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Saber mais - versão digital - Fundação Portuguesa das ...

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José Luís C. Almeida Mota | Presidente do Conselho de Administração da Fundação <strong>Portuguesa</strong> <strong>das</strong> ComunicaçõeseditorialACódice tem sido, ao longo dos últimos anos, repositório fiel deinvestigação conduzida por especialistas no âmbito da História<strong>das</strong> Comunicações nacionais ou até, de modo <strong>mais</strong> lato, da Comunicaçãoe a forma como esta mudou o nosso mundo.O objectivo da Fundação foi utilizar a revista para, de forma coleccionávele perpetuável, disponibilizar informação e conhecimento sobretemáticas cuja preservação e divulgação fazem parte da nossa Missãoe razão de existir.Nesta edição, o grande tema é esta actividade que é a nossa, porqueela existe e tem uma História e várias histórias liga<strong>das</strong> às empresas eaos colaboradores <strong>das</strong> empresas nacionais.A História da fundação da biblioteca e as várias tentativas de actividademuseológica que vieram a originar o nosso Museu <strong>das</strong> Comunicaçõesconstituem um passado de iniciativa individual e colectiva deenorme visão, sem as quais seria impossível passar o nosso testemunhode hoje ao público que nos visita.Mais de 500 anos de História fazem os milhares de pequenas históriasque são a nossa memória colectiva do Sector. Essas pequenas históriassó chegaram até nós pelo empenho de colaboradores e dirigentesque fizeram questão de guardar para a História o que deimportante se foi passando ao longo dos tempos, com vista a uma partilhacom as gerações vindouras de um presente feito passado pelo correrdos anos.Este número da Códice é uma homenagem a estes homens e estasmulheres que tornaram possível a nossa existência, hoje. E espelha tambéma nossa vontade de fazer perpetuar na História a memória de quempossibilitou que não se perdesse, até hoje, a memória do Sector em Portugal.


4Maria da Glória Pires Firmino, recolha biográfica de Margarida Gírio Mouta | Licenciada em Filologia Românica e DocentePatrimónio tangível, memóriasintangíveis130 anos animados e imortalizados por gestos,palavras, vozes e rostos.Exposição no Museu dos CTT, nas Picoas. Ao centro, Maria da Glória Firmino, acervo iconográfico da FPC.«...e aqueles que por obras valerosasse vão da lei da morte libertando....Cantando espalharei por toda a parte...»Luís de Camões, Lusía<strong>das</strong>, canto I.cado, aquele que lhe calçava que nem uma luva, dado o seu gosto pelaHistória e pelo ensino.Escutando a Dr. a Maria da Glória e de mãos da<strong>das</strong> com a Dr. a Alva, ressurgirmose partilhamos construtos construídos e a construir :Reiteramos e seguimos o propósito do poeta, não deixando apagarpara o futuro, memórias, vozes e rostos. Em diversos contextos,mas sobretudo no da museologia, sabemos que os legados de saberessão importantes e únicos, e que toda a caminhada de volta ao passadotem reflexos imediatos no futuro.Algumas palavras...Conhecer e ouvir a Dr. a Maria da Glória Firmino, terceira conservadorado Museu dos CTT, é um privilégio a partilhar.Em situações for<strong>mais</strong>, nas reuniões dos Amigos do Museu, ou numsimples «olá, como está?», encontros do aqui e do agora, é sempreum deleite ouvi-la . Mais do que fazer notícia, reportagem ou crónicado que ouvimos e cumplicemente experienciámos, não conseguindoregistar o que ouvimos e sentimos, as emoções vivencia<strong>das</strong> e partilha<strong>das</strong>,aqui depomos e ofertamos algumas <strong>das</strong> suas estórias, histórias ememórias:« ... comecei, com pés de lã, a ler relatórios e a ir ao passado...»Foi em 1953 que ingressou nos serviços do Museu, a pedido do seuchefe, Dr. António Mora Ramos. Embora tivesse sido admitida nos CTTem 1944, pouco ou nada sabia do Museu, mas não teve dúvi<strong>das</strong> que,de todos os serviços possíveis nos CTT, seria o museológico o <strong>mais</strong> indi-130 anos... «...se hace camino al andar.»António MachadoPoeta espanhol«Não é possível ignorar que a história do correio e, de imediato, a <strong>das</strong>telecomunicações estão intrinsecamente liga<strong>das</strong> à história da civilização.As comunicações vencem o obstáculo de quaisquer fronteiras, independentementede serem naturais ou políticas.A institucionalização do correio surge em finais do século XVIII. A partirdeste momento, nasce uma nova história. A história contada éreferenciada com objectos museológicos. Daí que um século depois,como nos relata Godofredo Ferreira, nasça a ideia da criação e constituiçãode um Museu Postal e com ela o simples gesto de seleccionare preservar objectos em uso na Empresa.» Alva Santos in CódiceDo Museu Postal ao Museu dos CTTEm Portugal, a primeira referência a um museu do correio foi sugerida,em instrucções envia<strong>das</strong> à Direcção Regional dos Correios e Postasdo Reino pelo Ministro <strong>das</strong> Obras Públicas, a Guilhermino Barros,Primeiro Director Geral dos Correios Telégrafos e Faróis ( 1877-1893), e,dizia que « consignavam que a Direcção Geral dos Correios forcejariapor ir criando a Biblioteca e museus postais» .Importante é mencionar que, de acordo com o primeiro relatório degerência 1877-1878 ,Guilhermino de Barros afirmou que o museu foi inicialmentedotado de um primeiro núcleo de trinta peças que se pre-


7Palácio dos Condes de Valadares, no Largo do Carmo, em Lisboa, acervo iconográfico da FPC.Godofredo Ferreira, acervo iconográfico da FPC.sume serem na quase totalidade detelecomunicações.A esse tempo, a Direcção-Geral dos Correiosestava instalada no edifício da Calçadado Combro, no Palácio dos Marquesesde Olhão, local onde, de 1799 a1880, funcionou o Correio Geral. Foi aqui,com o Dr. Guilhermino Augusto de Barros,então primeiro director-geral dosCorreios Telégrafos e Faróis (1877-1893),que nasceu o «Museo do Correio».O Relatório Postal/Anno Económico de1877-1878 refere: «Dotou-se a biblio -theca do correio com 400 volumes» e«Dotou-se o museu postal com 30 objectos…».Os trinta objectos, o embriãodo Museu, foram arrumados numa <strong>das</strong>estantes existentes, que foi brasonadacom a designação «Museo do Correio».Tinha nascido o Museu dos CTT. Este foi,sem dúvida, o seu embrião, o seu primeiroacervo histórico-documental. Jáera um ente, mas sem casa. Só com andaimes na casa por construir,teve de lutar para crescer. Qual criança enjeitada, andou de mão emmão.A unificação dos Serviços do Correio e Telégrafo impôs a transferênciadeste acervo histórico documental, em 1880, para o Palácio dos Condesde Valadares, junto do Convento do Carmo. Daí que, de 1880 a 1887,o Museu ficasse a cargo da 4 a Repartição ( Telégrafos) da nova Direcção-Geral.Em 1887, a Direcção-Geralmudou-se para o Terreiro do Paço e aí semanteve até 1912 .A terceira mudança ocorreu em 1919.O Museu, criança ainda, é deslocadopara o Convento <strong>das</strong> Trinas, ficando acargo da «Verificação Técnica de Ma -terial». Iniciam-se procedimentos queprivilegiam a organização e a conservaçãodos aparelhos, instrumentos eacessórios, em uso e fora de uso, empregadosnos serviços de correios, telégrafose telefones. Porém, quando algunsserviços saíram do Convento <strong>das</strong> Trinas,deu-se a quarta mudança. O Museu foi,então, deslocado para a Rua Mousinhoda Silveira, onde ficou abandonado.Muito embora na cerimónia da posse doprimeiro conservador o correio-mor referisse«o que está na casa da Rua Mousinhoda Silveira, foi cuidado e ordenadoe articulado, há anos», só com aintervenção do inspector Ataíde secomeçou a ordenar o material do Museu.No ano de 1934 começa a reorganização do Museu. Godofredo Ferreira,investigador e cronista da história dos CTT, inicia a primeira recolha metódicado material para o Museu e começa a sua inventariação. Todavia,Godofredo Ferreira não se fica por aí e sugere ao então correio-mor Coutodos Santos a viabilidade do Museu. A sua sugestão foi de tal modo acolhida,com um entusiasmo tal, que Godofredo Ferreira foi nomeado chefe


8Mário Gonçalves Viana, primeiro conservador chefe do Museu dos CTT, no seu gabinete na rua de São Mamede ao Cal<strong>das</strong>, Lisboa, 1949, acervo iconográfico da FPC.Telégrafos em exposição no Museu dos CTT, na rua de São Mamede ao Cal<strong>das</strong>, Lisboa, 1949, acervo iconográfico da FPC.de divisão para trabalhar no sentidode «encarar-se rapidamentea efectivação da criaçãodo museu».Diz-nos a terceira conservadora,Dr. a Maria da Glória Firmino, quea investigação de GodofredoFerreira e a publicação dos seustrabalhos constituíram umabase tão poderosa para a vidado Museu que, mesmo após oscurtos períodos de trabalho doprimeiro (1947 a 1952) e segundoconservadores ( 1952 a 1958),continuaram a alimentar o seucrescimento.No entanto, apesar de o correio--mor, em 1934, ter referido aefectiva criação rápida doMuseu, e de este ter sido criadoem 1878, depressa ficou, novamente, pendente ou esquecido. Aindaque a política inicial do Estado Novo fosse favorável à criação demuseus, este só voltou a ter existência oficial em 1947.Em simultâneo com a refundação do museu, institui-se, pela primeiravez, o cargo de conservador chefe, e o Dr. Mário Gonçalves Viana foinomeado primeiro conservador (1947/1952).No tempo do primeiro conservador, o Dr. Mário Gonçalves Viana, osmuseus desempenhavam um importante papel na cultura portuguesa.Era, por consequência, urgente uma nova mudança (1947).Assim, e na perspectiva de crescimento do Museu, todo o material foideslocado para S. Mamede aoCal<strong>das</strong>. Só tinha duas pessoas asi adjudica<strong>das</strong>, no entanto funcionavamuito bem, graças aoempenhamento de seres extra -ordinários, como, por exemplo, opai do engenheiro Maia Ataídeque ía lá orientar, o funcionárioda portaria, um senhor destacado,que tinha sido carteiro/monitor,e que era fantástico a fazer visitas, isto é, «umhomem, da parte postal, quefazia visitas guia<strong>das</strong>!» e, tambémos contínuos. Lembram-sedo Rufino? – «O Rufino ficou ligadoàs coisas do Museu». Masnão esqueçamos que nestasinstalações ainda trabalhou,entre outros, o inspector Ataídeque, segundo informação do correio-mor, já tinha começado a ordenare articular todo o material depositado na casa da Rua Mouzinhoda Silveira.O espaço estava ainda longe de se ajustar aos conteúdos, aos objectose, em 1954, sendo segundo conservador o Dr. Mora Ramos (1952--1958), o Museu <strong>mais</strong> uma vez muda de casa, e vai, então, para a AvenidaFontes Pereira de Melo.O Dr. Mora Ramos não pára. Era, diz-nos a Dr. a Maria da Glória Firmino:«um chefe dinâmico e cheio de entusiasmo pelo seu mister, pois, alémda sua competência como professor, tinha, sempre, um sentido prá-


10Museu dos CTT, nas instalações da Avenida Fontes Pereira de Melo, década de 50, acervo iconográfico da FPC.tico para o objectivo <strong>mais</strong> idealizado».Transfere, da primitivae acanhada instalação doMuseu em S. Mamede ao Cal<strong>das</strong>para a Avenida Fontes Pereirade Melo, o diminuto pessoal ematerial, aumentando-o rapidamente.Prepara o Sector Postal<strong>das</strong> Picoas. Aí reconstituiuma estação dos CTT, pois umaCTF, como dizia Mora Ramos,«representa o aspecto <strong>mais</strong>importante da história dacarta», e cria um espaço parao Sector Telegráfico e Telefónicoda Rua Castilho. «Os seusideais e a sua maneira de serestão bem patentes na palestraprofissional que proferiu em1955, subordinada ao tema “OValor Psico-Pedagógico de umMuseu Profissional”».Importa também salientar o apoio decidido e recebido do correio--mor, Couto dos Santos, que permitiu e incentivou o desenvolvimentodo Museu. A meta que este pretendia alcançar é evidente nas palavrasproferi<strong>das</strong> a 26 de Maio de 1954:«Só poderemos ficar de bem com a consciência quando tivermos completadoa representação de tudo quanto hoje serve os CTT. E essa é anossa obrigação. Como amanhã será dos nossos sucessores! Quantoà representação <strong>das</strong> épocas passa<strong>das</strong>... obrigação esquecida pelos nos-sos antecessores... não poderáela ja<strong>mais</strong> afectar o nosso dever!Isto é, faremos o que pudermos,quando pudermos!»A Mora Ramos se deve, também,o aparecimento, em 1955,do primeiro regulamento doMuseu dos CTT, onde são bemevidentes as suas capacidadesorganizativas e visão práticados objectivos a atingir e a cumprir.Não podendo conciliar a suaactividade de professor com ade chefe do Museu, pediu a exoneraçãodeste cargo em 1958.Estas suas palavras são a evidênciado seu saber multifacetado:«Se é certo que o Museu dosCTT já ultrapassou a sua faseembrionária, não é menos certoque apenas começa agora a definir os seus contornos e que o caminhoainda a percorrer é árduo e difícil» Mora Ramos, Palestra... 1958Do Museu dos CTT ao Museu <strong>das</strong> ComunicaçõesEm 1962 procede-se a <strong>mais</strong> uma mudança de instalações. Os objectose todo o material são transferidos para o Palacete Henrique Seixas, naRua D. Estefânia, 162. É então terceira conservadora a Dr. a Maria da GlóriaFirmino (1959-1986). O Museu, instalado e inaugurado em 1967, já


13Sala da exposição permanente do Museu dos CTT, na Rua D. Estefânia, Lisboa, acervo iconográfico da FPC.Fachada do Museu dos CTT, na Rua D. Estefânia, Lisboa, acervo iconográfico da FPC.arquitectado, um construto construído e a construir pelos que lá viveme trabalham, é encerrado em 1987.Pequenas histórias da grande históriado Museu«O Museu dos CTT, instalado em 1967, deve grande parte da sua montagema Luís Trindade. Excluindo ossectores telegráficos e telefónicos,entregues aos respectivos profissionais,pode dizer-se que o auxílio deLuís Trindade esteve presente nossuportes indispensáveis à apresentaçãoao público <strong>das</strong> muitas colecçõesque o Museu possuía.Importa relembrar que este membrodos CTT, oriundo da Madeira, prestouinicialmente serviço numa CTF da ilhada Madeira e apresentou, em 1957,no concurso de texto para o CadernoProfissional sobre serviço de balcão,uma obra plena de humor, nascida docontacto com o público e imortalizadaem desenhos pertinentes. Obteveo primeiro prémio com Trezentos Diasao Postigo. Quando veio para o Museu,além de auxiliar na montagem de muitascolecções, de ilustrar, com os seusdesenhos, muitas salas, colaborou,ainda, em muitas exposições fora doMuseu.No que concerne ao Museu dos CTT da Estefânia, há que referir que,no 2 o andar do edifício, sala <strong>das</strong> exposições temporárias, Luís Trindadeé o autor <strong>das</strong> bases <strong>das</strong> miniaturas de edifícios dos CTT e <strong>das</strong> miniaturasde transportes postais. Também são da sua autoria, na galeriade acessórios postais, as vitrinas para exposição de balanças e outrosutensílios, pequenos auxiliares <strong>das</strong> operações postais. Neste 2 o andar,além da estação de CTF, havia tambéma sala dos diagramas e a colecçãomontada e ilustrada por Luís Trindade.Porque o seu talento para o desenhoera já bastante conhecido quando oMuseu abriu ao público em 1967, em1968, com o concurso do artista, conseguiurealizar, numa sala do r/c, umaexposição temporária dedicada aosdesenhos de Luís Trindade.» M. G. FirminoConduzidos pela Dr. a Maria da Glória,revisitámos o Museu, abrimos portase janelas, afastámos cortinados, eencontrámo-nos com uma série depessoas fundamentais, pilares imprescíndíveisna edificação da Casa quehoje somos – Fundação Portugesa <strong>das</strong>Comunicações – Museu <strong>das</strong> Comunicações.A sua voz, inefável mas audível, ecoae permanece no tempo:«...comecei com pés de lã a fazer relatóriose a ir ao passado...».


14Painel patente no Museu dos CTT na Rua D. Estefânia, Lisboa, acervo iconográfico da FPC.Visionária consciente de que «não existe Museu sem colecção e todoo percurso cultural do Museu é todo o Museu», a Dr. a Maria da Glóriadepressa percebeu que o Museu não parava ali e que era precisorecolher tudo, visitar armazéns, arquivos mortos, etc. A sua prioridadefoi então salvar material, mobiliário, testemunhos, e pôr tudoa funcionar, trazendo para Portugal o melhor do que havia lá fora.Acreditava e dizia: «É preciso continuar as colecções, senão oMuseu acaba». Nela acreditou, também, Couto dos Santos, quetudo orientou para que, em pouco tempo, muitos móveis ficassemcheios.Nos anos 50, as práticas museográficas herda<strong>das</strong> do século XIXforam profundamente postas em causa. Questionou-se a colocaçãoem vitrina de uma proliferação de objectos repetitivos, sem identidade,ou articulação de discurso coerente entre si. Sobre essa prática,conduzidos pela Dr. a Maria da Glória, ouvimos as palavras deCouto dos Santos: «Mais vale mostrar numa sala uma única obraboa, do que rodeá-la de outras secundárias que a prejudiquem edesvalorizem». Daí que toda a exposição devesse ser um instrumentoda linguagem e da identidade de um Museu.Considerando que o Museu deveria proporcionar ao visitante umamatéria de pesquisa tão variada quanto possível, criaram-se reservasou galerias de estudo. Igualmente, neste período, surgiram osespaços destinados a exposições temporárias.Tratar de to<strong>das</strong> estas questões que têm a ver não só com a recolha,classificação, agrupamento por colecções, mas também coma conservação, restauração e arquitectura, conduziu a que a profissãonos museus se organizasse à escala internacional.O interesse pela museologia e museografia crescia e gerava em interdisciplinaridadeas diversidades de culturas e símbolos que, determinandouma filosofia, mas também uma consciência museológi-ca, se traduziam na respeitabilidade pela história e seus intervenientes,exigindo aos intervenientes, enquanto portadores deuma identidade, um critério de selecção na recolha.Os objectos, <strong>mais</strong> do que o seu valor intrínseco tinham que transmitirinformações liga<strong>das</strong> à história, ao ambiente social, à economia,ao progresso tecnológico (por si ou em conjunto com os outros).Tanto a conservadora chefe como a conservadora adjunta tiraramo curso de museus. Porém a conservadora chefe, Maria da GlóriaFirmino estudou Museologia com o professor João Couto, e com eleaprendeu a eleger o Serviço Educativo do Museu como sua prioridade.No seu tempo, vários licenciados, após ingresso nos serviçosfizeram cursos em áreas fundamentais inerentes ao Museu. Quasetodos, com formação competente e provas da<strong>das</strong>, foram encaminhadospara os Serviços Artísticos e Culturais.Crentes nos seus desígnios e paixões, as conservadoras dedicaramespecial atenção à formação museológica do pessoal de limpezado material exposto e na reserva. Muitos se dedicaram de almae coração; a actuação da Sra. Rosa, pela sua vontade de fazer<strong>mais</strong> e dar sempre <strong>mais</strong>, é digna de ser destacada e relembrada.Igualmente inolvidáveis são os guar<strong>das</strong> do Museu: o contínuoFrancisco Guapo, que acompanhou o Museu de S. Mamede ao Cal<strong>das</strong>até à Estefânia; o Sr. Martins que, com competência, orientavae guiava os visitantes dos domingos na Estefânia; o Sr. Diasque, com muito aprumo, na portaria, recebia os visitantes; e ojovem Rufino, que se adaptou de tal ordem ao Museu dos CTT queo acompanhou até às novas instalações na Fundação.No que respeita aos primórdios do Serviço Educativo, também nãopodemos deixar cair no vaso do esquecimento o grupo de monitoresque, constituído por estudantes universitários, magnificamente fezcom que o Museu fosse conhecido de escola em escola.


