>de</strong>performance igual ou superior ao percentil 98 empelo me<strong>no</strong>s um <strong>do</strong>s testes <strong>de</strong> aptidão física.Os Estu<strong>do</strong>s Populacionais Específicos na Áreadas Modalida<strong>de</strong>s Esportivas.Os estu<strong>do</strong>s populacionais visan<strong>do</strong>especificamente <strong>de</strong>terminadas modalida<strong>de</strong>sesportivas ocorrem <strong>no</strong> Projeto <strong>Esporte</strong> Brasil apartir <strong>de</strong> <strong>do</strong>is procedimentos bem níti<strong>do</strong>s. (1) Aavaliação e análise <strong>de</strong> atletas em formação emdiferentes faixas etárias, em diferentes modalida<strong>de</strong>sesportivas. São atletas <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho eleva<strong>do</strong> emcompetições nacionais tais como Jogos daJuventu<strong>de</strong>, Jogos Escolares Brasileiros.Esses atletas <strong>de</strong> eleva<strong>do</strong> rendimento sãoavalia<strong>do</strong>s através <strong>de</strong> conjunto <strong>de</strong> medidas e testes,sen<strong>do</strong> que entre estas medidas e testes encontramseos mesmos aplica<strong>do</strong>s aos escolares. Portanto, acomposição <strong>de</strong> um perfil por modalida<strong>de</strong> esportivanestas medidas e testes compartilha<strong>do</strong>s entreatletas e escolares, <strong>no</strong>s permite i<strong>de</strong>ntificar <strong>no</strong>interior da população <strong>de</strong> escolares aqueles sujeitosem que o perfil somatomotor se aproxima ao perfilexigi<strong>do</strong> para uma <strong>de</strong>terminada prática esportiva.Exemplo: Na tabela que segue apresentamos operfil médio <strong>do</strong>s atletas <strong>de</strong> han<strong>de</strong>bol masculi<strong>no</strong> dasequipes colocadas entre 1 o e 4 o lugares <strong>no</strong>s Jogosda Juventu<strong>de</strong> realiza<strong>do</strong> em Recife em julho <strong>de</strong>2001 em algumas medidas somáticas e testes <strong>de</strong>aptidão física compara<strong>do</strong>s ao perfil <strong>de</strong> um grupo<strong>de</strong> escolares na mesma faixa etária quecompartilharam das mesmas medidas e testes.Os resulta<strong>do</strong>s da tabela sugerem diferençasestatisticamente significativas em to<strong>do</strong>s osindica<strong>do</strong>res <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho (ao nível <strong>de</strong>significância <strong>de</strong> 0,05). Todavia, o procedimento <strong>de</strong>diferença entre médias não é suficientementerobusto para discriminar os grupos. Ou, em outraspalavras, não é suficiente para distinguir o grupo<strong>de</strong> atletas <strong>do</strong>s escolares, <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> que, conhecidasas características <strong>de</strong> um <strong>no</strong>vo indivíduo, se possaprever se pertence ou não ao grupo <strong>de</strong> atletas.Compreen<strong>de</strong>-se facilmente o que queremos dizeratravés das figuras a, b e c.4 O mo<strong>de</strong>lo proposto por Cooper (1991) sugerepercentil 90 em pelo me<strong>no</strong>s 2 testes, já o mo<strong>de</strong>loAustralia<strong>no</strong> refere percentil 98 em um teste.


