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Fundamentos Pedagógicos PST – da reflexão à prática

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<strong>Fun<strong>da</strong>mentos</strong> pe<strong>da</strong>gógicos doPROGRAMA SEGUNDO TEMPO<strong>da</strong> reflexão à práticaLiv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd 1 11/11/2009 10:16:04


Ministério do EsporteMinistro de Estado do Esporte: Orlando Silva de Jesus JuniorSecretário Executivo do Ministério do Esporte: Wadson Nathaniel RibeiroSecretário Nacional de Esporte Educacional: Julio FilgueiraChefe de Gabinete: Fábio Roberto HansenAssessora Técnica do Gabinete: Elaine Cristina SicilianiCoordenadora Geral de Formalização de Convênios: Luciana HomrichCoordenadora de Apoio Administrativo: Eidilamar RibeiroDiretora do Departamento de Vivência e Iniciação Esportiva - Segundo Tempo: Gianna LeprePerimCoordenadora Geral de Operação: Raquel TallaricoCoordenadora de Implementação: Thais Massumi HiguchiCoordenadora de Análise Técnica de Relatório de Cumprimento de Objeto: Jéssyka CamposCoordenadora Geral de Eventos e Suprimentos: Silva Regina de Pinho BortoliCoordenadora Geral de Acompanhamento Pe<strong>da</strong>gógico e Administrativo: Claudia BernardoDiretor do Departamento de Esporte Estu<strong>da</strong>ntil: Apolinário RebeloCoordenadora Geral de Políticas Públicas de Juventude e Recursos Incentivados: DanielleFermiano GruneichEditora <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Estadual de MaringáReitor: Prof. Dr. Décio SperandioVice-Reitor: Prof. Dr. Mário Luiz Neves de AzevedoDiretor <strong>da</strong> Eduem: Prof. Dr. Ivanor Nunes do PradoEditor-Chefe <strong>da</strong> Eduem: Prof. Dr. Alessandro de Lucca e BracciniConselho EditorialPresidente: Prof. Dr. Ivanor Nunes do PradoEditor Associado: Prof. Dr. Ulysses CecatoVice-Editor Associado: Prof. Dr. Luiz Antonio de SouzaEditores Científicos: Prof. Adson C. Bozzi Ramatis Lima, Profa. Dra. Ana Lúcia Rodrigues, Profa. Dra.Analete Regina Schelbauer, Prof. Dr. Antonio Ozai <strong>da</strong> Silva, Prof. Dr. Clóves Cabreira Jobim, Profa. Dra.Eliane Apareci<strong>da</strong> Sanches Tonolli, Prof. Dr. Eduardo Augusto Tomanik, Prof. Dr. Eliezer Rodrigues deSouto, Profa. Dra. Ismara Eliane Vi<strong>da</strong>l de Souza Tasso, Prof. Dr. Evaristo Atêncio Paredes, Prof. Dr. JoãoFábio Bertonha, Profa. Dra. Larissa Michelle Lara, Profa. Dra. Luzia Marta Bellini, Prof. Dr. Manoel MessiasAlves <strong>da</strong> Silva, Profa. Dra. Maria Suely Pagliarini, Profa. Dra. Maria Cristina Gomes Machado, Prof. Dr.Oswaldo Curty <strong>da</strong> Motta Lima, Prof. Dr. Raymundo de Lima, Prof. Dr. Reginaldo Benedito Dias, Prof. Dr.Ronald José Barth Pinto, Profa. Dra. Rosil<strong>da</strong> <strong>da</strong>s Neves Alves, Profa. Dra. Terezinha Oliveira, Prof. Dr.Valdeni Soliani Franco, Profa. Dra. Valéria Soares de AssisEquipe TécnicaProjeto Gráfico e Design: Marcos Kazuyoshi SassakaFluxo Editorial: Edneire Franciscon Jacob, Mônica Tanamati Hundzinski, Vania Cristina Scomparin,Edilson DamasioArtes Gráficas: Luciano Wilian <strong>da</strong> Silva, Marcos Roberto AndreussiMarketing: Marcos Cipriano <strong>da</strong> SilvaComercialização: Norberto Pereira <strong>da</strong> Silva, Paulo Bento <strong>da</strong> Silva, Solange Marly OshimaLiv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd 2 11/11/2009 10:16:04


Amauri Aparecido Bássoli de Oliveira eGianna Lepre PerimOrganizadores<strong>Fun<strong>da</strong>mentos</strong> pe<strong>da</strong>gógicos doPROGRAMA SEGUNDO TEMPO<strong>da</strong> reflexão à práticaMaringá2009Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd 3 11/11/2009 10:16:04


Copyright © 2009 para os autoresTodos os direitos reservados. Proibi<strong>da</strong> a reprodução, mesmo parcial, por qualquerprocesso mecânico, eletrônico, reprográfico etc., sem a autorização, por escrito, dos autores.Todos os direitos reservados desta edição 2009 para Eduem.Revisão textual e gramatical: Cláudia Maria PerroneNormalização textual e de referência: Cláudia Maria PerroneProjeto gráfico e diagramação: Marcos Kazuyoshi SassakaCapa (imagem/arte final): Fields ComunicaçãoFicha catalográfica: Edilson Damasio (CRB 9-1123)Revisão final: Cláudia Maria PerroneFonte: Aldine401 BTTiragem (versão impressa): 15.000 exemplaresDados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)(Biblioteca Central - UEM, Maringá – PR., Brasil)F981 <strong>Fun<strong>da</strong>mentos</strong> pe<strong>da</strong>gógicos do Programa Segundo Tempo : <strong>da</strong> refl exão à prática /Amauri Aparecido Bássoli de Oliveira, Gianna Lepre Perim (organizadores) -- Maringá: Eduem, 2009.301 p. : il. (algumas color.).Vários autores.ISBN 978-85-7628-192-41. Programa Segundo Tempo. 2. Projetos sociais – Esporte. 3. Esportes – <strong>Fun<strong>da</strong>mentos</strong>pe<strong>da</strong>gógicos. 4. Iniciação esportiva. I. Oliveira, Amauri Aparecido Bássoli de,org. II. Perim, Gianna Lepre, org. III. Título.CDD 21.ed. 796Eduem - Editora <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Estadual de MaringáAv. Colombo, 5790 - Bloco 40 - Campus Universitário87020-900 - Maringá-ParanáFone: (0xx44) 3261-4103 - Fax: (0xx44) 3261-1392Site: www.eduem.uem.br - E-mail: eduem@uem.brLiv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd 4 11/11/2009 10:16:04


SumárioAPRESENTAÇÃOJulio Cesar Monzú FilgueiraGianna Lepre PerimAmauri Aparecido Bássoli de Oliveira .................................. 7FUNDAMENTOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPO:ENTRELAÇAMENTOS DO ESPORTE, DO DESENVOLVIMENTOHUMANO, DA CULTURA E DA EDUCAÇÃOJosé Pereira de MeloJoão Carlos Neves de Souza e Nunes Dias .......................... 17FUNDAMENTOS DO LAZER E DA ANIMAÇÃO CULTURALVictor Andrade de MeloAngela BrêtasMônica Borges Monteiro....................................................... 45CORPO, GÊNERO E SEXUALIDADE: EDUCANDO PARA ADIVERSIDADESilvana Vilodre Goellner ........................................................ 73ESTILOS DE ENSINO E APRENDIZAGEM MOTORA: IMPLICAÇÕESPARA A PRÁTICAMíriam Stock PalmaNadia Cristina ValentiniRicardo PetersenHerbert Ugrinowitsch ........................................................... 89Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd 5 11/11/2009 10:16:04


QUESTÕES DA DEFICIÊNCIA E AS AÇÕES NO PROGRAMASEGUNDO TEMPOAlexandre Carriconde MarquesRuth Eugênia Ci<strong>da</strong>deKathya Augusta Thomé Lopes ............................................... 115ORGANIZAÇÃO E DESENVOLVIMENTO PEDAGÓGICO DOESPORTE NO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOPablo Juan GrecoSiomara A. SilvaLucídio Rocha Santos ............................................................. 163PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS PARA O PROGRAMASEGUNDO TEMPOSuraya Cristina DaridoAmauri Aparecido Bássoli de Oliveira .................................. 207PLANEJAMENTO DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPO: A INTENÇÃOÉ COMPARTILHAR CONHECIMENTOS, SABERES E MUDAR OJOGOAmauri Aparecido Bássoli de OliveiraEvando Carlos MoreiraHorácio Accioly JúniorMarcello Pereira Nunes ......................................................... 237NOTAS SOBRE OS AUTORES ........................................................ 297Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd 6 11/11/2009 10:16:04


APRESENTAÇÃOJulio Cesar Monzú Filgueira 1Gianna Lepre Perim 2Amauri Aparecido Bássoli de Oliveira 3Para a efetivação de uma política pública de esporte e lazer frentea qual assume a posição de proponente, formulador e articulador, oMinistério do Esporte responsabiliza-se pela realização de Programasque respondem às deman<strong>da</strong>s sociais gera<strong>da</strong>s num momento histórico degarantia e de ampliação do conjunto dos direitos constitucionais.O esporte e o lazer, conforme preconizam os artigos 6º e 217 <strong>da</strong>Constituição Federal, são direitos de ca<strong>da</strong> ci<strong>da</strong>dão, e é dever do Estadogarantir o seu acesso à socie<strong>da</strong>de. O acesso ao esporte e ao lazer contribuipara a reversão do quadro de vulnerabili<strong>da</strong>de social, atuando comoinstrumentos de formação integral dos indivíduos e, consequentemente,possibilitando o desenvolvimento <strong>da</strong> convivência social, a construção devalores, a promoção <strong>da</strong> saúde e o aprimoramento <strong>da</strong> consciência crítica e<strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia.De acordo com o disposto no documento <strong>da</strong> Política Nacional doEsporte (PNE),O Ministério do Esporte estabelece vínculos com um universocomposto de crianças, jovens, adolescentes, adultos, idosos, compessoas com deficiências ou com necessi<strong>da</strong>des educativas especiais,com o sistema esportivo nacional e com o sistema educacionalbrasileiro que articula a educação básica e superior. A importânciadesse universo, considerando-se sua complexi<strong>da</strong>de, amplitude eheterogenei<strong>da</strong>de, deman<strong>da</strong> do Ministério uma responsabili<strong>da</strong>desocial, que deve se concretizar em ações baliza<strong>da</strong>s, rigorosamente,1 Secretário Nacional de Esporte Educacional do Ministério do Esporte (SNEED/ME).2 Diretora do Departamento de Vivência e Iniciação Esportiva – Segundo Tempo (SNEED/ME).Professora <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Estadual de Londrina (UEL).3 Professor Associado do Departamento de Educação Física <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Estadual de Maringá –UEM. Coordenador Pe<strong>da</strong>gógico do Programa Segundo Tempo (SNEED/ME).Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd 7 11/11/2009 10:16:04


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOpor princípios humanísticos fun<strong>da</strong>mentais, inequivocamentedemocráticos (BRASIL, 2005).Nesse contexto, o esporte deve ser entendido como uma política deEstado com vista ao desenvolvimento <strong>da</strong> Nação, ao fortalecimento <strong>da</strong>identi<strong>da</strong>de cultural e <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia.Para a materialização <strong>da</strong> PNE, o Ministério do Esporte conta, em suaestrutura, com Secretarias finalísticas – entre estas a Secretaria Nacionalde Esporte Educacional (SNEED), à qual cabe a responsabili<strong>da</strong>de <strong>da</strong>spolíticas volta<strong>da</strong>s ao esporte educacional brasileiro. Assim, impõeseà SNEED, no âmbito de suas responsabili<strong>da</strong>des institucionais, umambiente fortemente marcado pela transversali<strong>da</strong>de de suas ações e pelaestreita articulação e alinhamento com as políticas públicas educacionaisvigentes no País.O grande desafio <strong>da</strong> atuação <strong>da</strong> SNEED é o fomento ao estabelecimentode políticas públicas de esporte educacional efetivas, desenvolvi<strong>da</strong>s deforma abrangente e continua<strong>da</strong>, para que seus resultados possam seravaliados e mensurados quanto à quali<strong>da</strong>de, eficácia e efetivi<strong>da</strong>de de seusobjetivos. Assim, a valorização <strong>da</strong>s parcerias institucionais com estados emunicípios e as ações que envolvem as estruturas educacionais, nas trêsesferas, assumem caráter estratégico.Essa assertiva toma forma concreta a partir <strong>da</strong> execução do ProgramaOrçamentário Vivência e Iniciação Esportiva Educacional – SegundoTempo, que tem por estratégia de funcionamento o estabelecimentode alianças e parcerias institucionais, mediante a descentralização <strong>da</strong>execução orçamentária e financeira para governos estaduais e municipais,organizações não governamentais e enti<strong>da</strong>des nacionais e internacionais,públicas ou priva<strong>da</strong>s, sem fins lucrativos. Por meio <strong>da</strong> celebração deconvênios com o Ministério do Esporte, essas enti<strong>da</strong>des se tornamresponsáveis pela execução do Programa, que se dá pelo funcionamentode Núcleos de Esporte Educacional (NEE).O Segundo Tempo é um programa estratégico do governo federalque tem por objetivo democratizar o acesso à prática e à cultura doesporte de forma a promover o desenvolvimento integral de crianças,adolescentes e jovens, como fator de formação <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia e melhoria <strong>da</strong>quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong>, prioritariamente <strong>da</strong>queles que se encontram em áreasde vulnerabili<strong>da</strong>de social.8AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd 8 11/11/2009 10:16:04


APRESENTAÇÃOOs NEE visam a ocupar o tempo ocioso de crianças, adolescentese jovens e oferecem, no contraturno escolar (no mínimo três vezes porsemana, duas horas por dia em seu modelo padrão), ativi<strong>da</strong>des esportivassob orientação de coordenadores e monitores de Educação Física e/ouEsporte, reforço alimentar e ativi<strong>da</strong>des complementares.As parcerias que viabilizam a implantação dos núcleos são defini<strong>da</strong>sa partir do modelo e <strong>da</strong>s diretrizes apresenta<strong>da</strong>s no Manual do ProgramaSegundo Tempo (<strong>PST</strong>) 4 e <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de local de ca<strong>da</strong> projeto. De acordocom a evolução do Programa, o modelo e as diretrizes foram sendomodificados de modo a aprimorar todo o sistema.A PNE considera que o esporte é condição essencial para odesenvolvimento humano, frequentemente negado, principalmente, àscama<strong>da</strong>s sociais de baixa ren<strong>da</strong>.Reconheci<strong>da</strong> sua importância no desenvolvimento integral doindivíduo e na formação <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia, a garantia de acesso ao esporte,prioritariamente, à população carente e aos marginalizados constituisenum poderoso instrumento de inclusão social, de favorecimento<strong>da</strong> sua inserção na socie<strong>da</strong>de e de ampliação <strong>da</strong>s suas possibili<strong>da</strong>desfuturas (BRASIL, 2005).Nessa perspectiva, o esporte educacional deve ser compreendido paraalém de sua forma institucionaliza<strong>da</strong>, ou seja, como to<strong>da</strong> forma de ativi<strong>da</strong>defísica que contribua para a aptidão física, o bem-estar mental, a interação,a inclusão social e o exercício <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia. Consequentemente, assumecomo elementos indissociáveis de seu propósito pe<strong>da</strong>gógico as ativi<strong>da</strong>desde lazer, recreação, práticas esportivas sistemáticas e/ou assistemáticas,mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des esportivas e jogos ou práticas corporais lúdicas <strong>da</strong> culturabrasileira, de forma a possibilitar ampla vivência e formação humana e deci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia, sobretudo de crianças, adolescentes e jovens.Com essa compreensão de esporte, o Programa Segundo Tempo buscaoferecer a prática esportiva a seu público-alvo. Desde sua criação em 2003,o Programa já atendeu a mais de três milhões de crianças, adolescentes ejovens, com um investimento do governo federal de aproxima<strong>da</strong>menteR$ 800.000.000,00 (oitocentos milhões de reais) 5 .4 Manual do Programa Segundo Tempo. Disponível no site: www.esporte.gov.br5 Evolução do <strong>PST</strong>. Relatórios de Gestão.AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)9Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd 9 11/11/2009 10:16:05


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOAtualmente, o Programa atende simultaneamente em torno deum milhão de crianças, adolescentes e jovens distribuídos em torno de1.300 municípios de to<strong>da</strong>s as regiões do País. São números expressivos,mas ain<strong>da</strong> longe de serem significativos no universo de 35 milhões depotenciais beneficiados, considerando-se o total de alunos matriculadosem 2008 na Educação Básica 6 .Embora o crescimento quantitativo do Programa, nos últimos anos,seja uma reali<strong>da</strong>de, a SNEED tem consciência de seus limites na busca<strong>da</strong> universalização do acesso ao esporte – seja pelo orçamento que nãoalcança a magnitude <strong>da</strong> deman<strong>da</strong>, seja pelo modelo de execução pautadona descentralização de recursos prevista na norma que rege a celebraçãode convênios no âmbito do Governo Federal, que, entre outras questões,impacta na descontinui<strong>da</strong>de do atendimento.Na compreensão <strong>da</strong> SNEED, o caminho para a democratização doesporte é a articulação entre o sistema educacional e o sistema esportivo,entendendo-a como essencial para assegurar a ampliação <strong>da</strong> participação deescolares, de todos os níveis de ensino, em ativi<strong>da</strong>des e eventos esportivos.Assim, há priori<strong>da</strong>de em articulação por parte desta Secretaria em to<strong>da</strong>s asações que envolvam a escola e o esporte como um dos eixos norteadores.Enquanto caminha nesse sentido, nos últimos anos a gestão <strong>da</strong>SNEED tem investido no aprimoramento do Programa Segundo Tempo,partindo <strong>da</strong> premissa de que tão importante quanto ampliar o númerode beneficiados é qualificar o atendimento oferecido às crianças, aosadolescentes e jovens que integram os NEE <strong>da</strong>s parcerias estabeleci<strong>da</strong>s.Desde então, o Programa encontra-se em permanente evolução emuitas foram as mu<strong>da</strong>nças introduzi<strong>da</strong>s tanto em sua concepção, no quediz respeito às Diretrizes Gerais e Pe<strong>da</strong>gógicas, quanto em sua gestão,abrangendo os aspectos operacionais e administrativos <strong>da</strong> execução dosconvênios.No ano de 2007, a SNEED concentrou esforços na revisão <strong>da</strong>sdiretrizes operacionais e no processo de construção de sua PropostaPe<strong>da</strong>gógica, concebi<strong>da</strong> a partir dessa compreensão de esporte educacional,visando ao estabelecimento de uma identi<strong>da</strong>de nacional para o Programa eao desenvolvimento de um novo modelo de capacitação. Esse modelo estámais adequado à sua reali<strong>da</strong>de, em função <strong>da</strong>s dificul<strong>da</strong>des identifica<strong>da</strong>s no6 Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Censo 2008.10AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd 10 11/11/2009 10:16:05


APRESENTAÇÃOdecorrer do processo de capacitação, na mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de educação a distância,desenvolvido nos anos de 2004 a 2006.Para tanto, a SNEED buscou apoio nas Universi<strong>da</strong>des, entendendoque era preciso pauta-se no conhecimento e na experiência de estudiosos<strong>da</strong> área não apenas para colocar em prática mais uma política pública,mas essencialmente para <strong>da</strong>r um novo significado à Política de EsporteEducacional, promovendo discussões conceituais e a produção coletivade sua nova concepção.Por meio de parcerias entre o Ministério do Esporte e InstituiçõesFederais de Ensino Superior, nota<strong>da</strong>mente a Universi<strong>da</strong>de Federal do RioGrande do Sul (UFRGS) e a Universi<strong>da</strong>de Federal do Rio Grande doNorte (UFRN), inicialmente, foi reuni<strong>da</strong> uma equipe de 13 consultorese 42 professores formadores, todos <strong>da</strong> área de Educação Física e Esporte,com vasta experiência na formação de recursos humanos.Durante o ano de 2007, a equipe de consultores elaborou um materialcom base nas vivências de ca<strong>da</strong> profissional e nos resultados obtidos noexperimento de capacitação para o <strong>PST</strong>, desenvolvido nas regiões de SãoPaulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, por meio de um convêniocom a Fun<strong>da</strong>ção de Apoio à Universi<strong>da</strong>de Federal do Rio Grande doSul. As temáticas propostas inicialmente eram resultantes de estudos epesquisas produzi<strong>da</strong>s e dos experimentos realizados pelos consultoresnessa primeira aproximação com o <strong>PST</strong>. A partir desse material, foidesenvolvido o novo desenho para a capacitação dos recursos humanos eproduzido o livro <strong>Fun<strong>da</strong>mentos</strong> Pe<strong>da</strong>gógicos para o Programa Segundo Tempo 7 ,editado e publicado no início de 2008.Nesse ano, todo o trabalho <strong>da</strong> Secretaria esteve focado naimplementação <strong>da</strong>s mu<strong>da</strong>nças, a partir <strong>da</strong> valorização do papel que osrecursos humanos podem desempenhar na superação dos problemas e noalcance dos desafios estabelecidos para qualificar o Programa.A essência do trabalho realizado pautou-se na necessi<strong>da</strong>de deimplementação <strong>da</strong>s Diretrizes Pe<strong>da</strong>gógicas, embasa<strong>da</strong>s nos <strong>Fun<strong>da</strong>mentos</strong>Pe<strong>da</strong>gógicos para o Programa Segundo Tempo, e do novo modelo de capacitaçãoque passou a ser obrigatório para todos os recursos humanos inseridos no7 OLIVEIRA, Amauri A. Bássoli de; PERIM, Gianna L. (Org.). <strong>Fun<strong>da</strong>mentos</strong> pe<strong>da</strong>gógicos para oPrograma Segundo Tempo. 2. ed. Maringá: EDUEM, 2008.AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)11Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd 11 11/11/2009 10:16:05


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOPrograma por meio <strong>da</strong> formação de multiplicadores, de forma presenciale descentraliza<strong>da</strong>.Cabe registrar que, paralelamente, a ação <strong>da</strong> SNEED também estevevolta<strong>da</strong> à qualificação <strong>da</strong> seleção dos profissionais que atuam no Programa,por ocasião <strong>da</strong> formalização <strong>da</strong>s parcerias. Em 2007, estabeleceu-secomo obrigatória a graduação em Educação Física ou Esporte paraos profissionais que coordenam os NEE, exigência esta extensiva aosmonitores de ativi<strong>da</strong>des esportivas.Diferente <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de entre 2004-2005, quando muitos leigos eprofissionais de outras áreas atuavam no Programa Segundo Tempo, nosdois últimos anos essa reali<strong>da</strong>de alterou-se substancialmente. Em <strong>da</strong>doscoletados em 2008, mais de 95% dos coordenadores que atuavam noPrograma eram graduados em Educação Física 8 .Segundo estatísticas <strong>da</strong> SNEED, entre 2003 e 2008, o <strong>PST</strong> empregou13.619 coordenadores de núcleo e 38.491 monitores. Nos convêniosvigentes em 2009, atuam no programa 4.985 coordenadores e 12.562monitores, fazendo do Programa Segundo Tempo um dos maioresempregadores de profissionais de Educação Física do País.Em 2008, deflagrou-se o 1º Ciclo Nacional de Capacitação dosCoordenadores de Núcleo do Programa Segundo Tempo. Naquele ano,foram realizados três eventos de Capacitação de Coordenadores-Gerais e48 eventos de Capacitação de Coordenadores Pe<strong>da</strong>gógicos, Setoriais e deNúcleos, de forma presencial, em 20 locali<strong>da</strong>des, contemplando to<strong>da</strong>s asregiões do País. Os Encontros de Formação Pe<strong>da</strong>gógica foram realizadosnas capitais e/ou ci<strong>da</strong>des próximas dos locais de funcionamento dosnúcleos dos convênios.Com essa estrutura e o suporte logístico <strong>da</strong>s Universi<strong>da</strong>des Federaisdo Rio Grande do Sul e do Rio Grande do Norte, foi possível atender a4.481 coordenadores do <strong>PST</strong> durante o ano de 2008. 98 OLIVEIRA, A. A. Bássoli de; PERIM, G. L.; OLIVEIRA FILHO, A.; RECHENCKOSKY, L.;SOUZA, S. A. de; COUTINHO, S. <strong>da</strong> S. Avaliação Geral do 1º Ciclo de Capacitação dosCoordenadores de Núcleo do Programa Segundo Tempo. Trabalho apresentado no XIICongresso de Ciências do Desporto e Educação Física dos Países de Língua Portuguesa, realizadoentre os dias 17 a 20 de setembro de 2008, em Porto Alegre/RS, Brasil.9 Relatório de Capacitação <strong>da</strong> SNEED 2008.12AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd 12 11/11/2009 10:16:05


APRESENTAÇÃOEmbora os resultados <strong>da</strong>s avaliações realiza<strong>da</strong>s durante os eventosde capacitação sejam bastantes positivos no que diz respeito aoaproveitamento dos participantes e à quali<strong>da</strong>de do trabalho realizado,considera-se que há muito a se fazer para consoli<strong>da</strong>r as ações de formaçãodo <strong>PST</strong>, principalmente as de intervenção que facilitem a comunicação eo apoio pe<strong>da</strong>gógico entre os protagonistas do Programa. É importante quea proposta pe<strong>da</strong>gógica possa ser assumi<strong>da</strong> por todos os recursos humanosenvolvidos e, com isso, haja uma qualificação de to<strong>da</strong>s as suas ações.De forma complementar, para <strong>da</strong>r suporte à materialização <strong>da</strong> propostape<strong>da</strong>gógica, a SNEED implementou, com o apoio <strong>da</strong>s Universi<strong>da</strong>des,uma nova sistemática de acompanhamento pe<strong>da</strong>gógico e administrativodos convênios do <strong>PST</strong>. A nova sistemática é organiza<strong>da</strong> a partir de umarede de universi<strong>da</strong>des que formam Equipes Colaboradoras (EC), numtotal de 19 Equipes, compostas por professores de 33 Instituições deEnsino Superior (IES) localiza<strong>da</strong>s em to<strong>da</strong>s as regiões do País, com 190novos integrantes. Essa rede foi viabiliza<strong>da</strong> pela parceria estabeleci<strong>da</strong> coma Universi<strong>da</strong>de Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), amplia<strong>da</strong> apósa experiência bem-sucedi<strong>da</strong> na realização do Processo de Capacitação dosRecursos Humanos envolvidos no <strong>PST</strong>.O Sistema de Acompanhamento Pe<strong>da</strong>gógico e Administrativo dosConvênios do <strong>PST</strong> 10 torna-se viável a partir <strong>da</strong> atuação dos profissionaisde Educação Física e Esporte de to<strong>da</strong>s as regiões do País vinculados àsEquipes Colaboradoras, junto aos Núcleos de Esporte Educacional, soba coordenação de uma Equipe Gestora constituí<strong>da</strong> por servidores <strong>da</strong>SNEED, servidores <strong>da</strong> UFRGS e de outras IES que compõem a Rededo <strong>PST</strong>.O acompanhamento se dá por meio <strong>da</strong>s seguintes ações: a) assessoriaaos profissionais dos núcleos do <strong>PST</strong> na construção de suas propostaspe<strong>da</strong>gógicas de forma a atender às Diretrizes do <strong>PST</strong>; b) visitas de avaliaçãoin loco; c) plantão permanente a distância, e d) capacitação dos recursoshumanos envolvidos.A estruturação desse processo considerou a necessi<strong>da</strong>de de assumiruma estratégia complementar, que tornasse efetivo o acompanhamentosistemático <strong>da</strong>s ações desenvolvi<strong>da</strong>s no âmbito dos núcleos do <strong>PST</strong> e10 Documento de Concepção <strong>da</strong>s Equipes Colaboradoras. SNEED/Ministério do Esporte.AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)13Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd 13 11/11/2009 10:16:05


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOque pudesse favorecer a implementação e a avaliação de sua propostape<strong>da</strong>gógica, a partir <strong>da</strong> nova base teórico-metodológica.Enquanto o 1º Ciclo de Capacitação se desenvolvia, foram sendoidentifica<strong>da</strong>s lacunas no processo de formação, entre as quais destacou-sea necessi<strong>da</strong>de de revisão e aprofun<strong>da</strong>mento dos fun<strong>da</strong>mentos pe<strong>da</strong>gógicosestabelecidos inicialmente.Esse entendimento ficou fortalecido a partir <strong>da</strong>s avaliações realiza<strong>da</strong>spelos membros <strong>da</strong>s equipes colaboradoras aos NEE. Os relatos retratam adiversi<strong>da</strong>de encontra<strong>da</strong> no <strong>PST</strong>, seja em relação às condições estruturais, àatuação dos recursos humanos envolvidos, ao conteúdo e às estratégias dotrabalho realizado, às características e ao envolvimento dos participantese, principalmente, em relação aos resultados obtidos junto à comuni<strong>da</strong>deatendi<strong>da</strong>.Essa reali<strong>da</strong>de plural necessita de múltiplos olhares para sercompreendi<strong>da</strong> e de diferentes estratégias de atuação para <strong>da</strong>r contade sua complexi<strong>da</strong>de. Isso motivou os pesquisadores envolvidos narede de universi<strong>da</strong>des do <strong>PST</strong> a promover uma reflexão coletivaacerca dos fun<strong>da</strong>mentos que embasam a proposta pe<strong>da</strong>gógica doPrograma. Tal reflexão ocorreu ou a partir de um debate contundentesobre os fun<strong>da</strong>mentos <strong>da</strong> própria Educação Física e do Esporte, maisespecificamente sobre o papel que exercem na formação de crianças,adolescentes e jovens.Partindo <strong>da</strong> segun<strong>da</strong> edição do livro <strong>Fun<strong>da</strong>mentos</strong> Pe<strong>da</strong>gógicos para oPrograma Segundo Tempo, alguns dos autores iniciais, com a aju<strong>da</strong> de outrosque se somaram durante o processo, desenvolveram a nova propostape<strong>da</strong>gógica.Mais que uma edição revisa<strong>da</strong>, que pressupõe a reorganização e/ouatualização dos conteúdos, optou-se pela publicação de um novo livro quenão só avançasse em relação à concepção inicial <strong>da</strong> proposta pe<strong>da</strong>gógica,de forma a adequá-la à reali<strong>da</strong>de do Programa, como também permitisseo aprofun<strong>da</strong>mento de algumas temáticas que se mostraram essenciais nodesenvolvimento <strong>da</strong>s ações pe<strong>da</strong>gógicas.Embora a essência <strong>da</strong> proposta tenha sido manti<strong>da</strong>, todos os temasforam aprimorados, e alguns como o Gênero e a Sexuali<strong>da</strong>de, bem comoas Questões <strong>da</strong> Deficiência, mereceram capítulos próprios, aprofun<strong>da</strong>ndoos conceitos e oferecendo possibili<strong>da</strong>des reais de acolhimento <strong>da</strong>s14AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd 14 11/11/2009 10:16:05


APRESENTAÇÃOdiferenças. A compreensão <strong>da</strong> Inclusão pelo Esporte foi amplia<strong>da</strong> notexto <strong>Fun<strong>da</strong>mentos</strong> do Programa, no qual é feito o entrelaçamento entre oesporte, o desenvolvimento humano, a cultura e a educação. A dimensãodo lazer também ganhou espaço na nova proposta, sendo incluídoum capítulo específico sobre os <strong>Fun<strong>da</strong>mentos</strong> do Lazer e <strong>da</strong> AnimaçãoCultural. A Aquisição de Habili<strong>da</strong>des Esportivas foi ressignifica<strong>da</strong> notema Desenvolvimento e Aprendizagem Motora, focando a abor<strong>da</strong>gemna participação ativa de crianças, adolescentes e jovens nas ativi<strong>da</strong>despropostas. O papel do jogo no Segundo Tempo é valorizado no textoOrganização e Desenvolvimento Pe<strong>da</strong>gógico do Esporte no Programa SegundoTempo, que defende a complementari<strong>da</strong>de entre “ensinar o esporte”e “ensinar pelo esporte” e reapresenta o Sistema de Aprendizagem eDesenvolvimento Esportivo (SADE). O texto Procedimentos Metodológicospara o <strong>PST</strong> fortaleceu o papel do Planejamento no <strong>PST</strong>, ao tratar de comopotencializar as ações pe<strong>da</strong>gógicas no cotidiano dos Núcleos. Já o textoPlanejamento no Programa Segundo Tempo avançou no detalhamento <strong>da</strong>estruturação do Programa e dos Núcleos, favorecendo a compreensão<strong>da</strong>s intenções e ações compartilha<strong>da</strong>s. Avançou, ain<strong>da</strong>, na importância <strong>da</strong>sescolhas metodológicas nos mais diversos territórios, demonstrando aspossibili<strong>da</strong>des de adequação <strong>da</strong> proposta pe<strong>da</strong>gógica do <strong>PST</strong> às diferentesreali<strong>da</strong>des.Em todos os temas, além do Quadro Síntese, foram incluí<strong>da</strong>s questõespara reflexão e, ain<strong>da</strong>, indicações de leitura para aprofun<strong>da</strong>mento do tema,de modo a estimular os profissionais que atuam no <strong>PST</strong> a refletir sobresuas práticas e embasar teoricamente suas ações.Esperamos que esta publicação supere os limites do ProgramaSegundo Tempo e apoie o trabalho dos profissionais de Educação Físicae Esporte que atuam em outros projetos esportivos sociais. Mais ain<strong>da</strong>,espera-se favorecer a reflexão nas IES sobre o processo de formação dosprofissionais de Educação Física e Esporte, ampliando sua compreensão<strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de social com vistas a possibilitar uma intervenção crítica equalifica<strong>da</strong> em uma política de esporte educacional.Com a publicação deste livro, deflagra-se o 2º Ciclo de Capacitaçãodo Programa Segundo Tempo, que tem por objetivos qualificar o trabalhodesenvolvido pelos profissionais <strong>da</strong> área nos NEE e consoli<strong>da</strong>r a propostape<strong>da</strong>gógica construí<strong>da</strong> a muitas mãos pelos professores que constituemas Equipes Colaboradoras do Programa. É uma proposta emancipadoraAMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)15Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd 15 11/11/2009 10:16:05


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOe dialógica, que tem na criança, no adolescente e no jovem os sujeitos doprocesso no qual o esporte é o meio para a sua humanização, na busca <strong>da</strong>autonomia e do protagonismo na condução de suas vi<strong>da</strong>s.No Programa Segundo Tempo, as oportuni<strong>da</strong>des devem sercria<strong>da</strong>s. As ações pe<strong>da</strong>gógicas devem traduzir a concepção do esporteplural e devem se valer de estratégias que possibilitem a participação detodos. A intervenção profissional deve ser orienta<strong>da</strong>, fun<strong>da</strong>menta<strong>da</strong> epermanentemente avalia<strong>da</strong>, para que de fato possa transformar a reali<strong>da</strong>desocial e o futuro desses pequenos ci<strong>da</strong>dãos.Nesse sentido, enfatiza-se a todos os envolvidos no ProgramaSegundo Tempo, em especial seus Coordenadores Pe<strong>da</strong>gógicos e deNúcleos, que considerem os pressupostos aqui apresentados quando <strong>da</strong>elaboração de seus planejamentos. Com base nestes pressupostos devemse firmar as propostas e ações do Programa. Portanto, tê-los como apoioé fun<strong>da</strong>mental para que se consiga avançar e efetivar este Programa comouma Política de Estado.Assim, com este propósito apresentava-se esta publicação, desejandoque profissionais e estu<strong>da</strong>ntes <strong>da</strong> área que atuam no Programa acompreen<strong>da</strong>m nessa perspectiva.Este continua sendo um processo em construção que busca ampliaro acesso ao esporte e ao lazer. Ao fazê-lo, com o compromisso com aquali<strong>da</strong>de e com a formação continua<strong>da</strong> dos profissionais que atuam noPrograma Segundo Tempo, a Secretaria Nacional de Esporte Educacionaldá mais um passo efetivo na busca <strong>da</strong> garantia dos direitos sociais àpopulação jovem brasileira.16AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd 16 11/11/2009 10:16:05


FUNDAMENTOS DO PROGRAMASEGUNDO TEMPOENTRELAÇAMENTOS DO ESPORTE, DO DESENVOLVIMENTO HUMANO,DA CULTURA E DA EDUCAÇÃOJosé Pereira de Melo 1João Carlos Neves de Souza e Nunes Dias 2O risco, a incerteza, o paradoxo, a dúvi<strong>da</strong> marcam intensamente associe<strong>da</strong>des contemporâneas. Os modos de vi<strong>da</strong> actuais estruturamseem torno de um ideal de ordem social que se afasta de todos ostradicionais e conhecidos até a <strong>da</strong>ta e onde a percepção de risco édeterminante (CARVALHO, 2004, p. 48).INTRODUÇÃOAs reflexões sobre os fun<strong>da</strong>mentos do Programa Segundo Tempolevam-nos a transitar por um universo de temáticas aparentementedistintas, mas liga<strong>da</strong>s de modo intenso para se alcançarem as metasdeseja<strong>da</strong>s em seu desenvolvimento. Partimos <strong>da</strong> concepção de que umprojeto social nasce <strong>da</strong> convicção de pessoas, organizações, governamentaisou não governamentais, tendo-se como princípio a necessi<strong>da</strong>de de mu<strong>da</strong>rreali<strong>da</strong>des que afetam as condições de vi<strong>da</strong> e o desenvolvimento <strong>da</strong>spessoas. Ressaltamos que a concepção de homem e socie<strong>da</strong>de antecedea constituição de um projeto social, pois os seus mentores geralmentepartem do princípio de que o homem deve construir ativamente a sua1 Professor Associado <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).2 Professor Assistente <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Federal de Alagoas (UFAL).Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec1:17 11/11/2009 10:16:05


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOhistória, uma vez que ele é resultado do meio e <strong>da</strong>s relações, principalmentese pensarmos no fato de que nossos comportamentos são guiados pelocontexto em que vivemos.Assim, o presente texto tem o objetivo de instigar o(a) leitor(a) aidentificar os elementos norteadores do Programa Segundo Tempo,aqui denominados “<strong>Fun<strong>da</strong>mentos</strong>”, sendo, ao mesmo tempo,convi<strong>da</strong>do a realizar um permanente exercício de relação do que éapresentado e discutido com as intervenções pe<strong>da</strong>gógicas realiza<strong>da</strong>snos Núcleos do Programa. Dessa forma, no decorrer do texto,apresentamos ativi<strong>da</strong>des que remetem o(a) leitor(a) uma reflexãomais amplia<strong>da</strong> sobre os tópicos discutidos, tendo-se o propósitode estabelecer uma interativi<strong>da</strong>de entre autores, leitores(as) e ocotidiano vivido no âmbito do fenômeno esportivo e nas intervençõespe<strong>da</strong>gógicas no Programa Segundo Tempo. Tal iniciativa reveste-seno compromisso que to<strong>da</strong>s as pessoas envolvi<strong>da</strong>s no processo decapacitação do Programa Segundo Tempo devem ter para materializara proposta do projeto nos diversos núcleos constituídos no territórionacional.DESIGUALDADES E PROJETOS SOCIAISA socie<strong>da</strong>de contemporânea passa por um momento contraditório.Ao mesmo tempo em que observamos o avanço <strong>da</strong> tecnologia, <strong>da</strong>ciência, do aumento <strong>da</strong> expectativa e <strong>da</strong> melhoria <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de devi<strong>da</strong>, entre outros indicadores positivos, advindos por exemplo<strong>da</strong> economia, saúde, habitação, trabalho e educação, entre outros,observa-se também, o contraste social vivido por uma significativaparcela <strong>da</strong> população, em constante contato com indicadores sociaisque colocam em risco o bom desenvolvimento do ser humano. Nãoé nosso propósito entrar no mérito para saber se as desigual<strong>da</strong>dessociais e os riscos que delas decorrem são frutos unicamente <strong>da</strong>scaracterísticas macroeconômicas dos países desenvolvidos ou emdesenvolvimento, como é o caso do Brasil.18AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec1:18 11/11/2009 10:16:05


FUNDAMENTOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOApesar de ser notória na história <strong>da</strong> sociologia a presença <strong>da</strong>sdesigual<strong>da</strong>des entre os povos e entre os membros de um mesmo gruposocial, as mesmas não tinham tanta visibili<strong>da</strong>de como no mundoatual. Essa viabili<strong>da</strong>de tornou-se mais evidente com o advento <strong>da</strong>internet, fazendo com que as informações circulem mais rapi<strong>da</strong>mentee nos aproxima com mais facili<strong>da</strong>de a contextos sociais mais distantesdo nosso universo cotidiano. Com isso, temos a oportuni<strong>da</strong>de deconhecer reali<strong>da</strong>des chocantes, não somente no Brasil, mas tambémem outros países. Com relação a essas desigual<strong>da</strong>des sociais, Tomazi(1993, p. 85) argumenta:Convém destacar que as desigual<strong>da</strong>dessociais não são obrasdo acaso, mas, como construçõessociais, resultado de um conjuntode relações que englobam asestruturas econômicas, políticas,entre outras. Do ponto de vistaeconômico, percebemos a exploraçãodemasia<strong>da</strong> do trabalho e aconcentração de ren<strong>da</strong>. Do pontode vista político, observamosum afastamento vertiginoso <strong>da</strong>população no que se refere aosCa<strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de gera formas de desigual<strong>da</strong>des específicas, quesão os resultados de como essas socie<strong>da</strong>des se organizam. Asdesigual<strong>da</strong>des se manifestam de um modo diferente no Brasil, nosEstados Unidos, na Índia, nas Filipinas ou na África do Sul. Asdesigual<strong>da</strong>des assumem feições distintas porque são constituí<strong>da</strong>sa partir de um conjunto de elementos econômicos, políticos eculturais próprios de ca<strong>da</strong> tipo de organização social (TOMAZI,1993, p. 85).Ativi<strong>da</strong>de 1Observe e analise a reali<strong>da</strong>desocial <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de na qualvocê desenvolve as ativi<strong>da</strong>des doPrograma Segundo Tempo. Discutacom todos os envolvidos no projetoas possibili<strong>da</strong>des para solução dosproblemas existentes, considerandoo esporte como ferramentape<strong>da</strong>gógica.assuntos em torno <strong>da</strong> política. Nesse sentido, Tomazi (1993, p. 112) comentaqueo crescente estado de miséria, as dispari<strong>da</strong>des sociais, a extremaconcentração <strong>da</strong> ren<strong>da</strong>, os salários aviltantes, o desemprego em massa,a fome absoluta que agride milhões de brasileiros, a desinformação, oAMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)19Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec1:19 11/11/2009 10:16:05


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOanalfabetismo, a violência etc., são formas de expressão do grau a quechegaram as desigual<strong>da</strong>des sociais no Brasil.Frente às desigual<strong>da</strong>des sociais, assinala-se que governo e socie<strong>da</strong>decivil têm se mobilizado para apresentar soluções plausíveis noenfrentamento dos problemas, considerando que osprojetos sociais nascem do desejo de mu<strong>da</strong>r uma reali<strong>da</strong>de.Os projetos são pontes entre o desejo e a reali<strong>da</strong>de. São açõesestruturantes e intencionais, de um grupo ou organização social, quepartem <strong>da</strong> reflexão e do diagnóstico sobre determina<strong>da</strong> problemáticae buscam contribuir, em alguma medi<strong>da</strong>, para outro mundo possível(STEPHANOU; MULLER; CARVALHO, 2003, p. 1).Assim, como indicou Gaya (2008, p. 10), precisamos mobilizar“forças para o desenvolvimento de ações volta<strong>da</strong>s para o enfrentamento<strong>da</strong> exclusão social e dos aspectos a ela relacionados”. Ou, ain<strong>da</strong>, comoenfatiza Paulo Freire, não se podepor isso cruzar os braços fatalistamente diante <strong>da</strong> miséria, esvaziando,desta maneira, minha responsabili<strong>da</strong>de no discurso cínico e “morno”,que fala <strong>da</strong> impossibili<strong>da</strong>de de mu<strong>da</strong>r porque a reali<strong>da</strong>de é mesmoassim. O discurso <strong>da</strong> acomo<strong>da</strong>ção ou de sua defesa, o discurso <strong>da</strong>exaltação do silêncio imposto de que resulta a imobili<strong>da</strong>de dossilenciados, o discurso do elogio <strong>da</strong> a<strong>da</strong>ptação torna<strong>da</strong> como fado ousina é um discurso negador <strong>da</strong> humanização de cuja responsabili<strong>da</strong>denão podemos nos eximir (FREIRE, 1996, p. 76).Dessa forma, o Ministério do Esporte coordena uma Política de Estadocentra<strong>da</strong> no esporte, na qual assume o papel de “proponente, formuladore articulador, responsabilizando-se pela realização de Programas querespondem às deman<strong>da</strong>s sociais gera<strong>da</strong>s num momento histórico degarantia e de ampliação do conjunto dos direitos” (BRASIL, 2005, p. 129),bem como cria uma rede de colaboradores em todo território nacionalpara subsidiá-lo desde a elaboração de propostas ao acompanhamento desua execução. Nesse sentido,o Ministério do Esporte estabelece vínculos com crianças, jovens,adolescentes, adultos, idosos, com pessoas com deficiências ou comnecessi<strong>da</strong>des educativas especiais, com o sistema esportivo nacional e20AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec1:20 11/11/2009 10:16:05


FUNDAMENTOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOcom o sistema educacional brasileiro que articula a educação básica esuperior (BRASIL, 2005, p. 129).Programas como o Pintando a Liber<strong>da</strong>de e Pintando a Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia,Esporte e Lazer na Ci<strong>da</strong>de e, principalmente, o Segundo Tempo, mostramas iniciativas governamentais que priorizam o fenômeno esportivo comopotencializador de elementos educativos que podem favorecer umareflexão crítica sobre os diferentes contextos de riscos sociais 3 , bemcomo minimizar o tempo de exposição de crianças e jovens aos efeitosnocivos <strong>da</strong> violência, dos desajustes familiares, do tráfico de drogas, <strong>da</strong>scarências alimentares, <strong>da</strong> falta de afeto, entre outros tantos elementos queconvergem para deteriorar a digni<strong>da</strong>de humana.O PROGRAMA SEGUNDO TEMPOE SEUS FUNDAMENTOSO Programa Segundo Tempo, desde a sua criação em 2003, vempautando suas ações na concepção de uma socie<strong>da</strong>de igualitária, na qualto<strong>da</strong>s as pessoas devem ter o direito de acesso aos elementos fun<strong>da</strong>mentaispara o desenvolvimento humano, utilizando o esporte como um desseselementos, na constituição de suas intervenções com foco para crianças,adolescentes e jovens que vivem em situação de risco social.Tal iniciativa vem materializar os indicativos expostos na PolíticaNacional de Esporte (PNE), a qual, dentre outros objetivos, visa a“democratizar e universalizar o acesso ao esporte e ao lazer, na perspectiva<strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> população brasileira”, bem como “fomentara prática do esporte de caráter educativo e participativo, para to<strong>da</strong> apopulação, além de fortalecer a identi<strong>da</strong>de cultural esportiva a partir depolíticas e ações integra<strong>da</strong>s com outros segmentos” (BRASIL, 2005, p.131).Em linhas gerais, o Programa Segundo Tempo vem se constituindocomo um projeto social de grande impacto na socie<strong>da</strong>de brasileira,3 Conforme expressa o Manual do Programa Segundo Tempo (2008, p. 5), riscos sociais “são to<strong>da</strong>s assituações que expõem a vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s crianças e adolescentes ao perigo constante”.AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)21Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec1:21 11/11/2009 10:16:05


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOe tem como foco o esporte como meio de inclusão social, permitindoque crianças e adolescentes participem de ativi<strong>da</strong>des educacionais paraocupar o tempo ocioso. Assim, o Programa Segundo Tempo tem comoum dos princípios fun<strong>da</strong>mentais a universalização <strong>da</strong> prática esportiva e ainclusão social, tendo-se no esporte educacional um meio para contribuirno desenvolvimento integral de crianças e adolescentes.DESAFIOS DA INCLUSÃO PELO ESPORTEPartir <strong>da</strong> perspectiva de inclusão 4 para o desenvolvimento <strong>da</strong>sativi<strong>da</strong>des do Programa Segundo Tempo abre novas oportuni<strong>da</strong>des paraa formação e o exercício pleno <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia, portanto, para a valorização<strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. Assim, gostaríamos de destacar, neste momento, a inclusão peloesporte tendo como foco a relação social com o corpo e com a diferença,pois historicamente a educação física e o próprio esporte veiculam a ideiade corpo saudável que estimula a noção de eficiência, privilegiando aintegri<strong>da</strong>de física e funcional do corpo.Tal preceito, a nosso ver, é um dos grandes obstáculos para osprofessores implantarem ver<strong>da</strong>deiras intervenções pe<strong>da</strong>gógicasque agreguem todos os segmentos envolvidos nos projetos sociais,inclusive os deficientes, atores sociais por nós escolhidos como centro<strong>da</strong> presente reflexão. O corpo perfeito, aliado ao discurso <strong>da</strong> saúdee <strong>da</strong> noção de competição, sempre esteve povoando o universo <strong>da</strong>prática esportiva. Os professores, na maioria <strong>da</strong>s vezes, pautam suasações pe<strong>da</strong>gógicas no sentido de consoli<strong>da</strong>r tal pensamento e permitirque os alunos incorporem um estilo de vi<strong>da</strong> ativo para atingiremtal propósito, pois o corpo sem defeito é o corpo emblemático dofenômeno esportivo, tornando-se, muitas vezes, referência únicapara todos. Em relação ao corpo <strong>da</strong> pessoa com deficiência, LeBreton (2006, p. 75) reflete que,4 Para saber mais, consultar o texto “Inclusão, gênero e deficiência”, elaborado por Ruth EugêniaCi<strong>da</strong>de e Rosangela Marques Busto, contido no livro “<strong>Fun<strong>da</strong>mentos</strong> pe<strong>da</strong>gógicos para o programasegundo tempo” (OLIVEIRA: PERINI, 2008), utilizado no 1º Ciclo de Capacitação do <strong>PST</strong>, noano de 2008. O tema também é tratado no presente livro por Silvana Goellner, no texto intitulado“Corpo, gênero e sexuali<strong>da</strong>de: educando para a diversi<strong>da</strong>de”.22AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec1:22 11/11/2009 10:16:05


FUNDAMENTOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOa aparência intolerável coloca em dúvi<strong>da</strong> um momento peculiarde identi<strong>da</strong>de chamando a atenção para a fragili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> condiçãohumana, a precarie<strong>da</strong>de inerente à vi<strong>da</strong>. O homem portador dedeficiência lembra, unicamente pelo poder <strong>da</strong> presença, o imagináriodo corpo desmantelado que assombra muitos pesadelos. Ele cria umadesordem na segurança ontológica que garante a ordem simbólica.Quanto mais a deficiência é visível e surpreendente (um corpodeformado, um tetraplégico, um rosto desfigurado, por exemplo),mais suscita a atenção social indiscreta que vai do horror ao espanto emais, o afastamento é declarado nas relações sociais.Em linhas gerais, a Educação Física e o esporte aparecemalicerçados na seletivi<strong>da</strong>de e na eficiência esportiva, nas quais os maisaptos, os mais habilidosos e os mais performáticos são suas expressões.No entanto, ao falarmos em inclusão no Programa Segundo Tempo,devemos ter a ideia de que todos têm direito à prática esportiva. Nãodevemos enaltecer ou supervalorizar a participação de um grupoespecífico, pois podemos correr o risco de incluir o que estava de forae terminar excluindo os que sempre participaram <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des. Osretratos <strong>da</strong> galeria que ilustram as dificul<strong>da</strong>des de alguns professoresde Educação Física, em especial os que li<strong>da</strong>m com o esporte, ao nãoplanejarem a inclusão em suas aulas, são diversos. No planejamento<strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des é imperativo termos em mente a constante necessi<strong>da</strong>dede operacionalização <strong>da</strong> inclusão, considerando as diversi<strong>da</strong>des decorpos, de etnias, de habili<strong>da</strong>des, entre outras.Assim, para efetivarmos uma ver<strong>da</strong>deira inclusão pelo esporte,deveremos assumir novos olhares sobre todos os corpos, deficientes ounão, e não enaltecer tanto a dificul<strong>da</strong>de que se observa, mas principalmenteas possibili<strong>da</strong>des que ca<strong>da</strong> um tem para se expressar. Se desejamosimplantar uma prática esportiva para todos a partir de uma visão amplado que seja corpo e suas capaci<strong>da</strong>des de expressão, podemos partir doprincípio anunciado por Porto (2006, p. 96) em que ainclusão é um dos possíveis caminhos que a socie<strong>da</strong>de tem paravir mu<strong>da</strong>r alguns conceitos e valores sobre os seres humanos nasua relação estreita com o outro e com o mundo. Todos nós, sereshumanos, somos diferentes na nossa essência e na nossa existência,ou seja, ao observarmos outra pessoa somos capazes de identificare enumerar várias diferenças físicas, motoras, sensitivas, afetivas,emocionais, sociais e cognitivas existentes entre nós, bem como omodo como nos relacionamos com nós mesmos, com os outros e comAMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)23Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec1:23 11/11/2009 10:16:05


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOo ambiente. Valorizar as capaci<strong>da</strong>des do ser humano individualmente,respeitar os direitos e deveres de todos sem exceção, aceitar aslimitações inspirando-se na ética <strong>da</strong> diferença, criar condições epossibili<strong>da</strong>des reais para que todos possam participar e se envolver emto<strong>da</strong>s as situações, mu<strong>da</strong>r os sistemas já criados e institucionalizadossão alguns dos pressupostos <strong>da</strong> inclusão.Nosso corpo está o registro vivo do nosso existir e a matriz denossas potenciali<strong>da</strong>des e limitações. Na relação social com os diferentescorpos, não devemos superestimar a incapaci<strong>da</strong>de de forma a acreditarna impossibili<strong>da</strong>de de grandes realizações por parte <strong>da</strong>s pessoas, pois, nainclusão pelo esporte, considerando as potenciali<strong>da</strong>des de ca<strong>da</strong> um, vale aideia de que o corpo tudo pode, desde que as pessoas estejam disponíveisa ampliar suas possibili<strong>da</strong>des de movimentos.OS ATORES SOCIAIS DO PROGRAMASEGUNDO TEMPOEmbora o Programa Segundo Tempo seja constituído por inúmerosatores sociais, seu público-alvo mais evidente é representado por crianças,adolescentes e jovens, na maioria em situação de risco, o que reflete aconcepção de homem que provavelmente orientou seus mentores aoconcebê-lo como projeto social. Se o Programa Segundo Tempo tem a“reversão do quadro atual de injustiça, exclusão e vulnerabili<strong>da</strong>de social”como um de seus princípios, na<strong>da</strong> mais justo que compreen<strong>da</strong> as criançase os jovens como membros ativos <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de, bem como construtorasdo seu tempo, pois podem transformar suas reali<strong>da</strong>des a partir de umprocesso educacional multirreferencial, em que o esporte passa a integraro conjunto de ações que podem, dependendo <strong>da</strong> forma como são feitasas intervenções pe<strong>da</strong>gógicas, promover uma leitura crítica <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de,apontando para a construção de novas formas de existência.Quando se fala em crianças e jovens, por exemplo, é comumpensarmos em seres inacabados e/ou projetos para o futuro, no qual ficadifícil pensarmos em suas reali<strong>da</strong>des, suas características próprias e nautili<strong>da</strong>de de vivenciarmos a infância e a juventude como fases significativas24AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec1:24 11/11/2009 10:16:05


FUNDAMENTOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPO<strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. Recor<strong>da</strong>mo-nos <strong>da</strong>s reflexões de Rubem Alves sobre a inutili<strong>da</strong>de<strong>da</strong> infância ao narrar o seguinte episódio:O pai orgulhoso e sólido olha para o filho saudável e imagina ofuturo.− Que é que você vai ser quando crescer?Pergunta inevitável, necessária, previdente, que ninguém questiona.− Ah! Quando eu crescer, acho que vou ser médico.A profissão não importa muito, desde que ela pertença ao rol dosrótulos respeitáveis que um pai gostaria de ver colados ao nomedo seu filho (e ao seu, obviamente)... Engenheiro, Diplomata,Advogado, Cientista...Imagino um outro pai, diferente, que não pode fazer perguntassobre o futuro. Pai para quem o filho não é uma enti<strong>da</strong>de que"vai ser quando crescer", mas que simplesmente é, por enquanto...É que ela sofre de leucemia e, por isto mesmo, não vai ser nemmédico, nem mecânico e nem ascensorista. Que é que seu pai lhediz? Penso que o pai, esquecido de todos "os futuros possíveis egloriosos" e dolorosamente consciente <strong>da</strong> presença física, corporal<strong>da</strong> criança, se aproxima dela com to<strong>da</strong> a ternura e lhe diz: "Se tudocorrer bem, iremos ao jardim zoológico no próximo domingo..."(ALVES, 1987, p. 5).Tal reflexão remete-nos a duas formas de se pensar sobre a vi<strong>da</strong> deuma criança, bem como sobre aquilo que fazemos com elas, pois “demodo geral, o que se observa na nossa socie<strong>da</strong>de, com relação à criança, éa impossibili<strong>da</strong>de de vivência do presente, em nome <strong>da</strong> preparação para ofuturo que não lhe pertence” (MARCELLINO, 1990, p. 57). No entanto,a concepção de criança que fun<strong>da</strong>menta as ações do Programa SegundoTempo não é pauta<strong>da</strong> na ideia de que a única aspiração possível dela étornar-se adulta, mas em compreendermos a infância como uma fase deaprendizagens, que quando bem conduzi<strong>da</strong>s podem orientar melhor seupresente, sem abrir mão <strong>da</strong> estruturação de um futuro mais promissor.“A criança possui outro equilíbrio, e é preciso tratar a consciência infantilcomo um fenômeno positivo” (MERLEAU-PONTY, 2006, p. 65).Não cabe, dessa forma, trabalharmos no Programa Segundo Tempocom a ideia de “caça talentos” e/ou de constituirmos uma geração esportiva,pois estaremos negando o presente <strong>da</strong> infância. É preciso considerar osinteresses diversificados <strong>da</strong>s crianças, dos adolescentes e dos jovens peloesporte, inclusive no sentido de que muitos não têm ambições esportivasno sentido profissional, por exemplo.AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)25Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec1:25 11/11/2009 10:16:05


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOComo possibili<strong>da</strong>de de avançarmos na compreensão de criança e narelação de construção de seu conhecimento, as intervenções pe<strong>da</strong>gógicaspodem ter o seguinte eixo norteador:a necessi<strong>da</strong>de de não se considerar a criança como um conceitouniversal, compreendendo sua história de vi<strong>da</strong> e de sua família; anecessi<strong>da</strong>de de se valorizar a lógica <strong>da</strong> criança, sem considerá-la comosendo incompleta; a necessi<strong>da</strong>de de se considerar o imaginário comoum fenômeno inerente ao processo de conhecimento; a necessi<strong>da</strong>dede se considerar o conhecimento do corpo como condição deaprendizagem; a necessi<strong>da</strong>de de se compreender e valorizar acomunicação, a fala e as demais expressões <strong>da</strong>s crianças; a necessi<strong>da</strong>dede se considerar a autonomia <strong>da</strong> pe<strong>da</strong>gogia em relação às disciplinascientíficas, ao mesmo tempo em que se coloca a necessi<strong>da</strong>de deabertura <strong>da</strong> reflexão pe<strong>da</strong>gógica para as experiências vivi<strong>da</strong>s <strong>da</strong>scrianças e para as dinâmicas do conhecimento contemporâneo, <strong>da</strong>vi<strong>da</strong> social e <strong>da</strong> cultura (NÓBREGA, 2008, p. 14).As ativi<strong>da</strong>des propostas nos inúmeros núcleos do ProgramaSegundo Tempo distribuídos pelo território nacional, principalmenteno contraturno escolar, visam a contribuir para que as criançasexpressem suas reais potenciali<strong>da</strong>des e sejam vistas no âmbito de suasreais necessi<strong>da</strong>des. Essas ativi<strong>da</strong>des caracterizam-se como ativi<strong>da</strong>desextracurriculares 5 , de grande valor educativo, mas não substituem asaulas do componente curricular Educação Física 6 , principalmente notocante ao conteúdo esporte.Ativi<strong>da</strong>de 2Assista ao filme “O curioso caso de Benjamin Button” e faça, juntamente com todosos envolvidos no projeto, uma reflexão sobre o tempo e a noção de conhecimentoem ca<strong>da</strong> fase <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> (infância, adolescência, adulta e idosa). Quais as característicasde ca<strong>da</strong> uma, considerando-se o conhecimento que adquirimos em ca<strong>da</strong> fase?5 Entende-se por ativi<strong>da</strong>de extracurricular to<strong>da</strong> e qualquer ativi<strong>da</strong>de proposta fora do horário normal<strong>da</strong>s aulas e dos componentes curriculares que são ofertados na escola.6 No texto “Procedimentos metodológicos para o Programa Segundo Tempo – <strong>PST</strong>”, neste livro,Darido e Oliveira discutem com muita proprie<strong>da</strong>de tal aspecto, principalmente na parte queapresentam a integração do <strong>PST</strong> com a escola, a família e a comuni<strong>da</strong>de.26AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec1:26 11/11/2009 10:16:05


FUNDAMENTOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOO DESENVOLVIMENTO HUMANO E AS AÇÕES DOPROGRAMA SEGUNDO TEMPOO fun<strong>da</strong>mento do desenvolvimento humano, considerado nasações do Programa Segundo Tempo pode ser analisado por váriasvertentes. Podemos compreendê-lo considerando-se os aspectosmacroeconômicos, dos quais vários indicadores são utilizados para definiro Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) 7 de uma população e,consequentemente, caracterizar a quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong> de ca<strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de e/ougrupos sociais. Também são considerados os aspectos relativos aos períodosde desenvolvimento (infância, adolescência, adulta e idosa), bem comoa adoção por parte <strong>da</strong>s pessoas de atitudes que expressem soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de,cooperação, respeito individual e coletivo, dentre outros aspectos.É claro que o fenômeno esportivo também potencializa os aspectoseconômicos, pois movimenta significativos montantes financeiros paraviabilizar as estruturas esportivas, a participação dos atletas, a participaçãodo público, a comercialização de materiais esportivos e suplementosalimentares, entre outros inúmeros benefícios econômicos que modificam,de certa forma, a economia de uma ci<strong>da</strong>de e região. É comum, por exemplo,verificarmos que algumas ci<strong>da</strong>des do interior do Brasil têm seu comércioaquecido com a circulação dos recursos financeiros advindos do pagamentodos coordenadores e monitores que trabalham no Programa Segundo Tempo,evidenciando uma participação indireta do esporte na economia local.É notório, também, que o processo de desenvolvimento humano,vinculado ao seu amadurecimento orgânico, é amplamente consideradonos pressupostos teórico-metodológicos do Programa Segundo Tempo,principalmente ao considerarmos o marco conceitual que orienta osfun<strong>da</strong>mentos pe<strong>da</strong>gógicos. No entanto, se estamos exercendo uma reflexãosobre as ações desenvolvi<strong>da</strong>s num projeto social do porte do Programa SegundoTempo, principalmente pautado na ideia de minimizar as consequênciasdos riscos sociais a que crianças, adolescentes e jovens estão submetidos emalguns cenários sociais, convém avançarmos no conceito de desenvolvimento7 Para saber mais, consultar os indicadores de quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong> de ca<strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de brasileira no sitedo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), bem como o texto “Educação para odesenvolvimento pelo esporte”, de Oliveira e Perim, no livro "<strong>Fun<strong>da</strong>mentos</strong> Pe<strong>da</strong>gógicos para oPrograma Segundo Tempo" (2008).AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)27Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec1:27 11/11/2009 10:16:05


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOhumano e vinculá-lo aos aspectos relativos ao desenvolvimento <strong>da</strong> pessoapara o exercício pleno <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia.Dessa forma, o desenvolvimento humano, deve estar presente nasintervenções pe<strong>da</strong>gógicas, sendo desenvolvido por meio de ativi<strong>da</strong>des queexplorem os valores humanos mais significativos, no sentido de queos programas de esporte devem valorizar a auto-estima, visandoo fortalecimento do espírito patriótico e <strong>da</strong> identi<strong>da</strong>de nacional,reforçando os princípios necessários para o desenvolvimento <strong>da</strong> naçãoe <strong>da</strong> paz. A soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de, a cooperação, o espírito coletivo, a lutapelos ideais e o respeito às regras, entre outros valores vivenciadosno cotidiano <strong>da</strong> prática esportiva, também são necessários para aconvivência harmoniosa e o fortalecimento <strong>da</strong> autodeterminação deum povo (BRASIL, 2005, p. 131).Tal propósito aproxima-se dos preceitos de Abraham Maslow, lançadosno ano de 1946, na obra “A Theory of Motivation” (Uma teoria sobre amotivação), ao expor um conjunto de cinco necessi<strong>da</strong>des humanas, asaber: a) necessi<strong>da</strong>des fisiológicas (fome, sede, sexo etc.); b) necessi<strong>da</strong>desde segurança (sentir-se seguro dentro e fora <strong>da</strong> própria residência, teremprego, uma religião, ter acesso ao conhecimento científico, entre outras);c) necessi<strong>da</strong>de de amor, afeição e sentimentos de pertencimento, advindos<strong>da</strong>s atitudes afetivas de outras pessoas, por exemplo; d) necessi<strong>da</strong>des deestima (envolve o reconhecimento <strong>da</strong>s nossas capaci<strong>da</strong>des pessoais eo reconhecimento <strong>da</strong>s outras pessoas frente às nossas capaci<strong>da</strong>des); e)necessi<strong>da</strong>des de autorrealização (envolve a compreensão de que o indivíduoprocura materializar o que ele sonha ser). Nesta última, Maslow credita amáxima de que, se acreditarmos no que podemos ser, temos condições dedesenvolver nossos potenciais para atingir nossas metas.O ESPORTE COMO PRÁTICA DA CULTURAUm ano: dois mil e oito. O dia oito, do mês oito. Um evento: XXIXJogos Olímpicos <strong>da</strong> era moderna. Era noite em Pequim, manhã no Brasil.O mundo assistia pela televisão a um espetáculo que reunia o antigo e o28AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec1:28 11/11/2009 10:16:05


FUNDAMENTOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOnovo, na promessa sempre renova<strong>da</strong> <strong>da</strong> confraternização universal entreos povos através do esporte e do movimento olímpico.A história <strong>da</strong> China e suas grandes invenções, como a se<strong>da</strong>, a pólvora,o papiro, foi encena<strong>da</strong> por gestos, músicas, luzes, imagens que encantarammilhões de pessoas em todo mundo. Naquele cenário, que combinavatradição e alta tecnologia, reafirmou-se o fascínio dos jogos Olímpicos,<strong>da</strong>s performances atléticas, <strong>da</strong> quebra de recordes.Comumente, a compreensão de esporte é associa<strong>da</strong> aos sentidos esignificados relativos ao rendimento e ao espetáculo, cuja estrutura possuias características de competição exacerba<strong>da</strong>, rendimento e performancena gestuali<strong>da</strong>de e o desenvolvimento dos treinamentos de maneirasistematiza<strong>da</strong> e com bases científicas. Seu sistema ain<strong>da</strong> apresenta umaorganização na busca de novos talentos e de novas tecnologias paraotimização <strong>da</strong> gestuali<strong>da</strong>de esportiva (BRACHT, 2003).Outros aspectos podem ser considerados em relação ao esportede rendimento: apesar do número de pessoas que procuram o esporte,poucas chegam à profissionalização; o financiamento <strong>da</strong> espetacularizaçãodo esporte é realizado por uma grande massa de consumidores; há umaparticipação efetiva dos meios de comunicação na transmissão dosesportes, bem como na criação de mitos esportivos.Por se tratar de um fenômeno de repercussão mundial, osJogos Olímpicos, em particular a espetacularização do esporte derendimento, influencia de maneira significativa o imaginário socialem torno do esporte, sendo uma referência para outras possibili<strong>da</strong>des<strong>da</strong> expressão do esporte. É nessa transposição que se faz necessáriorefletir sobre este modelo olímpico nas ativi<strong>da</strong>des esportivas comoprática educativa.Compreendendo o esporte como a matriz para o desenvolvimento<strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des do Programa Segundo Tempo, lançamos os seguintesquestionamentos: Quais sentidos têm sido atrelados ao esporte nessesespaços de intervenção pe<strong>da</strong>gógica? Quem determina o sentido esignificado do esporte enquanto prática pe<strong>da</strong>gógica? Que compreensãode ato educativo tem sido operacionaliza<strong>da</strong> nas ativi<strong>da</strong>des dos diversosnúcleos do país? Como as ativi<strong>da</strong>des são desenvolvi<strong>da</strong>s do ponto de vistametodológico para garantir o esporte como fenômeno educativo?AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)29Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec1:29 11/11/2009 10:16:05


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOEssas questões apresentam-se como fio condutor para pensar oentrelaçamento do esporte como uma prática cultural e <strong>da</strong> educação comoaprendizagem <strong>da</strong> cultura, tendo como referência o Programa SegundoTempo.Para desenvolver o argumento do esporte como prática <strong>da</strong> cultura, oconceito de técnica corporal é pertinente, sobretudo por enfatizar a técnicacomo sendo, de acordo com Mauss (2003, p. 401), “as maneiras pelasquais os homens, de socie<strong>da</strong>de a socie<strong>da</strong>de, de uma forma tradicional,sabem servir-se de seu corpo”. O autor afirma que o corpo é nossoprimeiro e mais natural instrumento, o primeiro meio técnico de quenos valemos. O corpo, em suas “inclinações” e “expansões”, relacionacultura, técnica e transmissão. Nessa relação, a gestuali<strong>da</strong>de do corpocarrega significados específicos que nos dizem dos valores, <strong>da</strong>s normas,dos costumes, marcados por um processo de incorporação <strong>da</strong> cultura.Nesse sentido, to<strong>da</strong> técnica é técnica de corpo e articula umadetermina<strong>da</strong> forma, um caráter específico, construí<strong>da</strong> a partir dos hábitospróprios de ca<strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de, numa razão prática que é, ao mesmo tempo,coletiva e individual. Sua transmissão torna-se possível pelo processode aprendizagem, marcado pela natureza social do habitus. É precisoatentar que o habitus e as técnicas comportam mu<strong>da</strong>nças, “variam nãosimplesmente com os indivíduos e suas imitações, variam, sobretudo comas socie<strong>da</strong>des, as educações, as conveniências e as mo<strong>da</strong>s, os prestígios”(MAUSS, 2003, p. 404).Com esse propósito, Mauss (2003) realiza uma descrição <strong>da</strong>s técnicascorporais, inclusive do esporte. A natação, por exemplo, é descrita comosendo uma técnica corporal, cujos gestos, cuja técnica do nado modificouseao longo do tempo. Destaca-se, então, um novo uso do corpo no nado,o que pode ser observado em outros esportes. Segundo o antropólogo,outrora nos ensinavam a mergulhar depois de ter aprendido a na<strong>da</strong>r.E, quando nos ensinavam a mergulhar, nos diziam para fechar osolhos e depois abri-los dentro d’água. Hoje a técnica é inversa. Evejam que se trata claramente de um ensino técnico, e que há, comopara to<strong>da</strong> a técnica, um aprendizado do nado. Por outro lado, nossageração, aqui, assistiu a uma mu<strong>da</strong>nça completa de técnica: vimos onado a braça<strong>da</strong> e com a cabeça para fora d’água ser substituído pelasdiferentes espécies de crawl. Além disso, perdeu-se o costume deengolir a água e de cuspi-la (MAUSS, 2003, p. 402).30AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec1:30 11/11/2009 10:16:05


FUNDAMENTOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPONos argumentos apresentados, podemos perceber que to<strong>da</strong> técnicacorporal sofre modificações em sua estrutura, a depender de um conjuntode disposições corporais, interesses sociais, originando novos usos docorpo, novos contextos sociais, reverberando na construção de novassubjetivi<strong>da</strong>des.Se pensarmos o esporte, além de modificações nas técnicas, surgemtambém mu<strong>da</strong>nças na organização tática nos mais diferentes esportes,como no voleibol, no futebol, na ginástica rítmica, na natação, para citaralguns, em que surgem novas deman<strong>da</strong>s em torno <strong>da</strong>s práticas corporaise do próprio esporte (BOURDIEU, 1983).Ativi<strong>da</strong>de 3Identifique e descreva uma mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de esportiva (técnica corporal) desenvolvi<strong>da</strong>em seu Núcleo e aponte possíveis a<strong>da</strong>ptações pe<strong>da</strong>gógicas construí<strong>da</strong>s pelosmonitores do Núcleo para sua utilização no processo de aprendizagem <strong>da</strong>s crianças.Pense, por exemplo, na possibili<strong>da</strong>de de solicitar para as crianças a modificação deregras de jogos por elas já desenvolvidos.Mas o que garante a permanência e a evidenciação do esporte emnossa socie<strong>da</strong>de? Ou, nos termos de Marcel Mauss, o que garante ointeresse social em determina<strong>da</strong> técnica do corpo? Que princípios ouinteresses favorecem o estabelecimento histórico de uma determina<strong>da</strong>técnica de corpo no que tange à sua permanência na socie<strong>da</strong>de?Tendo como horizonte a questão <strong>da</strong> aprendizagem, Mauss (2003)evidencia a tradição e a eficiência, a a<strong>da</strong>ptação do uso do corpo e <strong>da</strong> prestezados movimentos, envolvidos pela noção de educação do corpo na“montagem” e veiculação de sistemas simbólicos. Em síntese, a técnica éum “ato tradicional e eficaz [...]. Não há técnica e não há transmissão senão houver tradição. Eis em que o homem se distingue antes de tudo dosanimais: pela transmissão de suas técnicas e muito provavelmente por suatransmissão oral” (MAUSS, 2003, p. 407).O esporte como conhecemos hoje tem sido ensinado de geração parageração, desde o século XIX, sem dúvi<strong>da</strong> com modificações. A históriade uma técnica corporal, como no caso do esporte, é teci<strong>da</strong> em umcontexto histórico, social, envolvendo relações com o campo econômico,político e cultural. No entanto, são o processo de ensino aprendizagemAMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)31Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec1:31 11/11/2009 10:16:05


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOe o interesse social que garantem a sua permanência na socie<strong>da</strong>de, quepossibilitam nossa geração e as próximas conhecerem a diversi<strong>da</strong>de demanifestações esportivas construí<strong>da</strong>s pela nossa socie<strong>da</strong>de. A variação <strong>da</strong>spráticas e dos estilos de vi<strong>da</strong> depende do capital econômico, cultural efísico dos agentes sociais. Para se chegar ao esporte moderno, foi precisoum amplo processo de racionalização do corpo, dos gestos e a criação deuma nova filosofia do esporte centra<strong>da</strong>, principalmente, no amadorismo eno conceito de esporte como prática desinteressa<strong>da</strong>. Esses aspectos foramtransformados ao longo <strong>da</strong> história social do esporte (BOURDIEU, 1983).O que é ou não é legítimo na prática esportiva, no uso do corpo? Quemdita as regras do jogo? Quais os interesses profissionais, econômicos,políticos, pe<strong>da</strong>gógicos que envolvem o esporte? Esses questionamentostransformam-se em lutas, reivindicações e ações dos diferentes agentessociais envolvidos no campo esportivo ou no campo <strong>da</strong>s práticas corporais(atletas, praticantes, espectadores, professores, médicos, treinadores,dirigentes, jornalistas, empresários, industriais).Destaca-se, conforme abor<strong>da</strong> Bourdieu (1983), que duas orientações<strong>da</strong> pe<strong>da</strong>gogia corporal são importantes para nos reconhecermos no campo<strong>da</strong> Educação Física: o treinamento do corpo, historicamente ligado aoensino dos esportes e à formação de atletas, e a expressão do corpo lúdica,hedonista, não repressiva. Na orientação do Programa Segundo Tempo,há uma ênfase na expressão lúdica do esporte, principalmente quando serefere à democratização de sua prática.Sobre essa democratização, considera-se a reflexão de Bourdieu (1983),para quem muitas vezes o esporte é a única via de ascensão social para ascama<strong>da</strong>s mais pobres <strong>da</strong> população. A mesma situação ocorre na arte, namúsica em especial, ou em outras profissões diretamente relaciona<strong>da</strong>s aocapital físico (beleza, habili<strong>da</strong>des, esforço). Para o autor, os jovens pobresempenham-se mais nas tarefas, na obediência às regras, pois veem nessaativi<strong>da</strong>de sua única oportuni<strong>da</strong>de de vencer na vi<strong>da</strong> e aju<strong>da</strong>r a família.Esse aspecto gera uma série de explorações e é criticado do ponto de vistasociológico, em função do pequeno alcance social e <strong>da</strong> incapaci<strong>da</strong>de depromover mu<strong>da</strong>nças estruturais na família e na socie<strong>da</strong>de.Como as ações do Programa Segundo Tempo superam o aspectofuncionalista ou assistencialista do esporte? Conjuntamente com oMinistério do Esporte, temos procurado construir uma política dedemocratização do esporte pelo Programa Segundo Tempo. O objetivo32AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec1:32 11/11/2009 10:16:06


FUNDAMENTOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOé qualificar as ações relaciona<strong>da</strong>s ao esporte para que seja efetivado demaneira a produzir a apropriação crítica <strong>da</strong>s práticas esportivas e dosusos do corpo na cultura contemporânea. Reconhecemos que ain<strong>da</strong> hámuitas ações a serem realiza<strong>da</strong>s nesse sentido, mas consideramos que oatual projeto tenta romper com a ideia de uma ação ideológica do usodo esporte, ou mesmo do esporte como meio de ascensão social. Dessemodo, o argumento de uma educação crítica pode contribuir para umaação contextualiza<strong>da</strong> do esporte.A EDUCAÇÃO COMO APRENDIZAGEM DA CULTURAComo técnica corporal e, portanto, como sistematização <strong>da</strong> cultura,o esporte pode ser entendido como acréscimo aos usos do corpo pelo serhumano em sua história, uma prática corporal cujos sentidos incorporamdesde princípios de civili<strong>da</strong>de, divertimento, saúde, até ascensão social,lazer e ludici<strong>da</strong>de 8 . Nesse movimento, ao se adquirirem novos usos docorpo, ocorre o fenômeno de aprendizagem de uma cultura específica.Tais sentidos incorporam os aspectos <strong>da</strong> dinâmica dos processos sociais ehistóricos em que são formatados e configuram diversas ações em tornodo esporte e de sua intervenção pe<strong>da</strong>gógica.No caso do esporte, uma configuração do corpo se distingue dehábitos cotidianos e cria em torno de si uma política de gestos e normasparticulares. O aprendizado de qualquer técnica não ocorre simplesmentea partir de imitações, num movimento eminentemente mecânico,descontextualizado de uma reali<strong>da</strong>de. Ao contrário, é na tessitura sociale cultural que o aprendizado do movimento encontra significações,varia conforme os processos educacionais e culturais, contextualizando aconstrução <strong>da</strong> gestuali<strong>da</strong>de do corpo.A educação, como um processo de aprendizagem <strong>da</strong> cultura e deseus sistemas simbólicos, é multifaceta<strong>da</strong>, ou seja, não se restringe a ummomento particular e formal <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> humana, mas está diluí<strong>da</strong> nos maisdiferentes espaços de relações sociais, conformando condutas, divulgando8 Referências a Elias e Dunning (1992); Bourdieu (1983); Huizinga (1990); Lucena (2001); Stigger(2005).AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)33Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec1:33 11/11/2009 10:16:06