17BIBLIOGRAFIAANCIÃES, Alfredo Ramos, O Museu dos CTT, Lisboa: Arquivo UNL, 1988/1989. Disponíveltambém em Arquivo do Grupo dos Amigos do Museu <strong>das</strong> Comunicações.ANCIÃES, Alfredo Ramos.FIRMINO, Maria Glória, Testemunhos Orais.FIRMINO, Maria Glória, António Mora Ramos, 2º Conservador – Chefe do Museu dos CTT,( 1952-1958).FIRMINO, Maria Glória, Luís Trindade.SANTOS, Alva, «O museu da Génese à Fundação», in revista Códice , ano X, série II, 2007,anual, número quatro.CTT, CDI. O Museu dos CTT, Pequena história desde a sua fundação até à actualidade, Lisboa,SEP – CTT, 1975.CTT, Jornal dos CTT e TLP, nº 13, Abril 1989.CTT, O Museu dos CTT Português, Lisboa, Serviços Culturais dos CTT, 1973.Exposição temporária de folhas ilumina<strong>das</strong> de Francisco Sá Nogueira, no Museu dos CTT, na Rua D. Estefânia, Lisboa, acervo iconográfico da FPC.No Sector Postal, destaca-se o trabalho de D. Maria da Guia,no registode fichas e no inventário do material.No Sector Filatélico e Artístico, tanto a dedicação, o empenho e acientifícidade do trabalho da D. Filomena Ferrão, evidenciadoscom a montagem de selos para exposição, como o perfeccionismodo Sr. Daniel Almeida, no que respeita a registo e arquivo de selos,constituiram-se em correntes de átomos transformadores do devir.O contributo do arquitecto Luz Correia, que introduziu uma novaimagem e uma nova política na vertente artística, constituíu <strong>mais</strong>um pilar <strong>das</strong> pontes culturais a partir <strong>das</strong> quais o Museu se vem prolongando.Tendo ingressado no Museu dos CTT em 1974, consciente<strong>das</strong> escassas possibilidades económicas do Museu e mesmocondicionado pelas instalações, acreditou nos objectivos pedagógicosdo Museu e apostou na dinâmica de projectos inovadores,fazendo com fosse visível a dinâmica do Museu dos CTT, nessaépoca convidado a fazer parte da APOM – Associação <strong>Portuguesa</strong>de Museus. A convite de Luz Correia, vários artistas gráficoscolaboraram na elaboração de cartazes, vinhetas e edições depublicações, cujo sucesso se estendeu à Direcção da Filatelia dosCTT.Com saberes e aptidões multifaceta<strong>das</strong>, colaborou empenhadamentenas diversas áreas do Museu, instalações para restauros,arranjos e beneficiação de peças diversas, telefones, telégrafo eaté nas próprias diligências. A ele se deve o calcetamento do logótipodos Correios, no passeio da rua onde se situava o Museu.Sem fazer crónica ou história, mas no propósito de laurear aquelescujo mérito deveria ter sido coroado, relembramos que tambémao Sr. Luís Trindade se deve a concepção do equipamento e montagemda exposição permanente, bem como a ilustração de pagelase decoração de selos. Regista-se a colaboração eficiente do pessoalda Secretaria, em especial da D. Ilda Franco. E entre os várioscolaboradores, não colocados no Museu, destacamos o trabalhodo arquitecto Martins Barata, com publicações e quadros a óleoe a contribuição do Sr. Rosário Silva, sobretudo com os azulejos dafachada do Pavilhão da Mala-Posta. Acácio Santos e Vasco Lapa ficarãopara sempre connosco na concepção e edição de publicaçõese montagem de exposições.«Quando nos detemos nesta matéria, confrontados com a históriade vida do nosso Museu e dos intervenientes que nos legaramnão só um património de objectos, mas toda uma escola de condutae aprendizagem, damo-nos conta de como as pessoas envolvi<strong>das</strong>nesse projecto, estavam atentas e em consonância com o evoluirdos conceitos e <strong>das</strong> aplicações práticas.» (Maria da Glória Firmino)Para compreendermos o presente e prepararmos o futuro é precisoconhecermos o passado. O verdadeiro valor histórico está nosfactos e nas pessoas que transcenderam a sua época, ou seja, aquelesque se projectaram no tempo e, materializando-se ou não,não entram no vaso do esquecimento.Se é inegável a acção dos presidentes, directores, chefes, já referenciadose dos quais a história já fez história, também ja<strong>mais</strong>será possível olvidar os actos, as vozes e os rostos daqueles que,com alma, esforço e dedicação, tudo fizeram para sermos a Casaque hoje somos.Ao ouvirmos a Dr. a Maria da Glória Firmino, narradora e protagonistadesta aventura, ora nos tornámos figurantes, ora protagonistas,ora espectadores atentos. Com ela desvendamos o passado,conhecemos as memórias daqueles que, de mãos da<strong>das</strong> consigoe com a história, contruíram o Museu dos CTT e alicerçaram oMuseu <strong>das</strong> Comunicações.


18Joel de Almeida | Licenciado em Comunicação Multimédia, Doutorando em Ciências da Educação, Santiago de CompostelaA usabilidade educativados museus de empresa,enquanto centros de ciênciae tecnologiaNovas perspectivas didácticasAlgumas paragens nas paisagens percorri<strong>das</strong> pela intervenção pedagógica doServiço Educativo do Museu <strong>das</strong> Comunicações.Sala de exposição permanente do Museu dos CTT, na Rua D. Estefânia, Lisboa, acervo iconográfico da FPC.Pontos de vistauma visão heurística construtivista,hermenêutica positivista da cultura científicaVisão heurística, enquanto ciência que tem por objecto a descobertade factos; o ramo da história voltado para a pesquisa de fontes documentais;um método de investigação baseado na aproximação progressivaa um dado problema com vista à sua (re)solução; uma metodologiaeducacional que consiste em fazer descobrir pelo educandoo que se lhe quer ensinar.Visão construtivista, enquanto teoria sobre a produção social doconhecimento; entende que o ser humano aprende motivado poruma necessidade real, por meio de interacções com os vários objectosdo conhecimento; contrapõe-se radicalmente ao ensino pela repetiçãoexaustiva. O aluno deve ser o protagonista do próprio processo cognitivo;perante estímulos externos, deve agir sobre eles para construire organizar o seu próprio conhecimento, de forma cada vez <strong>mais</strong>elaborada e experimentada.Visão hermenêutica, segundo a mitologia grega: Hermes era o deusmensageiro, o arauto intérprete da vontade dos deuses; deus dacomunicação, <strong>das</strong> notícias, daí o termo hermenêutica como a arte, aciência e técnica volta<strong>das</strong> para a interpretação do sentido <strong>das</strong> mensagens,<strong>das</strong> palavras, dos signos e do seu valor simbólico; enquantométodo de comunicação, o esclarecimento <strong>das</strong> coisas no seu contexto;assim, também relacionamos a hermenêutica com a semiologia e/oua semiótica. Neste âmbito, relevamos a importância da cognição, dabusca do apreender a essência e compreensão <strong>das</strong> coisas; a necessidadede percepcionar a (in)formação da ciência com e/ou a tecnologiade uma forma esclarecedora e amigável.Visão positivista enquadrada em duas perspectivas: por um lado, o métodogeral do positivismo de Auguste Comte, que consiste na observaçãodos fenómenos, subordinando a imaginação à observação; Comtedefiniu a palavra «positivo» com sete acepções: real, útil, certo, preciso,relativo, orgânico e simpático; o conceito de «simpático» implicaafirmar que as concepções e acções humanas são modifica<strong>das</strong>pelos afectos <strong>das</strong> pessoas (individuais e colectivos); Comte indicou asubjectividade como um traço característico e fundamental do serhumano, que deve ser respeitado e desenvolvido. Comte explicitou aindaque um espírito positivo é maior e <strong>mais</strong> importante que a mera cien-


20tificidade, na medida em que esta abrange apenas questões intelectuaise aquele compreende, além da inteligência, também os sentimentos(ou, em termos contemporâneos, a subjectividade em sentido amplo)e as acções práticas. Por outro lado, o positivismo é uma corrente filosóficaque afirma que o único conhecimento autêntico é o conhecimentocientífico e que tal conhecimento só pode surgir da afirmação positiva<strong>das</strong> teorias através do método científico; outra doutrina filosóficaassocia o positivismo a uma interpretação <strong>das</strong> ciências, e uma classificaçãodo conhecimento a uma ética humana; o positivismo como ummodo de pensar que é consistente com os resultados positivos: que osrelaciona com factos que podem ser aproveitados através dos sentidose sujeitos a verificação empírica – método científico.Neste sentido, acreditamos que os museus de ciência e tecnologia(MCT) foram concebidos, na sua maioria, como espaços de deslumbramentopara tempos de prazer à descoberta de saberes autónomosrelacionados; reconhecimentos de conhecimentos pertinentes; saberespartilhados em aprendizagens colaborativas que se pretendem significativas.<strong>Saber</strong>es de conhecimentos teórico-práticos fundamentados, deexperiências feitos, de descobertas partilha<strong>das</strong> por inventores, professores,educadores, cientistas, promotores de uma cultura instrutiva,que se pretende cada vez <strong>mais</strong> participada, acessível, amigável,útil, usável, abrangente, experimental, compartilhada, real erigorosa.Uma cultura científica, que se entende relacional, transdisciplinar, transversalaos nossos quotidianos, impulsionadora de atitudes conducentesà necessidade de saber <strong>mais</strong> coisas; de nos fazermos compreendermelhor; de entendermos a causa dessas coisas; de percepcionar umconhecimento científico aos <strong>mais</strong> diversos níveis, numa perspectivade aprendizagem ao longo da vida e do muito com a vida.Uma cultura organizacional pessoal reflexiva, pelo despertar danecessidade colectiva de continuar a aprender para empreender; deapreender a ciência com vontade, de uma forma interessada e interessante,actual e actuante, num processo colaborativo de aprendizagemcomplementar com interesses comuns e indispensabilidades<strong>das</strong> nossas actividades quotidianas.


21Exposição permanente do Museu <strong>das</strong> Comunicações, «Mundos Comunicantes», 1997/2003.Uma cultura do saber «saber», dos saberes teóricos (fazer saber compreender,saber interpretar), do conhecimento pertinente, para umaaprendizagem significativa e colaborativa.Uma cultura do comunicar ciência, do saber fazer ciência acessível atodos, (dos saber-fazer experienciais, desde o saber fazer em situaçãoreal ao saber actuar); do descobrir, do experimentar, capaz denos motivar para a ciência; de estimular o nosso espírito científiconato, inerente da nossa condição humana de seres eminentementecognitivos, capazes da nossa educabilidade.Uma cultura da consciência da consequência positiva da nossa comunicabilidadecom a arte, a ciência e a tecnologia em sociedade; da consciencializaçãoda importância de sermos curiosos, do saber ser objectivoscom os nossos propósitos, projectos e planeamentos estratégicos.Uma cultura relacional, de interacção e intervenção sociocultural,arte, ciência e tecnologia em sociedade; dos saber-fazer sociais (sabercomportar-se, saber relacionar-se), ao saber interagir, inter-relacionarsaberes/pessoas.Uma cultura de empreendedorismo educacional, de (des)envolvimentopessoal e de intervenção social, como individualidades de colectivasvontades, no afecto para e com a cultura científica, pelo aprender aaprender, apreender, compreender <strong>das</strong> causas e <strong>das</strong> coisas; dos saberes-fazercognitivos (saber tratar a informação, saber raciocinar, saberdenominar o que se faz, descrever como se faz), ou seja, do saberaprender ao fazer compreender para melhor conviver.Uma cultura científico-tecnológica, capaz de intervir de uma forma colectivae de interacção social (escola/pessoas – pessoas/museu), centradanas necessidades e interesses <strong>das</strong> pessoas, ao reconhecermos sermoscapazes de aprender de uma forma formal, não formal e até informal;de conseguirmos aprender de uma forma colaborativa; de aprender-mos em partilha, na prospectiva do saber conviver melhor connoscoe com os outros, mas também com o aprendizado.Uma cultura do saber fazer saber com sabor, do prazer de aprender comamor, com vontade, intencionalidade, interesse e necessidade decausa e efeito – resultado, transformação, desenvolvimento; o que,no nosso entender pretender, passa pela consciência de comunicar ciênciacom consequência – enquanto melhoria de práticas instrutivasconsequentes da nossa comunicabilidade e educabilidade, enquantoresultados (trans)formadores de usabilidade educativa, pela satisfaçãono usufruto dos/nos museus de ciência e tecnologia.Em suma, valorar uma cultura social do apreender, do saber fazersaber, ser/estar em atitude científica, do aprender a compreender, depercepcionar o conviver com a arte, a ciência e a tecnologia, do sabercomunicar ciência, dos saber-fazer processuais (saber como proceder,saber operar) à promoção/divulgação da cultura científica.Enquadramento conjunturalPressupostos museológicos no contexto sociocultural e educativo dosmuseus de empresa enquanto potenciais Museus de Ciência e Tecnologia– o germinar do Museu <strong>das</strong> Comunicações enquanto museude empresa e museu de ciência e tecnologia – «caldo comunicacionalartístico, técnico-científico e cultural», substratos para o desenvolvimentodo seu serviço educativoRecorremos à definição de museu da APOM (Associação <strong>Portuguesa</strong>de Museologia), 1979:«O Museu é uma instituição ao serviço da sociedade, que incorpora,inventaria, conserva, investiga, expõe e divulga bens representativosda natureza e do homem, com o objectivo de aumentar o saber,de salvaguardar e desenvolver o património e de educar, no verdadeirosentido dinâmico da criatividade e cultura.» 1


22Recolha de correspondênciaSegundo o Código de Ética Profissional do Conselho Internacional deMuseus – ICOM aprovado por unanimidade na 15 a Assembleia Geral doICOM realizada em Buenos Aires, Argentina, em 4 de Novembro de1986. Na 20 a Assembleia Geral realizada em Barcelona, Espanha, em6 de Julho de 2001, foi revisto e as suas emen<strong>das</strong> foram aprova<strong>das</strong> na21 a Assembleia Geral realizada em Seul, Coreia do Sul, em 8 de Outubrode 2004, um museu é:«Uma instituição permanente, sem fins lucrativos, ao serviço da sociedadee do seu desenvolvimento, aberta ao público, que adquire, conserva,pesquisa, divulga e expõe, para fins de estudo, educação elazer, testemunhos materiais e imateriais dos povos e seu ambiente.» 1Recorrendo à definição de museu da APOM (Associação <strong>Portuguesa</strong>de Museologia), 1979:«O Museu é uma instituição ao serviço da sociedade, que incorpora,inventaria, conserva, investiga, expõe e divulga bens representativosda natureza e do homem, com o objectivo de aumentar o saber,de salvaguardar e desenvolver o património e de educar, no verdadeirosentido dinâmico da criatividade e cultura» 2Neste âmbito questionamo-nos:Porque será que um país ou uma instituição, que não tem memória <strong>das</strong>pessoas, que não valoriza o seu património tangível e intangível, e não(re)conhece o seu passado, acrescenta dificuldades à preparação doseu presente, ou pura e simplesmente não tem futuro?Neste contexto e conjuntura, o museu de empresa não deve ser vistoapenas como uma materialização do regresso ao passado da instituição,pela acumulação organizada dos seus objectos museológicos, oupeças em desuso e/ou documentação em arquivo morto; não deve serentendido, apenas, como retorno a reviveres saudosistas, de temposque já lá vão, dos seus produtos e serviços únicos e/ou monopolistas;ou até, o que muitas vezes acontece, que não são <strong>mais</strong> que expedientespolítico-estratégicos, recomendados como lugares ideais para determinadoseventos, homenagens, apenas a pessoas politico-economicamenteimportantes, tributos, muitos deles unicamente conseguidoscomo fruto de individualismos oportuníssimos e/ou de reconhecimentospóstumos; ou ainda, para acautelar alguns distúrbios consequentesde más consciências provoca<strong>das</strong> do não reconhecimento,em tempo, de trabalhos relevantes.O museu de empresa, hoje, como contributo de reflexão para o progressosustentado de um país e da cidadania do seu povo, e no contextoda cultura e do mercado, é realmente muito <strong>mais</strong> do que umaimportante viagem às suas origens: é também uma ferramenta de gestãoda cultura de empresa, imagem de prestígio, um meio de comunicaçãoe marketing empresarial; é um instrumento fundamental,em processos de reposição de memórias colectivas, essencialmente asrelaciona<strong>das</strong> com aspectos conjunturais, laborais e sociais, tanto doenvolvimento e desenvolvimento dos trabalhadores na construção emelhoramento socioeconómico da empresa, como do investimentotécnico-científico, económico e sociocultural, no percurso de crescimentoe melhoramento da empresa ao longo do tempo.Um museu de empresa moderno, porque actual e actuante, pode responderpelo (re)conhecimento do passado organizacional da empresa,tanto na sua importância para o desenvolvimento sustentável doseu sector de actividade, no que se refere à produção, aos impactosque se provocaram, às mudanças que se efectuaram, às atitudes quese tomaram, às transformações que se conseguiram, como enquantorecurso (in)formativo, sociocultural, educacional, no que se refereaos meios e materiais, às ferramentas de fabrico, aos equipamentosde aplicação e/ou utensílios de uso comum, no sentido de sabermos/compreendermos:o que é…?


24Maria da Glória Firmino, Conservadora do Museu dos CTT, na Rua D. Estefânia em Lisboa, acervo iconográfico da FPC.quem inventou e/ou desenvolveu…?para que serve…?como funciona…?quem utilizou…?como evoluiu…?que mudanças comportamentais e/ou novas actividades promoveu…?Neste âmbito, consideramos fundamental desenvolver na empresa umconstante e colectivo espírito museal, de atitudes (in)formativas conducentesà manutenção, para futuro estudo e conservação de objectoscom vista a transformar (coisas, eventos do passado e presente daempresa em peças de museu), ou seja, musealizar o passado presenteda empresa, perpetuando o seu futuro, pela construção do seupatrimónio museológico.O museu de empresa funciona como uma excelente ferramenta degestão de todo o património museológico empresarial: o patrimóniomaterial e, também, o património imaterial – uma oportunidade,muitas vezes única, de recolha, tratamento e registo, preservação emusealização de vivências de memórias perpetua<strong>das</strong> liga<strong>das</strong> pelaspeças museais, numa preocupação constante pela constituição doseu património imaterial – o tangível e intangível, ambos como um todopatrimonial.Neste sentido e contexto, é emergente e necessária a recolha continuada,tratamento, preservação, estudo, conservação e divulgaçãoda evolução histórica da empresa, bem como a posterior exposição dosseus documentos, objectos, ferramentas, equipamentos, métodos eprocessos de fabrico, produtos e serviços, e, acima de tudo, promovendo,simultaneamente, o valor profissional <strong>das</strong> pessoas e suas memórias.É, consequentemente, fundamental e prioritário o registo sistémicode testemunhos dos vários profissionais, cujas actividades e/ou tare-fas foram extintas e/ou estão em vias de extinção, mas cujos contributospermitiram que as empresas onde trabalharam fossem o que sãohoje. Consideramos que, além do (re)conhecimento justo e louvável,esse registo, é também uma atitude e actividade de homenagem daempresa à própria empresa, não só, enquanto empreendimento paraa realização de objectivos, sejam estes de exploração negocial, económico-social,mas também, de cidadania, educação e cultura, ouseja, de divulgação e melhoria da sua cultura empresarial e imagemde marca.Se reconhecermos que por detrás da colecção do museu, em volta decada peça, documento, e/ou objecto material tangível, há semprememórias imateriais de sentimentos intangíveis ao olhar dos visitantesfora <strong>das</strong> empresas, mas que são valores fundamentais que fazemparte da própria cultura de empresa; se considerarmos como principalvalor empresarial o reconhecimento técnico, a forma de produzir, a qualidadedos materiais, produtos e serviços, porque isso se reflecte na confiabilidadedos seus clientes, então este conjunto de qualidades, a quechamamos de capacidades técnica, tecnológica e de gestão, compõeo acervo intangível da cultura de empresa – isto é reproduzível nomuseu, nas exposições que se preparam e na forma como se exploram,se mostram, se animam.Razão porque consideramos fundamental, para além colecção, tambémtrabalhar o discurso expositivo museológico na perspectiva da filosofiade vida da empresa, do espírito da instituição:Expor um acervo material não trata apenas de mostrar os objectos dacolecção, como o próprio produto, o equipamento, a matéria-prima,a embalagem, as tecnologias, ou antigos anúncios publicitários, mastambém de materializar, pelo musealizar um acervo intangível, modosde fazer, processos de produção, modelos de gestão, hábitos de relacionamento,práticas quotidianas – memórias imateriais.