Tabela 1. Médias e Desvios Padrão <strong>de</strong> Atletas e Escolares em alguns testes <strong>de</strong> Aptidão físicaATLETASESCOLARESMEDIDAS MÉDIA D.PADRÃO MÉDIA D.PADRÃO PROBAB.(p)Peso 71,45 9,40 58,09 13,01 0,003Estatura 178,39 5,04 164,65 12,35 0,001Salto Horiz. 211,54 13,31 191,43 34,10 0,01120 metros 2,96 0,12 3,16 0,41 0,035Fonte: Projeto <strong>Esporte</strong> Brasil/Re<strong>de</strong> CENESPFigura 1. Resulta<strong>do</strong>s possíveis na comparação entre populaçõesFigura (a) Figura (b) Figura (c)Fonte: Rocha, In. Maia, J. A .R., 2001, p.19.Na figura (a), apesar das diferenças entre asmédias po<strong>de</strong>rem ser estatisticamente significativas,ocorre uma gran<strong>de</strong> sobreposição nas distribuiçõese as diferenças interindividuais sobrepõe-se àdiversida<strong>de</strong> interpopulacional.Na figura (b), há uma diferenciação real entre asdistribuições <strong>de</strong> cada população. A diferença entreas médias é tal que permite que a população <strong>de</strong>origem <strong>de</strong> cada indivíduo possa ser i<strong>de</strong>ntificadasem ambigüida<strong>de</strong>s, ou seja é possível através <strong>do</strong>svalores da variável analisada prever a qual grupopertence um sujeito submeti<strong>do</strong> a tal medida outeste. É este procedimento que a<strong>do</strong>tamos <strong>no</strong>Projeto <strong>Esporte</strong> Brasil, portanto o quepreten<strong>de</strong>mos é selecionar as variáveis quemaximizam as diferenças (discriminam) entre osgrupos <strong>de</strong> atletas e <strong>de</strong> escolares e como tal, a partirda comparação entre atletas e escolares i<strong>de</strong>ntificaraqueles escolares que situam-se <strong>no</strong> espaçocorrespon<strong>de</strong>nte a curva <strong>do</strong>s atletas.Na figura (c) as diferenças entre as médias sãopróximas ou iguais porém um <strong>do</strong>s gruposapresenta valores extremos na variável analisada.Em <strong>no</strong>ssas análises este procedimento não seria omais a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong> posto que não é <strong>de</strong> se esperar queas médias <strong>de</strong> atletas e escolares nas medidas etestes somatomotores sejam semelhantes.Mas, há um outro problema nesta análise. Eeste problema <strong>de</strong>corre <strong>do</strong> fato <strong>de</strong> que a aptidãofísica constitui-se num constructo multifatorial. Ouseja, A estatura, o peso bem como, a forçaexplosiva <strong>de</strong> membros inferiores e a velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong><strong>de</strong>slocamento em 20 metros se correlacionam em<strong>no</strong>sso exemplo. Isto po<strong>de</strong> significar que aomedirmos as variáveis isoladamente nãoconsi<strong>de</strong>ramos os efeitos compartilha<strong>do</strong> entre elas,e isto é muito relevante. Por outro la<strong>do</strong>, aotratarmos os da<strong>do</strong>s com técnicas univariadas, nósestamos corrompen<strong>do</strong> o conceito mo<strong>de</strong>r<strong>no</strong> <strong>de</strong>aptidão física, consi<strong>de</strong>rada como um construtomultifatorial. É importante salientar que o perfil <strong>de</strong>um atleta <strong>de</strong> han<strong>de</strong>bol não é a simples soma <strong>de</strong>suas capacida<strong>de</strong>s físicas (técnicas, táticas, volitivas)analisadas separadamente. O perfil <strong>do</strong> atleta écomplexo e as diversas componentes assumempesos distintos, portanto <strong>de</strong>ven<strong>do</strong> ser consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>sna <strong>de</strong>finição <strong>do</strong> perfil a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong>. Tais observações,necessariamente <strong>no</strong>s impões a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong>utilização <strong>de</strong> técnicas estatísticas multivariadas.Portanto, a partir <strong>do</strong>s argumentos propostos sefez necessário que <strong>no</strong>ssos estu<strong>do</strong>s na área <strong>de</strong>esporte <strong>de</strong> rendimento e <strong>de</strong>tecção <strong>de</strong> talentosesportivos <strong>no</strong> Projeto <strong>Esporte</strong> Brasil a<strong>do</strong>tassemprocedimentos estatísticos que fossem capazes <strong>de</strong>maximizar diferenças entre grupos <strong>de</strong> atletas eescolares e respeitassem o conceito multifatorial daaptidão esportiva. Assim, optamos pela utilizaçãoda análise da função discriminante.Voltemos ao exemplo <strong>do</strong> han<strong>de</strong>bol.A análise da função discriminante, como jáanunciamos, serve para distinguir grupos entre si.O analista seleciona um conjunto <strong>de</strong> característicaspara as quais espera que os grupos apresentemdiferenças significativas (Reis, 1997). Vamos suporque a figura abaixo sugere <strong>do</strong>is grupos Atletas(A) eEscolares (B) caracteriza<strong>do</strong>s por duas variáveisin<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes Peso (X1) Estatura (X2). A funçãodiscriminante Y resulta da combinação linear<strong>de</strong>stas variáveis. As elipses em volta <strong>do</strong>s pontoscontém uma proporção <strong>de</strong>finida, que representamo intervalo <strong>de</strong> confiança (por exemplo 95%). Alinha reta pontilhada <strong>de</strong>finida a partir <strong>do</strong>s pontos


<strong>de</strong> encontro <strong>de</strong>ssas duas elipses, uma vez projetadasobre o eixo Y dá-<strong>no</strong>s um ponto <strong>de</strong> <strong>de</strong>marcação(ponto <strong>de</strong> corte) que será utiliza<strong>do</strong> para classificar<strong>no</strong>vos indivíduos. E, ainda sobre o eixo Yprojetam-se as probabilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> um sujeitopertencer a algum <strong>do</strong>s grupos.Figura 2. Função discriminante para <strong>do</strong>is grupoFonte: Reis, E. 1997, p.207Mas como se classifica um sujeito <strong>no</strong> grupo <strong>de</strong>Atletas ou Escolares?No Projeto <strong>Esporte</strong> Brasil a<strong>do</strong>tamos o critério <strong>de</strong>classificação <strong>de</strong> Fischer para <strong>do</strong>is grupos. Nesteprocedimento estatístico o jovem sujeito <strong>de</strong>verá serclassifica<strong>do</strong> <strong>no</strong> grupo <strong>de</strong> Atletas se estiver maispróximo da média (centrói<strong>de</strong>) <strong>de</strong>ste grupo <strong>do</strong> queda média (centrói<strong>de</strong>) <strong>do</strong> grupo <strong>de</strong> Escolares, isto ése a distância entre seu score discriminante e ocentrói<strong>de</strong> <strong>do</strong> grupo <strong>de</strong> Atletas for me<strong>no</strong>r ou igualque a mesma distância relativamente ao grupo <strong>de</strong>Escolares.Vamos <strong>de</strong>screver <strong>de</strong> outra forma utilizan<strong>do</strong> afigura da Função Discriminante. As duas elipsesrepresentam o conjunto <strong>de</strong> valores <strong>de</strong> cada grupo.O centrói<strong>de</strong> é o ponto médio que representa ogrupo. Portanto temos um centrói<strong>de</strong> em cadaelipse. A distância <strong>de</strong> cada ponto <strong>de</strong> uma elipse aocentrói<strong>de</strong> <strong>de</strong> um ou outro grupo é o que vai <strong>de</strong>finirsua posição. Ou seja estan<strong>do</strong> mais próximo <strong>do</strong>centrói<strong>de</strong> <strong>do</strong>s Atletas <strong>de</strong> han<strong>de</strong>bol (1,156), e sen<strong>do</strong>o sujeito um Escolar (cujo o centrói<strong>de</strong> é -0,534),nós o interpretamos como um potencial atleta <strong>de</strong>han<strong>de</strong>bol. E ainda <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>n<strong>do</strong> da distância <strong>do</strong> seuvalor na elipse ao centrói<strong>de</strong> <strong>do</strong> grupo <strong>de</strong> Atletas épossível <strong>de</strong>finir uma probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> acerto comoveremos <strong>no</strong> exemplo que retiramos <strong>de</strong> <strong>no</strong>ssobanco <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s referentes a escolares <strong>do</strong> RioGran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul e atletas <strong>de</strong> han<strong>de</strong>bol <strong>do</strong>s Jogos daJuventu<strong>de</strong> <strong>de</strong>ste a<strong>no</strong>.Tabela 2. Comparação entre os resulta<strong>do</strong>s médios <strong>do</strong>s atletas e alguns escolares classifica<strong>do</strong>s como potencias talentospara a prática <strong>do</strong> han<strong>de</strong>bol.VÁRIAVEIS ATLETAS ESCOLAR 1 ESCOLAR 2 ESCOLAR 3 ESCOLAR 4Peso 71,45 Kg 66 Kg 68 Kg 74Kg 83,5KgEstatura 178,39 cm 171,00 Kg 180,00 cm 180,00 cm 176,00 cmSalto Horiz. 191,39 cm 203,00 cm 156,00 cm 191,00 cm 192,00 cm20 metros 3,16 seg. 2,92 seg. 3,16 seg. 2,95 seg. 3,18 seg.Probabilida<strong>de</strong> - 50% 51% 71% 74%Fonte: Projeto <strong>Esporte</strong> Brasil/Re<strong>de</strong> CENESPCabe ressaltar que o mo<strong>de</strong>lo utiliza<strong>do</strong> nestaanálise ainda <strong>no</strong>s permite fazer um estu<strong>do</strong>prognóstico interessante através da Matriz <strong>de</strong>classificações. Esta matriz i<strong>de</strong>ntifica aocorrência em valores absolutos e percentuais<strong>de</strong> Escolares com características <strong>de</strong> Atletas(falsos negativos ou <strong>no</strong>ssos potencias talentos),da mesma forma que i<strong>de</strong>ntifica Atletas comperfil <strong>de</strong> escolares (falsos positivos). A tabela 3apresenta a matriz <strong>de</strong> classificação para oexemplo utiliza<strong>do</strong> neste ensaio.Tabela 3. Matriz <strong>de</strong> ClassificaçãoGrupo <strong>de</strong> AtletasGrupo <strong>de</strong> EscolaresGrupo <strong>de</strong> Atletas 43 295,6% 4,4%Grupo <strong>de</strong> Escolares 7 3815,6% 84,4%Total da amostra bem classificada = 90%Fonte Projeto Brasil <strong>Esporte</strong>/Re<strong>de</strong> CENESP


Por fim <strong>no</strong>s resta anunciar que o Projeto Brasil<strong>Esporte</strong> <strong>de</strong>senvolveu mo<strong>de</strong>los ao aqui apresenta<strong>do</strong>para esportes como: futsal, basquete, volei, futebol<strong>de</strong> campo e atletismo. Nossa expectativa é quenum futuro próximo o acompanhamento <strong>de</strong> atletasjovens e <strong>de</strong> potenciais talentos esportivos <strong>no</strong>spermita aperfeiçoar <strong>no</strong>ssos mo<strong>de</strong>los heurísticos e,<strong>de</strong>ssa forma, <strong>no</strong>s aproximar, passa a passo, <strong>de</strong>mo<strong>de</strong>los isomórficos passíveis <strong>de</strong> se constituíremem instrumentos valiosos na ótica <strong>do</strong>s programas<strong>de</strong> <strong>de</strong>tecção <strong>do</strong> talento esportivo. Mas sempre coma clara percepção das limitações <strong>de</strong> um programacientífico cujos os procedimentos meto<strong>do</strong>lógicossão fundamentalmente probabilístico e , cujos osda<strong>do</strong>s apenas <strong>no</strong>s apontam hipótese ou conjecturassempre predispostas a refutações.Pressupostos éticos para a <strong>de</strong>tecção <strong>de</strong>talentos esportivosÉ muito comum <strong>no</strong> âmbitos da literaturapedagógica em especial e nas tendênciasi<strong>de</strong>ntificadas como pedagogia/sociologia críticasem <strong>no</strong>sso país, apreciações extremamentenegativas aos programas <strong>de</strong> <strong>de</strong>tecção <strong>de</strong> talentos.Tais apreciações, embora possam <strong>de</strong>stacar umconjunto <strong>de</strong> argumentos pontuais, <strong>no</strong>rmalmentepo<strong>de</strong>m ser resumi<strong>do</strong>s <strong>no</strong> princípio <strong>de</strong> que qualquerprojeto <strong>de</strong> <strong>de</strong>tecção <strong>de</strong> talentos estãonecessariamente associa<strong>do</strong>s com a manipulação,opressão ou a coerção cruel <strong>de</strong> muitos jovensatletas. Esta visão, se por um la<strong>do</strong>, po<strong>de</strong> serjustificada através <strong>de</strong> algumas evidências empíricas,principalmente a partir <strong>de</strong> alguns eventosconheci<strong>do</strong>s da história <strong>do</strong> esporte, todavia, poroutro la<strong>do</strong>, não po<strong>de</strong> ser generalizada e tão poucaatribuída a qualquer projeto <strong>de</strong> <strong>de</strong>tecção <strong>de</strong>talentos como se a manipulação, opressão ecoerção <strong>de</strong> crianças e jovens fossem princípiosinerentes da estas práticas pedagógicas. Semdúvida, esta é uma visão reducionista, muitorecheada <strong>de</strong> preconceitos i<strong>de</strong>ológicos e,principalmente, ela própria discriminante, namedida em que ao criticar programas <strong>de</strong> <strong>de</strong>tecção<strong>de</strong> talentos esportivos, impe<strong>de</strong> o <strong>de</strong>senvolvimento<strong>de</strong> procedimentos pedagógicos passíveis <strong>de</strong>aten<strong>de</strong>r as necessida<strong>de</strong>s especiais <strong>de</strong> crianças ejovens potencialmente vocaciona<strong>do</strong>s às práticasesportivas <strong>de</strong> excelência.O Proesp-Br na sua vertente <strong>de</strong> esporte <strong>de</strong>rendimento esforça-se para a i<strong>de</strong>ntificação e<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> jovens atletas <strong>de</strong> sucesso.Preocupa-se em i<strong>de</strong>ntificar a<strong>do</strong>lescentes e jovenscom potencial talento para as práticas esportivasmais exigentes. Todavia, como se po<strong>de</strong> verificarpelas estratégias a<strong>do</strong>tadas está muito distante daspreocupações expressas pelos seus críticos. Oprograma <strong>de</strong> talentos esportivos <strong>do</strong> Proesp-Br<strong>de</strong>senvolve-se a partir <strong>de</strong> um quadro axiológicoque <strong>no</strong>rmatiza suas ações pedagógicas. Aosa<strong>do</strong>lescentes e jovens com potencial perfil parapráticas esportivas <strong>de</strong> excelência que somoscapazes <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar <strong>de</strong>dicamos alguns cuida<strong>do</strong>s,tais como:• Reconhecemos as evidências baseadas naspesquisas sobre a<strong>do</strong>lescentes e jovens nas diversasáreas disciplinares e <strong>de</strong>lineamos práticas <strong>de</strong>intervenção referenciadas às exigências ecaracterísticas das múltiplas paisagens culturais <strong>de</strong><strong>no</strong>ssa população;• Proporcionamos oportunida<strong>de</strong>s e jamaisprometemos ou garantimos êxitos;• Evitamos gerar expectativas <strong>de</strong>masiadas <strong>de</strong>sucesso esportivo;• Proporcionamos suporte <strong>de</strong> informações eassessoria aos pais ou responsáveis;• Encorajamos uma abordagem pedagógicamultidisciplinar <strong>no</strong> <strong>de</strong>senvolvimento e formação<strong>do</strong> jovem atleta;• Encorajamos a participação efetiva <strong>do</strong>professor <strong>de</strong> educação física <strong>do</strong> jovem atleta <strong>no</strong>programa <strong>de</strong> talento esportivo <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a fase inicial<strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação <strong>do</strong> talento