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOnormas, instaurando valores. No entanto, acreditamos que os espaçosformais como a Escola 9 e os programas sociais sistematizados, são espaçosprivilegiados de acesso ao conhecimento científico e cultural acumuladohistoricamente. De forma crítica, esses programas possibilitam aoindivíduo perceber a si mesmo como sujeito nesse espaço de formaçãoe, assim, poder relacionar os conhecimentos com as suas experiênciasde vi<strong>da</strong>. No Programa Segundo Tempo, considera-se a reflexão sobreo esporte como prática social e aprendizagem <strong>da</strong> cultura, como formade educação que ocorre diuturnamente em diferentes espaços e temposdentro e fora <strong>da</strong> escola.No processo de educação como aprendizagem <strong>da</strong> cultura, a vivênciacorporal, por exemplo, no esporte não deve ser compreendi<strong>da</strong> como umaforma distraí<strong>da</strong> de ativi<strong>da</strong>de, mas como a possibili<strong>da</strong>de de compreender eatribuir sentido aos acontecimentos. Concor<strong>da</strong>mos com Nóbrega (2005,p. 73) ao afirmar queeducar é pôr o sujeito em relação com o mundo e com a representaçãosimbólica desta, ou seja, com a produção do conhecimento, nãohavendo a separação entre o sujeito e o objeto de conhecimento.Essa atitude garante que o educando se aproprie de maneira ativa,reconhecendo os condicionantes históricos e vislumbrandoa possibili<strong>da</strong>de de uma nova síntese, de uma nova reali<strong>da</strong>de,reafirmando, dessa forma, que como produtor <strong>da</strong> cultura o homemcria e recria o mundo.Segundo a autora, a experiência vivi<strong>da</strong>, o que inclui os conhecimentossobre o mundo, possui uma matriz corporal, que se expressa no movimento,nos gestos, sejam cotidianos, sejam nos hábitos de movimentos maiscomplexos, como a <strong>da</strong>nça, a consciência corporal, os jogos, os esportes,entre outras expressões. Compartilhamos dessa filosofia <strong>da</strong> Educação Físicae acreditamos que ela pode ser desdobra<strong>da</strong> na compreensão do esportecomo educação, pois ao se lançar no mundo, com ações intencionais,o humano se movimenta e, ao fazê-lo, cria e recria a cultura. Assim, o9 Ao longo <strong>da</strong> história, a Escola, como instituição social, desempenhou diferentes papéis e funçõessociais relaciona<strong>da</strong>s ao conhecimento. Nos séculos XIX e XX, a escola assumiu as funções deeducação, nomea<strong>da</strong>mente as que pertenciam à comuni<strong>da</strong>de e à família. A civili<strong>da</strong>de vai deixandode ser ensina<strong>da</strong> nas escolas, tornou-se um gênero menor, substituí<strong>da</strong>, por exemplo, pela ginásticaou educação física. A partir do século XIX, à educação cortesã, à caça, à música, à <strong>da</strong>nça e às letrassomam-se os cui<strong>da</strong>dos com o corpo e uma nova dimensão <strong>da</strong> educação, viabiliza<strong>da</strong> pelas escolas deginástica e pelo esporte (MANACORDA, 1996).34AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec1:34 11/11/2009 10:16:06


FUNDAMENTOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOesporte pode ser considerado a partir e para além do fenômeno olímpico,articulado a valores como a ludici<strong>da</strong>de, como conhecimento de si mesmoe do mundo, como forma de sociabili<strong>da</strong>de, como prática de cooperação,como vetor de mu<strong>da</strong>nças existenciais, individuais e coletivas.Um exemplo desse desdobramento pode ser percebido no relatope<strong>da</strong>gógico produzido pela professora Ana Cristina Araújo e publicadocomo parte integrante <strong>da</strong> Coleção Cotidiano Escolar 10 . A professorae autora partiu do trabalho de Elenor Kunz sobre as transformaçõesdidático-pe<strong>da</strong>gógicas do esporte para introduzir novos enfoques didáticossobre o conteúdo esporte em suas aulas de Educação Física. No relato emapreço, para o desenvolvimento do plano de ensino, a professora realizouuma leitura <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de em que se localiza a escola. A partir desse estudo,passou a utilizar a praça do bairro, próxima à escola, para as aulas deEducação Física. Essa estratégia de ensino propiciou a superação <strong>da</strong> faltade infraestrutura apresenta<strong>da</strong> pela escola. Como conteúdo a ser trabalhadonas aulas de Educação Física, durante o terceiro bimestre letivo, foiescolhido o atletismo, segundo a professora, não só por apresentar outrapossibili<strong>da</strong>de de vivenciar movimentações com o corpo, mas também porpossibilitar a a<strong>da</strong>ptação de materiais e o pensamento acerca <strong>da</strong> noção decompetitivi<strong>da</strong>de exacerba<strong>da</strong> do esporte.Nas aulas relata<strong>da</strong>s, enfatizaram-se diferentes estilos ou provaspresentes no atletismo, utilizando as habili<strong>da</strong>des de correr, saltar,pular, tendo como objetivo construir um espaço de experimentaçãode novas formas de movimento durante as ativi<strong>da</strong>des. Nas palavras <strong>da</strong>professora,a primeira ativi<strong>da</strong>de proposta foi a corri<strong>da</strong> do ritmo, na qual ca<strong>da</strong>aluno deveria tentar percorrer 60 metros em 12 segundos. Essesvalores foram estipulados após constatarmos que todos teriamcondições de cumpri-los. Na primeira tentativa, evidenciou-sea competição e o desejo de vencer, e todos os alunos fizeram opercurso bem abaixo do tempo estipulado. Reunimos o grupo ein<strong>da</strong>gamos por que ninguém cumpria a tarefa. A resposta era a deque ninguém queria perder (ARAÚJO, 2006, p. 37).10 A coleção Cotidiano Escolar busca socializar experiências pe<strong>da</strong>gógicas no ensino de Artes eEducação Física na escola. Constitui-se como um dos materiais didáticos organizados e produzidospelo PAIDÉIA – Centro integrante <strong>da</strong> Rede Nacional de Formação Continua<strong>da</strong> para professores deArtes e Educação Física, conveniado ao Ministério <strong>da</strong> Educação, por meio <strong>da</strong> Secretaria de EducaçãoBásica e <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Federal do Rio Grande do Norte.AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)35Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec1:35 11/11/2009 10:16:06


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPODe acordo com o relato, tal atitude nos remete à questão <strong>da</strong>sobrepujança <strong>da</strong> vitória tão evidencia<strong>da</strong> no esporte. Daí a necessi<strong>da</strong>de debuscarem novas formas de trabalhar esse conteúdo nas aulas, evidenciandoseu aspecto educacional, a participação coletiva e a cooperação entre osalunos como forma de criar possibili<strong>da</strong>des para um entendimento crítico<strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de esportiva, do corpo e do movimento.A professora afirma que o que estava em jogo não era a vitória,mas percorrer 60 metros em 12 segundos e ca<strong>da</strong> uma deveria achar oritmo certo para a realização <strong>da</strong> tarefa. Os alunos passaram a denominara ativi<strong>da</strong>de de Corri<strong>da</strong> tartaruga, pois, apesar de todos terem condições derealizá-la em um tempo menor, para alcançar o objetivo proposto, teriamque correr num ritmo mais lento. Após algumas tentativas, o temposolicitado foi alcançado pela maioria.O elemento <strong>da</strong> competição foi redimensionado a partir do desafiocorporal em realizar a tarefa coletivamente, o que deu dinâmica à ativi<strong>da</strong>dee motivação para os alunos realizá-la. No relato, observa-se um contrapontoaos princípios olímpicos do mais alto, mais forte e mais veloz. A partir de umtratamento pe<strong>da</strong>gógico adequado, a professora buscou construir um espaçopara além de uma perspectiva de esportivização, construindo movimentosnão padronizados, o reconhecimento de diferentes ritmos e habili<strong>da</strong>dese o conhecimento do corpo. Além disso, buscou desenvolver atitudescooperativas na solução de problemas e a criação de um espírito ético nogrupo.Embora o relato trate de uma experiência de ensino no contexto <strong>da</strong>Educação Física escolar, compreendi<strong>da</strong> como componente curricular<strong>da</strong> Educação Básica, a estratégia teórica e metodológica adota<strong>da</strong>pela professora pode ser considera<strong>da</strong> como exemplo significativo<strong>da</strong> abor<strong>da</strong>gem pe<strong>da</strong>gógica do esporte em outros contextos, como éo caso do Programa Segundo Tempo. O Programa apresenta comomatriz epistemológica o conhecimento acumulado pela área <strong>da</strong>Educação Física, nota<strong>da</strong>mente em seus avanços sobre a pe<strong>da</strong>gogia doesporte. Desse modo, há muitas orientações teóricas e metodológicasque podem contribuir para essas ações −− algumas delas discuti<strong>da</strong>sneste texto −− a partir <strong>da</strong>s questões sobre os sentidos atrelados aoesporte nos espaços de intervenção pe<strong>da</strong>gógica do Programa SegundoTempo, sobretudo considerando os atores sociais envolvidos nasdeterminações e orientações do esporte como prática pe<strong>da</strong>gógica, a36AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec1:36 11/11/2009 10:16:06


FUNDAMENTOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOsaber: gestores, coordenadores, professores, crianças, adolescentes,jovens e famílias envolvi<strong>da</strong>s no Programa Segundo Tempo.As noções e os argumentos apresentados apontam para uma pe<strong>da</strong>gogiado esporte que avance na democratização de sua prática com quali<strong>da</strong>de,tendo em vista usos sociais do corpo com finali<strong>da</strong>des educativas, nosentido apresentado nesta discussão e ao longo dos outros textos quecompõem este material didático-pe<strong>da</strong>gógico.REINVENTANDO A CULTURA: RELAÇÕESENTRE O LÚDICO E O ESPORTESem dúvi<strong>da</strong>, em nosso cotidiano, a referência ao esporte derendimento coloca-se, muitas vezes, como possibili<strong>da</strong>de única,alimentando expectativas de vários atores sociais, desde o professor até oaluno, tratado, não raras vezes, como um atleta em potencial. No entanto,ao considerarmos uma política de democratização <strong>da</strong> prática esportiva,principalmente em relação ao Programa Segundo Tempo, aponta-se paraalgumas possibili<strong>da</strong>des metodológicas e conceituais que podem orientarnossas intervenções pe<strong>da</strong>gógicas para a construção de espaços maisparticipativos, críticos e reflexivos.Nesse sentido, destacamos que, no Programa Segundo Tempo,existe uma estreita articulação entre o esporte e o fenômeno lúdico, a qualnão deve ser esqueci<strong>da</strong> na materialização <strong>da</strong>s intervenções pe<strong>da</strong>gógicasdesenvolvi<strong>da</strong>s pelos monitores. Assim, questionamos: Afinal, o que é olúdico? Qual a natureza desse conceito?O estudioso do fenômeno lúdico, Johan Huizinga (1990), afirmaque o lúdico é uma forma de manipulação <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de, não sendo umfenômeno <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> corrente, nem real. O lúdico acontece num campodelimitado e imaginário e atravessa to<strong>da</strong> a compreensão do jogo, podendocontaminar algumas abor<strong>da</strong>gens do esporte. É um caminho para quepossamos perceber a dimensão humana <strong>da</strong> criação <strong>da</strong> gestuali<strong>da</strong>de, dosimbólico, do social. Nas ações investi<strong>da</strong>s pela ludici<strong>da</strong>de, enfatizam-se aliber<strong>da</strong>de e a criação de outras reali<strong>da</strong>des e possibili<strong>da</strong>des. O argumentode Huizinga (1990) nos aju<strong>da</strong> a pensar o esporte como fenômenoAMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)37Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec1:37 11/11/2009 10:16:06


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOcultural, no sentido de que transcende as necessi<strong>da</strong>des imediatas <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>,revestido de um significado que é amplificado pela cultura, materializadona diversi<strong>da</strong>de de sua objetivação social, que se revela e se esconde a partirdo significado que é atribuído ao esporte.É preciso pensar em estratégias metodológicas para compreendermosa reinvenção <strong>da</strong> cultura por meio do entrelaçamento entre esporte eludici<strong>da</strong>de, buscando visualizar com outros olhares os jogos populares.Uma boa estratégia é discutir o fenômeno esportivo configurando-o apartir desses jogos.O aspecto lúdico do esporte reinventa a técnica, o corpo, o sujeitoe suas ações, amplificando e potencializando sentidos e significados domovimento humano no tempo e no espaço, produzindo intensi<strong>da</strong>des,fazendo vibrar o fio <strong>da</strong> história e nos fazendo perceber outras conotaçõespara as ativi<strong>da</strong>des humanas.Nesse sentido, é preciso e é possível perceber o fascínio dosmovimentos do esporte realizados de maneira anônima por professores,crianças e jovens durante as ativi<strong>da</strong>des do Programa Segundo Tempo, nosmais diferentes lugares do Brasil, e não somente a ca<strong>da</strong> quatro anos nosJogos Olímpicos.Ativi<strong>da</strong>de 4Escolha um jogo popular que faça parte do cotidiano de seus alunos, <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>deonde o núcleo está inserido, e analise os elementos do movimento que estãopresentes no desenvolvimento do jogo. Proponha, junto aos alunos, modificaçõesno jogo identificado, como, por exemplo, alterações <strong>da</strong>s regras, <strong>da</strong> quanti<strong>da</strong>de departicipantes, do local utilizado, de novas possibili<strong>da</strong>des de movimentação. Promovauma construção em conjunto que possibilite a aproximação com mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>desesportivas desenvolvi<strong>da</strong>s em seu núcleo.CONSIDERAÇÕES FINAISNão podemos ignorar as reali<strong>da</strong>des conflituosas pelas quais passagrande parcela <strong>da</strong> população brasileira, em especial crianças, adolescentes e38AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec1:38 11/11/2009 10:16:06


FUNDAMENTOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOjovens, e sermos cautelosos ao reforçar o argumento de que ca<strong>da</strong> reali<strong>da</strong>deé determina<strong>da</strong> por uma lógica imutável. Não é porque uma pessoa nascenum contexto de desordem social, expresso na marginali<strong>da</strong>de e no tráfico dedrogas, por exemplo, que ela será traficante e/ou usuária de entorpecentes.É claro que a pessoa torna-se vulnerável aos riscos, mas não podemosacreditar unicamente na hipótese de que ela será “marginal” no sentido deque o contexto é determinante. Pensar assim é pensar no determinismo. Énão acreditar em processo de transformação social. É considerar o fim <strong>da</strong>história individual e coletiva. Assim, como contraponto, os projetos sociaissurgem como potencializadores para reconfigurar as reali<strong>da</strong>des extremas,principalmente investindo na educação <strong>da</strong>s pessoas na perspectiva deampliação <strong>da</strong>s consciências para os problemas que afligem a coletivi<strong>da</strong>de.É certo também que os mentores dos projetos sociais mantêm vivaa esperança por um mundo melhor, no qual a igual<strong>da</strong>de de direitos sejasempre persegui<strong>da</strong>, pois não podemos nos esquecer, como enfatiza PauloFreire, de que “a esperança faz parte <strong>da</strong> natureza humana”. O renomadomestre ain<strong>da</strong> nos esclarece que,do ponto de vista <strong>da</strong> natureza humana, a esperança não é algo que aela se justaponha. Seria uma contradição se, inacabado e conscientedo inacabamento, primeiro, o ser humano não se inscrevesseou não se achasse predisposto a participar de um movimentoconstante de busca e, segundo, se buscasse sem esperança. Adesesperança é negação <strong>da</strong> esperança. A esperança é uma espéciede ímpeto natural possível e necessário, a desesperança é o abortodeste ímpeto. Por tudo isso me parece uma enorme contradiçãoque uma pessoa progressista e que busca mu<strong>da</strong>nças, que não temea novi<strong>da</strong>de, que se sente mal com as injustiças, que se ofendecom as discriminações, que se bate pela decência, que luta contraa impuni<strong>da</strong>de, que recusa o fatalismo cínico e imobilizante, nãoseja criticamente esperançoso (FREIRE, 1996, p. 72).Assim, é com a esperança renova<strong>da</strong> pelas possibili<strong>da</strong>des de mu<strong>da</strong>nçasque as práticas sociais podem viabilizar, advin<strong>da</strong>s <strong>da</strong> execução de projetosque resultam em relevantes impactos sociais a partir do engajamento dosdiversos atores sociais envolvidos em seu desenvolvimento, no nosso casoo Programa Segundo Tempo, que conclamamos a todos a continuaremacreditando no trabalho desenvolvido, bem como em nossa contribuiçãoeducacional, por menor que seja, pela garantia do acesso à prática esportivaa um contingente significativo <strong>da</strong> população brasileira, em especial àquelesAMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)39Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec1:39 11/11/2009 10:16:06


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOcuja única possibili<strong>da</strong>de de praticar esporte seja no Programa SegundoTempo.REFERÊNCIASALVES, Rubens. Estórias de quem gosta de ensinar. 6. ed. São Paulo: Cortez/Autores Associados, 1987.ARAÚJO, Ana Cristina. Vivenciando a educação física escolar: um relato deexperiência. In: NOBREGA, T. Petrucia (Org.). A educação física no ensinofun<strong>da</strong>mental. Coleção Cotidiano Escolar, n.3, v. 3. Natal: Paidéia, 2006.BOURDIEU, Pierre. Como é possível ser esportivo? In: BOURDIEU, Pierre.Questões de sociologia. Rio de Janeiro: Marco Zero, 1983.BRACHT, Valter. Sociologia crítica do esporte. 2. ed. Ijuí: UNIJUÍ, 2003.BRASIL, Programa Segundo Tempo: ação de funcionamento de núcleos.Brasília: Ministério do Esporte, 2006.BRASIL, Resolução nº 5: Políticas Nacional do Esporte. Brasília: Diário Oficial<strong>da</strong> União, n. 157, 2005.BRASIL, Resolução nº 10: Políticas Setoriais de Esporte de Alto Rendimento, deEsporte Educacional e de Esporte Recreativo e de Lazer. Brasília: Diário Oficial<strong>da</strong> União, n. 64, 2006.CARVALHO, Maria João Leote de. Juventude e risco social: uma questão deolhar(es)? Relatório de Pesquisa. Universi<strong>da</strong>de Nova de Lisboa, Portugal, 2004.ELIAS, Nobert e DUNNING, Erich. Memória e socie<strong>da</strong>de a busca <strong>da</strong>excitação. Lisboa: Difel, 1992.FREIRE, Paulo. Pe<strong>da</strong>gogia <strong>da</strong> autonomia. São Paulo: Paz e Terra, 1996.GAYA, Adroaldo. Programa Segundo Tempo – Introdução. In: OLIVEIRA, AmauriA. Bássoli de e PERIM, Gianna Lepre (Org.). <strong>Fun<strong>da</strong>mentos</strong> pe<strong>da</strong>gógicos parao programa segundo tempo. 2. ed. Maringá: Eduem, 2008.HUIZINGA, Johan. Homo ludens: o jogo como elemento <strong>da</strong> cultura. SãoPaulo: Perspectiva, 1990.LE BRETON, David. A sociologia do corpo. Petrópolis/RJ: Vozes, 2006.40AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec1:40 11/11/2009 10:16:06


FUNDAMENTOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOLUCENA, Ricardo de Figueiredo. O esporte na ci<strong>da</strong>de. Campinas: AutoresAssociados, 2001.MANACORDA, Mário Alighiero. História <strong>da</strong> educação. São Paulo: Cortez,1996.MARCELLINO, Nelson Carvalho. Pe<strong>da</strong>gogia <strong>da</strong> animação. Campinas:Papirus, 1990.MASLOW, Abranham Harold. A Theory of Human Motivation. PsychologicalReview, v. 50, no. 4, July 1943’, p. 370-396.MAUSS, Marcel. As técnicas do corpo. In: MAUSS, Marcel. Sociologia eantropologia. São Paulo: Cosac Naify, 2003.MERLEAU-PONTY, Maurice. Psicologia e pe<strong>da</strong>gogia <strong>da</strong> criança: cursos <strong>da</strong>Sorbonne (1949-1952). São Paulo: Martins Fontes, 2006.NÓBREGA, Terezinha Petrucia.Qual o lugar do corpo na educação? Notas sobreconhecimento, processos cognitivos e currículo. Educação e Socie<strong>da</strong>de, v. 26,n. 91, p. 599-615, ago. 2005._____. De quantos anos precisa um artista para poder falar com sua própria voz?Notas, memórias e experiências com a educação de crianças. In: CAPISTRANO,Naire Jane; PONTES, Gilvânia (Org.). O ensino de educação física e arte nainfância. Coleção Cotidiano Escolar, v. 4, n. 1. Natal: Paidéia, 2008.OLIVEIRA, Amauri Bássoli; PERIM, Gianna (Org.). <strong>Fun<strong>da</strong>mentos</strong> pe<strong>da</strong>gógicospara o programa segundo tempo. 2. ed. Maringá: Eduem, 2008.PORTO, Eline Rozante. Educação inclusiva na educação física escolar. In:CAPISTRANO, Naire; PONTES, Gilvania (Org.). Caderno Didático 4 –Educação inclusiva no ensino de arte e educação física. Natal: UFRN/PAIDEIA/MEC, 2006.STEPHANOU, Luis; MULLER, Lúcia H.; CARVALHO, Isabel C. de Moura.Guia para a elaboração de projetos sociais. Porto Alegre: Editora Sino<strong>da</strong>l eFun<strong>da</strong>ção Luterana de Diaconia, 2003.STIGGER, Marco Paulo. Educação física, esporte e diversi<strong>da</strong>de. Campinas:Autores Associados, 2005.TOMAZI, Nelson D. Iniciação à sociologia. São Paulo: Atual, 1993.AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)41Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec1:41 11/11/2009 10:16:06


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOQuadro Síntese:O presente texto tem como ponto de parti<strong>da</strong> a reflexão em torno do papeldos projetos sociais na minimização <strong>da</strong>s desigual<strong>da</strong>des sociais, entendendo oPrograma Segundo Tempo (<strong>PST</strong>) como uma ferramenta importante nessecontexto. Evidencia-se a necessi<strong>da</strong>de em considerar o desenvolvimentohumano articulado às ativi<strong>da</strong>des de intervenção pe<strong>da</strong>gógica pelo esporte.Destaca-se, ain<strong>da</strong>, o argumento em torno do esporte como prática <strong>da</strong> culturae <strong>da</strong> educação como aprendizagem dessa cultura, apontando o desafiocolocado em reinventar o esporte na prática pe<strong>da</strong>gógica desenvolvi<strong>da</strong> nosnúcleos do <strong>PST</strong> pelo país. No decorrer do texto, são discutidos conceitosfun<strong>da</strong>mentais que devem orientar as intervenções pe<strong>da</strong>gógicas realiza<strong>da</strong>spelos monitores nos núcleos, tais como desigual<strong>da</strong>des e projetos sociais,risco social, crianças e jovens, desenvolvimento humano, inclusão, educaçãoe, principalmente, o esporte como uma possibili<strong>da</strong>de educacional que podecontribuir para minimizar o tempo de exposição de crianças e jovens aosriscos sociais, bem como estimular o surgimento de novas atitudes frente àsdesigual<strong>da</strong>des e ao seu enfrentamento.Questões Centrais para Reflexão:1 – Converse com as crianças e os jovens atendidos pelo ProgramaSegundo Tempo e recolha depoimentos sobre a seguinte questão:Por que você participa do Programa Segundo Tempo? Faça umareflexão com os coordenadores e monitores dos núcleos sobre osdepoimentos coletados.2 – Que relações podem ser estabeleci<strong>da</strong>s entre o tema “<strong>Fun<strong>da</strong>mentos</strong>do Programa Segundo Tempo: entrelaçamentos do esporte, dodesenvolvimento humano, <strong>da</strong> cultura e educação” com as demaistemáticas propostas neste livro?Para tanto, organize um grupo de estudos com coordenadores emonitores. Realize uma leitura detalha<strong>da</strong> de todos os textos <strong>da</strong>capacitação e busque materializar to<strong>da</strong>s as propostas, e/ou parte delas,42AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec1:42 11/11/2009 10:16:06


FUNDAMENTOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOem ca<strong>da</strong> um dos seus núcleos. Depois, discuta se ocorreram mu<strong>da</strong>nçasno desenvolvimento <strong>da</strong>s ações em seus respectivos núcleos.3 – Faça um levantamento dos jogos populares existentes na suacomuni<strong>da</strong>de e relacione-os com as mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des esportivasdesenvolvi<strong>da</strong>s nos Núcleos do Programa Segundo Tempo,considerando os seguintes aspectos: participação dos sujeitos, regras,materiais e espaços utilizados, entre outros. Sugira que as criançaspesquisem jogos que seus pais, avós e membros <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>devivenciaram na infância. Solicite que as crianças levem os jogoscatalogados para uma exploração pe<strong>da</strong>gógica nos núcleos.Onde Saber Mais:Livros:DE ROSE, Dante (Org.). Esporte e ativi<strong>da</strong>de física na infância e naadolescência: uma abor<strong>da</strong>gem multidisciplinar. Porto Alegre: Artmed, 2002.KUNZ, Elenor. Transformação didático-pe<strong>da</strong>gógica do esporte. Ijuí:Unijuí, 1994.PORPINO, Karenine. Jogo, esporte, ginástica e luta: sentidos <strong>da</strong> cultura demovimento na educação física. In: NÓBREGA, T. Petrucia <strong>da</strong> (Org.). O ensinode educação física <strong>da</strong> 5ª a 8ª séries. Natal: MEC/Paidéia, 2005.Revista/Artigos on-line:http://www.revistas.ufg.br/index.php/fefhttp://www.seer.ufrgs.br/index.php/Movimentohttp://www.cds.ufsc.br/motrivivencia/motrivivencia.htmlhttp://www.rbceonline.org.br/revista/index.php/RBCEAMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)43Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec1:43 11/11/2009 10:16:06


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FUNDAMENTOS DO LAZER E DAANIMAÇÃO CULTURALVictor Andrade de Melo 1Angela Brêtas 2Mônica Borges Monteiro 3INTRODUÇÃONas últimas déca<strong>da</strong>s, tem crescido consideravelmente a preocupaçãocom as práticas de lazer <strong>da</strong> população. Ca<strong>da</strong> vez mais o assunto tem setornado motivação para a elaboração de políticas, programas e projetos,conduzidos por órgãos governamentais, organizações não governamentaisou de caráter misto (caso do Programa Segundo Tempo, uma ação doGoverno Federal/Ministério do Esporte em conjunto com parceiros dediferentes setores <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de civil, públicos e privados).Na mesma medi<strong>da</strong> em que se multiplicam tais iniciativas, surgemalgumas questões que devem ser cui<strong>da</strong>dosamente considera<strong>da</strong>s. Comoadministrar com eficácia, eficiência e efetivi<strong>da</strong>de os projetos? Como“animar” com quali<strong>da</strong>de os espaços de atuação, tornando-os referênciaspara as comuni<strong>da</strong>des envolvi<strong>da</strong>s? Como extrapolar o simples oferecimentode ativi<strong>da</strong>des, potencializando as oportuni<strong>da</strong>des de intervenção pe<strong>da</strong>gógica,tendo em vista contribuir significativamente com os coletivos com osquais estamos trabalhando?1 Professor Doutor <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Federal do Rio de Janeiro. Coordenador do grupo de pesquisa“Anima”: Lazer, Animação Cultural e Estudos Culturais e do “Sport”: Laboratório de História doEsporte e do Lazer.2 Professora Doutora <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Federal do Rio de Janeiro. Coordenadora do grupo de pesquisa“Esquina”: Lazer e Ci<strong>da</strong>de.3 Mestre em Educação/Unirio. Pesquisadora do grupo de pesquisa “Anima”: Lazer, Animação Culturale Estudos Culturais.Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec2:45 11/11/2009 10:16:06


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOTendo em vista tais questões, este trabalho não pretende ser um receituário deativi<strong>da</strong>des, mas sim apresentar um conjunto de reflexões que possa contribuirpara o encaminhamento de intervenções comunitárias de lazer de quali<strong>da</strong>de,compreendi<strong>da</strong>s em um quadro estratégico de curta, média e longa duração.O pressuposto é simples e direto: as ações do ProgramaSegundo Tempo estão relaciona<strong>da</strong>s ao lazer, já que se constituemfun<strong>da</strong>mentalmente em uma possibili<strong>da</strong>de de intervenção no tempo livrede nosso público-alvo (afinal, lembremos, atuamos no contraturno escolare aos finais de semana). Nessa medi<strong>da</strong>, os profissionais envolvidos podemtambém ser considerados e entendidos como profissionais de lazer, comoanimadores culturais, conforme mais à frente melhor explicaremos. Oreconhecimento dessas dimensões, as peculiari<strong>da</strong>des e os desafios que seimpõem são fun<strong>da</strong>mentais para melhor alcance dos nossos objetivos, paraque possamos <strong>da</strong>r um salto de quali<strong>da</strong>de na forma de conceber nossotrabalho e nossas responsabili<strong>da</strong>des no Programa.O intuito é que este material seja uma referência introdutória paraaproximação à problemática tão instigante: os fun<strong>da</strong>mentos do lazer e<strong>da</strong> animação cultural. Buscamos o equilíbrio e a articulação entre umdeterminado entendimento teórico, necessário para evitar o simplismode uma atuação somente pauta<strong>da</strong> na boa vontade, e uma prática cotidianaconsequente, que aponte novas perspectivas de compreensão <strong>da</strong>importância dos momentos de lazer para as diversas comuni<strong>da</strong>des.Nesse sentido, queremos estimular o leitor a não apenas desven<strong>da</strong>rteoricamente este trabalho, mas também verificar em que medi<strong>da</strong> elepode ser útil para as ações cotidianas, para potencializar os encontros comas crianças, adolescentes, jovens, idosos e qualquer público envolvidocom o Programa Segundo Tempo.A IMPORTÂNCIA DO LAZERComecemos por tecer algumas considerações sobre a importânciado fenômeno lazer no mundo contemporâneo. Em tais compreensões,46AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec2:46 11/11/2009 10:16:06


FUNDAMENTOS DO LAZER E DA ANIMAÇÃO CULTURALencontram-se os elementos iniciais que devem nortear a elaboração destaspropostas de intervenção.O lazer é um fenômeno moderno, que emerge em decorrência dodesenvolvimento do modelo de produção fabril (as fábricas nas déca<strong>da</strong>sfinais do século XVIII); e é uma <strong>da</strong>s consequências <strong>da</strong> Revolução Industrial.Isto é, no decorrer <strong>da</strong> história sempre existiram ativi<strong>da</strong>des relaciona<strong>da</strong>sà diversão, no entanto, somente quando a jorna<strong>da</strong> de trabalho se tornaestrutura<strong>da</strong>, bem defini<strong>da</strong> diariamente (com hora de entra<strong>da</strong>, almoço e desaí<strong>da</strong>), é que podemos identificar o surgimento de um tempo disponívelque se estabelece a partir do que sobra, não só <strong>da</strong> rotina de trabalho,como também de outras tarefas domésticas cotidianas (cui<strong>da</strong>r dos filhos,resolver problemas <strong>da</strong> casa etc.).Os momentos de lazer sempre foram fóruns de tensão social.Primeiramente por que foram conquistados e não concedidos pelosdonos dos meios de produção (industriais em geral). A regulamentação ea restrição <strong>da</strong> excessiva jorna<strong>da</strong> de trabalho somente foram possíveis graçasà ação organiza<strong>da</strong> dos trabalhadores. Nesse importante âmbito e locusde vivência, defrontaram-se parâmetros diferenciados de compreensãocultural, de acordo com os diversos interesses existentes na socie<strong>da</strong>de.O assunto começou a ser estu<strong>da</strong>do e discutido já na vira<strong>da</strong> dosséculos XIX e XX, mas, no Brasil, somente nas últimas quatro déca<strong>da</strong>stem recebido maior atenção, embora possamos identificar os primórdiosdessas preocupações já nas déca<strong>da</strong>s de 1920 e 1930. A partir <strong>da</strong> déca<strong>da</strong>de 1970, o campo do lazer estruturou-se de tal forma que podemos hojeidentificá-lo organizado em três grandes fóruns, que se inter-relacionam,mesmo possuindo peculiari<strong>da</strong>des:a) ao redor do lazer, temática que se caracteriza pelo carátermultidisciplinar, percebe-se a conformação de um campoacadêmico, que já possui uma relativamente longa tradiçãode estudos e pesquisas, embora ain<strong>da</strong> careça de completoreconhecimento no âmbito <strong>da</strong>s universi<strong>da</strong>des;b) o lazer apresenta-se como um relativamente recente, mas fértil epromissor campo de negócios, um mercado de consumo ain<strong>da</strong>não completamente definido e com grandes lacunas a serempreenchi<strong>da</strong>s;AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)47Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec2:47 11/11/2009 10:16:06


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOc) o que mais nos interessa no que se refere ao Programa SegundoTempo: o lazer é um direito social e um tempo/espaço deformação e, por isso, no âmbito do governo federal, não só noPrograma Segundo Tempo, mas também nas ações de outrassecretarias e ministérios, ele recebe e deve continuar recebendoa devi<strong>da</strong> atenção.Durante muito tempo o assunto foi menos valorizado, até mesmoporque a socie<strong>da</strong>de moderna e contemporânea é estrutura<strong>da</strong> a partir <strong>da</strong>centrali<strong>da</strong>de e supervalorização dos momentos de produção. Quantasvezes já não ouvimos que o trabalho enobrece? Por que o lazer tambémnão enobreceria? Lamentavelmente, somos majoritariamente educados,no decorrer de nossa vi<strong>da</strong>, para valorizar o mundo do trabalho (que seria“sério”) e não para tempo <strong>da</strong> diversão (já que este seria “não sério”).Isso faz com que, muitas vezes, nos esqueçamos de que os momentosde lazer são uma dimensão de grande importância para uma boa quali<strong>da</strong>dede vi<strong>da</strong>. Articulados com isso, podem ser instantes fun<strong>da</strong>mentais para quedescubramos to<strong>da</strong>s as possibili<strong>da</strong>des de prazer e de formação/educaçãoque se oferecem (ou ao menos que se deveriam oferecer a todos). É lógicoque o trabalho é muito importante para todos os seres humanos, mastambém o lazer deve ser encarado com igual relevância. Na ver<strong>da</strong>de, nãohá oposição entre ambos: trata-se de dois importantes, na mesma medi<strong>da</strong>relevantes, fóruns de vivência social.Não podemos (e não devemos) concor<strong>da</strong>r que se estabeleça umahierarquia <strong>da</strong>s necessi<strong>da</strong>des humanas, acreditando que devemos primeiroresolver os problemas do trabalho, <strong>da</strong> saúde, <strong>da</strong> educação e, por último, dolazer. O lazer não só é tão importante quanto to<strong>da</strong>s as outras necessi<strong>da</strong>descomo também se articula com elas. A população paulatinamente começaa compreender isso, e, certamente, o Programa Segundo Tempo temrelação com essa deman<strong>da</strong> pública.Assim, não devemos considerar o lazer como um assunto de menor importância,de menor valor. Ele é uma <strong>da</strong>s necessi<strong>da</strong>des humanas, é um importante campode vivência social. Não é um tempo/espaço ingênuo ou isolado <strong>da</strong>s outras esferas<strong>da</strong> vi<strong>da</strong> em socie<strong>da</strong>de, mas, sim, de tensão social, de diálogo e de conflito, quedeve ser compreendido a partir <strong>da</strong> ótica de circulari<strong>da</strong>de cultural (trocas mútuase constantes de valores e sensibili<strong>da</strong>des). Por isso, a intervenção profissional devesuperar o espontaneísmo e ser implementa<strong>da</strong> de maneira consequente.48AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec2:48 11/11/2009 10:16:06


FUNDAMENTOS DO LAZER E DA ANIMAÇÃO CULTURALNo decorrer deste trabalho veremos como, no âmbito do ProgramaSegundo Tempo, é profun<strong>da</strong> a relação entre o lazer e a educação quandoo entendemos a partir de sua dupla dimensão educativa (educar para olazer e educar pelo lazer) e quando o identificamos enquanto potencialestratégia de promoção de desenvolvimento local a partir de uma lógicade contribuição para a auto-organização comunitária.CONCEITOSO que chamamos de lazer? Tal conceito normalmente conjugadois parâmetros: um mais objetivo, de caráter mais social (o tempo), eoutro mais subjetivo, de caráter mais individual (o prazer). Em linhasgerais, consideramos que as ativi<strong>da</strong>des de lazer são caracteriza<strong>da</strong>s portrês aspectos:a) As ativi<strong>da</strong>des de lazer são culturais, em seu sentido maisamplo. Não se trata somente de ativi<strong>da</strong>des artísticas (ain<strong>da</strong>que essas sejam uma parte importante a ser considera<strong>da</strong>);englobam, inclusive, os diversos interesses humanos, asdiversas linguagens. Portanto, considerando o ProgramaSegundo Tempo, temos em conta que o enfoque do lazerpode trazer um rico campo de possibili<strong>da</strong>des para vivenciaro esporte em seus sentidos mais amplos, não só buscando osdiálogos possíveis com diversas manifestações, como tambémentendendo o fenômeno esportivo em si enquanto formaçãocultural.b) Consideramos, também, que as ativi<strong>da</strong>des de lazer sãovivencia<strong>da</strong>s no tempo livre <strong>da</strong>s obrigações, do trabalho,<strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des domésticas e religiosas e <strong>da</strong>s necessi<strong>da</strong>des.Como já abor<strong>da</strong>mos, o Programa Segundo Tempo opera nocontraturno escolar, no tempo livre <strong>da</strong>s obrigações escolares,sem a pretensão de se estabelecer enquanto espaço de formaçãoprofissional.c) Por fim, as ativi<strong>da</strong>des de lazer são busca<strong>da</strong>s tendo em vista o prazerque podem possibilitar, embora nem sempre isso ocorra. No queAMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)49Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec2:49 11/11/2009 10:16:06


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOse refere ao Programa Segundo Tempo, devemos aqui ressaltartrês questões importantes: 1) sempre buscar ativi<strong>da</strong>des prazerosaspara envolver nosso público-alvo; 2) evitar reproduzir a lógica dochamado esporte de alto rendimento (essa natureza de atuaçãocombina mais com os interesses de atletas profissionais, emborapossa ser também de interesse para alguns atletas amadores); 3)buscar fazer uso de ativi<strong>da</strong>des prazerosas não significa abandonara perspectiva de formação, tampouco fazer exatamente o queo público quer, mas estabelecer diálogos nos quais possamosapresentar alternativas de experiência que podem ser prazerosas,ain<strong>da</strong> que não conheci<strong>da</strong>s pelos envolvidos em função de umasérie de razões sociais (mais à frente aprofun<strong>da</strong>remos esse debate,a chave de compreensão <strong>da</strong> proposta de intervenção pe<strong>da</strong>gógica<strong>da</strong> animação cultural).Devemos também ter em conta que assistir e praticar são duaspossíveis posturas nos momentos de lazer. Um indivíduo pode tiraro domingo para ir com família a um jogo de futebol do campeonatobrasileiro. Estará assistindo ao espetáculo esportivo, e isso é uma ativi<strong>da</strong>dede lazer. Mas também pode ter o seu jogo semanal (conhecido em muitoslugares como “pela<strong>da</strong>” ou como “baba”), e essa é também uma ativi<strong>da</strong>dede lazer. Pode assistir a uma peça de teatro ou participar de um grupoamador. Pode se deliciar com um espetáculo de música erudita ou cantarno coral de sua igreja.Ao profissional de lazer cabe buscar um equilíbrio entre essasposturas que, aliás, podem e devem retroalimentar-se. Imaginemosque, na ci<strong>da</strong>de, exista uma grande exposição sobre um importantemovimento artístico. Podemos, antes de levar nosso público-alvo a essaexposição, dedicar algumas horas para apresentar as peculiari<strong>da</strong>des doque será visto, suas características, os principais representantes e suasobras principais, bem como suas repercussões em outras linguagens.Na volta <strong>da</strong> visita, que tal estimularmos o pessoal a tentar comporquadros inspirados no que foi visto? A quali<strong>da</strong>de artística não é o maisimportante nesse momento, mas sim o prazer e o conhecimento quea ativi<strong>da</strong>de possibilita.Uma de nossas tarefas é mostrar que a vivência do lazer começaantes <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des propriamente ditas. Ir ao cinema começa quandonos programamos, convi<strong>da</strong>mos alguém, nos preparamos lendo as50AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec2:50 11/11/2009 10:16:07


FUNDAMENTOS DO LAZER E DA ANIMAÇÃO CULTURALcríticas e buscando informações sobre o diretor, sobre os atores, sobrea proposta do filme. Se estivermos previamente informados, teremosmais possibili<strong>da</strong>des de potencializar nosso prazer perante a ativi<strong>da</strong>de.Depois disso, vem o ato em si de ir ao cinema, comprar o ingresso,entrar na sala, esperar o momento em que as luzes se apagam e assistirà película. E a vivência não termina aí, pois depois <strong>da</strong> sessão podemosconversar sobre o filme, pensar sobre ele, identificar se causou algumareflexão para nossa vi<strong>da</strong>.Lamentavelmente, por motivos já explicitados, construiu-se umconceito equivocado que considera o lazer como algo alienado, algopara “você parar de pensar na vi<strong>da</strong>”. Brincamos sempre com nossosalunos dizendo que nos esforçamos muito para parar de pensar, masnunca entendemos efetivamente como alguém consegue! Vejamosque, com isso, não estamos dizendo que se deve ferir a perspectivade prazer ou transformar a vivência de lazer em algo chato. Estamosafirmando que conhecer e pensar podem ser ativi<strong>da</strong>des que causemum imenso prazer também, com diferentes ênfases em distintosmomentos <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>.Na ver<strong>da</strong>de, esperamos que seja possível contribuir para que nosso grupo deixe deser apenas público (no sentido de ser massa passiva) e passe a ser espectador, crítico,atento e participativo na vivência de seus momentos de lazer. Isso, obviamente, semque deixe de se divertir!Da mesma forma, devemos tomar cui<strong>da</strong>do, pois, não poucas vezesreproduzimos a rotina do trabalho nos momentos de lazer. Imaginemosuma excursão de uma empresa de turismo. Em muitos casos, há a figurado “guia turístico”. Esse profissional prepara uma programação para osmembros <strong>da</strong> excursão. Algum problema nesse programa? Depende. Se oprograma for uma opção, ótimo. Mas se ele for extremamente rígido, comhorários apertados, gerando correria e sendo quase uma obrigação paratodos, isso é bastante ruim.O profissional deve tomar cui<strong>da</strong>do para não reproduzir tal fato.Lembremos que os momentos de lazer têm uma lógica diferente deorganização de tempo, que o grupo deve ter a possibili<strong>da</strong>de de escolha eque deve haver tempo para que as pessoas possam desfrutar <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>desrealiza<strong>da</strong>s.AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)51Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec2:51 11/11/2009 10:16:07


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOAtenção para esse aspecto nas ativi<strong>da</strong>des diárias do Programa Segundo Tempo! Éver<strong>da</strong>de que deve existir uma rotina, que devemos estimular nosso público a buscardiferentes ativi<strong>da</strong>des, que devemos dialogar tendo em vista apresentar alternativas,que devemos ter claramente um programa e que existem normas e regras quedevem ser segui<strong>da</strong>s, mas precisamos ter cui<strong>da</strong>do para não transformar a ativi<strong>da</strong>deem um espelho <strong>da</strong> escola, com a mesma rígi<strong>da</strong> estrutura disciplinar e controleexacerbado do tempo.Por fim, um alerta: lembre-se de que o profissional de qualquerprojeto de lazer é um trabalhador. Quando estamos atuando, as ativi<strong>da</strong>dessão de lazer para nosso grupo; para nós, elas são de trabalho, e a posturaexigi<strong>da</strong> é a de um profissional, mesmo que possam também ser tarefasdiverti<strong>da</strong>s e prazerosas. Somos os primeiros a chegar, temos de organizartudo, temos responsabili<strong>da</strong>des (em muitos casos inclusive legais) deconduzir a ativi<strong>da</strong>de com segurança. O grupo tem a opção de vir ou não;nós, profissionais, temos a responsabili<strong>da</strong>de de comparecer, até porquesomos pagos para a realização e/ou condução do programa.A ANIMAÇÃO CULTURALGrande parte <strong>da</strong> população possui uma vivência de lazer bastanterestrita. Como trabalha muito, perde muito tempo no transporte diárioaté o local de trabalho (no caso <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong>des maiores), não é educa<strong>da</strong> nodecorrer <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> para acessar linguagens diferencia<strong>da</strong>s e não possui opçõesculturais diversifica<strong>da</strong>s próximas de sua moradia, não é equivocado afirmarque, na maior parte dos casos, as opções restringem-se às difundi<strong>da</strong>s pelaindústria cultural, pelos meios de comunicação de massa (nota<strong>da</strong>mentetelevisão e rádio).A maior parte acaba mesmo por acessar a programação televisiva,as festas locais e familiares, o futebol. Não que tais ativi<strong>da</strong>des sejam aprincípio inadequa<strong>da</strong>s, mas não deveríamos pensar em alternativas delazer para além dessas?52AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec2:52 11/11/2009 10:16:07


FUNDAMENTOS DO LAZER E DA ANIMAÇÃO CULTURALNesse quadro de dificul<strong>da</strong>de de acesso diverso, as manifestações<strong>da</strong> cultura erudita continuam restritas a poucos. O cinema, a músicaclássica, a literatura, o teatro, as artes plásticas tornam-se luxo parauma pequena parcela <strong>da</strong> população, que pode pagar para consumire/ou que possui a formação educacional adequa<strong>da</strong> que estimule abusca por tais ativi<strong>da</strong>des. Por exemplo, a música clássica é muitomenos procura<strong>da</strong> que outros estilos musicais, como o samba (ou aomenos os grupos de pagode divulgados pelos meios de comunicação).Mas será que realmente a maioria <strong>da</strong>s pessoas não gosta de músicaclássica, ou será que isso ocorre porque não são educa<strong>da</strong>s e/ou nãopossuem possibili<strong>da</strong>des concretas de acessá-la com facili<strong>da</strong>de? Naver<strong>da</strong>de, a indústria cultural acaba “educando” para um gosto restritoe limitado.Uma atuação no âmbito do lazer, tendo em vista tal contexto,deve procurar potencializar as oportuni<strong>da</strong>des de vivência <strong>da</strong>população, apresentando outras possibili<strong>da</strong>des de prazer e diversão.Ao fazermos isso, ao ampliarmos o acesso às diferentes linguagens/manifestações, também estaríamos contribuindo para estimularoutros olhares, outras perspectivas de vi<strong>da</strong>, para difundir outrosvalores e compreensões sobre o mundo. Em última instância,estamos falando de um processo de sensibilização, ou, sendo maisclaro, de educação <strong>da</strong> sensibili<strong>da</strong>de. Dado o seu caráter de mediaçãoe diálogo, denominamos essa perspectiva de intervenção pe<strong>da</strong>gógicade “Animação Cultural”, termo composto a partir <strong>da</strong> palavra “anima”,alma em grego.Para melhor encaminhar tal perspectiva de atuação, devemoster em conta o que chamamos de duplo aspecto educativo dolazer: a “educação para e pelo lazer”. Podemos, sim, aproveitaros momentos de lazer para discutir valores e normas, contribuirpara desenvolver uma perspectiva crítica dos indivíduos acerca <strong>da</strong>reali<strong>da</strong>de (educação pelo lazer). Porém, mais que isso, precisamoseducar as pessoas para que compreen<strong>da</strong>m as múltiplas possibili<strong>da</strong>desde lazer de que podem usufruir, oportunizando e estimulando abusca <strong>da</strong>s mais diversas formas de diversão e prazer nos momentosde não trabalho (educação para o lazer). Isso deve ser feito nãoem confronto com a formação cultural de ca<strong>da</strong> indivíduo e deca<strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de, mas em um processo pe<strong>da</strong>gógico prolongado dediscussão, diálogo e mediação.AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)53Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec2:53 11/11/2009 10:16:07


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPONo Programa Segundo Tempo, por exemplo, devemos ensinar os fun<strong>da</strong>mentos doesporte. Isso, certamente, pode ser útil para que os indivíduos possam incorporáloscomo alternativas de uso do tempo livre (educação para o lazer). Nesse âmbito,devemos nos programar para tratar outras questões pe<strong>da</strong>gógicas, aproveitar assituações de jogo para pôr em discussão valores e sensibili<strong>da</strong>des (educação pelolazer). Devemos também discutir tudo o que cerca a prática, seus diferentesformatos, as outras opções que existem a seu redor e mesmo fazer o diálogopossível com outras manifestações culturais, aproveitando as situações para falarmais sobre como essas também se constituem em possibili<strong>da</strong>des de lazer (de novoeducação para o lazer).OS EQUIPAMENTOS DE LAZER: PROBLEMAS E ANECESSIDADE DE APROVEITAMENTOMÚLTIPLOPoderíamos afirmar que existem poucos equipamentos de lazerdistribuídos pelas ci<strong>da</strong>des brasileiras? Ou seria melhor dizer que osequipamentos que existem muitas vezes são mal aproveitados? Ou, ain<strong>da</strong>,que o problema maior é a própria distribuição de tais equipamentos pelosbairros e distritos de ca<strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de?A questão dos equipamentos de lazer é bastante complexa, sendo um dosproblemas mais significativos no que se refere à restrição <strong>da</strong> possibili<strong>da</strong>de de acessoàs vivências de lazer. Não por acaso, é comum que as comuni<strong>da</strong>des constantementereivindiquem a construção de novos espaços públicos, para que possam aproveitarmelhor seus momentos de não trabalho.Podemos dizer que o problema ocorre a partir <strong>da</strong> conjunção derespostas positivas às três perguntas anteriores. Existem, sim, poucosequipamentos de lazer distribuídos pelas ci<strong>da</strong>des. Por exemplo, somente 7%dos municípios brasileiros possuem cinemas. Mais ain<strong>da</strong>, 68% <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong>desnão dispõem de teatros. Contudo, em 98% <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong>des é disponibilizadoo sinal de um dos canais de televisão mais conhecidos (MELO; PERES,54AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec2:54 11/11/2009 10:16:07


FUNDAMENTOS DO LAZER E DA ANIMAÇÃO CULTURAL2009). Com esses <strong>da</strong>dos, confirmamos o que mencionamos no itemanterior: a ação <strong>da</strong> indústria do entretenimento é bastante poderosa.Então estamos afirmando que os habitantes de ci<strong>da</strong>des que possuemuma rede de cinemas e teatros são privilegiados por terem acesso a taisespaços? Não necessariamente. Peguemos o caso do Rio de Janeiro. Essemunicípio possui mais de 150 salas de cinema, mas estão distribuí<strong>da</strong>spor somente 20 bairros, a maioria no eixo Centro-Zona Sul-Barra, ondemora a população de maior poder econômico. A ci<strong>da</strong>de possui mais de50 centros culturais, sendo que somente dois se localizam na Zona Oeste<strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de (MELO; PERES, 2009). Podemos identificar, a partir desseexemplo, que o privilégio permanece no interior dos municípios quepossuem uma vasta rede de equipamentos de lazer.Temos, ain<strong>da</strong>, de considerar a quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> programação ofereci<strong>da</strong>. Aci<strong>da</strong>de do Rio de Janeiro, por exemplo, possui cerca de 25 salas de cinemade arte (também chamados de cinemas “alternativos)”, que procuramexibir um material de quali<strong>da</strong>de diferencia<strong>da</strong> e filmes de diferentes países(MELO; PERES, 2009). Somente uma dessas salas atende as ZonasOeste e Zona Norte. O melhor <strong>da</strong> programação dos Centros Culturaistambém pouco chega a tais regiões. Mesmo que chegasse, se não forimplementado um processo sério de animação cultural, de educaçãopara o lazer, corremos o risco de ver os eventos esvaziados, já que aspessoas não costumam procurar aquilo que não conhecem e/ou nãovalorizam por desconhecimento.Some-se a isso outro problema dos mais graves: a falta deaproveitamento adequado de equipamentos já construídos. Muitas ci<strong>da</strong>despossuem pelo menos um cinema e/ou teatro, mas não poucas vezes essespraticamente não funcionam ou simplesmente abrem para a realizaçãode eventos esporádicos, não configurando sua programação a partir dooferecimento de ativi<strong>da</strong>des permanentes e de formação cotidiana.Esse problema poderia ser minimizado com ações simples. As ci<strong>da</strong>desnormalmente possuem escolas municipais. Nos fins de semana, a maiorparte delas permanece fecha<strong>da</strong>. Imaginem se conseguíssemos transformarpelo menos uma escola por bairro em um centro cultural? Aos fins desemana, essas escolas seriam manti<strong>da</strong>s abertas, oferecendo ativi<strong>da</strong>despara a comuni<strong>da</strong>de: práticas esportivas nas quadras, oficinas artísticas nassalas de aula, cursos diversos para os interessados, projeção de filmes emvídeos, espetáculos musicais etc.AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)55Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec2:55 11/11/2009 10:16:07


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOAlgo semelhante acontece com quadras e/ou ginásios. Na maioria doscasos, permanecem fechados a maior parte do tempo, somente abrindopara jogos especiais (quando algum time famoso visita a ci<strong>da</strong>de), parajogos de federações diversas ou, no máximo, para alguma prática esportivaesporádica <strong>da</strong> população. Não estaríamos a minimizar as potenciali<strong>da</strong>desdesses espaços de lazer? Por que não “animar” tal equipamento, mantendoativi<strong>da</strong>des permanentes (que aconteceriam diariamente), realizandoeventos de fins de semana, extrapolando a questão <strong>da</strong> própria práticaesportiva? Nesses espaços, poderiam também ser organiza<strong>da</strong>s exposições,sessões de projeção de filmes, ativi<strong>da</strong>des de recreação para as crianças,aulas de música, eventos comemorativos e tudo o mais que a criativi<strong>da</strong>depermitir.Alguns administradores argumentam que controlamexcessivamente a frequência dos espaços de lazer tendo em vista queo público quebra ou não conserva adequa<strong>da</strong>mente as instalações. Masserá que o público não faz isso exatamente porque não identifica aqueleespaço como seu? Não se trataria de educar o público? Não pareceabsurdo os órgãos governamentais investirem um expressivo dinheiroorçamentário (que em última instância sai do bolso do ci<strong>da</strong>dão) e aprópria população não poder acessar com frequência os equipamentose deles usufruir?Existe uma saí<strong>da</strong> clara para aumentarmos a movimentação eotimizarmos a utilização (múltipla) dos espaços de lazer, entre osquais as quadras e ginásios esportivos, talvez a única efetiva e aquelaque melhor exponencia a perspectiva de intervenção educacional noâmbito do lazer, que deve ser implementa<strong>da</strong> por organizações públicas epriva<strong>da</strong>s comprometi<strong>da</strong>s com o interesse público: a cogestão dos espaços.Abor<strong>da</strong>mos a seguir esse assunto.O PAPEL DA COMUNIDADEPara potencializarmos o uso dos espaços de lazer, devemos buscar omaior envolvimento possível <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de interessa<strong>da</strong>. Isto é, procuraradministrar não para os envolvidos, e sim em conjunto com eles.56AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec2:56 11/11/2009 10:16:07


FUNDAMENTOS DO LAZER E DA ANIMAÇÃO CULTURALQuando deixamos de ter tal procedimento, mesmo com boa vontade,corremos o risco de não cumprir adequa<strong>da</strong>mente nossas funções e deimplementar ações que não tenham os desdobramentos esperados. Temosmuitos exemplos de fracassos no que se refere à construção e à gestão deespaços de lazer, devido ao fato de a população não ter sido envolvi<strong>da</strong>e/ou consulta<strong>da</strong>.Consideremos o seguinte exemplo, já identificado concretamentepor nós. Determina<strong>da</strong> locali<strong>da</strong>de possuía uma praça, pequena, feia,aparentemente desorganiza<strong>da</strong>, mas muito utiliza<strong>da</strong>. As crianças pequenasjogavam bolinha de gude e ro<strong>da</strong>vam pião na areia. Pela manhã e pela tarde,os adolescentes jogavam futebol no campo improvisado, cujas balizaseram marca<strong>da</strong>s por pedras e chinelos ou construí<strong>da</strong>s precariamente comvelhos pe<strong>da</strong>ços de madeira. Os adultos e idosos jogavam cartas em umtosco banco e mesa de madeira construídos embaixo de uma árvore. Pelanoite, a praça era ocupa<strong>da</strong> por namorados, a conversar e comer pipoca,e por pessoas que chegavam do trabalho para o jogo de futebol, sempreseguido de um bate-papo animado.Aí vem o poder público. Acha que aquela praça não é adequa<strong>da</strong> e,sem consultar a população, envolve sua equipe de arquitetos na tarefa dereformá-la. De repente, o espaço fica fechado ao uso por meses com apromessa de que ele vai ficar melhor e mais bonito. Ao final, numa grandefesta, inaugura-se a “nova” praça. Depois <strong>da</strong> inauguração, começam osproblemas.Onde havia terra, os arquitetos colocaram concreto, pois essematerial “dura mais”. Assim, já não se pode mais jogar bolinha de gudeou ro<strong>da</strong>r pião. A mesa dos idosos que jogavam carta foi retira<strong>da</strong>, poisera feia. Logo, em função do calor e <strong>da</strong> falta de espaço, já não podemmais continuar com sua prática cotidiana. As quadras esportivasconstruí<strong>da</strong>s são belíssimas, construí<strong>da</strong>s segundo o modelo “oficial” e,por isso, nem todo mundo pode usar a qualquer hora. Burocratiza-seo acesso, sem falar que as dimensões “oficiais” dificultam a práticaesportiva dos menores. A praça é cerca<strong>da</strong> e fecha<strong>da</strong> às 18 horas, sobo argumento de conservação e segurança. Assim, os namorados têmmesmo que ficar no portão de casa.Em algumas semanas, a bonita praça virou um monumento, quaseum espaço sem utili<strong>da</strong>de, um “elefante branco”. Se formos pensar bem,era melhor a praça antiga, feia, mas útil.AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)57Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec2:57 11/11/2009 10:16:07


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOO ideal seria que os responsáveis pela reforma se articulassem com a comuni<strong>da</strong>de,identificando seus desejos e suas necessi<strong>da</strong>des, tornando-a bonita sim, porémtambém utilizável de forma vantajosa. Mais ain<strong>da</strong>: que se envolvesse a comuni<strong>da</strong>dena conservação e na gestão, agindo como parceira no eficaz aproveitamento <strong>da</strong>queleespaço construído, que, em última instância, significa um investimento social e umempreendimento financeiro.Esse tipo de proposta é mais trabalhosa? Sem dúvi<strong>da</strong>. Contudo, semisso, estamos correndo o risco de desrespeitar as comuni<strong>da</strong>des, investircom pouca garantia de retorno (isso é, correndo o risco de a ação não sernem eficiente, tampouco efetiva) e, do ponto de vista financeiro, ain<strong>da</strong>ter mais gastos no futuro, já que a população pode não se envolver napreservação (logo, também não será eficaz).É fun<strong>da</strong>mental entender no Programa Segundo Tempo, que acomuni<strong>da</strong>de não é um mero detalhe, nem deve ser considera<strong>da</strong> comopassiva: ela deve ser convi<strong>da</strong><strong>da</strong>, estimula<strong>da</strong> a participar ativamente. Umavez mais chamamos a atenção: um projeto de lazer não é aquilo que opúblico quer, nem aquilo que quer o profissional de lazer, mas aquiloque se gesta no diálogo entre ambos.A QUESTÃO DA INCLUSÃO SOCIAL, DAADAPTABILIDADE DOS ESPAÇOSE DA SEGURANÇAAo prepararmos nossa programação, devemos estar atentos paradiversificar as ativi<strong>da</strong>des, de forma a atingir os mais diversos interessese gostos, e permitir a participação de todos, sempre levando em conta afaixa etária (crianças, adolescentes, adultos, idosos), a questão do gênero(homens e mulheres) e <strong>da</strong> orientação sexual (homossexuais masculinose femininos, transexuais), as pessoas com deficiências (sejam elas físicas,visuais, intelectuais ou múltiplas), o grau de preparação e de aptidão para arealização do que for oferecido. Sempre que possível, inclusive, devemospensar em ativi<strong>da</strong>des que possam juntar públicos diversos em uma mesmaprática, homens e mulheres juntos, crianças e adultos, jovens e idosos(intergeracionali<strong>da</strong>de).58AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec2:58 11/11/2009 10:16:07


FUNDAMENTOS DO LAZER E DA ANIMAÇÃO CULTURALTambém é fun<strong>da</strong>mental ressaltar que não devemos permitir qualquermanifestação de preconceito e discriminação em nossas programações,sejam eles de que natureza for. Todos devem ser contemplados, respeitadose devem ter o direito de participar ativamente em to<strong>da</strong>s as fases dosprojetos (preparação, execução, avaliação).Para que todos possam participar, temos, inclusive, pensar naa<strong>da</strong>ptação dos espaços físicos. Por exemplo, alguns locais possuem longasesca<strong>da</strong>s como entra<strong>da</strong>s. Isso cria dificul<strong>da</strong>des de acesso e constrangimentospara uma parte significativa de idosos e portadores de deficiência, que, emfunção de sua dificul<strong>da</strong>de de deslocamento, dependem <strong>da</strong> boa vontadede outros ou até mesmo ficam impedidos de usufruir <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>desofereci<strong>da</strong>s. Caso o espaço já esteja construído, podemos pensar nacolocação de rampas de madeira para facilitar o acesso. Aliás, devemoslembrar que garantir a segurança do público é fun<strong>da</strong>mental.A questão <strong>da</strong> a<strong>da</strong>ptabili<strong>da</strong>de também deve ser observa<strong>da</strong> quandopensamos no material a ser utilizado. Imaginemos o seguinte exemplo:desejamos organizar um jogo de basquete com crianças de 5/6 anos. Não épossível que, nesse caso, utilizemos as tabelas oficiais, pois será difícil quetenham força para arremessar a bola. Assim, devemos construir tabelasmais baixas, facilmente confeccionáveis com PVC e um latão cheio decimento. Além disso, não devemos utilizar a bola oficial de basquete, demanuseio complicado para a referi<strong>da</strong> faixa etária. Podemos tranquilamentetrocar por uma bola de borracha, de toque mais agradável.Enfim, o princípio básico é sempre o mesmo: devemos a<strong>da</strong>ptar e organizar nossasativi<strong>da</strong>des e nossos programas de forma a contemplar com segurança o maiornúmero possível de pessoas, sem que isso implique per<strong>da</strong> de quali<strong>da</strong>de na açãope<strong>da</strong>gógica.AS ATIVIDADES A SEREM DESENVOLVIDASComo vimos, as ativi<strong>da</strong>des de lazer são sempre culturais, relaciona<strong>da</strong>saos mais diferentes interesses humanos. Enquanto prepara sua programação,o profissional pode utilizar as mais diversas linguagens/manifestações,AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)59Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec2:59 11/11/2009 10:16:07


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOprocurando contemplar essa varie<strong>da</strong>de de possibili<strong>da</strong>des: é mesmoimportante, na medi<strong>da</strong> do possível, garantir o maior número de opções.Para embasar a preparação de nosso programa, uma eficaz ferramentaauxiliar é o quadro classificatório proposto por Joffre Dumazedier (1973),que divide as ativi<strong>da</strong>des de lazer em cinco grupos: Físicas, Artísticas,Manuais, Intelectuais, Sociais.O que esse autor leva em conta é o interesse central que conduzo indivíduo às ativi<strong>da</strong>des, mesmo que saibamos que isto não se dá deforma isola<strong>da</strong>. Isto é, um indivíduo, quando joga futebol nas tardes desábado, não o faz somente tendo em vista o interesse na ativi<strong>da</strong>de física,mas também porque o grupo social se reunirá depois para conversar.Interesses físicos e sociais, nesse caso, cruzam-se.Por exemplo, entre os que procuram os núcleos do Programa Segundo Tempo,os interesses mais diversos os conduzem. Uns vão gostar mesmo do jogo, doesporte. Outros só querem estar juntos, ter um círculo social. Outros vão gostarmais <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des extras. O importante é que possamos oferecer um leque deativi<strong>da</strong>des, não só para atender aos diferentes desejos, mas também para apresentarnovas alternativas, estimular o desenvolvimento de novos hábitos, apresentaralternativas.O que importa para nós, profissionais de lazer, é considerar umquadro geral de interesses, utilizando a classificação proposta comoforma de diversificar e potencializar o alcance dos objetivos de nossaproposta de intervenção. Dentro de ca<strong>da</strong> interesse apresentaremosalguns exemplos de ativi<strong>da</strong>des. Mas lembremos: a criativi<strong>da</strong>de de ca<strong>da</strong>profissional é o limite <strong>da</strong> preparação de nossos programas (obviamenteque também considerando as condições operacionais de ca<strong>da</strong> espaço).OS INTERESSES FÍSICOSAs ativi<strong>da</strong>des físicas estão entre as mais procura<strong>da</strong>s pelas comuni<strong>da</strong>dese, no caso do Programa Segundo Tempo, constituem o mote central.60AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec2:60 11/11/2009 10:16:07


FUNDAMENTOS DO LAZER E DA ANIMAÇÃO CULTURALNormalmente, o praticante busca o prazer ocasionado pela movimentaçãocorpórea, muitas vezes a relacionando com preocupações liga<strong>da</strong>s à estéticacorporal e à saúde. Podemos introduzir tais ativi<strong>da</strong>des a partir de uma duplapostura de nosso público-alvo, sempre buscando o equilíbrio entre ambas:o indivíduo pode jogar/praticar ou pode assistir à realização <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de.Por exemplo, pode jogar futebol ou assistir a uma parti<strong>da</strong> do esporte.Importante é garantir a possibili<strong>da</strong>de e o estímulo a ambas as posturas.* Exemplos de ativi<strong>da</strong>des:a) esportes em geral, que podem ser praticados na natureza (treking,montanhismo etc.), em quadras e campos (handebol, voleibol,basquetebol, futebol etc.), lutas (capoeira, judô etc.), aquelesconhecidos como radicais (skate, ciclismo, patinação), entreoutros;b) caminha<strong>da</strong>s em ambientes naturais ou urbanos;c) <strong>da</strong>nças diversas (de salão, liga<strong>da</strong>s a escolas artísticas, folclóricasetc.);d) diversas mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des de ginástica.OS INTERESSES ARTÍSTICOSAs ativi<strong>da</strong>des artísticas estão entre aquelas cujo acesso é mais difícile menos oferecido para a população. Não podemos deixar de introduziressa importante manifestação humana em nossos programas. Vale ressaltarque não devemos ter preconceitos quanto às formas de arte possíveisde serem utiliza<strong>da</strong>s. Com certeza, a arte está não somente nos museus,cinemas, teatros, bibliotecas, mas também nas tradições folclóricas e nacultura popular, no samba, na literatura de cordel, no forró.Ao introduzir tais ativi<strong>da</strong>des, devemos também levar em conta adupla postura já apresenta<strong>da</strong>. É importante levar a arte ao nosso público,levar nosso grupo aos espaços nos quais a arte é exibi<strong>da</strong> e, também,estimular ca<strong>da</strong> indivíduo a descobrir suas possibili<strong>da</strong>des enquantoprodutores. Independentemente <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de do material produzido,todos nós podemos escrever, pintar, cantar, tocar uma música etc.AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)61Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec2:61 11/11/2009 10:16:07


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOA experiência estética é o elemento que impulsiona à busca <strong>da</strong>smanifestações artísticas como forma de lazer.* Exemplos de ativi<strong>da</strong>des:a) artes plásticas (pintura, escultura etc.);b) cinema;c) teatro;d) música;e) <strong>da</strong>nças em geral.No Programa Segundo Tempo, essas ativi<strong>da</strong>des, considera<strong>da</strong>s complementares,podem e devem ser articula<strong>da</strong>s com o esporte, além de serem ofereci<strong>da</strong>sindepentemente dessa relação. Um exemplo rápido: podemos passar filmesnos quais o esporte é o tema central, para tratar de alguma questão programa<strong>da</strong>.Nesse esforço, não devemos perder a oportuni<strong>da</strong>de de apresentar o própriofilme como opção de lazer.OS INTERESSES MANUAISAs ativi<strong>da</strong>des manuais são procura<strong>da</strong>s fun<strong>da</strong>mentalmente pelo prazerocasionado pela manipulação de objetos e produtos. Muitas vezes, taisativi<strong>da</strong>des passam de hobbies a opções de trabalho, mas no ProgramaSegundo Tempo não devem ser encara<strong>da</strong>s como preparação para tal, e simcomo uma forma de diversão e educação.* Exemplos de ativi<strong>da</strong>des:a) culinária;b) marcenaria;c) tricô e crochê;d) corte e costura;e) jardinagem;f) artesanato.62AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec2:62 11/11/2009 10:16:07


FUNDAMENTOS DO LAZER E DA ANIMAÇÃO CULTURALExemplo: podemos construir campos de futebol de botão ou de “futebol deprego”, aproveitando para demonstrar como esse esporte está presente emmuitos espaços de nossa vi<strong>da</strong>.OS INTERESSES INTELECTUAISÉ claro que em to<strong>da</strong>s as ativi<strong>da</strong>des envolvemos nossa parte intelectual.Mas nesse grupo encontramos aquelas em que o prazer fun<strong>da</strong>mental estárelacionado à reflexão e ao raciocínio.* Exemplos de ativi<strong>da</strong>des:a) jogos intelectuais (xadrez, <strong>da</strong>ma, jogos de baralho, como sueca,truco, buraco);b) cursos livres de informação geral;c) palestras;d) leitura.Exemplo: podemos preparar palestras sobre determinados esportes. Além disso,lembremos que o xadrez já ocupa lugar de destaque no Programa, como uma <strong>da</strong>smo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des esportivas individuais.OS INTERESSES SOCIAISTo<strong>da</strong>s as ativi<strong>da</strong>des de lazer tendem a desenvolver a sociabili<strong>da</strong>de eestimular a formação de grupos, mas nesse grupo de ativi<strong>da</strong>des a ênfasede interesse recai exatamente sobre tal possibili<strong>da</strong>de, ou seja, sociabili<strong>da</strong>dee formação de grupos. São ativi<strong>da</strong>des busca<strong>da</strong>s fun<strong>da</strong>mentalmente porpromover o encontro de indivíduos.AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)63Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec2:63 11/11/2009 10:16:07


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPO* Exemplos de ativi<strong>da</strong>des:a) festas;b) espetáculos;c) ativi<strong>da</strong>des turísticas.Na ver<strong>da</strong>de, devemos entender que nossos programas podem edevem conjugar de forma articula<strong>da</strong> todos esses interesses. Vejamos oexemplo <strong>da</strong> realização de um “Festival de Futebol”, a ser realizado em umdomingo, em uma de nossas quadras/ginásios.Organizaremos, sim, um campeonato de futebol que buscarácongregar as equipes <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de. Mas lembremos: é importantegarantir a participação de todos. Assim, criaríamos categorias diferentes,com regras a<strong>da</strong>pta<strong>da</strong>s para idosos, crianças, portadores de deficiência,mulheres etc. O interesse físico estaria sendo mobilizado.Aproveitando que acontece a competição, poderíamos prepararpara o público uma exposição de artistas plásticos que retrataram ofutebol em suas obras (Gerschman, Portinari, artistas naives e mesmo<strong>da</strong> própria comuni<strong>da</strong>de, por exemplo). Mais que uma mostra dequadros, realizaríamos oficinas de pinturas, a serem desenvolvi<strong>da</strong>scom base naqueles artistas. Nesse caso, o interesse artístico estariaem voga.Poderíamos também programar palestras sobre o futebol e suaimportância para a socie<strong>da</strong>de brasileira e/ou sobre dicas de preparaçãoe aquecimento para a prática cotidiana do futebol. Identificamos aqui amobilização do interesse intelectual.Também implementaríamos oficinas de ativi<strong>da</strong>des <strong>da</strong> cultura popularrelaciona<strong>da</strong>s ao futebol: rebati<strong>da</strong>, cascudinho, golzinho, disputa deembaixa<strong>da</strong> etc. Conjugando-se a esse esforço, prepararíamos ativi<strong>da</strong>des demarcenaria que ensinassem a confeccionar campos de futebol de botão,de futebol de prego, realizando, em segui<strong>da</strong>, campeonatos com o materialproduzido. Articularíamos, assim, o trabalho com a cultura popular como interesse manual.Paralelamente a isso, programaríamos a exibição de uma série devídeos que tematizam o futebol, sob os mais diferentes aspectos (“Práfrente Brasil”, “Isso é Pelé”, “Garrincha a alegria do povo”, “Boleiros”,entre outros). De novo o interesse artístico vem à tona. Finalmente,64AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec2:64 11/11/2009 10:16:07


FUNDAMENTOS DO LAZER E DA ANIMAÇÃO CULTURALpara encerrar as ativi<strong>da</strong>des, com uma grande festa, apresentar-se-ia umgrupo de samba cujo repertório fosse baseado naquelas composições queabor<strong>da</strong>ram o assunto futebol (Wilson Batista, Pixinguinha, Noel Rosa,Chico Buarque, entre outros). Finalizaríamos juntando, então, o interesseartístico com o social, que, aliás, esteve de alguma forma presente emtodos os momentos.Vejamos como a criativi<strong>da</strong>de é o limite. Uma única temática (ofutebol) nos permitiria trabalhar os mais diferentes interesses humanos,diversificando a nossa oferta de ativi<strong>da</strong>des e reforçando os nossoscompromissos educacionais.Por fim, uma última ressalva se faz necessária. Quadras/ginásiospodem e devem ser um ponto central de realização <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des, masnão necessariamente devemos nos restringir a eles. É importante tambémestimular e organizar nosso público-alvo para que possa conhecer outrasopções que existem nas ci<strong>da</strong>des.Essa parece ser uma <strong>da</strong>s tarefas mais importantes para nós,profissionais de lazer: apresentar ao ci<strong>da</strong>dão as diversas possibili<strong>da</strong>desque sua ci<strong>da</strong>de oferece e, nesse percurso, aproveitar para falar <strong>da</strong>sbelezas, dos problemas e <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong>de a que os habitantes devemestar atentos e ativos para reivindicar uma ci<strong>da</strong>de melhor e maishumana.Exemplificando com o cotidiano do <strong>PST</strong>Para facilitar que você visualize o seu cotidiano considerandoa classificação de Dumazedier, apresentamos um exemplo de comouma só ativi<strong>da</strong>de, o futebol, pode ser trabalha<strong>da</strong> tendo em conta osmais diferentes aspectos. Mas, atenção! Esse é só um exemplo! Nãose pren<strong>da</strong> a ele. Crie, envolva a comuni<strong>da</strong>de local e verá a enormepotenciali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> proposta. Além disso, lembramos, as ativi<strong>da</strong>despodem ser ofereci<strong>da</strong>s independentemente de sua conexão com oesporte.AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)65Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec2:65 11/11/2009 10:16:07


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOFUTEBOLINTERESSE ATIVIDADE CONTEÚDOSFísicosArtísticosIntelectuaisSociaisManuais• Ativi<strong>da</strong>des que desenvolvam os fun<strong>da</strong>mentostécnicos e táticos do jogo;• Jogos entre o grupo, dos quais todosparticipam em período de tempo satisfatórioaos desejos e às possibili<strong>da</strong>des de ca<strong>da</strong> um.• Construção de uma miniexposição de obrasde arte que utilizam o esporte como tema deinspiração;• Visita a museus ou exposições que abor<strong>da</strong>m ofutebol;• Ativi<strong>da</strong>de com fotografias em que seidentifiquem: jogadores, autores, artistas,músicos, personali<strong>da</strong>des locais, entre outrosque estejam envolvidos com futebol;• Ativi<strong>da</strong>des com músicas que citam o futebol;• Projeção de filmes que abor<strong>da</strong>m o futebol.• Palestra de um ídolo local: organização deuma palestra de um jogador de futebol localreconhecido pela comuni<strong>da</strong>de;• Contador de história: seleção de uma obraliterária e desenvolvimento de uma ro<strong>da</strong> deleitura;• Desenvolvimento de pesquisa com pessoas<strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de que são jogadores ou exjogadoresde futebol;• Ativi<strong>da</strong>des com as regras e normas do esporte.• Visita a projetos que desenvolvam o esporte;• Festival de futebol;• Torneio e campeonatos entre o grupo;• Torneio e campeonatos com outros grupos;• Visita a clubes de futebol;• Visita a estádios de futebol;• Ativi<strong>da</strong>des envolvendo os familiares;• Ativi<strong>da</strong>des que envolvam a comuni<strong>da</strong>de(vizinhos, amigos e lideranças).• Imitação em argila de esculturas quetematizam o futebol;• Construção de brinquedos de sucatareciclados;• Construção de maquete de sucata. Ex.:maquete <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de, em que seidentifiquem os espaços de prática do esporte;maquete do estádio de futebol <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de.Quadro 1: Proposta de ativi<strong>da</strong>des para a mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de futebol.Fonte: Dumazedier (1973). A<strong>da</strong>ptado.• Sociabilização;• Trabalho coletivo;• Cooperação;• Inclusão;• <strong>Fun<strong>da</strong>mentos</strong> do jogo.• Medição cultural (contatoentre a cultura erudita,a cultura de massa e acultura popular);• Circulari<strong>da</strong>de pela ci<strong>da</strong>de;• Apropriação e vivência dosespaços culturais <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de;• Etnia/raça.• Estímulo às relações comos conteúdos escolares;• Estímulo ao cumprimentode regras e normas.• Socialização;• Formação de grupos cominteresse no esporte;• Construção de novasamizades;• Aproximação <strong>da</strong>s pessoas;• Construção de redesociope<strong>da</strong>gógica cominteresses comuns.• Estímulo à educação <strong>da</strong>ssensibili<strong>da</strong>des;• Medição cultural (contatoentre a cultura erudita,a cultura de massa e acultura popular);• Inclusão de gênero, pessoascom deficiência, faixaetária distinta na mesmaativi<strong>da</strong>de.66AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec2:66 11/11/2009 10:16:07


FUNDAMENTOS DO LAZER E DA ANIMAÇÃO CULTURALAtenção! As ativi<strong>da</strong>des propostas aqui não estão apresenta<strong>da</strong>s em umaordem hierárquica de aplicabili<strong>da</strong>de. Elas necessitam de contextualizaçãoantes, durante e depois <strong>da</strong> ação para que o grupo se aproprie dos conteúdosdesenvolvidos e possa construir ligações entre os estímulos. Também énecessário estarem relaciona<strong>da</strong>s entre si, pois compartilham conteúdos.O PROFISSIONAL DE LAZER/OANIMADOR CULTURALNão pretendemos aqui traçar de forma única um quadro limitador<strong>da</strong>s características de personali<strong>da</strong>de de ca<strong>da</strong> profissional de lazer, tampouconos prendermos às características que são comuns a qualquer categoria(responsabili<strong>da</strong>de, bom senso, respeito às diferenças, compreensão dosaspectos éticos, entre outras). O que pretendemos é apresentar algumascaracterísticas específicas que devem ser busca<strong>da</strong>s pelo animador cultural.NO QUE SE REFERE À POSTURA PROFISSIONALa) Formação – Esteja disposto a romper os limites específicos desua formação acadêmica (Educação Física ou Esporte); tenhadisposição de dialogar com outros profissionais e compreender aspossibili<strong>da</strong>des de intervenção de outras linguagens.b) Liderança – Enten<strong>da</strong> que liderar significa conduzir equipespara o desenvolvimento de seu potencial criativo, estimulandoa participação crítica e ativa e <strong>da</strong>ndo condições seguras para odesenvolvimento dessas potenciali<strong>da</strong>des. Mais ain<strong>da</strong>, desenvolverconstantemente de forma construtiva processos de avaliação(tanto pessoal quanto <strong>da</strong> equipe), tendo em vista uma superaçãoqualitativa constante <strong>da</strong>s propostas apresenta<strong>da</strong>s. É importantetambém compreender que o programa de lazer deve ser traçadonão para o público, mas em conjunto com o público; a perspectivade mediação, sem dúvi<strong>da</strong>, vai exigir que o animador seja um líderdemocrático e não autoritário.AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)67Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec2:67 11/11/2009 10:16:07