25Como consequência, podemosexplorar as sensações humanascriando espaços sensoriais, porexemplo no projecto comunicarcom ausência de som e luz exploramosoutros sentidos como o cheiro,o tacto e, simultaneamente,sensibilizamos para a importânciada acessibilidade para to<strong>das</strong>as pessoas com necessidadesespeciais.Se aceitarmos que as memóriasimateriais, (in)tangíveis, muitasvezes se podem materializarenquanto contributo tangível para o envolvimento <strong>das</strong> vivências pessoaisno colectivo identitário dessas empresas, então o (re)conhecimentodo valor da empresa passa pelo desenvolvimento do autoconhecimentoe consequentemente a melhoria da auto-estima dos seus extrabalhadorese actuais colaboradores,Deste modo, consideramos fundamental (re)construir o património culturalda instituição, tanto material como imaterial, enquanto contributopara o progresso económico, porque a origem e passado <strong>das</strong>empresas sectoriais afins no seu tecido socioeconómico muitas vezesse revela não só de uma forma material tangível, mas também intangível,porque de influência transformativa.Um museu de empresa pode ser um elemento fundamental para a imagemda empresa, um instrumento central de cultura de modernidadee inovação empresarial, um meio imprescindível na (in)formação da identidadeda empresa, no fortalecimento de seu perfil organizacional ena gestão de mercados emergentes, pela divulgação promocional,comunicação marketing e/ou consolidaçãoda imagem de marca; 3Uma reconhecida imagem demarca empresarial sociocultural,educativa, científico-tecnológica ede pujança, porque mecenas culturais,com investimento na suaprópria história – futuro empresarial,no conceito de modernidadecomunicacional e de marketingorganizacional contemporâneo.Um museu de empresa que comunicaa própria empresa…Neste sentido, os museus deempresa, em vez de se arraigarem, orgulhosamente sós, a um passado,que até muitas vezes foi glorioso, (mas outras não tanto), notávelpor vezes, também à custa de muitos sacrifícios e de excelentes(des)empenhos dos seus trabalhadores e colaboradores anónimos,podem e devem (trans)formar os seus museus empresariais em memoriais,enquanto tempo e espaço de matérias e materiais autênticos tangíveise/ou intangíveis.Assim, as colecções ganham vida face aos relatos <strong>das</strong> memórias<strong>das</strong> pessoas: ora tangíveis pelo seu acervo exposto; ora intangíveisenquanto espólio de pertenças individuais, ou enquanto experiênciascomuns vivencia<strong>das</strong> que se constituem património colectivo imaterial.Os depoimentos individuais <strong>das</strong> pessoas, que fazem parte de cada peçadesse património, agora colectivo porque partilhado, porque com eletrabalharam, viveram, conviveram, se associaram, continuam a fazerparte integrante de um todo patrimonial da empresa, enquantotestemunhos materiais e/ou imateriais – acervos museológicos.


26Exposição permanente do Museu <strong>das</strong> Comunicações, «Vencer a distância — Cinco séculos de comunicação em Portugal»Patrimónios esses de acontecimentos, cumplicidades tangíveis que interrelacionampessoas/objectos/factos, agora <strong>mais</strong> abrangentes e muito<strong>mais</strong> enriquecidos.Deste modo, ao contrário do habitual, os museus de empresa podemconstituir-se como museus vivos, interessantes e atractivos, comouma <strong>mais</strong>-valia inovadora para a empresa, como uma forma de capitalizarmelhor o seu passado, pelo seu respeito, preservação, estudoe divulgação patrimonial, para um melhor posicionamento na compreensãodo seu presente e, quiçá, no prospectar um futuro melhorda e para a própria empresa, pela compreensão e (re)conhecimentodo seu passado presente.Consideramos que é neste contexto e conjuntura que se enquadra eposiciona o actual Museu <strong>das</strong> Comunicações, inaugurado a 10 deOutubro de 1997, não só como instrumento de divulgação do espólio<strong>das</strong> comunicações, mas porque integrado na Fundação <strong>Portuguesa</strong> <strong>das</strong>Comunicações, à qual, pela natureza dos seus estatutos, cabe promovero estudo e a investigação do património histórico <strong>das</strong> comunicações.«O projecto da Fundação remonta a 1990, quando se começou a preparara cisão da empresa CTT, que deu origem à Portugal Telecom e aosCorreios tal como actualmente são. Por questões que tinham a ver coma separação <strong>das</strong> empresas, em que se punha a possibilidade de oacervo histórico e cultural se dividir por arrastamento, e perante anecessidade de se manter a unidade de todo um passado histórico queno final de contas faz parte da história do País e <strong>das</strong> empresas (haveriasempre alguma perda ao dividir esse espólio), foi decidida a constituiçãoda Fundação <strong>Portuguesa</strong> <strong>das</strong> Comunicações. Esta soluçãonão foi inteiramente nova, visto já se ter colocado noutros paísesquando se fizeram cisões idênticas. A Fundação France Telecom nasceuna sequência da cisão da empresa, e na Alemanha ou na Holandatambém existem fundações do mesmo tipo. Há, portanto, váriospaíses que asseguram a permanência de todo um espólio ligado ao sector<strong>das</strong> comunicações através de fundações. Manteve-se, porém,noutros casos, os museus de empresa, que são visões <strong>mais</strong> restritivase <strong>mais</strong> orienta<strong>das</strong> para a lógica empresarial. A opção portuguesa permitemanter indiviso um espólio que, tendo a ver com o passado históricodos CTT, diz respeito, no final de contas, a toda a história <strong>das</strong> comunicaçõesem Portugal. Numa primeira fase, foi nomeada uma ComissãoInstaladora que deu origem à Fundação <strong>Portuguesa</strong> <strong>das</strong> Comunicações,onde só estavam representados os Correios e a PortugalTelecom. Entendeu-se, posteriormente, que a Fundação ficaria <strong>mais</strong>apetrechada se o Instituto <strong>das</strong> Comunicações de Portugal tambémpudesse estar representado, e isso fez com que o projecto evoluíssepara a actual Fundação <strong>Portuguesa</strong> <strong>das</strong> Comunicações. Este institutotraz, igualmente, um espólio valioso, o dos selos do ex-Ultramar, pertencenteao Estado, para além <strong>das</strong> tecnologias liga<strong>das</strong> à fiscalizaçãodo espectro radioeléctrico.» 4A partir de 1998 (Junho) foi editada a revista Códice propriedade daFundação <strong>Portuguesa</strong> <strong>das</strong> Comunicações, que logo no seu primeironúmero se torna:«…um veículo divulgador do Museu <strong>das</strong> Comunicações e da sua actividade.O vasto património museológico e cultural acumulado ao longo de<strong>mais</strong> de um século terá, nesta publicação, uma oportunidade acrescidade ser conhecido e apreciado. Procurando não ser só um repositóriode memórias a revista será, também, por contraponto, um veículoonde se poderá visionar o futuro <strong>das</strong> comunicações bem como oseu contributo para a evolução sócio-económica da sociedade.» 5Assim, desde 1998 o Museu <strong>das</strong> Comunicações passou a dispor deuma ferramenta de comunicação institucional imprescindível para apublicitação e promoção <strong>das</strong> suas exposições e respectivas activida-


27des educativas; desde a difusão da exploração pedagógica dessas exposições,<strong>das</strong> notícias inerentes às animações socioculturais e (in)formativas,<strong>das</strong> actividades lúdico-educativas à divulgação patrimonial– espólio expositivo no Museu <strong>das</strong> Comunicações, herança continuadapelo valor do trabalho museal/educacional desenvolvido pela meritóriaequipa do Museu dos CTT.Importa salientar, no número um da revista Códice, numa entrevistacom o então presidente da Fundação, Dr. Leiria Viegas, acerca da constituiçãoda Fundação <strong>Portuguesa</strong> <strong>das</strong> Comunicações, a resposta àpergunta:Que tipo de peças compõem o espólio?«O espólio tem a ver com a actividade de cada Instituidor, portantovai desde o primeiro telefone até aos <strong>mais</strong> recentes, passando pela colecçãoda mala-posta até às novas tecnologias dos Correios. Temos aindacolecções de selos que incluem desde o primeiro selo português datadode 1853, até à actualidade. Dispomos também de um espólio de selosdo mundo inteiro e <strong>das</strong> ex-colónias portuguesas, composto no seu conjuntopor milhares de peças. Temos ainda uma significativa colecçãode arte, associada à elaboração dos selos, visto que os artistas que trabalhavampara os Correios desenhavam os selos cujos originais estãona Fundação.» 6É neste contexto que o Museu <strong>das</strong> Comunicações da Fundação <strong>Portuguesa</strong><strong>das</strong> Comunicações através do seu riquíssimo espólio se podeconsiderar em Portugal um museu com uma singularidade específicaabrangente: O Universo <strong>das</strong> Comunicações;Mas, precisamente porque se trata de um museu de empresa, oriundode empresas e/ou instituições públicas <strong>das</strong> comunicações, temuma tripla responsabilidade:Primeiro, porque pode cultivar o existir em toda amplitude do acto decomunicar, enquanto acção inerente ao desenvolvimento da condiçãoda presença humana no planeta, ou seja, o homem, como ser comunicantepor natureza está impossibilitado de deixar de comunicar, oque faz do Museu <strong>das</strong> Comunicações um museu humanista <strong>das</strong> comunicações<strong>das</strong> pessoas e para to<strong>das</strong> as pessoas, nomeadamente e privilegiadamente,com <strong>mais</strong> valia exponencial, para as/os (a)gentes<strong>das</strong> comunicações – os colaboradores <strong>das</strong> Instituições Fundadoras.Segundo, porque pode explorar a evolução do seu sector de actividade,<strong>das</strong> técnicas e tecnologias da comunicação e <strong>das</strong> (tele)comunicaçõese respectivos transportes, por exemplo da mala-posta ao correioelectrónico, de investigar os fundamentos <strong>das</strong> suas cientificidades, deexperimentar e descobrir as suas causas e implicações sociais, económicase culturais, o que faz do Museu <strong>das</strong> Comunicações um museusociocultural de ciência e tecnologia.Terceiro porque pode estudar a arte de fazer a sua arte de comunicar,tanto pelo percurso histórico <strong>das</strong> comunicações/telecomunicações, comopelo fazer saber comunicar arte, por exemplo através dos selos; ou ainda,da possibilidade de que hoje se pode comunicar em qualquer lugar, aqualquer momento, o que quer que seja, da voz à palavra escrita, dafotografia à vídeo-arte.Deste modo, o Museu <strong>das</strong> Comunicações pode ser considerado e reconhecido,para além de museu de empresa, como museu de ciência etecnologia, mas também, como um museu humanista da arte <strong>das</strong>comunicações, com os <strong>mais</strong> diversificados meios, produtos e serviçosao longo do tempo.Por outro lado, o Museu <strong>das</strong> Comunicações é um museu contemporâneode plena actualidade e modernismo, em constante evolução sis-


28Interior da CTF do Terreiro do Paço, Lisboa, acervo iconográfico da FPC.témica no sector dos correios e telecomunicações, de inovação técnicae tecnológica, evolutivo <strong>das</strong> e nas recentes formas de comunicar hoje,o que faz do Museu <strong>das</strong> Comunicações um museu integrado e integrador<strong>das</strong> novíssimas infotecnologias interactivas da comunicação multimédia,logo hipercomunicacional, abrangente, moderno e futurista.Por outro lado, o Museu <strong>das</strong> Comunicações, enquanto museu de ciênciae tecnologia, no contexto educacional global, desenvolve interacçõeseducativas complementares com os processos de aprendizagemformal, privilegiando as suas intervenções pedagógicas na educaçãonão formal e informal. O Museu <strong>das</strong> Comunicações e da educaçãopara a comunicação, assim muito sinteticamente caracterizado, temcomo perspectivas (in)formativas, no âmbito da educabilidade não formal,na aprendizagem ao longo da vida e do muito com a vida, asinter-relações espácio-temporais seguintes:Espaço de preservação, conservação, de estudo e investigação daevolução técnica e tecnológica do universo <strong>das</strong> comunicações – educaçãopatrimonial.Lugar tempo de futuro hoje, porque no presente damos futuro aopassado <strong>das</strong> inovações (tele)comunicacionais, que permitiram alicerçaras (trans)formações infotecnológicas actuais – desenvolvimentocomunicacional.Tempo espaço de reflexão, com uma preocupação constante: a defazer apreender a importância <strong>das</strong> circunstâncias do acto de comunicaratravés dos tempos e dos sentidos, sabendo que desde sempreo homem tenta comunicar <strong>mais</strong> e melhor, interagindo com a necessidadede contribuir para fazer compreender o valor do passado evolutivo<strong>das</strong> comunicações/telecomunicações, na perspectiva da melhoriada qualidade da comunicação hoje, e de que comunicar/telecomunicarfoi, é sempre uma aventura sem fim – valoração da comunicabilidade.Espaço tempo de oportunidades para (re)descobrir, experimentar o actode comunicar (transmitir, passar, tornar comum – conhecimento, informação,ordem, opinião, ideia, mensagem, uma nova (re)solução…,)a alguém, algo com um novo olhar abrangente capaz de nos fazer discernir(conseguir distinguir de modo claro através dos sentidos) daimportância da comunicabilidade e usabilidade comunicacional,enquanto qualidade do que é comunicável, ou do estado comunicante,enquanto disposição para entrarmos em comunicação comdeterminada intencionalidade e satisfação no seu usufruto – inovaçãocomunicativa.Deste modo, o Museu <strong>das</strong> Comunicações estrutura a sua funcionalidadeoperativa no âmbito do seu Serviço Educativo enquanto CPAE –Centro de Pedagogia e Animação <strong>das</strong> Exposições/Oficinas Pedagógicasdo Conhecimento, em três grandes áreas de actuação que pretendemresponder a linhas de intervenção educativa, não formal e informal,aos <strong>mais</strong> diversos níveis de ensino, em complementaridade comprojectos e parcerias com as escolas públicas ou priva<strong>das</strong>, universidades,associações e/ou outras instituições formativas oficiais:1 > Visitas guia<strong>das</strong> às exposições patentesActividades assim preconiza<strong>das</strong>:> Contribuir para a promoção e divulgação <strong>das</strong> exposições patentesao público visitante do museu pelo empenho, desempenhoe qualidade do serviço prestado, numa perspectiva de satisfaçãoe cognição dos visitantes, do seu deleite, usufruto, assim comona prospectiva da sua fidelização e dedicação, ou seja, de osfazer ter a necessidade, desejo de voltar ao Museu <strong>das</strong> Comunicações,com curiosidade intelectiva, estima, prazer... e/ou de nosrecomendar a outros potenciais visitantes utilizadores.> Adequar o roteiro da visita guiada às características, interessese necessidades (in)formativas do público destinatário.


30> Efectuar a visita guiada, de acordo com os percursos expositivose suas didácticas previamente estudados e compartilhados comos usuários, numa perspectiva SIM – sensibilizar, (in)formar motivar:> Sensibilizar para a educação patrimonial para a importância dopatrimónio exposto e da contínua necessidade de preservação,como acto de cidadania global;> (In)formar para a usabilidade <strong>das</strong> tecnologias de informaçãoe comunicação sobre a evolução artística, técnica, tecnológica,dos produtos, equipamentos e serviços <strong>das</strong> comunicaçõesao longo do tempo, explicando e exemplificando, com uma linguagemclara e acessível, o seu funcionamento – ciência e tecnologia,demonstração <strong>das</strong> várias técnicas e equipamentospara comunicar melhor e <strong>mais</strong> rápido, apresentação do engenhoe da arte dos inventos, dos inventores, técnicos e operadoresdos sistemas, as pessoas e personalidades, as profissõese profissionalismos, suas singularidades, os usuários envolvidos,suas exigências e expectativas, estabelecendo relacionamentose descrevendo as benfeitorias, mudanças e/ou oimpacto sócio-cultural provocados;> Motivar para a importância da comunicabilidade na educabilidadepara a constante melhoria do acto de comunicar aolongo dos tempos e a necessidade de aprender ao longo da vida,para a premência, cada vez maior, de eficácia comunicacionalmoderna, sua apreensão cognitiva evolutiva, para a indispensabilidadeformativa, funcional e operativa de agora, no combateà iliteracia e infoexclusão e/ou pela compreensão dadiversidade contemporânea dos «Mundos Comunicantes»,perante o desafio da mudança de sempre, criando condiçõescomunicativas de fruição pessoal e/ou colectiva do acervoexposto, enquanto pretexto para novas interacções sobre acomunicabilidade do presente futuro hoje.> Articular e adequar o discurso narrativo à volta <strong>das</strong> peças museais,ao longo dos percursos expositivos, aos respectivos conteúdos elucidativose estes às várias temáticas <strong>das</strong> comunicações em geral,dos correios e telecomunicações em particular tornando visível omostrado, evidente o explicado, interagindo com o saber <strong>mais</strong>,dos quiosques multimédia interactivos.2 > Animação pedagógica <strong>das</strong> exposições – com base na metodologiade trabalho de projecto e nos princípios didáctico-pedagógicosCEM – comunicação educacional multimédia.Actividades essenciais de interacção educativa preconiza<strong>das</strong>:> Preparar e estudar as matérias referentes aos conteúdos técnico-científicose tecnológicos, inerentes aos percursos expositivos


31Exposição permanente do Museu <strong>das</strong> Comunicações. Estúdio de TV com os cenários <strong>das</strong> primeiras emissões em 1957 e os da actualidade.do museu com a aquisição dos novos conhecimentos necessários,técnicas e tecnologias da comunicação e <strong>das</strong> comunicações, comvista a proporcionar aos visitantes uma presença agradável, umolhar global sobre a evolução histórica <strong>das</strong> comunicações emPortugal e uma visão particular sobre determinados períodosimportantes nas e <strong>das</strong> comunicações, sobre os objectos museológicosespecíficos do património exposto, duma forma comunicativa,interactiva, segura e eficaz.> Integrar as equipas de animação <strong>das</strong> exposições e/ou projectosespeciais, a desenvolver no âmbito do Centro de Pedagogia e Animação<strong>das</strong> Exposições, articulando com as colaborações externase desenvolvendo em parceria os conteúdos pedagógicodidácticos,assim como os recursos educativos a explorar e/ou noâmbito da comunicação educacional multimédia, necessáriosao projecto a incrementar, à preparação <strong>das</strong> actividades, desdea concepção à realização e avaliação do percurso, processo, doprojecto incrementado.> Contribuir para a informação, formação e divulgação <strong>das</strong> matériae temáticas trata<strong>das</strong> nas exposições patentes ao público visitantedo museu, no fomentar, desenvolver e animar actividadesdidácticas, lúdico-pedagógicas – pelo proporcionar de acessosaos «saberes» comunicacionais, através da criação de ateliers,oficinas pedagógicas e trabalho de projecto partilhado,numa perspectiva de aquisição e/ou recapitulação de conhecimentos;pela demonstração, descoberta e/ou experimentaçãode meios suportes e sistemas de comunicação – numaabordagem interactiva, «saber <strong>mais</strong>», com base numa aprendizagemcolaborativa, duma forma agradável e divertida em ensinoinformal, mas com rigor técnico-científico, tecnológico edidáctico-pedagógico, sempre numa procura de melhoria de práticas,pelo empenho, desempenho e qualidade dos serviçosprestados, nas e <strong>das</strong> actividades de animação <strong>das</strong> exposiçõespropostas.> Sensibilizar, informar e motivar os visitantes para o processo deavaliação construtiva/sugestões para melhoria, com vista àsboas práticas, para recolha, analise e tratamento de dados obtidos,com vista à reformulação de actuações – caso necessário eestudo de públicos.> Articular com as direcções pedagógicas <strong>das</strong> escolas e respectivosprofessores <strong>das</strong> disciplinas específicas, ou grupos multidisciplinares,os trabalhos de projecto pedagógico a desenvolver, com vista àpreparação prévia (necessária) <strong>das</strong> visitas de estudo aos percursostemáticos expositivos, integrados nas actividades doMuseu.3 > Comunicação marketing cultural, promoção e divulgação deacções de comunicação educacional e empresarialActividades essenciais assim preconiza<strong>das</strong>:> Contribuir para a promoção e divulgação <strong>das</strong> intervenções emissão da FPC/MC, assim como dos seus Instituidores, preservandoe consolidando junto do público a «imagem de marca»– empresarial, cultural, educacional da instituição> Agenda <strong>das</strong> Exposições – Marcações e distribuição de mapa devisitas> Guia de Serviço – Recepção do público visitante, comunicação promocionalpara eficaz usufruto dos espaços FPC/MC, acompanhamentoe visita guiada aos visitantes individuais, encaminhamentoorganizacional e operacional de visitantes em gruposda entrada à saída da Instituição> Relações Públicas Institucionais – Actos de comunicação marketingcultural institucional e apoio informativo.