motor na escola, até afase <strong>de</strong> encaminhamento aos locais <strong>de</strong> avaliação daREDE CENESP e aos locais <strong>de</strong> treinamento;• Encorajamos a participação <strong>do</strong>s jovensatletas em práticas esportivas diversas;• Respeitamos plenamente o jovem atleta <strong>no</strong>que tange a suas expectativas, seus <strong>de</strong>sejos eopções quanto a ingressar e participar <strong>do</strong>programa, <strong>de</strong>finir sua(s) modalida<strong>de</strong>s(s)esportiva(s), etc.Em forma <strong>de</strong> conclusãoPreocupamo-<strong>no</strong>s neste ensaio em externaralgumas <strong>de</strong> <strong>no</strong>ssas idéias e estratégias que,enten<strong>de</strong>mos, possam colaborar efetivamente com aprática esportiva <strong>de</strong> rendimento em <strong>no</strong>sso país.Salientamos, da mesma forma que muitas <strong>de</strong>ssasidéias estão em curso <strong>no</strong> Projeto <strong>Esporte</strong> Brasilque <strong>de</strong>senvolvemos junto ao Centro <strong>de</strong> Excelência<strong>Esportivo</strong> da UFRGS e a Re<strong>de</strong> CENESP. Todavia,temos clareza que o esporte <strong>de</strong> rendimentoembora sua relevância social, representa umaprática restrita a um conjunto muito peque<strong>no</strong> <strong>de</strong>crianças e jovens. Investigações em países <strong>de</strong> ponta<strong>no</strong> esporte <strong>de</strong> alto rendimento sugerem que aproporção <strong>de</strong> jovens que se consagram comotalentos esportivos, ou seja, atletas que atingemequipes nacionais em competições <strong>de</strong> alta exigênciaesportiva correspon<strong>de</strong>m a 1/10000 das criançasque iniciam suas práticas esportivas na infância.


Portanto, outras tantas idéias compartilhadas com<strong>no</strong>ssos companheiro <strong>de</strong> trabalho <strong>no</strong> âmbito <strong>do</strong>esporte <strong>de</strong> lazer, esporte escolar e esporte parapopulações especiais expressam <strong>no</strong>ssa intenção <strong>de</strong>ver consolida<strong>do</strong> uma política <strong>de</strong> educação eesporte para crianças e jovens que <strong>no</strong>rmatizeestratégias capazes <strong>de</strong> tornar o esporte uma práticaverda<strong>de</strong>iramente <strong>de</strong>mocrática, on<strong>de</strong> o acesso nãoesteja bloquea<strong>do</strong> por qualquer barreiradiscriminatória. Temos a clareza que muitos óbices<strong>de</strong>vem ser ultrapassa<strong>do</strong>s, mas, da mesma forma,contamos com o empenhamento, a <strong>de</strong>dicação e avonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s aqueles que tem <strong>no</strong> esporte suaprincipal ativida<strong>de</strong>. Professores, pesquisa<strong>do</strong>res,dirigentes e atletas, to<strong>do</strong>s somos responsáveis pelo<strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong> esporte em <strong>no</strong>sso país. Damesma forma <strong>de</strong>sejamos que os orgãos dirigentes<strong>do</strong> esporte brasileiro (O MET, COB, asconfe<strong>de</strong>rações e fe<strong>de</strong>rações, os organismos <strong>do</strong>sesta<strong>do</strong>s e municípios) estejam sensibiliza<strong>do</strong>s emotiva<strong>do</strong>s para mudar a face <strong>do</strong> esporte brasileiro.Esta é uma tarefa coletiva que <strong>de</strong>vemos comurgência torná-la realida<strong>de</strong>.ReferênciasBLOOM, B.S. Stability and Change in HumanCharacteritics. John Wiley &, Inc. New York. 1964.BÖHME, M. T. S., <strong>Talento</strong> esportivo. In: Gaya, A.;Marques A. Tani, G. (eds) <strong>Desporto</strong> para Crian ças eJovens – Razões e Finalida<strong>de</strong>s. Publicação Conjunta daUniversida<strong>de</strong> <strong>do</strong> Porto – Portugal, Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral<strong>do</strong> Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul – Brasil e Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> SãoPaulo – Brasil (<strong>no</strong> prelo).BORMS, J. Early i<strong>de</strong>ntification and Sport Talent. AKinathropometric view. An Iventational paperpresented at the International Symposium of Scienceand Tech<strong>no</strong>logy in Sports. Porto Alegre, 1997.COOPER, K. H. Saú<strong>de</strong> e Boa Forma para seu Filho.Editora Nórdica Ltda, 1992.GAYA, A. Projeto <strong>Esporte</strong> Brasil. CENESP/UFRGS,Secretaria Nacional <strong>de</strong> <strong>Esporte</strong>s, Ministério <strong>do</strong> <strong>Esporte</strong>e Turismo, 2001. Disponível em:MAIA, J.A.R. Abordagem Antropobiológica daSelecção em <strong>Desporto</strong>: Estu<strong>do</strong> multivaria<strong>do</strong> <strong>de</strong>indica<strong>do</strong>res bio-sociais da selecção em an<strong>de</strong>bolistas <strong>do</strong>s<strong>do</strong>is sexos <strong>do</strong>s 13 aos 16 a<strong>no</strong>s <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>. Tese <strong>de</strong>Doutoramento em Ciências <strong>do</strong> <strong>Desporto</strong>. Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong>Ciências <strong>do</strong> <strong>Desporto</strong> e <strong>de</strong> Educação Física.Universida<strong>de</strong> <strong>do</strong> Porto. 1993.MAIA, J.A.R. Genética e Práticas Desportivo-Motoras.Actas <strong>do</strong> Seminário. 2001MAIA, J.A.R. O Prognóstico <strong>do</strong> Desempenho <strong>do</strong><strong>Talento</strong> <strong>Esportivo</strong>: Uma Análise Crítica. RevistaPaulista <strong>de</strong> Educação Física, 10 (2), p. 179 – 193, 1996.MATSUDO, V. K. R. Detecção <strong>de</strong> <strong>Talento</strong>s <strong>Esportivo</strong>s–Centro <strong>de</strong> Estu<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Laboratório <strong>de</strong> Aptidão Física<strong>de</strong> São Caeta<strong>no</strong> <strong>do</strong> Sul - 1996.REIS, E. Estatística Multivariada Aplicada. Ed. Sílabo,Ltda, Lisboa, <strong>no</strong>vembro <strong>de</strong> 1997.AbstractSPORT TALENTMOTOR SOMATIC INDICATORS IN THE SELECTION TO SPORT OF EXCELLENCEIn the several areas of artistic, professionals and sports activities, the concern with the <strong>de</strong>tection and selection ofsubject with high performance level occupy privileged statute. To i<strong>de</strong>ntify children, youths and adult carriers ofsuperior aptitu<strong>de</strong>s in different <strong>do</strong>mains has been constitute in object of scientific study in the most varied disciplinefields. In the sciences of the sport, in the same way, such concerns are central and are probably constituted in one ofthe most complex and arduous areas of investigation. In this sense, this study objectifies to discourse about concepts,presupposeds and procedures inherents to search, <strong>de</strong>tection and selection of sports talents. Specifically, it is treatedthe generic meaning of the expression talent and the particularities of the expression sports talent, themetho<strong>do</strong>logical bases for the <strong>de</strong>tection of the talent: the subject of the evaluation and <strong>de</strong>cision of the operationalprocedures for the search, <strong>de</strong>tection and selection of sports talents, presenting the main strategies suggested by theProjeto <strong>Esporte</strong> Brasil. This theme is approached starting from a group of experiences <strong>de</strong>rived from this projectaccomplished by the National Net of Center of Sports Excellence (CENESP net) of the Ministry of the Sport ofBrazil.Key Words: somatic and motor indicators – selection – sport talent – sport of excellence

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