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOc) Comunicação – Esteja disposto a estabelecer contatos frequentes,tanto com o público-alvo quanto com profissionais de outrasáreas, tendo em vista a articulação de propostas multidisciplinares.Obviamente que carisma e capaci<strong>da</strong>de de bem li<strong>da</strong>r com públiconão são dimensões suficientes, mas não podemos negar que essassejam características importantes.d) Criativi<strong>da</strong>de – Tenha a capaci<strong>da</strong>de de inovar, criar e recriar em suaspropostas. Tenha a capaci<strong>da</strong>de de, ao dialogar com seu público,descobrir alternativas para a composição de seu programa deintervenção.e) Organização – Tenha uma visão estratégica de sua atuação,com capaci<strong>da</strong>de de planejar, operacionalizar e avaliar projetos/programas a curto/médio/longo prazos.f) Atualização – Enten<strong>da</strong> a necessi<strong>da</strong>de de atualização constante, cujogosto pela leitura e busca de informação seja notável, no que serefere tanto à sua formação técnica, quanto ao cotidiano social.g) Senso crítico – Busque identificar ordem social a partir de umaperspectiva diacrônica, percebendo como as diferenças sociaispodem influenciar em seu trabalho, construindo, assim, umaprática responsável de inclusão social e de contribuição para asuperação do status quo.NO QUE SE REFERE AO DOMÍNIODE CONTEÚDOSa) Linguagens (esporte, artes plásticas, música, cinema, teatroetc.) – Enten<strong>da</strong>-as não só como fenômenos socioculturais (suaspeculiari<strong>da</strong>des e suas contradições advin<strong>da</strong>s de sua inserção emuma socie<strong>da</strong>de de consumo), mas também como estratégias deintervenção pe<strong>da</strong>gógica <strong>da</strong> maior importância.b) Lazer – Enten<strong>da</strong> a atuação no âmbito do lazer não como meraocupação inconsequente do tempo disponível, mas como umaintervenção pe<strong>da</strong>gógica, no âmbito <strong>da</strong> cultura, que, mesmopreservando as características de prazer e diversão, pode trazer68AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec2:68 11/11/2009 10:16:07


FUNDAMENTOS DO LAZER E DA ANIMAÇÃO CULTURALcontribuições significativas para a melhoria <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong>do público-alvo.c) Cultura – Enten<strong>da</strong> a cultura como um conjunto de valores enormas, não somente uma série de manifestações. No que serefere às manifestações, enten<strong>da</strong> as peculiari<strong>da</strong>des, a importânciae as diferentes formas de sua apresentação em nossa socie<strong>da</strong>de,nota<strong>da</strong>mente que se refere às tensões que se estabelecem entre ostrês padrões de organização (cultura popular, cultura de massa,cultura erudita).FECHANDO AS IDEIASO que procuramos apresentar são informações básicas que, esperamos,possam aju<strong>da</strong>r no desenvolvimento <strong>da</strong>s ações dos projetos no âmbitodo Programa Segundo Tempo. Obviamente, este trabalho não substituiaspectos fun<strong>da</strong>mentais para o sucesso <strong>da</strong>s iniciativas. São necessários:a) buscar mais informações sobre o assunto (por isso sugerimos, ao fim,algumas dicas de leituras para os que se interessarem); b) criativi<strong>da</strong>de –ca<strong>da</strong> profissional/equipe deve utilizar as informações aqui conti<strong>da</strong>s comoum guia, uma base que permita voos maiores <strong>da</strong> imaginação; c) empenhoe organização, sem os quais qualquer proposta tem grandes possibili<strong>da</strong>desde se constituir em um grande fracasso.REFERÊNCIADUMAZEDIER, Joffre. Lazer e cultura popular. São Paulo: Perspectiva,1973.MELO, Victor Andrade; PERES, Fabio de Faria. Espaço, lazer e política:desigual<strong>da</strong>des na distribuição de equipamentos culturais na ci<strong>da</strong>de do Rio deJaneiro. Rio de Janeiro. Disponível em http://grupoanima.org/wp-content/uploads/i<strong>da</strong>c_livro_colombia_2004.pdf Acesso em 13 out 2009.AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)69Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec2:69 11/11/2009 10:16:07


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOQuadro Síntese:As ações do Programa Segundo Tempo estão sempre relaciona<strong>da</strong>s ao lazer.O lazer é um direito social e um tempo/espaço de formação. Assim, nãodevemos considerar o lazer como um assunto de menor importância, demenor valor. Ele é uma <strong>da</strong>s necessi<strong>da</strong>des humanas, é um importante campode vivência social.Nesse sentido, a intervenção profissional deve superar o espontaneísmoe ser implementa<strong>da</strong> de maneira consequente. Para tal, esperamos que osprofissionais estejam dispostos a desenvolver um conjunto de habili<strong>da</strong>des eadotar procedimentos que permitam exponenciar suas ações.Esperamos que seja possível contribuir para que nosso grupo deixe deser apenas público (no sentido de que é uma massa passiva), e passe a serespectador, crítico, atento e participativo na vivência de seus momentos delazer. Isso, obviamente, sem que deixe de se divertir.As ativi<strong>da</strong>des de lazer são sempre culturais (em seu sentido mais amplo),vivencia<strong>da</strong>s no tempo livre <strong>da</strong>s obrigações, de trabalho, <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>desdomésticas e religiosas, e <strong>da</strong>s necessi<strong>da</strong>des busca<strong>da</strong>s em vista ao prazer quepodem possibilitar. Devemos também ter em conta que assistir e praticar sãoduas possíveis posturas nos momentos de lazer.Para melhor encaminhar a perspectiva de atuação mediadora <strong>da</strong> animaçãocultural, precisamos ter em conta o que chamamos de duplo aspecto educativodo lazer: a “educação para e pelo lazer”.A questão dos equipamentos de lazer é bastante complexa, sendo um dosproblemas mais significativos no que se refere à restrição <strong>da</strong> possibili<strong>da</strong>dede acesso às vivências de lazer. Para potencializarmos o uso dos espaços delazer, bem como o alcance dos objetivos dos projetos, devemos buscar omaior envolvimento possível <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de interessa<strong>da</strong>. Isto é, procuraradministrar não para os envolvidos, e sim em conjunto com eles.O princípio básico é: devemos a<strong>da</strong>ptar e organizar nossas ativi<strong>da</strong>des e nossosprogramas de forma a contemplar com segurança o maior número possívelde pessoas.O que importa para nós, profissionais de lazer, é considerar um quadro geralde interesses, utilizando a classificação proposta como forma de diversificare potencializar o alcance dos objetivos de nossa proposta de intervenção. NoPrograma Segundo Tempo, essas ativi<strong>da</strong>des podem e devem ser articula<strong>da</strong>scom o esporte, além de poderem ser ofereci<strong>da</strong>s independentemente disso, jáque se constituem nas ativi<strong>da</strong>des complementares.70AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec2:70 11/11/2009 10:16:07


FUNDAMENTOS DO LAZER E DA ANIMAÇÃO CULTURALQuestões Centrais para Reflexão:1 – Tendo em vista o discutido, pense em seus momentos de lazer. Apartir disso, pense nos desafios que se apresentam para que vocêencaminhe a proposta apresenta<strong>da</strong> junto à sua comuni<strong>da</strong>de-alvo.2 – Observe a distribuição de bens culturais por sua ci<strong>da</strong>de e bairro.Reflita: o que você, como profissional de lazer, pode fazer paracontribuir para que sua comuni<strong>da</strong>de-alvo tenha mais acesso àsativi<strong>da</strong>des de lazer de uma forma diversifica<strong>da</strong>?3 – Reflita: que contribuição podemos <strong>da</strong>r, por meio <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des delazer, para que os ci<strong>da</strong>dãos tenham uma vi<strong>da</strong> melhor?4 – Reflita: como envolver a comuni<strong>da</strong>de com a qual trabalho, naconstrução e execução do meu projeto?5 – Reflita: quais são os meus limites profissionais para atuar naperspectiva aponta<strong>da</strong>, inclusive tendo em conta os cinco interessesde lazer apresentados? O que posso fazer para me aperfeiçoar tendoem vista esse quadro?Onde Saber Mais:ALVES JUNIOR, Edmundo de Drummond; MELO, Victor Andrade de;BRETAS, Angela (Org.). Lazer e ci<strong>da</strong>de. Rio de Janeiro: Shape, 2008.CAMARGO, Luiz Otávio Lima. O que é lazer. São Paulo: Brasiliense, 1989.DUMAZEDIER, Joffre. Sociologia empírica do lazer. São Paulo: Perspectiva,1974.____. Valores e conteúdos culturais do lazer. São Paulo: SESC, 1980.MARCELLINO, Nélson Carvalho. Lazer e educação. Campinas: Papirus,1987.AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)71Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec2:71 11/11/2009 10:16:07


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOMARCELLINO, Nélson Carvalho (Org.). Políticas públicas setoriais dolazer: o papel <strong>da</strong>s prefeituras. Campinas: Autores Associados, 1996.MELO, Victor Andrade de; ALVES JUNIOR, Edmundo de Drummond. Umaintrodução aos estudos do lazer. São Paulo: Manole, 2003.MELO, Victor Andrade de. Animação cultural: conceitos e propostas.Campinas: Papirus, 2006.WERNECK, Christiane; ISAYAMA, Hélder. Lazer e educação física. BeloHorizonte: Autêntica, 2002.72AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec2:72 11/11/2009 10:16:08


CORPO, GÊNERO ESEXUALIDADEEDUCANDO PARA A DIVERSIDADESilvana Vilodre Goellner 1Na agen<strong>da</strong> política e pe<strong>da</strong>gógica de muitos projetos sociais, o termoinclusão tornou-se lugar comum. Sob o seu abrigo defendem-se direitosde indivíduos e grupos considerados à margem de várias <strong>da</strong>s garantiassociais vigentes em uma socie<strong>da</strong>de democrática. Em que pese a relevância<strong>da</strong> perspectiva inclusiva, não raras vezes, é possível identificar que algunstemas também estão à margem dessa inclusão, como, por exemplo, asquestões afeitas aos corpos, aos gêneros e às sexuali<strong>da</strong>des.Com essa afirmação, advoga-se que um projeto que se propõe apromover a inclusão social, tal qual o Programa Segundo Tempo, deve,necessariamente, estar atento a questões que vão além <strong>da</strong>s diferenças declasse social, as quais não deixam de ser importantes, mas não são as únicasdiferenças a promover a exclusão. Destacam-se, aqui, outros marcadoresidentitários tais como gênero, geração, raça/etnia, sexuali<strong>da</strong>de, capaci<strong>da</strong>defísica, entre outros, pois, em seu nome, alguns sujeitos são excluídos <strong>da</strong>prática de ativi<strong>da</strong>des corporais e esportivas. Quando isso acontece, estamosdiante <strong>da</strong>quilo que denominamos de discriminação, visto que, por vezes,promovem-se situações desiguais de acesso e permanência ao esporte eao lazer entre meninos e meninas, homens e mulheres, negros, índios ebrancos, crianças jovens, adultos e velhos, heterossexuais e homossexuais,ricos e pobres, com deficiência entre outros.Enfim, ressalta-se que, por vezes, não nos <strong>da</strong>mos conta de quemuitas <strong>da</strong>s exclusões presentes nas ativi<strong>da</strong>des de esporte e lazer,inclusive as promovi<strong>da</strong>s no interior dos projetos sociais que buscam ainclusão, acontecem porque os profissionais neles envolvidos não estão1 Professora <strong>da</strong> Escola de Educação Física <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec3:73 11/11/2009 10:16:08


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOsuficientemente preparados, tanto para perceber a exclusão como parali<strong>da</strong>r com ela no sentido de fazê-la desaparecer.Considerando que o Programa Segundo Tempo não dependeapenas de quem elabora suas diretrizes político-pe<strong>da</strong>gógicas e dos órgãosinstitucionais que o financiam, mas, sobretudo, <strong>da</strong>queles/as que estão nodia a dia <strong>da</strong>s suas ativi<strong>da</strong>des (coordenadores/as, executores/as, monitores/as, agentes comunitários), busca-se, neste texto, fornecer alguns subsídiosteóricos acerca <strong>da</strong>s questões relaciona<strong>da</strong>s aos corpos, aos gêneros e àssexuali<strong>da</strong>des, com o intuito de alertar, em função desses marcadores,acontecerem situações nas quais, sutil ou explicitamente, promovem-seoportuni<strong>da</strong>des desiguais de acesso às ativi<strong>da</strong>des desenvolvi<strong>da</strong>s.OS CORPOS, OS GÊNEROS E ASSEXUALIDADESNo livro Sociologia do Corpo, David Le Breton faz uma afirmaçãobastante significativa para entendermos o corpo como o local deconstrução de nossa identi<strong>da</strong>de, quando expressa: “a existência é corporal”(LE BRETON, 2006, p. 24).Essa expressão, por si só, já traduz muito do que necessitamosapreender para pensarmos o corpo: ele não é algo que temos, mas algo quesomos. Portanto, não há como falar de corpo sem falar de nós mesmos,de nossa subjetivi<strong>da</strong>de, <strong>da</strong>quilo que somos ou que gostaríamos de ser.Quando dizemos corpo, estamos nos referindo não somente à materiali<strong>da</strong>debiológica que nos constitui, mas a nós mesmos. Afinal,um corpo não é apenas um corpo. É também o seu entorno. Mais doque um conjunto de músculos, ossos, vísceras, reflexos e sensações,o corpo é também a roupa e os acessórios que o adornam, asintervenções que nele se operam, a imagem que dele se produz, asmáquinas que nele se acoplam, os sentidos que nele se incorporam,os silêncios que por ele falam, os vestígios que nele se exibem, aeducação de seus gestos... enfim, é um sem limite de possibili<strong>da</strong>dessempre reinventa<strong>da</strong>s, sempre à descoberta e a serem descobertas.Não são, portanto, as semelhanças biológicas que o definem, mas74AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec3:74 11/11/2009 10:16:08


CORPO, GÊNERO E SEXUALIDADEfun<strong>da</strong>mentalmente os significados culturais e sociais que a ele seatribuem (GOELLNER, 2008, p. 28).Essa maneira de olhar para o corpo implica entendê-lo não apenascomo um <strong>da</strong>do natural e biológico, mas, sobretudo, como produto de umintrínseco inter-relacionamento entre natureza e cultura. Em outras palavras,o corpo não é algo que está <strong>da</strong>do a priori. Ele resulta de uma construçãocultural sobre a qual são conferi<strong>da</strong>s diferentes marcas em diferentes tempos,espaços, conjunturas econômicas, grupos sociais, étnicos etc.Essa afirmação leva a pensar, por exemplo, que nem mesmo aquilo queé <strong>da</strong>do como natural do corpo existe sem a intervenção <strong>da</strong> cultura. Pensemos:ter fome ou sede, por exemplo, são necessi<strong>da</strong>des biológicas que se expressamna materiali<strong>da</strong>de do corpo. Podemos dizer, então, que to<strong>da</strong>s as pessoas, senão se alimentarem, sentirão a sensação <strong>da</strong> fome e que esta, além de ser <strong>da</strong>natureza do corpo, é universal. No entanto, se analisarmos com mais atenção,perceberemos que são bastante diversos os motivos pelos quais sentimos essasnecessi<strong>da</strong>des ou, ain<strong>da</strong>, os produtos que poderão saciá-las.Talvez na nossa cultura não tenhamos desejo de comer um cão(como fazem os coreanos), assim como muitas pessoas não saciam asede tomando um chimarrão (hábito comum aos gaúchos). Da mesmaforma, podemos pensar que o que faz chorar ou rir é diferente entreos grupos sociais, entre as culturas e entre os tempos. Como tambémsão absolutamente diversas as referências sobre limpeza, saúde, desejossexuais, beleza, performance física etc.Diante dessas questões, como imaginar que o corpo existe independente<strong>da</strong> cultura na qual ele vive? Como acreditar que sua natureza, por si só,garante sua formação e desenvolvimento? Nosso corpo revela o tempo noqual foi educado e produzido, razão pela qual, ao mesmo tempo em quesomos diferentes, somos também muito parecidos. Um exemplo disso éque, nos dias atuais, dificilmente encontramos uma mulher usando umespartilho com fins estéticos, como acontecia, por exemplo, no final doséculo XIX e início do XX. Ou seja, nenhuma menina hoje é educa<strong>da</strong>a suportar os apertos de um espartilho de forma que sua ação sobre ocorpo lhe confira um formato que, naquele tempo, era considerado comodesejável. Os constrangimentos corporais são outros.Com isso, afirma-se que o corpo é educado através de um processocontínuo e minucioso, cuja ação vem conformando formas de ser, deAMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)75Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec3:75 11/11/2009 10:16:08


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOparecer e de se comportar. Educa-se o corpo na escola e fora dela: nareligião, na mídia, na medicina, nas normas jurídicas, enfim, em todos osespaços de socialização nos quais nos deparamos, cotidianamente, comrecomen<strong>da</strong>ções como, por exemplo, sobre o vestuário, a alimentação,o comportamento, a aparência, os gestos, a movimentação, as práticassexuais, a saúde, a beleza, a quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong>. Educa-se o corpo tambémno esporte, no lazer e nos projetos sociais.Ain<strong>da</strong> sobre o corpo, outra questão merece ser refleti<strong>da</strong>: se não existe umcorpo dotado de uma essência universal, é possível falar de uma educação “docorpo”? Não seria mais adequado usarmos o seu plural “dos corpos”?Cabe esclarecer: ain<strong>da</strong> que algumas vezes o termo corpo apareça nosingular, quando sua análise orienta-se pela perspectiva cultural, não háa menor dúvi<strong>da</strong> de que está se falando de corpos que são observados nassuas especifici<strong>da</strong>des e singulari<strong>da</strong>des: corpos infantis, jovens, adultos,envelhecidos, brancos, não brancos, pobres, femininos, masculinos,obesos, anoréxicos, saudáveis, doentes, católicos, umbandistas,homossexuais, heterossexuais, com necessi<strong>da</strong>des especiais, atléticos,enfim, corpos múltiplos, ambíguos, inconstantes e diferentes.Tais distinções resultam de construções culturais plurais, poisca<strong>da</strong> cultura elabora corpos desejáveis e/ou corpos não desejáveis.Os desejáveis são aqueles que estão adequados às representações queca<strong>da</strong> cultura elege como sendo assim. Na nossa socie<strong>da</strong>de seriam, porexemplo, os corpos magros, saudáveis, malhados, heterossexuais ejovens. Já os corpos indesejáveis são inúmeros e, de acordo com o tempoe lugar, multiplicam-se em gordos, feios, andróginos, drogados, velhos,deficientes, flácidos, inaptos, lentos, gays e tantos outros adjetivos que, aoserem nomeados, não expressam apenas uma diferença, mas, sobretudo,uma desigual<strong>da</strong>de.Se os corpos são diferentes, é necessário pensar ain<strong>da</strong>, que os gênerose as sexuali<strong>da</strong>des também o são. Essas marcas inscrevem-se também noscorpos e, além disso, constituem a identi<strong>da</strong>de dos sujeitos.Por gênero entende-se a condição social através <strong>da</strong> qual nosidentificamos como masculinos e femininos. É diferente de sexo, termousado para identificar as características anatômicas que diferenciam oshomens <strong>da</strong>s mulheres, e vice-versa. O gênero, portanto, não é algo que está<strong>da</strong>do, mas é construído social e culturalmente e envolve um conjunto deprocessos que vão marcando os corpos, a partir <strong>da</strong>quilo que se identifica76AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec3:76 11/11/2009 10:16:08


CORPO, GÊNERO E SEXUALIDADEser masculino e/ou feminino 2 . Em outras palavras, o corpo é generificado, oque implica dizer que as marcas de gênero inscrevem-se nele.Se estamos cientes de que o gênero é a construção social do sexo,precisamos considerar que aquilo que no corpo indica ser masculino oufeminino não existe naturalmente. Foi construído assim e, por esse motivo,não é, desde sempre, a mesma coisa. Algum tempo atrás, por exemplo,um homem que usasse cabelos compridos e brincos, provavelmente, teriaa sua masculini<strong>da</strong>de questiona<strong>da</strong>, visto que essas marcas eram considera<strong>da</strong>scomo femininas. Nos dias de hoje, essa suspeição já não se aplica, porqueos brincos fazem parte dos adornos corporais de brasileiros e brasileiras,assim como o uso de cabelos compridos, curtos, coloridos etc.Esse exemplo aju<strong>da</strong> a pensar outra questão importante sobre osgêneros. O que é mesmo masculino e feminino? Será que podemos nosreferir a esses termos no singular, ou não poderíamos pensar que existemdiferentes formas de viver as masculini<strong>da</strong>des e as feminili<strong>da</strong>des? Será quehá formas fixas de assim ser e parecer?De acordo com a teorização feminista pós-estruturalista, essebinarismo não existe, pois masculini<strong>da</strong>de e feminili<strong>da</strong>de se definemreciprocamente, visto não existir nenhuma essência a priori determina<strong>da</strong>para uma e outra identi<strong>da</strong>de. Essas identi<strong>da</strong>des, ao contrário, sãoproduzi<strong>da</strong>s na cultura, não havendo uma fixidez em sua produção.Do mesmo modo, podemos pensar que não existe a categoria homeme a categoria mulher isola<strong>da</strong>mente. Os sujeitos são homens e mulheresplurais porque são de diferentes etnias, classes sociais, religiões, i<strong>da</strong>desetc. Um homem negro, jovem, atlético, gay e pobre apresenta, em seucorpo, marcas muito distintas, por exemplo, de um homem branco, rico,evangélico, heterossexual e deficiente físico.Com relação à sexuali<strong>da</strong>de, é importante considerá-la, tal comoexplicita Jeffrey Weeks (1999), como algo que envolve uma série decrenças, comportamentos, relações e identi<strong>da</strong>des socialmente construí<strong>da</strong>se historicamente modela<strong>da</strong>s que permitem a homens e mulheres viverem,de determinados modos, seus desejos e seus prazeres corporais. Nessesentido, o termo orientação sexual é utilizado para contemplar a diversi<strong>da</strong>dede possibili<strong>da</strong>des de viver a sexuali<strong>da</strong>de, pois significa a orientação que2 Sobre o conceito de gênero e seus desdobramentos sugere-se a leitura dos seguintes textos: JoanScott (1995), Guacira Lopes Louro (1999), Lin<strong>da</strong> Nicholson (2000) e Dagmar Meyer (2008).AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)77Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec3:77 11/11/2009 10:16:08


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOca<strong>da</strong> sujeito dá ao exercício de sua sexuali<strong>da</strong>de; em outras palavras, “adireção ou a inclinação do desejo afetivo e erótico” (BRASIL, 2007) que,não necessariamente, está dirigido para a heterossexuali<strong>da</strong>de. A sexuali<strong>da</strong>detambém é plural, o que implica afirmar a inexistência de um único modocorreto, estável, desejável e sadio de vivenciá-la. Vale lembrar que uma mesmapessoa, ao longo de sua vi<strong>da</strong>, pode apresentar mais de uma identi<strong>da</strong>de sexual,ou seja, ser heterossexual, homossexual ou bissexual etc. Essas identi<strong>da</strong>des sãoculturalmente construí<strong>da</strong>s e, em nossa cultura, referem-se às formas como ossujeitos vivem sua sexuali<strong>da</strong>de, que pode ser com pessoas do mesmo sexo, dosexo oposto ou, ain<strong>da</strong>, com ambos os sexos.Ao atentarmos para essa diversi<strong>da</strong>de, busca-se enfatizar que, demaneira geral, questões afeitas ao gênero e à sexuali<strong>da</strong>de são silencia<strong>da</strong>s ou,quando menciona<strong>da</strong>s, não raras vezes, são referi<strong>da</strong>s a partir <strong>da</strong>quilo que érepresentado como sendo o normal, desejável e aceitável.O RESPEITO À DIVERSIDADEConsiderando que os sujeitos que participam do Programa SegundoTempo são plurais, como, então, trabalhar em sua diversi<strong>da</strong>de?Quando se fala em inclusão na educação dos corpos, dos gêneros e <strong>da</strong>ssexuali<strong>da</strong>des, afirma-se que os sujeitos são plurais e que essa plurali<strong>da</strong>de deveser valoriza<strong>da</strong> e aceita em suas singulari<strong>da</strong>des. Para tanto, é necessário, deantemão, rejeitar os rótulos que aprisionam, engessam e fixam o sujeito,enre<strong>da</strong>ndo-o em representações que o nomeiam como feio ou bonito, aptoou inapto, saudável ou doente, normal ou desviante, masculino ou feminino,heterossexual ou homossexual. Precisamos nos <strong>da</strong>r conta de que práticas comoessas reforçam discriminações e exclusões ao invés de se ampliarem possibili<strong>da</strong>desde intervenção junto aos sujeitos por meio do esporte, de modo a manteremuma interação afetiva que contribua para seu desenvolvimento integral – umdos objetivos centrais do Programa Segundo Tempo.Nesse sentido, quero chamar a atenção para a necessi<strong>da</strong>de derefletirmos e problematizarmos o caráter natural atribuído ao corpo, ao gêneroe à sexuali<strong>da</strong>de, pois, em nome dessa natureza, por vezes não identificamosatitudes discriminatórias e, consequentemente, de exclusão, inclusive78AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec3:78 11/11/2009 10:16:08


CORPO, GÊNERO E SEXUALIDADEno desenvolver <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des que buscam educar por meio <strong>da</strong>s práticascorporais e esportivas.Quando usamos o termo problematizar, enfatizamos que é necessáriocolocar em suspeição algumas ver<strong>da</strong>des com as quais nos deparamos diaa dia, pois, provavelmente, elas não são assim tão ver<strong>da</strong>deiras. Um bomexercício seria refletirmos, por exemplo, sobre alguns discursos e algumaspráticas que circulam na nossa vi<strong>da</strong> cotidianamente, já que se não osproblematizarmos, estaremos contribuindo para reforçá-los. Precisamoscolocar em dúvi<strong>da</strong>, por exemplo, as questões a seguir comenta<strong>da</strong>s.a) A ideia de que a anatomia dos corpos justifica o acesso e apermanência de meninos e meninas em diferentes mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>desesportivas. É necessário pensar que, muito mais que as diferençasbiológicas entre meninos e meninas, são as diferenças culturais esociais que incidem, fortemente, na orientação do que é mais oumenos adequado para um e outro sexo.b) A importância atribuí<strong>da</strong> à aparência corporal comodeterminante no julgamento que se faz sobre as pessoas.Precisamos questionar afirmativas como, por exemplo: umacriança obesa assim o é porque tem preguiça e não faz exercíciofísico; uma menina que usa boné, bermu<strong>da</strong> larga e tatuagem temaparência masculiniza<strong>da</strong> e deve ser homossexual; um menino quefala baixo e apresenta gestos delicados é gay, entre outras.c) A ênfase na beleza como uma obrigação para as meninase mulheres em função <strong>da</strong> qual devem aderir a uma série depráticas (pouca alimentação, cirurgias estéticas), inclusiveas esportivas. As meninas precisam ser valoriza<strong>da</strong>s pelo quesão e não pela sua aparência. Além disso, o esporte deve serincentivado em função de outros objetivos, como, por exemplo,socialização, exercício de liber<strong>da</strong>des, experimentação de situaçõesde movimentação de seu corpo, aprendizagem de técnicas, dentreoutros, e não apenas estar voltado para a aquisição <strong>da</strong> beleza. Essaorientação talvez seja um fator limitador para que participem deativi<strong>da</strong>des que envolvam maior força física, potência etc.d) O constante incentivo para que os meninos explicitem,cotidianamente, sinais de masculini<strong>da</strong>de (brincadeiras agressivas,práticas esportivas masculinizadoras, pia<strong>da</strong>s homofóbicas, narrarsuas aventuras sexuais com as meninas etc.). ComportamentosAMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)79Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec3:79 11/11/2009 10:16:08


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOcomo esses acabam por produzir uma representação de masculini<strong>da</strong>deque pesa para os meninos, uma vez que necessitam, constantemente,provar que são machos. Esse processo de produção do sujeitomasculino pode limitar sua participação em ativi<strong>da</strong>des corporais quenão sejam masculinizadoras.e) A representação de que existe um estereótipo masculino e umfeminino. Precisamos nos <strong>da</strong>r conta de que existem diferentesformas de viver as masculini<strong>da</strong>des e feminili<strong>da</strong>des, e isso precisaser respeitado. A escolha, por exemplo, de um menino em nãojogar futebol não implica naturalmente que deixe de ser masculinoou que seja homossexual. Do mesmo modo, pode-se pensar que,em esportes em que existe grande expressão de virili<strong>da</strong>de (lutas,por exemplo), também existem atletas que são homossexuais.f) A percepção de que a maneira correta de viver a sexuali<strong>da</strong>de é aheterossexual. Outros modos são desvios, doenças, aberrações eprecisam ser corrigi<strong>da</strong>s. Vale lembrar que, em 1990, a OrganizaçãoMundial <strong>da</strong> Saúde (OMS) eliminou a palavra homossexuali<strong>da</strong>dedo Código Internacional de Doenças (CID), demonstrandonão se tratar de uma doença, mas de uma possibili<strong>da</strong>de de vivera sexuali<strong>da</strong>de (BRASIL, 2007). Possibili<strong>da</strong>de essa que deve serrespeita<strong>da</strong> e que não pode se tornar um impeditivo para a adesãodos sujeitos às práticas esportivas.g) A aceitação e mesmo o incentivo a atitudes que expressemhomofobia, termo utilizado para fazer referência ao desprezo,ao ódio e mesmo à violência dirigido às pessoas homossexuais.É necessário considerar que a homofobia acontece também emforma de brincadeiras, pia<strong>da</strong>s, comentários etc. Essa atitude podegerar um afastamento de jovens homossexuais <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>despropostas, visto que, frequentemente, são alvos de práticas dessanatureza.h) A identificação de que alguns esportes devem ou não devem serindicados para meninos e/ou meninas, pois não correspondemao seu gênero. Essa “inadequação” pode proporcionar atitudes quelimitam a participação de meninos e meninas em ativi<strong>da</strong>des quegostariam de vivenciar. A atenção para essa questão é importante, pois,ao não se possibilitar essa participação, reforça-se a representação dosenso comum de que meninos só gostam de ativi<strong>da</strong>des que envolvem80AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec3:80 11/11/2009 10:16:08


CORPO, GÊNERO E SEXUALIDADEforça, e meninas de ativi<strong>da</strong>des que privilegiem flexibili<strong>da</strong>de.Habili<strong>da</strong>des e capaci<strong>da</strong>des físicas são adquiri<strong>da</strong>s mediante a prática, enão promover situações nas quais possam ser desenvolvi<strong>da</strong>s significaprivar os sujeitos de diferentes possibili<strong>da</strong>des de uso de seus corpos.i) A existência de preconceitos e violências que determinadossujeitos sofrem apenas por pertencerem à determina<strong>da</strong> classesocial, religião, orientação sexual, identi<strong>da</strong>de de gênero,habili<strong>da</strong>de física, etnia, entre outros. O respeito à diversi<strong>da</strong>decultural, social e sexual deve ser o primeiro passo para uma políticainclusiva. Diferença não significa desigual<strong>da</strong>de, e esta só podeser minimiza<strong>da</strong> se houver iniciativas que promovam ativi<strong>da</strong>descoparticipativas nas quais as diferenças não sejam elimina<strong>da</strong>s, mastrata<strong>da</strong>s em suas especifici<strong>da</strong>des.j) O uso de linguagem discriminatória e sexista. A linguagem éuma forma de expressar atitudes preconceituosas. Ela pode suscitarindicativos que fortalecem o preconceito no que diz respeito àsquestões de gênero, raça, sexo, entre outras. Deve-se evitar ouso de palavras e expressões que evidenciam esses preconceitos,pois sempre que são menciona<strong>da</strong>s acabam por reforçá-los. Umasituação bem comum é o uso genérico do termo “homem” ou ouso do masculino para referir-se a homens e mulheres. Exemplos:1) marcação homem a homem (mesmo quando o jogo se dá entremulheres); 2) Os coordenadores de núcleo do Programa SegundoTempo estiveram reunidos no último sábado (recomen<strong>da</strong>-se o usode os/as coordenadores/as ou algo genérico como, por exemplo, aequipe coordenadora dos núcleos do Programa Segundo Tempo);3) João joga handebol feito uma mocinha (para referir-se à poucahabili<strong>da</strong>de do menino ao esporte – indica que as mulheres nãotêm habili<strong>da</strong>des esportivas); 4) a Marta é o Ronaldinho Gaúcho desaias (indica que o referente é o homem, e uma mulher, quandohabilidosa, se parece com ele).Para além dos itens acima mencionados, poder-se-ia pensar emmuitos outros, afinal, todos os dias nos deparamos com situações nas quaisa diversi<strong>da</strong>de dos corpos, dos gêneros e <strong>da</strong>s sexuali<strong>da</strong>des não é respeita<strong>da</strong>. Cabea um projeto que se quer inclusivo construir, em suas diferentes práticaspe<strong>da</strong>gógicas, esse respeito pela diversi<strong>da</strong>de, pois a vi<strong>da</strong> é muito mais amplaAMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)81Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec3:81 11/11/2009 10:16:08


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOe complexa que as classificações que comumente encontramos acerca dossujeitos e de suas identi<strong>da</strong>des.Para construir uma prática pe<strong>da</strong>gógica inclusiva e diferencia<strong>da</strong>, éfun<strong>da</strong>mental entender que existem muitos elementos de ordem culturalque historicamente têm privilegiado determinados indivíduos e gruposem relação a outros, inclusive, no campo do acesso e <strong>da</strong> permanência nasativi<strong>da</strong>des esportivas. A seguir, listamos alguns desses elementos.a) As meninas têm menos oportuni<strong>da</strong>des para o lazer que osmeninos porque, não raras vezes, desempenham ativi<strong>da</strong>desdomésticas relaciona<strong>da</strong>s ao cui<strong>da</strong>do com a casa, à educaçãodos irmãos, entre outras. Historicamente, a educação <strong>da</strong>smeninas é mais direciona<strong>da</strong> ao espaço privado que ao público,diferentemente dos meninos, que, desde cedo, são incentivados air para a rua (inclusive para trabalhar). Por essa razão, é necessáriopensar em ativi<strong>da</strong>des diferencia<strong>da</strong>s que estejam adequa<strong>da</strong>s aotempo livre de meninos e meninas. É necessário planejar oshorários <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des de forma a contemplar essa reali<strong>da</strong>de. Porexemplo: ativi<strong>da</strong>des para as meninas em horários nos quais nãoestejam evolvi<strong>da</strong>s com as li<strong>da</strong>s domésticas.b) Como o esporte é identificado como uma prática viril, quando asmeninas apresentam um perfil de habili<strong>da</strong>de e comportamentomais agressivo para o jogo, muitas vezes, sua feminili<strong>da</strong>de écoloca<strong>da</strong> em suspeição. Da mesma forma, o menino que nãose a<strong>da</strong>pta ao esporte, sobretudo às práticas coletivas, tambémtem coloca<strong>da</strong> em dúvi<strong>da</strong> a sua masculini<strong>da</strong>de. Atitudes dessanatureza precisam ser modifica<strong>da</strong>s, pois acabam por restringir ainserção e permanência de meninas e meninos nas mais diferentespossibili<strong>da</strong>des de vivenciar o esporte.c) Existem níveis diferentes de habili<strong>da</strong>de física entre meninose meninas. É necessário pensar, ain<strong>da</strong>, que também existamdiferenças de habili<strong>da</strong>de entre os meninos e entre as meninas. Essasdiferenças resultam não de uma anatomia distinta, mas, sobretudo,de vivências e experiências de movimento diferencia<strong>da</strong>s desde onascimento, razão pela qual devem ser elabora<strong>da</strong>s estratégias a fimde incrementar a participação <strong>da</strong>queles/as considerados/as menoshabilidosos/as para o esporte.82AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec3:82 11/11/2009 10:16:08


CORPO, GÊNERO E SEXUALIDADEd) As meninas são menos incentiva<strong>da</strong>s que os meninos porparte <strong>da</strong> sua família e amigos/as a participarem de ativi<strong>da</strong>desesportivas. O incentivo menor se dá por questões culturais enão naturais. Por essa razão, é necessário incentivar as meninas aparticipar do esporte, o que pode ser feito por meio <strong>da</strong> oferta deativi<strong>da</strong>des, <strong>da</strong> valorização de sua participação, do reforço positivoàs suas performances, enfim, criando estratégias para que elas sesintam desafia<strong>da</strong>s a permanecer nesse espaço e nele desenvolversuas potenciali<strong>da</strong>des.e) Jovens homossexuais (masculinos e femininos) frequentementesentem-se deslocados nas ativi<strong>da</strong>des esportivas, pois não sãorespeitados quanto à sua orientação sexual. A orientação sexualtem sido, na nossa cultura, um marcador identitário sobre o qualincidem muitos preconceitos. Precisamos deslocar esse foco. Afinal,a quem interessa a orientação sexual de uma pessoa se não a elaprópria e àqueles/as com quem se relaciona?O ESPORTE NO SINGULARUma política inclusiva que tem no esporte seu eixo central deve,necessariamente, romper com essa representação, observando-o comoum elemento <strong>da</strong> cultura corporal que deve ser apropriado por quem aele se integrar. Em função disso, é imperativo tratá-lo de forma plural,cujas práticas pe<strong>da</strong>gógicas possam flexibilizar performances, aptidões,capaci<strong>da</strong>des, funcionali<strong>da</strong>des, sem delas abrir mão. Flexibilizar significaque o esporte não pode ser identificado apenas com a potencialização doscorpos, mas, sobretudo, como uma prática cultural que deve promovera socialização, a educação, a experimentação de distintas possibili<strong>da</strong>desde movimento, de forma a evitar as exclusões advin<strong>da</strong>s de diferentesordens.Isso não implica homogeneizar habili<strong>da</strong>des, comportamentos,práticas ou, como poderiam pensar alguns, nivelar por baixo. Aocontrário: implica trabalhar as especifici<strong>da</strong>des de forma que ca<strong>da</strong>participante <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des desenvolvi<strong>da</strong>s pelo Programa SegundoAMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)83Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec3:83 11/11/2009 10:16:08


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOTempo se sinta integrante dele e, assim, se reconheça como um sujeitosocial que, neste espaço pe<strong>da</strong>gógico, está sendo respeitado nas suasdiferenças e singulari<strong>da</strong>des. Para compreender melhor essa discussão,convém ler o texto “<strong>Fun<strong>da</strong>mentos</strong> do Programa Segundo Tempo:entrelaçamentos do esporte, do desenvolvimento humano, <strong>da</strong> culturae <strong>da</strong> educação”, publicado neste material.Para propor uma intervenção que evite a desigual<strong>da</strong>de de gênero erespeite a diversi<strong>da</strong>de, torna-se importante proporcionar ativi<strong>da</strong>des cujodesenvolvimento estimule tanto a sensibilização para esses temas como,ain<strong>da</strong>, a vivência de situações inclusivas.Como formas de sensibilização podem ser desenvolvi<strong>da</strong>s, por exemplo:1) Dinâmicas individuais e em grupos que envolvam a criação de desenhos,colagens, esculturas, narrativas etc., por meio <strong>da</strong>s quais seja possível discutir questõesrelaciona<strong>da</strong>s ao gênero e à sexuali<strong>da</strong>de.2) Trabalhar com a criação de narrativas (pessoais, coletivas, reais ou inventa<strong>da</strong>s)a partir <strong>da</strong>s quais se possam discutir questões afeitas ao gênero e à sexuali<strong>da</strong>de.Apresentar ou criar essas narrativas com o grupo e, a partir delas, problematizar ediscutir as discriminações evidencia<strong>da</strong>s. Exemplo de uma narrativa:João, 18 anos, é homossexual, apanha do irmão e sua mãe não o defende. Nasativi<strong>da</strong>des de que participa, geralmente, está sozinho e ninguém gosta de tê-lo comoparceiro nos exercícios em duplas. Participa <strong>da</strong> oficina de lutas porque quer aprendera se defender. Nas aulas fica sempre no fundo <strong>da</strong> sala. O professor responsávelacompanha todos/as os/as alunos/as, menos João.3) Ativi<strong>da</strong>des que possibilitem a apreciação crítica de diferentes artefatosculturais, como, por exemplo, revistas, publici<strong>da</strong>de, filmes, músicas, programastelevisivos, entre outros. Existem vários filmes cujas temáticas possibilitam adiscussão sobre gênero e sexuali<strong>da</strong>de e práticas corporais e esportivas, tais como:Gracie (EUA, 2007); Ela é o cara (EUA, 2007); Treinando com papai (EUA,2007); Ginga (Brasil, 2006); Fora de Jogo (Irã, 2006); Menina de Ouro (EUA,2004); Driblando o destino (EUA, 2003); Billy Elliot (Inglaterra, 2000); Damasde Ferro (Tailândia, 2000); Mulan (EUA, 1998); Cartão Vermelho (Brasil, 1994);Uma equipe muito especial (EUA, 1992).Além <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des de sensibilização, devem-se propor ativi<strong>da</strong>desnas quais não só aconteça a integração entre meninos e meninas, comotambém as diferenças sejam reconheci<strong>da</strong>s e trabalha<strong>da</strong>s. Um bom exemplo84AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec3:84 11/11/2009 10:16:08


CORPO, GÊNERO E SEXUALIDADEencontra-se no texto “Procedimentos metodológicos para o ProgramaSegundo Tempo”, que integra esta publicação. Leia com atenção o item“Coeducação”.No entanto, alguns cui<strong>da</strong>dos são fun<strong>da</strong>mentais, como, porexemplo:a) Criar um bom ambiente entre os participantes <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>deproposta – permitir que ca<strong>da</strong> pessoa possa se expressar livrementee que seja respeita<strong>da</strong> pelas suas opiniões, habili<strong>da</strong>des, vivênciasetc.b) Incentivar a prática de ativi<strong>da</strong>des esportivas para todos/as,independentemente do gênero, promovendo ativi<strong>da</strong>des nasquais meninos e meninas, homens e mulheres participemconjuntamente.c) Oferecer ativi<strong>da</strong>des em turnos diversificados visando à adequaçãoàs condições de vi<strong>da</strong> dos/as participantes (por exemplo: ativi<strong>da</strong>despara as meninas em horários nos quais não estão desempenhandoativi<strong>da</strong>des domésticas, tais como cui<strong>da</strong>r dos/as irmãos/as e <strong>da</strong>casa).d) Incentivar as meninas e os meninos a participarem de ativi<strong>da</strong>desculturalmente identifica<strong>da</strong>s tanto como masculinas quanto comofemininas.e) Ficar atento/a para situações em que aconteçam discriminações ebuscar interferir de forma a minimizá-las e evitá-las.f) Desenvolver estratégias, incentivos, elogios para que ca<strong>da</strong> sujeitosinta-se integrante do projeto.g) Não deixar de exercer o papel de educador/a e intervir sempreque houver situações de exclusão.Por fim, o Programa Segundo Tempo se faz cotidianamente pormeio <strong>da</strong> intervenção de pessoas concretas cujas ideias podem tantoreforçar as exclusões, os preconceitos, as violências, quanto minimizálas.Por acreditar e lutar por esta última possibili<strong>da</strong>de, o ProgramaSegundo Tempo se coloca como um lugar/espaço que deve privilegiar orespeito à diversi<strong>da</strong>de, à aceitação <strong>da</strong>s diferenças e ao reconhecimentode que ca<strong>da</strong> sujeito vale pelo que é independente de sua aparênciacorporal, <strong>da</strong> cor de sua pele, <strong>da</strong>s marcas de gênero ou <strong>da</strong> orientaçãoAMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)85Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec3:85 11/11/2009 10:16:08


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOsexual que adota. Mas isso depende de esforço, de sensibili<strong>da</strong>de ede vontade política de ca<strong>da</strong> agente que nele está envolvido, o que,indubitavelmente, traduz-se em um grande desafio.REFERÊNCIASBRASIL, Secretaria de Educação Continua<strong>da</strong>, Alfabetização e Diversi<strong>da</strong>de. Gêneroe Diversi<strong>da</strong>de Sexual na Escola: reconhecer diferenças e superar preconceitos.Caderno SECAD, Brasília, n. 4, 2007.GOELLNER, Silvana V. A produção cultural do corpo. In: LOURO, Guacira;FELIPE, Jane; GOELLNER, Silvana. Corpo, gênero e sexuali<strong>da</strong>de: um debatecontemporâneo na educação. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 2008.LE BRETON, David. A sociologia do corpo. Petrópolis: Vozes, 2006.LOURO, Guacira L. Gênero, sexuali<strong>da</strong>de e educação: uma perspectiva pósestruturalista.4. ed. Petrópolis: Vozes, 1999.MEYER, Dagmar E. E. Gênero e educação: teoria e política. In: LOURO, Guacira;FELIPE, Jane; GOELLNER, Silvana. Corpo, gênero e sexuali<strong>da</strong>de: um debatecontemporâneo na educação. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 2008.NICHOLSON, Lin<strong>da</strong>. Interpretando o gênero. Revista Estudos Feministas,v. 8, n. 2, p. 9-14, 2000.SCOTT, J. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Educação &Reali<strong>da</strong>de, Porto Alegre, v. 20, n. 2, jul./dez. 1995.WEEKS, Jeffrey. O corpo e a sexuali<strong>da</strong>de. In: LOURO, Guacira L. O corpoeducado: pe<strong>da</strong>gogias <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de. Belo Horizonte: Autêntica, 1999.86AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec3:86 11/11/2009 10:16:08


CORPO, GÊNERO E SEXUALIDADEQuadro Síntese:Uma educação que busca a inclusão deve se preocupar, também, comquestões relaciona<strong>da</strong>s ao gênero e à sexuali<strong>da</strong>de, pois esses marcadoressociais, não raras vezes, são tomados para excluir determinados sujeitos <strong>da</strong>spráticas corporais e esportivas. Quando isso acontece, deparamo-nos como que, comumente, denomina-se discriminação ou preconceito. Evitarsituações discriminatórias depende de todos os envolvidos com a açãoeducativa: coordenadores/as, monitores/as, alunos/as, comuni<strong>da</strong>de em geral.Por gênero entende-se a construção social através <strong>da</strong> qual os sujeitos sãoidentificados como masculinos ou femininos; por sexuali<strong>da</strong>de, as formasatravés <strong>da</strong>s quais ca<strong>da</strong> pessoa vivencia seus desejos e prazeres corporais.Ao caracterizar-se como um programa que propõe políticas inclusivas,o Programa Segundo Tempo está atento para questões dessa ordem, poiscompreende ser necessária a implementação de uma educação para adiversi<strong>da</strong>de. Afinal, os sujeitos são plurais e devem ser respeitados em suasespecifici<strong>da</strong>des.Questões Centrais para Reflexão:1 − O corpo não é apenas um <strong>da</strong>do biológico, e sim um produto dointer-relacionamento entre natureza e cultura.2 − O corpo não é algo que se tem, mas algo que se é, afinal, to<strong>da</strong> aexistência é corporal.3 − Os atributos de gênero (masculini<strong>da</strong>de e feminili<strong>da</strong>de) sãoconstruções culturais e variam entre culturas e entre os tempos.4 − Não existe um jeito único de ser masculino e/ou feminino.5 − Não existe uma única maneira de vivenciar a sexuali<strong>da</strong>de.6 − Discriminação de gênero ou por orientação sexual devem ser evita<strong>da</strong>snas ativi<strong>da</strong>des do Programa Segundo Tempo.AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)87Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec3:87 11/11/2009 10:16:08


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPO7 − O respeito pela diversi<strong>da</strong>de dos corpos, dos gêneros e <strong>da</strong>s esexuali<strong>da</strong>des deve integrar to<strong>da</strong>s as ações do Programa SegundoTempo.Onde Saber Mais:BRASIL. Secretaria de Educação Continua<strong>da</strong>, Alfabetização e Diversi<strong>da</strong>de. Gêneroe diversi<strong>da</strong>de sexual na escola: reconhecer diferenças e superar preconceitos.Cadernos SECAD, Brasília, n. 4, fev. 2007.LOURO, Guacira L. O corpo educado: pe<strong>da</strong>gogias <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de. BeloHorizonte: Autêntica, 2001.LOURO, Guacira L. Gênero, sexuali<strong>da</strong>de educação: uma perspectiva pósestruturalista.Rio de Janeiro: Vozes, 2004.LOURO, Guacira L.; GOELLNER, Silvana; FELIPE, Jane (Org.). Corpo eGênero e sexuali<strong>da</strong>de: um debate contemporâneo na educação. 4. ed. Petrópolis:Vozes, 2008.GOELLNER, Silvana. Pode a mulher jogar futebol? In: CARRANO, Paulo C.(Org.). Futebol: paixão e política. São Paulo: DP&A, 2000.GOELLNER, Silvana. Feminismos, mulheres e esportes: questões epistemológicassobre o fazer historiográfico. Movimento, v. 13, n. 2, p. 171-196, maio/ago.2007.GOMES, Paula B. et al. Equi<strong>da</strong>de na educação: educação física e desporto naescola. Queijas: Associação Portuguesa Mulheres e Desporto, 2000.SARAIVA, Maria do C. Co-educação física e esportes: quando a diferença émito. Ijuí: Unijui, 2005.SOUZA JÚNIOR, Osmar; DARIDO, Suraya. Influências <strong>da</strong> cultura escolarno desenvolvimento de propostas co-educativas em aulas de educação Física.Motriz, v. 9, n. 3, p. 143-151, set./dez. 2003.88AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec3:88 11/11/2009 10:16:08


ESTILOS DE ENSINO EAPRENDIZAGEMMOTORAIMPLICAÇÕES PARA A PRÁTICAMíriam Stock Palma 1Nadia Cristina Valentini 1Ricardo Petersen 1Herbert Ugrinowitsch 2O objetivo deste tema é destacar aspectos importantes que oprofissional de Educação Física deve observar durante os processos dedesenvolvimento e aprendizagem de habili<strong>da</strong>des motoras em crianças ejovens relaciona<strong>da</strong>s ao esporte.O esporte, no Programa Segundo Tempo, é trabalhado em umaperspectiva educacional, no sentido de oportunizar que as criançasvivenciem-no estimulando a aprendizagem de habili<strong>da</strong>des motoras,bem como o desenvolvimento global dos participantes. Contudo,não se descarta a possibili<strong>da</strong>de de a criança que apresente potencial edeseje participar seja indica<strong>da</strong> e/ou estimula<strong>da</strong> a seguir em uma práticaespecializa<strong>da</strong> e orienta<strong>da</strong> à performance. Partimos desse entendimentopor sabermos que há potenciali<strong>da</strong>des naturais espalha<strong>da</strong>s por todo opaís que podem ter chances de evoluírem não só em suas habili<strong>da</strong>desde movimento, mas também como ci<strong>da</strong>dãos, se tiverem oportuni<strong>da</strong>dee incentivo.1 Professores Doutores <strong>da</strong> Escola de Educação Física <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Federal do Rio Grande do Sul(ESEF/UFRGS).2 Professor Doutor <strong>da</strong> Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>deFederal de Minas Gerais (EEFFTO/UFMG).Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec4:89 11/11/2009 10:16:08


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOUm aspecto importante no processo de aprendizagem do esporteé que essa aprendizagem deve ser significativa para a criança. Essaaprendizagem significativa depende de <strong>da</strong> interação de alguns fatores,tais como a disposição do aluno em aprender, a utilização de recursospelo professor e o conhecimento prévio do aluno (MOREIRA,1999). Seguindo essa linha de raciocínio, o professor deve partir doconhecimento que o aluno possui para, então, selecionar os conteúdose estratégias a serem utilizados.O outro princípio fun<strong>da</strong>menta-se na organização de um ambienteapropriado de ensino, no qual as trocas e as interações sociais como conhecimento são construí<strong>da</strong>s em cooperação com outras pessoas,professores e pares que, com autonomia, solucionam problemasmediados pela ação efetiva de professores (VIGOTSKY, 1978).A interação do aprendiz no ambiente é uma <strong>da</strong>s características doser humano, pois é nessa interação que ele aprende novas tarefas ou,ain<strong>da</strong>, modifica/a<strong>da</strong>pta as habili<strong>da</strong>des já aprendi<strong>da</strong>s (TANI, 2005). Aa<strong>da</strong>ptação do indivíduo ao seu meio representa a maravilhosa faceta<strong>da</strong> a<strong>da</strong>ptação humana, <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong>de do indivíduo em aprender emodificar o meio em que vive. Para Schmidt e Wrisberg (2009, p.191),A capaci<strong>da</strong>de para aprender é essencial à existência biológica. Elapermite ao organismo a<strong>da</strong>ptar-se às características particulares em seuambiente e tirar proveito de suas experiências. Para os seres humanos,a aprendizagem é fun<strong>da</strong>mental. Pense na dificul<strong>da</strong>de que as pessoasteriam se fossem força<strong>da</strong>s a passar pela vi<strong>da</strong> equipa<strong>da</strong>s somente comas capaci<strong>da</strong>des que her<strong>da</strong>ram. Se esse fosse o caso, as pessoas seriamseres relativamente muito simples, incapazes de caminhar, falar,escrever ou ler, muito menos de realizar habili<strong>da</strong>des de movimentoscomplexos envolvi<strong>da</strong>s no esporte, nas artes cênicas ou até mesmo emsituações do dia-a-dia. Sob vários aspectos, a aprendizagem humanaparece ocorrer quase continuamente, como se to<strong>da</strong>s as coisas quefazemos gerassem conhecimento ou capaci<strong>da</strong>des que afetam o modocomo faremos outras coisas amanhã e depois.Tal afirmação mostra que, sempre que participa de uma situação, oser humano pode aprender algo. Particularmente, essa participação temde ser ativa (o que é equivalente a falar que o aprendiz precisa “praticar”).Além <strong>da</strong> participação, outras formas de facilitar a aprendizagem serãodiscuti<strong>da</strong>s a seguir.90AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec4:90 11/11/2009 10:16:09


ESTILOS DE ENSINO E APRENDIZAGEM MOTORAPARTICIPAÇÃO ATIVAAprendemos fazendo! Essa afirmação, embora simples, encerra umdos princípios mais importantes no âmbito <strong>da</strong> aprendizagem. SegundoPayne e Isaacs (2002), no domínio motor, a melhor forma de aprendernovas habili<strong>da</strong>des e refinar antigas é através <strong>da</strong> participação. A participaçãoativa nas mais varia<strong>da</strong>s experiências motoras é crucial para adquirir ashabili<strong>da</strong>des necessárias à incorporação <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de física ao longo dociclo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> (VALENTINI; TOIGO, 2004) e, por isso, ela deve ser ofoco dos programas de ativi<strong>da</strong>des motoras (RINK, 2001). Entretanto,estamos chamando de participação ativa àquela que acontece quando osalunos percebem o valor <strong>da</strong> tarefa a ser realiza<strong>da</strong>, confiantes de que suashabili<strong>da</strong>des são suficientes para enfrentar os desafios propostos duranteas ativi<strong>da</strong>des. A participação é, portanto, dependente do envolvimentoefetivo. Quando envolvidos intrinsecamente, crianças e jovens buscamavi<strong>da</strong>mente o sentido <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de, gerando descobertas, significados, novascompreensões e interpretações que integram os novos conhecimentos àsexperiências prévias (BROPHY, 1998).Partindo do pressuposto de que crianças e jovens vivem em contextossociais diferentes, a partir dos quais formam o seu conhecimento particular(conforme já citado neste livro no capítulo “<strong>Fun<strong>da</strong>mentos</strong> do ProgramaSegundo Tempo”) e também possuem capaci<strong>da</strong>des her<strong>da</strong><strong>da</strong>s distintas, asquais são bases para adquirir novas habili<strong>da</strong>des (conforme apresentadoneste livro no capítulo “Organização e Desenvolvimento Pe<strong>da</strong>gógico doEsporte no Programa Segundo Tempo”), pode-se assumir que as criançasde uma mesma i<strong>da</strong>de, de uma mesma turma, apresentam distintos níveisde habili<strong>da</strong>de.Essa característica é fun<strong>da</strong>mental para que se pense em contextosde aprendizagem que contemplem essas diferenças, oferecendooportuni<strong>da</strong>des para to<strong>da</strong>s de tal forma que prontamente possam estarenvolvi<strong>da</strong>s, de forma dinâmica, nas mais diversas experiências motoras.Nesse sentido, Valentini e Toigo (2004) propõem uma organização diversifica<strong>da</strong>de ativi<strong>da</strong>des, com níveis diferenciados de desafios para ca<strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de, buscandorespeitar as diferenças, valorizar a diversi<strong>da</strong>de, facilitando a inclusão de todos.AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)91Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec4:91 11/11/2009 10:16:09


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOEste posicionamento exposto é fun<strong>da</strong>mental, pois a seleção dos“mais aptos” em detrimento dos “menos aptos” é histórica nos diferentescontextos em que o profissional trabalha com esporte. Nesse sentido,acredita-se que é preciso vislumbrar uma prática com capaci<strong>da</strong>de desuperar a exclusão, que respeite e valorize as diferenças. Considera-se,assim, de extrema relevância identificar as barreiras que dificultam aparticipação dos alunos nas ativi<strong>da</strong>des esportivas, como nas do ProgramaSegundo Tempo e implementar estratégias, a fim de que os alunospercebam essas ativi<strong>da</strong>des como uma experiência prazerosa, de modo aincorporá-las em seu dia a dia. Para maior aprofun<strong>da</strong>mento sobre esseassunto, pode-se ler o capítulo “Questões <strong>da</strong> deficiência e as ações noPrograma Segundo Tempo”.Apesar de estarmos ressaltando a importância do prazer e dosignificado <strong>da</strong> prática para o aprendiz, também é necessário verificar onível de desenvolvimento em que ele se encontra para, então, decidirpelo estilo de ensino. Particularmente neste capítulo são apresentadosos estilos de ensino norteados pelo nível de desenvolvimento motor dosalunos. Discutiremos o estilo centrado na figura do professor ou diretivo,o <strong>da</strong> descoberta orienta<strong>da</strong>, o <strong>da</strong> solução criativa dos problemas e o <strong>da</strong>exploração.Num estilo de ensino centrado na figura do professor oudiretivo, em que existe um modelo a ser seguido e em que qualquerdesvio do padrão estabelecido é considerado um erro, há pouco espaçopara a expressão <strong>da</strong>s diferenças, o que pode levar as crianças a diminuíremo grau de participação ou, até mesmo, a abandonarem a ativi<strong>da</strong>de.Esse estilo de ensino deve ser mais utilizado quando o objetivo é aespecialização esportiva, que ocorre quando o jovem já possui um altonível de desenvolvimento <strong>da</strong>s habili<strong>da</strong>des fun<strong>da</strong>mentais e, então, opta porum esporte específico.Como o Programa Segundo Tempo tem por objetivo auxiliaras crianças que vivem em zona de risco 3 e disseminar a CulturaCorporal do Movimento Humano 4 , esse estilo de ensino é o menosrecomen<strong>da</strong>do. Exceções podem ser vistas com jovens que se encontramnos últimos anos do Programa Segundo Tempo, mas, principalmente,3 OLIVEIRA, Amauri Bássoli; PERIM, Gianna (Org.). <strong>Fun<strong>da</strong>mentos</strong> pe<strong>da</strong>gógicos para oprograma segundo tempo. 2. ed. Maringá: Eduem, 2008.4 Idem.92AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec4:92 11/11/2009 10:16:09


ESTILOS DE ENSINO E APRENDIZAGEM MOTORAem situações de treinamento de uma mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de esportiva visando aoalto rendimento.Um exemplo <strong>da</strong> utilização desse estilo é quando o professor expõe/demonstra para os alunos que o cabeceio de uma bola em um jogo defutevôlei deve ser com a parte superior <strong>da</strong> testa. Qualquer forma diferentede execução passa a ser considera<strong>da</strong> um erro e merece correção. Nesseestilo de ensino há “uma única proposta de execução e uma única respostacorreta”.No estilo de descoberta orienta<strong>da</strong>, o professor formulaquestões sequencialmente para fazer com que os alunos descubrampor si mesmos como desempenhar um movimento particular. Dessaforma, eles começam a diferenciar o importante do não importantepara coordenar e controlar como o corpo pode ou deve movimentarseno desempenho <strong>da</strong>s mais diferentes habili<strong>da</strong>des (GALLAHUE;DONNELLY, 2003).Nessa proposta, os alunos exploram as possibili<strong>da</strong>des de movimentoa partir de um problema colocado pelo professor, o qual, paulatinamente,seleciona aspectos ca<strong>da</strong> vez mais específicos que estão na direção dosobjetivos pré-estabelecidos de aprendizagem e introduz novas questõesque orientam as crianças rumo à descoberta dos conhecimentos.À medi<strong>da</strong> que elas são desafia<strong>da</strong>s a descortinar os caminhos que as conduzirãoà resolução <strong>da</strong>s questões levanta<strong>da</strong>s pelo professor, suas capaci<strong>da</strong>des cognitivassão estimula<strong>da</strong>s (GRAHAM, 2001), o que, via de regra, cria uma atmosfera deenvolvimento máximo nas ativi<strong>da</strong>des.A seleção dos desafios que permitem uma varie<strong>da</strong>de de interpretaçõese, ao mesmo tempo, permaneçam dentro dos objetivos estabelecidosé, para Ferraz e Flores (2004), a maior dificul<strong>da</strong>de no estilo de ensinodescoberta orienta<strong>da</strong>. Embora esse seja um desafio para o professor, tendoem vista a curiosi<strong>da</strong>de acentua<strong>da</strong> que os aprendizes apresentam, observaseque esta é uma estratégia que os incita, de forma prazerosa, a venceremos desafios colocados. Esse estilo de ensino pode ser mais utilizadocom crianças que já atingiram níveis mais maduros <strong>da</strong>s habili<strong>da</strong>desfun<strong>da</strong>mentais, mas não conseguem utilizá-las em diferentes situaçõesAMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)93Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec4:93 11/11/2009 10:16:09


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPO(para recor<strong>da</strong>r as habili<strong>da</strong>des fun<strong>da</strong>mentais e os seus respectivos níveis dedesenvolvimento, ver o Capítulo 4 do Livro 1 5 ).Como exemplo <strong>da</strong> utilização dessa estratégia, podemos citar aaprendizagem do melhor posicionamento do aluno na quadra de voleibol,quando ele tem por objetivo passar a bola para o campo adversário. De quedistância torna-se mais fácil rebater a bola de forma que ela ultrapasse, por cima,a rede? Estando próximo à linha de 3 metros ou à linha de fundo? A partir <strong>da</strong>resposta correta dos alunos, o professor formula nova questão: Estandopróximo à linha de 3 metros, como posso direcionar melhor a rebati<strong>da</strong> para o outrolado <strong>da</strong> quadra? Posicionando-me de frente, de lado ou de costas para a rede? Assim,a partir <strong>da</strong>s respostas <strong>da</strong><strong>da</strong>s, novas questões são formula<strong>da</strong>s. É importantedestacar que algumas perguntas poderão ser facilmente respondi<strong>da</strong>s pelosalunos, sem qualquer necessi<strong>da</strong>de de experimentação; outras, entretanto,exigirão deles a vivência prática para poderem identificar a respostacorreta.No estilo <strong>da</strong> solução criativa de problemas, a partir do lançamentode questões, o professor instiga os alunos a pensarem sobre to<strong>da</strong>s aspossibili<strong>da</strong>des razoáveis para concretizarem suas metas. A ideia centralnão está em reproduzir um modelo ou na descoberta de uma únicasolução, mas em suscitar nos aprendizes o maior número possível desoluções, uma ampla gama de respostas para um <strong>da</strong>do desafio, em quetodos possam experimentar uma varie<strong>da</strong>de de movimentos (GRAHAM;HOLT-HALE; PARKER, 2007). Essa varie<strong>da</strong>de de movimentos emergea partir do nível de habili<strong>da</strong>de e de conhecimento de ca<strong>da</strong> um pararesponder às questões ou aos problemas propostos. Nesse estilo, umapergunta é apresenta<strong>da</strong>, mas múltiplas respostas motoras podem emergirdessa pergunta. Dessa maneira, é valoriza<strong>da</strong> a capaci<strong>da</strong>de de a<strong>da</strong>ptaçãoque os aprendizes adquirem por meio <strong>da</strong>s escolhas que fazem.Essa proposta pode ser mais utiliza<strong>da</strong> no Programa Segundo Tempo, pois não visaa uma especialização de um movimento como o estilo diretivo, mas sim a umadiversificação de habili<strong>da</strong>des e estratégias de respostas.5 OLIVEIRA, Amauri Bássoli; PERIM, Gianna (Org.). <strong>Fun<strong>da</strong>mentos</strong> pe<strong>da</strong>gógicos para oprograma segundo tempo. 2. ed. Maringá/PR: UEM, 2008.94AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec4:94 11/11/2009 10:16:09


ESTILOS DE ENSINO E APRENDIZAGEM MOTORAPodemos criar, por exemplo, a seguinte situação problema: Comopodemos enviar essa bola por sobre a rede de voleibol utilizando a cabeça? Essapergunta permite múltiplas respostas adequa<strong>da</strong>s. Uma delas, sugeri<strong>da</strong> porum dos alunos, poderá ser: tocando na bola com a lateral <strong>da</strong> cabeça. Então oprofessor poderá desafiar as crianças, perguntando quem é capaz de enviara bola para o outro lado <strong>da</strong>quela forma. Posteriormente, o professorpoderá ver se alguém tem outra forma de enviar a bola para o gol com acabeça (com a testa, por exemplo) e, então, incentivar a todos os alunosque tentem executar dessa nova maneira. Nesse estilo de ensino, “existeuma proposta de execução, mas diversas respostas corretas”. Notem que ascrianças apresentam as respostas, e não o professor. Caso haja dificul<strong>da</strong>desna apresentação de respostas por parte dos alunos, o professor deveestimulá-los a pensar sobre, apresentar problemas menos complexos,até que se consiga chegar à complexi<strong>da</strong>de exigi<strong>da</strong>. A estimulação para areflexão é a tônica do processo.A exploração, aqui apresenta<strong>da</strong> como o último estilo de ensino, éconsidera<strong>da</strong> o primeiro nível na hierarquia de aprendizado de habili<strong>da</strong>desmotoras, encorajando as crianças a terem experiências em uma série demovimentos locomotores, estabilizadores e manipulativos. Por meio doenvolvimento criativo em um ambiente que estimule a experimentação,as crianças vão ampliando a percepção <strong>da</strong>s características gerais <strong>da</strong>shabili<strong>da</strong>des, ajustando seus movimentos corporais em direção àaproximação <strong>da</strong> meta <strong>da</strong> tarefa (GALLAHUE; OZMUN, 2005).Nesse cenário, o professor cria, prepara um ambiente estimulante e desafiadore atua como um facilitador <strong>da</strong>s aprendizagens <strong>da</strong>s crianças, oportunizando-lhesatingir certo grau de sucesso nos níveis de suas próprias habili<strong>da</strong>des.A exploração é uma importante estratégia para diversificar ashabili<strong>da</strong>des manipulativas, estabilizadoras e locomotoras, pois, nessegrupo, estão as habili<strong>da</strong>des fun<strong>da</strong>mentais que devem ser o objetivomotor a ser trabalhado com as crianças que estão por volta dos 7 anosde i<strong>da</strong>de (GALLAHUE; OZMUN, 2005), período em que iniciam noPrograma Segundo Tempo. Este estilo de ensino propicia a diversificação<strong>da</strong>s experiências motoras do seu corpo e <strong>da</strong> interação com diferentesambientes e objetos, o que lhes permitirá: a) combinar essas habili<strong>da</strong>desAMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)95Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec4:95 11/11/2009 10:16:09


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOmotoras fun<strong>da</strong>mentais para formar as habili<strong>da</strong>des esportivas 6 ; b) criar erecriar movimentos que podem ter um caráter lúdico nessa faixa etária(MOYLES, 2002). Tais experiências possibilitarão que as crianças e osjovens utilizem essas habili<strong>da</strong>des nos contextos que elas escolherem.Ao contrário do que, por vezes, pode-se pensar ao utilizar essemétodo, apesar deste estilo de ensino estar centrado na vontade <strong>da</strong> criançaexplorar os objetos e o ambiente, os professores não são passivos nesseprocesso. Tanto as intervenções específicas sobre as tarefas, como asmediações de natureza afetiva, isto é, o apoio, a proposição de desafiose o auxílio aos aprendizes em suas investi<strong>da</strong>s, além <strong>da</strong> preparação de umambiente estimulante, são atitudes decisivas para o nível de motivação eevolução dos alunos.Nesse estilo, o professor lança uma pergunta aberta para as crianças.Por exemplo: Como eu posso enviar a bola para a quadra adversária? E aceitato<strong>da</strong>s as respostas apresenta<strong>da</strong>s, que podem ser desde enviar a bolacom a cabeça ou com o pé até o enviar a bola com a barriga. Ou seja,as respostas também são abertas. Um modelo contínuo de formulaçãode perguntas pelo professor e <strong>da</strong>s possibili<strong>da</strong>des de respostas dos alunosestá apresentado na Figura 1, que tem por base <strong>da</strong>r liber<strong>da</strong>de de escolhapara a criança realizar as ativi<strong>da</strong>des <strong>da</strong> forma que mais se aproprie ao seunível de desenvolvimento motor, cognitivo e afetivo. Esse respeito àscaracterísticas <strong>da</strong> criança está presente também nos capítulos “Organizaçãoe Desenvolvimento Pe<strong>da</strong>gógico do Esporte no Programa Segundo Tempo”e “Metodologia de Ensino dos Esportes no Marco do Programa SegundoTempo” apresentados neste livro e no capítulo “O desenvolvimento <strong>da</strong>capaci<strong>da</strong>de de jogo IEU + EB” 7 , pois visam a desenvolver habili<strong>da</strong>desmotoras dos alunos, mas com bastante liber<strong>da</strong>de para eles mesmosencontrarem as respostas motoras mais apropria<strong>da</strong>s.Um contexto que encoraje a exploração, a criativi<strong>da</strong>de e a descoberta podefornecer aos alunos fortes estímulos para um grau mais elevado de participação e,consequentemente, para uma aprendizagem ativa, o que nem sempre é observadoem ambientes de ensino centrados em modelos ou padrões pré-estabelecidos.6 OLIVEIRA, Amauri Bássoli; PERIM, Gianna (Org.). <strong>Fun<strong>da</strong>mentos</strong> pe<strong>da</strong>gógicos para oprograma segundo tempo. 2. ed. Maringá: Eduem, 2008.7 Idem.96AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec4:96 11/11/2009 10:16:09


ESTILOS DE ENSINO E APRENDIZAGEM MOTORAAin<strong>da</strong> que os estilos de ensino indiretos sejam os mais recomen<strong>da</strong>dospara os níveis iniciais de programas de aprendizagem de habili<strong>da</strong>desmotoras, autores como Sanders (2005), Bulger; Townsend; Carson(2001) e Gallahue; Donnelly (2003) sugerem também o uso de métodosdiretos. Para esses autores, o fator de influência mais importante para odesenvolvimento <strong>da</strong>s habili<strong>da</strong>des motoras <strong>da</strong>s crianças é a quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>instrução que lhes é <strong>da</strong><strong>da</strong> pelo professor, uma vez que somente a prática eo encorajamento não os levarão à aquisição de novas habili<strong>da</strong>des motorase nem à melhora <strong>da</strong>s que já são domina<strong>da</strong>s. A partir <strong>da</strong>s necessi<strong>da</strong>des, dosinteresses e do nível de desenvolvimento dos alunos, <strong>da</strong>s condições doambiente e <strong>da</strong> complexi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s tarefas, os professores deverão fazer aseleção cui<strong>da</strong>dosa dentro de uma varie<strong>da</strong>de de estilos de ensino, mantendoo delicado equilíbrio entre as escolhas de seus aprendizes e a necessi<strong>da</strong>dede orientação direta.Em concordância com os autores, pensamos que, dependendo dosníveis de desenvolvimento <strong>da</strong>s habili<strong>da</strong>des motoras e cognitivas dosalunos, dos objetivos <strong>da</strong> aula, dos níveis de segurança necessários para arealização de tarefas com um grau elevado de risco (um giro em uma barra,por exemplo), estilos diretos de ensino são, às vezes, mais adequados parao sucesso e o progresso <strong>da</strong>s crianças. De forma contrária, se os alunosapresentam a habili<strong>da</strong>de fun<strong>da</strong>mental saltar em um nível inicial dedesenvolvimento, o mais adequado é utilizar o estilo <strong>da</strong> exploração, quepossibilita o desenvolvimento e a diversificação desta habili<strong>da</strong>de.Com isso, chama-se a atenção que não há um único e exclusivométodo que possa atender a to<strong>da</strong>s as particulari<strong>da</strong>des de um grupo em seuprocesso de aprendizagem. Os professores necessitam estar atentos paraas mu<strong>da</strong>nças necessárias e o equilíbrio estimulador do ensino, sob penade se frustrarem caso insistam em uma única via de ensino. A variaçãometodológica para atendimento aos grupos constituídos no ProgramaSegundo Tempo, que são heterogêneos em interesses, necessi<strong>da</strong>des,vontades, habili<strong>da</strong>des, cultura e outros tantos aspectos, coloca-se comouma estratégia imprescindível. Essa competência é fun<strong>da</strong>mental para oprofessor e o sucesso junto aos grupos em que atua. A relação entre o tipode pergunta (desafio) que o professor pode apresentar e o estilo de ensinoencontra-se na Figura 1.AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)97Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec4:97 11/11/2009 10:16:09


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOPERGUNTAS E RESPOSTASABERTASFECHADASDiretivo – Descoberta Orienta<strong>da</strong> - Solução Criativa de Problemas –- ExploraçãoFigura 1: Modelo com as características abertas e fecha<strong>da</strong>s <strong>da</strong>s perguntas erespostas nos diferentes estilos de ensino.É fun<strong>da</strong>mental que o professor avalie o nível de desenvolvimento motor ecognitivo de seus alunos para, então, escolher o estilo de ensino mais adequado aca<strong>da</strong> turma.INSTRUÇÃO VERBALA instrução verbal é uma <strong>da</strong>s formas mais elementares decomunicação e expressão humana. Ela é fun<strong>da</strong>mental durante a faseinicial de aprendizagem de movimentos volitivos, quando o indivíduoestá se familiarizando com movimentos novos, e inclui descrições <strong>da</strong>scaracterísticas básicas do movimento, explicações de conceitos, regras,inferências, definições de modelos etc. Durante as instruções, o professordeve apresentar fatos objetivos, considerar o princípio <strong>da</strong> progressãogradual do fácil para o difícil, do conhecido para o desconhecido (fazendorelações com o que o aprendiz já possui em seu repertório motor) e do maisrelevante para o menos relevante (MILAN; DRAGANA; MILOVAN,2004).Em processos complexos como a aquisição e o refinamento dehabili<strong>da</strong>des motoras pelos aprendizes, a quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s instruções <strong>da</strong><strong>da</strong>s98AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec4:98 11/11/2009 10:16:09


ESTILOS DE ENSINO E APRENDIZAGEM MOTORApelo professor poderá oferecer-lhes elementos importantes para que façamprogressos. Sanders (2005) sugere que, no início de ca<strong>da</strong> aula, o professorinstrua os alunos, de maneira eficaz, num curto período de tempo e semgrandes detalhes, sobre o que será desenvolvido. Dessa forma, ele estarápreparando o ambiente para a aprendizagem subsequente.Se o professor optar por métodos mais diretivos, além de indicar oque será feito, acrescentará como será realizado. Se a opção for por métodosindiretos, o modelo não será inicialmente apresentado; entretanto,as demais intervenções possuem caráter semelhante de mediação. Asinstruções <strong>da</strong><strong>da</strong>s pelo professor são, em determinados momentos <strong>da</strong> aula,fun<strong>da</strong>mentais para as aprendizagens dos alunos; contudo, ele deve terem mente que, devido à necessi<strong>da</strong>de e também às expectativas que essestêm de se movimentar, torna-se imprescindível que as informações nãosubtraiam muito tempo de suas oportuni<strong>da</strong>des para praticar.As instruções sobre como as ativi<strong>da</strong>des poderão ou deverão ser feitasterão um caráter geral, isto é, direciona<strong>da</strong>s a todo o grupo quando estamosensinando crianças que não possuem um alto nível de habili<strong>da</strong>de, ouindividual, quando as crianças já possuem mais habili<strong>da</strong>de e queremosensinar detalhes específicos para ca<strong>da</strong> uma <strong>da</strong>s crianças. Uma vezque, em um grupo de participantes, os níveis de desenvolvimento <strong>da</strong>shabili<strong>da</strong>des motoras podem ser bastante diferenciados, e muitos alunosain<strong>da</strong> necessitem explorar previamente as várias opções de movimentos,o professor pode fornecer algumas informações gerais sobre a ativi<strong>da</strong>de aser realiza<strong>da</strong> para, em segui<strong>da</strong>, <strong>da</strong>r sugestões específicas de acordo com oque ca<strong>da</strong> criança apresenta (SANDERS, 2005).Convém destacar que uma maneira efetiva de promover a instruçãopode ser o uso de dicas verbais, as quais não devem se alongar notempo de prática; mas serem utiliza<strong>da</strong>s de forma clara e significativainstrumentalizando os alunos para corrigir erros e melhorar seudesempenho com autonomia. Valentini e Toigo (2004, p.62) indicam ouso de dicas verbais como forma de guiar e motivar a ação motora. Paraas autoras,[...] dicas verbais são palavras ou frases concisas que o professorutiliza para comunicar ao aprendiz informações sobre componentesessenciais <strong>da</strong> habili<strong>da</strong>de motora, de sequências de habili<strong>da</strong>des motorasou, ain<strong>da</strong>, de como conquistar uma meta, guiando o desempenhodo aprendiz.AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)99Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec4:99 11/11/2009 10:16:09


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOO conhecimento de uma habili<strong>da</strong>de pode influenciar o seudesempenho; por isso, as dicas verbais devem ser significativas para oaluno (PAYNE; ISAACS, 2002), ou seja, ele precisa estabelecer a relaçãoentre a palavra e a(s) característica(s) importante(s) do movimento a serexecutado. Anderson (2002) exemplifica a utilização <strong>da</strong>s dicas verbais comcrianças pequenas, associando a ação do braço no arremesso por baixoao balanço <strong>da</strong> tromba do elefante e propõe que as próprias crianças possamcriar e compartilhar com os pares essas palavras-chave, como forma dedirigir sua atenção para o(s) elemento(s) principal(is) <strong>da</strong> habili<strong>da</strong>de queestá sendo pratica<strong>da</strong>.Neto (2001) propõe que o professor evidencie os principais aspectos <strong>da</strong>(s) ativi<strong>da</strong>de(s)em uma linguagem a<strong>da</strong>pta<strong>da</strong> ao nível de entendimento dos participantes, evitandodescrições longas e pormenoriza<strong>da</strong>s, especialmente quando tratar com crianças.Rink (2003) relaciona a utilização de dicas verbais com amotivação dos alunos para realizar determina<strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des, desde quesejam levados em consideração a i<strong>da</strong>de e o estágio de desenvolvimentocognitivo e motor do aluno e ao tipo de tarefa que está executando.Ao trabalhar com crianças pequenas, o professor que disser “imiteuma galinha”, em vez de “flexione os cotovelos”, provavelmente receberárespostas mais adequa<strong>da</strong>s de alunos mais motivados. Sabemos, noentanto, que para outros grupos de crianças (de i<strong>da</strong>de maisavança<strong>da</strong>, por exemplo) essa dica verbal não será apropria<strong>da</strong>.Para crianças de i<strong>da</strong>des mais avança<strong>da</strong>s, jovens ou alunos maishabilidosos, as dicas verbais podem ser implementa<strong>da</strong>s utilizandose<strong>da</strong> linguagem cinesiológica, à medi<strong>da</strong> que venha a ser utiliza<strong>da</strong>por professores e alunos no decorrer do processo de aprendizagem(VALENTINI; TOIGO, 2004).Uma vez que sejam contextualiza<strong>da</strong>s, ou seja, compreendi<strong>da</strong>s pelosalunos como palavras que representam determina<strong>da</strong>s ações, as dicasverbais se mostram bastante efetivas na seleção <strong>da</strong>s informações maisrelevantes para a realização <strong>da</strong>s habili<strong>da</strong>des.100AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec4:100 11/11/2009 10:16:09