32Alguns exemplos de modelos temáticos de intervenção relacionalespácio-temporal que contribuíram para desenvolvimento de um ServiçoEducativo actual e actuante, do CPAE – Centro de Pedagogia e Animação<strong>das</strong> Exposições às Oficinas do Conhecimento – OC’s, a evoluçãopedagógica da interacção educativa do Museu <strong>das</strong> Comunicações.Inicialmente e, ainda sempre como princípio presente, na exploração(in)formativa do discurso expositivo actual, o cuidado com o rigor cronológicoda evolução histórica <strong>das</strong> comunicações – correios e telecomunicações,numa perspectiva de educação patrimonial, actualizantee interventiva relacional, cujas temáticas trata<strong>das</strong> são um bomexemplo:> da mensagem aos mensageiros e respectivos transportes> dos correios à filatelia, da sua arte à tecnologia> do telégrafo à radiotelefonia> do fio de cobre à fibra óptica> <strong>das</strong> antenas ao espectro radioeléctrico> do analógico ao <strong>digital</strong>Depois, numa perspectiva <strong>mais</strong> abrangente da educação patrimonial,para a continuação da importância da recolha, preservação,estudo e conservação, a evolução constante do património materiale imaterial <strong>das</strong> comunicações/telecomunicações; trabalham-se osconteúdos inerentes do acto de comunicar por excelência e <strong>das</strong> comunicaçõespor inerência do património tangível (equipamentos, técnicase tecnologias) às memórias intangíveis <strong>das</strong> pessoas <strong>das</strong> comunicações(histórias de vida pessoal e empresarial e ainda memórias reinventa<strong>das</strong>do colectivo dessas memórias comunicantes) recria<strong>das</strong> de umaforma transdisciplinar, multicultural e de transversalidade relacionalsocial/educacional/comunicacional:> da mala-posta ao correio electrónico> da globalização da informação às redes sociais virtuais> da convergência e interactividade tecnológica à mobilidadecomunicacional>dos media e da educação para, com e dos media…> da sociedade da informação à economia do conhecimento…> <strong>das</strong> infotecnologias interactivas da comunicação multimédiaao…, com vista a contribuir para prospectar do futuro (previsível??!!)<strong>das</strong> comunicações em linha e em redePermanentemente nas perspectivas da construção de novos saberesautónomos relacionados e da aprendizagem ao longo da vida e do muitocom a vida:Primeiro, com o acto de comunicar com intencionalidade, substânciae sustentabilidade, através da utilização <strong>das</strong> várias técnicase tecnologias <strong>das</strong> comunicações telecomunicações actuais– agora com a importância ética <strong>das</strong> comunicações em rede e emlinha;Segundo, com a utilização <strong>das</strong> novas infotecnologias interactivasda comunicação pessoal, social, política, educacional e/ouempresarial multimédia, enquanto ferramentas facilitadorasda interacção ACTS – arte, ciência, tecnologia e sociedade em rede,real/virtual, buscando a comunicabilidade, a educabilidade e ausabilidade, assim como a responsabilidade da procura da melhoriada qualidade de vida na era <strong>digital</strong>, enquanto contributopara o desenvolvimento sustentável do nosso País;Terceiro, de uma forma articulatória e complementar, a intervençãopedagógica (in)formativa, tangível vs intangível, numa perspectivainter-relacional indivíduo-sociedade, ou seja, o que consideramosbom (usável na melhoria de práticas comunicacionaisnuma sociedade em rede global) para agora comunicarmosmelhor – no conviver global material/imaterial – real vs virtual,ou seja, aprender a saber conviver melhor com a multicul-


33turalidade a diversidade e inclusão social, as técnicas e tecnológicas– economia do conhecimento para o (des)envolvimento;porque no nosso entender não há desenvolvimento sustentávelsem envolvimento comunicacional, pelo menos aceitável;Sempre, na procura da melhor promoção social da cultura científica.Uma outra linha de acção educativa é trabalhar a cibercultura, a culturacibernética na interacção humano-computador, com a devidaapreensão e compreensão em interacção com o público destinatário,em matérias como a inteligência artificial, tanto nas funções ético-estéticascomo deontológicas, da e na comunicação, sejam estas atravésda arte da ciência e/ou da (nano)tecnologia, assim como nas suasdimensões simbólicas e representativas do real vs virtual, do espaçocomunicacional verbal presencial ao ciberespaço de uma sociedade emrede:> da semântica construtiva da palavra falada e/ou escrita à semiologiada mensagem, seus signos e significados> da semiótica da imagem à universalidade comunicacional dos pictogramas> da comunicação marketing, seus sinais de poder e sedução, à imagemde marca de uma Instituição, produto e/ou serviço> dos (pré)conceitos de belo aos mitos, ritos e ritmos socioculturaiscomunicacionais de educabilidade do e no nosso tempo> da cibercomunicação da ciberjuventude ao cibercafé e ciberwebjogosinteractivos> da cibersaúde sénior aos cibercuidados continuados> do ciberturismo científico-cultural e da natureza ao ciberempreendedorismo> dos cibercentros aos novos CRIE – Centros de Recursos InfotecnológicosEducativo-Empresariais> da comunicação e media, numa perspectiva ética, estética edeontológica e educacional: educação com os media (enquantorecurso (in)formativo); educação para os media (distanciamentocrítico-analítico <strong>das</strong> notícias mediáticas, enquanto recurso éticoestético<strong>das</strong>/nas mensagens); educação dos media (<strong>das</strong> necessidadescontemporâneas da deontologia dos media, enquantorecurso de credibilidade e confiança da/na difusão criteriosa<strong>das</strong> mensagens)Uma outra grande inquietação contemporânea, fruto da inovação tecnológicae constante modernidade/facilidade nas e <strong>das</strong> comunicaçõesactuais, é a integração de uma deontologia ético-estética no usufrutoda/na comunicação interactiva em rede.Comunicação em linha, no seu todo funcional e operativo, seja estacomunicação pessoal, colectiva, empresarial, política, social, educacional,informativa, formativa, cientifico-tecnológica e/ou artística,pelo questionar da sua usabilidade educativa e de tipo de comunicabilidade.Com isto, podemos reflectir para analisar/avaliar da importância e qualificaçãopessoal/social da nossa maneira de fazer comunicação, ouseja, até que ponto e a que nível o usufruto <strong>das</strong> novas infotecnologiasinteractivas nos permitem o acesso com sucesso a uma (in)formaçãocredível, a uma aprendizagem significativa, a um conhecimentopertinente, capaz de nos fazer questionar como poderemoscomunicar melhor, com essas novas infotecnologias interactivas dacomunicação multimédia, no sentido da melhoria da qualidade de vidada era <strong>digital</strong>.Hoje, a comunicação moderna distingue-se pelo saber projectar de novasideias, experimentar ultrapassar barreiras, atravessar fronteiras, descobrirnovas estruturas de comunicabilidade, para novas maneiras dever, ouvir, sentir, fazer comunicação, promover, divulgar, articular.


34Exposição «Telecomunicações Militares», actividade no âmbito do projecto educativo do Museu <strong>das</strong> ComunicaçõesA arte, a ciência e a tecnologia, como benssociaisTrabalhar a transversalidade da comunicação interactiva como pontoinfinito de união convergente entre arte, ciência, tecnologia e sociedade(ACT/S). A sociedade como centro de triangulação equilátera dacomunicabilidade/educabilidade/usabilidade educativa, que concentraem si o social/educacional, desde o paradigma de Laswell àcibercultura.A importância <strong>das</strong> novas infotetecnologias interactivas da comunicaçãoeducacional multimédia (CEM), enquanto agentes facilitadores decomunicabilidade, enquanto palco, encenador, actor e espectador, dae na intervenção educativa, formal, não formal/informal no que concerneàs três vertentes primordiais que enformam a da construção autónomaparticipada/compartilhada dos «saberes complementares relacionados»:> <strong>Saber</strong> «saber» – conhecer/compreender> <strong>Saber</strong> fazer – experimentar/descobrir> <strong>Saber</strong> ser/estar – reconhecer, conviver/incluirNeste contexto, não podemos deixar de evidenciar a postura sócio-culturale educativa da mui digna Dr. a Maria da Glória Pires Firmino 7 , explicitadana sua comunicação:«O Museu dos CTT e a colaboração que poderia prestar às escolas». 8«O resultado satisfatório <strong>das</strong> visitas feitas ao Museu dos CTT por gruposescolares, quer do ensino pré-primário, quer primário ou secundário,anima-me a esperar que se reconheça a vantagem da colaboração aprestar por este Museu, uma vez integra<strong>das</strong> nos programas as visitase aulas a realizar nos locais onde a lição poderá ser ilustrada e exemplificadade molde a tornar o ensino activo e dinâmico.» 9Realçamos a importância <strong>das</strong> visitas de estudo ao Museu, tanto no quese refere ao reconhecimento da vantagem colaborativa da interacçãoescola / museu, como às consequências positivas, activas e dinâmicaspara o ensino:« Não há dúvida de que, no ensino pré-primário, o aspecto primacialé a educação dos sentidos, o contacto com as coisas. No primário,temos o alargamento deste princípio, e o carácter formativo e informativodeste grau do ensino passa ao seguinte, o secundário, ondeprevalece, com excepção dos últimos anos quanto ao ensino liceal, emque uma certa especialização se introduz com vista à entrada nasescolas superiores, e quanto às escolas técnicas, em que naturalmente,na totalidade dos cursos, predomina a especialização, emborase tente dar ainda uma certa cultura geral.» 10É notória a clarividência pedagógica e a modernidade demonstradapela Dr. a Maria da Glória Pires Firmino. As suas evidências; preocupaçõesdidácticas em função do público-alvo escolar, meta-construções,pedagogias diferencia<strong>das</strong>, e em situações diferencia<strong>das</strong>, continuamactuais e actuantes:«Assim, de acordo com o grau de ensino, o adiantamento dos cursos(primeiros ou últimos anos), finalidade da visita (lição de cultura geralou lição especializada sobre os transportes ou meios de comunicaçãoa distância, aplicações da electricidade, etc.), poder-se-á chamar aatenção apenas para os objectos expostos, dar uma explicação <strong>mais</strong>ou menos sumária, salientar a a evolução <strong>das</strong> comunicações entre oshomens, no sentido <strong>mais</strong> amplo, ou descer ao pormenor e focar o progressotécnico dos meios empregados nessas mesmas comunicações.» 11A componente humanístico-histórica do Museu, está sempre presenteno seu discurso expositivo:«O Museu dos CTT é essencialmente destinado a mostrar a evoluçãodo serviço dos correios, telégrafos e telefones em Portugal, mas, assimcomo o homem isolado não tem sentido, assim a obra humana não secompreende sem uma perspectiva histórica.» 12


35Somos ainda «presenteados», nesta comunicação para o Seminárioda APOM, com uma belíssima viagem, uma visita guiada pela componentehumanístico-histórica do Museu, que está sempre presente noseu discurso expositivo.Foi uma visita pormenorizada em torno <strong>das</strong> colecções, através <strong>das</strong>salas do então Museu dos CTT que muito gostaríamos de (re)visualizar/realizarem multimédia, integrada num projecto de trabalho de equipa,apresentado no âmbito do GAMC. 13Após a visita guiada, de mãos da<strong>das</strong> pela escrita e memórias fala<strong>das</strong>pelo passado presente da nossa muito querida, estimada e veneradaDr. a Maria da Glória, esta comunicação conclui-se desta forma brilhantee inspiradora de futuro melhor:«Podemos concluir, portanto, que todos os acontecimentos fundamentaisdesta história fascinante do correio (incluindo neste termo todosaqueles que asseguram as comunicações), do mensageiro, que desdea <strong>mais</strong> alta Antiguidade até ao presente é parte integrante e indispensáveldo progresso da humanidade, todos os passos decisivos dahumanidade estão apresentados, quer através da cópia fiel, da reconstituiçãopictural, da miniatura, quer sobretudo de épocas <strong>mais</strong> chega<strong>das</strong>,de colecções <strong>mais</strong> ou menos completas, que nos permitem avaliar a grandezade tal missão.» 14Decorridos <strong>mais</strong> de quarenta anos da comunicação da Dr. a Maria da GlóriaPires Firmino, no seminário da APOM, apresentamos, agora, algumas(apenas três modelos, exemplos significativos) <strong>das</strong> actuais actividadesde intervenção pedagógica do Serviço Educativo do Museu <strong>das</strong>Comunicações:Oficinas Pedagógicas 15Oficina de EscritaE... ainda dizem que já não se escrevem cartas como antigamente...Num tempo em que os SMS prevalecem, recuperar o hábito da escrita,quase abandonado, é o desafio que o Museu <strong>das</strong> Comunicaçõesfaz a professores e alunos, a pensar no programa curricular da disciplinade Português. No âmbito <strong>das</strong> visitas às exposições que estão relaciona<strong>das</strong>com o transporte da mensagem escrita (ex: mala-posta enúcleo dos correios da exposição permanente), os monitores do Museucriaram uma «oficina de escrita», na qual os participantes podemaprender a escrever diversos tipos de cartas (formal, comercial, familiar,de amor, etc.).Objectivo: Recuperar e incentivar o hábito da escritaDestinatários: Alunos do 3 o ciclo e do secundário


36Tempo de duração: 2hMarcação: Os professores interessados deverão contactar o Serviço Educativode forma a efectuar a marcação e a preparar a actividade, emconjunto com os monitoresOficinas do Conhecimento – JovensO Museu <strong>das</strong> Comunicações, em parceria com a Portugal Telecom,desafia as escolas a participarem numa experiência inédita, onde osalunos, acompanhados pelo respectivo professor e de monitores especializados,terão oportunidade de criar e publicar páginas para a internete blogues, contemplando todos os passos necessários: pesquisa,publicação e indexação, passando pela selecção e citação de fontes,e pela captação e edição de vídeos e fotografias.Objectivo: Promover a utilização da internet como uma experiência deaprendizagem, investigação e produção de conteúdosDestinatários: Alunos do 7 o ao 12 o anoNo máximo de participantes: 25Tempo de duração: 1h30m (esta actividade funcionará dentro dohorário do Museu)Oficinas do Conhecimento – SenioresAs Oficinas do Conhecimento, Escola do Futuro, foram concebi<strong>das</strong> peloMuseu <strong>das</strong> Comunicações em parceria com o Grupo Portugal Telecome visam contribuir para o desenvolvimento <strong>das</strong> competências, na áreados sistemas de informação (SI), dos seus formandos, bem como sen-sibilizá-los para a utilização da internet como ferramenta de aprendizagem,de conhecimento, de criação e de partilha de conteúdos on-line.Objectivo: Criar novas valências e combater a iliteracia informática etecnológica junto do público séniorDestinatários: SenioresNo máximo de participantes: 12Tempo de duração: 9 sessões de 1h30m cada (esta actividade funcionarádentro do horário do Museu) às quartas e sextas-feirasCentro de Pedagogia e animação <strong>das</strong>exposiçõesO Serviço Educativo do Museu <strong>das</strong> Comunicações proporciona programasde acção pedagógica e percursos temáticos organizados emfunção dos interesses, necessidades e acessibilidades dos visitantes.Estas «viagens» didácticas interactivas são prepara<strong>das</strong> e conduzi<strong>das</strong>por especialistas em animação de exposições, em ateliês e oficinas pedagógicas.Interagindo com os três ciclos do ensino básico e com o ensino secundário,numa atitude de parceria e troca de saberes, são propostasactividades complementares aos programas <strong>das</strong> disciplinas de Língua<strong>Portuguesa</strong>, História, História de Arte, Técnicas de Comunicação,Tecnologias da Informação e Comunicação, Geografia, Física, Oficinasde Arte, entre outras.Os professores são convidados a participar neste desafio que acreditamosser uma <strong>mais</strong>-valia para o nosso público. O Serviço Educativo do


37Oficinas do conhecimento. Escola do futuro do Museu <strong>das</strong> Comunicações.Museu está disponível para, em conjunto com os docentes e as escolas,interagir na concepção e partilha de ideias, que produzam actividadesajusta<strong>das</strong> aos programas e aos alunos.Deste modo, consideramos que ontem, tal como hoje, e na prospecçãode um futuro melhor, pelo acesso com sucesso à construção socialdo conhecimento pertinente, de usabilidade educativa ao longo da vida,o essencial, na interacção escola/museu – público-alvo escolar, estáfundamentado, alicerçado e consolidado nas e pelas preparaçõesprévias <strong>das</strong> visitas de estudo que se pretendem motivadoras, integra<strong>das</strong>e integradoras de transdisciplinaridades multiculturais conducentesa aprendizagens significativas e cooperativas em RAC – rede de aprendizagemcolaborativa.Ou seja, para preparar as actividades didáctico-pedagógicas, são realiza<strong>das</strong>sessões prévias, através <strong>das</strong> quais se pretende estreitar a relaçãoentre o professor e o museu, ir ao encontro do projecto formativo<strong>das</strong> escolas, do programa anual de actividades educativas e devisitas de estudo dos diferentes estabelecimentos de ensino.No entanto, no nosso entender, agora também, <strong>mais</strong> do que nunca,no planeamento e programação da intervenção pedagógica e/ouinteracção (in)formativa do serviço educativo, devemos questionarpara reflectir.Qual o papel sociocultural educativo dosmuseus de hoje?Neste sentido, consideramos necessário desenvolver uma atitude dereflexão constante; por exemplo, na conjuntura actual da educaçãopara, com e pela ciência, quando falamos de pedagogia/didáctica<strong>das</strong> ciências – acção educativa num museu de ciência e tecnologia –MCT, fala-se de como, com quem e de quê:> como profissionais sistematicamente reflexivos?> como responsáveis imersos e/ou emersos num/dum processoformativo?> como (re)conhecedores do conhecimento profissional docentena didáctica da construção de saberes autónomos relacionados?> com investigadores e/ou especialistas na acção de conceber/realizaractividades lúdico-participativas de forma rigorosa, críticae criativa?> com profissionais experimentados no acto comunicacional de praticaracções com alegria, encanto, harmonia, prazer...?> com instituições motiva<strong>das</strong> para o (des)envolvimento de parceriase pessoas capazes de partilhar projectos?> de como desenvolver e envolver pessoas com capacidades de promovercumplicidades em «crescimentos»?> de como proporcionar alternativas e complementaridades articulatóriasa práticas educativas for<strong>mais</strong>, não for<strong>mais</strong> e/ou infor<strong>mais</strong>?> de possibilitar acessos com sucesso a conhecimentos pertinentes,num processo de aprendizagem colaborativa, capazes de provocarmudanças reais e enfrentar desafios?> que tipo de didácticas exploramos?> que metodologia de trabalho de projecto?> que tipo de (in)formação prestamos e que projectos desenvolvemos?Quando falamos de intervenção pedagógica fala-se de:> sensibilizar, incluir, mobilizar> informar, formar, compartilhar> literacia, diversidade, multiculturalidade> interacção, inter-relação, complementaridade> investigação-acção participada, avaliação, reformulação> comunicabilidade, usabilidade, educabilidade, sustentabilidade


38Quando falamos de interacção (in)formativa fala-se de:> promoção, divulgação e marketing cultural> estudo de públicos e adequação de intervenções> preparação de acções culturais educativas complementaresFace a que tipologia de públicos:> Um público em geral e/ou em missão junto dos alunos (públicoescolar específico)?> Para quem a educação patrimonial e comunicacional (sensibilizar,informar, motivar para a preservação de…, comunicar oquê, para quem, quando, como, com que efeito)?> Para quem a educação para, com e pela ciência (na perspectivada divulgação do conhecimento científico e/ou promoção dacultura científica)?Consideramos que, hoje, um museu é para to<strong>das</strong> as comunidadesaprendentes – entendemos que o papel (in)formativo, lúdico-pedagógico,sociocultural dos serviços educativos de todos os museus e principalmentedos museus de ciência e tecnologia – MCT, enquanto centrosde recursos educativos articulatórios de «saberes» relacionadossão multiculturais, inclusivos, economicamente diversificados,multiétnicos, multi-etários, em suma, abrangentes, tendo consciênciaque, hoje, o público dominante é o publico escolar oriundos <strong>das</strong> chama<strong>das</strong>visitas de estudo, seguido <strong>das</strong> suas famílias:<strong>Saber</strong> estar, «conviver» com os vários processos e metodologias formativasnão-for<strong>mais</strong> e/ou infor<strong>mais</strong>, complementares ao sistemaeducativo formal da escola, da educação infantil à educação de adultos,contemplando os seniores e o desenvolvimento da sua generatividade,pelo prazer de compartilhar «saberes» com sabor:> saber «saber», conhecimentos sobre…> saber «fazer», experimentação em oficinas pedagógicas doconhecimento e/ou ateliê de práticas de…> saber ser, «atitude» face a uma nova perspectiva da cultura científicapara o quotidiano, para a melhoria da qualidade de vidaem…Consideramos fundamental, enquanto equipa de trabalho de projectode interacção educativa escola/museu, professores e animadorespedagógicos <strong>das</strong> exposições, a convicção da importância dos seusconhecimentos profissionais docentes, conscientes da consequentecomplementaridade articulatória da trilogia educacional – aprendizagemformal, não formal e informalNeste sentido:O que precisamos mesmo é de dialogar – sejamos o que quer que sejamos,enquanto postura pedagógica: ou «agentes educativos for<strong>mais</strong>»,tal como a imagem que nos passam dos «professores do sistemaeducativo oficial», ou estagiários em profissionalização, usandoos mesmos sistemas pedagógicos, métodos, processos, metodologias,estratégias, modelos de ensino/aprendizagem…, enquanto réplicasreprodutoras do sistema educativo vigente; ou professores criativos,tutores, inovadores, animadores socioculturais e/ou interventoresactivos, artistas superdotados, ou simples artífices promotores deactividades como ateliês/oficinas pedagógicas do conhecimento,capazes de desafiar, questionar e relacionar em busca de novas eóptimas soluções comunicacionais lúdico-educativas, sedutoramentecontextualiza<strong>das</strong>, recusando acções pedagógicas duplicadoras deprocedimentos for<strong>mais</strong> educativos, enquanto meras cópias autoreprodutorasde respostas pré-estabeleci<strong>das</strong> sem novidade e renovação,ou seja, uma visita de estudo a um MCT, no nosso entender, não é apenas<strong>mais</strong> uma aula, mas a complementaridade transdisciplinar de umtempo de prazer pela vontade de aprender, numa ambiência comunicacionaleducativa diferente. Daí a importância da comunicaçãoeducacional multimédia, na exploração <strong>das</strong> colecções do acervo patri-


39monial do museu, face ao seu discurso expositivo, sempre que possívelem oficina pedagógica do (re)conhecimento <strong>das</strong> comunicações edo aperfeiçoamento do acto de comunicar essencial à articulaçãodos «saberes», tanto do saber fundamentar, pelo descobrir experimentar,como do saber conviver pelo comungar, tornar comum o nossocompartilhar.Neste propósito, o fundamental é mesmo preparar muito bem asvisitas de estudo em conjunto, professores/alunos/museu, centradosnos alunos, porque o que conta, no final de contas, é criar cumplicidadesaprendentes, desenvolvendo um espírito de causas comuns,um entendimento dialogante com o que fazemos e/ou como promovemosas coisas…, para quem as destinamos e, acima de tudo, implicandoos destinatários, no trabalho de projecto de interacção educativa.O necessário e premente é a tomada de consciência de como comunicarciência com consequência, com resultado (trans)formador, de usabilidadeeducativa, assumindo compromissos cúmplices, com paixãoe não compaixão permissiva para com o aluno/visitante, envolvendoe desenvolvendo:> um espírito de planeamento conjunto, de trabalho de projectocolaborativo, baseado em metodologias activas centra<strong>das</strong> noestudo para a resolução de problemas comunicacionais e deobjectivos de conteúdo de aprendizagem, em função dos interessese necessidades dos visitantes e centrados nestes, nassuas expectativas, propósitos, perspectivas…> um serviço educativo comum, complementar, gratificante e gratificador,enquanto missão de interesse tanto para quem cria,desenvolve e põe em prática, como para quem se envolve e participade uma forma activa e (re)compensadora pela motivaçãoe vontade de aprender…> um contribuir para a mudança de didácticas, novas formas depensar, actuar…, sabendo que uma visita de estudo é um tempode trabalho, inserido num projecto abrangente de acção educativa.É emergente mudar – mudar a maneira usual de programar e preparara visita de estudo – mas, antes de pensar em mudar, é fundamentalmudar de pensar – no sentido de que temos que ser sistematicamentecrítico-reflexivos dos nossos projectos de interacção educativa,numa perspectiva integrada e integradora de intervençãopedagógica, enquanto resultado de um processo continuado de investigação– acção participada – IAP, conducente e/ou consequente a novasperspectivas didácticas, ou seja:> Consideramos a investigação-acção como um excelente guiaorientador <strong>das</strong> práticas pedagógicas, com um propósito fundamental– melhorar os ambientes comunicacionais de aprendizagemna sala de aula, com vista a aumentar a qualidade deensino; enquanto metodologia é uma estrutura de intervençãosistémica em espiral; uma didáctica de partilha, reflexãoe/ou de (re)formulação dinâmica; assim, em conjunto com aequipa do programa de acção, os intervenientes na metodologiade trabalho de projecto de interacção educativa – TPIE,partimos da focalização do problema – pelo sentir ou experimentar<strong>das</strong> dificuldades – para estudos centrados na possívelresolução desse problema – planificação, imaginando, pelasua compreensão, como ultrapassar essa(s) dificuldade(s) –fundamentando as suas relações causais; uma vez designa<strong>das</strong>as hipóteses de interacção – pondo em prática a (re)soluçãotraçada, estabelecemos o processo de experimentaçãoacçãoparticipada, à luz dos resultados obtidos pela avaliaçãocontínua tutorizada, logo (in)formativa de causa-efeito –


40capaz de modificar, aperfeiçoando, a prática – observaçãoreflexão crítico-analítica – com vista à melhoria progressivada qualidade da acção educativa – seguindo novas direcções,recriando novas hipóteses de interacção que nos permitem aeventual ou necessária reformulação do problema, dandocontinuidade a um ciclo em espiral colaborativa de e na intervençãopedagógica.Neste sentido, não podíamos deixar de referenciar quão gratificantesforam e são os trabalhos de projecto de interacção educativa quetemos vindo a desenvolver com a Escola Secundária Miguel Torga emMonte Abraão, Sintra 16 , com vários grupos/turma. 17O propósito fundamental é trabalhar a usabilidade educativa da interacçãoescola/alunos/museu, numa perspectiva de comunicabilidade(enquanto qualificação do comunicável, da facilidade e intencionalidadeno comunicar, partilhar o aprendido) e da educabilidade (enquantoenvolvimento e desenvolvimento cognitivo <strong>das</strong> capacidades construtivistaspara reagir positivamente às propostas de informaçãoformação,motivados pela vontade de aprender e compreender), nosentido de reconhecer aos alunos (em visita de estudo ao MC) a suacompetência para a integração em projectos de intervenção educativa,tanto pela construção autónoma de saberes relacionados, comopela produção dos seus meios e materiais de aprendizagem colaborativa.Pré-requisitos base para trabalho de projecto de interacção educativa:1 > Concepção e planeamento do projecto de intervenção educativa2 > Seleccionar turmas3 > Envolver os conselhos de turma4 > Preparação prévia <strong>das</strong> visitas de estudo5 > Implementar a prática dos «Diários de Aula»6 > Trabalhar o projecto com o museu a visitar – de acordo com oPAA – Plano Anual de Actividades da Escola – Museu <strong>das</strong> Comunicações.Desenho do projecto:1 > Constituição da equipa do programa de acção educativa – trabalhode projecto2 > Planificação e calendarização do trabalho: visitas de estudoao Museu <strong>das</strong> Comunicações de acordo com o PAA da Escola3 > Apresentação dos resultados dos trabalhos realizadosEtapas, base de trabalho, de Investigação-Acção Participada– focalização do problema/planificação/hipóteses de interacção1 a fase > Acções de formação de preparação de visitas de estudoa museus centro de ciência e tecnologia para constituiçãoda equipa do programa de acção educativa – trabalhode projecto.2 a fase > Visitas de estudo prévias a MCT’s (só com professores daequipa do programa de acção educativa)3 a fase > Preparação prévia da visita de estudo inter-relação escola/museu(professores preparam a visita com o ServiçoEducativo do Museu)> experimentação-acção participada/avaliação/observação reflexão4 a fase > Preparação conjunta da visita de estudo (professorespreparam com os alunos)5 a fase > Visita de estudo ao Museu com os alunos acompanhadospelos professores6 a fase > Apresentação dos constructos – avaliação/reformulação> melhoria progressiva/novas hipóteses/reformulação do problema7 a Fase > Ateliê e/ou oficinas pedagógicas do conhecimento – elaboraçãode materiais


418 a Fase > Elaboração de novos materiais de aprendizagem9 a Fase > Fase – Reformulação/adequação se necessário> novo ciclo em espiral colaborativa10 a Fase > Reapresentação de construtos11 a Fase > Reavaliação de resultados12 a Fase > Apresentação pública – discussão do trabalho de projectode interacção – escola/alunos/museu.Em suma, consideramos que, quando falamos de museus e educaçãoe/ou educação nos museus, falamos essencialmente de metodologiasde trabalho de projecto de interacção educativa – escola/museu –público-alvo escolar, para intervenções pedagógicas resultantes denovas perspectivas didácticas transdisciplinares.Evocando o eminente Professor Bragança Gil: 18«Ao contrário dos museus tradicionais – em que o público está sujeitoa normas do tipo «não tocar nos objectos expostos» – o visitantede um museu de ciência de segunda geração é constantemente encorajadoa «participar» na exibição, utilizando o equipamento que aí seencontra com esse objectivo. Estes museus, designados, por vezes, porcentros de ciência, tiveram um extraordinário desenvolvimento apósa Segunda Guerra Mundial, sobretudo nas últimas déca<strong>das</strong>. Emborade origem europeia, eles começaram por se desenvolver nos EstadosUnidos e Canadá. Apenas em época <strong>mais</strong> recente – já quase nos nossosdias – o «fenómeno» da proliferação dos museus de segundageração se estendeu à Europa.As exibições interactivas existentes nesta segunda geração de museusciência e técnica, são, em parte, basea<strong>das</strong> na utilização de dispositivosde demonstração que são postos em funcionamento automáticopelo visitante. Esta utilização carece de alguma reflexão. Na realidade,verifica-se frequentemente que o visitante apressado limita-sea «carregar no botão» esperando passivamente o que vai acontecer.Como, em geral, não tem ideia precisa do que se pretende demonstrar,não tomará realmente consciência do fenómeno a que acaboude assistir.» 19Por um lado, porque hoje a grande maioria dos visitantes usuáriosdos museus exigem interacção, pois querem fazer e ter alguma coisaonde actuar e esperam encontrar nos vários percursos expositivosmuitas actividades que considerem atractivas, fascinantes e, simultaneamente,educativas participativas, no contexto dos MCT e dos respectivosmódulos interactivos participativos. «A visão moderna demuseu, surgida após a Revolução Francesa com a formação de colecçõesparticulares, criou uma vinculação com o público a partir de umaacção pedagógica. Neste novo cenário, o museu adaptou-se à mudançado perfil dos seus frequentadores, surgindo como um espaço em quea acção educativa ganhou amplitude e tem extrapolado o âmbitointerno <strong>das</strong> instituições, envolvendo cursos de formação e parceriascom outras instituições, principalmente liga<strong>das</strong> à educação não formal,abrindo-se a um largo espectro de destinatários.» 20Apostamos na convergência para a compartilha – complementaridade/interactividade– articulação; na nossa opinião, são as palavras binómiosconceitos chave para uma aprendizagem não-formal interventiva,complementar e articulatória de outras tipologias de aprendizagem,nomeadamente a formal e informal, na perspectiva da aprendizagem-ao-longo-da-vidae do muito com a vida, ou seja, convergênciapara um objectivo, propósito comum – melhorar a qualidade do aprendere do aprendente 21 .Um serviço educativo convergente é o instrumento eficaz, ideal paraconseguir uma educação comunicacional, patrimonial consistente,com base em três grandes objectivos globais:1 > fazer reconhecer valor pelo dar a conhecer o património cultural/educacional,científico-comunicacional à comunidade


42Sala de exposição permanente do Museu dos CTT, na Rua D. Estefânia, Lisboa, acervo iconográfico da FPC.aprendente, no contexto social do museu e sua educabilidade;2 > consciencializar (des)empenho <strong>das</strong> comunidades sociais envolventese parcerias institucionais para a necessidade e importânciada sua contribuição na preservação desse patrimónioe sua comunicabilidade;3 > interagir social pelo proporcionar à população, meio socialenvolvente, o gosto da contemplação e compreensão do valore significado do património cultural, científico e educacional,como contributo para o enriquecimento pessoal e colectivo esua usabilidade educativa.Importa, também, referir a convergência espácio-temporal do patrimóniocultural, no seu todo comunicacional, científico, educacional…,porque não se deve, ou pode, falar de passado sem pensar prospectaro futuro, atendendo a que, cada vez <strong>mais</strong>, os lugares de futuro sãoos museus que se transvazam de si próprios, na medida em que se permitementender, envolver, porque possibilitam a compreensão do seupassado, presente tangível e intangível e estes se tornaram maioresque as suas colecções, e estas tiveram que sair de si próprias e do seuuniverso museal, para se imiscuírem interagindo de uma forma cúmplice,viva e atractiva com as pessoas e os seus quotidianos 22 .Por outro lado, os MCT não existem na sua plenitude sem o respectivosítio na internet, sem um «lugar cativo» no ciberespaço, sem constarreferenciados nas primeiras páginas da internet dos motores debusca globais, nacionais e até mundiais, sem interagir em rede comoutros museus e/ou instituições culturais e educativas internacionais.De acordo com Sabbatini 23 , num artigo publicado na revista electrónicade jornalismo científico ComCiência pode ler-se:«O surgimento dos sistemas de comunicação digitais através de redesde computador, e especificamente internet, estão criando um novomodelo de apresentação e acesso a museus e centros de divulgaçãocientífica, redefinindo seu papel como instituições dedica<strong>das</strong> a aumentaro grau de percepção pública da ciência e da tecnologia. Surgem,portanto, as questões de como utilizar o ambiente virtual como meioeducacional, e quais são os tipos de aprendizagem <strong>mais</strong> adequa<strong>das</strong>para a internet, especialmente relacionados à educação científica. Tratase,então, de analisar de forma crítica quais são as possibilidades e limitaçõesúnicas da internet para os museus científicos.»Neste âmbito, consideraremos que não podemos nem devemos falarde interacção educativa formal, não formal, informal no contexto daintervenção escola/museu de ciência e tecnologia, junto dos públicosescolares, sem referenciar os seus respectivos sítios na internet.Neste sentido, a sustentabilidade funcional, operativa, socioculturaldos serviços educativos museais, passa também por uma atitude deempreendedorismo na aprendizagem não-formal.Importa, pois, que reflictamos agora sobre os MCT e, para isso, recorremosde novo ao questionamento que nos inquieta:> Serão os MCT capazes de fazer os seus visitantes usufruir comprazer, na e pela aquisição, apropriação e/ou consolidação deconhecimentos científicos, despertando posturas de valoraçãoda ciência, estima pelas instituições científico-tecnológicas eacima de tudo contribuir para o desenvolvimento, alargado, deum «espírito científico» contemporâneo?> Serão os MCT uma bolsa de recursos educativos capazes de umaconstrução contributiva para fazer produzir e realizar a comunicaçãoda ciência, tendo como consequência uma educabilidadesocial sustentada, pela promoção e desenvolvimento de uma«cultura científica» melhor e <strong>mais</strong> adequada às necessidadesdo nosso tempo?Assim, consideramos fundamental:


44> focalizar as nossas atenções na forma e conteúdo do comunicarciência hoje, através dos MCT;> investigar, com vista a melhor nos consciencializarmos da importânciae necessidade de preocupações reflexivas, promotoras deresultados inerentes à satisfação dos públicos destinatáriosdos MCT;> contribuir, com propósito, para uma melhoria, que pretendemossignificativa, dos serviços educativos dos MCT, realizando actividadesde acção pedagógica <strong>mais</strong> credíveis, <strong>mais</strong> úteis, <strong>mais</strong> criativase funcionais; em suma, <strong>mais</strong> fáceis de apreender o conteúdoa transmitir, esteticamente apelativas, agradáveis, capazes defazer usufruir o utilizador da satisfação de aquisição de sabercom sabor.Evocamos, a propósito, Barthes (1978, p. 21), quando, na sua liçãoinaugural no Collège de France, reinventando a semiologia literária,fala do sabor da sabedoria – a «sapientologia», lugar, onde «a escritafaz do saber uma festa»; diríamos nós, aqui, na realidade com quenos confrontamos, onde a museologia da ciência e tecnologia pretendefazer também do «saber uma festa» sociocultural.Fomos constatando, cada vez <strong>mais</strong>, por experiência pessoal e profissional,da importância cada vez maior dos sítios na internet dos museuscentros de ciência (SIMCC), da necessidade de uma percepção realistado que se ensina e se aprende num museu centro de ciência, tantonas visitas presenciais, como nas visitas virtuais ao respectivo sítio nainternet e qual o seu verdadeiro papel, tanto nas conjunturas educacionais(educação formal/educação não formal), quanto na contexturainstitucional e sócio-cultural.Aprender como aperfeiçoar o fazer saber, pelo comunicar ciência etecnologia através dos SIMCC, promovendo o prazer da aquisição deconhecimentos científicos de uma forma agradável, não formal, mascomplementar e articulatória da educação formal, é o perspectivar daaprendizagem (colaborativa) ao longo da vida.Apreender conceitos como comunicabilidade <strong>das</strong> ciências, usabilidade<strong>das</strong> tecnologias, com vista à educabilidade social, é prepararmonospara melhor entendermos como contribuir para a construção desaberes autónomos relacionais dos visitantes dos museus de ciênciae tecnologia (MCT) e respectivos sítios na internet (SIMCT).Assim, consideramos imperiosos termos a preocupação de responderem pertinência:O que essencialmente apreendem os nossos visitantes, com vista à aquisiçãoe/ou consolidação de conhecimentos científicos, técnicos e tecnológicos,artísticos…, pertinentes, úteis, significativos para a interacçãorelacional de saberes, transformativos (para melhor) de quotidianos,modos de vida?Deste modo, passou a constituir uma <strong>das</strong> nossas preocupações principais,ou seja:Que tipo de divulgação de ciência proporcionamos e quais os contributosreais para a promoção da cultura científica, promotora de qua-