ESTILOS DE ENSINO E APRENDIZAGEM MOTORAAssim, de acordo com o grupo e habili<strong>da</strong>de ensina<strong>da</strong>, diferentes palavras oufrases podem ser escolhi<strong>da</strong>s e utiliza<strong>da</strong>s na representação de determinadosmovimentos. Ao compreender, por meio de dicas, a forma correta de execuçãodesses movimentos, o aluno passa a direcionar a sua atenção para a parteespecífica do movimento executado e pode corrigi-lo de forma autônoma.Entretanto, ressaltamos que as pistas parecem ser efetivas quando sãorelativas à forma de execução <strong>da</strong> habili<strong>da</strong>de ensina<strong>da</strong>. As dicas relativasa pistas do ambiente devem ser utiliza<strong>da</strong>s para pessoas que já dominama tarefa pratica<strong>da</strong>, pois iniciantes são prejudicados com esse tipo de dicaverbal (GREEN; FLOWERS, 1991).Schmidt e Wrisberg (2009) alertam para o fato de que os professorespodem oferecer informações a mais e desnecessárias em suas instruções. Oexcesso de informações pode dificultar ao aprendiz a lembrança do que foidito, especialmente se o período de tempo entre a informação e o início <strong>da</strong>execução do movimento for relativamente longo. Essa é uma limitação doser humano, pois diz respeito diretamente à memória de curto prazo, umavez que essa memória é limita<strong>da</strong> em capaci<strong>da</strong>de para somente uns poucositens, variando de acordo com o nível de desenvolvimento do aprendiz(podemos dizer que, na faixa etária do Programa Segundo Tempo, varia de3 a 9 itens). O esquecimento é rápido (ocorrendo em aproxima<strong>da</strong>mente20 a 30 segundos), e a informação está sujeita à interferência de outrosestímulos (outras palavras fala<strong>da</strong>s por outros aprendizes, por exemplo).Portanto, se as instruções contiverem mais de um ou dois pontos-chave,os aprendizes provavelmente esquecerão as instruções antes que possamtentar realizar a habili<strong>da</strong>de.Outro ponto importante é denominado de efeito “primazia e recentici<strong>da</strong>de”. Issosignifica que quando recebemos uma quanti<strong>da</strong>de de informação além <strong>da</strong>quelaque conseguimos armazenar em um curto espaço de tempo (7 + 2 itens), nósguar<strong>da</strong>mos os primeiros e, principalmente, os últimos itens (MAGILL, 2000). Ositens intermediários são esquecidos. Isso significa que devemos falar o que é maisimportante no final.Essa capaci<strong>da</strong>de limita<strong>da</strong> de os alunos reterem a informação tambémserve para guiar outras ações didáticas. Por exemplo, se o professor temcomo objetivo de aula ensinar um padrão de movimento, primeiro deveAMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)101Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec4:101 11/11/2009 10:16:09


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOexplicar a organização <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de e, por último, explicar a execução <strong>da</strong>habili<strong>da</strong>de.De maneira oposta, quando o professor deseja enfatizar a ativi<strong>da</strong>de,primeiro deve organizar os alunos na forma que eles trabalharão(individualmente ou divididos em grupos que devem ser formadosnesse momento). Depois, deve explicar a forma como deverão executar(habili<strong>da</strong>des específicas ou perguntas desafiadoras) e, por último, explicara ativi<strong>da</strong>de.Por exemplo:Quando o professor quer trabalhar um jogo de passes com as mãos em um espaçoque é possível fazer o gol em três balizas:Passo 01 – forma os grupos (times);Passo 02 – explica que a troca de passes será feita sempre com as mãos;Passo 03 – explica as regras do jogo.Já quando o objetivo motor do professor é ensinar o passe utilizando o mesmo jogocom três balizas:Passo 01 – divide os grupos;Passo 02 – explica as regras do jogo;Passo 03 – explica e utiliza dicas para enfatizar a forma que ele deseja que o passeseja feito.Dessa forma, o objetivo do professor fica na memória de curto prazodo aluno para ele já iniciar a ativi<strong>da</strong>de lembrando-se do objetivo principalselecionado para aquela aula.DEMONSTRAÇÃOA demonstração é a representação visual de uma execução em quenós mostramos o movimento em vez de simplesmente falarmos sobre102AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec4:102 11/11/2009 10:16:09


ESTILOS DE ENSINO E APRENDIZAGEM MOTORAele. O ditado “um gesto vale mais do que mil palavras” parece serespecialmente ver<strong>da</strong>deiro no ensino de habili<strong>da</strong>des motoras e caracterizao que alguns autores denominam aprendizagem por observação. O usode um modelo para que o aluno forme uma ideia do que deverá fazer (ademonstração para o aluno do que ele deverá fazer) tem suporte na Teoriade Aprendizagem Social (BANDURA, 1971a), segundo a qual as pessoasaprendem pela observação do comportamento de outras pessoas. Quandoo aluno tem um modelo do que deverá realizar, a imagem observa<strong>da</strong> podefuncionar como um modelo interno de ação, tanto para a produção comopara avaliação subsequentes, o que favorece a autonomia do aluno.O professor que for utilizar uma demonstração não precisa sepreocupar em dizer que vai estereotipar os alunos, pois eles aprendemos “padrões de resposta” (SOOHOO; TAKEMOTO; McCULLAGH,2005) e não detalhes específicos de como executar uma habili<strong>da</strong>de. Apesardisso, a demonstração pode ter diferenças na eficiência em função doestilo de ensino.Em uma abor<strong>da</strong>gem de ensino tradicional, os modelos para odesempenho correto pela explicação e pela demonstração se estabelecemantes <strong>da</strong> prática <strong>da</strong>s habili<strong>da</strong>des e, na sequência, os alunos imitam, tantoquanto possível, as características motoras do modelo (GALLAHUE;OZMUN, 2005). Observa-se, não raras vezes, nas aulas de EducaçãoFísica para crianças e jovens, a demonstração de características dospadrões maduros <strong>da</strong>s habili<strong>da</strong>des motoras fun<strong>da</strong>mentais, a qual enfatizaaspectos essenciais dessas habili<strong>da</strong>des para a consecução de movimentosmais habilidosos. Segundo Sanders (2005), muitas crianças pequenas sãoaprendizes visuais e, ao observarem e olharem os outros, rapi<strong>da</strong>menteaprendem como realizar as ativi<strong>da</strong>des.Assim como as dicas verbais, a demonstração de um modelo (quepode ser o professor, um aluno, uma fotografia ou um filme) pode auxiliaras crianças no desenvolvimento de habili<strong>da</strong>des motoras. Entretanto,acreditamos que, na maioria <strong>da</strong>s vezes, a demonstração, assim como asdicas, não deve preceder e/ou sobrepor-se ao rico processo de exploraçãoe descoberta <strong>da</strong>s inúmeras possibili<strong>da</strong>des de movimento que a criançapode experimentar por conta própria.Portanto, nesse contexto, o(s) momento(s) em que a demonstraçãode um modelo deve(m) ocorrer em um episódio de ensino precisa(m) sercui<strong>da</strong>dosamente planejado(s), de tal forma que os objetivos inicialmenteAMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)103Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec4:103 11/11/2009 10:16:09


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOtraçados possam ser atingidos. Assim, nos níveis iniciais de aprendizagem,a demonstração de um movimento ou técnica deveria refletir as regrasgerais do movimento, e os comentários deveriam ser baseados naslimitações e particulari<strong>da</strong>des individuais dos aprendizes.Quando já houver o domínio <strong>da</strong>s habili<strong>da</strong>des e dos objetos, oprofessor pode começar a “enfatizar” a demonstração <strong>da</strong> habili<strong>da</strong>de quedeseja ensinar. Um ponto que destacamos é que o professor, quando querensinar, gosta de ensinar bem e quer transmitir to<strong>da</strong>s as informações parao aluno. Nesse caso, ele demonstra, explica verbalmente o que deve serfeito e ain<strong>da</strong> fornece dicas sobre os pontos mais importantes.Ao lembrarmos que nós temos uma capaci<strong>da</strong>de limita<strong>da</strong> de guar<strong>da</strong>rinformações na memória de curto prazo, utilizar to<strong>da</strong>s essas estratégiasem conjunto é um grande erro. Quando o professor quer ensinar ummovimento novo ou até um jogo, pode somente demonstrar o jogo comas suas regras (desde que as regras estejam simplifica<strong>da</strong>s). Conformeos alunos aprendem, o professor poderá então fornecer informaçõessobre outras regras e estabelecer dicas com os alunos. Caso haja muitainformação junta, o aluno pode ter dificul<strong>da</strong>de de selecionar os pontosaos quais deve focar a atenção e, consequentemente, ter dificul<strong>da</strong>de naaprendizagem.Além disso, <strong>da</strong> mesma forma que a instrução verbal, o professor deveorganizar to<strong>da</strong> a aula e os alunos para, somente então, demonstrar o quedeseja e as crianças devem, imediatamente, iniciar a ativi<strong>da</strong>de para que asinformações não fiquem perdi<strong>da</strong>s na memória.Alguns fatores podem tornar mais eficiente o uso <strong>da</strong> demonstraçãopara influenciar a aprendizagem, tais como: não utilizar conjuntamente ademonstração com a instrução para iniciantes; demonstrar um númerode vezes para que o aluno enten<strong>da</strong> e forme a imagem mental do quedeverá executar – por exemplo, quando comparamos duas com dezdemonstrações, o maior número permite que os alunos consigam tantorepetir quanto modificar o movimento demonstrado (BRUZI et al.,2006); ou utilizar alguém respeitado pelos alunos (que pode até mesmoser um outro aluno).Em resumo, as informações obti<strong>da</strong>s através <strong>da</strong> demonstração adequa<strong>da</strong>facilitam a representação simbólica do movimento e a sua consequentereprodução. Entretanto, a execução do evento demonstrado tambémdepende <strong>da</strong> atenção, retenção, reprodução e motivação do aprendiz104AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec4:104 11/11/2009 10:16:09


ESTILOS DE ENSINO E APRENDIZAGEM MOTORAdurante o processo de demonstração (BANDURA, 1971b; MAGILL,1998), enfatizando o papel <strong>da</strong> cognição na ação motora e, novamente, opapel do professor como mediador de novas conquistas motoras.FEEDBACKO feedback tem sido amplamente discutido na literatura sobre oensino <strong>da</strong> Educação Física e reconhecido como uma variável importantena aprendizagem e no refinamento de habili<strong>da</strong>des motoras. Investigadores(SILVERMAN; WOODS; SUBRAMANIAM, 1998; BEHETS, 1997;RINK, 2003; CUÉLLAR; CARREIRO DA COSTA, 2001; MAGILL,1998) têm procurado esclarecer a relação entre a quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s informaçõesforneci<strong>da</strong>s pelo professor ao aluno sobre seu desempenho e o engajamentodeste nas ativi<strong>da</strong>des, bem como as consequentes aquisições decorrentesdessas informações.Para que as crianças evoluam em suas habili<strong>da</strong>des, do que vãoconhecendo e experimentando na prática esportiva, é fun<strong>da</strong>mental queo professor que as assiste tenha desenvolvi<strong>da</strong> a capaci<strong>da</strong>de de observação.Independentemente <strong>da</strong>s estratégias de ensino por que opte, observar oque os aprendizes fazem, quais as suas dificul<strong>da</strong>des, como se sentem aose movimentar, que conhecimentos estão adquirindo para, então, poderauxiliá-los, de forma eficaz, é uma quali<strong>da</strong>de indispensável para que oensino seja efetivo.Movimentar-se frequentemente pelo espaço, colocar-se em locaisem que possa ver todos os alunos, sugerir mu<strong>da</strong>nças em uma tarefa ouativi<strong>da</strong>de para torná-la mais fácil ou mais difícil para ca<strong>da</strong> criança, aju<strong>da</strong>ras que necessitam de auxílio, atuar mais diretamente onde a segurança temde ser considera<strong>da</strong>, certificar-se de que elas compreenderam o objetivo <strong>da</strong>ativi<strong>da</strong>de, incentivá-las a progredirem no que realizam: essas intervençõesespecíficas sobre as ativi<strong>da</strong>des ou de natureza afetiva são parâmetros queaju<strong>da</strong>m o professor a determinar a evolução dos alunos (NETO, 2001;SANDERS, 2005).A partir dos conhecimentos adquiridos e <strong>da</strong>s observações que faz <strong>da</strong>scrianças, ao professor é conferi<strong>da</strong> a importante função de <strong>da</strong>r-lhes feedback,AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)105Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec4:105 11/11/2009 10:16:09


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOoferecendo-lhes subsídios para que mais facilmente possam reconheceracertos e erros em suas tentativas de movimentos habilidosos. O feedback éuma estratégia de aprendizagem usa<strong>da</strong> por professores de educação físicacom a fun<strong>da</strong>mental função de guiar o aprendiz na execução <strong>da</strong> tarefa,assim como reforçar o correto desempenho e também motivar as criançasa permanecerem na ativi<strong>da</strong>de (SCHMIDT, 1991). Magill (1998) destacaque o feedback deve ser recebido pelo indivíduo durante a ação ou algumtempo (tempo este suficiente para o executante pensar sobre o que acaboude realizar) após a ação, para que efetivamente as informações sejamanalisa<strong>da</strong>s pelo indivíduo e o desempenho modificado.As fontes de informação para a mu<strong>da</strong>nça do desempenho podemser intrínsecas ou extrínsecas. No feedback intrínseco, a informação sobreo desempenho é provi<strong>da</strong> através dos próprios sentidos, como a visão, apropriocepção, a audição e o tato, enquanto no extrínseco a informação éforneci<strong>da</strong> por fontes externas, normalmente o professor, com o objetivo deretroalimentar o aluno durante e/ou após um movimento (CANFIELD,2001).O feedback extrínseco tende a ser muito importante para novatos, umavez que eles nem sempre conseguem perceber sensorialmente aspectos quepodem ou devem ser modificados em seus movimentos para atingir seusobjetivos (PAYNE; ISAACS, 2002; RINK, 2003; VALENTINI; TOIGO,2004). O professor deve, então, de maneira positiva, reforçar os pontosque estão sendo realizados corretamente pelas crianças, apontar os queprecisam ser corrigidos e, ao mesmo tempo, estimulá-las a perceberem,através dos sentidos, os seus movimentos corporais.Essa relação de proximi<strong>da</strong>de professor-aluno encoraja as crianças a continuaremenvolvi<strong>da</strong>s na ativi<strong>da</strong>de, porque sentem que o professor se preocupa com elas ecom os progressos que fazem, além do fato de crianças menores consideraremimportante ter a aprovação e a atenção dos adultos que são significativos para elas.Segundo Neto (2001), a aprendizagem é facilita<strong>da</strong> por um contextono qual se reconhece à criança o direito de cometer erros. Os erros fazemparte de to<strong>da</strong> aprendizagem, pois os erros também fornecem informaçõessobre a execução realiza<strong>da</strong> que será utiliza<strong>da</strong> em uma tentativa futura(SCHMIDT, 1977). O professor deve, de forma afetiva e, ao mesmo106AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec4:106 11/11/2009 10:16:09


ESTILOS DE ENSINO E APRENDIZAGEM MOTORAtempo, precisa, oferecer às crianças informações que as ajudem a percebermelhor o que estão realizando.Ain<strong>da</strong> que o feedback esteja normalmente relacionado à correçãode erros objetivando um melhor desempenho, é importante salientarque feedbacks mais efetivos iniciam com o professor apontando osacertos, seguido de informações dos aspectos do movimento a seremmelhorados. Chamar a atenção do aluno somente para o que estáerrado no movimento não é fonte de informação efetiva capaz de geraraprendizagem.Ao apresentar para o aluno o feedback como um reforço positivo,o professor passa a mensagem de que acredita na capaci<strong>da</strong>de do alunode aprender, levando-o a acreditar que é capaz de realizar a tarefa(KNUDSON; MORRISON, 2001). Ain<strong>da</strong> mais, propicia informaçõesvaliosas do que necessita ser melhorado para ser utilizado nas execuçõessubsequentes. É importante destacar que o elogio e o encorajamentopositivos, segundo Gallahue e Ozmun (2005), quando utilizados emexcesso e descontextualizados, passam a não ter significado para ascrianças. Por outro lado, quando usados sensatamente em situaçõesespecíficas de aprendizagem, facilitam o aumento <strong>da</strong> autoestima e osenso <strong>da</strong> competência percebi<strong>da</strong>, o que promove a autoconfiança, tãoimportante para estimular o aumento <strong>da</strong>s tentativas de maestria pelacriança.Outro ponto fun<strong>da</strong>mental a ser valorizado pelo professor refere-se àimportância do uso frequente do feedback nas fases iniciais <strong>da</strong> aprendizagem,tendo como objetivo guiar as tentativas futuras dos aprendizes. Assimque o aluno atinge níveis mais avançados de habili<strong>da</strong>des, a frequência dofeedback pode ser diminuí<strong>da</strong> (KNUDSON; MORRISON, 2001).Das formas de reduzir a quanti<strong>da</strong>de de vezes que o feedback é fornecido,já citamos a frequência, mas também podemos citar a faixa de amplitude(quando estabelecemos um limite considerado como acerto), pois, alémde apresentar melhores resultados para a aprendizagem (CORRÊA;BENDA; UGRINOWITSCH, 2006), é uma forma muito utiliza<strong>da</strong> naprática, principalmente devido à dificul<strong>da</strong>de do professor de EducaçãoFísica para fornecer feedback constante a todos os alunos durante uma aula(VALENTINI; TOIGO, 2004). Nesse caso, apesar de saber o que esperado aluno, o professor deixa uma faixa de tolerância de erro; quando oAMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)107Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec4:107 11/11/2009 10:16:09


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOaluno erra, mas o desempenho está dentro dessa faixa, o professor nãocorrige o aluno.Nessa mesma direção, Rink (2003) aponta para a dificul<strong>da</strong>de porque passa a maioria dos professores em fornecer feedback que possacausar modificações nas respostas motoras dos alunos, tendo emvista que, idealmente, o professor deveria observar várias tentativasde movimento de ca<strong>da</strong> aluno para identificar os erros consistentese permanecer com ele o tempo suficiente para certificar-se de quecompreendeu as informações e tornou-se capaz de fazer as alteraçõesnecessárias. Muitas vezes, a reali<strong>da</strong>de do Programa Segundo Tempo écaracteriza<strong>da</strong> por encontros com reduzido tempo e turmas com umgrande número de alunos, o que dificulta o uso dessa importanteferramenta de ensino. Nesse caso, uma estratégia que o professorpode utilizar é fazer um resumo dos principais erros <strong>da</strong> turmae informar a todos simultaneamente (MAGILL, 2000).Entretanto, o professor pode implementar estratégias de feedback paragrupos com dificul<strong>da</strong>des semelhantes: eleger como foco de ca<strong>da</strong> aula umgrupo de alunos que precise de feedback mais específico e, na próximaaula, eleger um novo grupo; capacitar os alunos para que enten<strong>da</strong>m omovimento e se auxiliem mutuamente na execução durante a aula;enfatizar componentes do movimento que são mais cruciais na execuçãoe sobre estes fornecer feedback mais constante.Concluindo, reforça-se que várias estratégias podem serimplementa<strong>da</strong>s no contexto do ensino-aprendizagem do esporte,em pequenos ou grandes grupos, promovendo o desenvolvimentointegral do indivíduo. O professor deve constantemente relembrar queas conquistas de seus alunos são media<strong>da</strong>s pela participação ativa nasdiferentes propostas de aprendizagem e que, para tanto, a aprendizagemdeve ter significado para ca<strong>da</strong> criança ou jovem; que a instrução deveser clara e específica, ressaltando aspectos relevantes do movimentoou ação tática a ser ensina<strong>da</strong>, que o estabelecimento de dicas verbaisem cooperação permite o maior envolvimento cognitivo <strong>da</strong> criança noprocesso de ensino, que o fornecimento apropriado de feedback desafia acriança a atingir novos níveis de desempenho motor e, acima de tudo, queo compromisso com a educação de ca<strong>da</strong> aluno deve nortear as propostaspe<strong>da</strong>gógicas implementa<strong>da</strong>s.108AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec4:108 11/11/2009 10:16:09


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FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOGALLAHUE, D.; OZMUN, J. Compreendendo o desenvolvimento motor:bebês, crianças, adolescentes e adultos. 3. ed. São Paulo: Phorte Editora, 2005.GRAHAM, G. Teaching children physical education: becoming a masterteacher. 2. ed. Champaign: Human Kinetics, 2001.GRAHAM, G.; HOLT-HALE, S.; PARKER, M. Children moving: a reflectiveapproach to teaching physical education. 7. ed. New York: McGraw-Hill, 2007.GREEN, T. D.; FLOWERS, J. H. Implicit versus explicit learning processes in aprobabilistic, continuous fine-motor catching task. Journal of Motor Behavior,n. 23, p. 293-200, 1991.KNUDSON, D. V.; MORRISON, C. S. Qualitative analysis of humanmovement champaign. IL: Human Kinetics, 2001.MAGILL, R. Motor learning: concepts and applications. 5. ed. Boston: McGraw-Hill, 1998.MAGILL, R. A. Aprendizagem motora: conceitos e aplicações. São Paulo:Edgard Bluchër, 2000.MILAN, Č.; DRAGANA, J.; MILOVAN, B. Facta universitatis series. PhysicalEducation and Sport, v. 2, n. 1, p. 45-59, 2004. Review paper motor learning insport UDC 796.012: 591.513.MOREIRA, M. A. Teorias de aprendizagem. São Paulo: EPU, 1999.MOYLES, J. Só brincar? O papel do brincar na educação infantil. Porto Alegre:Artmed, 2002.NETO, C. Motrici<strong>da</strong>de e jogo na infância. 3. ed. Rio de Janeiro: Sprint,2001.OLIVEIRA, Amauri Bássoli; PERIM, Gianna (Org.). <strong>Fun<strong>da</strong>mentos</strong> pe<strong>da</strong>gógicospara o programa segundo tempo. 2. ed. Maringá: Eduem, 2008.PAYNE, V. G.; ISAACS, L. Human motor development: a lifespan approach.5. ed. Boston: McGraw-Hill, 2002.RINK, J. Investigating the assumptions of Pe<strong>da</strong>gogy. Journal of Teaching inPhysical Education, v. 20, n. 2, p. 112-128, Jan. 2001.______. Effective instruction in physical education. In: SILVERMAN, S.; ENNIS,C. Student Learning in Physical Education: applying research to enhanceinstruction. 2. ed. Champaign: Human Kinetics, 2003.SANDERS, S. Ativo para a vi<strong>da</strong>: Programas de movimento adequados aodesenvolvimento <strong>da</strong> criança. Porto Alegre: Artmed, 2005.110AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec4:110 11/11/2009 10:16:10


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FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOQuadro Síntese:Relacionar os processos de desenvolvimento e aprendizagem motora com osaspectos pe<strong>da</strong>gógicos do ensino dos esportes é fun<strong>da</strong>mental para o profissional deEducação Física. No Programa Segundo Tempo, em que o aprendizado esportivo éo foco e o meio pelo qual buscamos desenvolver potenciali<strong>da</strong>des que auxiliarão nodesenvolvimento global <strong>da</strong>s crianças e dos jovens participantes, esses conhecimentostornam-se ain<strong>da</strong> mais relevantes.Não há dúvi<strong>da</strong> de que a prática ativa requer do educador estratégias com níveisdiferenciados de desafios para ca<strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de, respeitando as diferenças, valorizandoa diversi<strong>da</strong>de e facilitando a inclusão de todos. Essas estratégias devem conduzir aoencorajamento para realizar experiências significativas em uma série de movimentoslocomotores, estabilizantes e de controle de objetos, bem como de suas combinações.A criação e a preparação de ambiente estimulante e desafiador, sendo o professor umfacilitador de aprendizagens, certamente oportunizarão crianças e jovens atingiremcerto grau de sucesso nos níveis de suas habili<strong>da</strong>des particulares.Para efetivar essa prática, o professor deve escolher, com base no nível dedesenvolvimento motor e cognitivo, o estilo de ensino que melhor auxiliará noprocesso ensino-aprendizagem. Dentre os mais conhecidos, destaca-se, nestecapítulo, o diretivo, mais adequado, em geral, para refinamento dos aprendizados, o dedescoberta orienta<strong>da</strong>, em que aprendem a selecionar seus movimentos na realizaçãode uma habili<strong>da</strong>de, o de solução criativa de problemas, no qual os alunos devemrefletir sobre to<strong>da</strong>s as possibili<strong>da</strong>des de resposta para a execução do movimento, e ode exploração, que, quando utilizado, encoraja as crianças a terem uma quanti<strong>da</strong>de deexperiências nas habili<strong>da</strong>des fun<strong>da</strong>mentais. A instrução verbal constitui importanteferramenta nesse processo, cuja quali<strong>da</strong>de pode permitir progressos na aquisiçãoe no refinamento de habili<strong>da</strong>des motoras. Nesse sentido, as pesquisas indicam anecessi<strong>da</strong>de de uma linguagem a<strong>da</strong>pta<strong>da</strong> ao nível de entendimento dos aprendizes,evitando descrições longas e pormenoriza<strong>da</strong>s, a fim de não subtrair tempo excessivo<strong>da</strong> prática. Informações em excesso podem também dificultar, especialmente para ascrianças, a lembrança do que foi dito pelo professor, pois há uma limitação no serhumano que diz respeito diretamente à memória de curto prazo. Assim, dicas verbaisque selecionem informações mais relevantes para os aprendizados se mostram maisefetivas e aliviam os problemas de lembrança. A instrução verbal, muitas vezes alia<strong>da</strong>à demonstração, pode ser uma poderosa fonte de informação; to<strong>da</strong>via, alerta-se que ademonstração excessiva pode inibir a criativi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s crianças.É consenso na literatura de que o feedback é uma <strong>da</strong>s variáveis mais importantes noprocesso ensino-aprendizagem. Duas fontes de feedback, o intrínseco, cuja informaçãoadvém dos próprios órgãos sensoriais do aprendiz e o extrínseco, cuja informaçãoadvém do meio, em geral do professor são fun<strong>da</strong>mentais para o aprendizado efetivo.Saber utilizar estas informações como meios de correção e de motivação é fun<strong>da</strong>mentalao professor. O momento, a quanti<strong>da</strong>de e a quali<strong>da</strong>de do feedback decidirão quãoefetivo será o aprendizado.112AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec4:112 11/11/2009 10:16:10


ESTILOS DE ENSINO E APRENDIZAGEM MOTORAQuestões Centrais para Reflexão:1 − Como posso estruturar minha aula para torná-la significativa aosalunos de meu núcleo?2 − Como criar um ambiente de prática que não exclua os menos aptos,mas que não desmotive aos mais aptos?3 − Qual(is) o(s) estilo(s) de ensino que devo escolher para a reali<strong>da</strong>de demeu núcleo?4 − O quanto de orientação verbal devo <strong>da</strong>r no início <strong>da</strong> aprendizagem,considerando o nível de desenvolvimento motor e cognitivo dosparticipantes do meu núcleo?5 − Como auxiliar os aprendizes a melhor interpretarem o feedbackintrínseco?Onde Saber Mais:MAXWELL, J. P.; MASTERS, R. S.; EVES, F. F. The role of working memoryin motor learning and performance. Conscious Cogn, v. 12, n. 3, p. 376-402,2003.http://en.wikipedia.org/wiki/Memoryhttp://en.wikipedia.org/wiki/Motor_coordination#Feedback_Loop_Systemhttp://en.wikipedia.org/wiki/Motor_coordination#Aspects_of_Motor_Coordinationhttp://www.sports-media.org/sportapolisnewsletter23newlook.htmhttp://tlt.its.psu.edu/suggestions/research/teaching_styles.shtmlhttp://www.coachesclipboard.net/DrJonesCoachingStyles.htmlAMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)113Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec4:113 11/11/2009 10:16:10


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QUESTÕES DA DEFICIÊNCIAE AS AÇÕES NO PROGRAMASEGUNDO TEMPOAlexandre Carriconde Marques 1Ruth Eugênia Ci<strong>da</strong>de 2Kathya Augusta Thomé Lopes 3INTRODUÇÃOO Programa Segundo Tempo tem muito a oferecer a crianças e jovenscom diversos tipos de deficiência, nas mais varia<strong>da</strong>s formas de ativi<strong>da</strong>de.A ativi<strong>da</strong>de física e esportiva tem auxiliado crianças e jovens comdeficiência a não só adquirir autonomia e independência, como tambémresgatar sua autoestima, autoconfiança, as relações pessoais e seu equilíbrioemocional. Mesmo aqueles com grande dificul<strong>da</strong>de motora e intelectualpodem praticar esportes, sob a orientação adequa<strong>da</strong>. A coordenação doPrograma Segundo Tempo tem desenvolvido estratégias para estimular aparticipação desses alunos no programa.Este texto procura orientar o professor e o monitor quanto às ativi<strong>da</strong>desdo Programa Segundo Tempo, nos aspectos relevantes do atendimentode crianças e jovens com deficiência. Primeiramente, pretende-se situaro leitor na compreensão <strong>da</strong>s deficiências e do processo inclusivo atual.Num segundo momento, conceitua-se a deficiência e apresentam-se seustipos, características, classificações e procedimentos pe<strong>da</strong>gógicos para odesenvolvimento <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des.A ideia atual é não perceber a pessoa em razão de sua deficiência, mas,sim, procurar estimulá-la para que possa desenvolver-se na medi<strong>da</strong> desuas capaci<strong>da</strong>des, no ambiente em que vive.1 Professor Doutor <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Federal de Pelotas (UFPEL).2 Professora Doutora <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Federal do Paraná (UFPR).3 Professora Doutora <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Federal do Amazonas (UFAM).Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec5:115 11/11/2009 10:16:10


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPONesse quadro, o Programa Segundo Tempo deve constituir-se comoum contexto privilegiado de intervenção, para que a ativi<strong>da</strong>de esportivadesempenhe as funções de prevenir a inativi<strong>da</strong>de física dessa população e apromoção <strong>da</strong> inclusão.Na avaliação geral do Programa Segundo Tempo, observou-se quemenos de 1% dos alunos do programa tem algum tipo de deficiência,e que a maioria dos coordenadores de núcleos e monitores não temexperiência com essa população. Para mu<strong>da</strong>r essa reali<strong>da</strong>de, é necessárioque se desenvolvam meios e métodos que viabilizem o prazer pela práticaesportiva de crianças e jovens.A qualificação profissional é um passo fun<strong>da</strong>mental no atendimentodessas pessoas. Além disso, torna-se necessária a capacitação dosprofessores visando ao atendimento adequado <strong>da</strong>s expectativas <strong>da</strong>s pessoascom deficiências e à preparação de outros alunos para interagirem com oscolegas deficientes.Sabe-se que é preciso estar preparado para receber o aluno comdeficiência.Ao receber uma criança ou adolescente com deficiência no núcleo ocoordenador deve iniciar a conversa com a própria criança com o intuito deconhecer os interesses, as necessi<strong>da</strong>des e as expectativas do recém-chegado.Perguntas simples podem ser feitas para entender do que a criança gosta,porque quer participar <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des do núcleo, se vem acompanha<strong>da</strong> ousozinha, entre outras questões.Para que isso possa ser feito, é necessário identificar as característicasdessa população. Não será obrigatório conhecer todos os tipos dedeficiência, mas é necessário pelo menos entender as dificul<strong>da</strong>des e aspossibili<strong>da</strong>des dos alunos que frequentam o núcleo.A avaliação do ambiente em termos de acessibili<strong>da</strong>de é importantepara o sucesso do Programa. Com relação à pessoa com deficiência,é preciso também considerar aspectos como sexo, i<strong>da</strong>de, nível deindependência e autonomia, observar sua estrutura familiar, crenças epercepções pessoais.116AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec5:116 11/11/2009 10:16:10


QUESTÕES DA DEFICIÊNCIA E AS AÇÕES NO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOO maior desafio para os profissionais do Programa Segundo Tempoé facilitar o envolvimento de to<strong>da</strong>s as pessoas, principalmente <strong>da</strong>s queapresentam alguma deficiência, em ativi<strong>da</strong>des que promovam a inclusãode todos.É sempre bom lembrar que a participação, as formas de interação social eas experiências de alunos com deficiência no Programa Segundo Tempoterão significados diferentes porque as pessoas são diferentes.É fun<strong>da</strong>mental que a comuni<strong>da</strong>de (pais, vizinhos, amigos, professorese outros) participe <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des do Programa. Essa atitude inclusivaproporcionará satisfação ao indivíduo, que se sentirá aceito, perceberá seupróprio valor e confiará em si mesmo, ou seja, sentir-se-á parte integrantedo grupo.O Programa Segundo Tempo apresenta-se como um espaço emque todos, sem exceção, devem participar <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des esportivas,desenvolvendo um trabalho pe<strong>da</strong>gógico direcionado para atender a todossem distinção e garantir igual<strong>da</strong>de de condições.Seja por uma deficiência motora, sensorial ou intelectual, as criançase os jovens com deficiência podem participar como os outros colegas,tentando desenvolver aspectos físicos, sociais e cognitivos, que lhespermitirão levar uma vi<strong>da</strong> mais livre, autônoma e independente.Para que todos possam compartilhar suas experiências e habili<strong>da</strong>des, os envolvidosno Programa Segundo Tempo devem estar atentos para alguns detalhes:• Conhecer as diferentes deficiências e sua repercussão no contexto <strong>da</strong>sativi<strong>da</strong>des.• Esclarecer a comuni<strong>da</strong>de local sobre os objetivos do Programa SegundoTempo.• Promover mu<strong>da</strong>nça de atitudes dos participantes, para que se consiga realizarum projeto educativo que alcance respostas positivas para todos os envolvidos.• Capacitar recursos humanos e desenvolver materiais para atender os objetivospropostos.• Gerar estratégias que diminuam as barreiras físicas de acessibili<strong>da</strong>de noambiente.AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)117Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec5:117 11/11/2009 10:16:10


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOPara o desenvolvimento <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des esportivas, é necessária autilização de um planejamento pe<strong>da</strong>gógico que esteja focado na criação desituações dinamizadoras e de experimentação <strong>da</strong>s diversas possibili<strong>da</strong>desde intervir metodologicamente respeitando as diversi<strong>da</strong>des, pois, dessaforma, poder-se-á alcançar maior participação dos alunos envolvidos noprocesso.A PERSPECTIVA DA FUNCIONALIDADE E AVALORIZAÇÃO DAS POTENCIALIDADESÉ provável que a forma como se caracteriza uma pessoa comdeficiência determine a atuação do profissional para com elas. Assim,reforça-se a atitude favorável em relação à pessoa com deficiência, noponto de vista de suas potenciali<strong>da</strong>des e não de suas limitações.Por que destacar isso?Você já deve ter se deparado com algumas dessas definições para umaluno com deficiência: alguém que tem limitações; alguém que precisa de maisatenção; alguém que precisa de tratamento diferenciado; alguém que é dependente,que sempre vai precisar de aju<strong>da</strong>; alguém que não pode fazer igual aos outros; alguémque tem mais dificul<strong>da</strong>de; pode superar seus limites, enfim, a referência é sempreaquilo que lhe falta, aquilo que não pode, aquilo que não consegue. Mediante essasrepresentações, propõe-se uma mu<strong>da</strong>nça de postura e, consequentemente,um novo ponto de parti<strong>da</strong> em relação às pessoas com deficiência.Essa mu<strong>da</strong>nça de atitude começa quando, ao se deparar com essa pessoa,questiona-se: O que ela pode? O que ela sabe? O que ela consegue? A partir deentão, norteia-se a programação para seu atendimento.118AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec5:118 11/11/2009 10:16:10


QUESTÕES DA DEFICIÊNCIA E AS AÇÕES NO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOVale aqui uma ressalva: a mu<strong>da</strong>nça de atitude não significa, noentanto, desconsiderar suas características inerentes à deficiência, taiscomo: limitações, incapaci<strong>da</strong>des, restrições a determina<strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des, restriçõesmédicas, entre outros aspectos que devem ser considerados sim, mas nãocomo primeiro passo.É imprescindível, ain<strong>da</strong>, considerar que as possibili<strong>da</strong>des de umapessoa estarão relaciona<strong>da</strong>s com o ambiente a ela propiciado, às suascaracterísticas individuais e às especifici<strong>da</strong>des <strong>da</strong> tarefa em si.Entendendo que o deficiente é um indivíduo em potencial, torna-senecessário, então, compreender os aspectos inerentes à deficiência. Paraisso, remete-se ao que a Organização Mundial de Saúde (OMS) temabor<strong>da</strong>do por meio <strong>da</strong> Classificação Internacional de Funcionali<strong>da</strong>de,Incapaci<strong>da</strong>de e Saúde (WHO, 2001), que apresenta critérios paraclassificar, avaliar e intervir na saúde e nas incapaci<strong>da</strong>des. Esse sistema declassificação nos remete aos seguintes termos (CIF, 2002, p. 21):Deficiências – são problemas nas funções ou nas estruturas do corpo como umdesvio significativo ou uma per<strong>da</strong>.Incapaci<strong>da</strong>de – é uma desvantagem individual, resultante do impedimento ou<strong>da</strong> deficiência, que limita ou impede o cumprimento ou desempenho de um papelsocial, dependendo <strong>da</strong> i<strong>da</strong>de, sexo e fatores sociais e culturais.Funções do corpo – são as funções fisiológicas dos sistemas do corpo (inclusiveas funções psicológicas).Estruturas do corpo – são partes anatômicas do corpo como órgãos, membrose seus componentes.Ativi<strong>da</strong>de – é a execução de uma tarefa ou ação por um indivíduo.Participação – é o envolvimento em situações de vi<strong>da</strong> diária.Restrições de participação – são problemas que um indivíduo podeenfrentar ao se envolver em situações de vi<strong>da</strong>.Limitações de ativi<strong>da</strong>des – são dificul<strong>da</strong>des que um indivíduo podeencontrar na execução de ativi<strong>da</strong>des.AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)119Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec5:119 11/11/2009 10:16:10


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPONOÇÕES SOBRE CAUSAS EPREVENÇÃO DE DEFICIÊNCIASPor muito tempo, vários termos têm sido utilizados para descreverindivíduos com algum tipo de deficiência. O termo “deficiente” tem sidodiscutido por vários autores, tendo significados diferentes.A Declaração dos Direitos <strong>da</strong>s Pessoas Deficientes, aprova<strong>da</strong> pelaAssembleia Geral <strong>da</strong> Organização <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s (ONU), em9/12/1975 (PEDRINELLI, 1994), especifica, em seu artigo 1º, que o termo“pessoa deficiente” refere-se a qualquer pessoa incapaz de assegurar a simesma, total ou parcialmente, as necessi<strong>da</strong>des de uma vi<strong>da</strong> individual ousocial normal, em decorrência de suas capaci<strong>da</strong>des físicas ou mentais.No Relatório <strong>da</strong> Reabilitação Internacional do Fundo <strong>da</strong>s NaçõesUni<strong>da</strong>s para a Infância (UNICEF), encontram-se as definições deimpedimento, deficiência e incapaci<strong>da</strong>de divulgados pela OMS <strong>da</strong>seguinte maneira:Impedimento: um <strong>da</strong>no psicológico, fisiológico ou anatômico, permanenteou transitório, ou uma anormali<strong>da</strong>de de estrutura ou função.Deficiência: qualquer restrição ou per<strong>da</strong> na execução de uma ativi<strong>da</strong>de,resultante de um impedimento, na forma ou dentro dos limites consideradoscomo normais para o ser humano.Incapaci<strong>da</strong>de: uma deficiência que constitui uma desvantagem para umadetermina<strong>da</strong> pessoa, porque limita ou impede o desempenho de uma função queé considera<strong>da</strong> normal dependendo de i<strong>da</strong>de, sexo, fatores sociais e culturais, paraaquela pessoa (UNICEF/BRASIL, 1980).De acordo com essas definições, entende-se o impedimento como <strong>da</strong>no, a deficiênciacomo restrição e a incapaci<strong>da</strong>de como desvantagem.120AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec5:120 11/11/2009 10:16:10


QUESTÕES DA DEFICIÊNCIA E AS AÇÕES NO PROGRAMA SEGUNDO TEMPONesse mesmo Relatório, constatou-se que por to<strong>da</strong> a parte a populaçãonão tem acesso a informações sobre causas, prevenção e tratamento <strong>da</strong>deficiência.A desinformação é real não apenas para as comuni<strong>da</strong>des rurais, paraanalfabetos ou para os excluídos do desenvolvimento, mas também paradirigentes comunitários, profissionais, planejadores e administradores. Asinformações são, em geral, cerca<strong>da</strong>s de superstição e medo.CAUSAS DE DIFERENTES DEFICIÊNCIASSegundo Campo (1989), devem ser identificados os fatores de riscoque podem ser reduzidos ou eliminados: os genéticos, pré-, peri- e pósnataise os ambientais.Entre os fatores genéticos podem ser cita<strong>da</strong>s, por exemplo, asalterações cromossômicas como a Síndrome de Down. A prevençãodesse tipo de fator pode ser feita de várias maneiras: exames pré-natais(amniocenteses, ecografias etc.), investigação sobre a i<strong>da</strong>de dos pais e oaconselhamento genético.Entre os fatores pré-natais encontram-se os listados a seguir:a) Doenças infecciosas como rubéola, toxoplasmose, doençassexualmente transmissíveis etc. Existem testes que detectamanticorpos dessas doenças. Em relação à mãe diabética, com umaatenção adequa<strong>da</strong> não há dificul<strong>da</strong>des para a prevenção.b) Ingestão de medicamentos, drogas, álcool, fumo etc., podeprovocar no feto graves transtornos. Por isso, no período degestação a mãe deve abster-se de ingerir quaisquer dessesprodutos.c) Incompatibili<strong>da</strong>de sanguínea entre o sangue materno e o fetal.A prevenção é feita em até 72 horas após o nascimento do bebêadministrando na mãe uma injeção de globulina que protegeráos futuros filhos.d) Radioativi<strong>da</strong>de − o Raio-X resulta em abortos e deficiências.A prevenção, nesse caso, é a não submissão aos raios durante agestação.AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)121Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec5:121 11/11/2009 10:16:10


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOEntre os fatores peri-natais, destacam-se:a) A atenção obstétrica para os acidentes com o cordão umbilical(anóxia) e traumas.b) A prematuri<strong>da</strong>de e a infecção hospitalar.Entre os fatores pós-natais, destacam-se:a) As enfermi<strong>da</strong>des por carências nutricionais têm causas diversas:funcionais-orgânicas, socioeconômicas e psicossociais. Aprevenção consiste em ter uma dieta rica e melhorar as condiçõesambientais.b) As doenças infecciosas podem ser preveni<strong>da</strong>s com a eliminaçãodos agentes transmissores, a cura rápi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s pessoas acometi<strong>da</strong>spara evitar o contágio e evitar a imunização.c) Quanto aos acidentes, as medi<strong>da</strong>s de prevenção mais adequa<strong>da</strong>sincluem: educação sanitária, educação para o trânsito, normasde segurança para manuseio e transporte de produtos tóxicos,prevenção de acidentes de trabalho e agressões físicas com facase armas de fogo.Os fatores ambientais, em crianças, podem desenvolversefun<strong>da</strong>mentalmente em duas situações sociais: família e escola.Depois, quando adultas, tais fatores acontecerão dentro do trabalhoe na comuni<strong>da</strong>de em geral. A prevenção ambiental dentro <strong>da</strong> famíliaé muito importante, porque é na família que a criança encontra a basepara desenvolver-se e adquirir novas competências. É necessário que sefaçam trabalhos preventivos com as famílias, incluindo a educação dospais por meio de grupos de discussão, associações etc. Por outro lado, aescola tem sido o lugar no qual, de preferência, acontece a identificação dedificul<strong>da</strong>des de comportamento, deficiências e outras situações familiaresque repercutem no comportamento e desenvolvimento <strong>da</strong> criança. Muitosdesses casos não são identificados até que a criança entre na escola, o queimpossibilita uma intervenção precoce (CAMPO, 1989).Segundo Werner (1994), para prevenir é preciso entender as causas.Na maior parte do mundo, muitas causas <strong>da</strong> deficiência estão liga<strong>da</strong>s àpobreza, como exemplificando a seguir.a) Quando as mães não se alimentam suficientemente durante agravidez, muitas vezes seus bebês nascem prematuros ou com122AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec5:122 11/11/2009 10:16:10


QUESTÕES DA DEFICIÊNCIA E AS AÇÕES NO PROGRAMA SEGUNDO TEMPObaixo peso. Existe a probabili<strong>da</strong>de de que, por anemia gestacional,os bebês possam ter paralisia cerebral, que é uma <strong>da</strong>s doençasgraves mais comuns.b) Quando não se alimentam bem, os bebês e as crianças pequenascontraem infecções com maior facili<strong>da</strong>de e gravi<strong>da</strong>de. A diarreiapara um bebê magro e desnutrido representa um perigo maiorpor provocar desidratação profun<strong>da</strong>.c) As más condições de saúde pública e de habitação, juntamentecom uma alimentação pobre, tornam muito mais comum oaparecimento de doenças.d) A falta de serviços básicos de saúde e a reabilitação nascomuni<strong>da</strong>des carentes torna mais comuns e mais severas asdeficiências. Muitas vezes, aparecem deficiências secundárias quepoderiam ter sido preveni<strong>da</strong>s com um tratamento imediato.e) Algumas deficiências são provoca<strong>da</strong>s por venenos nos alimentos,na água, no ar ou no local de trabalho. O emprego recente,comum e indiscriminado de produtos químicos para matarinsetos e ervas <strong>da</strong>ninhas tornou-se um grave problema desaúde.f) Condições perigosas de trabalho, envenenamento do ar eausência de medi<strong>da</strong>s básicas de segurança provocam muitasdeficiências. Essas incluem queimaduras, amputações, cegueirae lesões <strong>da</strong> medula e cabeça.Resumindo, as causas <strong>da</strong>s deficiências são:• Nutrição inadequa<strong>da</strong> de mães e crianças, incluindo deficiências vitamínicas.• Ocorrências anormais nos períodos pré-, peri- e pós-natais.• Doenças infecciosas, acidentes e outros fatores, inclusive poluição ambiental eimpedimentos de origem desconheci<strong>da</strong>.Segundo o Relatório <strong>da</strong> Reabilitação Internacional à Junta Executiva <strong>da</strong>UNICEF, pode-se relacionar três categorias de ativi<strong>da</strong>des como medi<strong>da</strong>spara a redução <strong>da</strong>s consequências <strong>da</strong> deficiência em crianças:AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)123Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec5:123 11/11/2009 10:16:10


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOa) Prevenir a ocorrência de impedimento físico, social, mental ousensorial (prevenção primária).b) Instalado o impedimento, evitar as limitações funcionaispermanentes, ou controlar, tanto quanto possível, suasconsequências limitantes (prevenção secundária).c) Impedir que a coletivi<strong>da</strong>de e o ambiente físico e social condenemas crianças com deficiências a uma existência estigmatiza<strong>da</strong>,segrega<strong>da</strong> e isola<strong>da</strong> (prevenção terciária).Para que se possa atender à população em relação à prevenção dedeficiências, é necessária uma série de ações de baixo custo, os quaispodem, ser efetiva<strong>da</strong>s tanto nas áreas urbanas como rurais, como segue:a) Análise <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de local (incluindo os serviços públicos)em termos de organização comunitária, saúde, educação,saneamento básico, trabalho, participação social e quali<strong>da</strong>de devi<strong>da</strong> <strong>da</strong> população.b) Estímulo e apoio à organização comunitária (Conselhos,Comissões, Grupos de Trabalho, Sindicatos, Enti<strong>da</strong>des deClasses, outros).c) Otimização dos recursos públicos e comunitários existentes:espaços físicos, equipamentos e materiais.d) Valorização e otimização <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong>de profissional dos recursoshumanos, sobretudo nas áreas de saúde, educação e ação social.e) Integração entre serviços paralelos, duplici<strong>da</strong>de de ações edispersão de recursos.f) Planejamento e execução de amplo programa de ação comunitáriaenvolvendo: conscientização, participação e capacitação depessoas para atuar junto à população.g) Integração com meios de comunicação local para divulgação demedi<strong>da</strong>s preventivas, identificação e atendimento precoce decrianças com atraso no desenvolvimento e/ou com deficiênciasjá instala<strong>da</strong>s.124AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec5:124 11/11/2009 10:16:10


QUESTÕES DA DEFICIÊNCIA E AS AÇÕES NO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOh) Formação de grupos voluntários de agentes de saúde com adevi<strong>da</strong> capacitação para atendimentos de emergência, orientaçãosobre medi<strong>da</strong>s preventivas em regiões de difícil acesso.i) Integração com instituições e/ou agências formadoras de recursoshumanos.j) Interação com órgãos municipais, estaduais, federais, instituiçõescomunitárias que possam de algum modo contribuir com oprocesso de prevenção de deficiências, seja prestando orientaçãotécnica, seja alocando recursos para execução de projetosespecíficos (CORDE, 1994).PREVENÇÃO DE DEFICIÊNCIASA prevenção e intervenção precoce constituem em necessi<strong>da</strong>desno campo <strong>da</strong> saúde e <strong>da</strong> educação, apesar de to<strong>da</strong>s as dificul<strong>da</strong>des.Reconhecer isso implica, por sua vez, implantar programas preventivose de intervenção precoce que sejam adequados. Essa tarefa é, pornatureza, interdisciplinar e a ela estão ligados todos os segmentos<strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de, entre eles os profissionais <strong>da</strong> saúde e <strong>da</strong> educação, ossociólogos, os assistentes sociais, os políticos, as instituições educativas,as comuni<strong>da</strong>des, as associações, a mídia e a participação obrigatória ebásica <strong>da</strong> família.Pode-se definir a prevenção (em saúde) como to<strong>da</strong> a atuação quepermita eliminar ou diminuir a interrupção de uma enfermi<strong>da</strong>de,transtorno ou deficiência. Para prevenir eficazmente, deve-se conheceras causas <strong>da</strong> enfermi<strong>da</strong>de; seu desconhecimento impede de atuarpreventivamente. Pode-se, por exemplo, tomar medi<strong>da</strong>s gerais, aplicarprogramas e propagan<strong>da</strong>s para ganhar maior nível de consciência <strong>da</strong>população, ou buscar um meio de reduzir o problema eliminando algunsdos fatores mediadores, como, no caso <strong>da</strong> malária, suprimir o elementotransmissor, o mosquito anopheles.Existem três níveis ou tipos diferentes de prevenção: primária,secundária e terciária.AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)125Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec5:125 11/11/2009 10:16:10


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOPara reduzir os efeitos <strong>da</strong> deficiência, três pontos básicos sãocolocados no Relatório <strong>da</strong> Reabilitação Internacional: prevenção (primáriae secundária), reabilitação (como prevenção terciária) e integração social.Amaral (1994) faz a seguinte correlação: prevenção ao impedimento,reabilitação na deficiência e integração social na incapaci<strong>da</strong>de.A prevenção tem como objetivo geral impedir a aparição de umadoença e buscar ao máximo a quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong> do ser humano. Issoé possível com programas de higiene e nutrição, vacinas para prevenirdoenças infecciosas, medi<strong>da</strong>s contra acidentes etc.DEFICIÊNCIAS: CONCEITOS, TIPOS EINTERVENÇÃO PEDAGÓGICA“Nós não devemos deixar que as incapaci<strong>da</strong>des <strong>da</strong>s pessoas nosimpossibilitem de reconhecer as suas habili<strong>da</strong>des” (HALLAHAN;KAUFFMAN, 1994, p. 65).Os conceitos de deficiência têm recebido algumas alterações nosúltimos anos. Esta parte do texto vai situar os leitores nas classificações enos conceitos atuais relacionados com as deficiências.Ao longo dos anos, o deficiente foi reconhecido de diversas formas:inválido, incapacitado, com necessi<strong>da</strong>des educativas especiais, comnecessi<strong>da</strong>des especiais e pessoa portadora de deficiência.Os movimentos mundiais de pessoas com deficiência, incluindo os doBrasil, debateram o nome pelo qual elas desejam ser chama<strong>da</strong>s. Mundialmente,já fecharam a questão: querem ser chama<strong>da</strong>s de pessoas com deficiência emtodos os idiomas. E esse termo fez parte do texto <strong>da</strong> Convenção Internacionalpara Proteção e Promoção dos Direitos e Digni<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s Pessoas comDeficiência, aprova<strong>da</strong> pela Assembleia Geral <strong>da</strong> ONU em 2005 e promulga<strong>da</strong>,posteriormente, por meio de lei nacional de todos os países-membros.De acordo com a OMS, o conceito de pessoa com deficiência diz oseguinte:126AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec5:126 11/11/2009 10:16:10


QUESTÕES DA DEFICIÊNCIA E AS AÇÕES NO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOConsidera-se pessoa com deficiência aquela que, por motivo deper<strong>da</strong> ou anomalia congênita ou adquiri<strong>da</strong>, de estrutura ou funçãopsicológica, intelectual, fisiológica ou anatômica susceptível deprovocar restrições de capaci<strong>da</strong>de, pode estar considera<strong>da</strong> emsituação de desvantagem para o exercício de ativi<strong>da</strong>des considera<strong>da</strong>snormais, tendo em conta a i<strong>da</strong>de, o sexo, e os fatores socioculturaisdominantes (OMS, 2003).As deficiências apresentam-se de duas formas: congênita ou adquiri<strong>da</strong>.Na deficiência congênita o indivíduo já nasce com um impedimento. Naadquiri<strong>da</strong>, por algum motivo, no decorrer de sua vi<strong>da</strong>, o indivíduo sofreuma lesão (doença, acidente etc.).Academicamente, os tipos de deficiências são divididos em cinco:a) Deficiência múltipla;b) Deficiência física;c) Deficiência visual;d) Deficiência auditiva;e) Deficiência intelectual (ou mental).Serão descritas e caracteriza<strong>da</strong>s a seguir.Deficiência múltiplaTrata-se <strong>da</strong> associação, no mesmo indivíduo, de duas ou mais deficiênciasprimárias (intelectual, visual, auditiva e física), com comprometimentosque acarretam consequências em seu desenvolvimento global e em suacapaci<strong>da</strong>de a<strong>da</strong>ptativa.Deficiência físicaA deficiência física pode ser defini<strong>da</strong> como “to<strong>da</strong> e qualquer alteraçãono corpo humano, resultado de um problema ortopédico, neurológico oude má formação, levando o indivíduo a uma limitação ou dificul<strong>da</strong>de nodesenvolvimento de alguma tarefa motora” (COSTA, 1995, p. 8).AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)127Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec5:127 11/11/2009 10:16:10


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOCaracteriza-se por uma alteração <strong>da</strong> estrutura anatômica ou <strong>da</strong> função,que interfere na movimentação e/ou locomoção do indivíduo e lhe causadificul<strong>da</strong>des de participar <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> de forma independente.A deficiência física é classificado em:a) Ortopédica: aquela que envolve predominantemente problemasdos músculos, ossos e/ou articulações.b) Neurológica: aquela que envolve predominantemente asdeteriorizações ou lesões do sistema nervoso central.Quanto à evolução, as deficiências físicas podem ser considera<strong>da</strong>sprogressivas (como, por exemplo, a distrofia muscular) ou permanentes(amputação).Identificando os tipos de deficiência físicaO grupo formado por pessoas com deficiência física é heterogêneo eestimado em 2% <strong>da</strong> população. Existem vários tipos de deficiências físicasem diferentes níveis de acometimento. Exemplos: paralisia cerebral,acidente vascular cerebral (AVC), traumatismo crânio-encefálico (TCE),lesões medulares, amputações, nanismo, alterações posturais, distrofiasmusculares, osteogênese imperfeita, artrogripose, esclerose múltipla,malformações congênitas etc.As deficiências físicas mais comuns entre os alunos participantes doPrograma Segundo Tempo estão destaca<strong>da</strong>s a seguir.Paralisia cerebral (também conheci<strong>da</strong> como PC)A paralisia cerebral consiste em um conjunto de transtornospsicomotores incapacitantes que são permanentes, irreversíveis econstantes ao longo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. É causa<strong>da</strong> por uma lesão de uma ou maisáreas específicas do cérebro, responsáveis pelo controle motor. É umimpedimento não progressivo que pode ter origem antes, durante ou logoapós o nascimento e se manifesta na per<strong>da</strong> ou no comprometimento do128AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec5:128 11/11/2009 10:16:11


QUESTÕES DA DEFICIÊNCIA E AS AÇÕES NO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOcontrole sobre a musculatura voluntária (WINNICK, 2004). Pode estarassocia<strong>da</strong> ou não ao déficit intelectual.Na paralisia cerebral a alteração do movimento está relaciona<strong>da</strong> coma localização <strong>da</strong> lesão no cérebro, e a gravi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s alterações depende <strong>da</strong>extensão <strong>da</strong> lesão.Três tipos de paralisia cerebral se destacam: espástica, atetoide ouatetósica e atáxica.A paralisia cerebral espástica é o tipo mais comum e é causa<strong>da</strong>por uma lesão no córtex cerebral. Caracteriza-se pelo aumento do tônusmuscular (hipertonici<strong>da</strong>de). São comuns as contrações muscularesexagera<strong>da</strong>s e fortes, há contração involuntária dos músculos afetadosquando subitamente distendidos. A movimentação <strong>da</strong>s extremi<strong>da</strong>des éfeita vagarosamente e com muito esforço.Na paralisia cerebral atetósica ou atetoide o tônus musculartende a variar <strong>da</strong> hipertonici<strong>da</strong>de à hipotonici<strong>da</strong>de, isto é, <strong>da</strong> rigidez àflacidez. Caracteriza-se por constantes movimentos involuntários decontorção <strong>da</strong>s extremi<strong>da</strong>des e <strong>da</strong> língua. Contrações faciais, língua emprotrusão e dificul<strong>da</strong>de de controlar a salivação são comuns. A linguagemé quase incompreensível. A manipulação de objetos e os movimentosque requerem precisão também são difíceis. A marcha pode ser adquiri<strong>da</strong>tardiamente.A paralisia cerebral atáxica é diagnostica<strong>da</strong> quando a criança tentaan<strong>da</strong>r. Ao fazer isso, o indivíduo fica extremamente instável, por causa<strong>da</strong> dificul<strong>da</strong>de com o equilíbrio e a coordenação. Caracteriza-se por umtremor involuntário. A marcha tem base alarga<strong>da</strong>, parece desajeita<strong>da</strong>,atrapalha<strong>da</strong> e as pessoas que são capazes de an<strong>da</strong>r, caem com frequência. Onistágmo, movimento constante e involuntário do globo ocular, tambémé comum.Quanto ao grau de gravi<strong>da</strong>de, a paralisia cerebral pode ser:a) Leve: apenas alterações finas de movimento.b) Modera<strong>da</strong>: dificul<strong>da</strong>de variável em relação à fala e aos movimentosgrosseiros, mas as ativi<strong>da</strong>des diárias são realiza<strong>da</strong>s sem maioresproblemas.c) Grave: incapaci<strong>da</strong>de para an<strong>da</strong>r, usar as mãos e falar.AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)129Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec5:129 11/11/2009 10:16:11


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOQuanto à localização e membros afetados (topografia), classifica-seem:a) Monoplegia (apenas um membro é afetado).b) Diplegia (comprometimento maior <strong>da</strong>s pernas e menor nosbraços).c) Hemiplegia (comprometimento completo somente de um ladodo corpo – braço e perna).d) Paraplegia (comprometimento de ambos os membrosinferiores).e) Triplegia (comprometimento de três membros quaisquer,ocorrência rara).f) Quadriplegia (comprometimento total dos quatro membros,podendo também produzir dificul<strong>da</strong>des do movimento dotronco, cabeça e pescoço).Apesar de caracteriza<strong>da</strong> pela disfunção motora, a paralisia cerebral ésempre acompanha<strong>da</strong> por outras desordens <strong>da</strong> função cerebral. Entre elasestão os acometimentos <strong>da</strong> cognição, visão, audição, fala, sensações táteise atenção, bem como distúrbios na função gastrintestinal e crescimento.As desordens de funções corticais mais altas têm impacto importantenas ativi<strong>da</strong>des <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> diária e podem afetar tarefas como se vestir ouapertar botões em uma criança que aparentemente é levemente afeta<strong>da</strong>(CANDIDO, 2004). A epilepsia geralmente está presente.O que é epilepsia?Epilepsia é uma alteração na ativi<strong>da</strong>de elétrica do cérebro, temporária e reversível, queproduz manifestações motoras, sensitivas, sensoriais, psíquicas ou neurovegetativas(disritmia cerebral paroxística).Para saber mais acesse o site <strong>da</strong> Liga Brasileira de Epilepsia: http://www.epilepsia.org.br/epi2002/temas_indice.aspEmbora seja essencial saber di<strong>da</strong>ticamente como se caracterizaa paralisia cerebral, mais importante é considerar as situações que seapresentam e responder às perguntas:130AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec5:130 11/11/2009 10:16:11


QUESTÕES DA DEFICIÊNCIA E AS AÇÕES NO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOComo o aluno se desloca? An<strong>da</strong> de forma autônoma? Em ambientes externosou apenas internos? Com suportes ortopédicos? Quais suportes utiliza: bengala,muletas, an<strong>da</strong>dor? Arrasta-se?Em função dessas e de outras perguntas, poder-se-á há possibili<strong>da</strong>dede acesso ao ambiente onde se desenvolve a ativi<strong>da</strong>de.Sobre as cadeiras de ro<strong>da</strong>s é bom lembrar que costumam desempenharduas funções básicas:a) São o meio de transporte, ou seja, são as próprias pernas e por istoequipamento para livre acesso do aluno.b) São utiliza<strong>da</strong>s como cadeiras/bancos escolares − quanto a isto, épreciso observar se o aluno está bem posicionado para que possamanter a postura adequa<strong>da</strong>, evitando deformi<strong>da</strong>des e contraturas,e, ain<strong>da</strong>, se possibilita sua integração na turma, potencializandosuas possibili<strong>da</strong>des de execução.Outra situação a ser considera<strong>da</strong> é:Como utiliza as mãos? Tem movimentos involuntários? Tem tremores? Podesegurar? Pode soltar? Dirige a mão ao objeto? Manipula? Pode indicar?Em função <strong>da</strong>s características de manipulação verifica-se se oaluno pode utilizar os materiais esportivos ou se haverá necessi<strong>da</strong>de dea<strong>da</strong>ptações.E ain<strong>da</strong>:Como se comunica? Tem linguagem oral? É inteligível? Utiliza-se de algum códigode comunicação gestual? Usa algum suporte técnico para a comunicação?Conforme as possibili<strong>da</strong>des e as competências comunicativas doaluno pode-se estabelecer e propor estratégias de comunicação e/oualgum suporte técnico.AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)131Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec5:131 11/11/2009 10:16:11


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOPARA SABER MAIShttp://www.maxwell.lamb<strong>da</strong>.ele.puc-rio.br/cgi-bin/PRG_0599.EXE/4305_4.PDF?NrOcoSis=9636&CdLinPrg=pthttp://www.maxwell.lamb<strong>da</strong>.ele.puc-rio.br/cgi-bin/PRG_0599.EXE/4305_5.PDF?NrOcoSis=9637&CdLinPrg=ptDistrofia muscularA distrofia muscular engloba um grupo de doenças hereditárias quese caracterizam por uma degeneração progressiva e difusa de vários gruposmusculares. Também conheci<strong>da</strong> por distrofia muscular progressiva, é uma<strong>da</strong>s alterações genéticas mais comuns em todo o mundo. De ca<strong>da</strong> dois milnascidos vivos, um terá algum tipo de distrofia muscular.As mais frequentes são: distrofia muscular de Duchenne, distrofiamuscular de Becker, distrofia muscular <strong>da</strong>s cinturas, distrofia muscularmiotônica (ou de Steinert), e distrofia fáscio-escápulo-humeral (ou deLandouzy-Dejerine). Destacam-se aqui as duas últimas.A distrofia muscular do tipo Duchenne: é a forma mais comum egrave <strong>da</strong> doença, atingindo principalmente meninos (99% dos casos).Manifesta-se entre 3 e 6 anos de i<strong>da</strong>de e os sinais mais frequentes são:dificul<strong>da</strong>de para correr, que<strong>da</strong>s frequentes, dificul<strong>da</strong>de para subir degraus,dificul<strong>da</strong>de de se levantar do chão a partir <strong>da</strong> posição senta<strong>da</strong>. A progressãoconstante e rápi<strong>da</strong> <strong>da</strong> doença em geral leva à incapaci<strong>da</strong>de de an<strong>da</strong>r emaproxima<strong>da</strong>mente 10 anos após o seu surgimento.A distrofia muscular do tipo Becker: é uma forma mais bran<strong>da</strong> e deprogressão mais lenta que afeta somente pessoas do sexo masculino. Ossintomas aparecem geralmente entre 5 e 15 anos de i<strong>da</strong>de, e se destacampela dificul<strong>da</strong>de de levanta-se do chão, subir esca<strong>da</strong>s e correr.Como aju<strong>da</strong>r o aluno com distrofia muscular?a) Motivá-lo na medi<strong>da</strong> de suas possibili<strong>da</strong>des e interesses.b) Manter condutas motoras e introduzir novos aprendizados queserão úteis em seu futuro.132AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec5:132 11/11/2009 10:16:11


QUESTÕES DA DEFICIÊNCIA E AS AÇÕES NO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOc) Estimular ativi<strong>da</strong>des motoras que ajudem a manter ou aumentara amplitude de movimento para impedir a rigidez articular.Ativi<strong>da</strong>des de força e resistência muscular devem ser realiza<strong>da</strong>sa fim de diminuir a atrofia muscular. Exercícios para as mãos,como manipular e apertar objetos de várias formas e tamanhos esão essenciais para manter a habili<strong>da</strong>de de manipulação.d) As ativi<strong>da</strong>des respiratórias são imprescindíveis e podem seraplica<strong>da</strong>s através de jogos e brincadeiras (cantar, gritar, assoprar,apitar, tocar flauta).PARA SABER MAIShttp://www.distrofiamuscular.net/AmputaçõesO termo amputação designa a per<strong>da</strong> de um membro inteiro oude um segmento específico do membro. Podem ser classifica<strong>da</strong>s comoadquiri<strong>da</strong>s ou congênitas. As amputações adquiri<strong>da</strong>s podem resultar dedoença, tumor ou trauma; as congênitas ocorrem quando o feto não sedesenvolve corretamente nos três primeiros meses de gestação e de modogeral a causa é desconheci<strong>da</strong> (WINNICK, 2004; WERNER, 2004). Asamputações podem ser classifica<strong>da</strong>s de acordo com o local e o nível deausência do membro, ou segundo a funcionali<strong>da</strong>de.PARA SABER MAIShttp://www.drauziovarella.com.br/ponto/guedes_amputacoes.aspLesão medularA lesão medular se refere a qualquer tipo de lesão que ocorra noselementos neurais do canal medular. A classificação dependerá do nívelAMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)133Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec5:133 11/11/2009 10:16:11


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOdo acometimento. O termo tetraplegia designa a forma mais grave, na qualos quatro membros são afetados, e paraplegia indica uma condição em quesão afetados principalmente os membros inferiores.O comprometimento motor e/ou a per<strong>da</strong> de sensibili<strong>da</strong>de dependerádo local <strong>da</strong> lesão (quanto à altura na coluna vertebral) e do grau de lesão(se completa ou parcial). Se a medula sofreu rompimento completo, apessoa não tem controle motor nem sensibili<strong>da</strong>de nas partes do corpoinerva<strong>da</strong>s abaixo <strong>da</strong>quele nível. Essa per<strong>da</strong> é permanente. Mas, em muitoscasos, o <strong>da</strong>no à medula espinhal é apenas parcial, tendo como resultadoa retenção de algum controle motor ou sensibili<strong>da</strong>de abaixo do local <strong>da</strong>lesão. Nesse caso, a pessoa pode experimentar o retorno gradual de certocontrole motor e de sensibili<strong>da</strong>de ao longo de vários meses após a lesão.Isso se deve ao alívio <strong>da</strong> pressão exerci<strong>da</strong> sobre os nervos no local <strong>da</strong> lesão,causa<strong>da</strong> pela contusão e/ou inchaço e não a uma possível regeneração dosnervos <strong>da</strong>nificados (WINNICK, 2004; CIDADE; FREITAS, 2005).Deve-se reconhecer que o nível de a<strong>da</strong>ptação e a capaci<strong>da</strong>de que ca<strong>da</strong> aluno tempara li<strong>da</strong>r com a deficiência variam bastante.Alguns cui<strong>da</strong>dos:a) O aluno com lesão medular está suscetível a diversos problemassecundários como as úlceras de pressão (escaras), a disreflexiaautonômica, infecções urinárias, espastici<strong>da</strong>de, contraturas.b) As úlceras de decúbito são comuns e são causa<strong>da</strong>s pela falta deinervação e pelo escasso fluxo sanguíneo. Ocorrem com maisfrequência em pontos de pressão nos quais uma proeminênciaóssea fica próxima à pele (nádegas, pelve e tornozelos). Essas feri<strong>da</strong>sinfeccionam com facili<strong>da</strong>de e cicatrizam lentamente. A prevençãoenvolve inspeção regular dos locais, uso de mais acolchoamento emu<strong>da</strong>nças constantes de posição para aliviar a pressão.Por isso, o professor deve estar atento e auxiliar na prevenção, já que o alunopassa muito tempo sentado entretido em suas ativi<strong>da</strong>des.134AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec5:134 11/11/2009 10:16:11


QUESTÕES DA DEFICIÊNCIA E AS AÇÕES NO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOc) Outra situação em que o professor deve estar atento é a disreflexiaautonômica. A disreflexia ou hiperreflexia autonômica podeocorrer em um aluno que tenha lesão medular alta (T4 - T6 ouacima). Um episódio de disreflexia autonômica pode acontecersúbita e dramaticamente. Uma dor de cabeça em martela<strong>da</strong>s,sudorese e manchas cutâneas acompanham hipertensão e que<strong>da</strong>na frequência cardíaca. A hipertensão pode ser maligna, senão trata<strong>da</strong> pode resultar em per<strong>da</strong> <strong>da</strong> consciência total, crisesconvulsivas, distúrbios visuais, apneia e acidentes vascularescerebrais por hemorragia. Pode ocorrer óbito. As causas maiscomuns <strong>da</strong> disreflexia são: problemas urinários, especialmentebexiga cheia demais, infecciona<strong>da</strong> ou com pedras; dilataçãodo intestino causa<strong>da</strong> por prisão de ventre; escaras ou áreas sobpressão exagera<strong>da</strong>, e até mesmo irritação causa<strong>da</strong> por deitarsesobre um objeto pequeno sem perceber; queimaduras eespasmos uterinos, principalmente antes e nos primeiros dias <strong>da</strong>menstruação ou durante o parto (WERNER, 1994). A disreflexiaé uma emergência médica.Como medi<strong>da</strong> preventiva em suas aulas, o professor que tiver um aluno com lesãomedular, usuário de cadeira de ro<strong>da</strong>s, deve pedir-lhe que faça o esvaziamento <strong>da</strong>bexiga e do intestino principalmente antes <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des físicas (CIDADE, 2007).PARA SABER MAIShttp://www.lesaomedular.com/direita.htmEspinha bífi<strong>da</strong>Pode ser defini<strong>da</strong> como um impedimento ou defeito congênito emque o tubo neural não se fecha completamente durante as quatro primeirassemanas de desenvolvimento fetal. Com isso, a estrutura de uma ou maisAMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)135Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec5:135 11/11/2009 10:16:11


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOvértebras não se desenvolve de forma adequa<strong>da</strong>, deixando uma aberturana coluna vertebral.Há três tipos ou classificações, a seguir descritas, para a espinha bífi<strong>da</strong>:mielomeningocele, meningocele e oculta.A mielomeningocele é a forma mais severa e também a mais comum(80% dos casos de espinha bífi<strong>da</strong>). Acontece quando o revestimento <strong>da</strong>medula espinhal (as meninges), o liquor e parte <strong>da</strong> medula saem pelaabertura mal forma<strong>da</strong> <strong>da</strong> vértebra e formam um saco visível nas costas <strong>da</strong>criança. Acomete com mais frequência nas vértebras lombares, limitandoa deficiência aos membros inferiores e quase sempre per<strong>da</strong> do controledos intestinos e <strong>da</strong> bexiga.A mielomeningocele geralmente está associa<strong>da</strong> à presença dehidrocefalia.O que é hidrocefalia?É o aumento do volume e <strong>da</strong> pressão do líquido cefalorraquidiano. Quando,por algum motivo, não consegue escoar para a corrente sanguínea, o líquidocefalorraquidiano acumula-se e causa um aumento de pressão no interior docérebro. Os ventrículos incham e o tecido cerebral pode vir a sofrer lesões.A hidrocefalia é conheci<strong>da</strong> vulgarmente como “cabeça d’água”.A meningocele é semelhante à mielomeningocele, mas apenas orevestimento <strong>da</strong> medula espinhal e o liquor se projetam para formar osaco. Essa forma raramente tem algum <strong>da</strong>no neurológico associado.A oculta é a forma mais leve e menos comum, na qual há um defeitona vértebra, mas não há projeção de estruturas nem formação do saco.Tanto a meningocele quanto a oculta, se forem detecta<strong>da</strong>s logo apóso nascimento e corrigi<strong>da</strong>s cirurgicamente, não apresentam consequênciasadversas.Vejamos algumas atitudes positivas dos professores espera<strong>da</strong>s para otrabalho com alunos com deficiência física:a) Acolher e valorizar o aluno com ênfase em suas possibili<strong>da</strong>des.b) Acompanhar todo o processo.136AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec5:136 11/11/2009 10:16:11


QUESTÕES DA DEFICIÊNCIA E AS AÇÕES NO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOc) Criar um clima de segurança e confiança para que o alunoexpresse suas vivências, expectativas, preocupações e medos.d) Estar alerta diante de situações de apatia, tristeza e cansaço.e) Estimular a expressivi<strong>da</strong>de corporal e linguística, sobretudo emalunos com acometimentos mais severos.f) Quanto à aprendizagem, ter uma atitude aberta, flexível eincessante na busca <strong>da</strong> melhor forma de comunicação, aplicação<strong>da</strong>s estratégias metodológicas e avaliação.g) Ter flexibili<strong>da</strong>de na organização de horários <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des.h) Observar permanentemente.i) Manter um ritmo de rotinas que ajude os alunos a anteciparsituações e a estruturar temporalmente seu mundo.j) Ter atitude investigadora e aberta, experimentando novosmétodos, materiais ou sugestões.O ambiente de convivência diária é fun<strong>da</strong>mental para crescimento eaprendizagem.É importante a observação de alguns aspectos:• Facilitar o acesso por meio <strong>da</strong> eliminação de barreiras arquitetônicas horizontais(rampas) e verticais (elevadores), a fim de garantir a mobili<strong>da</strong>de dos alunos dentrodo Programa Segundo Tempo.• Providenciar a<strong>da</strong>ptações específicas (muletas, an<strong>da</strong>dores, cadeira de ro<strong>da</strong>s).• Verificar a a<strong>da</strong>ptação em banheiros, assegurando, se possível, um espaço amploe próximo do local <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de e observando as principais adequações, comoredutores e estabilizadores de vaso sanitário e pontos de apoio.• Manejar e familiarizar-se com instrumentos mais específicos como son<strong>da</strong>s,coletores etc.• Promover a facilitação de apoios (dentro e fora <strong>da</strong> turma de referência).• Ter predisposição para buscar estratégias e procedimentos que facilitem a construçãode valores e conhecimentos.• Utilizar recursos pessoais como colegas tutores, voluntários, familiares.AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)137Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec5:137 11/11/2009 10:16:11


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOManejo de cadeira de ro<strong>da</strong>sPara o usuário de cadeira de ro<strong>da</strong>s é necessário que seja ensinadocomo manuseá-la, em primeiro lugar para sua independência na vi<strong>da</strong>cotidiana e, consequentemente, para a prática de ativi<strong>da</strong>des físicas.O manejo de cadeira de ro<strong>da</strong>s passa a ser habili<strong>da</strong>de motora básicapara essas pessoas. Aprendem a locomoção e a estabilização. Estaúltima habili<strong>da</strong>de é importante, pois ela é importante para a pessoapoder descer rampas, transpor pequenos obstáculos, como o meio fio eterrenos acidentados. Essa habili<strong>da</strong>de também favorece o aprendizado<strong>da</strong> <strong>da</strong>nça.Convém, ain<strong>da</strong>, ressaltar alguns aspectos:a) A cadeira deve ser adequa<strong>da</strong> ao tamanho <strong>da</strong> pessoa e àscaracterísticas de sua deficiência. É importante lembrar aqui oque salientamos sobre restrição à participação. A pessoa pode ter ahabili<strong>da</strong>de, mas o equipamento inadequado comprometerá o seudesempenho, colocando-a consequentemente em desvantagem.b) É necessário a pessoa sentar-se adequa<strong>da</strong>mente para ter maioraproveitamento de sua funcionali<strong>da</strong>de. Uma postura inadequa<strong>da</strong>compromete a eficácia do movimento.c) É importante a identificação <strong>da</strong>s partes <strong>da</strong> cadeira e sua utilização:encosto, assento, quadro, pe<strong>da</strong>is, raios protetores, protetores deraios, aro propulsor, pneus, faixas.Após a consideração desses aspectos, inicia-se o ensinamento <strong>da</strong>shabili<strong>da</strong>des básicas para locomoção, incluindo frenagem e giros:a) Posicionamento <strong>da</strong>s mãos e dedos no aro propulsor.b) Movimento de toque de cadeira estacionado – posição do troncoao início e ao final do movimento.c) Deslocamento para a frente e para trás – observando oposicionamento tronco e os movimentos cíclicos dos braços eposicionamento <strong>da</strong>s mãos.d) Frenagem lenta e brusca.e) Giros parados e em movimento.138AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec5:138 11/11/2009 10:16:11


QUESTÕES DA DEFICIÊNCIA E AS AÇÕES NO PROGRAMA SEGUNDO TEMPODeficiência visualDeficiência <strong>da</strong> visão se refere a uma limitação sensorial que anulaou reduz a capaci<strong>da</strong>de de ver, abrangendo vários graus de acui<strong>da</strong>de visuale permitindo várias classificações <strong>da</strong> redução de visão. Assim, quandose adota determina<strong>da</strong> classificação, deve-se ter em mente quais são asfinali<strong>da</strong>des propostas para sua utilização.O aparelho visual compõe-se de quatro partes: retina, vias ópticas,centro visual cortical e centro psíquico.O processo de per<strong>da</strong> <strong>da</strong> visão pode iniciar em qualquer uma delas.Desse modo, a anulação funcional <strong>da</strong> retina acarreta a falta de recepçãosensorial do estímulo luminoso; a interrupção <strong>da</strong>s vias ópticas implica afalta de transmissão <strong>da</strong> recepção retiniana aos centros corticais; a destruiçãoou anulação do centro cortical <strong>da</strong> visão tem como consequência a falta derecepção cerebral; a anulação <strong>da</strong>s conexões <strong>da</strong> esfera visual com os centrospsíquicos impede a identificação psíquica do ato visual.Há um percentual relativamente elevado de casos de cegueiracongênita. Essa pode decorrer tanto de malformações oculares ou cerebraisquanto de certas doenças intrauterinas que afetam o globo ocular do feto,como a toxoplasmose e a sífilis.A rubéola, quando adquiri<strong>da</strong> pela mãe nos três primeiros meses degravidez, também pode provocar a cegueira do feto.Nos casos de cegueira adquiri<strong>da</strong> em decorrência de traumatismo,este pode ser causado por panca<strong>da</strong>s, explosões ou outros acidentes capazesde afetar o aparelho visual.De modo geral, esses problemas são resolvidos com intervençõescirúrgicas. Outra causa é a ingestão de certos medicamentos, comoa quinina, ou a intoxicação causa<strong>da</strong> pelos sais de chumbo. As doençasinfecciosas − lepra, meningite, difteria, escarlatina − e mesmo algumasnão contagiosas, como a diabetes mellitus, podem provocar problemas deretina ou catarata.Nas regiões tropicais, os casos de cegueira são mais numerososque em zonas tempera<strong>da</strong>s porque há maior incidência e diversi<strong>da</strong>de dedoenças infecciosas. Existem ain<strong>da</strong> mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des específicas de cegueiraque afetam o sistema nervoso, como a chama<strong>da</strong> cegueira nervosa, associa<strong>da</strong>às lesões <strong>da</strong>s vias ópticas; a cegueira cortical, provoca<strong>da</strong> pela deterioraçãoAMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)139Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec5:139 11/11/2009 10:16:11