45Exposição filatélica «Portugal em selos», 2005.lificação e que tipo de cultura científica realmente promovemos paraa melhoria da qualidade de vida na era <strong>digital</strong>?Assumem-se assim, no Serviço Educativo do Museu <strong>das</strong> Comunicações,experimentar, dar a descobrir novas realidades comunicativas, em plataformasde interacção comunicacional, pelo criar, proporcionar,analisar e avaliar novas soluções de acesso com sucesso à (in)formação,ora como instrumentos de aprendizagem ao longo da vida, ora comoferramentas facilitadoras de contactos, entretenimentos e de novassocializações em comunidades reais/virtuais, função <strong>das</strong> necessidadese interesses do seus usuários.Museu <strong>das</strong> Comunicações enquanto museu de empresa, da preservaçãodo património comunicante, do perpetuar <strong>das</strong> memórias colectivas dahistória <strong>das</strong> comunicações em Portugal, museu do valor <strong>das</strong> pessoas<strong>das</strong> comunicações e telecomunicações e suas actividades no evoluirdos tempos; museu ícone, cujo Serviço Educativo pretende também contribuir,hoje, para o desenvolvimento sustentável <strong>das</strong> comunicaçõesem Portugal e da qualidade de vida comunicacional na «era <strong>digital</strong>»,enquanto processo contributivo para:> um novo saber relacional, pelo saber ser, estar, actuar na sociedadeda informação, conducente a uma nova sociedade daaprendizagem, do conhecimento e da competência;> (re)conhecer o valor histórico e patrimonial do processo evolutivodo «acto de comunicar», pelo proporcionar acessosao passado do passado <strong>das</strong> comunicações, ao estudo dosmeios e ferramentas fundamentais de transmissão de mensagens,para aprendermos a saber fazer agora, melhor comunicação;Museu missão da Fundação <strong>Portuguesa</strong> <strong>das</strong> Comunicações, marca deprestígio dos seus instituidores, que responde aos seus desafios institucionais,empresariais e comunicacionais, numa atitude investigativa,de partilha positiva e rigor cognoscível, no tratamento museológicodo seu acervo:no aprender a fazer saber, um saber fazer comunicativo, para melhorsabermos conviver com a diversidade, com o (des)entendimento da condiçãohumana, com a percepção da identidade terrena, com o admitiro erro e a ilusão; numa perspectiva de solidariedade inclusiva, paraapreendermos com os outros, o «sabor do saber ser» em cidadaniatotal, local e global.Museu de arte, ciência e tecnologia, numa perspectiva cognitivista denovos saberes relacionais:enquanto contributos articulados para uma educação integral, formaçãoprofissional e desenvolvimento de novas capacidades e competênciasqualificadoras, na área <strong>das</strong> novas infotecnologias interactivasda comunicação empresarial, educacional multimédia;Museu oficina da comunicação empresarial educacional, do aprendera fazer ser bons comunicadores, transmissores usuários da construçãoda tolerância, da paz e do progresso, enquanto comunicantescausadores, geradores de sustentabilidade:> numa postura de aprendizagem colaborativa, virada para acompreensão dedutiva dos produtos e serviços empresariais,indutiva na avaliação de métodos, processos educativos, numaatitude construtivista do saber aprender a fazer um saber compartilhadoe a descobrir no presente, a importância do conhecimentopertinente;> no sabermos hoje, afrontar a incerteza, preparados para o desafioda mudança permanente e promovermos uma melhor comunicabilidadeda ciência nas comunicações.Museu <strong>das</strong> comunicações interactivas, educacionais e/ou empresariais,enquanto meio privilegiado para saber fazer, experimentar, (des)envolvere empreender no futuro do presente; para prospectivar o presen-


46te futuro, hoje, para que possamos ter saudades do futuro amanhã…Na altura (2002) e tempos consequentes, as nossas crescentes preocupaçõeseram cada vez <strong>mais</strong> acentua<strong>das</strong> pela influência do aprendizadonos seminários do programa de doutoramento da Universidadede Santiago de Compostela, novas perspectivas didácticas emáreas curriculares:> absorvi<strong>das</strong> pela constante evolução da realidade;> inquietantes, porque desassossega<strong>das</strong> pelo alcançar plataformasexperimentais de acção investigativa com vista a captar dinâmicasabrangentes, sejam estas dos quotidianos específicos darelação escola/museu centro de ciência, aos fenómenos educacionaissociais da interacção da ciência, tecnologia, sociedade(CTS) globais;> promotoras de estudos centrados na resolução de problemas pelaprocura de soluções transformadoras de realidades cada vez<strong>mais</strong> complexas, como compreender o articular complementardo currículo escolar formal e o recurso educativo não formal,onde, no nosso entender, se inserem os museus centros de ciência(MCC), públicos e/ou privados.Pretendemos ainda contribuir para> a construção de novas relações pedagógicas, <strong>mais</strong> gratificantes,capazes de transformar actividades e atitudes educativas emacções motivadoras de novos interesses, conducentes a novasenvolvências comunicacionais, <strong>mais</strong> amigáveis, produtivas efruidoras de novos entendimentos, para novas comunicabilidades,em rede> que a construção de conhecimento seja, por excelência, umacto comunicativo com o prazer de fazer saber, um saber experimentadoem partilha comungante> que todos os usuários de um espaço tempo de cognição, se convertamem melhores gestores desses novos conhecimentos,capacidades e competências.Que sejam orientadores e/ou utilizadores <strong>mais</strong> eficazes de novos encadeamentosde «saberes» relacionais (pelo uso de hardware e softwareeducativos em rede),tanto do apreender a arte pela tecnologia, doaprender ciência, com a tecnologia e/ou do compreender a tecnologiacom ciência... enquanto arte de comunicar cientificamente o aprendido.Síntese Evolutiva, numa perspectiva holística.Os museus como ferramentas facilitadoras daconstrução social do conhecimento e educaçãopatrimonialNo sentido da busca de um entendimento integral dos fenómenos,entendemos hoje, cada vez <strong>mais</strong>, que os museus são espaços de conciliaçãode ambiências comunicacionais; do deslumbramento maravilhado,da erudição cognitiva recolhedora, do prazer de aprender deformas <strong>mais</strong> lúdico-pedagógicas e de novas perspectivas didácticas;discursos expositivos adaptados, tanto ao visitante individual, comoem grupo; conteúdos adequados do interesse pessoal, saber <strong>mais</strong>e/ou colectivo, <strong>mais</strong> acessíveis às massas populares;Os MCT – museus de ciência e tecnologia são hoje, cada vez <strong>mais</strong>,lugares de futuro, entidades visionárias porque articulatórias da cientificidadetecnológica com a arte e intervenção sociocultural, ou seja,promovem, no presente, uma nova cultura tecnológica, artística, científico-educacional,pelo (re)conhecimento do passado numa perspectivade futuro.Um futuro que se projecta, que se prepara na medida em que se constróipela compreensão da transformação do presente (em mudança


47permanente), pela elaboração da percepção comunicacional/entendimentoda causa <strong>das</strong> coisas que nos rodeiam, em que nos envolvemos,desenvolvemos de uma forma pessoal e/ou colectiva.Mas um verdadeiro visionário vê o invisível e portanto consegue fazero impossível…Mas só conseguimos fazer o «impossível invisível» (o melhor possível)com muita «inspiração e transpiração», ou seja, com trabalho criativoe colectivo.Trabalho criativo positivista, articulado e compartilhado complementarmente,numa abordagem integrada e integradora porque conciliatóriado tangível com o intangível, do tradicional com a modernidade,do discurso museológico analógico com a nova museografia <strong>digital</strong>.Uma abordagem museal com contemporaneidade e modernidade,pela actualidade artístico-tecnológica, criatividade comunicacional,na diversidade dos discursos expositivos, multimediatizados interactivose dos vários procedimentos museais (museologia e museografia)inerentes a processos técnico-artísticos conceptuais dinâmicos, educativos(in)formativos… socioculturais interventivos – com inovação.Inovação, enquanto renovação (re)construção promotora novidade,de mudança, de transformação, pela originalidade da utilizaçãocriativa de todos os recursos educativos (humanos e/ou materiais)disponíveis:> os meios e materiais de aprendizagem, desde os tradicionaisguias e/ou áudio-guias, audiovisuais, aos livros temáticos, aos«cadernos didáctico-pedagógicos» analógico-digitais, construtivos/ multimédia interactivos, com miniaturas, jogos, maquetasmanipuláveis, aos esquemas dinâmicos, simuladores (com infotecnologias3D) de funcionamento de mecanismos e/ou sistemasoperativos;> <strong>das</strong> réplicas manipuláveis de objectos à escala, inerentes doacervo museológico, aos módulos interactivos participativos;> da exploração do discurso expositivo analógico (espólio musealem vitrina), linear e cronológico, ao discurso multimediatizado interactivo,não linear, em suportes digitais multimédia;> da organização de oficinas pedagógicas tradicionais, for<strong>mais</strong>,especifico-temáticas, à intervenção lúdico-educativa, articulatória(educação formal/não formal/informal) e complementardos saberes – saber «saber», conhecimento; saber fazer, experiência;saber ser, atitude; saber estar, conviver – aos quiosquesinteractivos participativos do tipo «saber +», com vista à descobertado acervo tangível e/ou intangível relacional do Museu<strong>das</strong> Comunicações.Hoje, cada vez <strong>mais</strong>, as visitas guia<strong>das</strong>, segundo os princípios da novamuseologia interactiva, reafirmam a importância da função social domuseu e do carácter global <strong>das</strong> suas intervenções inter-relacionais ACTS– arte, ciência, tecnologia, sociedade.Intervenções ACTS científico-artísticas, técnicas e tecnológicas, socioculturais/educacionaisque assentam em intercâmbios de saberes eexperiências, interacções relacionais analógico-digitais, presenciaisreais e/ou em visitas virtuais online (em presença em linha – rede mundial– sítio na internet do Museu), multiculturais, multidisciplinares detransdisciplinaridade complementar de interacção/intervenção pedagógica(no conceito e contexto da necessidade de aprendizagem aolongo da vida – educação formal, não formal e informal).Actividades lúdico-formativas desenha<strong>das</strong> especificamente paracrianças, jovens, adultos, seniores, comunidades profissionais, educativase/ou famílias nas quais as intervenções (in)formativas implicamum estudo fundamentado de públicos, <strong>das</strong> suas necessidades e interesses,da «usabilidade educativa» <strong>das</strong> visitas ao museu e implicama necessária inerente preparação de novas equipas de interacção


48Guarda-fios em 1864, aguarela de Luís Jardim Portela, 1962, acervo iconográfico da FPC.interventiva (museólogos, professores, técnicos, artistas... enfim,novos pedagogos criativos), com vista a proporcionarmos ao visitantedo nosso Museu a consequente satisfação no/do seu usufruto.Equipas de trabalho de projecto multi-especializa<strong>das</strong>, desde o recursoà experiência e/ou aos saberes dos museólogos tradicionais àsnovas actividades relacionais perspectiva<strong>das</strong> pela nova museologia educacionalàs quais, hoje, modernas equipas de animação pedagógicomusealsociocultural darão cabal resposta.No nosso entender há que promover intercâmbios intergeracionais, paraque esta animação pedagógica sociocultural seja promotora de multiculturalidadee transversalidade multidisciplinar.Agora a transdisciplinaridade sociocultural educativa, em RAC – redesde aprendizagem colaborativa tem um papel fundamental na construçãode novos «saberes autónomos» relacionados e os serviçoseducativos dos museus, nomeadamente os museus de empresa e deciência, que é o caso do MC – Museu <strong>das</strong> Comunicações.Assim, os espaços do Museu <strong>das</strong> Comunicações proporcionam temposprivilegiados para a (des)construção criativa da escola, pela criação compreensãode ambiências comunicacionais favoráveis ao «saber comsabor», pelo aprender a fazer saber com o prazer de comunicar educacionalmente...Experiências comunicacionais «inesquecíveis», porque facilitadorasde novas tipologias de aprendizagens lúdico-(in)formativas relevantes,importantes, significativas activas e actuantes, que provocam epromovem (trans)formação pelo (des)envolvimento pessoal, pela intervençãosociocultural, artística e/ou técnico-científica.Agora, as intervenções educativas devem funcionar como ferramentasSiM – sensibilizar, informar, motivar, causadoras da melhor compreensãodo exposto e da necessidade de voltar a usar e fruir portodos e, acima de tudo, recomendados por estes a outros.Os museus devem ser actualmente (e alguns são – sendo o Museu <strong>das</strong>Comunicações um excelente exemplo), tempos de interacção social,de reflexão permanente, de investigação-acção participada (IAP)face ao necessário e pertinente estudo continuado de públicos e avaliaçãoda sua adequação conteudística; espaços de comunicabilidadefuncional e operativa, amigáveis, interactivos, participativos; espaços-temposde intervenção educativa, de aprendizagem complementararticulatória do formal, não formal e informal; tempos desatisfação no usufruto do seu espaço expositivo e de intervençãosociocultural, lúdico-didáctica, oficinas pedagógicas promotoras de educabilidadepela construção de saberes autónomos relacionados, emsuma, da construção criativa de usabilidade educativa.Com efeito, devemos aprender a aprender continuamente a conciliaras <strong>mais</strong> diversas «artes», articulando várias formas de expressão erepresentação artística, tecnológica, científica e social, conducentesà melhoria de práticas educativas inovadoras, atractivas, sedutoras,interventivas, lúdico-pedagógicas, capazes de cumplicidades visitante/visitado,públicos/museus, tornando o usufruto do museu «inesquecível»numa perspectiva inter-relacional, articulatória e complementarACTS – arte, ciência, tecnologia, sociedade; reinventandomemórias, pelo «parar o olhar para ver» para apreender o ver/ler aarte de fazer, «ver para fazer saber», promovendo uma cultura científica,pelo explicado, fundamentado, compreendendo, humanizandoas (info)tecnologias, enquanto ferramentas facilitadoras de novosacessos com sucesso a novos (re)conhecimentos – fazer saber comsabor.Deste modo, num processo «mágico» lúdico-educativo, de viagemintemporal no tempo passado, presente, futuro presente, em espaçosde «deslumbramentos» vivenciados à volta <strong>das</strong> colecções, davida própria de cada peça, objecto museológico. Aí, as colecções


50como valorizar no presente ostalentos potenciais <strong>das</strong> pessoase suas capacidades individuaise competências emequipas de trabalho de projecto-oficina,envolvi<strong>das</strong> naconstrução do conhecimento edesenvolvimento da usabilidadeeducativa dos museusde empresa.Promover pelo (re)descobrir osmuseus de empresa enquantomuseus centros de ciência etecnologia ao serviço da comunidadeeducativa envolvente,abrangendo desde grupos devisitantes, aprendentes individuais,alunos e suas famílias,grupos de professores, guias, monitores, animadores, estagiários,investigadores, historiadores e todos os profissionais da museologia...,aos empresários investidores – mecenas.É nesta conjuntura de preocupação com o património <strong>das</strong> comunicaçõesde Portugal, e sua aplicabilidade como recurso educativo,neste caldo construtivo de preservação, num contexto de cisãoe união empresarial e de compartilha, que contributos fundamentais,desde a decisão política de criar a Fundação <strong>Portuguesa</strong><strong>das</strong> Comunicações – Museu <strong>das</strong> Comunicações aos gestores, quadros<strong>das</strong> respectivas instituições, da cooperação (in)formativa,técnica e tecnológica <strong>das</strong> <strong>mais</strong> varia<strong>das</strong> pessoas, técnicos especialistas,amantes conscientes do valor e importância da conserganhamforma e conteúdo relacionalde cumplicidades com aspessoas e profissionais, com astécnicas e profissões e/ou seusutilizadores usufrutuários.Assim, como viajantes dessetempo envolvente de parti<strong>das</strong>«à descoberta <strong>das</strong> comunicações»da preservação, estudoe conservação do seu, nosso,património museológico, numaperspectiva colectiva de achamentoe construção social doconhecimento e da EducaçãoPatrimonial, com enquadramentoartístico, técnico-científico,tecnológico e social, quese pretende relacional, diversificado,interactivo, inclusivo e solidário com as histórias de vida <strong>das</strong>pessoas <strong>das</strong> comunicações em Portugal, reconhecendo o valor passado,compreendendo melhor o perspectivar do presente, prospectando ofuturo, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida desta «era<strong>digital</strong>», cada vez <strong>mais</strong> globalizada e globalizante, em que a «humildadedo conhecimento partilhado» nos leva a novas aprendizagenscolaborativas, para novos conhecimentos pertinentes. Ou seja, à chegada,voltar a redescobrir o experimentando, a fazer melhor sabercom o «sabor» de aprender/compreender o viver melhor em sociedade– saber conviver.Porque, para melhor empreendermos no presente, preparando ofuturo, necessitamos de (re)conhecer tanto o passado do passado,


51NOTAS1Conclusões do relatório da APOM 79, cit. Por Garcia Nuno Guina; O Museu entre a culturae o mercado: um equilíbrio instável, p. 21.2em http://www.icom.org.br/codigoeticaICOM2006.pdf3Trata-se de representações simbólicas de entidades, produtos e serviços que criaram e desenvolveramo seu próprio valor e poder; algumas delas tornaram-se símbolos incontornáveisde qualidade e prestígio. Ícones de referência, assim como representações de naturezaartística, educacional, social e cultural – signos que atravessam o tempo. No nossocontexto são exemplos os logótipos dos CTT – Correios de Portugal, PT – Portugal Telecome ANACOM – Autoridade Nacional de Comunicações.4em Códice, 1998 Junho, número um, pp. 10 e 11.5em Códice, 1998 Junho, número um, p. 4.6em Códice, 1998 Junho, número um, p. 11.7Dr.ª Maria da Glória Pires Firmino, conservadora-chefe do Museu dos CTT.8Aquando da sua alocução no Seminário «Museus e Educação» organizado pela Associação<strong>Portuguesa</strong> de Museologia (APOM) em 29 e 30 de Maio de 1967 e publicada pelaAPOM, MUSEUS E EDUCAÇÃO, Lisboa, 1971, pp. 65 a 69.9APOM, MUSEUS E EDUCAÇÃO, Lisboa, 1971, p. 65.10 APOM, MUSEUS E EDUCAÇÃO, Lisboa, 1971, pp. 65 e 66.11 APOM, MUSEUS E EDUCAÇÃO, Lisboa, 1971, p. 66.12 APOM, MUSEUS E EDUCAÇÃO, Lisboa, 1971, p. 66.13 GAMC – Grupo de Amigos do Museu <strong>das</strong> Comunicações.14 APOM, MUSEUS E EDUCAÇÃO, Lisboa, 1971, p. 69.15 Do sítio na internet da Fundação <strong>Portuguesa</strong> <strong>das</strong> Comunicações – Museu <strong>das</strong> Comunicações.16A Escola Secundária de Miguel Torga é parceira do Museu <strong>das</strong> Comunicações – ServiçoEducativo em Projectos de Interacção Educativa desde o ano lectivo de 2002-2003 até àpresente data.17Nomeadamente com os alunos da estimada professora Margarida Mouta.18Professor Fernando Bragança Gil, fundador e ex-diector do Museu de Ciência, profundoconhecedor da história da Escola Politécnica, dos seus professores e da investigação aírealizada, em http://www.cictsul.ul.pt/projecto.htm – Centro Interdisciplinar de Ciênciatecnologia e Sociedade da Universidade de Lisboa.19Em manual de museologia, no capítulo XI, referente a Museus de Ciência e Técnica, podeler-se, Rocha-Trindade et al (1993, p. 251).20HOMS, Mª Inmaculada Pastor, (2004), Pedagogía Museística – Nuevas Perspectivas y TendenciasActuales. Barcelona: Ariel.21 «Só é útil o conhecimento que nos torna melhores» – Sócrates.22 Percepcionamos, face ao que constatamos, o que acontece com as famílias que visitam osMCT, motiva<strong>das</strong>, impulsiona<strong>das</strong> pelos filhos/alunos que antes os usufruíram nas visitasde estudo; de tal modo que, na grande maioria <strong>das</strong> vezes observa<strong>das</strong>, são os próprios filhosque se assumem como «guia/monitores» da visita familiar ao museu.23Marcelo Sabbatini é doutorado em Teoria e História da Educação pela Universidade deSalamanca, Espanha, e pesquisador associado do Instituto Universitário de Estudos daCiência e da Tecnologia da mesma universidade. Editor do boletim de divulgação científicaInfociencia.Net.Animação da exposição «Os 100 anos do telefone», 2005.vação do nosso património histórico <strong>das</strong> comunicações, nomeadamentede equipas específicas de museólogos, arquitectos,engenheiros, conservadores, documentalistas, estudiosos, historiadores,investigadores, artistas e artífices... são relembrados.Todavia, e acima de tudo, é às valorosas e voluntariosas individualidadesque fazem parte dessa, para sempre memorável, equipade trabalho colaborativo, que deu forma e conteúdo ao antigoMuseu dos Correios, que aqui se presta muito modesta homenagem,na pessoa da Dr. a Maria da Glória Pires Firmino, sustentáculona continuidade do ex-Museu dos CTT que germina o actualMuseu <strong>das</strong> Comunicações seu herdeiro.Porque, na medida em que compartilhamos saberes relacionados,de vivências feitos, com a experiência <strong>das</strong> pessoas e para as pessoas,em cumplicidade, em equipa de trabalho de projecto, com estudoscentrados na (re)solução de problemas, com vista à constantemelhoria de práticas e qualificações, em consciência da importânciade comunicar ciência com competência... mas com e para onosso quotidiano sempre.Confirmamos a importância do acesso com sucesso ao conhecimentopertinente;Certificamos o valor da aprendizagem significativa, ao longo da vida,como construção desse sucesso;Confiamos na vontade colectiva, interesse e necessidade da procurada essência da (in)formação para o (des)envolvimento pessoal e intervençãosocial, como via para a promoção de uma nova cultura científicaacessível a todos;Acreditamos no desenvolvimento e sustentabilidade de uma novaSociedade em Rede Colaborativa, que passa pela (re)construção de saberesrelacionados, porque estamos cada vez <strong>mais</strong> convictos, de que namelhoria da Qualidade de Vida na Era Digital, a trilogia comunicabilidade/ educabilidade / usabilidade configuram o sucesso pessoal e colectivoque se projecta;Reconhecemos que o progresso educativo-institucional se constróiagora, em (RAC) redes de aprendizagem colaborativa, pela complementaridaderelacional de «saberes», num processo educacionalconstrutivo (formal, não formal e informal) através de «novas experiênciasdidáctico-pedagógicas» em parcerias compartilha<strong>das</strong> deinvestigação-acção participante.Assumimos que a indispensabilidade de um salto para o desenvolvimentofuturo da museologia interactiva educativo-empresarial passapela (re)qualificação da usabilidade educativa dos museus de empresa,enquanto museus de arte, ciência e tecnologia, ao serviço dopúblico, usuários da comunicabilidade/educabilidade na satisfação dousufruto – usabilidade.


52Alfredo Anciães | Licenciado em História e pós-licenciado em Bibliotecas; Arquivos; Museologia e Gestão do Património.Património museológicode telecomunicações:criação e gestão em contextoConselheiro e director dos Telégrafos, Guilhermino Augusto de Barros, acervo iconográfico da FPC.1. A criaçãoEm 1878, os Correios Telégrafos e Faróis deram início ao projecto de criaçãode um museu, tal como se depreende do relatório de GuilherminoAugusto de Barros: «Quanto à Biblioteca e Museu Postal procurareiir coligindo quanto lhe respeita e for possível obter, compenetrandomedo pensamento civilizador que inspira tal lembrança» (Barros,1878) 1 . Porém, este projecto de Museu Postal, assim era designado,tratava também de telecomunicações e sinalização costeira 2 . Estemomento do início de um museu, em 1878, foi uma acção meritória,preconizada pelo ministro <strong>das</strong> «Obras Publicas, Comercio e Industria»João Guarberto de Barros, em 1877. Classificamos, porém, esteprimeiro acto de «cariz romântico» em conformidade com a mentalidadeda época e que se terá extinguido nas déca<strong>das</strong> seguintes.Assim se explica a chegada ao século XX e inclusivamente o ano de 1934sem documentação relevante que ateste a evolução do museu, exceptuandoligeiras notas de que são exemplo o capítulo «Melhoramentose emprehendimentos» do Relatório Postal de 1877-1878.Este museu foi inicialmente dotado de um primeiro núcleo de 30peças 3 que se presume serem na quase totalidade de telecomunicações.Com efeito, analisando os registos antigos, começando pelonúmero um e até ao trigésimo, verificamos que <strong>das</strong> trinta peças iniciais,vinte e duas são de telegrafia eléctrica. Foi reservado para estaspeças um pequeno móvel, o que denota um interesse do tipo «gabinetede curiosidades», ainda ao jeito do século XVIII. Não obstante,este embrião de museu surge-nos associado a um órgão afim - abiblioteca, também instalada num móvel igual ao do patrimóniomuseológico.Os dois móveis ainda se encontram etiquetados e preservados no patrimóniomuseológico da Fundação <strong>Portuguesa</strong> <strong>das</strong> Comunicações etestemunham o core memory ou o primeiro cartão de identidade doentão chamado Museu Postal que, como acima referimos, era predominantementede telegrafia, ou seja, de telecomunicações.A relação entre a biblioteca (que ao tempo englobava também documentaçãode arquivo) e o museu apontava já um interesse didácticoe científico para o sector <strong>das</strong> comunicações. Porém, a vertente românticada altura, embora criativa, começou a ceder a outras preocupações.Em 1886, surgiu a questão do «mapa cor-de-rosa» e a criserelacionada e, em 1890, o «ultimato inglês».De ora em diante, os investimentos públicos não imediatamente rentáveisiriam ficar condicionados. Assim, o museu da actividade de CorreiosTelégrafos e Faróis permaneceu sem visibilidade durante déca<strong>das</strong>,o que justificará a falta de documentação técnica, como catálogos,desenhos, fotografias, planos e relatórios que demonstrem aevolução do museu entre os anos 80 do século XIX e os anos 30 do séculoXX.2. RefundaçãoApós o longo período de falta de visibilidade, Godofredo Ferreira 4 veioem 1934 relançar a ideia do Museu dos CTT, chegando a sua sugestãoao correio-mor Luís de Albuquerque Couto dos Santos. A sugestãofoi bem acolhida. O Sr. correio-mor despachou favoravelmente a proposta,nomeando o chefe de divisão Godofredo Ferreira para trabalharno sentido de «encarar-se rapidamente a efectivação da criação[que na realidade foi uma recriação ou refundação] do museu» 5 .Não obstante a corrente favorável à criação de museus no início doEstado Novo, juntamente com a acção de Godofredo Ferreira, o Museudos CTT só voltou a ter existência oficial, não em 1934 conforme as indicaçõesdo Sr. correio-mor, mas sim em 1947. Entretanto, Godofredo Ferreirainiciou uma acção tão urgente quanto meritória, de recolha dedocumentação histórica. Em 1947, a par da refundação do museu, ins-


54Retrato de Godofredo Ferreira, acervo iconográfico da FPC.Imagem da peça inventário Nº 1, relé telegráfico, acervo iconográfico da FPC.titui-se, pela primeira vez, o lugar de conservador-chefe,com a nomeação do Dr. MárioGonçalves Viana.Nesta época, os museus vinham desempenhandoum papel no desenvolvimento deuma «política do espírito» como costumavareferir António Ferro 6 , e o segundo conservadordo Museu dos CTT António Mora Ramos.Foi então atribuída ao Museu uma sede provisóriana Rua Mouzinho da Silveira, n. o 23, indodepois para a Rua de S. Mamede ao Cal<strong>das</strong>.Organização, objectivos,finalidades e patrimónioNa circular n. o 33/A de 1947, ano da nomeaçãode Mário Gonçalves Viana, sob o títuloOrganização do Museu dos CTT, podemosverificar que: «Estando, presentemente, emorganização activa o Museu dos CTT, no qualse devem recolher e catalogar, além de todoo material em uso, todos os aparelhos e utensílios antigos ou postosde parte susceptíveis de documentarem, de uma forma viva e expressiva,a múltipla e extensa actividade da nossa corporação, é de absolutaconveniência fazer recolher ao referido museu tudo quanto, dequalquer maneira, ofereça interesse para a história dos CTT em Portugal»(CTT: 1947). 7Os objectivos e as finalidades da política museológica dos CTT nos anos1950 estão expressos na «ordem de serviço n. o 5505, 1 de Março de 1955:1) O Museu dos CTT será a representação viva <strong>das</strong> múltiplas actividadesdos CTT nos variados sectores por que aqueles se desdobram e naforma como evolucionam ao longo do tempo.2) Da definição resulta, em primeiro lugar,que o Museu tem um sentido e uma funçãoeminentemente históricos, mas o mesmo pretendeigualmente servir a cultura profissionaldos Correios Telégrafos e Telefones [...].3) O Museu procura, finalmente, proporcionarao público o conhecimento global dos materiaisutilizados pela administração nas diferentesépocas e dos métodos de trabalhoseguidos no desenrolar dos anos» (CTT: OS,1955,1). 8Não obstante todos os condicionalismosencontrados, o conservador Mário GonçalvesViana apresentou em 1947 cerca de 1500registos de inventário, relativos ao mesmonúmero de peças, sendo para isso preparadauma sede para o Museu na Rua de S. Mamede.Em 1949, o primeiro conservador MárioGonçalves Viana foi autor da publicação «UmMuseu dos CTT: Objectivos – Organização – Realização – Funcionamento»(Lisboa: CTT. Ed. dos Serviços Culturais). Trata-se de um estudode excepcional qualidade e que constitui ainda uma obra de referênciaentre os estudos de museologia a nível internacional.Em Julho de 1952, foi nomeado o segundo conservador-chefe, AntónioMora Ramos. Este conservador geriu as actividades do museu e preparoua exposição do sector de telecomunicações na Rua Castilho, n. o 15 - 2 0andar, que viria a ser inaugurada em 1959. Integraram a exposição detelecomunicações, além de peças funcionais, várias miniaturas e documentaçãoiconográfica. Foi outra lufada de ar fresco na museologia que


56o antecessor terá ajudado a realizar com trabalhos prévios e com o seulegado de saber: na museologia, na arquivística e na biblioteconomia,áreas onde Mário Gonçalves Viana foi autor e inovador.O pensamento do conservador António Mora Ramos e o tipo de acçãoque caracteriza o seu trabalho podem ser analisados pelo contexto <strong>das</strong>ua palestra, editada em livro, cujo título é sugestivo, O Valor Psico-pedagógicode um Museu Profissional, em que ele próprio refere: «Tratasenão apenas de uma palestra mas de <strong>mais</strong> uma <strong>das</strong> muitas dezenasde palestras que a Administração Geral ao serviço de uma constantepolítica do espírito [...]» (Ramos: 1954) 9 . Estas referências dão-nosuma ideia do ambiente social, político e profissional da organizaçãoestatal dos CTT.Quanto aos novos funcionários da Administração CTT, o conservador MoraRamos refere que deveriam passar, aquando da sua admissão, por umestágio no museu, a fim de conhecerem o passado e o presente da«Casa» que iriam servir: «Interessa, sobretudo, que cada funcionário[...] veja e sinta que é um elo da cadeia, um pormenor indispensável noarranjo do conjunto. Interessa sobretudo, que encontre na grandeza daAdministração o estímulo indispensável para levar avante o seu própriotrabalho com entusiasmo, com dinamismo, com justificado orgulho! [...].Este Museu vivo que corresponde a uma necessidade da nossa época eda nossa Administração, este Museu que, se Deus quiser, permitirá criaruma colectiva consciência profissional» (Ramos: 1954) 10 .1 a exposição de telecomunicaçõesNeste contexto da «política do espírito» do Estado Novo, foi inaugurada,em 1959, a primeira exposição do sector de telecomunicações no2 o andar da Rua Castilho, n o 15, e o primeiro edifício utilizado por inteiropara o museu foi o da Rua de D. Estefânia números 173-175, com umaárea total de aproximadamente 745 m2 distribuídos por quatro pisose ainda um jardim com cerca de 340 m2. A exposição da Estefâniaintegrava pela primeira vez em simultâneo e no mesmo edifício as trêsprincipais colecções: Correio, Filatelia e Telecomunicações.A classificação de peças deste período caracteriza-se na seguintetabela de colecções:> Telegráficas Metropolitanas do Continente e Ilhas Adjacentes;Ultramarinas; Internacionais> Telefónicas Metropolitanas do Continente e Ilhas Adjacentes;Ultramarinas; Internacionais> Radioeléctricas Metropolitanas do Continente e Ilhas Adjacentes;Ultramarinas; InternacionaisEsta terminologia de colecções subdivide-se em equipamentos e materiais,tais como: «Aparelhos, Utensílios, Desenhos; Esquemas; Mapas;Fotografias; Impressos; Publicidade e Propaganda; RepresentaçãoDocumental dos Serviços CTT; Documentação Profissional e História;Indumentária, Numismática e Diversos» 11 .Nos finais dos anos 60, o acervo museológico de telecomunicações rondavacerca de 1500 peças, trata<strong>das</strong> com um inventário sumário baseadoem listagens e fichas (umas manuscritas, outras dactilografa<strong>das</strong>). Ésintomático da época, anos 40 a 60, a classificação de peças em «Publicidadee Propaganda», «Documentação Profissional e História»,«Numismática» e «Ultramarinas», fazendo jus à «política do espírito»,do Portugal do Minho a Timor e ao «elo da cadeia» que cada funcionário«deveria ser», como refere o conservador António Mora Ramos. 123. DemocratizaçãoA partir de meados da década de 70, desenham-se novas políticasmuseológicas. É exercida uma acção pedagógica na sede do museu,


57que reabrira em finais dos anos 60 na Rua de D. Estefânia. As instituiçõesmuseológicas nesses anos 60 e 70 passaram por um certo abandono.Verifica-se que os museus portugueses, após uma intensificação <strong>das</strong>suas actividades relaciona<strong>das</strong> com a ideologia no que toca a umacerta exaltação nacionalista com epílogo na exposição do «O MundoPortuguês» (1940), começaram a entrar em crise.Com o objectivo de pôr cobro a esta crise, alguns museólogos apelarampara novos valores, como a integração de programas educativose culturais em consonância com o processo de democratização <strong>das</strong>ociedade. Nesta perspectiva, citamos Domingos Pinho Brandão:«Logicamente, um Museu deverá ser uma escola de educação e cultura[...] não se destinando somente aos especialistas, mas a todo ohomem mesmo ao menos culto, para que seja <strong>mais</strong> culto» (Brandão:1976) 13 .Esta política implicaria a necessidade de investir em nova formação einvestimentos compatíveis para alterar as tradicionais práticas museológicase museográficas e cativar novos públicos: «No mundo dosmuseus, o ponto crítico do problema da sua sobrevivência, da suaresolução <strong>das</strong> suas carências, da sua integração na vida <strong>das</strong> regiões[...] é constituído, precisamente pelo divórcio entre a teoria e a prática.[...] Ao meditar sobre a situação dos nossos museus e considerandoo que tenho lido, visto e ouvido, dos que têm tentado com todo oentusiasmo e sacrifício próprios enfrentar a crise que atravessamos,verifiquei o seguinte: Entre nós - os Museus de Comunicações e Transportes- deixamo-nos absorver de tal maneira pelos nossos própriosassuntos que estamos cada vez <strong>mais</strong> afastados uns dos outros [...]»(Firmino: 1976) 14 .Esta anotação da 3 a conservadora-chefe do Museu deixa antever osinúmeros problemas que, em nossa opinião, radicavam no seguinte:crise do Estado Novo, afectando o museu devido à mobilização <strong>das</strong> atençõese dos recursos para as guerras de África, não permitindo repensara política museológica ou mesmo reactivar a tradicional acção; reforçoda emigração, revelando um desinteresse de permanência no Portugalde regime ditatorial.O desinteresse pelas exposições e museus repercutia-se na área patrimonial.Porém, na década de 80, algo mudou. A loja do Museu, melhorpreparada, veio reforçar o interesse dos visitantes. Começou umanova política de relações públicas e marketing, com a oferta e vendade materiais de âmbito cultural e publicitário. Deste modo se cativouo público escolar num panorama museológico nacional de museuscom poucos recursos.Depois de um trabalho notável na primeira metade da década de 80com promoção de exposições itinerantes pelo País e deslocações aescolas e colectividades, o Museu dos CTT encerrou inesperadamenteas portas em Maio de 1985. Desta feita, alegou-se que as instalaçõesde água e electricidade da Rua de D. Estefânia, 173-175, estavamem perigo de provocar uma situação de catástrofe. Esteve o museuencerrado ao público desde essa altura, Maio de 1985, até Outubro de1997, data em que reabriu com outra administração e outro estatuto.Nesse meio tempo, promoveram-se exposições itinerantes temporáriasde curta e de longa duração, recolheram-se, incorporaramse,registaram-se, inventariaram-se, informatizaram-se, classificaram-seem nova tabela de colecções, conservaram-se e restauraramsemilhares de peças de telecomunicações.Tabela (ou chave) de classificação<strong>das</strong> colecções utilizada desde 1985 a 1998Esta tabela foi muito útil durante uma dezena de anos. Entretanto,o sector <strong>das</strong> telecomunicações evoluiu com novas tecnologias e novosserviços, e a tabela de classificação começou a não responder às


59Sala de exposição permanente do Museu dos CTT, na Rua D. Estefânia, Lisboa, acervo iconográfico da FPC.necessidades. No início dos anos 80, o Museu dos CTT ainda utilizava,embora já desactualizada, a velha classificação designada por«catálogo do material museográfico». Quanto à nova tabela (1985-1998) para a época da democratização dos museus, esta foi elaboradapor um grupo de trabalho dos CTT, entretanto integrado nos Amigosdo Museu e coadjuvado pelos recursos da área museológica de telecomunicações.Esta tabela de classificação foi elaborada com 7 (sete)colecções principais de equipamentos, tais como:I – Terminais; II – Transmissão; III – Radioeléctrico; IV – Comutação;V – Energia; VI – Medição e Ensaio; VII – Ferramentas.Trata-se de uma tabela simples para a variedade e quantidade de peçasa classificar, cerca de 40 000, em 17 000 registos (segundo dados de2006) e, é muito pertinente na classificação e recuperação da informação(Anciães: 2002). 15Tabela de classificação <strong>das</strong> colecçõesda primeira década de 2000Número decategoriaou colecçãoTabela versão de 2002 para classificação do patrimóniomuseológico de telecomunicações seguida de exemplos<strong>das</strong> peças <strong>mais</strong> conheci<strong>das</strong>.Estas sete colecções desdobram-se em várias subcategorias que aquiseria fastidioso apresentar. A classificação de uma única peça atravésdesta tabela implica, em alguns casos, 6 caracteres e 5 pontos divisores,tal como no seguinte exemplo: I.2.2.3.1.1 para classificar o itemPPCA – Posto Principal de Comutação Automática de Relés. Trata-sede uma classificação demasiado precisa e complexa. Esta tabela declassificação de colecções e subcolecções apresenta-se em dez páginasA4. Acontece que passado uma dezena de anos, com os métodosinformáticos de pesquisa, o património não carecia <strong>mais</strong> deste sistemade classificação, complexo e demasiado pormenorizado, por umlado, e por outro lado insuficiente, já que não contemplava as novastecnologias entretanto aplica<strong>das</strong> nas telecomunicações.A reorganização do acervo, em 1998, não se compadecia com este tipode classificação e a mesma foi remetida para histórico do Arquivotécnico da Fundação <strong>Portuguesa</strong> <strong>das</strong> Comunicações. Como a necessidade«aguça o engenho» e o património não parou de aumentarem quantidade, foi criada para esta fase da primeira década dosegundo milénio uma nova classificação constituída por 19 colecções.01020304Telegrafia óptica e visualTelégrafos chappe e de persianas; maquetas e imagensde facho; tam-tams; trompas; faróis; bandeiras;galhardetes; cadernais; telescópios; lanternas; heliógrafos;equipamentos para aprendizagem de códigos.Telegrafia eléctricaTransmissores e receptores tipo: morse; breguet; steljes;hughes; baudot; fac-simile; telex; videotex; corfac/telecópia.Novos terminaisEm rede, tipo internet e intranet.Telefonia - terminaisPrecursores: de bateria local; de bateria central; automáticosanalógicos; automáticos digitais; visiotelefones.