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOdos lóbulos occipitais; e a cegueira psíquica, também denomina<strong>da</strong> agnosiavisual, que se caracteriza pela incapaci<strong>da</strong>de de reconhecer objetos, mesmoquando o aparelho visual se apresenta íntegro.A pessoa pode ser cega ou ter baixa visão.No cego a ausência de visão é total, em ambos os olhos, até a per<strong>da</strong>de projeção de luz. Os deficientes visuais utilizam o sistema Braille comoprincipal veículo de comunicação escrita e de leitura no processo ensino/aprendizagem, não utilizando a visão para apreensão de informações eaquisição de conhecimentos, mesmo que a percepção luminosa os auxiliena locomoção.As pessoas com baixa visão são os deficientes visuais que apresentamdesde condições de indicar projeção luminosa, até o grau em que aredução de sua acui<strong>da</strong>de visual limite o desempenho <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des diárias<strong>da</strong> vi<strong>da</strong>.Os alunos que apresentam essa deficiência podem ser inseridos emdois subgrupos:a) Aqueles que podem ver objetos a poucos centímetros (2 ou 3) eutilizam a visão para muitas ativi<strong>da</strong>des escolares (alguns utilizama visão para ler e escrever, com ou sem auxílios ópticos; outrosprecisam complementar essas ativi<strong>da</strong>des utilizando o sistemaBraille).b)- Aqueles que, embora limitados quanto à sua capaci<strong>da</strong>de visual,utilizam a visão predominantemente no processo ensinoaprendizagem,necessitando muitas vezes de iluminação especialóptica e de outros recursos.Como o aluno com deficiência visual se desloca? An<strong>da</strong> de forma autônoma? Emambientes externos ou apenas internos? Com suportes?A mobili<strong>da</strong>de ou capaci<strong>da</strong>de do movimento depende de doisfatores:, a orientação mental e a locomoção física. Para dirigir-se a umdeterminado lugar, deverá o cego formar um mapa mental enquanto sedesloca para seu objetivo. Sua memória motriz e seu sentido auditivoestarão constantemente em ativi<strong>da</strong>de, procurando captar os sons que140AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec5:140 11/11/2009 10:16:11


QUESTÕES DA DEFICIÊNCIA E AS AÇÕES NO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOpossam informá-lo a respeito <strong>da</strong>s variações encontra<strong>da</strong>s à sua volta e dosperigos que dela derivam.Como atuar com pessoas com deficiência visual?Os profissionais de Educação Física e Esporte, que atuam ouirão atuar com o deficiente visual, deverão ter conhecimento “<strong>da</strong>grande área de educação psicomotora” (CONDE, 1994, p. 88)centra<strong>da</strong>, especificamente, na problemática que envolve a pessoacom deficiência visual. Todo o universo que envolve essa área deveser utilizado. A estimulação essencial, a motrici<strong>da</strong>de, a orientação e amobili<strong>da</strong>de constituem as ativi<strong>da</strong>des que abrangem o desenvolvimentodo deficiente visual. Essas ativi<strong>da</strong>des favorecem o surgimento decondições básicas para um adequado procedimento na aquisição dehabili<strong>da</strong>des básicas, ou seja, an<strong>da</strong>r, correr, saltar, escalar etc., através doconhecimento, controle e domínio do corpo no espaço.A principal alternativa de recepção de informação para os quedeficiência visual é o canal auditivo e, por isso, eles podem encontraralguma dificul<strong>da</strong>de para relacionar essa aprendizagem com o mundo reale a compreensão do meio que os rodeia (BUENO; RESA, 1995).Em geral, na hora de realizar um programa de ativi<strong>da</strong>de física, deveser considera<strong>da</strong>s algumas questões metodológicas (BUENO; RESA,1995; MENESCAL, 2000) quanto à comunicação e às tarefas.Quanto à comunicação é importante que o professor observe oseu posicionamento, tenha clareza e objetivi<strong>da</strong>de nas mensagens,procure o maior nível de descrição possível; adequar a mensagem ài<strong>da</strong>de e ao nível de desenvolvimento do aluno; <strong>da</strong>r instruções curtase concretas.Quanto às tarefas é importante conhecer as capaci<strong>da</strong>des e limitaçõesdos alunos, avaliando suas potenciali<strong>da</strong>des, experiências e níveis dehabili<strong>da</strong>de; começar a aprendizagem pelas tarefas que sejam maismotivadoras; destacar os objetos mediante cores vivas e elevados contrastes;utilizar sinais acústicos que ajudem na orientação e na localização dosobjetos; proporcionar uma prática abun<strong>da</strong>nte; evitar atitudes paternalistasAMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)141Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec5:141 11/11/2009 10:16:11


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOe superprotetoras; contar com a colaboração dos outros alunos, utilizandométodos de ensino cooperativo.Para Conde (1994), alguns cui<strong>da</strong>dos básicos a serem tomados peloprofessor são:a) Verbalizar as ativi<strong>da</strong>des a serem executa<strong>da</strong>s com voz clara etranquila, facilitando a percepção do aluno.b) Demonstrar algum exercício a partir de aju<strong>da</strong> física, possibilitandoao aluno tocar e ser tocado.c) Saber o nome dos alunos além <strong>da</strong> demonstração de interesse, oprofessor assume um papel importante na segurança do aluno.d) Usar dicas específicas ambientais (tais como: muros, odorcaracterístico, textura do solo e <strong>da</strong> parede, posição do sol), queauxiliarão o deficiente visual em sua locomoção e formação demapa mental do ambiente físico.e) Evitar ambientes com muitos estímulos sonoros para as ativi<strong>da</strong>descom o grupo.f) Ao se aproximar ou se afastar de um aluno cego ou de um grupodeles, comunicar a sua chega<strong>da</strong> ou retira<strong>da</strong>.g) Avisar ao aluno sobre qualquer problema em seu vestuário, semmelindre.h) Lembrar-se de que o ser humano tem medo do desconhecido e,por essa razão, novas ativi<strong>da</strong>des devem ser apresenta<strong>da</strong>s semprede forma que o aluno possa realizá-las inicialmente por etapas,possibilitando maior segurança.i) Não demonstrar excesso de proteção com o aluno cego − eleé um ser humano, deve ser tratado com igual<strong>da</strong>de e precisa terliber<strong>da</strong>de.j) Buscar a integração de seus conteúdos com as a<strong>da</strong>ptações que sefizerem necessárias para suas aulas.Importante!142AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec5:142 11/11/2009 10:16:11


QUESTÕES DA DEFICIÊNCIA E AS AÇÕES NO PROGRAMA SEGUNDO TEMPODeve-se reconhecer o nível de orientação e mobili<strong>da</strong>de que ca<strong>da</strong> aluno tem parali<strong>da</strong>r com a deficiência.A noção popular de que os cegos são dotados de audição, tato, pala<strong>da</strong>r eolfato hiperagudos ou de memória fenomenal é equivoca<strong>da</strong>.Seu crescimento efetivo dependerá exclusivamente <strong>da</strong>s oportuni<strong>da</strong>des que lhesforem <strong>da</strong><strong>da</strong>s, <strong>da</strong> forma pela qual a socie<strong>da</strong>de os vê, <strong>da</strong> maneira como eles própriosse aceitam.Interagindo com o meio físico e com as pessoas, a criança cega terá seu crescimentomais facilitado e mais consistente.Deficiência auditivaA audição permite a recepção dos estímulos sonoros. Boa parte doque conhecemos nos chega por via auditiva, proporcionando a informaçãodo meio e orientando para uma atuação independente. To<strong>da</strong> a alteração<strong>da</strong> percepção dos sons, qualquer que seja o grau, é denomina<strong>da</strong> surdez, esurdo é aquele que por ela é atingido (LAFON, 1989).A deficiência auditiva não ocasiona, necessariamente, atrasos nodesenvolvimento motor, ain<strong>da</strong> que alguns autores afirmem que sãofrequentes as dificul<strong>da</strong>des de equilíbrio e coordenação geral, porproblemas vestibulares, neurológicos, privação do som, ausência deverbalização e superproteção dos pais (BUENO; RESA, 1995).O déficit <strong>da</strong> audição é classificado com base no grau de per<strong>da</strong> auditiva,que se verifica segundo a intensi<strong>da</strong>de com que se amplifica o som paraque possa ser percebido. A amplificação do som (intensi<strong>da</strong>de) se mede emdecibéis (dB) (BUENO; RESA, 1995).De acordo com os autores, a per<strong>da</strong> auditiva pode ser classifica<strong>da</strong> em:a) Leve: per<strong>da</strong> auditiva entre 40 e 60 dB - as pessoas percebem a vozreal, porém lhes escapam alguns elementos fonéticos.b) Modera<strong>da</strong>: per<strong>da</strong> auditiva entre 60 e 70 dB - as pessoas ouvemsomente as vozes altas e existem consideráveis dificul<strong>da</strong>des deaudição.AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)143Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec5:143 11/11/2009 10:16:11


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOc) Grave: per<strong>da</strong> auditiva entre 70 e 90 dB - as pessoas não podemouvir a voz, mas percebem sensações auditivas.d) Profun<strong>da</strong>: quando as pessoas têm uma per<strong>da</strong> auditiva acima de90 dB. Uma aplicação pe<strong>da</strong>gógica precoce pode minimizar osproblemas de aquisição e uso <strong>da</strong> linguagem oral.Entendendo a audição:0-20 dB farfalhar <strong>da</strong>s folhas20-40 dB conversação silenciosa40-60 dB conversação normal60-80 dB ruídos médios de fábrica ou trânsito80-100 dB apito de guar<strong>da</strong> e ruído de caminhão100-120 dB ruídos de discoteca e de avião decolandoSegundo Ferreira (1994), de acordo com a localização <strong>da</strong> lesão,a surdez se classifica em condutiva ou neurossensorial. Surdez condutiva selocaliza no ouvido externo e/ou médio e é a per<strong>da</strong> ou diminuição <strong>da</strong>capaci<strong>da</strong>de de conduzir o som até o ouvido interno. Surdez neurossensorialse localiza no ouvido interno e é a per<strong>da</strong> <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong>de de perceber o som.Dependendo do local <strong>da</strong> lesão, poderá ser afetado também o aparelhovestibular, que é responsável pelo equilíbrio.Sobre LibrasEntende-se como Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) a formade comunicação e expressão em que o sistema linguístico de naturezavisual-motora, com estrutura gramatical própria, constitui um sistemalinguístico de transmissão de ideias e fatos, oriundos de comuni<strong>da</strong>des depessoas sur<strong>da</strong>s do Brasil. A Lei nº 10.436/02 reconhece a Libras comomeio legal de comunicação e expressão e outros recursos de expressão aela associados.144AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec5:144 11/11/2009 10:16:11


QUESTÕES DA DEFICIÊNCIA E AS AÇÕES NO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOPara o ingresso de alunos surdos nas escolas comuns, a educaçãobilíngue – Língua Portuguesa/Libras desenvolve o ensino escolar naLíngua Portuguesa e na Língua de Sinais, o ensino <strong>da</strong> Língua Portuguesacomo segun<strong>da</strong> língua na mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de escrita para alunos surdos, os serviçosde tradutor/intérprete de Libras e Língua Portuguesa e o ensino <strong>da</strong> Libraspara os demais alunos <strong>da</strong> escola. O atendimento educacional especializadopara esses alunos é ofertado tanto na mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de oral e escrita quanto nalíngua de sinais.Como atuar com pessoas com deficiência auditiva?Para Bueno e Resa (1995), o planejamento de ativi<strong>da</strong>des parapessoas com deficiência auditiva deve considerar: a posição doprofessor no momento <strong>da</strong>s instruções; a clareza <strong>da</strong>s explicações; autilização de sinais visuais; adequação do número de participantesnas ativi<strong>da</strong>des em grupo (especialmente os exercícios de equilíbrio);a utilização de recursos materiais para enriquecer a aula. Noplanejamento, o professor deve observar o seu envolvimento com oaluno com deficiência auditiva.Ferreira (1994) propõe que se deve considerar as limitações, masenfatizar as capaci<strong>da</strong>des, informando-se sobre a causa e gravi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>lesão e, se for necessário, procurando-se aju<strong>da</strong> <strong>da</strong> família ou de outrosprofissionais envolvidos com o deficiente.O professor deve ter cui<strong>da</strong>do na escolha <strong>da</strong> metodologia bem comodo material utilizado e sua aplicação com diferentes alunos e situações(FERREIRA, 1994; BUENO; RESA, 1995; PEREZ, 1995).Para tanto é importante:a) Analisar os objetivos, sequenciando-os, seguindo uma progressãopara facilitar o progresso do aluno.b) Se for necessário, ensinar a tarefa por partes para que depois oaluno possa realizá-la totalmente.c) Tentar alcançar a máxima individualização do aluno, a maiorparticipação possível e estimular a criativi<strong>da</strong>de.AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)145Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec5:145 11/11/2009 10:16:11


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOd) Utilizar ativi<strong>da</strong>des basea<strong>da</strong>s na resolução de problemas e, emdeterminados momentos, basea<strong>da</strong>s em estilos dirigidos.e) Incentivar a participação, a colaboração e a socialização dosalunos por meio <strong>da</strong> a<strong>da</strong>ptação às regras, <strong>da</strong>s trocas constantes depares e dos exercícios em grandes grupos.É importante destacar que durante ca<strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de, e principalmentequando estiver falando, o professor deve manter-se de frente para o aluno,não mu<strong>da</strong>r constantemente as regras de uma mesma ativi<strong>da</strong>de e procurarutilizar os mais eficientes meios para uma comunicação realmenteeficaz.Bueno e Resa (1995) propõem ativi<strong>da</strong>des com a finali<strong>da</strong>de de orientaro professor em sua prática com alunos com deficiência auditiva, as quaispodem ser aplica<strong>da</strong>s nas ativi<strong>da</strong>des do Programa Segundo Tempo:a) Conhecimento <strong>da</strong>s mãos e dos dedos em seus movimentos.b) Conduções, lançamentos, lançamento/recepção e variações comdiferentes materiais de jogos como cartas de baralho, peteca,pingue-pongue, iô-iô, tênis de campo.c) Coordenação dinâmica geral: marcha e suas variações, corri<strong>da</strong> esuas variações, salto e suas variações.d) Exercícios de equilíbrio e suas variações.e) Controle segmentário dos membros superiores e inferiores:exercícios de contração e descontração, balanceios, rotações,variações de ritmos, intensi<strong>da</strong>de, planos etc..f) Orientação espacial: exercícios de laterali<strong>da</strong>de e organizaçãoespacial.g) Estruturação espaço-temporal: noções de intensi<strong>da</strong>de e tempo.h) Conhecimento do corpo/esquema corporal: envolve amobilização do corpo, controle segmentário e laterali<strong>da</strong>de.Segundo Santos (1995), alguns indicadores para a seleção deativi<strong>da</strong>des com alunos surdos são: conhecimento do corpo, percepçãoespacial, coordenação óculo-motriz, destreza manual, equilíbrio,coordenação dinâmica geral, jogos educativos em ativi<strong>da</strong>des coletivas ejogos desportivos.146AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec5:146 11/11/2009 10:16:11


QUESTÕES DA DEFICIÊNCIA E AS AÇÕES NO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOA <strong>da</strong>nça aparece, também, como uma possibili<strong>da</strong>de para o deficienteauditivo, mesmo que para algumas pessoas seja ilógico pensar nautilização <strong>da</strong> música no trabalho com esse tipo de deficiência.Ferreira (1994) aponta duas correntes básicas que preconizam autilização <strong>da</strong> música e do trabalho corporal com crianças deficientesauditivas. A autora indica que, de maneira geral, a <strong>da</strong>nça promovealguns benefícios para o deficiente auditivo: melhoria <strong>da</strong> resistênciacardiovascular, flexibili<strong>da</strong>de, força muscular geral e localiza<strong>da</strong>,coordenação, equilíbrio, agili<strong>da</strong>de, ritmo, autoestima, autoconfiança,diminuição <strong>da</strong> ansie<strong>da</strong>de, melhoria <strong>da</strong> postura, participação e interaçãosocial.Finalmente, acredita-se que a ativi<strong>da</strong>de física, quando realiza<strong>da</strong>adequa<strong>da</strong>mente, pode promover maior interação entre a pessoacom deficiência auditiva e os colegas ouvintes, o que favorece suacomunicação e sua a<strong>da</strong>ptação social.Deficiência intelectualExistem diferentes definições de deficiência intelectual, porém a maisdivulga<strong>da</strong> é a <strong>da</strong> Associação Americana de Deficiência Mental (AAMR- American Association on Mental Retar<strong>da</strong>tion). Fun<strong>da</strong><strong>da</strong> em 1876, aAAMR é a mais antiga organização do mundo no campo <strong>da</strong> deficiênciaintelectual, hoje denomina<strong>da</strong> Associação Americana de DeficiênciasIntelectual e de Desenvolvimento (AAIDD - American Association onIntellectual and Developmental Disabilities). A deficiência intelectual(comumente conheci<strong>da</strong> como deficiência mental) é um “funcionamentointelectual significativamente abaixo <strong>da</strong> média, coexistindo comlimitações relativas a duas ou mais <strong>da</strong>s seguintes áreas de habili<strong>da</strong>desa<strong>da</strong>ptativas: comunicação, autocui<strong>da</strong>do, habili<strong>da</strong>des sociais, participaçãofamiliar e comunitária, autonomia, saúde e segurança, funcionali<strong>da</strong>deacadêmica, de lazer e trabalho. Manifesta-se antes dos dezoito anos dei<strong>da</strong>de” (AAMR, 1992).Em 1995, o simpósio Intellectual Disability: Programs, Policies, andPlanning for the Future <strong>da</strong> ONU (SASSAKI, 2005) altera o termo deficiênciamental por deficiência intelectual, no sentido de diferenciar maisAMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)147Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec5:147 11/11/2009 10:16:12


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOclaramente a deficiência mental <strong>da</strong> doença mental (quadros psiquiátricosnão necessariamente associados a déficit intelectual). Em 2004, em eventorealizado pela OMS e Organização Pan-Americana <strong>da</strong> Saúde, o termodeficiência é consagrado com o documento “Declaração de Montrealsobre Deficiência Intelectual”.Em 1992 a AAMR desenvolveu uma nova classificação para adeficiência intelectual, fun<strong>da</strong>menta<strong>da</strong> em sistemas de apoio, que sãobasicamente um modelo funcional. Foram apresenta<strong>da</strong>s as seguintesclassificações: intermitente, limitado, extenso e generalizado.Esta nova classificação tem importantes implicações para o sistema deprestação de serviços para essas pessoas: enquanto a primeira classificaçãofaz referência aos elementos diagnósticos do déficit intelectual, a novaclassificação está relaciona<strong>da</strong> com os apoios necessários que dão ênfase àspossibili<strong>da</strong>des de crescimento e potenciali<strong>da</strong>des <strong>da</strong>s pessoas.A nova classificação:a) Centra-se no indivíduo, nas noções de oportuni<strong>da</strong>de eautonomia.b) Permite analisar separa<strong>da</strong>mente to<strong>da</strong>s as áreas com necessi<strong>da</strong>dese, então, providenciar uma intervenção, uma vez reconheci<strong>da</strong>sua interdependência.c) A partir do ponto de vista do indivíduo, permite uma descriçãomais apropria<strong>da</strong> <strong>da</strong>s mu<strong>da</strong>nças necessárias ao longo do tempo,levando em conta as respostas individuais para o desenvolvimentopessoal, para as mu<strong>da</strong>nças ambientais, para as ativi<strong>da</strong>deseducacionais e as intervenções terapêuticas.Essa abor<strong>da</strong>gem centra-se na possibili<strong>da</strong>de que o ambiente socialtem de oferecer os serviços e apoios que aumentarão as oportuni<strong>da</strong>des doindivíduo levar uma vi<strong>da</strong> pessoal satisfatória.Os resultados dos apoios são:a) Incrementação do nível de habili<strong>da</strong>des a<strong>da</strong>ptativas/capaci<strong>da</strong>desfuncionais.b) Fomentação à aquisição dos objetivos de habilitação,relacionados com o bem-estar físico, psicológico e com o bom“funcionamento” <strong>da</strong> pessoa.148AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec5:148 11/11/2009 10:16:12


QUESTÕES DA DEFICIÊNCIA E AS AÇÕES NO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOc) Potencialização <strong>da</strong>s características do meio relaciona<strong>da</strong>s com apresença na comuni<strong>da</strong>de, a escolha, a competência, o respeito ea participação.O atraso no desenvolvimento <strong>da</strong>s pessoas com deficiênciaintelectual pode ocorrer em nível neuromotor, quando então a criançademora em firmar a cabeça, sentar, an<strong>da</strong>r, falar. Pode ain<strong>da</strong> <strong>da</strong>r-se emnível de aprendizado com notável dificul<strong>da</strong>de de compreensão denormas e ordens, dificul<strong>da</strong>de no aprendizado escolar. Mas é precisoque haja vários sinais para que se suspeite de deficiência intelectual, demodo geral, um único aspecto não pode ser considerado indicativo dequalquer deficiência.Algumas síndromes mais comuns aparecem no contexto <strong>da</strong> deficiênciaintelectual, a seguir descritas.Síndrome de RettA Síndrome de Rett causa uma desordem neurológica, basicamenteno sexo feminino, atingindo as funções motoras e intelectuais, que levama distúrbios de comportamento e dependência.PARA SABER MAIShttp://www.marimar.com.br/boletins/sindrome_de_rett.htmSíndrome do X FrágilGene defeituoso no cromossomo X, segun<strong>da</strong> causa mais frequentede DI, a Síndrome do X Frágil provoca transtorno ocular, epilepsia edéficit motor.PARA SABER MAIShttp://www.marimar.com.br/medico/sindrome_fragil.htmAMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)149Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec5:149 11/11/2009 10:16:12


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOSíndrome de TurnerA Síndrome de Turner é uma anomalia cromossômica que afetaaproxima<strong>da</strong>mente 1:2.000 nascimentos com fenótipo feminino. Osestigmas <strong>da</strong> síndrome são baixa estatura, infantilismo sexual, cardiopatiascongênitas e esterili<strong>da</strong>de. Deve ser enfatizado que a maioria <strong>da</strong>s criançascom Síndrome de Turner pode ser saudável, feliz e no futuro essas criançaspodem se tornar membros produtivos <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de.PARA SABER MAIShttp://www.projetodiretrizes.org.br/5_volume/36-Sindr.pdfSíndrome de Prader-WilliA Síndrome de Prader-Willi é uma deficiência que pode afetaras crianças independentemente do sexo, raça ou condição social. Denatureza genética, essa síndrome inclui baixa estatura, déficit intelectual,desenvolvimento sexual incompleto, problemas de comportamentocaracterístico, baixo tônus muscular e uma necessi<strong>da</strong>de involuntária decomer constantemente, com tendência à obesi<strong>da</strong>de.Mesmo estando a Síndrome de Prader-Willi associa<strong>da</strong> a uma anomaliano cromossomo 15 (em 70% dos acometidos), esta ain<strong>da</strong> não pode serconsidera<strong>da</strong> como uma condição absolutamente hereditária. Antes disso, épreferível considerá-la um defeito genético espontâneo que se dá durantealgum momento <strong>da</strong> concepção.Apresenta hipotonia muscular durante to<strong>da</strong> a infância. O diagnóstico<strong>da</strong> síndrome pode ser difícil até os 2 anos de i<strong>da</strong>de, quando então surgema hiperfagia e a obesi<strong>da</strong>de, facilitando o esclarecimento <strong>da</strong> natureza <strong>da</strong>doença. Essas pessoas apresentam problemas de aprendizagem e dificul<strong>da</strong>depara pensamentos e conceitos abstratos. A Síndrome de Prader-Willi éresponsável por cerca de 1% dos casos de deficiência intelectual (BRAY ecolaboradores, 1983; ZELLWEGER; SOYER, 1979).150AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec5:150 11/11/2009 10:16:12


QUESTÕES DA DEFICIÊNCIA E AS AÇÕES NO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOPARA SABER MAIShttp://www.br.geocities.com/prader_willi_br/PageSindrome.htmlSíndrome de Down (SD)A Síndrome de Down (SD) talvez seja a condição mais antiga associa<strong>da</strong>ao retardo mental e a causa genética mais comum de deficiência dodesenvolvimento (HAYES; BATSHAW, 1993; ROGERS; COLEMAN,1994).A criança com SD pode apresentar to<strong>da</strong>s ou somente algumascaracterísticas físicas <strong>da</strong> síndrome. Essa situação também pode serobserva<strong>da</strong> no desenvolvimento mental, nas habili<strong>da</strong>des intelectuais emotoras, pois abrangem larga extensão entre o retardo mental leve e osevero, a inteligência e as habili<strong>da</strong>des próximas do normal (SELIKOWITZ,1992).A SD é um acidente genético que acontece na divisão cromossômica<strong>da</strong>s células. Os estudos de Rynders (1987) e Smith (1989) retratam trêstipos de problemas cromossômicos em crianças com SD, quais sejam:trissomia do cromossomo 21, translocação e mosaicismo.As crianças com SD possuem algumas características físicas típicas<strong>da</strong> própria síndrome. O crescimento físico é mais lento, mas assim comoem crianças sem SD, pode ser determinado por fatores genéticos, étnicos,nutricionais, por função hormonal, pela presença de anomalias congênitasadicionais, por outros fatores de saúde e por certas circunstâncias domeio ambiente (HAYES; BATSHAW, 1993; KERR, 1999; PUESCHEL,1993).Associa<strong>da</strong>s à SD apresentam-se algumas doenças e malformaçõesfísicas que, de alguma forma, retar<strong>da</strong>m o desenvolvimento <strong>da</strong> criança.As complicações mais dramáticas <strong>da</strong> SD são as cardiopatiascongênitas, que atingem de 30 a 40% <strong>da</strong>s crianças (BAYNARD et al.,2004; TSISIMARAS et al., 2003). A criança com SD é mais suscetívelàs infecções respiratórias. Existe uma predisposição aos resfriados derepetição, infecções de ouvido, garganta e pneumonias (BAYARD, et al.,2004).AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)151Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec5:151 11/11/2009 10:16:12


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOA hipotonia, lassidão ligamentar e a hiperflexibili<strong>da</strong>de articular,estão presentes em cerca de 90% <strong>da</strong>s crianças com SD e, provavelmente,são as causas maiores dos problemas ortopédicos. A hipotonia está maisfrequentemente presente ao nascer e nos primeiros anos de vi<strong>da</strong>, mas tendea permanecer por muito tempo. Pode haver uma tendência de melhora dotônus, à medi<strong>da</strong> que aumenta a aptidão física (GOULOPOULOU et al.,2006; BUENO; RESA, 1995).Cerca de 14% <strong>da</strong>s crianças com SD são acometi<strong>da</strong>s por instabili<strong>da</strong>deatlanto-axial, representa<strong>da</strong> por uma mobili<strong>da</strong>de maior que a normal <strong>da</strong>sduas vértebras cervicais superiores (C1 e C2 ) na base do crânio, queexpõe as crianças a sérios riscos de lesão de medula, caso ocorra umaflexão (ou extensão) força<strong>da</strong> no pescoço (HAYES; BATSHAW, 1993;NAHAS, 1990).Outros problemas que preocupam a vi<strong>da</strong> de crianças com SD são osauditivos, de tireóide, gastrointestinais e leucemia (PUESCHEL, 1993).PARA SABER MAIShttp://www.entreamigos.com.br/No momento <strong>da</strong> prática <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de física, o deficiente intelectualencontrará dificul<strong>da</strong>de em relação à execução <strong>da</strong> ação motora devido àineficiência no processamento de informação (SANCHEZ, 1989). Osdeficientes mentais têm dificul<strong>da</strong>de para manter a atenção, antecipar eselecionar estímulos ou respostas. A capaci<strong>da</strong>de de canalizar e processarinformação é mais lenta e limita<strong>da</strong> no deficiente intelectual que napessoa comum, tendo mais dificul<strong>da</strong>de para reconhecer os estímulosrelevantes <strong>da</strong> tarefa proposta para o aprendizado (BUENO; RESA, 1995;PEDRINELLI, 1994; PEREZ, 1991; CIDADE, 1998).COMO ATUAR COM AS PESSOAS COMDEFICIENCIA INTELECTUAL?a) As ativi<strong>da</strong>des devem ser cui<strong>da</strong>dosamente seleciona<strong>da</strong>s, de acordocom o nível de desenvolvimento geral dos alunos, considerandoo princípio <strong>da</strong> individualização.152AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec5:152 11/11/2009 10:16:12


QUESTÕES DA DEFICIÊNCIA E AS AÇÕES NO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOb) Usar de maior criativi<strong>da</strong>de, propondo ativi<strong>da</strong>des interessantesque chamem a atenção dos educandos.c) Quando necessário, fazer a<strong>da</strong>ptações nos jogos, principalmentequanto ao tempo e regras.d) Não subestimar a capaci<strong>da</strong>de dos alunos.e) Evitar situações frustrantes.f) Quando a ativi<strong>da</strong>de apresentar certa complexi<strong>da</strong>de, procurardesenvolvê-la lentamente e por partes.g) Evitar instruções longas do tipo verbal, <strong>da</strong>ndo orientações clarase breves.h) Quando necessário, utilizar demonstrações (ROSADAS, 1989;PEDRINELLI, 1994; CIDADE, 1998).PROCEDIMENTOS PEDAGÓGICOS PARA ODESENVOLVIMENTO DAS ATIVIDADESCOM DEFICIENTESO professor deve ter atitudes abertas e flexíveis no trabalho diário com os seusalunos, inclusive com os que possuem alguma deficiência.Algumas orientações gerais para a inclusão de alunos comdeficiências nas ativi<strong>da</strong>des esportivas sugerem procedimentos, taiscomo:a) Agir naturalmente. Receba todos com o mesmo nível deatenção e consideração. Perguntas vão surgir. Respon<strong>da</strong>naturalmente.b) Atenção e prestígio é muito bom. TODOS gostam! Nãosuperproteja, nem dê excesso de atenção para alguns, pois estestalvez não irão gostar e os demais irão reclamar.AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)153Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec5:153 11/11/2009 10:16:12


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOc) Garantir a participação de todos (individualmente ou em grupo),desafiando ca<strong>da</strong> um a realizar o melhor considerando as suaspotenciali<strong>da</strong>des.d) Realizar a<strong>da</strong>ptações compartilhando opiniões. Regrassempre podem ser combina<strong>da</strong>s e recombina<strong>da</strong>s, inventa<strong>da</strong>se reinventa<strong>da</strong>s. Jogos cooperativos são uma excelenteopção.e) Promover e adequar desafios, incentivando e aju<strong>da</strong>ndo a superardificul<strong>da</strong>des.f) Não subestimar. Aceitar formas diferentes de execução demovimentos.g) Promover sucesso para desenvolver a autoestima. Oferecer aoportuni<strong>da</strong>de de pensar, decidir, agir por seus próprios meios.Garantir autonomia.h) Avaliar a aptidão física relaciona<strong>da</strong> à saúde e ao desempenhomotor.i) Estimular a prática esportiva competitiva, sem preconceitos oumedos.O que as pessoas com deficiência não precisam é de professores bonzinhos.Você conhece o amigo tutor?O amigo tutor é um colega <strong>da</strong> turma que vai auxiliar o aluno comdeficiência em suas ativi<strong>da</strong>des ou mesmo nos deslocamentos pelonúcleo.A apresentação <strong>da</strong> criança para o amigo tutor e vice-versa criaum vínculo imediato de amizade e de responsabili<strong>da</strong>de mútua.Orientação e aprendizagem cooperativa é um ótimo exercício paraambos. Ao encaminhar o aluno com deficiência na tarefa, o amigo154AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec5:154 11/11/2009 10:16:12


QUESTÕES DA DEFICIÊNCIA E AS AÇÕES NO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOtutor experimenta as limitações e possibili<strong>da</strong>des do outro (WINNICK,2004, COLL; PALÁCIOS, 1995, CIDADE, 2007). O amigo tutor deveser revezado com todos os integrantes <strong>da</strong> turma.CONSIDERAÇÕES FINAISTorna-se necessário o reconhecimento <strong>da</strong>s capaci<strong>da</strong>des e do potencial<strong>da</strong>s crianças com deficiência na preparação para uma vi<strong>da</strong> satisfatória.Se o objetivo do Programa Segundo Tempo for o de proporcionar acrianças e jovens com deficiência um estilo de vi<strong>da</strong> ativo, com a participaçãoque sua capaci<strong>da</strong>de lhes permita, deve-se começar essa educação com aintegração <strong>da</strong> família e <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de. É importante estimulá-las para oconhecimento do Programa, com a perspectiva de suas necessi<strong>da</strong>des e doambiente à sua volta. É necessário reconhecer as limitações e o potencialdessas pessoas para se poder preparar sua inclusão no Programa SegundoTempo e na comuni<strong>da</strong>de.Analisando-se alguns programas educativos ou esportivos oferecidosno decorrer <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> dessas crianças, observa-se que tais programas sãoinaceitáveis por várias razões: processos educativos e afins estão dirigidosbasicamente para o deficiente (sem inclusão); são ensina<strong>da</strong>s habili<strong>da</strong>des nãofuncionais; dá-se ênfase a habili<strong>da</strong>des não adequa<strong>da</strong>s à i<strong>da</strong>de cronológica;ensina-se com normas e métodos de correção, pouco representativos paraa realização <strong>da</strong>s tarefas diárias.Entretanto, se reformulados, esses programas acompanhariama pessoa com deficiência <strong>da</strong> infância até a velhice. A utilização de ummesmo repertório de habili<strong>da</strong>des motoras culturalmente normaispermitiria uma participação de forma confiante nas ativi<strong>da</strong>des esportivasou de manutenção. Para aquelas que possuem limitações mais severas,devem-se buscar ativi<strong>da</strong>des com sua participação na recreação, em que asdeman<strong>da</strong>s sociais e verbais não são excessivas.O Programa Segundo Tempo aponta na busca de desafios, permitindoa participação de todos sem distinção, respeitando suas limitações,promovendo autonomia e enfatizando o potencial de ca<strong>da</strong> um enquantopessoa.AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)155Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec5:155 11/11/2009 10:16:12


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOO processo de inclusão caminha ain<strong>da</strong> com certa dificul<strong>da</strong>de. To<strong>da</strong>via,observa-se que a socie<strong>da</strong>de por meio <strong>da</strong> informação e <strong>da</strong> convivência comos deficientes passou a encará-los não mais apenas como incapazes. Essaatitude se reflete em todos os ambientes educativos, nos quais o professordeve rever quais são suas crenças, convicções, valores e preconceitos. Apostura pessoal do professor é significativa, para que adquira atitudespositivas e busque a capacitação profissional necessária para atuar comoagente de inclusão.Na atuali<strong>da</strong>de, atingir uma melhor quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong> tem sido oobjetivo maior dos programas de promoção <strong>da</strong> saúde.A oportuni<strong>da</strong>de de participar do Programa Segundo Tempo deverámodificar o estilo de vi<strong>da</strong> de crianças, adolescentes e jovens com deficiênciaenvolvidos nas ativi<strong>da</strong>des.Com tal mu<strong>da</strong>nça, o futuro desses alunos poderá se apresentar deforma mais positiva com possibili<strong>da</strong>des de realizações.REFERÊNCIASAAIDD - American Association on Intellectual and Developmental Disabilities.Disponível em: . Acesso em: 20 jan 2009.AAMR - American Association on Mental Retar<strong>da</strong>tion. Mental retar<strong>da</strong>tion:definition, classification, and systems of support. Washington, DC, USA: AAMR.1992.AMARAL, L. A. Pensar a diferença/deficiência. Brasília: CoordenadoriaNacional para Integração <strong>da</strong> Pessoa Portadora de Deficiência, 1994.BAYNARD, T.; PITETTI, K. H.; GUERRA, M.; FERNHALL, B. Heart ratevariability at rest and during exercise in persons with Down syndrome. ArchPhys Med Rehabil, v. 85, n. 8, p. 1285-1290, Ago. 2004.BRAY C. A. e colaboradores. The Prade Willi syndrome a study of 40 pacientsand a review of the literature. Medicine v. 62, 1983.BUENO, S. T.; RESA, J. A. Z. Educacion física para niños y niñas comnecesi<strong>da</strong>des educativas especiales. Grana<strong>da</strong>: Ediciones Aljibe, 1995.156AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec5:156 11/11/2009 10:16:12


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FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOHAYES, A.; BATSHAW, M. L. Sindrome de Down. In: BATSHAW, M. Clínicaspediátricas <strong>da</strong> América do Norte. Rio de Janeiro: Interlivros, 1993.HALLAHAN, D. P.; KAUFFMAN, J. M. (Eds.). Exceptional learness:introduction to special educatinon. Boston: Allyn and Bacon, 2003. p. 39-77.KERR, D. Síndrome de down y demencia: guia práctica. Barcelona: Digital,1999.LAFON, J. C. A deficiência auditiva na criança. São Paulo: Manole, 1989.MENESCAL, A. A criança portadora de deficiência visualisando seu corpo edescobrindo o mundo. In: SESI-DN: Lazer, ativi<strong>da</strong>des física e esportivapara portadores de deficiência. Brasília: SESI-DN, 2001.NAHAS, M. A síndrome de down e a prática esportiva: implicações <strong>da</strong> instabili<strong>da</strong>deatlanto-axial. Revista Brasileira de Ciência e Movimento, v. 4, n. 4, p. 89-90,1990.OMS - ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE. CID –10, Traduçãodo Centro Colaborador <strong>da</strong> OMS para a Classificação de Doenças emPortuguês. 9 ed. Rev –São Paulo: EDUSP, 2003.OMS. Declaração de Montreal sobre Deficiência Intelectual. Montreal,Canadá, 4-6 outubro 2004.ONU. Report of the Ad Hoc Committee on a Comprehensive andIntegral International Convention on the Protection and Promotionof the Rights and Dignity of Persons with Disabilities New York. SixthSession. 2005. Disponível em: . Acesso em: 20 jan 2009.PEDRINELLI, V. J. Educação Física A<strong>da</strong>pta<strong>da</strong>: Conceituação e Terminologia.In: CIDADE, R. F. Educação física e desporto para pessoas portadoras dedeficiência. Brasília: MEC-SEDES, SESI-DN, 1994.PEREZ, L. M. R. Activi<strong>da</strong>des fisicas y deficiencia mental: <strong>da</strong>tos deinvestigación com implicaciones para la prática. Fisis, Madrid, v. 1, n.1, p. 91-111, 1991._____. Competencia motriz: elementos para comprender el aprendizaje motoren educación física escolar. Madrid: Gymnnos, 1995.PUESCHEL S. Síndrome de down: guia para pais e educadores. São Paulo:Papirus, 1993.ROGERS, P. T.; COLEMAN, M. Atencion médica en el sindrome dedown: un planteamento de medicina preventiva. Barcelona: Fun<strong>da</strong>ció CatalanaSíndrome Down, 1993.158AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec5:158 11/11/2009 10:16:12


QUESTÕES DA DEFICIÊNCIA E AS AÇÕES NO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOSANTOS, C. R. V. Aprendendo sobre deficiência auditiva. In: Curso deativi<strong>da</strong>de física e desportiva para pessoas portadoras de deficiência: educação àdistância, Rio de Janeiro. Anais, v. 5, ABT/UGF, 1995.SASSAKI, R.K. Atualizações semânticas na inclusão de pessoas: Deficiênciamental ou intelectual? Doença ou transtorno mental? Revista Nacional deReabilitação, ano IX, n. 43, mar./abr. p.9-10. 2005.SELIKOWITZ, M. Sindrome de down. Madrid: Instituto Nacional de ServiciosSociales, 1992.SMITH, D. Síndrome de mal formações congênitas. São Paulo: EditoraManole, 1989.TSIMARAS, V.; GIAGAZOGLOU, P.; FOTIADOU, E.; CHRISTOULAS, K.;ANGELOPOULOU, N. Jog-walk training in cardiorespiratory fitness of adultswith Down syndrome. Percept Mot Skills, v. 96, n. 2, p. 1239-51, jun. 2003.UNICEF/BRASIL. A deficiência infantil: sua Prevenção e Reabilitação.Relatório <strong>da</strong> Reabilitação Internacional à Junta Executiva do UNICEF. Brasília,1980.WERNER, D. Guia de deficiências e reabilitação simplifica<strong>da</strong>. Brasília:CORDE, 1994.WINNICK, J. P. Educação física e esportes a<strong>da</strong>ptados. São Paulo: Manole,2004.WHO. Strengthening mental health promotion. Geneva: World HealthOrganization (Fact sheet, n. 220), 2001.ZELLWEGER, H.; SOYER, R.T. The Prader-Willi syndrome. Med. Hygiene,v.37, p. 3338.1979.AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)159Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec5:159 11/11/2009 10:16:12


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOQuadro Síntese:O Programa Segundo Tempo deve constituir-se como um contextoprivilegiado de intervenção, para que a ativi<strong>da</strong>de esportiva desempenheas funções de prevenir a inativi<strong>da</strong>de física dessa população e a promoção<strong>da</strong> inclusão.A ideia atual é não perceber a pessoa em razão <strong>da</strong> sua deficiência,mas sim estimulá-la para que possa desenvolver-se na medi<strong>da</strong> de suascapaci<strong>da</strong>des no ambiente em que vive.A qualificação profissional é um passo fun<strong>da</strong>mental no atendimento<strong>da</strong>s crianças e jovens com deficiência. Além disso, torna-se necessáriocapacitar os professores para atender adequa<strong>da</strong>mente às suasexpectativas e preparar os outros alunos para interagirem com oscolegas deficientes.O maior desafio para os profissionais do Programa Segundo Tempo éfacilitar o envolvimento de to<strong>da</strong>s as pessoas, incluindo as que apresentamalguma deficiência, em ativi<strong>da</strong>des que promovam a inclusão de todos.Na maior parte do mundo, muitas causas <strong>da</strong> deficiência estão liga<strong>da</strong>sà pobreza, onde as principais são: desnutrição; ocorrências anormaisnos períodos pré-natais, peri-natais e pós-natais; doenças infecciosas;acidentes; e outros fatores, inclusive poluição ambiental e impedimentosde origem desconheci<strong>da</strong>.Os movimentos mundiais de pessoas com deficiência determinaramque essas querem ser chama<strong>da</strong>s de “pessoas com deficiência”. Não seutiliza mais o termo “portador”.Os tipos de deficiência são: deficiência múltipla; deficiência física;deficiência visual; deficiência intelectual (ou mental) e deficiênciaauditiva.O professor deve ter atitudes abertas e flexíveis no trabalho diário comos seus alunos, inclusive com os que possuem alguma deficiência.O <strong>PST</strong> aponta na busca de desafios, permitindo a participação de todossem distinção, respeitando suas limitações, promovendo autonomia eenfatizando o potencial de ca<strong>da</strong> um enquanto pessoa.160AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec5:160 11/11/2009 10:16:12


QUESTÕES DA DEFICIÊNCIA E AS AÇÕES NO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOQuestões Centrais para Reflexão:1 – É possível acolher e atender crianças e adolescentes com algum tipo dedeficiência nos núcleos do Programa Segundo Tempo?2 – Quais os procedimentos para criar e aplicar ativi<strong>da</strong>des esportivas paratodos os participantes de um núcleo, sejam eles deficientes ou não?Como seria a participação dos alunos de forma integra<strong>da</strong>?3 – O uso do amigo tutor é uma estratégia saudável e viável?4 – Como você vê sua participação nesse processo inclusivo?Onde Saber Mais:Abaixo estão descritos sites específicos que tratam de deficiências.Você pode navegar por eles e, em ca<strong>da</strong> um, acessar o ícone “LINKS”, queabrirá outras páginas na internet sobre o assunto.Nacionaiswww.mec.gov.br/seespwww.cpb.org.brwww.entreamigos.com.brwww.saci.org.brwww.cedipod.org.brwww.sobama.org.brwww.abradecar.org.brwww.cbdc.org.brInternacionaiswww.down21.orgwww.fcsd.orgwww.ds-health.comAMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)161Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec5:161 11/11/2009 10:16:12


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ORGANIZAÇÃO EDESENVOLVIMENTOPEDAGÓGICO DO ESPORTE NOPROGRAMA SEGUNDO TEMPOPablo Juan Greco 1Siomara A. Silva 2Lucídio Rocha Santos 3INTRODUÇÃOTodo processo de ensino-aprendizagem é constituído <strong>da</strong>srelações que se estabelecem entre professor-aluno no ato de educar.Portanto, quando se ensina o esporte também se ensina pelo esporte.Isto é, no esporte, duas perspectivas pe<strong>da</strong>gógicas complementam-seentre si:a) ensinar o esporte – como proceder ao ensinar os esportes,qual a abor<strong>da</strong>gem metodológica para se ensinar o esporte propriamentedito e, paralelamente, quando se ensina esporte, ensinar mais do queesporte.b) ensinar pelo esporte – o esporte como meio para desenvolvimentode competências, comportamentos, atitudes, valores.Quando se ensinam esportes, ensina-se também pelo esporte.O processo pe<strong>da</strong>gógico se constitui em uma aveni<strong>da</strong> de mão dupla,na qual ensinando pelo esporte se relaciona o conhecimento doesporte de forma crítica e reflexiva com os aspectos inerentesao desenvolvimento <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia. A construção <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia só é1 Professor Associado <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Federal de Minas Gerais (UFMG).2 Professora Assistente <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Federal de Ouro Preto (UFOP).3 Professor Adjunto <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>da</strong> Amazônia (UFAM).Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec6:163 11/11/2009 10:16:12


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOpossível à medi<strong>da</strong> que o professor relaciona, em sua práxis, ambas asformas de abor<strong>da</strong>gem.Neste capítulo será enfoca<strong>da</strong> a primeira perspectiva, a do ensinodo esporte. Serão enfatizados os aspectos relacionados com “o queensinar”, “quando ensinar” e “como ensinar” (metodologia do ensino)o esporte. Descrevem-se quais os processos metodológicos planejadospara ensinar o esporte, sem perder de vista que, paralelamente, a açãope<strong>da</strong>gógica objetiva ensinar mais que esporte, ao ensinar o esporteensinar pelo esporte (o ensino pelo esporte está mais bem detalhadoem “Procedimentos Metodológicos para o Programa Segundo Tempo– <strong>PST</strong>”).O ensino dos esportes no Programa Segundo Tempo apoiasena concepção pe<strong>da</strong>gógica que valoriza um processo de ensinoaprendizagem<strong>da</strong> iniciação esportiva, no qual é enfatiza<strong>da</strong> aimportância <strong>da</strong> ação de jogar, os jogos e as brincadeiras de rua, ojogar para aprender e o aprender jogando.A proposta parte dos resultados de várias pesquisas (GRECO,1998; ROTH, 1998; ROTH; RAAB; GRECO, 2000; GRECO,2002; ROTH; KRÖGER; MEMMERT, 2002; GRECO; ROTH;SCHÖRER, 2004; GRECO; SILVA, 2008) que permitem, hoje,planejar um processo contínuo de ensino <strong>da</strong> iniciação dos esportes.No processo de ensino, torna-se impreterível organizar os parâmetrosconstitutivos dos esportes (táctica, técnica) em uma sequênciacaracteriza<strong>da</strong> pela aprendizagem incidental (jogar para aprender) àaprendizagem intencional (aprender jogando), que será detalha<strong>da</strong>mais adiante.O processo de ensino-aprendizagem começa com o jogo, jogarpara aprender. Nessa concepção pe<strong>da</strong>gógica pode ser realizadoum paralelo com a aprendizagem <strong>da</strong> fala. “Nesse contexto a falacorresponde ao aprendizado incidental e intuitivo que as pessoasadquirem pelo convívio com a língua e com outros falantes. Pode-seinterpretar que <strong>da</strong> mesma forma o jogador aprende a jogar jogando.As habili<strong>da</strong>des linguísticas que exigem uma dimensão técnicaespecífica, como o ler e escrever, não são desenvolvi<strong>da</strong>s a partir <strong>da</strong> fala,assim como apenas uma parte <strong>da</strong>s habili<strong>da</strong>des corporais específicasrelaciona<strong>da</strong>s aos jogos esportivos coletivos pode ser aprimora<strong>da</strong> pormeio exclusivamente <strong>da</strong> prática. Por mais que as pessoas exercitem164AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec6:164 11/11/2009 10:16:12


ORGANIZAÇÃO E DESENVOLVIMENTO PEDAGÓGICO DO ESPORTE NO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOa fluência verbal, isso em na<strong>da</strong> contribui para que apren<strong>da</strong>m aler e escrever melhor, enquanto a recíproca já é considera<strong>da</strong> algoviável, pois bons escritores ou leitores geralmente conseguem serverbalmente bem articulados, como também se aceita que os quese dedicam à leitura ampliam as quali<strong>da</strong>des <strong>da</strong> escrita e <strong>da</strong> fala. Olimite <strong>da</strong> contribuição pe<strong>da</strong>gógica <strong>da</strong> fala para o desenvolvimento<strong>da</strong>s habili<strong>da</strong>des linguísticas pode ser comparado com as restrições<strong>da</strong> prática para o desenvolvimento <strong>da</strong>s habili<strong>da</strong>des técnicas e táticasaplica<strong>da</strong>s aos jogos esportivos coletivos. A capaci<strong>da</strong>de de aprendersimplesmente jogando é algo limitado, pelo menos para a maioria <strong>da</strong>spessoas. Podem, na ver<strong>da</strong>de, existir pessoas talentosas que aprendema jogar de forma autônoma, mas essa não é a regra 4 .Portanto, é necessário um processo de aprendizagem tática paraque o principiante apren<strong>da</strong> a “ler” o jogo, tenha “leitura” do jogo,o que vai facilitar sua compreensão e sua orientação tática no jogo.Mas para jogar é necessário concomitantemente que o principiantedesenvolva sua capaci<strong>da</strong>de de “escrever” o jogo, ou seja, de saber fazer.Torna-se necessário organizar o processo de aprendizagem motoradesse aluno. Deve-se, nesse momento, alertar sobre os perigos deuma iniciação no esporte aplicando-se o método analítico, pois estepode levar a uma especialização precoce, conduzir as crianças a umalimitação <strong>da</strong> sua criativi<strong>da</strong>de e à formação de estereótipos motores.Nesse sentido, advoga-se “jogar para aprender e aprenderjogando”. A seguir, inicia-se o processo de ensino do esporte a partirde um jogo. Para tanto, resgatou-se um jogo popular que muitascrianças jogam na rua, na escola, no tempo livre – O Jogo <strong>da</strong> Velha.Na sua construção e variações estão destacados os elementos <strong>da</strong>aprendizagem tática e motora (ver Quadro 1 e Figura 1).4 Esta metáfora muito interessante foi sugeri<strong>da</strong> no segundo encontro de capacitadores do ProgramaSegundo Tempo em Campinas, pelo prof. Dr. Alexandre Luiz G. de Rezende <strong>da</strong> Equipe Colaboradora7, que atende a região Centro-Oeste (DF, TO e PI) e a quem agradecemos a contribuição.AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)165Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec6:165 11/11/2009 10:16:12


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPONome:Objetivo:Jogo <strong>da</strong> Velha (na forma de um jogo de estafeta, ou de relevos)Desenvolver a capaci<strong>da</strong>de de percepção e toma<strong>da</strong> de decisãoFaixainicial:etáriaA partir dos 6 anos de i<strong>da</strong>deMaterial:Descrição:VariaçãoNove arcos, bolas de basquete e de vôleiDuas equipes, uma com 5 bolas de basquete e a outra com 5 bolas devoleibol.Ao sinal, o 1º aluno (de ca<strong>da</strong> coluna) vai até os arcos, transportando umabola, coloca-a em um dos arcos distribuídos no chão na forma do Jogo<strong>da</strong> Velha, volta à sua coluna, toca a mão do colega para que este saia coma bola até os arcos. Ganha a equipe que fechar uma coluna com o Jogo<strong>da</strong> Velha primeiro ou que consiga colocar 5 bolas nos arcos.Mesma formação e distribuição do material e <strong>da</strong>s equipes, porém, nojogo, o 1º aluno, ao sinal do professor, vai até os arcos com a bola e acoloca dentro do arco. Ao voltar para sua coluna, pega a mão do colega,formando uma corrente; na volta, pegam o terceiro e, na próxima voltapegam o quarto. Os dois primeiros ficam na coluna, e assim por diante.O último que entrar na corrente é quem colocará a bola no arco.Quadro 1: Jogo <strong>da</strong> Velha.Figura 1: Jogo <strong>da</strong> Velha.166AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec6:166 11/11/2009 10:16:12


ORGANIZAÇÃO E DESENVOLVIMENTO PEDAGÓGICO DO ESPORTE NO PROGRAMA SEGUNDO TEMPONesse jogo de estafeta, procura-se desenvolver a inteligência tática,aspecto que é solicitado no momento de decidir quando colocar a bola,onde colocá-la, como construir o caminho para os colegas, ou seja,desenvolver o conceito de colaboração, atenção, pensamento, percepção,toma<strong>da</strong> de decisão. Em contraparti<strong>da</strong>, ao escolher como evitar que oadversário organize seu jogo (conceito de oposição), encontra-se umasituação de perceber o jogo (leitura do jogo) em situação de pressão detempo e toma<strong>da</strong> de decisão para executar uma ação motora. Aqui nãoé necessária nenhuma técnica de movimentos específica, como umlançamento em suspensão do handebol, ou uma corta<strong>da</strong> no voleibol, mas,sim, processos de percepção, antecipação, toma<strong>da</strong> de decisão que fazemparte do esporte e do nosso cotidiano.Destaca-se que esses aspectos precisam ser salientados pelos professores para queos participantes consigam enxergá-los em sua essência no esporte e para alémdele.Uma preocupação nos jogos de estafeta é manter os participantesque estão na coluna envolvidos no jogo, e não apenas parados esperandochegar a sua vez, ocupando-se com outros pensamentos e/ou ações quenão estejam vincula<strong>da</strong>s às ações estimula<strong>da</strong>s pelo jogo. Portanto, umaalternativa didática consiste em oferecer a esse grupo tarefas extras.O jogo deve ter tarefas duplas, para distribuir a atenção e dissociarsegmentos corporais (necessário à coordenação e à técnica esportiva, ouseja, aprendizagem motora). Assim, pode-se colocar uma segun<strong>da</strong> bolaque deve ser passa<strong>da</strong> entre as pernas dos integrantes <strong>da</strong> coluna, e o últimoa transporta à frente, iniciando-se novamente a passagem, porém sem seesquecer <strong>da</strong> participação no Jogo <strong>da</strong> Velha. Aparentemente temos doisjogos em um só: o revezamento <strong>da</strong> bola na coluna e o transporte <strong>da</strong> bolapara o Jogo <strong>da</strong> Velha.Com o primeiro jogo, pode ser compreendido o processometodológico sugerido no marco do Programa Segundo Tempo: jogarpara aprender, aprender jogando. Portanto, é importante iniciar a aulacom jogos e brincadeiras, conjuntamente ao processo de aprendizagemtática, e completar a aula com os conteúdos inerentes ao processo deaprendizagem motora.AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)167Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec6:167 11/11/2009 10:16:13


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPODestaca-se que o jogo por si só, a série de jogos, de muitas brincadeiras, jogar porjogar, não provocam inexoravelmente uma adequa<strong>da</strong> aprendizagem. É necessárioobservar que para a prática do esporte solicitam-se diferentes capaci<strong>da</strong>des (táticas –técnicas – motoras - psicológicas), que se concretizam nas habili<strong>da</strong>des, nas técnicas,e que indicam o nível de aprendizagem motora do praticante.Para compreender a complexi<strong>da</strong>de do processo de ensinoaprendizagemdo fenômeno esporte (pelas interações dos processoscognitivos, <strong>da</strong>s habili<strong>da</strong>des, <strong>da</strong> tática, dos aspectos de interação social,de comportamentos, atitudes, valores), faz-se necessário aceitar que oiniciante necessita alcançar um nível mínimo de compreensão <strong>da</strong> lógicado jogo que se quer ensinar. Inexperiente, o aluno não tem uma claracompreensão <strong>da</strong> dinâmica do jogo, o que compromete sobremaneira suaefetiva participação.O processo de compreensão do jogo e <strong>da</strong> sua dinâmica dedesenvolvimento vai requerer a estruturação de um esquema mental quelhe possibilite entender como o jogo se processa em termos de objetivos,de mecanismos de organização e de possibili<strong>da</strong>des de ação na busca<strong>da</strong> conquista destes objetivos. Isto é, o iniciante, ao querer entender ojogo, se pergunta-se: Qual o objetivo deste jogo? O que faço para jogar?Como posso fazer melhor? Esse exercício cognitivo expressa bem ocaráter estratégico que caracteriza os jogos desportivos já que manifestaa necessi<strong>da</strong>de básica <strong>da</strong> construção de um plano mental que garanta aplena participação e o sucesso no decorrer do jogo. Logo, este é o quadroque deve servir como ponto de parti<strong>da</strong> para o professor estruturarpe<strong>da</strong>gogicamente sua proposta de ensino do esporte. Isto é, o professordeve organizar, de forma adequa<strong>da</strong>, uma série de parâmetros que fazemparte <strong>da</strong> lógica interna do jogo e que constituem as aprendizagens noâmbito <strong>da</strong> tática e <strong>da</strong> técnica, que, por sua vez, poderão ser base paraum futuro processo de treinamento visando à prática do esporte derendimento, quando for o caso.Mas quais são os parâmetros constitutivos de uma adequa<strong>da</strong>aprendizagem tática e de uma adequa<strong>da</strong> aprendizagem motora que possamser base para posterior articulação de um processo de treinamento técnicoe tático?168AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec6:168 11/11/2009 10:16:13


ORGANIZAÇÃO E DESENVOLVIMENTO PEDAGÓGICO DO ESPORTE NO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOO ESPORTE NO PROGRAMA SEGUNDO TEMPO: PARAALÉM DA PRÁTICA INCONSEQUENTEA estrutura metodológica para o ensino dos esportes no Programa Segundo Tempoconsidera os elementos comuns que constituem as diferentes mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des esportivasdentro e fora de seus espaços institucionalizados, isto é: bola, espaço ou campo dejogo, objetivo do jogo (gol/ponto), colegas, adversários, público, arbitragem, regrasdo jogo e, finalmente, o parâmetro “Situacional”, isto é, a situação específica nessemomento, nesse jogo (BAYER, 1986; GRAÇA; OLIVEIRA, 1995; GRECO, 1995;GRECO; BENDA, 1998 e 2006; GRECO; SILVA, 2008).Nos esportes, ao se analisar a execução de diferentes “ações”,“meios” ou “fun<strong>da</strong>mentos” táticos (tabelas, cruzamentos, bloqueiosdentre os elementos táticos) e técnicos (o passe, o drible, as fintas),destacam-se as semelhanças entre as varia<strong>da</strong>s mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des esportivas.Uma tabela no basquetebol é semelhante a uma realiza<strong>da</strong> no handebolou no hóquei, bem como ao denominado “passa e vai” do futebol.Essas ações, em si, apresentam a mesma forma, a mesma estrutura deorganização tática, apenas são realiza<strong>da</strong>s de forma diferente conforme amo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de em questão. Pode ser com as mãos (basquetebol, handebol,voleibol), os pés (futebol, futsal) ou um bastão (hóquei), de acordocom o espaço disponível no momento e respeitando as próprias regrasdo jogo; mas a representação mental necessária de ser forma<strong>da</strong> antes<strong>da</strong> execução motora é a mesma, independe <strong>da</strong> sua forma de execuçãomotora (mãos – pés – bastão).Na metodologia dos esportes no Programa Segundo Tempo, oportuniza-seum processo de aprendizagem tática, que inicia a construção do conhecimentotático sistematizando os conteúdos que conformam as(os) denomina<strong>da</strong>s(os):a) Capaci<strong>da</strong>des táticas básicas.b) Jogos de desenvolvimento <strong>da</strong> inteligência e criativi<strong>da</strong>de tática.c) Estruturas funcionais (ativi<strong>da</strong>des de jogos em pequenos grupos).AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)169Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec6:169 11/11/2009 10:16:13


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOOs conteúdos desse processo de aprendizado tático devem ser complementadospelo processo de aprendizagem motora. A aprendizagem motora deve ser varia<strong>da</strong>,centra<strong>da</strong> no desenvolvimento dos parâmetros necessários à melhoria <strong>da</strong>s:a) Capaci<strong>da</strong>des coordenativas, eb) Habili<strong>da</strong>des técnicas.A construção <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des em uma aula é inicia<strong>da</strong> sempre como jogo, com a aprendizagem tática, e complementa<strong>da</strong> com ativi<strong>da</strong>despara a aprendizagem motora. No Programa Segundo Tempoapresenta-se um processo de construção do conhecimento a partirdo jogo e de situações de jogo apoiado nos elementos universais <strong>da</strong>smo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des.Quando o ser humano joga, seus sentidos estão direcionados àativi<strong>da</strong>de. Estabelecem-se relações, por exemplo, de distância, de tempo,de orientação no espaço, de equilíbrio, de controle corporal, etc. Esseselementos são gerais a to<strong>da</strong>s as mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des esportivas. Quando se joga,estabelecem-se relações sociais no grupo, intergrupo, interações entrecolegas e adversários, oposições, cooperações, motivação, entre outrosprocessos.A seguir, apresentam-se os parâmetros inseparáveis <strong>da</strong> aprendizagemtática e, posteriormente, um conjunto de ativi<strong>da</strong>des que possibilita aaprendizagem motora. Objetiva-se, no conjunto, que o principiante nãosomente consiga saber fazer, mas que, além disso, sua compreensão táticado jogo (compreender a lógica do jogo) contribua com a sua formaçãosociocognitiva.A SEQUÊNCIA METODOLÓGICAPropõe-se uma sequência metodológica caracteriza<strong>da</strong> por umacronologia, na forma de um A-B-C dos conteúdos. Inicia-se a sequênciacom a aprendizagem e se constroem as bases para o treinamento. Assim,parte-se <strong>da</strong> aprendizagem tática e motora e dirige-se ao treinamento170AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec6:170 11/11/2009 10:16:13


ORGANIZAÇÃO E DESENVOLVIMENTO PEDAGÓGICO DO ESPORTE NO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOtático e técnico. A proposta apresenta, em particular, alternativas deativi<strong>da</strong>des foca<strong>da</strong>s para os jogos esportivos coletivos. Porém, no ensinode outras mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des esportivas (por exemplo: atletismo, natação, asginásticas), deve-se fazer uso dos conteúdos <strong>da</strong> aprendizagem tática,particularmente dos “Jogos de Inteligência e Criativi<strong>da</strong>de Tática”(JICT), para que os participantes desenvolvam potenciali<strong>da</strong>des inerentesà cognição-ação (GRECO, ROTH; SCHÖRER, 2004). Quem podenegar a influência do jogo, de jogos em conjunto, no aprendizado deesportes individuais, de esportes sem contato (atletismo), de esportesde combate (judô, caratê) ou de esportes de composição (ginásticas).O processo de aprendizagem motora apoiado no treinamento <strong>da</strong>scapaci<strong>da</strong>des coordenativas e <strong>da</strong>s habili<strong>da</strong>des técnicas complementa ascaracterísticas do processo de ensino-aprendizagem de forma maisfoca<strong>da</strong> nas mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des individuais, de composição e de combate. Oconjunto desses “tijolos” é importante, é integrador <strong>da</strong> visão universal epotencializa a prática.A. Da aprendizagem tática ao treinamento tático1. Capaci<strong>da</strong>des táticas básicas (a<strong>da</strong>ptado de (KRÖGER; ROTH,2002).2. Jogos de inteligência e criativi<strong>da</strong>de tática (GRECO, 1998).3. Estruturas funcionais (GRECO, 1998).B. Da aprendizagem motora ao treinamento técnico1. Capaci<strong>da</strong>des coordenativas (GRECO; BENDA, 1998; ROTH,1998).2. Habili<strong>da</strong>des técnicas (KRÖGER; ROTH, 2002).C. O treinamento tático-técnico1. Treinamento tático.2. Treinamento técnico.3. Treinamento integrado (físico-técnico, físico-tático, físicotécnico-tático).Como pode ser observado, a proposta acima representa umasequência, um “ABC” do processo de ensino-aprendizagem empermanente interação, do jogar para aprender e do aprenderjogando.AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)171Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec6:171 11/11/2009 10:16:13


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPONessa proposta metodológica, a biografia de movimento de uma criança e de umadolescente se constrói por meio <strong>da</strong> aquisição de experiências de movimentos deforma incidental durante muitos anos, resgatando jogos e brincadeiras populares,jogar para aprender.Quando as crianças jogam, por exemplo, “rouba bandeira”,ou quando jogam handebol 3x3+1 (nas denomina<strong>da</strong>s estruturasfuncionais), elaboram regras táticas. Em ambos os casos, distribuemfunções entre os componentes <strong>da</strong> equipe; as regras táticas do jogo sãoaprendi<strong>da</strong>s na uni<strong>da</strong>de percepção-ação.C. Treinamento Tático-Técnico1) Treinamento Tático2) Treinamento Técnico3) Treinamento IntegradoA. Aprendizagem Tática1) Capaci<strong>da</strong>des Táticas Básicas2) Jogos de inteligência eCriativi<strong>da</strong>de Tática3) Estruturas FuncionaisINTERAÇÃOB. Aprendizagem motora1) Capaci<strong>da</strong>des coordenativas2) Habili<strong>da</strong>des TécnicasFigura 2: O “ABC” do processo metodológico e o “123” de ca<strong>da</strong> um(a<strong>da</strong>ptado de KROGER; ROTH, 2002).No processo compreendido <strong>da</strong> aprendizagem tática ao treinamentotático, os jogos e ativi<strong>da</strong>des direcionados ao desenvolvimento <strong>da</strong>scapaci<strong>da</strong>des táticas básicas (KRÖGER; ROTH, 2002) têm por finali<strong>da</strong>dea compreensão <strong>da</strong> lógica do jogo, particularmente dos jogos esportivoscoletivos, pelo praticante. A i<strong>da</strong>de sugeri<strong>da</strong> para se <strong>da</strong>r ênfase a essesparâmetros vincula-se à passagem entre os 6-10/12 anos e continua aos12-14 anos até nas formas de manifestação do esporte de rendimento.Logicamente, as i<strong>da</strong>des devem ser toma<strong>da</strong>s somente como referência,cabendo ao professor aplicar ou não ativi<strong>da</strong>des relaciona<strong>da</strong>s a essesconteúdos conforme o desenvolvimento dos alunos <strong>da</strong> sua turma. Kröger172AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec6:172 11/11/2009 10:16:13


ORGANIZAÇÃO E DESENVOLVIMENTO PEDAGÓGICO DO ESPORTE NO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOe Roth (2002) apresentam uma sistematização <strong>da</strong> lógica do jogo, para quea criança compreen<strong>da</strong> a dinâmica dos jogos esportivos coletivos (basquete,futebol-futsal, handebol, hóquei, rúgby, voleibol). Em um jogo, o timeem ataque controla o objeto do jogo (a bola), e o outro tenta interceptáloou impedir os movimentos do adversário. Assim, os integrantes deca<strong>da</strong> equipe desenvolvem estratégias para, por exemplo, conquistar ogol. Para fazer o gol (acertar o alvo) é necessário: transportar a bolapara o objetivo, que deman<strong>da</strong> jogar coletivamente ou jogar emconjunto. Portanto, quem tem a bola deve reconhecer os espaços quese apresentam no jogo para avançar, aproximar-se do alvo. Quem nãotem a bola precisa oferecer-se, orientar-se, ou seja, sair <strong>da</strong> marcação,facilitando a ação do colega, criando opções para este lhe passar a bola.Pode-se com isso criar superiori<strong>da</strong>de numérica, de forma a facilitara obtenção do gol, não deixando o adversário proceder a defesa na ação;mas, caso seja necessário para superar a ação do adversário, quemestá com a bola pode fintar, criar chance de gol. O Quadro 2 apresenta oconjunto de parâmetros ou de “tijolos”, modificado com base em Krögere Roth (2002).ParâmetroAcertar o alvoTransportar a bolapara o objetivoJogo coletivo/jogoem conjuntoReconhecerespaçosCriarsuperiori<strong>da</strong>denuméricaSuperar o adversárioSair <strong>da</strong> marcaçãoAtivi<strong>da</strong>des / tarefas táticas nas quaisDeve-se lançar, chutar, combater, disparar uma bola a um alvo,para que atinja um local escolhidoObjetiva-se transportar, jogar, fazer a bola chegar a um objetivodeterminadoO importante é receber a bola do colega, ou passar a bola para esteÉ importante reconhecer as chances para se jogar a gol, para seobter vantagens sobre o adversárioO importante é, através do jogo conjunto com o colega, conseguirum ponto, gol, ou preparar o ponto, gol para o colega fazer(assistência)No confronto com o adversário, consegue-se assegurar a posse <strong>da</strong>bola e superar a oposiçãoQuem não tem a bola se posiciona para poder recebê-la e aju<strong>da</strong>ro colegaQuadro 2: Capaci<strong>da</strong>des táticas básicas (modifica<strong>da</strong>s com base emKRÖGER; ROTH, 2002).AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)173Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec6:173 11/11/2009 10:16:13


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPONo Quadro 3 tem-se uma relação entre os parâmetros ou tijolos táticos,os objetivos perseguidos no jogo e ativi<strong>da</strong>des para o desenvolvimento doaluno.Parâmetro Relaciona-se no jogo com JogosAcertar o alvoTransportar a bolapara o objetivoJogo coletivoReconhecerespaçosCriarsuperiori<strong>da</strong>denuméricaSuperaradversáriosSair <strong>da</strong> marcaçãoFazer gol/ponto. Objetivo dojogo específicoFazer gol/ponto. Objetivo dojogo específicoColega e espaço de jogoAdversário e ambienteAdversário e ambienteAdversário e ambienteAdversário e ambienteAcerte o seu alvoJogo <strong>da</strong> VelhaJogo dos 10 passes. Jogo doTrenzinhoJogo do Bambolê. Jogo <strong>da</strong>VelhaJogo dos SetoresPolícias e LadrõesJogos de perseguição commarcação individualQuadro 3: Capaci<strong>da</strong>des táticas básicas, seus objetivos e exemplos dejogos para o desenvolvimento dos alunos.Como pode ser observado, a partir de jogos e brincadeiras há muitasformas de ampliar o conhecimento tático. O desenvolvimento <strong>da</strong>scapaci<strong>da</strong>des táticas básicas principalmente – mas não exclusivamente,nas faixas etárias a partir dos 6 anos, confirma a proposta de jogar paraaprender. Quantos jogos o professor conhece e consegue ordenar eclassificar conforme suas características dentro dos parâmetros táticossugeridos? Quantos jogos o professor com seus alunos poderão criar paradesenvolver esses parâmetros que permitem melhorar o conhecimento,a compreensão <strong>da</strong> lógica do jogo ou, na linguagem dos treinadores, “ler ojogo”, ter “leitura do jogo”?174AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec6:174 11/11/2009 10:16:13


ORGANIZAÇÃO E DESENVOLVIMENTO PEDAGÓGICO DO ESPORTE NO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOTal situação convoca os professores a refletirem os jogos e seus componentes paraalém dos espaços, implementos e regras básicas. O jogo precisa ser analisado,refletido e discutido pelos participantes em todos os seus componentes. Com essapossibili<strong>da</strong>de metodológica, as chances de estímulo ao entendimento e à práticasignificativa se potencializam.DA APRENDIZAGEM TÁTICA AO TREINAMENTO TÁTICO:OS JOGOS DE INTELIGÊNCIA E CRIATIVIDADE TÁTICAA aprendizagem tática é mais um pilar que deve ser construídoa partir dos 8 anos de i<strong>da</strong>de (os jogos, ver anexos em Oliveira; Perim,2008) são recomen<strong>da</strong>dos para praticantes a partir de 8 de i<strong>da</strong>de). Consistenos denominados “Jogos de Inteligência e Criativi<strong>da</strong>de Tática (JICT).Procura-se apresentar aos alunos jogos que tenham muita dinâmica, grandevariabili<strong>da</strong>de de situações (táticas), uma alternância constante <strong>da</strong> atençãopercepção-decisão.Os Jogos caracterizam-se pelas situações de oposiçãoe colaboração simultâneas, com ou sem invasão do campo <strong>da</strong> equipeadversária, mas não apresentam relações diretas com uma mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>deespecífica, apoiam-se nos elementos comuns <strong>da</strong>s mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des e devemser jogados com as mãos, os pés e um bastão, de forma a oportunizardiferentes experiências motoras, reforçando o processo de aprendizagemmotora.São jogos em que é necessário ter presentes as características <strong>da</strong>smo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des em relação, por exemplo, às fases do jogo de basquetebol,como defesa/ataque e retorno defensivo ou contra-ataque. A intençãodesses jogos é contribuir com experiências na capaci<strong>da</strong>de de atenção (suaamplitude e sua mu<strong>da</strong>nça rápi<strong>da</strong>). São jogos que exigem do participanterecorrer às formas de pensamento divergente e convergente, base <strong>da</strong>criativi<strong>da</strong>de tática para encontrar soluções às situações do jogo.Partindo do “Jogo <strong>da</strong> Velha”, apresentado anteriormente, verifiquecomo o mesmo jogo pode ser modificado e organizado a partir dos 8-10AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)175Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec6:175 11/11/2009 10:16:13


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOanos de i<strong>da</strong>de, de forma a desenvolver simultaneamente vários elementosdos esportes.NomeObjetivoFaixa etáriaMaterialDescriçãoVariaçãoJogo <strong>da</strong> VelhaDesenvolver a capaci<strong>da</strong>de de percepção e toma<strong>da</strong> de decisãoA partir dos 8 anos de i<strong>da</strong>deNove arcos, bolas de basquete (5) e vôlei (5), duas bolas de handebol– uma em ca<strong>da</strong> campoDuas equipes, ca<strong>da</strong> uma com 6 jogadores. Ca<strong>da</strong> equipe é dividi<strong>da</strong> em 2grupos de 3 jogadores ca<strong>da</strong> e são distribuí<strong>da</strong>s em 2 campos retangularesde 6 x 6 metros. No meio dos campos, montam-se os 9 bambolês quefazem o Jogo <strong>da</strong> Velha, e são coloca<strong>da</strong>s 5 bolas de basquete para a equipeA e 5 bolas de voleibol para a equipe B, que serão utiliza<strong>da</strong>s para fazero Jogo <strong>da</strong> Velha.Em ca<strong>da</strong> campo há uma equipe em ataque e uma em defesa. Porsorteio, determina-se que grupo <strong>da</strong> equipe A começa em ataque emum campo e qual em defesa no outro campo. A equipe B distribui seusjogadores de forma inversa. Quando são feitos os 5 passes por alguma<strong>da</strong>s equipes, o primeiro aluno, ou quem está com a bola, vai até osarcos, coloca em um destes uma <strong>da</strong>s bolas que lhe pertence, no Jogo <strong>da</strong>Velha, volta a seu espaço e continua o jogo. Ganha a equipe que fecharuma coluna com o Jogo <strong>da</strong> Velha primeiro, ou que consiga colocar 5bolas nos arcosMesma formação e distribuição do material e <strong>da</strong>s equipes, porém, nojogo, ca<strong>da</strong> equipe procura obter a bola e fazer 5 passes, para então correre completar o Jogo <strong>da</strong> VelhaQuadro 4: Jogo <strong>da</strong> Velha (jogos para desenvolvera inteligência e criativi<strong>da</strong>de tática).Nesse jogo várias tarefas devem ser realiza<strong>da</strong>s de forma simultânea.Por isso, aproximam-se do esporte formal no sentido de “pensar rápido”,resolver situações sob pressões temporais ou espaciais, ou ambassimultaneamente. É importante que existam situações de oposição, com oaumento gra<strong>da</strong>tivo de participantes, a variabili<strong>da</strong>de técnica e a diversi<strong>da</strong>dede decisões (mais de um alvo, diferentes formas de marcar ponto – como pé, com a cabeça). No caso do Jogo <strong>da</strong> Velha apresentado, podem serincluídos curingas, jogadores em espaços específicos etc. Deve-se destacarque, na ideia do jogo original, quando um jogador sai para colocar uma176AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec6:176 11/11/2009 10:16:13


ORGANIZAÇÃO E DESENVOLVIMENTO PEDAGÓGICO DO ESPORTE NO PROGRAMA SEGUNDO TEMPObola nos arcos, no Jogo <strong>da</strong> Velha, ficando com a posse <strong>da</strong> bola, a equipecontinua a procurar fazer os passes acor<strong>da</strong>dos, porém, está em inferiori<strong>da</strong>denumérica, ou seja, apresentam-se desafios interessantes aos jogadores emataque.O termo Pensamento Divergente refere-se a jogos e ativi<strong>da</strong>des que permitemao participante desenvolver mentalmente muitas alternativas de solução paraa situação de jogo. Por outro lado, o termo Pensamento Convergente significaque o participante, em uma situação de jogo, escolhe uma alternativa de soluçãoque é para ele a melhor, a mais adequa<strong>da</strong>. Ambas as formas de pensamento serelacionam entre si, sendo ambas necessárias no cotidiano.Obs: A equipe A (0) começa no ataque no campo 1, a equipe B defende. Ao mesmo tempo,a equipe B começa em ataque no campo 2 e a equipe A defende.Figura 3: Distribuição dos participantes no Jogo <strong>da</strong> Velha.Observa-se na Figura 3 que a equipe A (0) que começa jogando no campo1 em ataque deve procurar somar os passes e imediatamente após, sem perdera bola um dos seus integrantes procurará completar o Jogo <strong>da</strong> Velha com asAMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)177Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec6:177 11/11/2009 10:16:13


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPObolas designa<strong>da</strong>s a sua equipe (0). A equipe B (X) (na defesa no campo 1, eno ataque no campo 2, procura ao mesmo tempo somar passes e correr parapegar uma bola no setor onde estão os X e colocá-la no Jogo <strong>da</strong> Velha).Jogando assim, enfatiza-se a exigência nos processos cognitivos deatenção, percepção, toma<strong>da</strong> de decisão, memória, reconhecimento depadrões etc. Outra característica importante desses jogos consiste no apelotático às diferentes formas de marcação individual, o que traz inúmerasvantagens na formação tática individual.Por exemplo, o fute-hande-rúgbi-bun<strong>da</strong>-gol joga-se em umcampo retangular em que os gols são convertidos em qualquer setor <strong>da</strong>linha de fundo. Duas equipes procuram fazer o ponto, seja através deautopasse (1 ponto) ou do passe de um colega (dois pontos). Mas o golsó pode ser convertido batendo a bola com a bun<strong>da</strong> na linha de fundo. Abola pode ser conduzi<strong>da</strong> com o pé (fute) com a mão (hande), passa<strong>da</strong>, oucarrega<strong>da</strong> (rúgbi). Os defensores, para obterem a bola, podem interceptarpasses dos adversários ou colocar as duas mãos nos ombros (ou no joelhoetc.) do jogador que está de posse <strong>da</strong> bola. A retoma<strong>da</strong> do jogo se realizacom um tiro livre no local <strong>da</strong> ação. O número de jogadores e o tempode jogo podem variar conforme a motivação do grupo. As variaçõesconsistem em aproximar a forma de transporte <strong>da</strong> bola (mão-pé-bastão) eo comportamento com o adversário (encostar – sem contato) conforme amo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de que se deseja trabalhar posteriormente.DA APRENDIZAGEM TÁTICA AO TREINAMENTO TÁTICO:AS ESTRUTURAS FUNCIONAISUm dos grandes problemas para se jogar qualquer mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de esportivaconsiste na complexi<strong>da</strong>de, na grande quanti<strong>da</strong>de de ações que decorremsimultaneamente – muitos colegas para se relacionar, muitas coisas para seobservar. Isso deve ser evitado na iniciação para melhor compreensão <strong>da</strong>lógica do jogo, para poder “pensar, ver e escrever” o jogo.178AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec6:178 11/11/2009 10:16:13


ORGANIZAÇÃO E DESENVOLVIMENTO PEDAGÓGICO DO ESPORTE NO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOAs ativi<strong>da</strong>des denomina<strong>da</strong>s “Estruturas Funcionais” têm a finali<strong>da</strong>dede reduzir a complexi<strong>da</strong>de que o esporte formal apresenta. Ou seja, emum primeiro momento, o jogo é simplificado em relação à quanti<strong>da</strong>de dejogadores e, portanto, de alternativas de combinações táticas. Joga-se comuma quanti<strong>da</strong>de menor de participantes (por exemplo, basquete 2 x 2; ouhandebol 3 x 3 com ou sem goleiro, com ou sem curinga), mas mantendoas características <strong>da</strong>s mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des esportivas (situações com ataque-defesa,colaboração e oposição) e, quando existe igual<strong>da</strong>de numérica, incentivasea marcação individual.Quando o número de participantes no jogo é diminuído, as alternativastáticas de toma<strong>da</strong> de decisão também são diminuí<strong>da</strong>s, mas as dificul<strong>da</strong>destáticas e técnicas são preserva<strong>da</strong>s e a ideia do jogo é manti<strong>da</strong>.As estruturas funcionais foram propostas com o objetivo de se apresentar ojogo para as crianças <strong>da</strong> mesma forma como elas o praticavam sem a presençade adultos.A ideia se apoia em oportunizar que as crianças joguem, com ojogo acontecendo numa situação real, porém em espaço e quanti<strong>da</strong>dede jogadores reduzidos. Incentiva-se a jogar com diferentes estruturasfuncionais de jogo: 1 X 1 +1; 1 X 1; 2 X 1; 2 X 2 + 1; 2 X 2; 3 X 2; 3 X 3+ 1; 3 X 3 (entre outras formas). Essas formas de organização apresentamsituações com igual<strong>da</strong>de, inferiori<strong>da</strong>de ou superiori<strong>da</strong>de numérica (asativi<strong>da</strong>des com curinga “+1” são oferta<strong>da</strong>s antes <strong>da</strong>s situações de igual<strong>da</strong>denumérica). Para facilitar a compreensão do jogo e sua prática, sugere-se asistematização <strong>da</strong> ação do “curinga”.Os curingas (podem ser vários colegas, ou somente um colega paraambas as equipes) apoiam a ação do atacante (ou do defensor), mas nãopodem fazer gol; são somente apoios. Eles jogam na função do meio fio/guia nas brincadeiras de futebol na rua. Os curingas podem estar em locaisfixos, dentro ou fora do campo (nas laterais, em espaços demarcados, emespaços abertos etc.), ou seja, existem diferentes alternativas didáticas emetodológicas de emprego dos curingas. É importante destacar que a suafunção é auxiliar no transporte <strong>da</strong> bola <strong>da</strong> equipe em ataque, auxiliar naorganização de ações táticas. Essa intervenção é uma <strong>da</strong>s característicasque diferencia qualitativamente a proposta do Programa Segundo TempoAMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)179Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec6:179 11/11/2009 10:16:13


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPO(BAYER, 1986; GRAÇA; OLIVEIRA, 1995; THORPE et al., 1986).A ideia, o caráter e os objetivos do jogo esportivo não são alterados. Ométodo de “deixar jogar” e de “aprender fazendo” é priorizado.Para uma variabili<strong>da</strong>de do processo de ensino-aprendizagem nas EstruturasFuncionais, é possível modificar:a) Espaço do jogo (largura + profundi<strong>da</strong>de).b) Tamanho do campo (maior ou menor).c) Complexi<strong>da</strong>de (número de jogadores).d) Combinações técnicas (tipos de passes permitidos).e) Nnúmero de decisões a serem toma<strong>da</strong>s (número de objetivos).f) Tipo de combinações táticas (cruzamento, tabelas, bloqueios).g) Opções de comportamento tático.No caso de variações do comportamento tático, pode-se procederdi<strong>da</strong>ticamente e facilitar a ação do atacante. Procede-se, portanto, àdiminuição:a) Da ação do colega – somente pode se deslocar em espaçosespecíficos <strong>da</strong> quadra.b) Da ação do oponente – para marcar, deve ter sempre as mãos nascostas, ou marcar em duplas abraça<strong>da</strong>s, ou levar com ambas asmãos um objeto sobre a cabeça.c) Simplificar o meio ambiente – reduzir ou facilitar as regras dojogo.Essas três formas de conteúdos (capaci<strong>da</strong>des táticas básicas, jogosde inteligência e criativi<strong>da</strong>de tática, estruturas funcionais) permitemque seja melhora<strong>da</strong> não somente a capaci<strong>da</strong>de de jogo <strong>da</strong>s crianças.Por meio do jogar para aprender, estabelecem-se os vínculos entre ogrupo, oportunizam-se situações nas quais capaci<strong>da</strong>des, habili<strong>da</strong>des,competências, comportamentos e atitudes estão sendo expostos entrepares, promovendo a reflexão.A inserção do processo de ensino-aprendizagem intencional noconceito do Programa Segundo Tempo se inicia entre as faixas etáriasdos 12/14 anos de i<strong>da</strong>de. O processo de aprendizado incidental não édeixado de lado (ver Figura 3); somente serão distribuí<strong>da</strong>s as ativi<strong>da</strong>desde jogo com uma ênfase maior nos aspectos de orientação para os sinais180AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec6:180 11/11/2009 10:16:14


ORGANIZAÇÃO E DESENVOLVIMENTO PEDAGÓGICO DO ESPORTE NO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOrelevantes do jogo. Uma análise tática <strong>da</strong> ação (realiza<strong>da</strong> sempre emgrupo para promover a interação, o debate) precede sempre a prática <strong>da</strong>técnica necessária ao jogo. O ciclo do processo sugerido no ensino pelacompreensão está descrito na Figura 5.O processo de ensino-aprendizagem pela compreensão Teacher Games ForUndertanding (TGFU), quando comparado com outras formas metodológicasde ensino formal, apresenta uma ênfase na aprendizagem social.O TGFU tem o papel de desenvolver um ci<strong>da</strong>dão crítico, capaz departicipar de uma socie<strong>da</strong>de livre, discutir e tomar decisões para construiruma socie<strong>da</strong>de democrática (MCBRIDE, 1991). O diferencial doTGFU em relação aos métodos tradicionais se dá na ordem em que osconteúdos táticos e técnicos são apresentados. É de crucial importânciaque o conhecimento tático seja oferecido antes <strong>da</strong>s habili<strong>da</strong>des técnicas,pois estas devem ser introduzi<strong>da</strong>s no momento em que o aluno enten<strong>da</strong>“quando” e “por que” utilizá-las (HOLT; STREAN; BENGOECHEA,2002). Quando estão dialogando sobre qual a melhor resposta para oproblema tático, as crianças estão desenvolvendo estratégias coletivas,bem como confirmando a influência <strong>da</strong> abor<strong>da</strong>gem social construtivista(LIGHT, 2008).Na sequência <strong>da</strong>s fases de aprendizado propõe-se que as criançascompreen<strong>da</strong>m as regras do jogo, não importando se estas são simples,pois dão o formato ao jogo. No voleibol, por exemplo, quando a redeé modifica<strong>da</strong>, o tempo que a bola fica no ar é maior. No futebol e nohandebol, quando as traves são maiores, a possibili<strong>da</strong>de de que o gol sejafeito é maior, já que fica mais difícil para os goleiros pegarem. Nessafase, as crianças devem sentir prazer durante o jogo, desenvolvendoo interesse na participação. As alterações nas regras, no tamanho docampo e no tempo de jogo ocorrem com o objetivo de diversificar acapaci<strong>da</strong>de tática.Na Figura 5, observa-se o processo de interação entre jogo-alunoprofessore a sequência do processo de ensino-aprendizagem conformeo método de ensino pela compreensão tática ou TGFU, sugerido porBunker e Thorpe (1982), Thorpe, Bunker e Almond (1986).AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)181Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec6:181 11/11/2009 10:16:14


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPO1- JOGO6- Desempenho2- Apreciação do Jogo3- Consciência TáticaAluno5- Execução<strong>da</strong>s habili<strong>da</strong>des4- Toma<strong>da</strong> de decisões- O que fazer?- Como fazer?Figura 4: O processo de ensino pela compreensão tática (BUNKER;THORPE, 1982; THORPE, BUNKER; ALMOND, 1986).Na fase de compreensão tática, com objetivo de defender ou de atacar,devem ser encontra<strong>da</strong>s formas de criar ou diminuir o espaço. Portanto,deve-se utilizar uma aproximação tática com outras mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des, comoos jogos de inteligência e criativi<strong>da</strong>de, intercalados para que, por meio <strong>da</strong>salterações nas táticas de jogo, se forme um conhecimento flexível, variado.No diálogo com os alunos, as possibili<strong>da</strong>des táticas são descobertas,desenvolvendo:a) O pensamento convergente, ou seja, verificação <strong>da</strong>s melhoresalternativas.b) O pensamento divergente, ou seja, determinação <strong>da</strong>s várias oportuni<strong>da</strong>desde atacar ou defender conforme o adversário na situação.Com essa consciência tática o aluno consegue transferir oconhecimento adquirido para outra mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de, facilitando o aprendizado(BUTLER, 1997).182AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec6:182 11/11/2009 10:16:14


ORGANIZAÇÃO E DESENVOLVIMENTO PEDAGÓGICO DO ESPORTE NO PROGRAMA SEGUNDO TEMPONa fase de toma<strong>da</strong> de decisão, o professor coordena a discussãopara que os alunos proce<strong>da</strong>m ao reconhecimento de pistas e previsõesde possíveis resultados. Os alunos são confrontados com a resolução<strong>da</strong>s situações de jogo de forma teórica, com objetivo de determinar osignificado e a necessi<strong>da</strong>de do uso <strong>da</strong> técnica em função dos problemastáticos que aparecem no jogo (MESQUITA; GRAÇA, 2006). A decisãoimplica saber o que fazer e como fazer. A execução e o treinamento <strong>da</strong>shabili<strong>da</strong>des e <strong>da</strong> técnica são realizados quando um jogo não se desenvolvedevido à deficiência de determina<strong>da</strong> habili<strong>da</strong>de. Nesse modelo, a execução<strong>da</strong> técnica é usa<strong>da</strong> para descrever a execução do movimento requeridopelo professor, tendo como contexto a aprendizagem, reconhecendo-seas limitações dos alunos. Na fase de desempenho, o resultado observadodos processos anteriores é medido sob critérios que são independentes doaluno. Esses critérios são aqueles com os quais se classificam as criançascomo boas ou más jogadoras, quer na escola quer em nível internacional.Deve-se ter uma medi<strong>da</strong> apropria<strong>da</strong> <strong>da</strong> resposta, assim como a eficiênciatécnica (THORPE, BUNKER; ALMOND, 1986).Torna-se primordial a participação ativa dos professores questionando oaluno sobre o que ele deveria fazer, desenvolvendo a consciência tática. Nessesentido, as respostas devem levar em consideração o objetivo do jogo, ou seja,qual habili<strong>da</strong>de técnica deve ser usa<strong>da</strong> para ter sucesso, para marcar o ponto,fazer o gol.O processo de ensino-aprendizagem na sequência incidentalintencionalse complementa. No momento do jogo, seguindo o processodo TGFU, os Jogos para Inteligência e Criativi<strong>da</strong>de e as Estruturas Funcionaiscomplementam o método de forma eficaz.DA APRENDIZAGEM MOTORA AOTREINAMENTO TÉCNICONa prática do jogar também é necessário saber “escrever” o jogo,ou seja, o participante precisa executar ações motoras para conferir suasAMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)183Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec6:183 11/11/2009 10:16:14


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOideias e solucionar os problemas que o jogo lhe apresenta. Por exemplo,em um contra-ataque, ou no Jogo <strong>da</strong> Velha, passo a bola a um colega oufinto o adversário?O primeiro passo no Programa Segundo Tempo não será <strong>da</strong>do a partirdo ensino de técnicas ou “fun<strong>da</strong>mentos” específicos dos esportes (porexemplo, exercícios para aprender o chute com a parte interna do pé, com aparte externa do pé; ou o lançamento em suspensão, a corta<strong>da</strong> ou o saque novoleibol...). Ao contrário, será desenvolvido, após o jogo, um amplo processode melhoria <strong>da</strong>s capaci<strong>da</strong>des coordenativas.O desenvolvimento <strong>da</strong>s capaci<strong>da</strong>des coordenativas será enfatizadoa partir dos 6-12 anos de i<strong>da</strong>de, considerando-se os parâmetros queexercem pressão na realização <strong>da</strong> ação motora e, portanto, solicitam umaprogressão de dificul<strong>da</strong>de específica. Nas faixas etárias entre os 6-10 anosde i<strong>da</strong>de, será adota<strong>da</strong> a sugestão de complementação do processo deaprendizagem motora com o desenvolvimento <strong>da</strong>s habili<strong>da</strong>des técnicas,conforme sugerido por Kröger e Roth (2002).DA APRENDIZAGEM MOTORA AO TREINAMENTOTÉCNICO: O DESENVOLVIMENTO DASCAPACIDADES COORDENATIVASPara os especialistas <strong>da</strong>s “ciências do esporte”, as capaci<strong>da</strong>descoordenativas compõem a base <strong>da</strong> denomina<strong>da</strong> “inteligência motora”(KRÖGER; ROTH, 2002). O desenvolvimento <strong>da</strong>s capaci<strong>da</strong>descoordenativas oportuniza uma aprendizagem motora mais acaba<strong>da</strong> ecompleta.Lamentavelmente, o desenvolvimento <strong>da</strong>s capaci<strong>da</strong>des coordenativasé muito pouco sistematizado no processo de aprendizado. No ProgramaSegundo Tempo essas capaci<strong>da</strong>des são considera<strong>da</strong>s na sua real184AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec6:184 11/11/2009 10:16:14


ORGANIZAÇÃO E DESENVOLVIMENTO PEDAGÓGICO DO ESPORTE NO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOcontribuição para o desenvolvimento integral <strong>da</strong> criança. A seguir, sãoofereci<strong>da</strong>s sugestões de como trabalhar.Figura 5: Das capaci<strong>da</strong>des coordenativas às técnicas esportivas.Em relação às exigências coordenativas que se apresentam nos jogos,observa-se que essas são gerais para as diferentes mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des, ou seja,são gerais em relação aos esportes e influenciam o nível de conduçãoe regulação dos movimentos voluntários tanto nos esportes quanto navi<strong>da</strong> cotidiana. As capaci<strong>da</strong>des coordenativas apresentam alto nível detreinabili<strong>da</strong>de e, para crianças e adolescentes, constituem uma base parao futuro aprendizado <strong>da</strong>s habili<strong>da</strong>des técnicas e <strong>da</strong>s técnicas específicasdos esportes. As capaci<strong>da</strong>des coordenativas constituem o pré-requisitopara mais de uma estrutura de diferentes movimentos e apresentamuma amplitude e generalização varia<strong>da</strong>. To<strong>da</strong> ação coordena<strong>da</strong>, sejainternamente ou com o ambiente externo, solicita <strong>da</strong> pessoa a recepçãoe elaboração de informação através dos sentidos. No caso, para suaelaboração, a informação percorre dois momentos.a) A primeira elaboração consiste na recepção <strong>da</strong> informação atravésdos sentidos que todo ser humano possui (visual, acústico, tátil,cinestésico, vestibular ou equilíbrio) denominados de elaboraçãoaferente (que “chega” aos órgãos superiores do Sistema NervosoCentral).b) A segun<strong>da</strong> elaboração de informação ocorre via eferente (ou seja,enviar para “fora”); consiste na preparação de músculos e articulaçõesAMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)185Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec6:185 11/11/2009 10:16:14


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOpara fazer a ação, na coordenação motora grossa e fina para realizar aação no tempo e espaço disponíveis no momento do jogo/ativi<strong>da</strong>de.Durante esse processo, o ambiente externo coloca parâmetros depressão (tempo, precisão, complexi<strong>da</strong>de, organização, variabili<strong>da</strong>de,carga) no processo de elaboração de informação.A pressão pode ser muita ou pouca, centra<strong>da</strong> em um ou em várioselementos de pressão. Nos esportes, a pressão para coordenar ações podeser específica em algum parâmetro. No tiro ao alvo, por exemplo, existeuma grande pressão de precisão (igual ao no momento de fazer a cestano basquete); na ginástica rítmica, há uma grande pressão de organização(pois várias ações ocorrem simultaneamente – giros e saltos) e assim pordiante. O Quadro 5 destaca essas exigências. Para o processo de ensinoaprendizagem-treinamento<strong>da</strong>s capaci<strong>da</strong>des coordenativas, opta-se poruma alternativa didática extremamente fértil. São oferecidos ativi<strong>da</strong>dese jogos nos quais a recepção de informação por meio dos analisadores(tátil, acústico, visual, cinestésico, vestibular ou equilíbrio) é coloca<strong>da</strong> emsituação de pressão motora (tempo, precisão, organização, complexi<strong>da</strong>de,variabili<strong>da</strong>de e carga – Quadro 5).Parâmetrosde pressãoTempoPrecisãoComplexi<strong>da</strong>deOrganizaçãoVariabili<strong>da</strong>deCargaTarefas coordenativas nas que énecessárioMinimizar o tempo ou maximizar aveloci<strong>da</strong>de de execuçãoA maior exatidão possívelResolver sequências de exigênciassucessivas, uma depois de outraSuperar exigências simultâneas, aomesmo tempoSuperar exigências ambientais variáveise situações diferentesSuperar exigências de tipo físicocondicionaisou psíquicasExemplosCorri<strong>da</strong> de 100 metros, passeao colega que corre no espaçolivre no contra-ataqueLance livre no basquete, arcoe flechaSéries <strong>da</strong> ginástica. Fintas edrible no handebolMortal com giro. Recebera bola fintando a linha decorri<strong>da</strong>Jogos esportivos coletivosLançamento de <strong>da</strong>rdo earremesso de pesoQuadro 5: Elementos de pressão <strong>da</strong> motrici<strong>da</strong>de(KRÖGER; ROTH, 2002).186AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec6:186 11/11/2009 10:16:14


ORGANIZAÇÃO E DESENVOLVIMENTO PEDAGÓGICO DO ESPORTE NO PROGRAMA SEGUNDO TEMPODeve-se destacar o potencial de combinações possíveis nas ativi<strong>da</strong>desa serem realiza<strong>da</strong>s, como, por exemplo, analisador visual, com pressão detempo, de precisão, e assim por diante. As ativi<strong>da</strong>des devem ser realiza<strong>da</strong>s,em to<strong>da</strong>s as faixas etárias, com as mãos, os pés e com raquete-bastão,resultando em uma fabulosa combinação: um analisador (exemplovisual) x 6 condicionantes de pressão x 3 formas de realizar a ação (pé/mão, raquete/bastão) significa que se tem = 18 possibili<strong>da</strong>des de realizara mesma ativi<strong>da</strong>de, mas sempre de forma diferente.Quando se combinam dois analisadores (por exemplo, visual evestibular), encontra-se um maior número de ativi<strong>da</strong>des plausíveis deserem pensa<strong>da</strong>s. O resultado final é quase infinito, pois se deve inserir,ain<strong>da</strong>, a possibili<strong>da</strong>de de as ativi<strong>da</strong>des serem realiza<strong>da</strong>s com bolas, bastões,arcos, pneus, dentre outros.Pressão de organizaçãoLançar a bola para cima e pegá-laapós um giro completo sobre o eixolongitudinalCircun<strong>da</strong>r os braçossimultaneamente e em sentidocontrárioAn<strong>da</strong>r em paralelo a uma linhareta e, simultaneamente, cruzar osbraços, abrir e fechar as pernas epésBalançar-se acima de um bancosueco e conduzir uma bolaFazer o jogo <strong>da</strong> sombra com ocolega quicando uma bolaDançar com bolas conforme amúsicaBalançar-se acima de um bancosueco, lançar e pegar uma bolaAnalisador vestibular (equilíbrio)An<strong>da</strong>r quicando uma bola em cima depneus e paralelamente segurar o bambolêque permite manter a distância como colega <strong>da</strong> frente. Trabalha equilíbrioe pressão de organização, pressão deprecisãoQuadro 6: Exemplo de ativi<strong>da</strong>des para o processo de ensinoaprendizagem<strong>da</strong> coordenação.AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)187Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec6:187 11/11/2009 10:16:14


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOPara o ensino <strong>da</strong>s capaci<strong>da</strong>des coordenativas, enfatizando-seas faixas etárias entre os 4-6 anos e os 12-14 anos, sugere-se umaprogressão didática na qual se considerem os aspectos: i<strong>da</strong>de, númerode elementos a serem utilizados, material, bem como tipo de trabalhoe manejo com o elemento. Uma sinopse dessas alternativas está noQuadro 7.I<strong>da</strong>deTrabalhocomelementosMaterial Tipo de trabalho Manejo com Observar4/6 - 8anos8 - 10anos10 - 12anosUm elementoDoiselementosTrêselementos (<strong>da</strong>coordenaçãogeral àespecífica)BolaBastãoBambolêCor<strong>da</strong>ConeJornalGarrafa petPneuMaçãOutros queprofessorese alunospossamcriarTracionar,empurrar, rolar,transportar, lançar,receber, equilibrarum objeto,se equilibrar,controlar, puxar,conduzir, rebater,girar, quicar,saltar e to<strong>da</strong>s ascombinaçõesque o professore seus alunosconseguiremagregarMãosPésRaqueteBastãoCombinandoesteselementosTo<strong>da</strong>s ascombinaçõesque oprofessor eseus alunosconseguiremagregarQuadro 7: Alternativas didáticas e metodológicas para odesenvolvimento <strong>da</strong>s capaci<strong>da</strong>des coordenativas.Variação <strong>da</strong>execução domovimento.Modificação<strong>da</strong>s condiçõesexternas.Combinaçãode elementosem diferentesveloci<strong>da</strong>desVariação <strong>da</strong>scondições depercepçãoDA APRENDIZAGEM MOTORA AO TREINAMENTOTÉCNICO: O DESENVOLVIMENTO DASHABILIDADES TÉCNICASNa presente proposta, o conceito de habili<strong>da</strong>de é ajustado aos jogosesportivos coletivos e se distancia do conceito comumente utilizado nosestudos de aprendizagem motora. As habili<strong>da</strong>des técnicas, no ProgramaSegundo Tempo, adquirem um conceito ampliado. São parâmetros188AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec6:188 11/11/2009 10:16:15


ORGANIZAÇÃO E DESENVOLVIMENTO PEDAGÓGICO DO ESPORTE NO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOconstitutivos do movimento que serão necessários para a realização dequalquer técnica específica dos esportes posteriormente (passe, chute,lançamento, dentre outras). São pré-requisitos gerais direcionados aproblemas motores específicos dos esportes que facilitam a aprendizagem<strong>da</strong>s técnicas específicas dos esportes.No Quadro 8 estão descritas as habili<strong>da</strong>des técnicas.Habili<strong>da</strong>des técnicasOrganizar os ângulosControlar (regular) a forçaDeterminar o tempo depasse e <strong>da</strong> bolaDeterminar linhas decorri<strong>da</strong> e tempo <strong>da</strong> bolaOferecer-se (preparar-se)Antecipar a direção edistância do passeAntecipar a posiçãodefensivaObservar deslocamentosObjetivo (definição e exemplo)Organizar, regular e conduzir de forma precisa adireção de uma bola lança<strong>da</strong>, chuta<strong>da</strong> ou rebati<strong>da</strong>Controlar, conduzir, regular de forma precisa a forçade uma bola lança<strong>da</strong>, chuta<strong>da</strong> ou rebati<strong>da</strong>Determinar o momento espacial para passar, chutarou rebater uma bola de forma precisaDeterminar com precisão a direção e a veloci<strong>da</strong>de deuma bola que é envia<strong>da</strong> na sua direção no momentode correr e pegarO importante é se oferecer, se preparar ou iniciar acondução de movimento no momento certoDeterminar a correta direção e distância de uma bolapassa<strong>da</strong>, prevendo-a corretamenteAntecipar, prever, a real posição de um ou váriosdefensoresPerceber os movimentos, deslocamentos de um ouvários adversáriosQuadro 8: Habili<strong>da</strong>des técnicas (KRÖGER; ROTH, 2002).Principalmente entre as faixas etárias compreendi<strong>da</strong>s entre 4-6até os 10-12 anos de i<strong>da</strong>de, é necessário complementar o processode aprendizagem motora desenvolvendo as habili<strong>da</strong>des técnicasparalelamente às capaci<strong>da</strong>des coordenativas. É importante apresentaràs crianças ativi<strong>da</strong>des nas quais possam ser reunidos exercícios a seremrealizados com as mãos, pés e bastões/raquetes, o mesmo exercício comas três opções de realização e direcionados para um dos parâmetros outijolos.AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)189Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec6:189 11/11/2009 10:16:15


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOExemplificando:- Lançar uma garrafa pet a uma cesta de lixo: nesta ativi<strong>da</strong>de, solicita-se doexecutante que organize os ângulos e controle a força.- Lançar um objeto para o alto e para a frente, observar a parábola e lançarrolando no chão um bambolê exatamente no local que o objeto irá cair:solicita-se antecipação <strong>da</strong> distância.Esses exemplos mostram como pode ser desenvolvi<strong>da</strong>s as habili<strong>da</strong>desnecessárias à correta execução de uma técnica esportiva posteriormente.As habili<strong>da</strong>des técnicas representam a sucessão específica demovimentos, completos ou parciais, que podem ser utilizados comosolução ao problema <strong>da</strong> dinâmica gera<strong>da</strong> numa situação esportiva.Parâmetros Ativi<strong>da</strong>de FotografiaControle <strong>da</strong>forçaOrganizaçãodos ângulosAntecipação<strong>da</strong> direção edistância dopasseAcertar a bola:Dois alunos – um de ca<strong>da</strong> ladode uma quadra de vôlei ou depeteca com a rede mais baixa.Um dos alunos está com umabola de tênis ou semelhante euma raquete. Sua ação é passar,lançar a bola por cima <strong>da</strong> rede.O colega do outro lado <strong>da</strong>rede está com um bambolê nasmãos. O objetivo do colegaque vai receber é observar aparábola <strong>da</strong> bola envia<strong>da</strong> pelocolega do outro lado <strong>da</strong> rede.No momento em que a bolaatinge seu ponto mais alto,deve calcular onde ela vai cairno seu próprio campo e lançaro bambolê no chão, no localestimado onde a bola envia<strong>da</strong>pelo colega vai quicarVariação: os dois garotos com raquetes– um passa a bola e quem recebelança o bambolê e, sem perder asequência, rebate a bola para o outrolado. Nesse caso, teremos tambémos condicionantes coordenativos:pressão de tempo e pressão deprecisãoQuadro 9: Exemplo de ativi<strong>da</strong>des para a melhoria dos parâmetros organizaçãodos ângulos e controle <strong>da</strong> força (baseado em KRÖGER; ROTH, 2002).190AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec6:190 11/11/2009 10:16:15


ORGANIZAÇÃO E DESENVOLVIMENTO PEDAGÓGICO DO ESPORTE NO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOTática AcertaralvoTransportarabolaVantagemtática(superiori<strong>da</strong>de)JogocoletivoTécnicaOrganizar os ângulos X X XDirigir a aplicação de forçaX X XDeterminar o momento e otempo <strong>da</strong> bolaDeterminar linha de corri<strong>da</strong>e tempo <strong>da</strong> bolaX X XRESup.cdversárioOOsair <strong>da</strong>marcaçãoX X XOferecer / orientar-se X X X XDeterminar direção e distânciaX X XdopasseAntecipar a posição do defensorX X X X X XObservar linhas de corri<strong>da</strong> X X X X X XQuadro 10: Elementos técnicos e sua relação com os elementos táticos(KROGER; ROTH, 2002, p. 28).O processo de aprendizagem, não é um fenômeno simplesmenteacumulativo, solicita elementos qualitativamente novos para ser bemsucedido.Uma experiência que se torna repetitiva pode não gerar maisestímulos e desafios para a aprendizagem, e assim cresce a possibili<strong>da</strong>de<strong>da</strong> mera reprodução de vícios técnico-táticos que limitam o aumento dorendimento.O SISTEMA DE APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTOESPORTIVO (SADE)É frequente o professor se perguntar: Por que ensinar? Para queensinar? O que ensinar? Quando ensinar o quê? Onde ensinar? A quemensinar?As respostas a tantas questões foram inicia<strong>da</strong>s na estruturametodológica, ou seja, é necessário compreender o esporte em uma visãosistêmica, rompendo as fronteiras disciplinares, a visão do conhecimentoestanque e sem interações. A descrição dos elementos que constituem umAMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)191Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec6:191 11/11/2009 10:16:15


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOsistema solicita, impreterivelmente, considerar as relações que ocorrementre as partes que o compõem. Considerar somente características departes isola<strong>da</strong>s quebra a visão do sistema; o foco tem que ficar nas relaçõesentre as partes. Portanto, no Programa Segundo Tempo, para se ensinaro esporte e ensinar por meio do esporte, é necessário desenvolveras capaci<strong>da</strong>des inerentes ao rendimento esportivo (que denominamos deestrutura substantiva), nas diferentes faixas etárias (que denominamosde estrutura temporal) em que o Programa Segundo Tempo é aplicado.Também é necessário saber que a metodologia de ensino a ser aplica<strong>da</strong>nesse programa relaciona as estruturas substantiva e temporal, <strong>da</strong>ndoforma ao processo de ensinar o esporte.O “Sistema de Aprendizagem e Desenvolvimento Esportivo” (SADE)reúne as três estruturas que são necessárias ao ensino e à aprendizagemdos esportes:a) Estrutura substantiva: constituí<strong>da</strong> pelo conjunto de capaci<strong>da</strong>desinerentes ao rendimento esportivo.b) Estrutura temporal: constituí<strong>da</strong> pelas etapas e fases dodesenvolvimento dessas capaci<strong>da</strong>des ao longo do desenvolvimentohumano.c) Estrutura metodológica: realiza o nexo <strong>da</strong>s anteriores por meiodo processo de ensino-aprendizagem, com uma sequência préestabeleci<strong>da</strong>:<strong>da</strong> aprendizagem (tática e motora) ao treinamento(tático e técnico), do jogar para aprender e do aprender jogando.^Figura 6: Estruturas do Sistema de aprendizagem e desenvolvimentoesportivo (GRECO; BENDA, 1998; GRECO; SILVA, 2008).192AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec6:192 11/11/2009 10:16:15


ORGANIZAÇÃO E DESENVOLVIMENTO PEDAGÓGICO DO ESPORTE NO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOA ESTRUTURA SUBSTANTIVAA designação de estrutura substantiva apóia-se na ideia de que existeum conjunto de capaci<strong>da</strong>des que se relacionam entre si para se realizaruma ação esportiva. Essas capaci<strong>da</strong>des são as mesmas, independentementedo nível de rendimento que seja solicitado ou que se deseja alcançar. Ascapaci<strong>da</strong>des representam a substância, a essência do rendimento (escolar,rendimento, alto nível, reabilitação, lazer, saúde, profissional) que sepreten<strong>da</strong> alcançar em esportes.A estrutura substantiva reúne as capaci<strong>da</strong>des do rendimento esportivoa serem desenvolvidos no Programa Segundo Tempo. O desenvolvimento<strong>da</strong>s seis capaci<strong>da</strong>des está inter-relacionado entre si. As capaci<strong>da</strong>desconstituem uma espécie de “matéria-prima” que deve ser potencializa<strong>da</strong>em ca<strong>da</strong> participante do Programa Segundo Tempo. Assim, são necessáriasrespostas à questão “o que desenvolver”, ou seja, quais conteúdos, quaisas capaci<strong>da</strong>des (biotipológicas, motoras, táticas, técnicas, psicológicas,socioambientais), habili<strong>da</strong>des e competências devem ser solicita<strong>da</strong>s. Pararesponder a essa questão, é necessário relacionar paralelamente “quando”que essas capaci<strong>da</strong>des podem ser oportuniza<strong>da</strong>s.O conjunto <strong>da</strong>s capaci<strong>da</strong>des inerentes ao rendimento esportivopossibilita concretizar habili<strong>da</strong>des e demonstrar competências.As capaci<strong>da</strong>des apresentam uma forte influência genética; porém,desenvolvem-se ao longo do tempo. Por isso, há necessi<strong>da</strong>de de secompreenderem as etapas e fases em que estas capaci<strong>da</strong>des podem seroportuniza<strong>da</strong>s, de forma a desenvolvê-las adequa<strong>da</strong>mente.No texto “A metodologia de ensino dos esportes no marco doPrograma Segundo Tempo” (GRECO; SILVA, 2008), pode ser amplia<strong>da</strong>a informação sobre as seis capaci<strong>da</strong>des (biotipológica, socioambiental,técnica, tática, psicológica, motora) inerentes ao rendimento esportivo.O desenvolvimento de ca<strong>da</strong> uma dessas capaci<strong>da</strong>des de formaisola<strong>da</strong> não provoca os efeitos formativos e educacionais formulados no<strong>PST</strong>. Os conteúdos do ensino do esporte devem, impreterivelmente,ser relacionados com o ensino por meio do esporte, ou seja, a prática devalores, comportamentos, atitudes. 55 Fazer relação com o capítulo - Procedimentos Metodológicos para o Programa Segundo Tempo -<strong>PST</strong>, de Darido e Oliveira.AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)193Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec6:193 11/11/2009 10:16:15


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPONo marco do Programa Segundo Tempo, não se deve observar o rendimentoexclusivamente sob o ponto de vista motor; pelo contrário, quando crianças de8-10 anos jogam o Jogo <strong>da</strong> Velha, o professor deve estar atento às capaci<strong>da</strong>des(motoras, sociais, psicológicas...) que estão sendo solicita<strong>da</strong>s para concretizaras ações necessárias ao jogo. Por outro lado, não deve deixar de também estaratento às questões <strong>da</strong>s relações sociais que se estabelecem no jogo e seuscomponentes, e entre os alunos e suas relações.A ESTRUTURA TEMPORALExistem restrições ou contraindicações ao desenvolvimento dealgumas capaci<strong>da</strong>des ao longo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>? Quando é melhor desenvolverqual capaci<strong>da</strong>de? No processo educativo, torna-se necessário conheceras teorias desenvolvimentistas, porém, sem restrições a um modelo gerale único de desenvolvimento (veja aqui o capítulo “Estilos de Ensino eAprendizagem Motora: Implicações com a Prática”). Pelo contrário, apartir <strong>da</strong> análise <strong>da</strong> experiência, <strong>da</strong> história de aprendizagem dos alunos, oprofessor poderá interagir estabelecendo a distribuição e a estruturação deconteúdos ao longo <strong>da</strong>s diferentes faixas etárias, ou seja, contextualizandouma adequa<strong>da</strong> estrutura temporal.É importante compreender que vários conteúdos solicitam umconjunto de condições prévias para que o ensino provoque as mu<strong>da</strong>nçasobjetiva<strong>da</strong>s pelo Programa Segundo Tempo. Esses conteúdos estãopresentes em maior ou menor grau conforme as características culturais– meninos jogam e aprendem mais rápido futebol que as meninas? Naspopulações ribeirinhas, as crianças têm mais contato com a água e como nado que as de regiões de montanhas, portanto, aprendem esportesaquáticos com mais facili<strong>da</strong>de que seus colegas? As experiências de vi<strong>da</strong>,do nível de relacionamento com o ambiente (social, cultural e físico),e <strong>da</strong> história de aprendizado são elementos que confluem no processope<strong>da</strong>gógico. Portanto, devem ser observa<strong>da</strong>s na formulação <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>desno dia a dia do Programa Segundo Tempo (ver o capítulo “ProcedimentosMetodológicos para o Programa Segundo Tempo (<strong>PST</strong>), no qual você194AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec6:194 11/11/2009 10:16:15


ORGANIZAÇÃO E DESENVOLVIMENTO PEDAGÓGICO DO ESPORTE NO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOencontrará importantes relações desses aspectos procedimentais eatitudinais).No Sistema de Aprendizagem e Desenvolvimento Esportivo (SADE)do Programa Segundo Tempo, a estrutura temporal se constitui de quatroetapas: formação, transição, decisão e rea<strong>da</strong>ptação. Elas se compõeminternamente por diferentes fases que são relaciona<strong>da</strong>s entre si pelosobjetivos pe<strong>da</strong>gógicos.As etapas e fases que constituem estrutura temporal apresentamobjetivos específicos, que devem ser relacionados com fatores como acultura, o meio social, a história de aprendizagem, a i<strong>da</strong>de cronológica, aexperiência de movimentos, a maturi<strong>da</strong>de biológica, dentre outros. Duascrianças <strong>da</strong> mesma i<strong>da</strong>de não são iguais e precisam que o professor organizeo processo de ensino conforme suas necessi<strong>da</strong>des. Os objetivos específicosde ca<strong>da</strong> etapa <strong>da</strong> estrutura temporal estão concatenados e se relacionamentre si constantemente. Deve-se compreender que as etapas indicamuma necessi<strong>da</strong>de de não “atropelar” os processos de desenvolvimento ematuração. É obrigação ética do bom professor respeitar as necessi<strong>da</strong>dese características <strong>da</strong>s crianças e dos adolescentes participantes do ProgramaSegundo Tempo.As etapas sugeri<strong>da</strong>s visam a evitar o ensino de mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des esportivasde forma específica, o ensino do esporte nos moldes do esporte dos adultos,o ensino do esporte nos moldes <strong>da</strong> repetição de gestos do campeão. Tratasede uma formação que objetia evitar a especialização precoce.LEMBRE-SE: no interior <strong>da</strong>s etapas nas diferentes fases, apresentam-sedefasagens oriun<strong>da</strong>s <strong>da</strong> história de aprendizagem e <strong>da</strong> cultura <strong>da</strong> forma equanti<strong>da</strong>de de aquisição de experiências. Por isso, é necessário o professorestar atento no momento de trabalhar os diferentes conteúdos a seremdesenvolvidos. As etapas são orienta<strong>da</strong>s respeitando sempre os princípioséticos, mas não podem ser toma<strong>da</strong>s como “molde”, e sim como orientaçãopara a prática (ver as relações com capítulo “Estilos de Ensino e AprendizagemMotora: Implicações para a Prática”).No texto “A metodologia de ensino dos esportes no marco doPrograma Segundo Tempo” (GRECO; SILVA, 2008), o leitor encontraráAMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)195Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec6:195 11/11/2009 10:16:15


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOinformação amplia<strong>da</strong> sobre os conteúdos e as características <strong>da</strong>s diferentesetapas e fases que constituem a estrutura temporal.Figura 7: Etapas e fases <strong>da</strong> estrutura temporal.A ESTRUTURA METODOLÓGICANa estrutura metodológica, o processo é caracterizado pelas perguntas“como ensinar a fazer?”, “Como?”, “Qual o caminho a seguir no ensinoaprendizagem?”.Destaca-se como função <strong>da</strong> estrutura metodológicaconcretizar a relação entre os conteúdos (estrutura substantiva) coma adequação <strong>da</strong> sequência desses conteúdos (estrutura temporal),considerando permanentemente a reali<strong>da</strong>de cultural e social em que oPrograma Segundo Tempo se desenvolve.196AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec6:196 11/11/2009 10:16:15


ORGANIZAÇÃO E DESENVOLVIMENTO PEDAGÓGICO DO ESPORTE NO PROGRAMA SEGUNDO TEMPONa estrutura metodológica, organizam-se os conteúdos inerentes aosprocessos de aprendizagem tática e de aprendizagem motora, permitindoa sequência para um processo de treinamento.O método se constitui no caminho a seguir no processo de ensino.No Programa Segundo Tempo, a sequência sugeri<strong>da</strong> prioriza,primeiramente, os processos de aprendizado incidental (jogar paraaprender, sem a criança saber que se está aprendendo). Essa formade aprendizagem na iniciação esportiva enfatiza-se entre os 4-10/12anos de i<strong>da</strong>de (KRÖGER; ROTH, 2002; GRECO; BENDA, 2006).Posteriormente, o processo de ensino deverá ser complementadopelas metodologias intencionais de ensino-aprendizagem (métodopela compreensão, TGFU).Entre os métodos de ensino intencionais, sugere-se aplicar, nomarco do Programa Segundo Tempo, o “Modelo de ensino dos jogospara a compreensão (TGFU)”, formulado por Bunker e Thorpe(1982) e ampliado por Thorpe, Bunker e Almond (1986), Oslin,Mitchel e Griffin, (1998) e Griffin e Buttler (2005). A característicadesse método consiste na inversão do conceito de ensino existentenos métodos tradicionais (analítico-global e misto). Inicia-se oprocesso a partir <strong>da</strong> aprendizagem tática e <strong>da</strong> prática do esporte. NoBrasil, Souza (1999) aplicou essa forma metodológica e obteve bonsresultados.O método <strong>da</strong> compreensão tática implica um direcionamento <strong>da</strong>sativi<strong>da</strong>des para compreender os objetivos táticos específicos dos esportes,caracterizando o ensino a partir desse aspecto (<strong>da</strong> compreensão <strong>da</strong> lógicado jogo <strong>da</strong> análise crítica do jogo) para, posteriormente, se desenvolvera técnica como ferramenta para processar as soluções motoras (ver ocapítulo “Procedimentos Metodológicos para o Programa SegundoTempo (<strong>PST</strong>)” neste livro).Essa opção metodológica corrobora com a proposta apresenta<strong>da</strong>que destaca a sequência incidental-intencional e sempre com o jogo e aaprendizagem tática em primeiro lugar.No Programa Segundo Tempo, a proposta metodológicaincorpora gra<strong>da</strong>tivamente, nas etapas de orientação e direção,um equilíbrio entre ambas as formas possíveis de aprendizagem:AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)197Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec6:197 11/11/2009 10:16:16


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOo incidental e o formal. A Figura 8 apresenta o esquema de umapossível divisão dos métodos incidental e intencional do processo deensino-aprendizagem para o Programa Segundo Tempo.Figura 8: Divisão dos métodos incidentais e intencionaisde ensino-aprendizagem.CONCLUSÕESA proposta do Programa Segundo Tempo para a “Organização eDesenvolvimento Pe<strong>da</strong>gógico do Esporte” apoia-se em uma concepçãope<strong>da</strong>gógica que relaciona as estruturas necessárias à compreensão doprocesso de ensino-aprendizagem: estrutura substantiva (o que aprenderensinar),estrutura temporal (quando aprender-ensinar), estruturametodológica (como aprender-ensinar). A concepção pe<strong>da</strong>gógicarelaciona-se com as teorias desenvolvimentistas, porém não as “acata”em um sentido estrito; ao contrário, pelo referencial teórico <strong>da</strong> Teoria <strong>da</strong>Ação, na interação Pessoa-Tarefa-Ambiente, destaca-se a necessi<strong>da</strong>de de seconsiderar a história de aprendizado e as influências do ambiente culturale social <strong>da</strong>s crianças e dos jovens participantes do Programa SegundoTempo. O professor, conhecedor do local, saberá como introduzir ostemas com seu grupo.198AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec6:198 11/11/2009 10:16:16


ORGANIZAÇÃO E DESENVOLVIMENTO PEDAGÓGICO DO ESPORTE NO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOA concepção pe<strong>da</strong>gógica do esporte apresenta<strong>da</strong> considera asinter-relações <strong>da</strong>s estruturas (substantiva-temporal-metodológica) quecompõem o SADE a partir de uma premissa metodológica: primeirojogar para aprender e posteriormente aprender jogando. Assim, duasgrandes correntes do processo de ensino-aprendizagem são relaciona<strong>da</strong>s:o método incidental (aprender jogando) e o método intencional (jogarpara aprender).No Programa Segundo Tempo propõe-se que os participantesapren<strong>da</strong>m mais do que esportes: apren<strong>da</strong>m a gostar de esportes. Paraisso, inicia-se o processo de ensino-aprendizagem com a aprendizagemtática, integram-se jogos e brincadeiras populares e, paralelamente,complementam-se essas ativi<strong>da</strong>des com o processo de aprendizagemmotora, ou seja, jogos e exercícios para desenvolver as capaci<strong>da</strong>descoordenativas e as habili<strong>da</strong>des técnicas.O processo de aprendizagem tática solicita a compreensão <strong>da</strong> lógicados jogos. Portanto, a sequência de jogos para desenvolver as “Capaci<strong>da</strong>desTáticas Básicas” introduzem os princípios basilares para cumprimentodesse objetivo. Os “Jogos de Inteligência e Criativi<strong>da</strong>de Tática (JICT)”oferecem uma sequência no processo de ensino-aprendizagemrelacionando não só diferentes conteúdos táticos do jogo, como tambémos atos de perceber e decidir, saber o que e saber como fazer. O processode aprendizagem tática é complementado com os jogos a serem propostosnas denomina<strong>da</strong>s “Estruturas Funcionais”, em que o esporte é vivenciadoa partir de formas de jogo reduzi<strong>da</strong>s, com menos jogadores, mas que, pormeio de sua manipulação didática em relação à quanti<strong>da</strong>de de jogadores,uso do espaço, do curinga etc., é possível estimular o desenvolvimento <strong>da</strong>scapaci<strong>da</strong>des de percepção e de toma<strong>da</strong> de decisão específicas para resolveras situações de jogo. Destaca-se que essas situações são semelhantes àsencontra<strong>da</strong>s no jogo formal, no esporte.Em relação ao processo de desenvolvimento <strong>da</strong>s capaci<strong>da</strong>des inerentesà realização <strong>da</strong>s ações motoras, <strong>da</strong>s bases para a melhoria <strong>da</strong> motrici<strong>da</strong>de,é necessária uma adequa<strong>da</strong> sistematização no processo de ensino <strong>da</strong>scapaci<strong>da</strong>des coordenativas e <strong>da</strong>s habili<strong>da</strong>des técnicas comuns aos esportes.Assim, para melhorar as capaci<strong>da</strong>des coordenativas, é necessária a adequa<strong>da</strong>sequência de exercícios que focalizam os diferentes condicionantes depressão (são seis) <strong>da</strong> motrici<strong>da</strong>de. O processo de aprendizagem motora noPrograma Segundo Tempo é complementado com ativi<strong>da</strong>des e exercíciosAMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)199Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec6:199 11/11/2009 10:16:16


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOpara desenvolver as habili<strong>da</strong>des técnicas (são oito) necessárias a formaruma base geral para o posterior treinamento <strong>da</strong>s técnicas específicas <strong>da</strong>smo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des, como, por exemplo, a corta<strong>da</strong>, o toque, o lançamento emsuspensão etc.Essas ativi<strong>da</strong>des solicitam dos alunos a alternância <strong>da</strong> atenção e <strong>da</strong>dissociação de segmentos musculares, ou ambos simultaneamente, nomomento <strong>da</strong> realização.A capaci<strong>da</strong>de de jogo no Programa Segundo Tempo incorpora oselementos que constituem a ideia do jogo, complementando com saberfazer, por meio <strong>da</strong> melhoria <strong>da</strong>s capaci<strong>da</strong>des coordenativas, o que traz avariabili<strong>da</strong>de e a criativi<strong>da</strong>de, dois produtos necessários a todo processode aprendizagem.Ser professor é fácil; ser um bom professor solicita coragem, dedicação,tempo, estudo e, principalmente, o desejo de se sentir realizado ao vero progresso dos alunos.REFERÊNCIASBAYER, C. La enseñanza de los juegos deportivos colectivos. Barcelona:Hispano Europea, 1986.BUNKER, D.; THORPE, R. A model for the teaching of games in secon<strong>da</strong>ryschool. Bulletin of Physical Education, v. 18, n. 1, p. 5-8, 1982.BUTLER, J. How would Socrates teach Games? A constructivist approach.Journal of Physical Education, recreation and Dance, v. 6, n., p. 42-47.1997.GRAÇA, A.; OLIVEIRA, J. O ensino dos jogos esportivos coletivos. Porto:Centro de Estudos dos Jogos Esportivos/Universi<strong>da</strong>de do Porto. 1995.GRECO, P. J. O ensino do comportamento tático nos jogos esportivoscoletivos: aplicação no handebol. Campinas: Unicamp, 1995. 224 p. Tese(Doutorado em Educação), Facul<strong>da</strong>de de Educação, Universi<strong>da</strong>de de Campinas,1995.200AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec6:200 11/11/2009 10:16:16


ORGANIZAÇÃO E DESENVOLVIMENTO PEDAGÓGICO DO ESPORTE NO PROGRAMA SEGUNDO TEMPO______. Iniciação Esportiva Universal. Metodologia <strong>da</strong> iniciação esportiva naescola e no clube. Belo Horizonte: UFMG, 1998.______. O ensino-aprendizagem-treinamento dos esportes coletivos: uma análiseinter e transdiciplinar. In: GARCIA, E. S.; LEMOS, K. L. M. (Ed.). Temas atuaisem Educação Física e Esportes VII. Belo Horizonte: Health, 2002.GRECO, P. J.; BENDA, R. N. Iniciação esportiva universal. Da aprendizagemmotora ao treinamento técnico. Belo Horizonte: UFMG, 1998. v. 1.______. Iniciação ao esporte: uma escola <strong>da</strong> bola para crianças e adolescentes. In:DE ROSE JUNIOR, Dante (Ed.). Mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des esportivas coletivas. Rio deJaneiro: Guanabara Koogan, 2006.GRECO, P. J.; SILVA, S. A. A metodologia de ensino dos esportes no marcodo programa segundo tempo. In: OLIVEIRA, A. B.; PERIM, G. L. (Ed.).<strong>Fun<strong>da</strong>mentos</strong> pe<strong>da</strong>gógicos para o programa segundo tempo. Porto Alegre:UFRGS, 2008.GRECO, P. J.; ROTH, K.; SCHÖRER, J. Ensino-aprendizagem-treinamento<strong>da</strong> criativi<strong>da</strong>de tática nos jogos esportivos coletivos. In: GARCIA, E.; LEMOS,K. (Ed.). Temas atuais em Educação Física e Esportes IX. Belo Horizonte:Saúde, 2004.GRIFFIN, L. L.; BUTLER, J. I. Teaching games for understanding: theory,research, and practice. Champaign: Human Kinetics, 2005.HOLT, N. L.; STREAN, W. B.; BENGOECHEA, E. G. Expanding the teachinggames for understanding model: new avenues for future research and practice.Journal of Teaching in Physical Education, v. 21, p. 162-176, 2002.KRÖGER, C.; ROTH, K. Escola <strong>da</strong> bola: um ABC para iniciantes nos jogosesportivos. São Paulo: Phorte, 2002.LIGHT, R. Complex Learning Theory--Its Epistemology and Its AssumptionsAbout Learning: Implications for Physical Education. Journal of Teaching inPhysical Education, v. 27, n. 1, 2008.MCBRIDE, R. E. Critical thinking. An overview with implications for physicaleducation. Journal of Teaching in Physical Education, v. 11, p. 112-125,1991.MESQUITA, I.; GRAÇA, A. Modelos de Ensino dos Jogos Desportivos. In:TANI, G.; BENTO, J. O.; PETERSEN, R. D. S (Ed.). Pe<strong>da</strong>gogia do desporto.Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006.OLIVEIRA, A. A. B.; PERIM, G. L. (Org.). <strong>Fun<strong>da</strong>mentos</strong> pe<strong>da</strong>gógicos para oprograma segundo tempo, 2. ed., Maringá: Eduem, 2008.AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)201Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec6:201 11/11/2009 10:16:16


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOOSLIN, J. L.; MITCHELL, S. A.; GRIFFIN, L. L. The game performanceassessment instrument (GPAI): development and premliminary vali<strong>da</strong>tion.Journal of Teaching in Physical Education, v. 17, p. 231-243, 1998.ROTH, K. Como melhorar as capaci<strong>da</strong>des coordenativas. In: GARCIA, E.;LEMOS, K.; GRECO, P. J. (Ed.). Temas atuais em Educação Física e EsportesIII. Belo Horizonte: Health, 1998.ROTH, K.; RAAB, M.; GRECO, P. J. Das Modell der inzidentellenInkubation: eine Uberprufung der Kreativitatsentwicklung brasilianischerund deutsher Sporstspieler. Heidelberg: ISSW, 2000. (UnveroffentlichterProjektbericht).ROTH, K.; KRÖGER, C.; MEMMERT, D. Ballschule Ruckschlagspiele.Schorndorf: Hofmann, 2002.SOUZA, A. J. É jogando que se aprende: o caso do voleibol. In: PICCOLO, N.(Ed.). Pe<strong>da</strong>gogia dos esportes. Campinas: Papirus, 1999.THORPE, R.; BUNKER, D.; ALMOND, L. Rethinking games teaching.Loughborough: University of Technology, 1986.202AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec6:202 11/11/2009 10:16:16


ORGANIZAÇÃO E DESENVOLVIMENTO PEDAGÓGICO DO ESPORTE NO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOQuadro Síntese:Os 10 princípios <strong>da</strong> Iniciação Esportiva no Programa Segundo Tempo:1. To<strong>da</strong> metodologia deve estar integra<strong>da</strong> em um Sistema de Formaçãoe Desenvolvimento Esportivo – ensinar o esporte e ensinar pormeio do esporte.2. Resgatar as brincadeiras de rua <strong>da</strong>s crianças.3. Organizar o processo ensino-aprendizagem a partir dos elementos(táticos e técnicos) comuns dos esportes (BAYER, 1986).4. Iniciar o processo de ensino dos esportes com a aprendizagemtática.5. Construir um conjunto de ativi<strong>da</strong>des que permitam odesenvolvimento <strong>da</strong> lógica e <strong>da</strong> compreensão tática do jogo.6. Em hipótese alguma submeter as crianças e os iniciantes em gerala desgastantes processos de repetição de técnicas, possibilitando ojogar somente depois de se dominarem as técnicas.7. Respeitar a experiência de movimentos do iniciante, sua cultura demovimentos, sua história de aprendizado.8. Respeitar as diferenças culturais, a<strong>da</strong>ptando as ativi<strong>da</strong>des à reali<strong>da</strong>delocal, não aos interesses e às preferências do professor.9. Desenvolver um processo de corresponsabili<strong>da</strong>de (professoraluno),em que a filosofia implica construir juntos o processo deensino e aprendizagem com uma sequência <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des entre ospolos incidental e formal, integrando-os.10. Trabalhar em uma proposta que prioriza este conceito: jogar paraaprender e aprender jogando.AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)203Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec6:203 11/11/2009 10:16:16


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOQuestões Centrais para Reflexão:1 − Tendo em vista os conceitos apresentados, reflita sobre a importânciade se organizar adequa<strong>da</strong>mente o processo de ensino-aprendizagemdos esportes no marco do Programa Segundo Tempo.2 − Observe a necessi<strong>da</strong>de de se compreender o processo de ensinoaprendizadoa partir <strong>da</strong>s interações existentes ao se ensinaremesportes e se ensinar através do esporte.3 − Reflita sobre as considerações que solicitam, neste texto, acompreensão do processo de ensino-aprendizagem a partir de umainteração <strong>da</strong>s teorias desenvolvimentistas e sistêmicas, destacandoa importância de se considerar as crianças, adolescentes e os jovensparticipantes do Programa Segundo Tempo.4 − Reflita: que contribuição você encontra neste texto para suaformação e, consequentemente, para sua transferência no processode ensino-aprendizagem na formação <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia?5 − Observe: como envolver os alunos no trabalho diário, na construçãoe execução do projeto pe<strong>da</strong>gógico em prol de uma interação dessescom o Programa Segundo tempo?6 − Reflita sobre a importância de jogar para aprender e aprenderjogando na visão de um longo processo de formação, de educação ede marco de uma conquista <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia plena.7 − Reflita: como resgatar as brincadeiras de rua, os jogos típicos <strong>da</strong>scrianças <strong>da</strong> cultura local, como motivá-las a novos desafios semdeturpar sua identi<strong>da</strong>de e construir horizontes mais amplos que aslevem a uma formação integral, a desenvolver suas potenciali<strong>da</strong>des?204AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec6:204 11/11/2009 10:16:16


ORGANIZAÇÃO E DESENVOLVIMENTO PEDAGÓGICO DO ESPORTE NO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOOnde Saber Mais:AGUILÀ LASIERRA, G.; BURGUÊS, L. P. 1015 juegos y formas juga<strong>da</strong>s deiniciación a los deportes de equipo. Barcelona: Paidotribo, 2000. v. 2.BARBANTI, V. J.; AMADIO, A. C.; BENTO, J. O.; MARQUES, A. T.(Org.).Esporte e ativi<strong>da</strong>de física. Interação entre rendimento e saúde. São Paulo:Manole, 2002.BAYER, C. La enseñanza de los juegos deportivos colectivos. Barcelona:Hispano-Europea, 1986.BLÁZQUEZ SÁNCHEZ, D. Iniciación a los deportes de equipo: del juegoal deporte: de los 6 a los 10 años: Barcelona: Martínez Roca, 1986.CAVALI, D. Didáctica de los deportes de conjunto. Enfoques, problemas ymodelos de enseñanza. Buenos Aires: Stadium, 2008.DARIDO, S. C. A educação física na escola e o processo de formação dos nãopraticantes de ativi<strong>da</strong>de física. Revista Brasileira de Educação Física eEsportes, São Paulo, v. 18, n. 1, p. 61-80, jan./mar. 2004.DARIDO, S. C. Educação física na escola. Questões e Reflexões. Rio deJaneiro: Guanabara Koogan, 2003.DE ROSE JUNIOR, D. (Org.). Esporte e ativi<strong>da</strong>de física na infância e naadolescência: uma abor<strong>da</strong>gem multidisciplinar. Porto Alegre: Artmed, 2001.DE ROSE JUNIOR, D. (Org.). Mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des esportivas coletivas. 1. ed. Riode Janeiro: Guanabara Koogan, 2002.FREIRE, J.B. Pe<strong>da</strong>gogia do futebol. Campinas, SP: Autores Associados Brasil,2003.GAYA, A.; MARQUES, A.; TANI, G. (Org.). Desporto para crianças e jovens.razões e finali<strong>da</strong>des. Porto Alegre: UFRGS, 2004.GRAÇA, A., OLIVEIRA, J. O ensino dos jogos desportivos coletivos. Porto:Editora Universi<strong>da</strong>de do Porto, 1995.GRECO, P. J. O Ensino-Aprendizagem-Treinamento dos Esportes Coletivos:Uma análise inter e transdisciplinar. In: GARCIA, E. S.; LEMOS, K. L. M.:Temas Atuais VII em Educação Física e Esportes. Belo Horizonte: Health,2002.GRECO, P. J.; SILVA, S. A. A metodologia de ensino dos esportes no marco doprograma segundo tempo. In: OLIVEIRA, A. A. B.; PERIM, G. L. <strong>Fun<strong>da</strong>mentos</strong>AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)205Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec6:205 11/11/2009 10:16:16


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOpe<strong>da</strong>gógicos para o programa segundo tempo. Brasília: Ministério doEsporte, 2008.GRIFFIN, L. A.; MITCHELL, S. A.; OSLIN, J. L. Teaching sport conceptsand skills: a tactical approach. Londres: Champaign, 1997.OLIVEIRA, V.; PAES, R. R. A pe<strong>da</strong>gogia <strong>da</strong> iniciação esportiva: um estudo sobreo ensino dos jogos desportivos coletivos. Revista Digital, Buenos Aires, ano 10,n. 71, abr. 2004. Disponível em: http://efdeportes.com/Revista digital.PAES, R. R.; BALBINO, H. F. Pe<strong>da</strong>gogia do esporte: contextos e perspectivas.Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005.PIAGET, J. A toma<strong>da</strong> de consciência. São Paulo: Melhoramentos/USP, 1978.PIAGET, J. O desenvolvimento do pensamento. Lisboa: Dom Quixote,1977.POZZOBOM, M. E.; ASQUITH, A. Diferentes modelos de ensino dos jogosesportivos na educação física escolar. Buenos Aires, ano 7, n. 37, jun. 2001.Disponível em: http://efdeportes.com/Revista digital.READ, B., DAVIS, J. D. Enseñanza de los juegos deportivos: cambio deenfoque. Madrid: Apunts, 1990.SCAGLIA, A. J. Escola de futebol: uma prática pe<strong>da</strong>gógica. In: PICOLLO, V. N.Pe<strong>da</strong>gogia dos esportes. Campinas: Papirus, 1999.TANI, G.; MANOEL, E. J.; KOKUBUM, E.; PROENÇA, J. E. Educaçãofísica escolar - fun<strong>da</strong>mentos de uma abor<strong>da</strong>gem desenvolvimentista. São Paulo:EPU-EDUSP, 1988.TANI, G.; BENTO, J. O.; PETERSEN, R. D. S. (Eds.). Pe<strong>da</strong>gogia do Desporto.Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2007. p. 284-298.VYGOTSKY, L. S. A formação social <strong>da</strong> mente. São Paulo: Martins Fontes,1989.206AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec6:206 11/11/2009 10:16:16


PROCEDIMENTOSMETODOLÓGICOS PARA OPROGRAMA SEGUNDO TEMPOSuraya Cristina Darido 1Amauri Aparecido Bássoli de Oliveira 2INTRODUÇÃOO propósito deste texto é abor<strong>da</strong>r as questões metodológicas quedevem/podem ser adota<strong>da</strong>s no Programa Segundo Tempo. Em outraspalavras, o que se pretende discutir é “como” o professor deve ensinaresportes tendo em vista as finali<strong>da</strong>des propostas pelo Programa.É importante ressaltar que só é possível refletir sobre como o professordeve ensinar se estiverem muito claras quais são as metas, aonde se querchegar com o aluno e com o programa esportivo. Por isso, discutir“questões metodológicas” implica reconhecer o que move o professor aagir em sua prática; envolve, portanto, as suas concepções de humani<strong>da</strong>de,socie<strong>da</strong>de e de aluno.Neste texto, por uma questão de opção e disponibili<strong>da</strong>de de espaço,buscar-se-ão discutir os objetivos (para que ensinar) e conteúdos (o queensinar) do Programa Segundo Tempo de forma mais breve para detalharos aspectos relacionados ao “como” ensinar. Não é possível negar quediscutir o como/aspectos metodológicos seja um tema amplo e complexo,mas entende-se que há também uma necessi<strong>da</strong>de premente <strong>da</strong> área emapontar caminhos mais adequados sobre como fazer para formar ci<strong>da</strong>dãoscríticos e emancipados em programas de esporte educacional e, no casoespecífico deste texto, o como ensinar no Programa Segundo Tempo.1 Professora Adjunta <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Estadual Paulista – Rio Claro/SP.2 Professor Associado do Departamento de Educação Física <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Estadual de Maringá –(UEM). Coordenador Pe<strong>da</strong>gógico do Programa Segundo Tempo (SNEED/ME).Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec7:207 11/11/2009 10:16:16


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPONão se pretende neste texto abor<strong>da</strong>r to<strong>da</strong>s as possibili<strong>da</strong>desmetodológicas do ensino do esporte, mesmo porque elas deman<strong>da</strong>riamuma análise bastante extensa e, ain<strong>da</strong> assim, não to<strong>da</strong>s as variações. Épreciso deixar claro que, em outros trabalhos deste livro, é possível observarreflexões que levam à adoção de novos procedimentos metodológicos.No texto de planejamento do Programa Segundo Tempo, por exemplo,há a sugestão e o incentivo para trabalhar os alunos em grupos em vez depriorizar o trabalho individual.PARA QUE ENSINAR ESPORTES NO PROGRAMASEGUNDO TEMPO?Relembrando, os objetivos do Programa Segundo Tempo são osseguintes:a) Democratizar o acesso ao esporte educacional de quali<strong>da</strong>de comoforma de inclusão social, ocupando o tempo ocioso de crianças,adolescentes e jovens em situações de risco social.b) Oferecer práticas esportivas educacionais estimulando crianças,adolescentes e jovens a manter interação efetiva que contribuapara o seu desenvolvimento integral.c) Oferecer condições adequa<strong>da</strong>s para a prática esportiva dequali<strong>da</strong>de.Pode-se depreender que as metas são ambiciosas; pretende-se aformação integral, ou seja, formar um aluno crítico em relação aosaspectos <strong>da</strong> cultura corporal, que possa usufruir dessas práticas corporaisem benefício <strong>da</strong> sua quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong> e para o lazer. Mas o que issosignifica concretamente?208AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec7:208 11/11/2009 10:16:16


PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS PARA O PROGRAMA SEGUNDO TEMPOUm ponto de destaque nessa nova significação atribuí<strong>da</strong> ao esporte no ProgramaSegundo Tempo é que o esporte ultrapassa a ideia de estar voltado apenas para oensino <strong>da</strong>s técnicas, táticas e regras dos esportes, embora inclua esses aspectos.Muito mais que isso, cabe aos professores e monitores de Educação Físicavinculados ao Programa Segundo Tempo problematizar, interpretar, relacionar,desenvolver com seus alunos as amplas manifestações <strong>da</strong> cultura corporal, de talforma que os alunos compreen<strong>da</strong>m os sentidos e significados impregnados naspráticas corporais.Após o período formal de aulas de Educação Física escolar e doPrograma, os alunos devem ter condições de manter uma prática regularde ativi<strong>da</strong>de física, se assim desejarem, sem o auxílio de especialistas.Outro aspecto bastante importante dessa formação integral é o de que osalunos sejam capazes de reconhecer e repudiar os aspectos negativos queenvolvem as práticas corporais na socie<strong>da</strong>de, como, por exemplo, o usode anabolizantes no esporte de rendimento, a busca do corpo idealizadopela mídia, a violência entre as torci<strong>da</strong>s, ou seja, deve-se buscar garantira autonomia dos alunos para refletir, criticar e usufruir do conhecimentodo esporte obtido na escola e no Programa Segundo Tempo.Um paralelo com o ensino <strong>da</strong> matemática pode facilitar a compreensãodo que significa a busca <strong>da</strong> autonomia. Após o ensino <strong>da</strong> matemática naescola nos Ensinos Fun<strong>da</strong>mental e Médio, espera-se que os indivíduostenham condições de calcular trocos, reconhecer os índices de inflação,calcular aumentos salariais, interpretar gráficos etc. Na Educação Física,espera-se que o aluno seja autônomo em relação à cultura corporal, ou seja,tenha, após o período formal de aulas, condições de manter um programade ativi<strong>da</strong>de física regular, apreciar um jogo, reivindicar mais espaços delazer, compreender o papel do futebol na cultura brasileira, cui<strong>da</strong>r domeio ambiente, respeitar os diferentes grupos étnicos, compreender asdiferenças de sexo e suas possibili<strong>da</strong>des, entre outros.Na prática concreta de aula, isso significa que o aluno deve aprendera jogar queima<strong>da</strong>, futebol de casais ou basquetebol, mas, juntamente comesses conhecimentos, deve aprender quais os benefícios de tais práticas,porque se praticam tais manifestações <strong>da</strong> cultura corporal hoje, quais asrelações dessas ativi<strong>da</strong>des com a produção <strong>da</strong> mídia televisiva, imprensa,dentre outras. Dessa forma, mais que exclusivamente ensinar a fazer, oAMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)209Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec7:209 11/11/2009 10:16:16


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOobjetivo é que os alunos e alunas obtenham não só uma contextualização<strong>da</strong>s informações, como também apren<strong>da</strong>m a se relacionar com os colegas,reconhecendo quais valores estão por trás de tais práticas (DARIDO;RANGEL, 2005).Na ver<strong>da</strong>de, o que se está buscando é ampliar o leque de objetivosdos programas de iniciação esportiva. Para isso, é preciso discutir eanalisar novos conceitos de conteúdos, ou seja, o que deve ser ensinadonos programas de esporte do Programa Segundo Tempo quando se buscaa formação integral. Certamente, além de jogos, técnicas, regras, táticas,que são muito importantes, é preciso relacionar essas informações com osproblemas e a vi<strong>da</strong> dos alunos. Por isso, é importante ter como referênciaa classificação <strong>da</strong>s dimensões dos conteúdos em conceituais, atitudinais eprocedimentais, como já foi sinalizado para o Programa Segundo Tempopor Oliveira e Moreira (2008). Tais dimensões estão descritas/comenta<strong>da</strong>sa seguir.O QUE ENSINAR NO PROGRAMA SEGUNDO TEMPO?DIMENSÕES DOS CONTEÚDOS: CONCEITUAIS,PROCEDIMENTAIS E ATITUDINAISPara iniciar a discussão sobre conteúdos que podem ser abor<strong>da</strong>dosno Programa Segundo Tempo, é preciso esclarecer o seu conceito, umavez que este termo é tão utilizado quanto malcompreendido. Coll etal. (2000) definem conteúdo como uma seleção de formas ou saberesculturais, conceitos, explicações, raciocínios, habili<strong>da</strong>des, linguagens,valores, crenças, sentimentos, atitudes, interesses, modelos de condutaetc., cuja assimilação é considera<strong>da</strong> essencial para que se promovamdesenvolvimento e socialização adequados ao aluno.É importante ressaltar que nem todos os saberes e formas culturais sãosuscetíveis de constarem como conteúdos curriculares, o que exige umaseleção rigorosa <strong>da</strong> escola ou de outros espaços socioeducativos como oPrograma Segundo Tempo. Assim, conteúdos formam a base objetiva <strong>da</strong>instrução-conhecimento sistematiza<strong>da</strong> e são viabilizados pelos métodosde transmissão e assimilação (LIBÂNEO, 1994; COLL et al., 2000).210AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec7:210 11/11/2009 10:16:16


PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS PARA O PROGRAMA SEGUNDO TEMPOÉ preciso lembrar que, ao longo <strong>da</strong> história <strong>da</strong> educação, determinadostipos de conteúdos, sobretudo aqueles relativos a fatos e conceitos tiveram,e ain<strong>da</strong> têm, uma presença desproporcional nas propostas curriculares(COLL et al., 2000; ZABALA, 1998). O fato é que o termo "conteúdos"foi e ain<strong>da</strong> é utilizado para expressar o que se deve aprender, numa relaçãoquase exclusiva aos conhecimentos <strong>da</strong>s disciplinas referentes a nomes,conceitos e princípios. É comum observar alunos afirmando que taldisciplina tem “muito conteúdo”, sinalizando o excesso de informaçõesconceituais.Atualmente, há uma tentativa, de acordo com Zabala (1998), deampliar o conceito de conteúdo e passar a referenciá-lo como tudo o quedeve ser aprendido, que não apenas abrange as capaci<strong>da</strong>des cognitivas,como também inclui as demais capaci<strong>da</strong>des. Dessa forma, poderáser incluído de forma explícita, nos programas de ensino e de esporteeducacional, o que antes estava apenas no currículo oculto. Entende-sepor currículo oculto aquelas aprendizagens que se realizam na escola, masque não aparecem de forma explícita nos programas de ensino.Esta classificação, basea<strong>da</strong> em Coll, corresponde às seguintesquestões: “O que se deve saber?” (dimensão conceitual), “O quese deve saber fazer?” (dimensão procedimental) e “Como se deveser?” (dimensão atitudinal), com a finali<strong>da</strong>de de alcançar os objetivoseducacionais do Programa Segundo Tempo. Na ver<strong>da</strong>de, quando se optapor uma definição de conteúdos tão ampla, não restrita aos conceitos,permite-se que o currículo oculto possa se tornar manifesto e possa teravalia<strong>da</strong> a sua pertinência como conteúdo de aprendizagem e de ensino(ZABALA, 1998).A seguir são apresentados alguns exemplos de conteúdos quepodem ser tratados nas três dimensões em programas esportivos, como oPrograma Segundo Tempo.Dimensão conceituala) Conhecer as transformações pelas quais passou a socie<strong>da</strong>de emrelação aos hábitos de vi<strong>da</strong> (diminuição do trabalho corporal emAMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)211Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec7:211 11/11/2009 10:16:16


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOfunção <strong>da</strong>s novas tecnologias) e relacioná-las com as necessi<strong>da</strong>desatuais de ativi<strong>da</strong>de física.b) Conhecer as mu<strong>da</strong>nças pelas quais passaram os esportes. Porexemplo, saber que o futebol era jogado apenas pela elite em seuinício no país, que o voleibol mudou as suas regras em função <strong>da</strong>televisão etc.c) Conhecer os modos corretos <strong>da</strong> execução de vários exercícios epráticas corporais cotidianas, tais como: levantar um objeto dochão, como se sentar à frente do computador, como realizar umexercício abdominal adequa<strong>da</strong>mente etc.Dimensão procedimentala) Vivenciar e adquirir alguns fun<strong>da</strong>mentos básicos dos esportes,<strong>da</strong>nças, ginásticas, lutas, capoeira. Por exemplo, praticar a ginga ea ro<strong>da</strong> <strong>da</strong> capoeira.b) Vivenciar diferentes ritmos e movimentos relacionados às <strong>da</strong>nças,como as <strong>da</strong>nças de salão, regional e outras.c) Vivenciar situações de brincadeiras e jogos.Dimensão atitudinala) Valorizar o patrimônio de jogos e brincadeiras do seu contexto.b) Respeitar os adversários, os colegas e resolver os problemas comatitudes de diálogo e não de violência.c) Predispor-se a participar de ativi<strong>da</strong>des em grupos, cooperando einteragindo.c) Reconhecer e valorizar atitudes não preconceituosas quanto aosníveis de habili<strong>da</strong>de, sexo, religião e outras.212AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec7:212 11/11/2009 10:16:16


PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS PARA O PROGRAMA SEGUNDO TEMPOÉ importante frisar que, na prática docente, não há como dividir osconteúdos na dimensão conceitual, atitudinal e procedimental, emborapossa haver ênfases em determina<strong>da</strong>s dimensões. Por exemplo, o professorsolicita aos alunos que realizem o aquecimento no início de uma aula;enquanto eles executam os movimentos de alongamento e flexibili<strong>da</strong>de,o professor pode conversar com eles sobre qual a importância de realizartais movimentos, o objetivo do aquecimento, quais grupos muscularesestão sendo exigidos e outros. Assim, tanto a dimensão procedimentalcomo a conceitual estão envolvi<strong>da</strong>s na ativi<strong>da</strong>de.Pode-se ir mais longe com o mesmo exemplo: quando sugere queos alunos realizem esses exercícios em duplas, o professor deve tambémdiscutir a importância do respeito ao próprio limite e ao do colega. Dessemodo, estará sendo abor<strong>da</strong><strong>da</strong> a dimensão atitudinal.A Educação Física e os programas esportivos, ao longo de sua história, priorizaramos conteúdos numa dimensão quase exclusivamente procedimental, o fazer e nãoo saber sobre o fazer e a cultura corporal ou como se deve ser – embora estaúltima categoria aparecesse na forma de currículo oculto.Em pesquisa realiza<strong>da</strong> anteriormente por Darido (2003), ficou evidentea falta de tradição <strong>da</strong> área no encaminhamento dos conteúdos numadimensão conceitual. Por meio <strong>da</strong> observação <strong>da</strong>s aulas de sete professoresde Educação Física do Ensino Fun<strong>da</strong>mental e Médio, verificou-se queos professores não trabalham com conhecimentos acadêmicos nas aulasde Educação Física. Embora os professores pesquisados, todos com pósgraduação,afirmassem que um dos objetivos <strong>da</strong> Educação Física refere-seà busca <strong>da</strong> autonomia do aluno após o término <strong>da</strong> escolarização formal – eesta autonomia é facilita<strong>da</strong> a partir do momento em que o aluno conhece(portanto, em nível cognitivo) a importância <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de física, os seusbenefícios, as melhores maneiras de realizá-la, as principais modificaçõesocorri<strong>da</strong>s no ser humano em função <strong>da</strong> prática <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de física, alémdo conhecimento sobre o contexto <strong>da</strong>s diferentes práticas corporais – elesnão trabalhavam os conteúdos em uma dimensão conceitual.Em outras palavras, a discussão sobre a inclusão desses conteúdosna área é extremamente recente e há dificul<strong>da</strong>des na seleção e naAMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)213Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec7:213 11/11/2009 10:16:16


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOimplementação de conteúdos relevantes. Muitas vezes, a comuni<strong>da</strong>de nãooferece respaldo para os professores trabalharem com esta proposta. Alémdisso, os alunos são bastante resistentes às propostas que incluam umadiscussão mais sistematiza<strong>da</strong> sobre a dimensão conceitual e atitudinal emsuas aulas, até porque há uma tradição muito acentua<strong>da</strong>, nos programasesportivos, de que a prática é muito diverti<strong>da</strong> porque se resume ao fazer,ao brincar e não ao compreender os seus sentidos e significados.Assim, o papel dos programas esportivos, e como consequência doPrograma Segundo Tempo voltado à formação do ci<strong>da</strong>dão, consiste emensinar esporte, ginástica, <strong>da</strong>nça, jogos, ativi<strong>da</strong>des rítmicas, expressivas econhecimento sobre o próprio corpo para todos, em seus fun<strong>da</strong>mentose técnicas (dimensão procedimental). Inclui também os seus valoressubjacentes, ou seja, quais atitudes os alunos devem ter nas e para asativi<strong>da</strong>des corporais (dimensão atitudinal). Finalmente, consiste embuscar garantir o direito do aluno de saber o porquê de estar realizandoeste ou aquele movimento, isto é, quais conceitos estão ligados àquelesprocedimentos (dimensão conceitual).Na Educação Física escolar e também nos programas de esporte, por contade sua trajetória histórica e <strong>da</strong> sua tradição, a preocupação do professor centralizaseno desenvolvimento de conteúdos de ordem procedimental. Entretanto,é preciso superar essa perspectiva fragmenta<strong>da</strong>, envolvendo, também, asdimensões atitudinal e conceitual. Ao concor<strong>da</strong>r-se que é preciso abor<strong>da</strong>rconteúdos em suas três dimensões, os procedimentos metodológicos deverão<strong>da</strong>r suporte a essa concepção. Assim, pode-se pensar como procedimentosmetodológicos a utilização de painéis com informações sobre cultura e esporte,ro<strong>da</strong>s de conversas e debates, estímulo à observação de filmes e programasesportivos, enfim, metodologias de ensino que ampliem o conhecimento doaluno sobre o mundo em que ele vive.SUGESTÕES METODOLÓGICASA questão que se coloca é a seguinte: Como se deve ensinar futebol,basquete, vôlei, handebol, tênis de mesa, atletismo, ginástica, xadrez e214AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec7:214 11/11/2009 10:16:16


PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS PARA O PROGRAMA SEGUNDO TEMPOoutras práticas corporais tendo em vista garantir a formação do ci<strong>da</strong>dãocrítico e emancipado?Inclusão e acolhimentoDesenvolver um ensino inclusivo pode aju<strong>da</strong>r a superar ohistórico <strong>da</strong> Educação Física e do ensino de esportes – que, emmuitos momentos, pautou-se por classificar os indivíduos em aptose inaptos, excluindo os últimos <strong>da</strong>s práticas esportivas. Deve-se levarem conta também que, mesmo alertados para a exclusão de grandeparte dos alunos, muitos professores apresentam dificul<strong>da</strong>des emrefletir e modificar procedimentos e ativi<strong>da</strong>des excludentes, devidoao enraizamento de tais práticas. Por exemplo, alguns professorespropõem jogos em que os alunos que ganham permanecem maistempo em quadra jogando, em detrimento dos demais. Ações comoessa podem indicar que o professor privilegia os mais aptos, o que deveser evitado veementemente!Quando o professor desenvolve efetivamente uma atitude inclusiva?Quando apoia, estimula, incentiva, valoriza, promove e acolhe oestu<strong>da</strong>nte.Todos os alunos precisam ouvir de seus professores: “Você pode!”.Esse incentivo não precisa ser expresso necessariamente por palavras,mas por atitudes de aju<strong>da</strong> efetiva. Por sua posição, o professor exercegrande influência sobre os alunos; a forma como os vê interfere nãosó nas relações que estabelece com eles, mas também na construção<strong>da</strong> autoimagem de ca<strong>da</strong> estu<strong>da</strong>nte. Se o professor não acredita que oaluno possa aprender, acaba por convencê-lo disso. Mesmo que nãoexplicite verbalmente, sua forma de agir, suas expressões e seu tomde voz podem conter mensagens que dizem muito. As estratégiasescolhi<strong>da</strong>s devem não apenas favorecer a inclusão, como tambémdiscuti-la e torná-la clara para os alunos.Uma característica bastante comum é a existência de turmasextremamente heterogêneas, principalmente em virtude <strong>da</strong>s diferentesexperiências anteriores dos alunos com a cultura corporal.AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)215Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec7:215 11/11/2009 10:16:17


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOO professor deve partir sempre do pressuposto que o Programa Segundo Temponão visa exclusivamente ao rendimento e deve deixar isso claro para seus alunos,valorizando as diferentes formas de expressão, ou seja, não é porque um aluno nãopossui habili<strong>da</strong>de refina<strong>da</strong> no futebol que deve ser tratado de forma inferioriza<strong>da</strong>nas aulas. Muitas vezes, esse aluno possui uma maior afini<strong>da</strong>de com outroscomponentes <strong>da</strong> cultura corporal ou com outras habili<strong>da</strong>des. Assim, deve-se nãoapenas respeitar, mas também mostrar aos alunos que é importante valorizar asdiferentes formas de expressão.Exemplo: Com relação a um aluno que tenha muita dificul<strong>da</strong>de paraaprender determinado fun<strong>da</strong>mento, o professor pode apoiá-lo, elogiar osseus progressos, incentivá-lo a realizar o movimento fora <strong>da</strong> aula, enfim,se interessar pelo aluno.ContextualizaçãoO tratamento contextualizado é o recurso de que o professor develançar mão para retirar o aluno <strong>da</strong> condição de espectador passivo doprocesso de conhecimento.É possível generalizar a contextualização como recurso para tornar aaprendizagem significativa ao associá-la a experiências <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> cotidiana ou aconhecimentos adquiridos espontaneamente. As visões, fantasias e decisõessobre o próprio corpo e a saúde, base para um desenvolvimento autônomo,poderão ser mais bem orienta<strong>da</strong>s se as aprendizagens escolares estiveremrelaciona<strong>da</strong>s significativamente com as preocupações comuns na vi<strong>da</strong> de todojovem – preocupações como aparência, sexuali<strong>da</strong>de e reprodução; hábitos dealimentação; limites, capaci<strong>da</strong>de física; consumo de drogas; papel do esporte;repouso, ativi<strong>da</strong>de e lazer; padrões de beleza e saúde corporal impostos pelamídia e pelo contexto. Caberá ao professor reconhecer e estar atento a essestemas, revendo cientificamente a importância dessas questões e passando atratá-las de forma pe<strong>da</strong>gógica em suas aulas, de modo a tornar a aprendizagemmais significativa para os alunos.216AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec7:216 11/11/2009 10:16:17


PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS PARA O PROGRAMA SEGUNDO TEMPOExemplo: Aproveitar as situações que são com frequênciaabor<strong>da</strong><strong>da</strong>s pela mídia, como casos de juízes que frau<strong>da</strong>m o resultadode um jogo ou de jovens que utilizam anabolizantes para aumentar amassa muscular. Procurar discutir as razões, os efeitos, a socie<strong>da</strong>de eo consumo. Outra forma de buscar contextualizar as informações étrazer para a aula discussões sobre o que está ocorrendo nos esportesem época de grandes competições, exaustivamente trata<strong>da</strong>s na mídia,como os Jogos Olímpicos, Jogos Pan-Americanos e CampeonatosMundiais de Futebol.Participação ativa dos alunos, ro<strong>da</strong>, modificação<strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des e <strong>da</strong>s regras dos jogosRecomen<strong>da</strong>-se iniciar e finalizar as aulas em ro<strong>da</strong>. Na ro<strong>da</strong> inicial,todos os alunos se posicionam lembrando o que foi realizado na últimaaula e trazendo informações sobre algum fato ou observação do cotidianoesportivo, ou simplesmente é apresentado o que será aprendido naquelaaula. Na ro<strong>da</strong> final, podem-se discutir os erros, os acertos, o que foiaprendido, o que faltou para ser complementado, o que será trabalhadono próximo encontro, além de outros aspectos que o professor e os alunosjulgarem importantes. Na ro<strong>da</strong> não há início nem fim; há um sentido deigual<strong>da</strong>de e união, na qual todos falam e são ouvidos, enfim, um espaçocoletivo.A ro<strong>da</strong> propicia a aprendizagem de ouvir o colega, aguar<strong>da</strong>r a suavez de falar, respeitar opiniões, argumentar, discor<strong>da</strong>r, concor<strong>da</strong>r, entreoutros.Além <strong>da</strong> participação dos alunos nas ro<strong>da</strong>s, é importante garantira sua participação ativa em to<strong>da</strong>s as ativi<strong>da</strong>des. Pode-se, inclusive,sempre que possível, solicitar aos alunos que indiquem caminhos paramodificar os jogos, as ativi<strong>da</strong>des propostas pelos professores, bemcomo as regras dos jogos e dos esportes. Essa é uma forma de trazer oaluno para a aula, respeitar as suas contribuições e torná-lo mais ativoe participante.Exemplo: Depois de um mesmo time realizar alguns golsconsecutivos o(a) professor(a) intervém e reflete, com a equipe queAMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)217Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec7:217 11/11/2009 10:16:17


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOestá frágil, uma forma de se proteger melhor do ataque adversário.Destaca-se que deve haver um incentivo a que os participantes opineme analisem a situação e proponham soluções ao problema. Não setrata de ficar um tempo enorme na reflexão, mas de incentivar osparticipantes a analisar o quadro e apresentar uma possível solução.Essa ação deve se repetir tantas vezes quantas forem necessárias para odevido aprendizado do que, para a situação vivencia<strong>da</strong>, está relacionadoà estratégia de defesa e ataque.A integração do Programa Segundo Tempoao projeto pe<strong>da</strong>gógico <strong>da</strong> escola,à família e à comuni<strong>da</strong>deO Programa Segundo Tempo, quando desenvolvido nas escolas,coloca-se como mais uma ação formativa do pacote escolar, ou seja,atua em consonância com a proposta pe<strong>da</strong>gógica <strong>da</strong> escola e emcontribuição às ações e aos propósitos idealizados em seu ProjetoPe<strong>da</strong>gógico. Nesse sentido, faz-se necessário deixar claro que, mesmotendo essa participação e vinculação com a proposta <strong>da</strong> escola, elenão deve e não pode substituir as aulas curriculares de EducaçãoFísica.Por mais que se assemelhem, os propósitos são distintos naorigem <strong>da</strong>s ações. A função <strong>da</strong>s aulas de Educação Física passapelo processo formativo e informativo constituído no propósito<strong>da</strong> educação e vinculado às demais áreas do conhecimento queintegram o sistema. A função do Programa Segundo Tempo édisponibilizar um espaço adicional a esse processo formativo, porémsem a função de substituí-lo. É evidente que as possibili<strong>da</strong>des doPrograma Segundo Tempo poderão e deverão, no setor educacional,potencializar os conhecimentos trabalhados na disciplina <strong>da</strong> EducaçãoFísica, <strong>da</strong> mesma forma que ampliará as vivências em outras açõesculturais relaciona<strong>da</strong>s às artes, à <strong>da</strong>nça, à cultura geral e ao processoinclusivo.218AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec7:218 11/11/2009 10:16:17


PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS PARA O PROGRAMA SEGUNDO TEMPOOutro aspecto para o qual chama-se a atenção é a necessi<strong>da</strong>de de aproximação<strong>da</strong> família dos participantes às ações dos Núcleos. É imprescindível que os paise/ou cui<strong>da</strong>dores saibam exatamente o que se faz no Programa Segundo Tempo.A falta de conhecimento adequado pode levar à desvalorização e entendimentode que as ações do Programa não passam de momentos sem importância para osparticipantes, podendo causar evasão e uso do Programa apenas como um espaçode depósito ou de prêmio ou castigo pelo desempenho escolar ou por outrasações dos participantes.Levar os pais ao entendimento e à participação <strong>da</strong>s ações do ProgramaSegundo Tempo pode causar uma diferença significativa na valorização<strong>da</strong>s ações desenvolvi<strong>da</strong>s. Assim, procurar organizar e desenvolver açõesque estimulem essa interação é fun<strong>da</strong>mental para o sucesso do Núcleo.Exemplos: Uma maneira interessante de aproximar a comuni<strong>da</strong>de <strong>da</strong>escola é, sempre que possível, realizar palestras, oficinas ou aulas abertasem que as pessoas de alguma forma liga<strong>da</strong>s à cultura corporal relatemsuas experiências com <strong>da</strong>nça, esporte, ginástica, lutas, primeiros socorros,orientação postural e outros temas relacionados ao esporte.Outra forma de aproximar é aproveitar as experiências dos pais emrelação ao esporte e à cultura corporal, oportunizando-lhes que relatemaos filhos e demais participantes essas vivências. É possível também odesenvolvimento de eventos esportivos com a participação dos pais.Há, ain<strong>da</strong>, a possibili<strong>da</strong>de de eventos com a participação dos paisna organização, logística e até mesmo na divulgação. Com a famíliaenvolvi<strong>da</strong>, pode-se ter a chance de um avanço social ampliado, pois todospodem aprender coletivamente desde o esporte até as regras básicas deconvivência <strong>da</strong> escola e <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de.Diversificação <strong>da</strong>s aulas, dos espaços,dos materiais e <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>desAs aulas do Programa Segundo Tempo devem ser diversifica<strong>da</strong>s tantoquanto possível, ou seja, o aluno não pode chegar e achar que sempre haveráAMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)219Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec7:219 11/11/2009 10:16:17


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOo mesmo jogo, ou a mesma ativi<strong>da</strong>de, sempre no mesmo espaço e com osmesmos materiais. Isso pode tornar a prática repetitiva e motivar apenas ogrupo mais habilidoso e os que apreciam os famosos “rachões”. Na ver<strong>da</strong>de,aulas repeti<strong>da</strong>s podem aumentar as chances de evasão dos participantes doPrograma.A diversificação favorece a inclusão e autonomia dos alunos, doisaspectos fun<strong>da</strong>mentais do Programa Segundo Tempo. A inclusão éfacilita<strong>da</strong>, pois, à medi<strong>da</strong> que há diversificação de práticas, há mais chancede identificação dos alunos com alguma ativi<strong>da</strong>de.Já a autonomia pode ser estimula<strong>da</strong> quando o professor lhes oferecepossibili<strong>da</strong>de de escolherem os times, definirem os agrupamentos,distribuírem-se pelo espaço, participarem <strong>da</strong> construção e adequação demateriais, <strong>da</strong> elaboração e modificação <strong>da</strong>s regras etc. Inclui-se o espaçopara discussão <strong>da</strong>s melhores táticas, técnicas e estratégias. Em outraspalavras, a autonomia é facilita<strong>da</strong> quando se estimula o aluno a participar<strong>da</strong>s discussões e reflexões em aula.Assim, para o que o Programa Segundo Tempo promova de fato aautonomia, é necessário que os encontros se tornem diferentes, tantodo ponto de vista <strong>da</strong> escolha sobre o que se deve ensinar (conteúdos),como pelos procedimentos que os professores deverão utilizar nessesencontros.As aulas do Programa não podem se concentrar apenas em quadrase materiais esportivos como bolas e redes. Na concepção do programa,as ativi<strong>da</strong>des e os procedimentos didáticos exigem uma variação muitomaior e, ao mesmo tempo, possibilitam maior flexibilização por meio <strong>da</strong>utilização de espaços e materiais “alternativos”.É importante frisar que as vivências e os conhecimentos trabalhadosno Programa Segundo Tempo devem transcender a ação pela ação, ouseja, devem ser pensados e idealizados para além do momento de suarealização. As experiências a serem organiza<strong>da</strong>s e desenvolvi<strong>da</strong>s precisamser pensa<strong>da</strong>s procurando ter uma relação com o cotidiano dos participantesvisando a ampliar as condições existentes, seja para uma prática de esporte,de convívio, de trabalho ou de subsistência.Exemplos: É possível utilizar os espaços vizinhos a escolas, praças eparques públicos e, dependendo do contexto geográfico, praias, rios oumontanhas para o desenvolvimento <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des cotidianas e também220AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec7:220 11/11/2009 10:16:17


PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS PARA O PROGRAMA SEGUNDO TEMPOde ativi<strong>da</strong>des complementares. Quando possível, as aulas também podeme devem ser desenvolvi<strong>da</strong>s em salas de aula, laboratórios de informática,salas de vídeo, bibliotecas etc.Um procedimento que pode ser utilizado nas aulas é estimular osalunos a praticarem as habili<strong>da</strong>des aprendi<strong>da</strong>s nas aulas também em casa,com materiais alternativos. Por exemplo, o aro <strong>da</strong> cesta de basquete podeser substituído por latas de lixo ou outros materiais. É uma proposta queestimula a prática <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de para além dos horários formais.CoeducaçãoObservando a prática docente, tanto na escola como em programasesportivos, percebe-se que há certa dificul<strong>da</strong>de no encaminhamento depropostas de co-educação, ou seja, aulas em que os meninos realizam asativi<strong>da</strong>des com as meninas, aulas em que o respeito pelas diferenças édiscutido e vivenciado.Na ver<strong>da</strong>de, a Educação Física na escola separava os meninos <strong>da</strong>smeninas sem qualquer discussão até meados <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 1980, o que,historicamente, significa até “ontem”. É somente a partir desse períodoque se inicia o debate em busca <strong>da</strong> coeducação.Podemos constatar que, por força do processo de transmissãocultural, reforçam-se os preconceitos, colaborando para que as meninasnão tenham as mesmas experiências dos meninos e cria-se uma cadeia desituações que leva à exclusão e à falta de motivação por parte delas quantoà prática do esporte (SOUZA JUNIOR; DARIDO, 2003).É importante destacar que existem de fato inúmeras diferenças entrerapazes e garotas. Desde a infância, os meninos são incentivados a praticaras brincadeiras mais agressivas e mais livres: jogar bola na rua, soltar pipa,an<strong>da</strong>r de bicicleta, rolar no chão, escalar muros e realizar várias outrasativi<strong>da</strong>des que envolvem riscos e desafios. As meninas, ao contrário, sãodesencoraja<strong>da</strong>s de praticar tais brincadeiras e ativi<strong>da</strong>des. Esse tratamentodiferenciado reflete-se em desempenho motor igualmente diferenciado.Além de estimular o reconhecimento e a reflexão sobre as diferençasentre os alunos, o professor pode utilizar o esporte e outras práticasAMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)221Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec7:221 11/11/2009 10:16:17


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOcorporais como meio eficaz de ensinar aos jovens a tolerância e a aceitação<strong>da</strong>s características individuais.São inegáveis as muitas diferenças no comportamento de meninose meninas. Reconhecê-las e trabalhar para não transformá-las emdesvantagens é papel de todo educador. Estar atento às questões degênero durante as aulas de esporte é uma forma de aju<strong>da</strong>r os jovens aconstruir relações com equi<strong>da</strong>de, respeito pelas diferenças, somandoe complementando o que homens e mulheres têm de melhor,compreendendo o outro e, com isso, aprendendo a serem pessoas maisabertas e equilibra<strong>da</strong>s.Para tanto, é importante que o professor evite atitudes sexistas –como relacionar as meninas por último, escolher apenas meninos parafazer demonstrações e dirigir sua atenção preferencialmente aos meninos.Além disso, deve evitar pia<strong>da</strong>s e linguagem com conotações sexistas(“marcação homem-homem” em jogo de mulheres) e utilizar estratégiasde modelização com fotos e desempenhos de jogadores e jogadoras defutebol, para ficar num único e corriqueiro exemplo (FARIAS JUNIOR,1995).A a<strong>da</strong>ptação e a modificação de ativi<strong>da</strong>des no sentido de contemplara heterogenei<strong>da</strong>de do grupo devem estender-se a to<strong>da</strong>s as situações nasquais o professor perceba algum aluno afastado – o que pode ocorrer pordiferentes razões, como graus de habili<strong>da</strong>de, gênero, nível de força, classesocial etc. O professor deve estar atento e identificar essas situações paraencaminhar alternativas que possam ser construí<strong>da</strong>s em conjunto comos estu<strong>da</strong>ntes. Para saber mais sobre essa temática, você encontra, nestemesmo livro, o capítulo “Corpo, gênero e sexuali<strong>da</strong>de”.Exemplo: Em situações de coeducação, os professores podem, porexemplo, estimular uma reflexão de mu<strong>da</strong>nças de regras que visemcontemplar as diferenças de sexo. Numa ativi<strong>da</strong>de de prática do futebol,pode-se estabelecer que dois chutes sucessivos a gol não possam ser <strong>da</strong>dospor jogadores do mesmo sexo, de modo que ca<strong>da</strong> tentativa a gol exijaa intervenção precedente de jogador de outro sexo (o menino passa abola e a menina tenta a finalização a gol, ou vice-versa), dentre outrasregras. É indispensável que as regras alternativas sejam discuti<strong>da</strong>s com ogrupo, para facilitar a participação de todos e permitir uma reflexão sobrea diversi<strong>da</strong>de. A ação comunicativa favorece o aprendizado e tambémcontribui no processo de se posicionar perante o grupo. Essa exposição é222AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec7:222 11/11/2009 10:16:17


PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS PARA O PROGRAMA SEGUNDO TEMPOmuito importante no processo formativo <strong>da</strong>s crianças e dos adolescentes;portanto, deve ser estimula<strong>da</strong> e valoriza<strong>da</strong> com chances de participaçãoefetiva de todos.As regras, os combinados e aindisciplina dos alunosUm dos problemas que mais aflige os professores atualmente é o<strong>da</strong> indisciplina dos alunos, à medi<strong>da</strong> que aumentam os atos de agressão,violência, depre<strong>da</strong>ção e desrespeito. Embora seja constantementemenciona<strong>da</strong>, atingindo, às vezes, níveis alarmantes, a indisciplina nãopossui um diagnóstico simples, e as propostas de solução estão longe deserem alcança<strong>da</strong>s.A indisciplina tem uma série de razões. Uma delas refere-se àsdificul<strong>da</strong>des que, atualmente, muitos pais enfrentam em impor limites aosfilhos – na maioria dos casos, porque não permanecem tempo suficientecom os seus filhos e, quando os veem, preferem não discutir. Além disso,vive-se uma crise de valores, sobretudo com a imposição de referenciaismidiáticos, nos quais vale mais a aparência que o conhecimento ou oengajamento social.Outra razão possível para a indisciplina refere-se ao novo ritmo navi<strong>da</strong> dos meninos e <strong>da</strong>s meninas marcado pelas novas tecnologias. Asimagens <strong>da</strong> TV são muito rápi<strong>da</strong>s, os cortes são alucinantes, assim comoos jogos de computadores e de videogames, o que pode mu<strong>da</strong>r a percepçãodos jovens.Na ver<strong>da</strong>de, o tema <strong>da</strong> indisciplina é bastante complexo e delicado.É complexo porque envolve, no mínimo, duas dimensões: a política,<strong>da</strong>s relações democráticas penetrando em várias instituições, a destacara família e a escola; e a ética, <strong>da</strong> falta de limites, que traduz uma crise devalores. É também delicado porque pode promover retrocessos na leiturado problema, trazendo à tona novamente um autoritarismo injustificávelde tempos não muitos distantes (LA TAILLE, 1996).O autor acima define a disciplina como comportamento regido porum conjunto de normas. A partir desse conceito, traduz a indisciplinade duas formas, sendo a primeira a revolta contra essas normas e aAMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)223Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec7:223 11/11/2009 10:16:17


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOsegun<strong>da</strong> o desconhecimento delas. No primeiro caso, a indisciplinatraduz-se em uma forma de desobediência insolente; no segundo caso,pelo caos dos comportamentos, pela desorganização <strong>da</strong>s relações. Issoestaria sendo traduzido nas aulas como bagunça, tumulto, falta delimites, maus comportamentos, desrespeito a figuras de autori<strong>da</strong>desetc.Alves (2002) ressalta que o aluno não pode ser o único culpadopelo acontecimento <strong>da</strong> indisciplina, pois as questões sociais referentes àfamília, à instituição escolar, à política, à religiosi<strong>da</strong>de ou a qualquer outroâmbito social também são fatores que contribuem para a sua ocorrência.A autora ain<strong>da</strong> considera que, se as propostas curriculares estabeleci<strong>da</strong>s,a metodologia utiliza<strong>da</strong> e a postura adota<strong>da</strong> pelo professor foreminadequa<strong>da</strong>s ao contexto em que se inserem, a possibili<strong>da</strong>de de surgir ocomportamento indisciplinado será maior.Assim, a indisciplina parece ser causa<strong>da</strong> pela soma de diversas razõesdistribuí<strong>da</strong>s igualmente entre escola, família, desigual<strong>da</strong>de social, aluno eprofessor.Com relação ao Programa Segundo Tempo, a dinâmica <strong>da</strong>s aulas,por meio de ativi<strong>da</strong>des liga<strong>da</strong>s a conteúdos de jogos, esportes, <strong>da</strong>nças,lutas e ginásticas, maximiza os conflitos e as questões liga<strong>da</strong>s a atitudese valores.O mais importante para li<strong>da</strong>r com a questão <strong>da</strong> indisciplina é o professor definir,em conjunto com os alunos, as regras de convivência que serão utiliza<strong>da</strong>s eas sanções a partir do não cumprimento <strong>da</strong>s regras. Tão importante quanto adefinição <strong>da</strong>s regras é apresentar as razões pelas quais as regras estão sendocoloca<strong>da</strong>s, ou seja, expor os princípios <strong>da</strong>s regras.Exemplo: O professor, ao desenvolver uma ativi<strong>da</strong>de esportiva,percebe que alguns participantes estão burlando as regras em proveito<strong>da</strong> sua equipe. Ao tomar a atitude de coibir a ação, é desrespeitado pelogrupo. Esse é o momento propício de se parar a ativi<strong>da</strong>de e levar todos arefletirem o que se passa. Algumas questões básicas podem ser coloca<strong>da</strong>spelo professor:224AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec7:224 11/11/2009 10:16:17


PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS PARA O PROGRAMA SEGUNDO TEMPOa) As regras coloca<strong>da</strong>s não estão de acordo com o que vocêsquerem?b) Alguém está se sentido prejudicado com as regras coloca<strong>da</strong>s?c) Se as regras estão de acordo, por que devemos obedecê-las e/oucumpri-las?d) Que relação existe em obedecer e/ou desrespeitar as regras emnosso cotidiano?e) E o respeito ao professor? O que significa um professor para asocie<strong>da</strong>de?f) O que o esporte nos ensina para nossas vi<strong>da</strong>s?g) Queremos ou não participar do Programa Segundo Tempo?Tais questionamentos são básicos para que haja o entrosamento e oentendimento de que só há condições de avanços se houver respeito econsideração com os acordos estabelecidos e com os colegas envolvidos.A prática e as filasMuitos professores ain<strong>da</strong> têm dificul<strong>da</strong>des em organizar as ativi<strong>da</strong>desesportivas de modo a evitar longas filas, principalmente quando ensinamfun<strong>da</strong>mentos esportivos. A organização <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de faz com que muitosalunos permaneçam um tempo grande nas filas, o que estimula atos deindisciplina e impede a prática que leva à aprendizagem.Os professores devem ter como lema básico de que todos devemestar em ação o tempo todo. Isso exige que o planejamento e aorganização <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des prevejam o quantitativo de crianças participantes,quanti<strong>da</strong>de de materiais disponibilizados e espaço. É inconcebível que ascrianças fiquem em filas de estafetas por mais de três ou quatro minutosem compasso de espera. Essa condição com certeza desestimulará aconcentração e o envolvimento <strong>da</strong>s crianças na ação. Os professoresdevem ficar atentos a isso e evitarem ao máximo essas situações. Em casosespeciais, procurem organizar uma situação que, mesmo em situação deespera, os participantes tenham uma função relaciona<strong>da</strong>, pois dessa formase sentirão envolvidos e atuantes.AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)225Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec7:225 11/11/2009 10:16:17


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOExemplo: Quando a proposta for a de realizar ativi<strong>da</strong>des de estafeta,é possível dividir os alunos em vários grupos, evitando longas filas. Porexemplo, ao invés de utilizar dois grupos de 15 alunos, preferir 5 gruposcom 6 alunos ca<strong>da</strong>. É oportuno lembrar que, para garantir aprendizagem, énecessário que os alunos pratiquem a mesma ativi<strong>da</strong>de várias vezes, o quenos leva a evitar ações e/ou ativi<strong>da</strong>des com longos períodos de espera.Técnica esportivaAs severas críticas realiza<strong>da</strong>s ao Esporte e sua relação com a EducaçãoFísica conduziram a inúmeros mal-entendidos, dentre eles o de que oensino crítico do esporte deveria prescindir do ensino <strong>da</strong>s técnicas.As técnicas devem ser compreendi<strong>da</strong>s como um patrimônio a sertransmitido aos alunos, pois são movimentos construídos historicamente,são produtos de uma dinâmica cultural que podem ser preservados. Épreciso reconhecer que a técnica, enquanto um dos elementos <strong>da</strong> culturacorporal, poderá possibilitar aos praticantes a prática autônoma do lazere a crítica do espetáculo esportivo desde que assuma o papel de meio enão de fim em si mesmo. Como se vê, não se trata de negar o espaço <strong>da</strong>técnica, mas, sim, de repensar o seu espaço e tempo.O que se propõe é um novo olhar ao processo de ensinoaprendizagemdesses movimentos, considerando-se o contexto específicoem que os alunos estão inseridos, bem como seus interesses e desejos.Outra preocupação é evidenciar que as aulas incluam, de forma explícita,o conhecimento sobre o esporte e não se restrinjam à prática exclusivados movimentos. Mesmo assim, quando houver o interesse em ensinaras técnicas esportivas <strong>da</strong>s mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des coletivas, alerta-se para que essasaprendizagens aconteçam após a compreensão <strong>da</strong> dinâmica do jogo.É válido destacar, ain<strong>da</strong>, que os gestos técnicos não devem sercondição necessária e indispensável para que o aluno vivencie e pratiqueo esporte, ou seja, um fator que limite e exclua uma parcela dos alunosde participarem <strong>da</strong>s aulas. Diferentemente disso, propõe-se que ca<strong>da</strong>aluno se aproprie, reproduza e transforme os esportes de acordo comas suas possibili<strong>da</strong>des, sejam elas materiais ou relativas ao repertóriode movimento. Essa premissa não exclui a possibili<strong>da</strong>de de o professor226AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec7:226 11/11/2009 10:16:17


PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS PARA O PROGRAMA SEGUNDO TEMPOapresentar aos alunos os gestos técnicos, já que a escolha de adotar oudescartar esses movimentos será decisão do aluno frente às suas aspiraçõese necessi<strong>da</strong>des (RODRIGUES; DARIDO, 2008).Também é preciso ressaltar que a aprendizagem de técnicas pelosalunos não é antagônica ao prazer e ao lúdico nas aulas. Podem, dependendodo tipo de intervenção pe<strong>da</strong>gógica do professor, ser considerados aspectossimultâneos e complementares. Por isso, é importante a capaci<strong>da</strong>de doprofessor de identificar os momentos e os modos de ensinar as técnicasesportivas. Adiciona-se o fato de que os professores atuam em ambientesde alta complexi<strong>da</strong>de, incerteza, instabili<strong>da</strong>de, caráter único e dotadosde conflitos de valores, em que o ensino <strong>da</strong> técnica é apenas um doselementos que compõem essa trama.Nesse sentido, as dúvi<strong>da</strong>s e práticas dos professores não devemmais percorrer o sentido de técnicas sim ou técnicas não, mas o sentidode repensar o lugar ocupado por esses movimentos quando ensinamosesporte, com vistas à formação crítica dos alunos (RODRIGUES;DARIDO, 2008).Exemplo: O arremesso no basquetebol é um bom exemplo dessasituação. Nem sempre conseguimos dispor de materiais que sejamadequados ao tamanho de nossos alunos. Em geral, têm-se bolas oficiais earos em altura também oficial para o processo de iniciação. Isso inviabilizaque os alunos, nessa fase inicial, consigam se organizar adequa<strong>da</strong>mentedentro <strong>da</strong> técnica motora ideal para a vivência, pois, se assim o fizerem, nãoconseguirão lançar a bola até o aro, sem considerar que o gesto tambémnão é dos mais simples para a i<strong>da</strong>de. O que fazem? Usam o artifício deimprovisar um arremesso de característica individualiza<strong>da</strong>, mas que chegaaté o aro.Vale o questionamento: interferir e exigir que a criança faça o gesto<strong>da</strong> forma como se concebe dentro <strong>da</strong>s técnicas oficiais, propiciando queela fique frustra<strong>da</strong> por um longo período (se não abandonar o esporte), oupossibilitar a vivência e o aumento de chance de sucesso <strong>da</strong> cesta (aumentotambém de chance de continuar na prática)?Nesse caso, é conveniente permitir a vivência com chance desucesso e estimulá-la à ampliação <strong>da</strong>s vivências, inclusive pontuandoa equipe do aluno que conseguir tocar o aro ou a tabela num jogoque envolva cesta. Entende-se que uma busca ferrenha pela execuçãoperfeita e futuro envolvimento com o esporte deve partir <strong>da</strong> condiçãoAMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)227Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec7:227 11/11/2009 10:16:17


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOintrínseca do sujeito. Quando assim o quiser, ele poderá e deverá tercondições pessoais para assim optar. Dessa forma, tanto mais chancesestar-se-á possibilitando ao aluno se mais oportuni<strong>da</strong>des forempossibilita<strong>da</strong>s em seu processo formativo, em especial quando deampliação de sua possibili<strong>da</strong>de de êxito.Competições esportivas, ligas pe<strong>da</strong>gógicasou festivaisNo bojo <strong>da</strong>s críticas realiza<strong>da</strong>s ao esporte a partir <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de1980, muito se condenaram as competições esportivas, sobretudoaquelas realiza<strong>da</strong>s entre crianças e adolescentes. Afirmava-se que osalunos envolvidos nessas competições sofreriam sobrecarga de pressãopsicológica, seriam submetidos à especialização precoce, aprenderiam aser desleais, a sobrepujar o adversário a qualquer custo, enfim, levantouseuma série de aspectos que seriam prejudiciais à formação do alunosubmetido a competições esportivas, pois se repetiriam os erros eproblemas <strong>da</strong>s competições de alto nível.Essas críticas foram fun<strong>da</strong>mentais para refletirmos sobre qual é o ver<strong>da</strong>deiropapel que devem ter as competições esportivas na formação integral dos alunos.Na ver<strong>da</strong>de, o esporte e as competições esportivas serão o que nós quisermosque elas sejam, dentro <strong>da</strong>s regras e limitações que quisermos, afinal elas sãouma produção social e podem ser altera<strong>da</strong>s quando os seus participantes assim oexigirem e desejarem.Acreditamos que não é necessário excluir as competições doPrograma Segundo Tempo. É necessário apenas ressignificá-lasde acordo com os objetivos do programa e torná-las um meio deaprendizagem e não um fim em si mesmas, nas quais só permanecemos alunos mais dotados e habilidosos.Assim, faz parte <strong>da</strong>s ações estratégicas do Programa oportunizaraos beneficiados do programa eventos e programações diferencia<strong>da</strong>s ao228AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec7:228 11/11/2009 10:16:17


PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS PARA O PROGRAMA SEGUNDO TEMPOlongo do ano, o que pode incluir a realização de festivais internúcleos doSegundo Tempo.Exemplo: Propor a realização de competições ou festivais emque os alunos se responsabilizem em elaborar o regulamento,arbitrar as parti<strong>da</strong>s e preencher as súmulas. Festivais em que todosdevem jogar, serem premiados e valorizados naquilo que podemapresentar. Inclusive, podem-se modificar as regras esportivas,diminuir o tamanho <strong>da</strong> quadra, ou rea<strong>da</strong>ptar as regras para aumentaras possibili<strong>da</strong>des de participação dos alunos. Mais especificamente,pode-se, por exemplo, mu<strong>da</strong>r a área de saque do voleibol aproximandoo aluno <strong>da</strong> rede para facilitar o movimento, ou mesmo incluir umnúmero maior de jogadores para facilitar a recepção.Painel de notícias, utilização de vídeos eestímulo à pesquisaO professor pode incentivar trabalhos com notícias sobre temascomo anabolizantes, lesões e violência no esporte, padrões de beleza,exercícios abdominais, dentre outros, publicados em jornais, revistas esites <strong>da</strong> internet.O vídeo – filmes, documentários, reportagens especiais – é umrecurso importante no ensino do esporte, desde que permita estabelecerrelações com os temas que estão sendo abor<strong>da</strong>dos em aula.A utilização desse suporte exige, de acordo com Betti (1998), algunscui<strong>da</strong>dos por parte do professor:a) Primeiramente, é indispensável que assista ao vídeo comantecedência, para destacar os aspectos a levantar na discussãocom a turma.b) Quando assistir ao programa, será útil que elabore um roteiro deobservações e, inclusive, selecione as passagens mais relevantes,que poderão ser reexibi<strong>da</strong>s durante o debate.c) Antes de iniciar a exibição do vídeo, deve-se conversar com osalunos sobre as questões a serem observa<strong>da</strong>s, facilitando, pelaAMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)229Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec7:229 11/11/2009 10:16:17


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOroteirização, a compreensão dos objetivos <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de e suarealização.As práticas <strong>da</strong> cultura corporal podem constituir-se em objetos deestudo e pesquisa sobre o homem e sua produção cultural. Além deproporcionar fruição corporal, o Programa pode propiciar reflexão sobreo corpo, a socie<strong>da</strong>de, a ética, a estética e as relações inter e intrapessoais.Assim, a vivência <strong>da</strong>s práticas corporais pode ser amplia<strong>da</strong> peloconhecimento sobre o que se pratica, buscando respostas mais complexaspara questões específicas.Por outro lado, abor<strong>da</strong>r questões como o estudo <strong>da</strong> história do futebolno Brasil permite também a reflexão sociopolítica sobre a condiçãodo negro, a evolução do esporte-espetáculo, as relações trabalhistas, oufanismo, o fanatismo, a violência <strong>da</strong>s torci<strong>da</strong>s organiza<strong>da</strong>s, a emergênciado futebol feminino etc.Exemplo: Tradicionalmente, os alunos jogam futebol. Para além <strong>da</strong>prática do jogo, entretanto, o futebol pode ensejar aprofun<strong>da</strong>mentosquanto ao desenvolvimento técnico, tático e estratégico, pelo treinamentosistematizado de fun<strong>da</strong>mentos e conceitos. Assim, podem-se elaborarpainéis com notícias sobre a preparação física <strong>da</strong>s equipes, tipos detreinamento, sobre atletas fora do peso e questões sobre nutrição etc.CONSIDERAÇÕES FINAISPara se garantir um ensino de quali<strong>da</strong>de, é preciso, além de diversificaros conteúdos, aprofun<strong>da</strong>r os conhecimentos, ou seja, tratá-los nas trêsdimensões abor<strong>da</strong>ndo os diferentes aspectos que compõem as suassignificações. Quando tratar do futebol, por exemplo, é importante ir alémdo fazer (técnicas e táticas); é importante também abor<strong>da</strong>r a sua presençana cultura, as suas transformações ao longo <strong>da</strong> história, a dificul<strong>da</strong>de <strong>da</strong>expansão do futebol feminino (causas e efeitos), a mitificação dos atletasde futebol, os grandes nomes do passado, a violência nos campos defutebol etc. Ou seja, é preciso ir além do costumeiro jogar.Um ponto de destaque nessa nova significação atribuí<strong>da</strong> aosprogramas de esporte educacional de forma geral, e especificamente no230AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec7:230 11/11/2009 10:16:17


PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS PARA O PROGRAMA SEGUNDO TEMPOPrograma Segundo Tempo, é que a área ultrapassa a ideia única de estarvolta<strong>da</strong> apenas para o ensino do gesto motor correto. Muito mais que isso,cabe ao professor problematizar, interpretar, relacionar, desenvolver comseus alunos as amplas manifestações <strong>da</strong> cultura corporal de tal forma queos alunos compreen<strong>da</strong>m os sentidos e significados impregnados nessaspráticas corporais.Assim, o papel do Programa Segundo Tempo ultrapassa o ensinaresporte, ginástica, <strong>da</strong>nça, jogos, ativi<strong>da</strong>des rítmicas, expressivas econhecimento sobre o próprio corpo para todos, em seus fun<strong>da</strong>mentos etécnicas (dimensão procedimental). Inclui, ain<strong>da</strong>, os valores subjacentes,ou seja, quais atitudes os alunos devem ter nas e para as ativi<strong>da</strong>des corporais(dimensão atitudinal). Finalmente, busca garantir o direito do aluno desaber por que ele está realizando este ou aquele movimento, isto é, quaisconceitos estão ligados àqueles procedimentos (dimensão conceitual).Dentro dessa concepção, acredita-se na necessi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> adoção de diferentesprincípios metodológicos como inclusão e corresponsabili<strong>da</strong>de.O fato de se possibilitar que todos atuem e se sintam partícipes doprocesso disponibilizado pode contribuir substancialmente na adesão, noenvolvimento e até mesmo nos avanços <strong>da</strong>s ações, pois isso poderá facilitaro envolvimento afetivo com a ação. Essa condição é imprescindível,porque dela pode-se chegar à segun<strong>da</strong>, que é a corresponsabili<strong>da</strong>de. Essasegun<strong>da</strong> condição só será consegui<strong>da</strong> se os participantes se sentiremenvolvidos afetivamente com as ações propostas. Do contrário, haveráapenas corpos participando de ações sem que essas possam provocarmu<strong>da</strong>nças significativas aos cotidianos dos alunos.Especificamente, propõe-se que o professor/estagiário no ProgramaSegundo Tempo se utilize de procedimentos metodológicos que abarquema necessi<strong>da</strong>de de:a) Realizar a inclusão e o acolhimento dos alunos.b) Buscar a contextualização <strong>da</strong>s informações ofereci<strong>da</strong>s nas aulas.c) Buscar garantir a participação ativa dos alunos na modificação<strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des e <strong>da</strong>s regras dos jogos e estimular as ro<strong>da</strong>s deconversa.d) Buscar a integração do Programa ao projeto político pe<strong>da</strong>gógico <strong>da</strong>escola, visando-a garantir participação <strong>da</strong> família e <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>deno Programa.AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)231Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec7:231 11/11/2009 10:16:17


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOe) Diversificar as aulas, os espaços e materiais utilizados nas ativi<strong>da</strong>desdo Programa;f) Buscar a coeducação;g) Definir a priori as regras e os combinados.h) Evitar filas e estimular as possibili<strong>da</strong>des de práticas, inclusive <strong>da</strong>stécnicas esportivas.i) Estimular a participação dos alunos em ligas pe<strong>da</strong>gógicas oufestivais.De modo geral, o Programa Segundo Tempo tem a responsabili<strong>da</strong>desocial de servir como um espaço em que se possibilitem tais exercíciossociais, pois advoga a inclusão, a participação e a responsabili<strong>da</strong>de comometas a serem atingi<strong>da</strong>s pelas suas ações.REFERÊNCIASALVES, C. M. S. D. (In)Disciplina na escola: cenas <strong>da</strong> complexi<strong>da</strong>de de umcotidiano escolar. 2002. 176 f. Dissertação (Mestrado em Educação). Facul<strong>da</strong>de deEducação, UNICAMP, Campinas, 2002.BETTI, M. Janela de vidro; esporte, televisão e educação física. Campinas:Papirus, 1998. 159 p.COLL, C. et al. Os conteúdos na reforma. Porto Alegre: Artmed, 2000.DARIDO, S. C. Educação física na escola: questões e reflexões. Rio de Janeiro:Guanabara Koogan, 2003.DARIDO, S. C.; RANGEL, I. C. A. (Org.). Educação física na escola:implicações para a prática pe<strong>da</strong>gógica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005.(Educação Física no Ensino Superior).FARIA JÚNIOR, A. G. Futebol, Questões de Gênero e Co-educação – Algumasconsiderações didáticas sob enfoque multicultural. Revista do Núcleo deSociologia do Futebol, Rio de Janeiro, n. 2, 1995.LA TAILLE, Y. A indisciplina e o sentido de vergonha. In: AQUINO, J. G. (Org.).Indisciplina na escola: alternativas teóricas e práticas. São Paulo: Summus,1996.232AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec7:232 11/11/2009 10:16:17


PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS PARA O PROGRAMA SEGUNDO TEMPOLIBÂNEO, J. C. Didática. São Paulo: Cortez, 1994.OLIVEIRA, A. A. B.; MOREIRA, E. Planejamento e organização para o programasegundo tempo. OLIVEIRA, A. A. B.; PERIM, G. L. (Org.). <strong>Fun<strong>da</strong>mentos</strong>pe<strong>da</strong>gógicos para o programa segundo tempo, 2. ed., Maringá: Eduem,2008.RODRIGUES, H. A.; DARIDO, S. C. A técnica esportiva em aulas de educaçãofísica: um olhar sobre as tendências sócio-culturais. Revista Movimento, PortoAlegre, v. 14, p.135-154, 2008.SOUZA JUNIOR, O.; DARIDO, S. C. Influências <strong>da</strong> cultura escolar nodesenvolvimento de propostas co-educativas em aulas de Educação Física.Motriz, Rio Claro, v. 9, p. 143-152, 2003.ZABALA, A. A prática educativa: como ensinar. Porto Alegre: Artmed, 1998.AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)233Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec7:233 11/11/2009 10:16:17


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOQuadro Síntese:Este texto procurou demonstrar a importância do processo metodológico no trabalhodo Programa Segundo Tempo. Os aspectos relacionados ao para que, o que e comoforam a tônica deste texto, pois se entende que devam estar claros para quem vivenciao Programa, independentemente <strong>da</strong> posição que ocupa na estrutura dos convêniose Núcleos – coordenador, monitor ou beneficiário. Não houve a preocupação emesgotar o tema relacionado à metodologia, mas, sim, demonstrar, em vários exemplos,como as ações podem ser facilita<strong>da</strong>s e potencializa<strong>da</strong>s no cotidiano dos N úcleos. Paratanto, fez-se uso dos esclarecimentos sobre as questões conceituais, procedimentais eatitudinais que as ações dos núcleos carregam e que necessitam estar claras para todosos envolvidos, a fim de que elas e os momentos de convivência sejam potencializadospara que se extraia o máximo deles. A ideia central deste texto é a de que os professoresconsigam enxergar a complexi<strong>da</strong>de existente nas ativi<strong>da</strong>des e que consigam explorálasde modo a colocá-las significativamente no cotidiano dos participantes.Questões Centrais para Reflexão:1 − Quais são os objetivos do Programa Segundo Tempo? O que a criançaaprende no programa? Faça uma lista de pelo menos 10 aspectos quevocê já tenha observado em seus alunos e que acredita terem sidoaprendidos nas aulas.2 − Dê exemplos do que você realiza nas suas aulas que se encaixam nasdimensões procedimental, conceitual e atitudinal (pelo menos doisexemplos de ca<strong>da</strong> dimensão dos conteúdos).3 − Procure descrever quais são os procedimentos metodológicos quevocê costuma utilizar em suas aulas do Programa Segundo Tempo(pelo menos seis aspectos).4 − Em segui<strong>da</strong>, procure descrever brevemente quais são osprocedimentos metodológicos que você considerou mais importantescontidos neste texto.234AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec7:234 11/11/2009 10:16:17


PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS PARA O PROGRAMA SEGUNDO TEMPO5 − Numa terceira análise, procure comparar aquilo que você realizacom as sugestões do texto. Descreva o que é possível modificar emseus procedimentos metodológicos para garantir a formação doci<strong>da</strong>dão.Onde Saber Mais:BRACHT, V. Esporte na escola e esporte de rendimento. Revista Movimento,Porto Alegre, v. 1, n. 12, p. XIV a XXIV, 2000. Disponível em: http://www.seer.ufrgs.br/index.php/Movimento/article/view/2504/1148.CARDOSO, C. L. et al. Visão didática <strong>da</strong> educação física: análises críticas eexemplos práticos de aulas. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1991.GALLARDO, J. S. P.; OLIVEIRA, A. A. B. de; ARAVENA, C. J. O. Didáticade educação física: a criança em movimento: jogo, prazer e transformação. SãoPaulo: FTD, 1998.KUNZ, E. Transformação didático-pe<strong>da</strong>gógica do esporte. Ijuí: Unijuí,1994.OLIVEIRA, A. A. B.; HILDEBRANDT, R. A necessi<strong>da</strong>de de mu<strong>da</strong>nçametodológica no ensino <strong>da</strong> Educação Física. Revista Brasileira de Ciências doEsporte, v. 16, n. 1, p. 6-13, out. 1994.RODRIGUES, D. A educação física perante a educação inclusiva: reflexõesconceptuais e metodológicas. Boletim <strong>da</strong> Socie<strong>da</strong>de Portuguesa de EducaçãoFísica, 24/25, p. 73-81. Disponível em: http://www.rc.unesp.br/ib/efisica/sobama/sobamaorg/inicio.htm.SANTOS, I. L. et al. As percepções e os significados para os estagiários de EducaçãoFísica em relação à indisciplina na escola. Revista Movimento, Porto Alegre,v. 4, n. 3, p. 117-137, 2008. Disponível em: http://www.seer.ufrgs.br/index.php/Movimento/article/view/2976.WISNIK, J. M. Veneno remédio: o futebol e o Brasil. São Paulo: Companhia<strong>da</strong>s Letras, 2008.AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)235Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec7:235 11/11/2009 10:16:18


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOSugestão de filme:FILME: Entre os Muros <strong>da</strong> Escola (Entre les Murs, França, 2008).Gênero: DramaTipo:Longa-metragem/coloridoPalavras-chave: professor, ano letivo, escola, mais...Distribuidora(s): ImovisionDiretor(es): Laurent Cantet236AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec7:236 11/11/2009 10:16:18


PLANEJAMENTO DOPROGRAMA SEGUNDO TEMPOA INTENÇÃO É COMPARTILHAR CONHECIMENTOS,SABERES E MUDAR O JOGOAmauri Aparecido Bássoli de Oliveira 1Evando Carlos Moreira 2Horácio Accioly Júnior 3Marcello Pereira Nunes 4PLANEJAMENTO EM DIFERENTES “TERRITÓRIOS”:A AÇÃO DO PROFESSOR EMCONTEXTOS INSTÁVEISPlanejar é uma ação e uma decisão delibera<strong>da</strong>, por meio de recursospossíveis. Planejar é agir em função de finali<strong>da</strong>des, objetivos e metas, deum futuro que prevê resultados desejados. Planejar é compartilhar umdesejo assumido individualmente com o coletivo. Planejar é fazer opçõese acreditar em mu<strong>da</strong>nças. Ao estabelecer metas defini<strong>da</strong>s, delibera<strong>da</strong>s,você explicita um desejo possível e começa agir em função desses desejos.A intervenção pe<strong>da</strong>gógica media<strong>da</strong> por metas delibera<strong>da</strong>s é um processodinâmico, intencional e complexo e, por isso, tem características instáveise provisórias.Ao interagir dessa forma, suas intenções/ações (saber-fazer ou fazersaber)ganham uma direcionali<strong>da</strong>de específica para aquele contexto de1 Professor Associado do Departamento de Educação Física <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Estadual de Maringá(UEM). Coordenador Pe<strong>da</strong>gógico do Programa Segundo Tempo (SNEED/ME).2 Professor Doutor Adjunto <strong>da</strong> Facul<strong>da</strong>de de Educação Física <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Federal de MatoGrosso - MT.3 Professor Doutor Titular <strong>da</strong> Facul<strong>da</strong>de de Educação Física <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de do Estado do RioGrande do Norte - RN.4 Professor Mestre Assistente do Centro de Educação <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Federal do Espírito Santo -ES.Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec8:237 11/11/2009 10:16:18


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOrelação ensino e aprendizagem. Acredite em seus desejos e tome cui<strong>da</strong>dopara não “fazer de conta” que possui intenções, pois isso tornará suasações sem credibili<strong>da</strong>de, sentido e significado.“Fazer de Conta” que sua finali<strong>da</strong>de é democratizar o acesso aoEsporte Educacional de quali<strong>da</strong>de como forma de inclusão social, criarespaços de empoderamento, viver com a diversi<strong>da</strong>de, melhorar ashabili<strong>da</strong>des motoras, diminuir a evasão escolar, educar pelo esporte epara o esporte, entre outras finali<strong>da</strong>des, faz de suas intenções uma grande“força de vontade” que terá pouco resultado.Você não conseguirá contribuir ao Programa Segundo Tempo senão reconhecer que sua ação intelectual pode mediar conhecimentos esaberes com seus alunos, na perspectiva de construção de espaços/tempoe de autonomia para decidir entre os diversos caminhos possíveis. Suaintervenção pode fortalecer seu aluno, fazendo com que ele supere aadversi<strong>da</strong>de, lute e reclame pela sua ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia e tenha quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong> apartir do contexto social em que vive. O Esporte Educacional do ProgramaSegundo Tempo tem esse objetivo.O planejamento pe<strong>da</strong>gógico do núcleo (Plano Macro) e do conjuntode aulas (Plano Micro - ativi<strong>da</strong>des) deve ser uma síntese de um processoparticipativo e que possibilite <strong>da</strong>r sentido e significado às próximas aulas(ativi<strong>da</strong>des). É necessário que você tenha conhecimento do que pretendee registre seus significados, a fim de que o planejamento se traduzaem ações efetivas. Sugerimos como primeiro passo a organizaçãode um grupo de professores e monitores para estu<strong>da</strong>r e debater temaspertinentes ao núcleo em que está inserido. As suas atribuições epreocupações administrativas e educativas fazem parte de um processointerativo. Não existe uma etapa desse processo mais importante que aoutra. Dedique-se com o mesmo empenho a to<strong>da</strong>s elas. Divi<strong>da</strong> tarefas eacredite no outro.São necessários tempo e paciência para experimentar e problematizartemas desencadeadores dos conteúdos mediados e propostos, <strong>da</strong>ndoênfase ao processo de ação-reflexão-ação.Para Schön (2000), o planejamento deve ser elaborado e analisado apartir <strong>da</strong> reflexão na ação, <strong>da</strong> reflexão sobre a ação e <strong>da</strong> reflexão sobre areflexão <strong>da</strong> ação.238AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec8:238 11/11/2009 10:16:18


PLANEJAMENTO DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOPlanejar, para Schön (2000), Sacristán e Perez Gómez (1998),é dialogar com a situação, permanentemente, em um contextoinstável.Por sua vez, Santos (1987) definiu essa situação como epistemologia<strong>da</strong> prática. É preciso conviver com a instabili<strong>da</strong>de e provisorie<strong>da</strong>de dosmúltiplos discursos e <strong>da</strong>s múltiplas reali<strong>da</strong>des constituí<strong>da</strong>s por essesdiscursos.Esses processos de interação e aprendizagem do Esporte Educacionaldevem partir <strong>da</strong>s suas experiências concretas e <strong>da</strong>s de seus alunos,possibilitando o aumento de conhecimentos e saberes sociais, culturais, deci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia, de autonomia. A vivência, a reflexão, a resolução de problemas,a construção de alternativas e a modificação <strong>da</strong>s formas convencionais dejogar podem ser um espaço aberto de ação coletiva para <strong>da</strong>r voz e descobrira própria fortaleza dessas crianças e adolescentes. Esses aspectos foramabor<strong>da</strong>dos no capítulo “Procedimentos Metodológicos para o ProgramaSegundo Tempo”, quando os autores discutem a “participação ativa dosalunos, ro<strong>da</strong>, modificação <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des e <strong>da</strong>s regras dos jogos”.Ao planejar, você pode articular elementos de ações pe<strong>da</strong>gógicas e criarsituações dinamizadoras e de experimentação <strong>da</strong>s diversas possibili<strong>da</strong>desde intervir metodologicamente.O planejamento pe<strong>da</strong>gógico do núcleo tem de se tornar umdocumento, um registro do processo e do contexto dessas aprendizagens.Isso é o que chamamos de PLANO.O plano representa um esboço, um apontamento de uma ideia, que serve comoguia ordenado para realização de seus objetivos, metas, enfim, seus desejos. Ele nãoestá acabado, pois há necessi<strong>da</strong>de de racionalizar as ações, recursos, tempo.Planejar ou programar é como desenhar a planta de um edifícioou uma casa em construção. Lembre-se de que essa ideia (PLANO)quer produzir uma nova reali<strong>da</strong>de possível. Você é parte dela e estácomprometido com o Programa Segundo Tempo. Podemos provocartensões e possibilitar que o conjunto de pessoas envolvi<strong>da</strong>s no processoAMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)239Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec8:239 11/11/2009 10:16:18


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPO(nós, os professores, monitores, familiares, alunos, dentre outros)compreen<strong>da</strong> o contexto configurado que está inserido e articule soluçõespossíveis. A memória registra<strong>da</strong> é extremamente importante para amelhoria <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de desse processo. Efetivar o plano de intervençãode suas ações torna sua prática mais racional e próxima do cotidianoconcreto e real, oferecendo confiabili<strong>da</strong>de para to<strong>da</strong>s as etapas que serãorealiza<strong>da</strong>s. O plano compartilha experiências e aprendizagens do EsporteEducacional e pode ser utilizado como recurso de análise profissional ehistórias bem-sucedi<strong>da</strong>s.No Programa Segundo Tempo a responsabili<strong>da</strong>de é muito maior,visto que li<strong>da</strong>mos com a vi<strong>da</strong> de crianças e jovens, muitas vezes, comexperiências de construção <strong>da</strong>s manifestações <strong>da</strong> cultura corporal,produzi<strong>da</strong>s e determina<strong>da</strong>s pelo lugar próprio e de autonomias marca<strong>da</strong>s.Boa parte dessas crianças e jovens atendi<strong>da</strong>s pelo Programa SegundoTempo está desprovi<strong>da</strong> de estrutura familiar, de oportuni<strong>da</strong>des sociais,culturais, econômicas, alija<strong>da</strong>s de direitos e to<strong>da</strong> e qualquer possibili<strong>da</strong>dede desenvolvimento. Assim, ao refletir, organizar e planejar suas ações,não deixe de realizar uma leitura atenta do capítulo “Corpo, gênero esexuali<strong>da</strong>de e <strong>Fun<strong>da</strong>mentos</strong> do Programa Segundo Tempo”, nesta obra.Assim, planejar é uma <strong>da</strong>s tarefas importantes para que as ações doPrograma Segundo Tempo se efetivem e atinjam as finali<strong>da</strong>des espera<strong>da</strong>s:o desenvolvimento de valores humanos, sociais, culturais e éticos pormeio do Esporte Educacional.Portanto, no Programa Segundo Tempo, tem-se a compreensãode que planejar não é uma ação apenas administrativa ou burocrática,como muitas vezes se julga, pelo contrário, é uma ação que demonstraseu comprometimento como professor e monitor nesse processoeducacional.Nesse sentido, demonstramos, na continui<strong>da</strong>de deste capítulo,o valor <strong>da</strong> ação de planejar e procuramos sanar possíveis dúvi<strong>da</strong>s queexistam sobre como realizá-lo, para que as ativi<strong>da</strong>des dos Núcleos setornem espaços de construção do conhecimento e empoderamento,recontextualização e hibridização.240AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec8:240 11/11/2009 10:16:18


PLANEJAMENTO DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOESTRUTURA DOPROGRAMA SEGUNDO TEMPOComo os projetos pe<strong>da</strong>gógicos dos núcleos estão inseridos numprojeto maior, ou seja, são dependentes e subordinados, hierarquicamente,ao projeto básico e ao projeto pe<strong>da</strong>gógico do convênio, que, por sua vez,devem atender às finali<strong>da</strong>des do Programa Segundo Tempo, antes deplanejar precisamos observar como nos inserimos nessa estrutura.OBJETIVOS E FINALIDADES DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPO(Responsabili<strong>da</strong>de do Ministério do Esporte/Secretaria Nacional de Esporte Educacional)PROJETO BÁSICO DO CONVÊNIO(Responsabili<strong>da</strong>de de Gestores de Estados, Municípios, Associações, Ongs)PROJETO PEDAGÓGICO DO CONVÊNIO(Responsabili<strong>da</strong>de de Gestores e Coordenadores Gerais)PROJETO PEDAGÓGICO DO NÚCLEO(Responsabili<strong>da</strong>de de Coordenadores gerais e de núcleo, monitores e a comuni<strong>da</strong>de e familiares)PLANEJAMENTO SEMANAL/MENSAL DO NÚCLEO(Responsabili<strong>da</strong>de de Coordenador de Núcleo e Monitores)Figura 1: Estrutura Organizacional do Programa Segundo Tempo.O Projeto Pe<strong>da</strong>gógico do Núcleo (Plano Macro) e o Planejamentosemanal/mensal de intervenção <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des de aulas (PlanoMicro) são as intenções/ações que o grupo de pessoas envolvi<strong>da</strong>snesse processo (coordenadores, professores, monitores, alunos,comuni<strong>da</strong>de, agentes comunitários, dentre outros) deve desenvolver eefetivar. Essas ativi<strong>da</strong>des do núcleo, por sua vez, devem indicar quaissão os objetivos gerais (de longo prazo), com as ações cotidianas juntoa crianças e adolescentes.AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)241Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec8:241 11/11/2009 10:16:18


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOPLANEJANDO O PROJETO PEDAGÓGICO DO NÚCLEO:RESPONSABILIDADE DE COORDENADORES GERAIS EDE NÚCLEO, MONITORES, COMUNIDADEE FAMILIARESA partir de agora, destacaremos alguns elementos que devemcolaborar na organização e no planejamento <strong>da</strong>s ações do núcleo, tentandose aproximar <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de de ca<strong>da</strong> um.Para tanto, o diagrama a seguir evidencia uma sequência lógicade ações que, ao se desencadearem, permitirão um pensar e repensarconstantes <strong>da</strong> condição de ca<strong>da</strong> núcleo, bem como a revisão de objetivosestabelecidos com vistas à melhoria <strong>da</strong> ação pe<strong>da</strong>gógica dos professoresenvolvidos com esse processo.Identificação Geral doNúcleoElaboração <strong>da</strong>Fun<strong>da</strong>mentação TeóricaElaboração doDiagnósticoElaboração dos ObjetivosIndicativos para oprocesso dereelaboração doplanejamentoSeleção e Organizaçãodos ConteúdosPráticas, Metodologias eProcedimentos noPlanejamento <strong>da</strong>s AulasSeleção de recursosAvaliaçãoFigura 2: Esquema Gráfico do Planejamento Pe<strong>da</strong>gógico do Núcleo.242AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec8:242 11/11/2009 10:16:18


PLANEJAMENTO DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOCom a apresentação desses elementos, pretendemos dialogar deforma clara e objetiva a partir <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de de ca<strong>da</strong> locali<strong>da</strong>de, de maneiraa esclarecer e melhorar ain<strong>da</strong> mais as ações de ca<strong>da</strong> núcleo.O planejamento dos núcleos deve apresentar uma articulação plenaentre to<strong>da</strong>s as etapas apresenta<strong>da</strong>s, para manter a ação educativa coerentee interativa. Vale destacar que especificamente os aspectos diagnóstico– objetivo – procedimentos metodológicos – avaliação têm umpapel importante para o processo de articulação e efetivi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> ação deplanejar.O PROCESSO DE ELABORAÇÃO DOS CONHECIMENTOSE SABERES COMPARTILHADOS PARA OPLANEJAMENTO DO PROJETOPEDAGÓGICO DO NÚCLEOA ideia, a partir desse momento, é oferecer elementos norteadores aoProjeto Pe<strong>da</strong>gógico do Núcleo, que possam permitir aos atores envolvidos(coordenadores gerais e de núcleo, monitores, comuni<strong>da</strong>de e familiares)refletirem a organização e o planejamento do conjunto de ações a seremdesenvolvi<strong>da</strong>s. Convém lembrar que não estamos oferecendo “modelos”,como muitos podem pressupor, mas apenas alguns indicativos quepermitirão melhorar o que já fazem de bom, potencializando muitas <strong>da</strong>sações de ca<strong>da</strong> um.Identificação Geral do NúcleoPor que se faz necessária a identificação no núcleo?Porque precisamos conhecer os elementos básicos de ca<strong>da</strong> locali<strong>da</strong>de:em que lugar, dia <strong>da</strong> semana e horário funcionam, quem são e qual aformação dos responsáveis e corresponsáveis pelas ativi<strong>da</strong>des, quantosmeninos e meninas atendem em ca<strong>da</strong> horário, quais mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>desesportivas e ativi<strong>da</strong>des complementares são ofereci<strong>da</strong>s.AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)243Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec8:243 11/11/2009 10:16:18


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOTo<strong>da</strong>s essas informações permitirão saber, de forma se não precisapelo menos muito próxima, a reali<strong>da</strong>de pontual de ca<strong>da</strong> locali<strong>da</strong>de, o quefacilitará o entendimento de to<strong>da</strong>s as escolhas feitas no planejamento.Elaboração <strong>da</strong> Fun<strong>da</strong>mentação TeóricaQual a compreensão que temos sobre a fun<strong>da</strong>mentação teórica? Porque esse elemento é importante para o planejamento?To<strong>da</strong> ação humana, seja profissional ou não, está assenta<strong>da</strong> numacrença, numa ideologia, em algo que entendemos ser útil, necessário,primordial para execução do que desejamos, ou seja, é o fio condutorde nossas ações, são valores que orientam o nosso trabalho, a nossa vi<strong>da</strong>social e profissional.A fun<strong>da</strong>mentação teórica refere-se ao alicerce <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des do núcleo,que sustentarão as ações cotidianas junto a crianças e adolescentes, queapontarão os caminhos, as diretrizes, os rumos, os valores que conduzirãoo trabalho pe<strong>da</strong>gógico.Assim, é fun<strong>da</strong>mental que você leia, releia, interprete e reflita sobreo capítulo que apresenta a fun<strong>da</strong>mentação teórica do Programa SegundoTempo, pois esse texto permitirá uma compreensão aprofun<strong>da</strong><strong>da</strong> sobreas bases que sustentam nossa proposta de Esporte Educacional. Maisain<strong>da</strong>, olhe para sua reali<strong>da</strong>de e verifique de que maneira contemplar taisfun<strong>da</strong>mentos na reali<strong>da</strong>de de ca<strong>da</strong> núcleo.Se estamos falando de Esporte Educacional e, a partir dele, dedesenvolvimento de valores humanos, sociais, culturais, de melhoriade quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong>, em compreensão, relação, valorização, respeito,convivência, integração social, diminuição <strong>da</strong> exposição aos riscos sociais,conscientização de direitos sociais, emancipação, exercício de ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia,dentre tantos outros aspectos que contribuem para vi<strong>da</strong> de crianças eadolescentes, falamos de um determinado “ponto de vista” que não podeser “criado”, “imaginado”, mas, sim, com respaldo de experiências já bemsucedi<strong>da</strong>s,construí<strong>da</strong>s “<strong>da</strong>” e “para” a necessi<strong>da</strong>de instala<strong>da</strong>.Assim, essa etapa do planejamento deve contemplar:a) Os princípios do Esporte Educacional.244AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec8:244 11/11/2009 10:16:18


PLANEJAMENTO DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOb) As finali<strong>da</strong>des e os objetivos do Programa Segundo Tempo.c) De que forma os princípios do Esporte Educacional são viáveis epropícios às comuni<strong>da</strong>des em que estão inseridos.d) Os princípios do Esporte Educacional de modo que estesaten<strong>da</strong>m aos princípios básicos <strong>da</strong> inclusão social, do respeito àsdiversi<strong>da</strong>des, que formem e informem os beneficiados.e) Como os participantes podem realizar conquistas pessoais e aemancipação.Ou seja, essa etapa do planejamento requer a elaboração de um textobreve, conciso, coerente, autoexplicativo e que apresente “as bases em quese sustentam as ações do núcleo”.A partir dessas considerações, de posse <strong>da</strong>s diretrizes do ProgramaSegundo Tempo e a partir <strong>da</strong> sua reali<strong>da</strong>de, redija, no Quadro 1 (no finaldeste capítulo), a fun<strong>da</strong>mentação teórica do planejamento pe<strong>da</strong>gógico deseu núcleo.Elaboração do DiagnósticoCabe ao diagnóstico constatar, identificar e interpretar <strong>da</strong>dos <strong>da</strong>reali<strong>da</strong>de e emitir um juízo de valor, sempre com o foco no processode ensino-aprendizagem. A elaboração do diagnóstico é contínua,considerando que a reali<strong>da</strong>de deve e precisa sofrer alterações, em função<strong>da</strong> nossa intervenção pe<strong>da</strong>gógica (diagnóstico continuado), e responder àsseguintes questões:a) Quem são os atores?b) Em que contexto, onde e quando?c) Por que há necessi<strong>da</strong>de?d) Diagnosticar e delimitar o contexto e prover recursos possíveis.Para isso, é necessário observar e refletir sobre o contexto em que nosinserimos. Neste caso, sugerimos que o diagnóstico apresente:a) Informações sobre Índice de Desenvolvimento Humano (IDH)e Índice de Desenvolvimento Educacional (IDE) <strong>da</strong> região.AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)245Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec8:245 11/11/2009 10:16:18


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOb) Infraestrutura social <strong>da</strong> locali<strong>da</strong>de, escola, posto de saúde, asfalto,saneamento básico, dentre outras informações.c) Nível socioeconômico, taxas de desemprego e subemprego.d) Constituição familiar, indicando se as famílias são constituí<strong>da</strong>spor pai, mãe e filhos, apenas por pai ou mãe e filhos, ou ain<strong>da</strong> seas crianças são educa<strong>da</strong>s por tios ou avós.e) Problemas sociais, tais como: falta de segurança, criminali<strong>da</strong>de,drogas, trabalho infantil, violência doméstica, gravidez naadolescência, dentre outros.f) Existência ou não de espaços e ativi<strong>da</strong>des para práticas esportivas,culturais e de lazer.g) Características básicas <strong>da</strong> população atendi<strong>da</strong>.h) Outros <strong>da</strong>dos.As informações sugeri<strong>da</strong>s podem ser obti<strong>da</strong>s a partir de pesquisasna Internet que permitirão identificar <strong>da</strong>dos em bases confiáveis,como IBGE, <strong>da</strong>dos do IDH e IDE, além de outras informaçõesestatísticas importantes para realização de um bom diagnóstico <strong>da</strong>locali<strong>da</strong>de.Sugerimos, ain<strong>da</strong>, a elaboração de questionários e entrevistasdirecionados aos pais e/ou responsáveis de ca<strong>da</strong> criança e adolescente,às próprias crianças que frequentarão o núcleo, às lideranças <strong>da</strong>comuni<strong>da</strong>de, tais como: presidente de associação de amigos debairro, agentes sociais, padres, pastores ou outro representantereligioso que exista, professores e diretores de escola, políticos eoutras pessoas envolvi<strong>da</strong>s direta ou indiretamente com o ProgramaSegundo Tempo.É difícil elaborar um diagnóstico como esse sem estar na locali<strong>da</strong>de emquestão. Portanto, nesse momento, ao invés de elaborá-lo, pois não possuímostais informações, redigiremos as perguntas que farão parte dos questionáriose entrevistas que ca<strong>da</strong> coordenador realizará em sua comuni<strong>da</strong>de. Solicitamosque preencha o Quadro 2 (no final deste capítulo), com perguntas quepossam contribuir para realização de um bom diagnóstico local.246AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec8:246 11/11/2009 10:16:18


PLANEJAMENTO DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOElaboração dos ObjetivosNa elaboração dos objetivos, você deve considerar os objetivos doprojeto maior (plano básico), bem como os objetivos e as finali<strong>da</strong>des doPrograma Segundo Tempo para seus alunos, respeitando o que eles jásabem. Assim, poderá definir não só quais serão os próximos passos paraa nova aprendizagem, mas também, ao final de um determinado tempoe a partir <strong>da</strong> intervenção pe<strong>da</strong>gógica, como os alunos estarão em seudesenvolvimento e aprendizagem.Os objetivos específicos devem expressar as ações efetivas e espera<strong>da</strong>sde seus alunos. Os objetivos devem ser operacionalizados, ou seja, devemresponder ao que você espera que as crianças e os adolescentes façam,como e quando e, se possível, quanto, já que dessa forma você estaráestabelecendo metas e, consequentemente, os resultados serão mais fáceisde serem avaliados.Vale destacar as discussões referentes à elaboração dos objetivos,apresenta<strong>da</strong>s por Oliveira e Moreira (2008), ao afirmarem a necessi<strong>da</strong>de,estritamente didática, de organizar os objetivos a partir dos domínioscognitivo, físico-motor e socioafetivo, facilitando, assim, a organização doprojeto pe<strong>da</strong>gógico do núcleo.Dessa forma, apresentamos alguns exemplos que facilitarão aorganização do fazer pe<strong>da</strong>gógico dos coordenadores e monitores dosNúcleos do Programa Segundo Tempo.Considerando o esporte como eixo central para atingir as finali<strong>da</strong>desdo Programa Segundo Tempo, estabelecemos como objetivos gerais:a) Predispor-se a participar de ativi<strong>da</strong>des em grupos, cooperando einteragindo com os colegas.b) Vivenciar conteúdos como: jogos, lutas, expressão corporal eginástica, dominando o conhecimento básico desses conteúdos.c) Solucionar problemas e tomar decisões diante dos desafiospropostos em aula, verificando a aproximação <strong>da</strong>s questões comsituações do cotidiano.Como objetivos específicos, podemos elencar os seguintes:a) Demonstrar espírito de companheirismo e respeito ao próximo(na prática do futsal).AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)247Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec8:247 11/11/2009 10:16:18


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOb) Identificar, de forma sistematiza<strong>da</strong>, as capaci<strong>da</strong>des físicasnecessárias para a prática esportiva (na prática do atletismo).c) Sistematizar as formas de movimento de determina<strong>da</strong> mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>deesportiva, empregando-as no pensamento tático e técnico(ginástica artística).Por vezes, os objetivos mostram-se muito gerais, não sendo possívelvisualizar, em curto e médio prazo, o que de fato se deseja atingir. Emoutros momentos, apresentam-se muito “simplistas”, reduzindo pordemais a capaci<strong>da</strong>de e o potencial do Esporte e dos profissionais envolvidosno processo.Vale destacar que, independentemente <strong>da</strong>s mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des esportivas ouativi<strong>da</strong>des complementares que sejam ofereci<strong>da</strong>s no núcleo, os objetivosgerais estão para além deles, ou seja, do ponto de vista prático o quese deseja é que as crianças e os adolescentes atinjam, compreen<strong>da</strong>m,apropriem-se, valorizem, respeitem, demonstrem, apresentem e levempara suas vi<strong>da</strong>s.Os objetivos devem especificar aprendizagens espera<strong>da</strong>s do ALUNO.Entendemos que o cotidiano profissional é muito atribulado,repleto de tarefas que, vez ou outra, acabam relegando a um segundoplano uma boa estruturação e organização <strong>da</strong>s ações. Mas, se quisermosatingir de maneira satisfatória os objetivos do Esporte Educacional e,consequentemente, do Programa Segundo Tempo, precisamos afinar osdiscursos e as práticas profissionais.Esperamos de fato que “olhem” para sua reali<strong>da</strong>de, que percebam asnecessi<strong>da</strong>des <strong>da</strong> ca<strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de, de ca<strong>da</strong> grupo e, por que não dizer, deca<strong>da</strong> criança e adolescente.Passamos a destacar alguns aspectos importantes na elaboração dosobjetivos e que facilitarão a sua definição e organização.248AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec8:248 11/11/2009 10:16:18


PLANEJAMENTO DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOO Objetivo é uma ação (verbo), projeta<strong>da</strong> pelo professor para seu ALUNO,articula<strong>da</strong> com uma filosofia educacional (nosso caso, em específico, as finali<strong>da</strong>desdo Esporte Educacional), concepção de socie<strong>da</strong>de e teoria do desenvolvimento eaprendizagem. Os Objetivos de ensino para médio e curto prazo precisam demaior especificação e operacionalização e que, de forma prospectiva, possa atingirmu<strong>da</strong>nças gra<strong>da</strong>tivas na aprendizagem e desenvolvimento dos alunos.Piletti (1997) destaca que os objetivos devem referir-se aocomportamento que se espera dos alunos e não do professor. Isso implicadizer que, ao se estruturarem os objetivos, deve-se pensar no queo aluno deverá conseguir fazer/realizar ao término <strong>da</strong>s açõesidealiza<strong>da</strong>s e desenvolvi<strong>da</strong>s.Outro aspecto importante é apresentar objetivos que não ofereçammargem para muitas interpretações (tenham clareza, objetivi<strong>da</strong>de).Porém, causa-nos muita preocupação, principalmente a partir do queidentificamos, tanto na apresentação dos planejamentos de ensino comonas visitas in loco, que poucos núcleos estabelecem objetivos considerandoas dimensões conceitual, procedimental e atitudinal dos conteúdos, temaesse abor<strong>da</strong>do com maior profundi<strong>da</strong>de no capítulo sobre “ProcedimentosMetodológicos para o Programa Segundo Tempo”, nesta obra.Tomemos como um exemplo generalista a prática <strong>da</strong> mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de dehandebol para adolescentes de 15 a 17 anos de um núcleo do ProgramaSegundo Tempo, em que o professor pretende, além de ensinar aos alunos“como” jogar handebol, que esses agreguem e apren<strong>da</strong>m novos valores apartir dessa mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de.DimensãoConceitualDimensãoProcedimentalIdentificar, reconhecer e compreender os diferentesposicionamentos táticos de ca<strong>da</strong> jogador durante a realização deum jogoVivenciar, executar, demonstrar, realizar, adquirir e desenvolverações durante a prática que permitam um bom desenvolvimento dejogo, tais como: passar, receber, chutar uma bola, de acordo com aspotenciali<strong>da</strong>des e limitações individuaisAMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)249Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec8:249 11/11/2009 10:16:18


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPODimensãoAtitudinalValorizar, respeitar e estar predisposto a jogar com e para o outrode maneira a reconhecer e aceitar as potenciali<strong>da</strong>des e limitaçõessuas e dos demais – ações muito importantes e necessárias parato<strong>da</strong> vi<strong>da</strong>Dessa forma, os objetivos precisam:a) Dialogar entre si, apontando para a mesma direção.b) Apresentar uma sequência lógica para compreensão conjunta,em que objetivos avancem para estágios posteriores e de maneiragra<strong>da</strong>tiva, garantindo a aquisição de informações necessárias paratarefas futuras.c) Contemplar to<strong>da</strong>s as dimensões do desenvolvimento humano.d) Especificar os conhecimentos que serão assimilados e a aplicaçãona vi<strong>da</strong> cotidiana de ca<strong>da</strong> aluno.e) Ser organizados, para que os alunos os atinjam e não os professores(lembrem-se: os alunos são o “centro” do processo de ensino).f) Ser claros e precisos, não permitindo múltiplas interpretações.g) Permitir que, além dos professores, os alunos também percebamque devem ser atingidos por eles mesmos, tornando-se parceirosincondicionais para os propósitos do núcleo.h) Oferecer graduali<strong>da</strong>de nas experiências, tornando o ensinomotivante, desafiador e estimulante à sua superação.i) Verificar se resultados permitem o controle avaliativo, comparandoo início, o meio e o fim <strong>da</strong>s ações.j) Ser apresentados em pequenas frações de tempo (bimestres outrimestres), o que facilitará a verificação e avaliação em curto emédio prazo.A partir dessas considerações, independentemente <strong>da</strong>s i<strong>da</strong>des ou <strong>da</strong>smo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des que ofereçam em seus núcleos, determine objetivos quefavoreçam o atendimento <strong>da</strong>s finali<strong>da</strong>des do Programa Segundo Tempo,<strong>da</strong> proposta de trabalho de seu convênio e contemplem ao máximo odesenvolvimento pleno de todos os alunos. Para tal, preencha o Quadro3 (no final do capítulo), remetendo-se à reali<strong>da</strong>de de seu núcleo.250AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec8:250 11/11/2009 10:16:18


PLANEJAMENTO DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOSeleção e Organização dos ConteúdosO conjunto de conhecimentos e habili<strong>da</strong>des organizados e sistematizadospe<strong>da</strong>gogicamente, com o objetivo de apropriação ativa pelo outro é o que chamamosCONTEÚDOS.No Programa Segundo Tempo, os conteúdos a serem mediados sãoas manifestações <strong>da</strong> cultura corporal. Portanto, é muito importanteentender os critérios para escolha dos saberes articulados que incorporamo conteúdo que será oferecido (adequação às necessi<strong>da</strong>des sociaise culturais, significação, vali<strong>da</strong>de, utili<strong>da</strong>de, interesse, flexibili<strong>da</strong>de,viabili<strong>da</strong>de e possibili<strong>da</strong>de de relaboração pessoal).Outro aspecto de extrema importância que não pode serdesconsiderado é a dimensão dos conteúdos, isto é, seus conceitos,procedimentos e atitudes, elementos abor<strong>da</strong>dos por Oliveira e Moreira(2008) e também, com maior ênfase, no capítulo “ProcedimentosMetodológicos para o Programa Segundo Tempo”.Isso oportunizará ao aluno a vivência de conteúdos que lhe possibilitemsaber (dimensão conceitual), saber-fazer (dimensão procedimental) esaber ser (dimensão atitudinal).Dessa forma, os conhecimentos e saberes articulados e compartilhadospelos conteúdos precisam:a) Ser escolhidos de acordo com a condição <strong>da</strong> população a que seráoferecido.b) Ser compreendidos como elementos essenciais para apropriação,transformação e utilização de conhecimentos para to<strong>da</strong> vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>scrianças e adolescentes.c) De identificação, compreensão, percepção, vivência, que facilitarãoa aquisição, desenvolvimento e valorização dos conhecimentos esaberes.d) Explorar as possibili<strong>da</strong>des de desenvolvimento dos conteúdos nosnúcleos do Programa Segundo Tempo a partir de suas dimensõesconceitual, procedimental e atitudinal, o que permitirá explorarAMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)251Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec8:251 11/11/2009 10:16:18


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOao máximo as potenciali<strong>da</strong>des de ca<strong>da</strong> mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de, superandoa compreensão <strong>da</strong> prática esportiva apenas do “como fazer”,favorecendo aos alunos o entendimento do “por que” e “paraque” se faz esporte.e) Permitir a compreensão do esporte que as crianças praticam nonúcleo, bem como o entendimento e as diferenças do esporteespetáculo.f) Oportunizar o entendimento do sistema esportivo profissionalno Brasil e no mundo.g) Favorecer a apreciação estética e técnica <strong>da</strong>s manifestações <strong>da</strong>cultura corporal.h) Identificar e compreender os interesses políticos e econômicosque cercam o universo do esporte.i) Identificar as habili<strong>da</strong>des, comportamentos e atitudes necessáriaspara a prática.j) Compreender o sentido <strong>da</strong> vivência real – motivos e sentidos.k) Organizar socialmente para praticá-lo.l) Compreender e pensar o jogo, favorecendo o processo deantecipação e toma<strong>da</strong> de decisão.m) Respeitar a diversi<strong>da</strong>de.n) Dentre outros.A partir dessas informações, preencha o Quadro 4 (no final destecapítulo) com os conteúdos e possíveis conhecimentos e saberes queserão tematizados e desenvolvidos em seu núcleo.Procedimentos Metodológicos noPlanejamento <strong>da</strong>s AulasO que são os procedimentos metodológicos se não elementosessenciais para o bom desenvolvimento <strong>da</strong>s aulas e obtenção dos objetivosestabelecidos?252AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec8:252 11/11/2009 10:16:19


PLANEJAMENTO DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOSignifica dizer, portanto, que a definição exata de quais caminhospercorrer, quais opções escolher para atingir um resultado passa,necessariamente, pela seleção de meios capazes de facilitar a apropriaçãodo conhecimento por parte <strong>da</strong>s crianças e dos adolescentes que estão nosnúcleos do Programa Segundo Tempo.É comum observarmos que nem sempre os coordenadores de núcleo,assim como seus monitores, oferecem a devi<strong>da</strong> atenção a essa etapa doplanejamento.Assim, observamos, com muita frequência, aulas desenvolvi<strong>da</strong>s commétodos que, se já não foram, precisam ser superados. Aulas sempredesenvolvi<strong>da</strong>s <strong>da</strong> mesma maneira em locais completamente diferentes, sejano sul ou no norte do país: “colunas” enormes de crianças e adolescentes;uma bola na mão ou no pé de ca<strong>da</strong> um, uma execução de ca<strong>da</strong> vez, atéque a criança ou o adolescente <strong>da</strong> frente chegue ao local especificado e opróximo possa sair; um tempo de espera enorme até que se possa realizardetermina<strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de; professores coman<strong>da</strong>ndo as aulas de “longe”,muito preocupados com a técnica e a execução perfeita dos movimentos;ver<strong>da</strong>deiras escolinhas de Esporte, como se o maior objetivo do ProgramaSegundo Tempo fosse a descoberta de novos e promissores atletas.Entendemos a dificul<strong>da</strong>de em desenvolver aulas com um númeroelevado de alunos, quadras, campos ou espaços reduzidos ou descobertos,escassez de material, dentre tantos outros problemas. Porém, essas situaçõesnão podem e não devem ser motivos para adotarmos procedimentosmetodológicos que perpetuem um trabalho que, sabemos, coloca-semuito mais como disciplinador, castrador e limitador <strong>da</strong> expressão eampliação <strong>da</strong>s ações motoras e integrativas.No capítulo “Procedimentos Metodológicos para o Programa SegundoTempo”, você encontrará diversas reflexões sobre como repensar suamaneira de abor<strong>da</strong>r os alunos e desenvolver sua prática pe<strong>da</strong>gógica,melhorando ain<strong>da</strong> mais o que já realiza.No entanto, não podemos nos furtar <strong>da</strong> responsabili<strong>da</strong>de de lançaralguns questionamentos e oferecer contribuições que, unidos às sugestõesdos autores do texto citado anteriormente, poderão ampliar seu universode atuação.Dessa forma, levantamos o seguinte questionamento: quaisprocedimentos metodológicos podemos utilizar para ensinar Esporte deAMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)253Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec8:253 11/11/2009 10:16:19


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOmaneira que a técnica (que se faz presente no Esporte, de forma quaseinevitável), o prazer e o interesse sejam mantidos de forma equilibra<strong>da</strong>?Responder a essa pergunta é desafiador, tendo em vista as diversasreali<strong>da</strong>des dos núcleos do Programa Segundo Tempo espalhados peloBrasil.Mas, vamos em frente!Para ensinar algo a alguém é necessário saber “o que”, “como”,“por que”, “para que” e “quando” ensinar, bem como quais os valores econhecimentos poderão ser vivenciados e apropriados a partir do ato deensinar e aprender.Assim, os procedimentos metodológicos devem:a) Tornar as ativi<strong>da</strong>des desenvolvi<strong>da</strong>s em aulas mais prazerosas,as técnicas e táticas de uma determina<strong>da</strong> mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de podemexistir, mas o prazer não pode ser suplantado pela determinação eimposição de regras e normas rígi<strong>da</strong>s.b) Propor aulas participativas, envolventes, em que os alunos podeme devem opinar em seu desenvolvimento.c) Promover ativi<strong>da</strong>des menos cansativas, livres de rotinas entediantese que tornam a aula pouco atraente e motivante.d) Diversificar-se e alterar-se em função <strong>da</strong>s características <strong>da</strong>sativi<strong>da</strong>des, <strong>da</strong>s necessi<strong>da</strong>des e dos interesses dos alunos.e) Favorecer a apropriação dos conhecimentos e dos valores que avivência de ca<strong>da</strong> conteúdo oferece.f) Dentre outras.Oliveira e Moreira (2008), ao compilarem informações de algunsautores, sugerem diversos procedimentos metodológicos para odesenvolvimento <strong>da</strong>s aulas: exposição do professor, método de trabalhoindependente, trabalho em grupo, elaboração conjunta, ativi<strong>da</strong>desespeciais.Entendemos que seja interessante, neste momento, oferecerexemplos que facilitem a visualização <strong>da</strong> utilização dessesprocedimentos metodológicos e sugerir outras possibili<strong>da</strong>des dedesenvolvimento <strong>da</strong>s aulas. No Programa Segundo Tempo, há umanecessi<strong>da</strong>de premente de se optar por procedimentos metodológicos254AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec8:254 11/11/2009 10:16:19


PLANEJAMENTO DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOque estimulem a participação e potencializem o autoconceitopositivo de seus participantes. No capítulo “Aprendizagem edesenvolvimento motor: aspectos relacionados à prática”, nestelivro, estão apresentados encaminhamentos que contribuem nasações e posturas dos professores no desenvolvimento <strong>da</strong>s aulas.Na sequência, apresentamos um quadro com exemplos deprocedimentos metodológicos diferenciados para o ensino de umamo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de. Não enten<strong>da</strong>m como modelos de intervenção pe<strong>da</strong>gógica,mas como caminhos que deram certo e que poderão auxiliar nodesenvolvimento dos trabalhos em seu núcleo.Para tanto, utilizaremos o seguinte exemplo: o professor estabeleceucomo objetivo iniciar crianças e adolescentes de 12 a 14 anos de i<strong>da</strong>de naprática do voleibol.A partir desse exemplo, buscaremos eluci<strong>da</strong>r como ca<strong>da</strong> estratégiapode contribuir para ensinar o mesmo conteúdo de maneiras diferentes,além de reforçar a ideia de explorar os conteúdos em suas dimensõesconceitual, procedimental e atitudinal.Verbal: explicar o que deseja que as crianças façam, quantaspessoas jogam de ca<strong>da</strong> vez, como devem se posicionar, comoocorre o rodízio, dentre outras informaçõesExposição doprofessor (verbal,demonstração,ilustração,exemplificação):Demonstração: executar o que fora explicado anteriormente,deixando claro para ca<strong>da</strong> um “como” se fazIlustração: ilustrar a partir de imagens, desenhos deposicionamento em quadra, apresentação de vídeos de jogos,como ocorre o jogo na práticaExemplificação: juntar as explicações verbais com açõesespecíficas <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de, ou seja, colocar em prática aquilo quese explicou verbal ou ilustra<strong>da</strong>menteObservem que, no exemplo anterior, contemplamos a dimensãoconceitual dos conteúdos (quantos jogam de ca<strong>da</strong> vez, como se posicionar,como ocorre um rodízio) e a dimensão procedimental (executa o que foraAMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)255Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec8:255 11/11/2009 10:16:19


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOexplicado anteriormente, colocar em prática o que se explicou verbal ouilustra<strong>da</strong>mente).Isso nos permite afirmar, ain<strong>da</strong>, que um conteúdo desenvolvidode maneira adequa<strong>da</strong> permitirá, com conhecimentos e habili<strong>da</strong>desorganizados e sistematizados, pe<strong>da</strong>gogicamente, a apropriação ativapelo aluno, atingindo um dos muitos objetivos que almejamos.Imaginando que determina<strong>da</strong> mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de já tenha sido, decerta forma, assimila<strong>da</strong>, o método de trabalho independenteé muito importante para que as crianças e os adolescentesconquistem autonomia na realização <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>desMétodo de trabalhoindependente (trêsetapas: preparatória,assimilaçãode conteúdo eelaboração pessoal)Preparatória: discute-se com os alunos o que ca<strong>da</strong> um sabe <strong>da</strong>mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de em questão, quais são as suas experiências, se jájogaram, como jogaram e onde jogaramAssimilação de conteúdo: experimentam-se e vivenciam-se oselementos que foram apresentados e discutidos com os alunosde forma prática e direta, de maneira a aprofun<strong>da</strong>r ain<strong>da</strong> maiso conhecimento necessárioElaboração pessoal: os alunos, a partir de suas experiências,agrega<strong>da</strong>s aos conhecimentos experimentados e vivenciadosde maneira aprofun<strong>da</strong><strong>da</strong>, passam a elaborar, criar, de formaconsciente, dentro de suas limitações e potenciali<strong>da</strong>des,respostas às situações apresenta<strong>da</strong>sMais uma vez, podemos observar que as dimensões conceitual,procedimental e atitudinal dos conteúdos estão presentes.A dimensão conceitual é apresenta<strong>da</strong> quando se discute com osalunos o que ca<strong>da</strong> um sabe <strong>da</strong> mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de em questão, quais são suasexperiências, se já jogaram, como jogaram e onde jogaram.A dimensão procedimental surge quando solicitamos aos alunos queexperimentem e vivenciem os elementos que foram apresentados.Por fim, a dimensão atitudinal se mostra quando os alunos passama elaborar, criar, de forma consciente, dentro de suas limitações epotenciali<strong>da</strong>des, respostas aos estímulos apresentados.256AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec8:256 11/11/2009 10:16:19


PLANEJAMENTO DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOTrabalho em grupoReunir e dividir os alunos em grupos para que dialoguem,discutam, reflitam, preparem, organizem e reorganizemativi<strong>da</strong>des de pesquisa sobre a mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de, dividindo, assim,responsabili<strong>da</strong>des, ou, ain<strong>da</strong>, que todos vivenciem movimentoscaracterísticos <strong>da</strong> prática, com vistas a reconhecer e respeitar asdiferenças existentes entre eles ou mesmo vivenciar diferentespapéis na ativi<strong>da</strong>de, permitindo que um se coloque no lugardo outroA ideia é estimular a capaci<strong>da</strong>de organizativa e administrativados alunos, possibilitando ao professor observar de forma maisdetalha<strong>da</strong> a maneira como ca<strong>da</strong> aluno se relaciona e resolvesituações que surgem no cotidiano <strong>da</strong>s aulasNesse tipo de estratégia, fica evidente a dimensão conceitual, quandoos alunos precisam dialogar, discutir, refletir, preparar e organizar ereorganizar ativi<strong>da</strong>des de pesquisa sobre a mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de.A dimensão procedimental é latente quando sugerimos que os alunosvivenciem movimentos característicos <strong>da</strong> prática.Por sua vez, a dimensão atitudinal surge <strong>da</strong> vivência de movimentoscaracterísticos <strong>da</strong> prática, com vistas a reconhecer e respeitar as diferençasexistentes entre os alunos ou mesmo vivenciar diferentes papéis naativi<strong>da</strong>de, permitindo que um se coloque no lugar do outro.Elaboração conjuntaParte <strong>da</strong> identificação <strong>da</strong>s necessi<strong>da</strong>des e dos interesses dosalunos. Imaginemos que eles reconheceram que a maiornecessi<strong>da</strong>de, num primeiro momento, é que precisam “colocar”a bola em jogo, para que haja o jogo. Para tanto, o professordiscute com os alunos quais as formas mais simples de realizaressa tarefa, quais as exigências motoras básicas, ou seja, osalunos poderão identificar que “sacar por baixo”, inicialmente,facilitará o início <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de e, após esse reconhecimento, eaprofun<strong>da</strong>mento <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong>de de jogar, poderão dedicar-se aoaprendizado do “saque por cima”. A premissa dessa estratégia éuma relação de diálogo constante com os alunos, estimulandoosao pensamentoAMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)257Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec8:257 11/11/2009 10:16:19


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPONessa estratégia, a dimensão conceitual também se faz presentequando: o professor discute com os alunos quais as formas mais simplesde realizar a tarefa; os alunos podem identificar que “sacar por baixo”,inicialmente, facilitará o início <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de.De acordo com as necessi<strong>da</strong>des apresenta<strong>da</strong>s pelo grupo,definem-se novas possibili<strong>da</strong>des de apresentação edesenvolvimento de mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des. É importante discutir oEsporte para “além do fazer”. Assim, é possível:- mostrar aos alunos o poder <strong>da</strong> mídia, o quanto ela é capazde interferir na compreensão <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de sobre um mesmojogo de voleibolAtivi<strong>da</strong>des especiais- utilizar diferentes formas de observar uma mesma parti<strong>da</strong>(televisão com e sem áudio, acesso à internet durante e apósa realização <strong>da</strong> parti<strong>da</strong>, manchetes de jornais do dia posteriorao jogo)Os alunos precisam perceber a importância de verem o jogocom os próprios olhos, sem se deixarem levar por interpretaçõese influências de narradores e/ou jornalistas esportivos. Apenasquando perceberem o poder que a mídia tem na elaboração deopinião <strong>da</strong>s pessoas, os alunos serão capazes de elaborar umaopinião própria a partir de seu senso crítico reflexivo.Nessa última sugestão de estratégia, as dimensões conceitual eatitudinal ficam muito explícitas, visto que as crianças e os adolescentesdeverão conhecer, interpretar, refletir e reconhecer, por exemplo, o poder<strong>da</strong> mídia e sua capaci<strong>da</strong>de de interferir na compreensão <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de sobreuma ativi<strong>da</strong>de esportiva. Ao utilizarmos diferentes formas de observaruma mesma parti<strong>da</strong>, favoreceremos aos alunos “olhar com seus própriosolhos”, sem se deixar levar por interpretações e influências externas, oumesmo realizar uma leitura nas entrelinhas do esporte-espetáculo.Não fizemos qualquer tipo de separação ou de apresentação prévia<strong>da</strong>s dimensões dos conteúdos, porém demonstramos como isso pode serrealizado, muitas vezes sem percebermos. Isso não pode ocorrer a esmo.Precisa de organização!A partir <strong>da</strong> operacionalização desses procedimentos metodológicos,esperamos ter colaborado para um repensar <strong>da</strong>s ações cotidianas dos258AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec8:258 11/11/2009 10:16:19


PLANEJAMENTO DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOnúcleos. Vale ressaltar que esses procedimentos metodológicos podemser utilizados de forma simultânea, com maior ou menor presença deum deles; porém, o mais importante é que as aulas assumam uma novacondição, uma nova forma de ser. De na<strong>da</strong> adiantará refletirmos sobrea importância ou os valores do Esporte Educacional, estabelecermosobjetivos e definirmos conteúdos de maneira clara, se os procedimentosmetodológicos se mantiverem os mesmos, pois efetivamente poucasalterações ocorrerão.A partir do exposto, com uma leitura detalha<strong>da</strong> do capítulo“Procedimentos Metodológicos para o Programa Segundo Tempo”, escolhatrês mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des esportivas – duas coletivas e uma individual – e defina,de acordo com sua reali<strong>da</strong>de, como essas podem ser explora<strong>da</strong>s <strong>da</strong> melhorforma e para uma apropriação mais eficaz e eficiente por parte dos alunos.Para tanto, preencha o Quadro 5 (no final deste capítulo).Seleção de RecursosA reali<strong>da</strong>de observa<strong>da</strong> nas visitas aos núcleos do ProgramaSegundo Tempo nos mostrou a dificul<strong>da</strong>de, mas também a riqueza depossibili<strong>da</strong>des para o desenvolvimento <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des, variando desdeos materiais oferecidos pelos Programas “Pintando a Liber<strong>da</strong>de” e“Pintando a Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia”, passando por convênios em que a contraparti<strong>da</strong>é o oferecimento de materiais esportivos de “primeira linha”, chegandoà experiência de materiais construídos com matéria-prima reutilizável,conjuntamente com crianças e adolescentes do núcleo, que permitem nãoagredir o meio em que vivem, bem como reconhecer a importância e opapel social que ca<strong>da</strong> um deve exercer na socie<strong>da</strong>de em que vive.Sabemos melhor que ninguém que os profissionais envolvidosno processo de ensino e aprendizagem dos núcleos são providos deconhecimentos específicos que permitem o desenvolvimento satisfatóriodo trabalho com amplitude de recursos. Porém, o maior desafio é fazercom que, a partir <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de de ca<strong>da</strong> um, novos recursos sejam agregadosaos já existentes, favorecendo um “criar” e “recriar” constantes <strong>da</strong> práticape<strong>da</strong>gógica.AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)259Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec8:259 11/11/2009 10:16:19


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOOs recursos precisam, assim como os procedimentosmetodológicos:a) Tornar as ativi<strong>da</strong>des desenvolvi<strong>da</strong>s em aula mais prazerosas.b) Permitir participação e envolvimento constante dos alunos.c) Diversificar-se e alterar-se em função <strong>da</strong>s características <strong>da</strong>sativi<strong>da</strong>des e <strong>da</strong>s necessi<strong>da</strong>des e interesses dos alunos.d) favorecer a apropriação dos conhecimentos e dos valores que avivência de ca<strong>da</strong> conteúdo oferece.Dessa forma, sugerimos que, além dos recursos e <strong>da</strong> infraestrutura jáconhecidos por todos, novos elementos sejam utilizados pelos Núcleosdo Programa Segundo Tempo, tais como: programas de televisão,vídeos, Internet, visitas e passeios dirigidos, festivais e competiçõesesportivas, filmes e peças teatrais, leitura de jornais, revistas, textos(prontos ou elaborados pelo professor ou monitor), observação de fotose outros elementos que permitam a apropriação crítica e consciente deconhecimentos oriundos <strong>da</strong>s manifestações esportivas.A utilização desses recursos pode despertar a curiosi<strong>da</strong>de dos alunose torna-se um meio importante para discutir o Esporte, partindo-se de suainfluência para as transformações <strong>da</strong>s manifestações <strong>da</strong> cultura corporalpresentes nesse universo.O mais importante é que esses recursos sejam utilizados no momentoadequado. De na<strong>da</strong> adiantará assistir a um festival esportivo se os alunosnão estão familiarizados com determina<strong>da</strong> prática, ou, ain<strong>da</strong>, ler um textosobre um assunto que ain<strong>da</strong> não foi abor<strong>da</strong>do ou seja desconhecido pelosalunos.Exemplificando:Programas detelevisãoAlguns programas de televisão podem auxiliar na compreensãode assuntos relacionados à compreensão <strong>da</strong> interferência que aprática esportiva exerce na vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s pessoas, despertando e criandonecessi<strong>da</strong>des momentâneas, de fato, sem importância. Mas lembrese:é necessário que você assista a esse programa previamente eelabore um roteiro de discussão, para que os diálogos não sejam pordemais superficiais260AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec8:260 11/11/2009 10:16:19


PLANEJAMENTO DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOVídeosCom uma função similar aos programas de televisão, dependendo <strong>da</strong>forma como serão utilizados, os vídeos contribuem para apresentar,de forma precisa, determinados gestos e condutas motoras ou,ain<strong>da</strong>, apresentar uma forma específica de comportar-se numadetermina<strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de. Aqui vale a mesma consideração feita aosprogramas de televisãoInternetO desenvolvimento de buscas e pesquisas, bem como troca deinformações entre as pessoas é um dos maiores atrativos <strong>da</strong> Internet;porém, esse procedimento precisa ser “guiado” pelos professores,de maneira que tal utilização permita agregar novas informaçõesàquelas já dispostasVisitas epasseiosdirigidos“Mu<strong>da</strong>r de ares” é algo que sempre chamará a atenção de criançase adolescentes, tendo em vista que, muitas vezes, sem perceber,estabelecemos “rotinas” difíceis de serem cumpri<strong>da</strong>s, tornando oaprendizado pouco motivante. Esse recurso permite a visualizaçãode conceitos que foram apresentados e discutidos em aula, taiscomo fatos históricos, informações mensuráveis, quantificáveis. Avisita ao museu <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de ou mesmo a um ginásio poliesportivo,um estádio de futebol, um complexo aquático ou uma pista deatletismo permitirá compreender a origem e os processos evolutivosde determina<strong>da</strong>s práticasFilmes e peçasteatraisQuantos de nós, ao assistirmos a um filme ou uma peça teatral, nosidentificamos ou tomamos para nossos afazeres diários diversosexemplos. Ao assistir ao filme “Coach Carter: treino para vi<strong>da</strong>”(2005), podemos observar como o respeito às diferenças, a valorizaçãodo outro, a compreensão e o olhar <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de e condição de ca<strong>da</strong>um permitem perceber que, antes de nos julgarmos incapazes derealizar algo, precisamos aproveitar as oportuni<strong>da</strong>des que surgemao invés de nos apoiarmos nas dificul<strong>da</strong>des para justificar nossasações. Não se esqueça, porém, principalmente para os filmes,de tomar conhecimento deles e assistir a eles antecipa<strong>da</strong>mente,para, posteriormente, elaborar um roteiro de análise e discussãoprofun<strong>da</strong>sFestivais ecompetiçõesA visualização <strong>da</strong> prática esportiva, o olhar para o outro, paracomo este se comporta na execução <strong>da</strong>s ações que favorece onosso aprendizado. É sempre bom observar como determinadosmovimentos se realizam e se completam. Isso facilita o pensar noque se faz e pode levar a criança e o adolescente a “imaginarem”como eles podem fazer, motivando-os ain<strong>da</strong> maisAMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)261Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec8:261 11/11/2009 10:16:19


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOLeitura dejornais erevistasMuitas vezes, aquilo que vemos, lemos e ouvimos nem sempreapresenta os fatos como eles são. Boa parte disso precisa ser refletido,discutido e pensado de forma que agregue novos conhecimentos,bons ou mesmo aqueles não necessários para o que desejamos.Discutir com os alunos se, de fato, “esporte é saúde” ou “esporteé vi<strong>da</strong>”, como muitas vezes se “vende” em jornais e revistas, é umaresponsabili<strong>da</strong>de de todos os que li<strong>da</strong>m diretamente com a formaçãode crianças e jovensLeitura detextosOs textos que estu<strong>da</strong>mos durante o período de formação profissional,por vezes, são complexos e extensos aos objetivos que temos nosNúcleos do Programa Segundo Tempo. Porém, entendemos queos professores podem elaborar pequenos textos, juntamente comos alunos, por que não, para aprofun<strong>da</strong>r-se em discussões queenriqueçam as vivências <strong>da</strong>s práticas esportivas, possibilitando ummelhor entendimento e reconhecimento de determina<strong>da</strong>s tarefas aserem realiza<strong>da</strong>s. Assim, os professores podem oferecer aos alunosum entendimento “desmistificado” de elementos que, muitasvezes, são omitidos pela prática ou por outros meios de acesso àinformaçãoObservação defotosVisualizar e imaginar como algo se realiza ou o percurso adotadopara se chegar a um determinado ponto sempre pode aguçar acuriosi<strong>da</strong>de dos alunos. Diferente do “movimento”, observar umaimagem pode permitir que crianças e adolescentes idealizem talrealização. Isso motiva e estimula a busca por metas estabeleci<strong>da</strong>sindividualmente. Ou, ain<strong>da</strong>, ao observarem os males que umaprática inadequa<strong>da</strong> pode causar, as crianças poderão pensar o quede fato desejam para suas vi<strong>da</strong>sTodos os recursos abor<strong>da</strong>dos precisam de tutores que conheçam edominem profun<strong>da</strong>mente o que apresentarão, bem como estabeleçam oslimites adequados para sua utilização, considerando que o uso indevidopode, ao invés de contribuir, atrapalhar o processo de apropriação doconhecimento. Procure ler com atenção o texto “<strong>Fun<strong>da</strong>mentos</strong> doLazer e <strong>da</strong> Animação Cultura”, neste livro, pois nele se encontramesclarecimentos e pontos significativos de interpretação para as açõesindica<strong>da</strong>s anteriormente.Assim, preencha o Quadro 6 (no final do capítulo), apresentandocomo ca<strong>da</strong> um desses recursos pode ser utilizado na prática e sugira outrostantos que já utiliza ou imagina ser possível utilizar.262AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec8:262 11/11/2009 10:16:19


PLANEJAMENTO DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOA AvaliaçãoA avaliação é um processo complexo e contínuo; tem o objetivo de subsidiar ediagnosticar, permanentemente, as decisões necessárias para se proceder àsmu<strong>da</strong>nças efetivas em nossas intervenções e ações pe<strong>da</strong>gógicas.Quando in<strong>da</strong>gamos aos professores que coordenam os núcleos e aosmonitores do Programa Segundo Tempo sobre a forma como avaliamseus alunos, muitas respostas se assemelham: “Avaliamos por observação”;“Por participação”; “Não temos um instrumento específico para avaliarnossos alunos”.Entendemos que essa etapa do planejamento requer muitos cui<strong>da</strong>dos,tanto em sua elaboração como em sua aplicação, pois dela dependema análise e a toma<strong>da</strong> de decisão presente e futura, se nossos desejos(Planejamento) estão sendo apropriados de forma satisfatória.Sabemos também <strong>da</strong> dificul<strong>da</strong>de em avaliar e dos problemas que umaúnica maneira de avaliar pode causar.Cientes dessas dificul<strong>da</strong>des e desafios, a avaliação deve:a) Ser refleti<strong>da</strong> e discuti<strong>da</strong> em conjunto com os alunos, paise/ou responsáveis e membros <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de, oportunizando averificação dos impactos <strong>da</strong>s ações do Programa Segundo Tempona vi<strong>da</strong> dos beneficiados diretos e indiretos.b) Estimular os alunos na busca de novos conhecimentos,tornando-se um espaço de construção de diálogo, orientação,informação, observação, explicação, correção, questionamento,aconselhamento, crítica, respostas e escuta.c) Pautar-se na análise <strong>da</strong>s múltiplas dimensões do planejamento:objetivos, conteúdos, ativi<strong>da</strong>des, tendo o aluno como centro dessaanálise.d) Centrar-se na reali<strong>da</strong>de, calca<strong>da</strong> na prática e não numa açãoburocrática.e) Verificar como o aluno utiliza os conceitos, se demonstra satisfaçãona realização <strong>da</strong>s manifestações <strong>da</strong> cultura corporal, dentro de suasAMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)263Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec8:263 11/11/2009 10:16:19


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOpossibili<strong>da</strong>des, se esses elementos possibilitaram transformaçõesna forma de comportar-se frente às ativi<strong>da</strong>des e ao grupo a quepertence, e se estes se relacionam com a sua vi<strong>da</strong>.f) Verificar se o aluno tem autonomia para solucionar problemas quesurgem nas ativi<strong>da</strong>des e identificar se reúne elementos suficientespara adoção de uma cultura de vi<strong>da</strong> ativa.g) Observar se o aluno é capaz de transformar as manifestações <strong>da</strong>cultura corporal experimenta<strong>da</strong>s na prática esportiva de acordocom sua necessi<strong>da</strong>de, isto é, se uma determina<strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>dedesenvolvi<strong>da</strong> durante a aula reúne elementos de dificul<strong>da</strong>de e quepodem comprometer a prática.h) Permitir que os alunos criem novas formas de movimento a partir<strong>da</strong>s experiências que tiveram, identificando, assim, a capaci<strong>da</strong>dede transformação <strong>da</strong> prática.i) Possibilitar a compreensão de que as manifestações <strong>da</strong> culturacorporal são possibili<strong>da</strong>des para o exercício <strong>da</strong> convivência futurae que a presença do outro é essencial.j) Identificar se o aluno realmente compreendeu e valoriza aimportância do conteúdo, bem como sua utilização para a vi<strong>da</strong>.Para que a avaliação cumpra seu papel, é necessário que o professorutilize instrumentos avaliativos que permitam não apenas mensurar ouquantificar informações, mas permitam uma análise qualitativa <strong>da</strong>s açõesdesenvolvi<strong>da</strong>s no núcleo e como estas interferem, direta e indiretamente,na vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s crianças, dos adolescentes e <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de em que seinserem.Para tanto, sugerimos que se utilizem:a) Ficha de acompanhamento individual.b) Ficha de acompanhamento de turmas.c) Entrevistas com os alunos.d) Questionários com os alunos.e) Questionário ou entrevista com pais e/ou responsáveis.f) Questionário ou entrevista com membros <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de.264AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec8:264 11/11/2009 10:16:19


PLANEJAMENTO DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOg) Questionário ou entrevista com diretores e professores deescola.h) Portifólios, anotações de observação, relatórios mensais.i) Fichas de observação com escalas de observações.j) Fichas de pré-teste e pós-teste.k) Fichas para verificação de aprendizagem tática.l) Fichas para verificação de aprendizagem motora.m) Fichas de autoavaliação e fichas de comportamentos e atitudes.n) Relatório de avaliação de grupo.Apresentamos, no final do texto, alguns instrumentos de avaliaçãoque poderão “iniciá-lo” na difícil mas importante tarefa de avaliar. Maslembramos que a avaliação não pode limitar-se a esses instrumentos. Elesdevem ser compreendidos, analisados, discutidos e transformados a partirde sua reali<strong>da</strong>de. Ressaltamos que os instrumentos apresentados ao finaldo texto buscam contemplar as diversas características de um processoavaliativo, envolvendo: a avaliação <strong>da</strong>s crianças de forma plena (aspectossociais, culturais, <strong>da</strong> aprendizagem tática e aprendizagem motora doesporte), realiza<strong>da</strong>s pelo professor; a autoavaliação, que estimula o aluno aperceber suas formas de conduta e aprendizado; a avaliação dos professoresrealiza<strong>da</strong> pelos alunos, objetivando que o professor possa perceber comoos alunos o veem em seu papel social.Você pode estar perguntando se esses instrumentos são importantesou, ain<strong>da</strong>, entendendo que essas solicitações são meramente efêmeras,ocasionais, sazonais. Porém, é a partir delas que poderemos, de fato,avaliar o impacto do Programa Segundo Tempo na vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s crianças e dosadolescentes atendidos.Essa também é uma fonte riquíssima para avaliar se nosso trabalhoestá se desenvolvendo e o que e como podemos melhorar.Perguntas simples e de fácil resposta podem auxiliar muito aobservação dos resultados do Programa Segundo Tempo na vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>scrianças e adolescentes atendidos.O que aprendi nas aulas do Programa Segundo Tempo? O que tivedificul<strong>da</strong>de em aprender nas aulas do Programa Segundo Tempo? O queain<strong>da</strong> posso aprender nas aulas do Programa Segundo Tempo? O que achoAMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)265Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec8:265 11/11/2009 10:16:19


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOque não aprenderei nas aulas do Programa Segundo Tempo? Ajudo meuscolegas durante as aulas do Programa Segundo Tempo? Sou aju<strong>da</strong>do pelosmeus colegas durante as aulas do Programa Segundo Tempo? Por que asaulas do Programa Segundo Tempo me satisfazem? Por que as aulas doPrograma Segundo Tempo não me satisfazem?Outras podem ser elabora<strong>da</strong>s para os pais e/ou responsáveis e para acomuni<strong>da</strong>de.Como analisa o desenvolvimento do seu filho ou <strong>da</strong> criança e/ou adolescente <strong>da</strong> minha comuni<strong>da</strong>de com sua inserção no ProgramaSegundo Tempo? Quais foram os maiores benefícios que esse projetosocial trouxe para sua vi<strong>da</strong> e para a vi<strong>da</strong> de nossa comuni<strong>da</strong>de? Quaissão as alterações necessárias para que o Programa Segundo Tempo fiqueain<strong>da</strong> melhor? De que forma você pode atuar de maneira mais direta nasativi<strong>da</strong>des ofereci<strong>da</strong>s pelo Programa Segundo Tempo?Perguntas como essas não precisam ser feitas to<strong>da</strong>s ao mesmo tempo,nem a ca<strong>da</strong> semana ou mês, mas a partir do momento em que as ações donúcleo estejam consoli<strong>da</strong><strong>da</strong>s e existam indicativos de melhoria por meiode sua observação direta.O que não se pode deixar é de avaliar!Sem avaliação, nossa ação pe<strong>da</strong>gógica se limita ao simples ensinar,sem compromisso com os objetivos estabelecidos, conteúdos selecionadose procedimentos metodológicos definidos.Se desejamos vi<strong>da</strong> longa ao Programa Segundo Tempo, esses sãoapenas alguns indicativos para que isto ocorra!Agora, elabore, a partir do Quadro 7 (no final deste capítulo),um instrumento de avaliação do impacto do Programa SegundoTempo na vi<strong>da</strong> dos alunos, outro para verificar a percepção de paise/ou responsáveis sobre o Programa Segundo Tempo na vi<strong>da</strong> de seusfilhos e filhas, e outro que identifique como a comuni<strong>da</strong>de percebe apresença do Programa Segundo Tempo em seu dia a dia.Checando os últimos detalhes...Ao chegarmos a esta etapa de nosso texto, queremos relembrar oselementos que foram discutidos para que não se esqueça de nenhum itemno processo de organização e planejamento <strong>da</strong>s ações dos Núcleos doPrograma Segundo Tempo.266AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec8:266 11/11/2009 10:16:19


PLANEJAMENTO DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOPortanto, para que seu projeto pe<strong>da</strong>gógico esteja o mais próximopossível <strong>da</strong> sua reali<strong>da</strong>de e aten<strong>da</strong> os anseios de seus alunos, lembre-se deque ele precisa apresentar os seguintes itens:a) identificação geral do núcleo.b) elaboração <strong>da</strong> fun<strong>da</strong>mentação teórica.c) elaboração do diagnóstico.d) elaboração dos objetivos.e) seleção e organização dos conteúdos.f) práticas, metodologias e procedimentos no planejamento <strong>da</strong>saulas.g) seleção de recursos.h) avaliação.Ao final <strong>da</strong> elaboração do projeto pe<strong>da</strong>gógico do núcleo edurante todo processo de efetivação prática, faz-se necessário umrepensar constante de ações, o que denominamos de “reelaboraçãodo planejamento”. Isso facilitará ajustes necessários durante acaminha<strong>da</strong>, bem como uma constante alimentação de seu projeto,solidificando ca<strong>da</strong> vez mais os passos para que se atinjam os objetivosesperados pelo Programa Segundo Tempo de maneira eficiente, eficaze, acima de tudo, REAL.O PLANEJAMENTO SEMANAL/MENSAL DO NÚCLEO:AS INTENÇÕES/AÇÕES COMPARTILHADAS ENTRE OPROGRAMA SEGUNDO TEMPO, PROFESSORESE MONITORES OU O PLANO MICROO Planejamento e a elaboração do Plano Semanal/Mensal são açõeseducativas em que você compartilha seus motivos pessoais, sociais,éticos, educacionais. Por vezes, tornam-se uma forma de registrotão intenso e profundo, que retratam o dinamismo do cotidianoAMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)267Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec8:267 11/11/2009 10:16:19


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOeducacional. Porém, são ações imprevisíveis em um contexto deresistências e avanços.Devemos sistematizar e racionalizar, para <strong>da</strong>r sentidos e significadosàs nossas intervenções. Inicialmente, é necessário refletir sobre o efeitoestabilizador do habitus (BORDIEU, 1991), que organiza os processos denossas ações pe<strong>da</strong>gógicas.O habitus dificulta o planejamento de nossas intenções/açõese, muitas vezes, a partir dele, perpetuamos intervenções, históriase experiências que estabilizam (ou imobilizam!) nosso cotidiano.Construímos resistência, pois estamos convencidos previamentede que não tem jeito e devemos aceitar as “coisas” como estão. Naver<strong>da</strong>de, não temos escolha: nosso planejamento deve ser discutido,construído e elaborado de forma documental, em função de nossasituação, de nossas convicções e do estado de desenvolvimento denossos conhecimentos.Veja a responsabili<strong>da</strong>de e o compromisso que você tem ao definiro Planejamento Pe<strong>da</strong>gógico anual de seu núcleo, posteriormenteplanos semanais/mensais em que vai intervir pe<strong>da</strong>gogicamente. Nessemomento, você estará reafirmando suas crenças para a formação de umprojeto esportivo educacional, anunciando seus ideais, seus valores,suas ambições, além <strong>da</strong> possibili<strong>da</strong>de efetiva de contribuir com odesenvolvimento de crianças e adolescentes.O planejamento semanal/mensal é uma forma de elaborar umaproposta de intervenção articula<strong>da</strong> ao PROJETO DO NÚCLEO,tematizando os conteúdos propostos com maior amplitude de tempo.Precisamos de tempo para aprofun<strong>da</strong>r e dinamizar conhecimentos esaberes oriundos dos conteúdos propostos pelo Programa SegundoTempo. Estamos propondo que o Plano (micro) possa ser elaboradode forma semanal, quinzenal ou mensal, respeitando a característicado núcleo e do tema proposto para o período. Lembre-se de que maisimportante que a periodici<strong>da</strong>de com que esse Plano (micro) seráelaborado, é que, de fato, ele seja feito e ganhe “vi<strong>da</strong>”.Elabore e organize um esquema de planejamento e registro doplano que dê sentido às suas intervenções metodológicas possíveis.É importante que tenha consciência do seu compromisso com oPrograma Segundo Tempo e, consequentemente, com a comuni<strong>da</strong>deem que está atuando.268AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec8:268 11/11/2009 10:16:20


PLANEJAMENTO DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOA mu<strong>da</strong>nça de habitus nos conduz a ações em campos de risco,incerteza e imprevisibili<strong>da</strong>de. Então, vamos planejar para obter resultadoscom alternativas possíveis, aceitáveis, racionais e articulados. Nãoselecionamos nossas condições de trabalho, tampouco o contexto de nossasintenções/ações, mas podemos interferir no jogo definindo metas,procedimentos metodológicos e processos avaliativos. Fazer comque seus alunos chutem bola “dois-a-dois”, ou ficar “apitando jogo”o tempo todo não contribuirá muito. Você é parte do “ProgramaSegundo Tempo”!Para tanto, elaboramos um conjunto de procedimentosnorteadores que viabilizarão suas ações pe<strong>da</strong>gógicas, possibilitando areflexão na ação, a reflexão sobre a ação e a reflexão sobre a reflexão <strong>da</strong>ação (SCHÖN, 2000). Podemos identificar e analisar as condições deca<strong>da</strong> núcleo, bem como recontextualizar os objetivos e procedimentosmetodológicos estabelecidos, com vistas à melhoria <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>ação pe<strong>da</strong>gógica dos professores e monitores.A ideia, a partir deste momento, é oferecer elementos balizadoresao planejamento semanal, quinzenal ou mensal, que permitam aosatores envolvidos (coordenadores de núcleo e monitores) refletira organização e o planejamento do conjunto de ações a seremdesenvolvi<strong>da</strong>s.Organize um grupo de professores e monitores para estu<strong>da</strong>r edebater temas pertinentes ao núcleo em que está inserido. Se a distânciadificultar a organização desse grupo, que inicialmente será compostoapenas por professor e monitores, reúna as crianças, estimule o debatee acolha as sugestões – elas sabem do que precisam. Caso tenha umaInstituição de Ensino Superior perto de seu local de trabalho, procureuma aproximação com os professores e veja a possibili<strong>da</strong>de de registrarsuas experiências em forma de trabalho acadêmico para apresentaçãoem eventos <strong>da</strong> área. Junte essa tarefa às suas atribuições administrativase trabalhe-as como questões educativas efetivas.AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)269Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec8:269 11/11/2009 10:16:20


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOESQUEMA GRÁFICO DO PLANO SEMANAL/MENSALDADOS DEIDENTIFICAÇÃOTEMAOBJETIVOSINDICATIVOS PARARECONTEXTUALIZAROS OBJETIVOSPROCEDIMENTOSMETODOLÓGICOSRECURSOSNECESSÁRIOSPROCESSOSAVALIATIVOSFigura 3: Esquema Gráfico do Plano Semanal/MensalO PLANEJAMENTO SEMANAL/MENSALDados de identificaçãoNo Planejamento Semanal/Mensal como instrumento norteador,você deve procurar identificar:a) O Ministério do Esporte – Programa Segundo Tempo (logo).b) O local e os responsáveis – nome do núcleo, do coordenador edos monitores.c) A turma, número de alunos (especificando quantos meninos emeninas), o número de aulas desse plano (durante quanto tempodesenvolverão essas ativi<strong>da</strong>des), a mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de, horário em que asaulas acontecem, os dias, o mês e ano.270AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec8:270 11/11/2009 10:16:20


PLANEJAMENTO DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOd) Outros elementos que você identifique como relevantes.Isso permitirá identificar, de forma rápi<strong>da</strong>, o conjunto de aulasque você realizou com uma determina<strong>da</strong> turma e como avaliou asintervenções.Conteúdo e temaLembre-se de que o conteúdo é uma área de conhecimentosistematiza<strong>da</strong>, e o tema é um recorte desse conhecimento. Tematizando oconteúdo, poderemos articular diversos saberes e permanecer um tempomaior mediando esses conhecimentos.Veja este exemplo:Conteúdo: Handebol.Possível tema: Conhecendo e aprendendo as posições do jogo, nadefesa e no ataque.Você pode, ain<strong>da</strong>, articular o conteúdo proposto elaborando temase objetivos a partir dos elementos citados a seguir. Vale destacar quebuscamos contemplar todos os elementos que constituem o fenômenoesporte e o que podemos ensinar "do" e a "partir” dele:a) entendimento do esporte-espetáculo.b) sistema esportivo profissional no Brasil e no mundo.c) apreciação estética e técnica.d) interesses políticos e econômicos do esporte.e) habili<strong>da</strong>des e atitudes necessárias para o jogo.f) comportamento para a prática.g) vivência real – motivos e sentidos.h) respeito à diversi<strong>da</strong>de.i) organização social para praticá-lo.j) compreensão e pensamento do jogo.k) antecipação e toma<strong>da</strong> de decisão.l) acerto ao alvo.m) transporte <strong>da</strong> bola.AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)271Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec8:271 11/11/2009 10:16:20


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOn) criação de superiori<strong>da</strong>de numérica.o) reconhecimento de espaços.p) organização dos ângulos.q) controle <strong>da</strong> força.r) determinação do tempo <strong>da</strong> bola.s) antecipação de distâncias <strong>da</strong> bola.t) antecipação <strong>da</strong> posição defensor.u) observação dos deslocamentos.v) dentre outros.ObjetivosOs objetivos são ações que devem projetar uma finali<strong>da</strong>de espera<strong>da</strong>que seus alunos poderão apresentar após um tempo pe<strong>da</strong>gógico deaprendizagens.Os objetivos explicam de forma prospectiva os conteúdos. Você deveexpressar as habili<strong>da</strong>des, os conhecimentos e saberes de que seus alunosdeverão se apropriar mediante sua intervenção. Você precisa escolher edecidir alguns itens que foram previamente diagnosticados para elaboraros objetivos. Não estabeleça objetivos que estão muito além <strong>da</strong> condiçãodo grupo, tornando-os inatingíveis. Lembre-se: “pés no chão” e “umpasso de ca<strong>da</strong> vez”.Nesse momento você deve estar com o Plano Pe<strong>da</strong>gógico do núcleoem mãos para compartilhar e articular o Plano Macro com o PlanoMicro.Os objetivos devem expressar de forma clara a ação espera<strong>da</strong> dosALUNOS, em função <strong>da</strong> tematização <strong>da</strong>s aulas ou do conjunto de aulasdesvinculado de processos normativos.Exemplificando: num plano de aula semanal, em que o conteúdoseja o futebol e o tema o aperfeiçoamento do fun<strong>da</strong>mento chute dofutsal, o objetivo poderá ser: executar as técnicas do chute e deslocamentoutilizando materiais diversificados (bolsas e cor<strong>da</strong>s), treinando o gestomotor padronizado para ca<strong>da</strong> situação.272AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec8:272 11/11/2009 10:16:20


PLANEJAMENTO DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOProcedimentos metodológicosNessa etapa do plano, você deve projetar sua intervenção durante oconjunto de aulas, com o tema proposto, afinal, dificilmente conseguiráatingir tudo o que se propôs num único dia ou aula. Não fique preso àelaboração ativi<strong>da</strong>des. Você pode até indicar algumas. Mas, com certeza, ogrande especialista <strong>da</strong> área é o seu aluno.O plano é um guia, a planta de uma casa, de um edifício que vocêquer construir. Procure identificar suas possíveis atitudes e procedimentosdesejáveis para alcançar os objetivos propostos. Algumas questões devemser respondi<strong>da</strong>s: Como vou iniciar a aula? Como abor<strong>da</strong>r esse conteúdo?Levantando questões problemas? Quais os recursos que utilizarei? Comum jogo para aquecimento? Será necessário, dividir a turma? Como realizaressa tarefa? Outras questões podem surgir conforme sejam articula<strong>da</strong>s asrelações conteúdo-tema-objetivo-avaliação em seu planejamento.Exemplificando: numa aula em que o conteúdo seja o atletismo, otema “saindo <strong>da</strong> inércia em corri<strong>da</strong>s de veloci<strong>da</strong>de” e o objetivo “elaborar,de forma coletiva e individual, formas e possibili<strong>da</strong>des de sair <strong>da</strong> inérciaem corri<strong>da</strong>s de veloci<strong>da</strong>de no atletismo”, o professor poderá adotar comoprocedimentos metodológicos reunir a turma no centro <strong>da</strong> quadra, proporalgumas análises sobre movimento, inércia, corri<strong>da</strong>s, atletismo. Após essacontextualização inicial, o professor proporá ativi<strong>da</strong>des que possibilitema conscientização do movimento para a corri<strong>da</strong> e <strong>da</strong> veloci<strong>da</strong>de de reação(quali<strong>da</strong>de física). Possibilitará, por meio de perguntas operacionaliza<strong>da</strong>s,que o grupo treine, a partir de suas possibili<strong>da</strong>des, maneiras de“largar” no atletismo. Ao final, discutirá o aprendizado e provocarásituações- problemas para serem resolvidos na próxima aula.Processos de avaliaçãoQue instrumentos avaliativos podem auxiliar no fornecimento deinformações para o estabelecimento de um juízo de valor e na identificaçãodo desempenho e rendimento individual e do grupo de alunos?Durante to<strong>da</strong>s as aulas, independentemente se a sua opção for umplanejamento semanal, quinzenal ou mensal, você deve, obrigatoriamente,AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)273Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec8:273 11/11/2009 10:16:20


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOrealizar registros e anotações do decorrer <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des, identificandose os objetivos estão sendo alcançados e como a próxima aula deveráser media<strong>da</strong>. Cui<strong>da</strong>do para não se perder em devaneios inalcançáveis.Procure manter o foco nos objetivos que elaborou para o conjunto deaulas <strong>da</strong>quele tema.O processo de avaliação tem a finali<strong>da</strong>de de garantir o(s) objetivo(s)elaborado(s), prevalecendo o acompanhamento contínuo dos alunos: suasdificul<strong>da</strong>des, motivações, resistências, acertos, dentre outros. O processoavaliativo deve efetivar argumentos e decisões para mu<strong>da</strong>r o jogo duranteo jogo, decidir e utilizar os instrumentos avaliativos citados anteriormenteno Projeto Pe<strong>da</strong>gógico de Núcleo.Numa aula em que o objetivo seja executar movimentos coreográficos<strong>da</strong> ginástica geral, combinando tempo, forma, técnica e criativi<strong>da</strong>de, oprofessor poderá avaliar seus alunos a partir de fichas de autoavaliação,fichas de comportamentos e atitudes e relatório de avaliação de grupo.Ao finalizar esta apresentação, sugerimos que preencham o Quadro8 (no final deste capítulo), considerando os elementos de elaboraçãodo planejamento semanal/mensal dos núcleos do Programa SegundoTempo.CONSIDERAÇÕES FINAISTrabalhar as manifestações <strong>da</strong> cultura corporal e, em especial, oesporte não é uma tarefa simples como muitos acreditam. Contudo,maior ain<strong>da</strong> é nossa responsabili<strong>da</strong>de quando as trabalhamos com criançase adolescentes expostos a riscos sociais dos mais diversos.Precisamos, assim, superar o entendimento de que planejar é umaação burocrática. Esperamos que isso tenha ficado claro após uma leituracui<strong>da</strong>dosa do texto. Planejar é escrever os próprios caminhos, a própriahistória e, como afirmamos no início, é fazer opções, acreditar emmu<strong>da</strong>nças.Em pleno século XXI, não podemos aceitar a desculpa de queplanejar é uma tarefa burocrática e “chata”. Precisamos compreender274AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec8:274 11/11/2009 10:16:20


PLANEJAMENTO DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOque to<strong>da</strong> e qualquer ativi<strong>da</strong>de humana, mesmo nas ações mais simples <strong>da</strong>vi<strong>da</strong>, como uma toma<strong>da</strong> de decisão para comprar um objeto de decoração,escolher um sanduíche, ou algumas que requerem um pouco mais dededicação, como escolher uma profissão, comprar uma casa, um carro,indiscutivelmente, to<strong>da</strong>s requerem uma reflexão sobre as condições quetemos para optar a favor ou contra ou por uma ou por outra.Organizar e registrar o seu trabalho docente pode ser algo complexoe difícil se você nunca o fez, mas a partir do momento em que passar afazê-lo perceberá quão gratificante é perceber os avanços que surgem apartir <strong>da</strong> organização do trabalho pe<strong>da</strong>gógico.“O primeiro passo é começar” e isso deve ter início com a estruturaçãodo Projeto Pe<strong>da</strong>gógico do Núcleo e, a partir de um bom planejamentodessa etapa, deve-se partir para a elaboração e registro do PlanoSemanal/Mensal, detalhando todo trajeto <strong>da</strong>s ações pe<strong>da</strong>gógicas.Quando nos referimos à ação de educar, especificamente, utilizandoo Esporte, elemento tão importante e valorizado em nossa cultura, queé o caso do Programa Segundo Tempo, a responsabili<strong>da</strong>de é muitomaior, visto que li<strong>da</strong>mos com a vi<strong>da</strong> de crianças e jovens, muitas vezes,desprovidos de todo e qualquer amparo familiar, social e cultural, o queacaba comprometendo seu desenvolvimento. Se agirmos de maneiradesorganiza<strong>da</strong> e descomprometi<strong>da</strong> os <strong>da</strong>nos podem ser muito maiores.Por fim, nossa responsabili<strong>da</strong>de é tornar o Programa SegundoTempo uma ação capaz de interferir positivamente na vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s crianças eadolescentes, permitindo a elas que observem a reali<strong>da</strong>de que as cercam,interpretando os <strong>da</strong>dos dessa reali<strong>da</strong>de e estabelecendo metas para superara condição de desfavorecimento em que vivem. Temos a crença de que osucesso de nossas ações está diretamente relacionado a quão organiza<strong>da</strong>se planeja<strong>da</strong>s elas forem.REFERÊNCIASBORDIEU, Pierre. O poder simbólico. Lisboa: Difel, 1989.AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)275Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec8:275 11/11/2009 10:16:20


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOOLIVEIRA, Amauri Aparecido Bássoli de; MOREIRA, Evando Carlos.Planejamento e organização para o programa segundo tempo. In: OLIVEIRA,Amauri Aparecido Bássoli de; PERIM, Gianna Lepre (Org.). <strong>Fun<strong>da</strong>mentos</strong>pe<strong>da</strong>gógicos para o programa segundo tempo. 2. ed., Maringá: Eduem,2008.PILETTI, Claudino. Didática geral. 21. ed. São Paulo: Ática, 1997.SACRISTÁN, J. Gimeno; PEREZ GOMEZ, A. I. Compreender e transformaro ensino. Porto Alegre: Artmed, 1998.SANTOS, Boaventura Sousa. Um discurso sobre as ciências. Porto:Afrontamento, 1987.SCHÖN, Donald A. Educando o profissional reflexivo: o novo design para oensino e a aprendizagem. Porto Alegre: Artmed, 2000.276AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec8:276 11/11/2009 10:16:20


PLANEJAMENTO DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOQuadro Síntese:A ação de planejar é essencial para que as finali<strong>da</strong>des e objetivos do Programa SegundoTempo sejam atingidos. Planejar é agir em função de objetivos e metas, de um futuroque prevê um resultado desejado.O planejamento pe<strong>da</strong>gógico do núcleo e do conjunto de aulas deve ser uma síntesede um processo participativo e que possibilite <strong>da</strong>r sentido e significado às suas açõespe<strong>da</strong>gógicas, ou seja, um esboço, um apontamento de uma ideia, que serve como guiaordenado para realização de suas metas e desejos que não se encerra nunca, pois hánecessi<strong>da</strong>de de racionalizar as ações, recursos, tempo.Os aspectos básicos do processo de planejar devem ser cui<strong>da</strong>dosamente observadose cumpridos por todos que queiram realmente atingir as metas idealiza<strong>da</strong>s, ou seja,cui<strong>da</strong>dos gerais em relação à fun<strong>da</strong>mentação teórica, diagnóstico, objetivos reais eatingíveis, conteúdos sintonizados com a reali<strong>da</strong>de e necessi<strong>da</strong>des dos envolvidos,procedimentos metodológicos compatíveis com os propósitos inclusivos eparticipantes, recursos necessários e processos avaliativos que consigam levar todosos participantes ao ato reflexivo sobre as ações e consequências do Programa SegundoTempo na comuni<strong>da</strong>de.Questões Centrais para Reflexão:1 − Planejar não pode ser uma ação isola<strong>da</strong>. Dessa forma, quais estratégiasvocê poderia adotar para tornar seu planejamento uma tarefa queenvolva o maior número de pessoas possível?AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)277Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec8:277 11/11/2009 10:16:20


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPO2 − Como criar um ambiente que conte com a participação <strong>da</strong>s criançase adolescentes no momento de definir os objetivos, selecionar osconteúdos e avaliar o desenvolvimento <strong>da</strong>s ações do núcleo?Onde Saber Mais:CORREIA, W. R. Planejamento participativo e o ensino <strong>da</strong> educação física no 2ºgrau. Revista Paulista de Educação Física, São Paulo, supl. 2, p. 43-48, 1996.Disponível em: http://www.usp.br/eef/rpef/supl2/supln2p43.pdfVASCONCELLOS, Celso dos S. Planejamento: projeto de ensinoaprendizageme projeto político pe<strong>da</strong>gógico. 7. ed. São Paulo: Libertad, 2000.278AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec8:278 11/11/2009 10:16:20


PLANEJAMENTO DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOQuadro 1De posse <strong>da</strong>s Diretrizes e <strong>Fun<strong>da</strong>mentos</strong> Pe<strong>da</strong>gógicos do ProgramaSegundo Tempo e a partir <strong>da</strong> sua reali<strong>da</strong>de, redija no quadro afun<strong>da</strong>mentação teórica do planejamento pe<strong>da</strong>gógico de seunúcleo.AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)279Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec8:279 11/11/2009 10:16:20


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOQuadro 2É difícil elaborar um diagnóstico sem estar na locali<strong>da</strong>de em questão.Ao invés de elaborá-lo, redija as perguntas que farão parte dosquestionários e <strong>da</strong>s entrevistas que ca<strong>da</strong> coordenador realizará em suacomuni<strong>da</strong>de.280AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec8:280 11/11/2009 10:16:20


PLANEJAMENTO DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOQuadro 3Determine objetivos do planejamento do núcleo para atender:a) Finali<strong>da</strong>des do Programa Segundo Tempo.b) Proposta de trabalho e projeto pe<strong>da</strong>gógico do seu convênio.c) <strong>Fun<strong>da</strong>mentos</strong> pe<strong>da</strong>gógicos do Programa Segundo Tempo.d) Desenvolvimento pleno de to<strong>da</strong>s as crianças e adolescentes.Preencha o Quadro 3 remetendo-se à reali<strong>da</strong>de de seu núcleo.AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)281Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec8:281 11/11/2009 10:16:20


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOQuadro 4As discussões sobre os conteúdos permitem reorganizar suas açõespe<strong>da</strong>gógicas em função dos objetivos estabelecidos. Assim, redija osconteúdos e possíveis conhecimentos e saberes que serão tematizadose desenvolvidos em seu núcleo.282AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec8:282 11/11/2009 10:16:20


PLANEJAMENTO DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOQuadro 5A partir do exposto nesta temática, do capítulo 7 – “ProcedimentosMetodológicos para o Programa Segundo Tempo” e <strong>da</strong>s mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>desesportivas de seu núcleo, defina como estas podem ser explora<strong>da</strong>s <strong>da</strong>melhor forma para uma apropriação mais eficaz e eficiente por parte <strong>da</strong>scrianças e adolescentes.AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)283Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec8:283 11/11/2009 10:16:20


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOQuadro 6Apresente como ca<strong>da</strong> um dos recursos disponíveis em seu núcleo podeser utilizado na prática e sugira outros tantos que já utiliza ou imaginaser possível utilizar.284AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec8:284 11/11/2009 10:16:20


PLANEJAMENTO DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOQuadro 7Elabore um instrumento de avaliação do impacto do Programa SegundoTempo para:a) Verificar a importância na vi<strong>da</strong> dos beneficiados.b) Identificar o que os pais e/ou responsáveis pensam sobre o ProgramaSegundo Tempo.c) Identificar como a comuni<strong>da</strong>de percebe o Programa Segundo Tempo emseu cotidiano.Instrumento para avaliar o impacto na vi<strong>da</strong> dos beneficiáriosInstrumento para verificar a percepção de pais e/ou responsáveis sobre oPrograma Segundo TempoInstrumento para verificar como a comuni<strong>da</strong>de percebe a presença doPrograma Segundo Tempo no seu dia a diaAMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)285Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec8:285 11/11/2009 10:16:20


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOQuadro 8A partir do exposto no texto, elabore um planejamento semanal/mensaldos núcleos do Programa Segundo Tempo.Dados de identificação:Conteúdo:Tema:Objetivos:Procedimentos metodológicos:Processos de avaliação:286AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec8:286 11/11/2009 10:16:20


PLANEJAMENTO DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOEXEMPLO DE PLANILHA PARA AVALIAÇÃO DO ALUNO PELOPROFESSORNome do aluno: ______________________________________________Núcleo: _______________________ I<strong>da</strong>de: __________ Grupo: _______Aspectos a serem observados N PV AV MV SIdentifica e verbaliza sua ação motoraCompreende a razão do êxito/não êxitode sua ação motoraReconhece a importância do conteúdoestu<strong>da</strong>doVerbaliza a antecipação de sua açãomotoraCompreende as propostas sugeri<strong>da</strong>spelo professor/grupoContribui com outras possibili<strong>da</strong>desmotoras para atendimento aosproblemas propostosColabora na elaboração e reelaboração<strong>da</strong>s regrasAceita as sugestões formula<strong>da</strong>sArgumenta e defende suas sugestõespessoaisRespeita seus colegasindependentemente dos aspectosfísicos, sociais, culturais ou de gêneroCompreende o conteúdo propostoEnfrenta desafiosN – nunca / PV – poucas vezes / AV – algumas vezes / MV – muitas vezes / S - sempreAMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)287Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec8:287 11/11/2009 10:16:21


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOEXEMPLO DE PLANILHA PARA A AUTOAVALIAÇÃO DO ALUNOPARA UM DETERMINADO CONTEÚDO – VOLEIBOLNome do aluno: ______________________________________________Núcleo: _______________________ I<strong>da</strong>de: __________ Grupo: _______Aspectos a serem observados N PV AV MV SSei aplicar as principais regras dojogoIdentifico as regras do jogoCumpro as regras do jogoUtilizo adequa<strong>da</strong>mente a mancheteUtilizo oportunamente o passeAceito as decisões do árbitroAceito os erros dos meus colegasDesenvolvo o espírito de grupoColoco-me em condições de aju<strong>da</strong>ros colegasUtilizo adequa<strong>da</strong>mente o espaço dejogoExecuto bem o saqueSou capaz de admitir os meus errosIntegro-me bem no grupoAceito o resultado do jogoN – nunca / PV – poucas vezes / AV – algumas vezes / MV – muitas vezes / S - sempre288AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec8:288 11/11/2009 10:16:21


PLANEJAMENTO DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOEXEMPLO DE PLANILHA PARA AUTOAVALIAÇÃO DO ALUNONome do aluno: ______________________________________________Núcleo: _______________________ I<strong>da</strong>de: __________ Grupo: _______Aspectos a serem observados nas aulas N PV AV MV SAs minhas ações/tarefas foram realiza<strong>da</strong>s comêxitoCompreendi as razões de meu êxitoCompreendi as razões de meu não êxitoAs ações/tarefas dos meus colegas foramrealiza<strong>da</strong>s com êxitoCompreendi as razões do êxito de meuscolegasCompreendi as razões do não êxito de meuscolegasNo que dependeu <strong>da</strong>s minhas ações/tarefas aativi<strong>da</strong>de atingiu seu objetivoNo que dependeu de mim e de meus colegas aativi<strong>da</strong>de atingiu seu objetivoNo que dependeu do professor, de mim e demeus colegas a ativi<strong>da</strong>de atingiu seu objetivoAs aulas no Programa Segundo Tempoofereceram momentos para que todospudessem compreender as ações/tarefas queiriam realizarAspectos a serem observados na realização/participação num eventoAs pessoas que participaram manifestaramentendimento <strong>da</strong>s ações que vivenciaram noeventoAs pessoas que participaram manifestaramsatisfação com o que vivenciaram no eventoTodos os alunos do Programa Segundo Tempose envolveram de alguma maneiraN – nunca / PV – poucas vezes / AV – algumas vezes / MV – muitas vezes / S – sempreAMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)289Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec8:289 11/11/2009 10:16:21


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOEXEMPLO DE PLANILHA PARA ACOMPANHAMENTODA QUANTIDADE DE AULAS QUE EXPLORAM ODESENVOLVIMENTO DA APRENDIZAGEM TÁTICATurma: _____________________________________________________Faixa etária: _______________________ Horário: __________________Conteúdo/Aulas 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10Acertar o alvoAPRENDIZAGEMTÁTICACapaci<strong>da</strong>destáticasEstruturasfuncionaisJogos para odesenvolvimento<strong>da</strong> inteligênciaTransportar a bolaJogo coletivoCriarsuperiori<strong>da</strong>denuméricaReconhecerespaçosSair <strong>da</strong> marcaçãoSuperaradversários1 x 12 x 23 x 34 x 4Soma de passeJogo <strong>da</strong> VelhaOutro290AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec8:290 11/11/2009 10:16:21


PLANEJAMENTO DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOEXEMPLO DE PLANILHA PARA ACOMPANHAMENTODA QUANTIDADE DE AULAS QUE EXPLORAM ODESENVOLVIMENTO DA APRENDIZAGEM MOTORATurma: _____________________________________________________Faixa etária: _______________________ Horário: __________________Conteúdo/sessões ou aulas 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10Pressão tempoAPRENDIZAGEMMOTORACapaci<strong>da</strong>descoordenativasHabili<strong>da</strong>destécnicasPressão precisãoPressão organizaçãoPressão complexi<strong>da</strong>dePressão variabili<strong>da</strong>dePressão cargaOrganizar os ângulosControle <strong>da</strong> forçaDeterminar tempo<strong>da</strong> bolaDeterminar linhas decorri<strong>da</strong>Se oferecerAntecipar distâncias<strong>da</strong> bolaAntecipar a posição dodefensorObservardeslocamentosAMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)291Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec8:291 11/11/2009 10:16:21


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOREPRESENTAÇÃO GRÁFICA DE UM MODELO DE FREQUÊNCIADE ATIVIDADES ESPECÍFICAS PARA O SADE – SISTEMA DEAPRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO ESPORTIVOTurma: _____________________________________________________Faixa etária: _______________________ Horário: __________________Faixaetária(grupo)ACTBBCCBHTAEFAtivi<strong>da</strong>des esportivasAJDICAtivi<strong>da</strong>descircenses eteatraisAtivi<strong>da</strong>de deacompanhamentope<strong>da</strong>gógicoIntegraçãofamiliar7 e 8 1 3 1 0 3 29 2 3 1 1 3 2 210 e 11 2 3 2 2 2 2 212 e 13 3 3 2 3 2 2 313 e 14 3 2 3 3 2 2 315 e 16 3 1 3 3 1 2 31 encontro porsemana2Até 3 encontros porsemana1 reunião ou palestrapor mês para todosLegen<strong>da</strong>:A – Parâmetro do SADEB – Parâmetro do SADECTB – Capaci<strong>da</strong>des Táticas BásicasCC – Capaci<strong>da</strong>des CoordenativasHT – Habili<strong>da</strong>des TécnicasEF – Estruturas FuncionaisJDIC – Jogos para Desenvolvimento <strong>da</strong> Inteligência e Criativi<strong>da</strong>deOs números de 0 a 3 indicam a quanti<strong>da</strong>de de vezes em que esses temas precisam seroferecidos por semana para um bom aprendizado.292AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec8:292 11/11/2009 10:16:21


PLANEJAMENTO DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOROTEIRO DE ENTREVISTA/QUESTIONÁRIO PARA ALUNOSNome do aluno: ______________________________________________Núcleo: _______________________ I<strong>da</strong>de: __________ Grupo: _______1. O que aprendi nas aulas do Programa Segundo Tempo?2. O que tive dificul<strong>da</strong>de em aprender nas aulas do Programa SegundoTempo?3. O que ain<strong>da</strong> posso aprender nas aulas do Programa Segundo Tempo?4. O que acho que não aprenderei nas aulas do Programa Segundo Tempo?5. Ajudo meus colegas durante as aulas do Programa Segundo Tempo?6. Sou aju<strong>da</strong>do pelos meus colegas durante as aulas do Programa SegundoTempo?7. Por que as aulas do Programa Segundo Tempo me satisfazem?8. Por que as aulas do Programa Segundo Tempo não me satisfazem?AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)293Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec8:293 11/11/2009 10:16:21


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOROTEIRO DE ENTREVISTA/QUESTIONÁRIO PARA QUE OSALUNOS AVALIEM COORDENADORES E MONITORESNome do aluno: ______________________________________________Núcleo: _______________________ I<strong>da</strong>de: __________ Grupo: _______1. O coordenador chega no horário marcado para as aulas do ProgramaSegundo Tempo?2. Os monitores chegam no horário marcado para as aulas do ProgramaSegundo Tempo?3. O coordenador falta nos dias <strong>da</strong>s aulas do Programa Segundo Tempo?4. Os monitores faltam nos dias <strong>da</strong>s aulas do Programa Segundo Tempo?5. Como o coordenador trata os alunos durante as aulas do Programa SegundoTempo? É cui<strong>da</strong>doso, alegre, ou não se preocupa com você e seus colegas eestá sempre de “cara feia”?6. Como os monitores tratam os alunos durante as aulas do ProgramaSegundo Tempo? São cui<strong>da</strong>dosos, alegres, ou não se preocupam com vocêe seus colegas e estão sempre de “cara feia”?7. Quando existe uma briga entre os alunos durante as aulas do ProgramaSegundo Tempo, como o coordenador resolve esse problema?8. Quando existe uma briga entre os alunos durante as aulas do ProgramaSegundo Tempo, como os monitores resolvem esse problema?294AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec8:294 11/11/2009 10:16:21


ROTEIRO DE ENTREVISTA/QUESTIONÁRIO PARA PAIS E/OURESPONSÁVEISNome do pai e/ou responsável: __________________________________Nome do aluno: ______________________________________________Núcleo: _______________________ I<strong>da</strong>de: __________ Grupo: _______1. Quais são as alterações nas relações familiares percebi<strong>da</strong>s nocomportamento de seu filho(a) a partir do momento que ele(a) se inseriuno Programa Segundo Tempo?2. Quais são as alterações nas relações escolares percebi<strong>da</strong>s no comportamentode seu filho(a) a partir do momento que ele(a) se inseriu no ProgramaSegundo Tempo?3. Quais são os benefícios oferecidos ao desenvolvimento de seu filho(a) apóssua participação no Programa Segundo Tempo?4. Quais são os benefícios que a comuni<strong>da</strong>de pôde perceber após a implantaçãodo Programa Segundo Tempo?5. Quais são os aspectos a serem melhorados para que o Programa SegundoTempo possa avançar ain<strong>da</strong> mais em seu desenvolvimento?6. Como os profissionais que atuam no Programa Segundo Tempo seenvolvem com as ativi<strong>da</strong>des do núcleo e <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de?7. O que você entende que seu filho (a) aprendeu nas ativi<strong>da</strong>des do ProgramaSegundo Tempo?8. Como os pais e/ou responsáveis podem contribuir para a melhoria nodesenvolvimento <strong>da</strong>s ações do Programa Segundo Tempo?Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec8:295 11/11/2009 10:16:21


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NOTAS SOBRE OS AUTORESALEXANDRE CARRICONDE MARQUESDoutor em Ciência do Movimento Humano pela UFRGS/RS. Professor Adjunto<strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Federal de Pelotas/RS. Professor Permanente do Programa dePós-Graduação em Educação Física - ESEF/UFPel. Coordenador do Núcleo deEstudos em Ativi<strong>da</strong>de Física A<strong>da</strong>pta<strong>da</strong> - NEAFA - ESEF/UFPel. Coordenador deEquipe Colaboradora do Programa Segundo Tempo <strong>da</strong> SNEED/Ministério doEsporte.AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRADoutor em Educação Física pela UNICAMP, Professor Associado <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>deEstadual de Maringá e do Programa Associado de Pós-Graduação em EducaçãoFísica UEM/UEL. Coordenador do Grupo de Pesquisa em Educação FísicaEscolar e integrante do Grupo de Estudos e Pesquisas em Obesi<strong>da</strong>de e ExercícioFísico - GREPO. Integrante do quadro de Avaliadores Institucionais e de CursoAd-Hoc do INEP e Coordenador Pe<strong>da</strong>gógico do Programa Segundo Tempo <strong>da</strong>SNEED/Ministério do Esporte.ANGELA BRÊTASDoutora em Educação pela UERJ, Professora <strong>da</strong> Escola de Educação Física eDesportos <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Federal do Rio de Janeiro, Coordenadora do GrupoESQUINA: Ci<strong>da</strong>de, Lazer e Animação Cultural e Pesquisadora do GrupoANIMA: Lazer, Estudos Culturais e Animação Cultural.EVANDO CARLOS MOREIRADoutor em Educação Física pela UNICAMP, Professor Adjunto <strong>da</strong> Facul<strong>da</strong>de deEducação Física <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Federal de Mato Grosso (UFMT). Coordenadordo GEEFE - Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Física Escolar e PráticasPe<strong>da</strong>gógicas.GIANNA LEPRE PERIMDoutora em Educação pela UNICAMP, Professora do Departamento de Esportesdo Centro de Educação Física <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Estadual de Londrina (UEL),atualmente cedi<strong>da</strong> para o Ministério do Esporte, onde ocupa o cargo de Diretorado Departamento de Esporte Escolar e Identi<strong>da</strong>de Cultural <strong>da</strong> Secretaria NacionalLiv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec8:297 11/11/2009 10:16:21


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOde Esporte Educacional (SNEED/ME), responsável pelo Programa de Vivência eIniciação Esportiva - Segundo Tempo.HERBERT UGRINOWITSCHDoutor em Educação Física pela USP, Professor Adjunto <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>deFederal de Minas Gerais (UFMG), Coordenador do Programa de Pós-Graduaçãoem Ciências do Esporte <strong>da</strong> UFMG, Coordenador do Grupo de Estudo emDesenvolvimento e Aprendizagem Motora (GEDAM/UFMG) e integrantedo ECAPMUS - Ensino, Controle e Aprendizagem na Performance Musical(UFMG), Bolsista de Produtivi<strong>da</strong>de em Pesquisa do CNPq.HORÁCIO ACCIOLY JÚNIORDoutor em Educação pela Universi<strong>da</strong>de Federal do Rio Grande do Norte -UFRN, Mestre em Educação Física e Esportes pela Universi<strong>da</strong>de de SãoPaulo - USP, Professor Titular <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de do Estado do Rio Grande doNorte - UERN - Professor do Programa de Pós-Graduação na Área <strong>da</strong> Saúde<strong>da</strong> UFRN, Líder do Grupo de Pesquisa (CNPq) - "Estudos <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>: homemnatureza e socie<strong>da</strong>de" e Coordenador <strong>da</strong> linha de pesquisas em RepresentaçõesSociais <strong>da</strong> UERN.JOÃO CARLOS NEVES DE SOUZA E NUNES DIASMestre em Ciências Sociais pela Universi<strong>da</strong>de Federal do Rio Grande do Norte(UFRN), Professor Assistente do Curso de Educação Física <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>deFederal de Alagoas. Pesquisador do Grupo de Pesquisa Corpo e Cultura deMovimento (GEPEC - UFRN) e do Grupo de Estudos e Pesquisa em Docênciae Formação Profissional em Educação Física (GEPDEF - UFAL). Coordenadorde Equipe Colaboradora do Programa Segundo Tempo <strong>da</strong> SNEED/Ministériodo Esporte.JOSÉ PEREIRA DE MELODoutor em Educação Física pela UNICAMP, Professor Associado doDepartamento de Educação Física e do Programa de Pós-Graduação em Educação<strong>da</strong> UFRN, Coordenador do Grupo de Pesquisa Corpo e Cultura de Movimento- GEPEC - Natal/RN, Coordenador do Núcleo de Formação Continua<strong>da</strong> paraProfessores de Arte e Educação Física - Paidéia. Autor de livro, capítulos de livrose artigos sobre Educação Física Escolar.KATHYA AUGUSTA THOMÉ LOPESDoutora em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano pelo Instituto dePsicologia <strong>da</strong> USP-SP. Professora Associa<strong>da</strong> <strong>da</strong> Facul<strong>da</strong>de de Educação Física eFisioterapia <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Federal do Amazonas, Coordenadora do Programade Ativi<strong>da</strong>des Motoras para Deficientes - PROAMDE, <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Federal do298AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec8:298 11/11/2009 10:16:21


NOTAS SOBRE OS AUTORESAmazonas, Líder do Grupo de Pesquisa Estudos sobre Pessoas com Deficiênciase Ativi<strong>da</strong>des Motoras.LUCÍDIO ROCHA SANTOSDoutor em Ciências do Desporto pela Facul<strong>da</strong>de de Desporto <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>dedo Porto - Portugal, Professor Adjunto <strong>da</strong> Facul<strong>da</strong>de de Educação Física eFisioterapia - FEFF <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Federal do Amazonas - UFAM. Desenvolveseus trabalhos acadêmicos no âmbito <strong>da</strong> Pe<strong>da</strong>gogia do Esporte e <strong>da</strong> Metodologiado Ensino do Handebol. Coordenador de Equipe Colaboradora do ProgramaSegundo Tempo <strong>da</strong> SNEED/Ministério do Esporte.MARCELLO PEREIRA NUNESMestre em Educação Física pela Universi<strong>da</strong>de Gama Filho/RJ. Professor do Centrode Educação <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Federal do Espírito Santo (UFES). Coordenador doGrupo de estudos e pesquisa Formação Profissional em Educação Física, Esportese Lazer. Pesquisador no campo <strong>da</strong> Formação Profissional e Currículo no EnsinoSuperior.MÍRIAM STOCK PALMADoutora em Estudos <strong>da</strong> Criança pelo Instituto de Estudos <strong>da</strong> Criança <strong>da</strong>Universi<strong>da</strong>de do Minho - Portugal, Professora Adjunta <strong>da</strong> Escola de EducaçãoFísica <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e Pesquisadorana área de Educação Física Infantil.MÔNICA BORGES MONTEIROMestra em Educação pela Universi<strong>da</strong>de Federal do Rio de Janeiro(UFRJ), Professora <strong>da</strong> Secretaria de Educação do Estado do Rio deJaneiro; Coordenadora do Projeto CAJU: caminhos <strong>da</strong> JuventudePesquisadora do Grupo ANIMA: Lazer, Estudos Culturais e Animação Cultural.NADIA CRISTINA VALENTINIDoutora em Comportamento Motor pela Auburn University, EUA. ProfessoraAdjunto <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS. Integrantedo corpo docente do Programa de Pós-Graduação em Ciências do MovimentoHumano. Coordenadora do Grupo de pesquisa em Intervenções Motoras ebolsista Produtivi<strong>da</strong>de em Pesquisa do CNPq.PABLO JUAN GRECODoutor em Educação pela Universi<strong>da</strong>de Estadual de Campinas, Pós-doutorem Ciências do Movimento Humano pela UFRGS. Professor associado <strong>da</strong>Universi<strong>da</strong>de Federal de Minas Gerais, professor do Programa de Pós-GraduaçãoAMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)299Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec8:299 11/11/2009 10:16:21


FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPOem Ciências do Esporte <strong>da</strong> UFMG. Coordenador do Centro de Cognição e Ação(CECA) <strong>da</strong> UFMG. Bolsista de Produtivi<strong>da</strong>de em Pesquisa 2.RICARDO DEMÉTRIO DE SOUZA PETERSENDoutor pela University of Maryland, Pós-Doutorado pela University of Maryland.Professor Associado <strong>da</strong> Escola de Educação Física <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Federal doRio Grande do Sul (UFRGS), Integrante do corpo docente do Programa de Pós-Graduação em Ciências do Movimento Humano. Coordenador Geral do Projetode Capacitação, Acompanhamento e Avaliação do <strong>PST</strong> no Brasil, <strong>da</strong> UFRGSjunto à SNEED do Ministério do Esporte.RUTH EUGÊNIA AMARANTE CIDADEDoutora em Educação Física pela UNICAMP, Professora Adjunta <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>deFederal do Paraná (UFPR), Coordenadora do Projeto de Extensão-Universitária“Ativi<strong>da</strong>de Motora A<strong>da</strong>pta<strong>da</strong>”, Integrante dos Grupos de Pesquisa do Centro deEstudos em Lazer e Socie<strong>da</strong>de (CEPELS) e Laboratório de Pesquisa em Ensino<strong>da</strong> Educação Física e Formação Profissional (Lapesp). Integrante do Núcleode Atendimento a Pessoas com Necessi<strong>da</strong>des Especiais <strong>da</strong> UFPR (NAPNE),Classificadora de Esgrima Paraolímpica, Diretora Estadual do ProgramaSpecial Olympics Brasil para deficientes intelectuais. Coordenadora de EquipeColaboradora do Programa Segundo Tempo <strong>da</strong> SNEED/Ministério do Esporte.SILVANA VILODRE GOELLNERDoutora em Educação pela UNICAMP, Professora <strong>da</strong> Escola de EducaçãoFísica <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Federal do Rio Grande do Sul. Integrante do corpodocente do Programa de Pós-Graduação em Ciências do Movimento Humano.Coordenadora do Grupo de Estudos sobre Cultura e Corpo (GRECCO) e doCentro de Memória do Esporte (CEME). Bolsista Produtivi<strong>da</strong>de em Pesquisado CNPq.SIOMARA APARECIDA DA SILVADoutoran<strong>da</strong> em Ciências do Movimento Humano pela UFRGS, Mestre emTreinamento Esportivo pela UFMG, Professora Assistente do Centro Desportivo<strong>da</strong> UFOP. Integrante do Centro de Cognição e Ação (CECA) <strong>da</strong> UFMG eCoordenadora do Grupo de Estudos <strong>da</strong>s Capaci<strong>da</strong>des de Rendimentos dosEsportes Coletivo (GECREC) <strong>da</strong> UFOP.SURAYA CRISTINA DARIDODoutora em Psicologia escolar pela USP, Livre docente pela UNESP, Professorado Departamento de Educação Física <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Estadual Paulista - UNESPde Rio Claro. Coordenadora do Laboratório de Estudos e Pesquisas em EducaçãoFísica (LETPEF). Bolsista Produtivi<strong>da</strong>de em Pesquisa do CNPq.300AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec8:300 11/11/2009 10:16:21


NOTAS SOBRE OS AUTORESVICTOR ANDRADE DE MELODoutor em Educação Física pela Universi<strong>da</strong>de Gama Filho, Pós-Doutoradoem Teoria Crítica <strong>da</strong> Cultura – pela Universi<strong>da</strong>de Federal do Rio de Janeiro.Professor <strong>da</strong> Escola de Educação Física e do Programa de Pós-Graduação emHistória Compara<strong>da</strong> (Universi<strong>da</strong>de Federal do Rio de Janeiro) e do Programa dePós-Graduação em Lazer (Universi<strong>da</strong>de Federal de Minas Gerais). Coordenadordo grupo de pesquisa “Anima”: Lazer, Animação Cultural e Estudos Culturais edo “Sport”: Laboratório de História do Esporte e do Lazer.AMAURI APARECIDO BÁSSOLI DE OLIVEIRA EGIANNA LEPRE PERIM (ORGANIZADORES)301Liv-3 Amauri - atualizado 14.07.09.indd Sec8:301 11/11/2009 10:16:21

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