6005060708TelebipTerminais - emissores/receptores. Equipamentos deestação e de exterior: emissores; retransmissores; antenas.Radiotelegrafia/radiotelefoniaManipuladores de sinais, emissores; receptores; bobinas;coesores; detectores; sintonizadores; onduladores;antenas; relés; osciladores; válvulas; filtros.Televisisão/teledifusãoReceptores; emissores; retransmissores; sintonizadores;vuboscópios; osciloscópios; demoduladores; analisadores;monitores; válvulas; clistrões.Comutação: telefónica, telegráfica e dadosComutadores de parede, de pavimento e de mesa; centraistipo strowger; ATU – centrais telefónicas automáticasde uniselectores; ANC – centrais nodais de comutaçãoautomática; ATC - centrais telefónicas automáticascom selectores de coordena<strong>das</strong>; ALD - centraistelefónicas automáticas locais digitais; selectores; regeneradores;relés.101112Equipamento electrónico e diverso de centraisPlacas de processamento, matrizes, interfaces, placase outros objectos de sinalização; relógios remotos; geradoresde corrente-de-chamar; memórias de massa,modems.Energia alimentação protecção e afimGeradores; alimentadores; motores; pilhas; baterias;transformadores; condensadores; resistências; páraraios;fusíveis.Ensaios, medi<strong>das</strong>, controle, aparelhos e objectosdidácticosCarrilhões; dinamómetros; galvanómetros; calculógrafos;ohmímetros; voltímetros; multímetros; medidoresde intensidade de campo; ondâmetros; medidores dedistorção de ruído; medidores de resistência de terra;localizadores de perturbação de telegrafia e telefoniasem fios; pesquisadores de ruído; zumbidores; contaminutos/fiscalizadores de chama<strong>das</strong>; inclinómetros devia; leitores de elongação e desvios; frequencímetros;pontes de localização de avarias; relógios reguladoresde impulsos; contadores de estação.09Transmissão de exterior e de centraisEquipamentos de linha; postes; ferragens; fios; isoladores;linhas partilha<strong>das</strong> de comutação manual; linhaspartilha<strong>das</strong> de comutação automática; cabos, retransmissores;torres; antenas, satélites.13Ferramentas comuns e específicasKits de ferramenta especial de electricistas e mecânicos;extractores; escariadores; flectores; chaves de torça<strong>das</strong>;fornalhas; ferros de marcar postes; trados; analisadoresde postes; estribos; colheres para terra; pás,colheres para solda; cadernais; maçaricos; cintos de


61141516171819segurança; esticadores; alavancas; forjas; machados;martelos; almotolias; mandris; cadinhos de soldar.Serviços e administraçãoMáquinas de escrever; calculadoras; outros objectos que,não sendo específicos para a temática comunicações, ajudama complementar contextos e/ou cenários expositivos.Sinalização logótipos outros distintivosPedras «Cabo do Tejo 27 Abril 1871»; placas e indicadoresdo serviço de telecomunicações; objectos com logótipos;placas comemorativas de centrais e outros serviços.TransportesViaturas; atrelados; bobinas para cabos; guin<strong>das</strong>tes,tractores; dumpers.MobiliárioEspecífico - cabinas telefónicas; locutórios; mesas;cadeiras. Mobiliário comum: usado nas telecomunicaçõese com interesse para contexto de exposições.TelecartofiliaCartões telefónicos com leitura por banda magnética;por chip; nacionais e internacionais.Fardamentos e manequins de profissionaisVigias do mar; oficiais e praças do corpo telegráfico;guarda-fios; outros profissionais relacionados com astelecomunicações.Nos anos 80, abriu uma galeria no Largo da Trindade como exposiçãode carácter provisório até se instalar um novo museu pensado para aRua da Palma, que não chegou a concretizar-se. Outra exposição de referênciaesteve no Fórum Picoas, «Comunicações: Uma Aventura SemFim». Os serviços e o património museológico continuaram pulverizadospela galeria no Largo da Trindade, a secretaria e administraçãoandaram primeiro pela Rua Casal Ribeiro, depois pela Rua Tomás Ribeiroe Rua Castilho. Houve entretanto exposições temporárias em Lisboae algumas itinerantes por diversas localidades do País. O património eoficinas ficaram instalados nas ruas de D. Estefânia, D. Luís, Moeda, Viscondede Santarém, Av. Casal Ribeiro e Campo Grande. Esta dispersão<strong>das</strong> várias áreas de serviços, depósitos de peças e exposição, bem comoas sucessivas mudanças e reinstalações provocaram sérios atrasos narecolha, restauro, investigação, estudos e documentação de peças.1.4 Evolução do sector de correios etelecomunicações e novas políticasmuseológicasAinda nos 80 e primeira metade de 90, surgiu um grupo denominadoGRRMIM - Grupo de Recolha, Recuperação e Manutenção de Objectosde Interesse Museológico para o sector <strong>das</strong> telecomunicações, comafectação de pessoal: um engenheiro electrotécnico, um electrotécnicoassistente, um fiel de armazém com conhecimento na área demanutenção de materiais, um técnico oficinal e uma agente de limpeza.Foram atribuídos espaços para os trabalhos de instalação emanutenção de peças na Praça de D. Luís I, edifício onde funcionavamos serviços de telecomunicações, central telefónica e telegramas telefonados.Dado o desconhecimento do GRRMIM no seio do Museu dos CTT, nãopôde este grupo beneficiar dos meios ao alcance do museu, nomea-


62Edifício do Museu e Fundação <strong>Portuguesa</strong> <strong>das</strong> Comunicações.damente de um corpo de cerca de 60 pessoas e uma oficina de conservaçãoe restauro, de modo que a criação de uma segunda equipapara tratar do património denotou uma mudança táctica na políticaempresarial e, por arrastamento, na política museológica.Em 1992, deu-se a separação entre Correios e Telecomunicações, e comesta separação começou o processo de privatização e de reestruturaçõessucessivas que vieram a ter consequências na política museológica.Tendência para a «mercantilização» do museuAtente-se na seguinte citação: «Justifica-se amplamente o facto dese ter associado a função Marketing à área do Património Cultural <strong>das</strong>Empresas, pois que, através dela e muito particularmente do Museudos Correios e <strong>das</strong> Telecomunicações, sairá de certo modo reforçadaa acção envolvente desta actividade» (CTT: 1987) 16 . Noutro texto deintrodução ao plano de actividades do Museu dos CTT, de 1987 foi abordadaa definição e orientação dos museus do seguinte modo: «Osmuseus são instituições públicas e existem para benefício público,quer sejam administrados por instituições públicas ou priva<strong>das</strong>.A incorporação, a conservação, a documentação e a pesquisa sãotão importantes para o seu objectivo «público» como a educação ea promoção. A pressão do mercado tende a privilegiar só os aspectosvisíveis, mas ignorar os outros aspectos pode provocar sérios desequilíbriosna função do Museu» (LOPES: 1986) 17 .Tudo parece indicar nos textos citados que no museu foi abordada umacerta política comercialista da cultura. É o que se infere também dapublicação em ficha de legislação n o 84-87 em que figura a estruturada DMCCA – Direcção de Marketing e do Património Cultural doConselho de Administração 18 , que aliava expressamente a Direcção deMarketing ao Património Cultural e ao Museu dos CTT e TLP.Desenvolvimento de uma imagemUma nova ordem de serviço emitida pelo Conselho de Administraçãode 21 de Julho de 1988 incluiu o museu numa outra direcção: o Gabinetede Imagem e Acção Cultural Institucional do Conselho de Administração(CTT: 1988) 19 . Reportando-nos ainda à ordem de serviço de21 de Julho de 1988 na alínea c), o n o 5 define para o GIACICA, onde seenquadrava o museu, as seguintes funções: «Elaborar um programade acções tendentes a uma boa aceitação pública <strong>das</strong> valências <strong>das</strong>Empresas, nomeadamente do seu património histórico-cultural»(CTT: 1988) 20 .A alteração que consideramos <strong>mais</strong> evidente em termos legislativospara o recuo no projecto de «mercantilização» é a que resulta da alínead) do mesmo número e que se refere a: «Reintrepretar em termosde MKT [Marketing] social os planos estratégicos [...]». Repare-seque o termo social não entra na anterior organização da Direcção deMarketing e do Património Cultural do Conselho de Administração, antesporém se referia ao «êxito dos negócios» e à «satisfação dos clientes».E no que respeita às funções específicas do GIACICA, a alíneac) do n o 6 reforçava o conceito de função social, referindo-se a: «Implementarprogressivamente a função da contribuição social nos CTT eTLP, como quarto meio de comunicação social ao serviço da gestão global<strong>das</strong> empresas e <strong>das</strong> estratégias específicas dos produtos» (CTT:1988) 21 .O papel do Estado, a concorrência no sector<strong>das</strong> comunicações e a ideia da criação de umafundaçãoEm 1989, o administrador Dr. Ferreira de Lemos pronunciou-se nosentido dos patrimónios museológicos virem a constituir-se em fundação:«Uma entidade autónoma tipo fundação comparticipada por


63to<strong>das</strong> as Empresas do sector <strong>das</strong> Comunicações. Esta solução, <strong>mais</strong>consentânea com a vocação de um museu de sector de actividadee não apenas de museu de empresa, permitirá um maior enriquecimentodo seu património e uma autonomia de gestão que poderáter reflexos muito positivos no desenvolvimento <strong>das</strong> actividades» (CTT:1989) 22 . Entretanto, em finais da década de 80, começou a delinear-seuma alteração na economia europeia e mundial. A fusão econcentração empresarial, mas também a separação dos correios etelecomunicações deram origem aos CTT Correios, SA, e à TP - TelecomPortugal. Esta empresa veio a englobar as telecomunicações dosCTT, os TLP - Telefones de Lisboa e Porto, a TDP - Teledifusora de Portugale a CPRM - Companhia <strong>Portuguesa</strong> Rádio Marconi, dando origema um grupo liderado pela nova denominação PT - Portugal Telecom.Os serviços radioeléctricos dos CTT passaram para o domínio doEstado, dando origem ao então Instituto <strong>das</strong> Comunicações de Portugal,actualmente ANACOM – Autoridade Nacional de Comunicações.Algumas empresas fundi<strong>das</strong> ou adquiri<strong>das</strong> eram detentoras de patrimóniomuseológico e documental. As mudanças espera<strong>das</strong> eram enormese não podia ser ignorada esta riqueza patrimonial, sob pena dedispersão, abandono e porventura alienação para sucata.Existiram, grosso modo, nos últimos quinze a vinte anos do século XX,o Museu dos CTT, o Museu dos TLP, o Museu da TDP – Teledifusora dePortugal, o Museu da Marconi e os núcleos museológicos da DirecçãoGeral de Telecomunicações e da DSR - Direcção dos Serviços Radioeléctricosdos CTT, actual ANACOM. A reorganização do sector <strong>das</strong>comunicações implicou a reunião destes patrimónios que foi necessárioincorporar e documentar. Foram delinea<strong>das</strong> novas acções para a suaguarda e preservação. O enriquecimento do acervo com <strong>mais</strong> colecçõese <strong>mais</strong> peças e o saber entretanto partilhado foram determinando novaspráticas no tratamento e descrição/catalogação do património.1.5 ReorganizaçãoEm 1998, uma conferência e inventário de objectos provenientes <strong>das</strong>novas empresas e a incorporação de novos acervos não dispensou aelaboração de uma nova tabela de classificação, <strong>mais</strong> simplificada esimultaneamente <strong>mais</strong> abrangente. Enquanto a anterior era constituídapor 7 colecções (apresentada em <strong>mais</strong> de uma dezena de pági-


64nas) e desdobrada em várias sub-colecções, a nova tabela apresentou-seentão com 15 colecções, de forma simplificada em apenasuma página. Esta tabela veio fazer face aos novos tempos em que opatrimónio <strong>mais</strong> abrangente passou a ser gerido pela Fundação <strong>Portuguesa</strong><strong>das</strong> Comunicações (Anciães: 1998) 23 . A reorganização dopatrimónio de telecomunicações era eminente a partir da reorganizaçãodo sector, a criação de novas empresas e a divulgação de novastecnologias.Avaliação do patrimónioFoi necessário também avaliar ou reavaliar o acervo, quer para efeitosde seguro, quer para dar conhecimento às entidades proprietárias.Para isso foi elaborada uma metodologia de critérios de valor que,em síntese, é apresentada no seguinte quadro (Anciães: 1998): 24Quadro auxiliar de avaliação <strong>das</strong> peças de telecomunicações, versãode 1998B > Valor artísticoe de raridadeb) Valor nacional quando a utilização e imagem <strong>das</strong>peças nos públicos tem uma dimensão nacional;c) Valor de interesse regional quando a utilizaçãoe imagem <strong>das</strong> peças nos públicos tem umadimensão regional;d) Valor de interesse local quando a utilização eimagem <strong>das</strong> peças nos públicos tem uma dimensãolocal;e) Valor de interesse institucional quando a utilizaçãoe imagem se reporta em especial a umainstituição (exemplo: autarquia, hospital; corporaçãode bombeiros; CTT; PT ...)Peças que encerram valor atractivo no (s) seguinte(s) ponto (s) de vista: modelo, design, estilo, core material.ClasseDescriçãoC > Valor de auto-Peças com autoria pertencentes a organiza-A > Valor históricoPeças cujo valor se relaciona com a preservaçãoria científica eções relevantes na ciência, técnica e persona-e sociológico<strong>das</strong> memórias <strong>das</strong> populações e <strong>das</strong> empresas,técnicalidades facilmente reconheci<strong>das</strong> pelos públicos;podendo subdividir-se em itens de interesse evalor relevante sob os pontos de vista da estru-valor seguintes:tura e função. Interesse tecnológico: a) peças uti-a) Valor internacional quando as peças se rela-liza<strong>das</strong> numa fase precursora ou experimentalcionam com a utilização por vastas cama<strong>das</strong> <strong>das</strong>de um serviço; b) peças utiliza<strong>das</strong> numa fasepopulações e com as memórias que as mesmasde desenvolvimento de um serviço; c) peças uti-populações guardam deste património (exem-liza<strong>das</strong> numa fase de obsolescência e retiradaplo: centrais, telefones, cartões telefónicos, tele-de serviço; d) peças utiliza<strong>das</strong> numa fase debips, telemóveis, novos equipamentos plurifun-raridade e coincidindo com a procura para ocionais);coleccionismo.


65D > Valor de Peças que associando algum ou alguns dos interesses(A;B;C) estão operacionais ou sejam facil-conservaçãomente recuperáveis e documenta<strong>das</strong> ou documentáveis.E > ValorPeças que associando algum ou alguns dos interesses(A;B;C;D) estão suficientemente docu-documentalmenta<strong>das</strong> ou são facilmente documentáveis.F > ValorPeças que, não sendo específicas <strong>das</strong> comunicações,ajudam a completar contextos e/ou cená-de contexto ede cenário rios expositivos de época.Com esta metodologia foi avaliado o património inventariado e classificadocomo reservado. A aplicação dos critérios não dispensou naprática o conhecimento dos acervos técnicos e museológicos de telecomunicações.ConclusãoEm 1878, surgiu um despacho do ministro da tutela que deu início aoMuseu dos Correios Telégrafos e Telefones, tendo sido, no primeiromomento da criação, reservado um pequeno núcleo de peças, sendoque de então até 1934 o museu terá, quase de certeza, reunido <strong>mais</strong>objectos, não se sabendo exactamente quantos nem exactamentequais.Possivelmente, as duas déca<strong>das</strong> finais do regime monárquico e asduas primeiras do regime republicano não eram favoráveis ao desabrocharde um museu de ciência, técnica e sociedade. Assim, só em 1934,já no período do Estado Novo, foi repensada a ideia de criar um Museudos CTT (na realidade, tratou-se de uma refundação).Em termos de património cultural, documental e museológico, a figura<strong>mais</strong> destacável dos anos 1930 foi a do célebre funcionário dosCTT Godofredo Ferreira, autor e compilador incansável de documentoshistóricos nas áreas postal e de telecomunicações. O museu foi entãorepensado como memória da organização estatal que eram os CTT –Correios, Telégrafos e Telefones.Contudo, a política museológica do Estado Novo privilegiava os museusetnográficos, artísticos e arqueológicos, em detrimento <strong>das</strong> áreas deciência e técnica, e da memória institucional <strong>das</strong> organizações.O acervo de telecomunicações reunido e inventariado até finais de 1947rondou as 800 peças.O primeiro curador do Museu dos CTT foi o Dr. Mário Gonçalves Vianaque deu seguimento ao plano de inventariação e pensou o museu cominteresse para vários públicos. Viana foi um curador e museólogoexemplar. A sua ciência nas áreas de museus, bibliotecas e arquivosera muito prática, de modo que, já nessa altura, fez alusão a uma políticade contenção e eliminação do acervo sem viabilidade de recuperaçãoou o que não se enquadrasse nas colecções. Embora tal não tenhasido então posto em prática, esta acção veio a verificar-se nos anos90, quando a par de variada incorporação, foram excluí<strong>das</strong> criteriosamentemilhares de peças considera<strong>das</strong> irrecuperáveis ou em excesso.De finais de 1947 até finais de 1982, o acervo de telecomunicações inventariadoandava na ordem <strong>das</strong> 2400 peças e o não inventariado, peçase componentes, já era superior àquele número. Na segunda metadede 80 e inícios de 90, foram criados dois Grupos de recolha de peças,tudo indicando que sem o conhecimento do Museu dos CTT. Um destesgrupos tinha uma sigla própria – o GRRMIM – Grupo de Recolha,Recuperação e Manutenção de Objectos de Interesse Museológico,com instalações na Praça de D. Luís I, em Lisboa. O outro grupo tinha


66como instalações armazéns na zona norte do País, nomeadamenteem Marco de Canaveses, entre outros locais. O GRRMIM teve o méritode reunir, conservar e tratar cerca de 1200 peças e componentes,algumas restaura<strong>das</strong> por este grupo que funcionava na influência daDirecção Geral de Telecomunicações. O «Grupo do Norte», ao quetudo parece indicar, não teve nome oficial próprio. Funcionava <strong>mais</strong>na lógica dos CTT, empresa vista como um todo, de correios e telecomunicações.Ainda nos anos 90 e inícios de 2000, deram entrada no patrimóniomuseológico outros acervos provenientes do Museu dos TLP, Museu daTDP e armazéns CTT, TP e PT. Este património foi objecto de pré-selecção,conservação técnica e restauro. O tratamento do inventário preliminarsó acabou de ser feito em Dezembro de 2006, sendo para isso adoptadosdocumentos orientadores (Anciães: 2004; FPC e FPT: 2006). 25O acervo proveniente <strong>das</strong> várias empresas e depósitos e do Estado (ANA-COM) teve de ser instalado em espaços exíguos, o que levantou dificuldadesde armazenamento e tratamento. A entrada de tanto acervopara o espaço disponível na Reserva Visconde de Santarém, n o 69,que já nos inícios dos anos 90 se considerava praticamente lotado, tornoudifícil a sua gestão, tanto do acervo entrado de novo, como doanterior. As dificuldades foram acresci<strong>das</strong>, dado que nesta época de90 os recursos humanos do património museológico de telecomunicaçõesforam reduzidos ao mínimo, ao mesmo tempo que a quantidadedo acervo disparou de forma inédita.A política de contenção de recursos coincidiu com a expansão deoutras actividades: criação e instalação da Fundação <strong>Portuguesa</strong><strong>das</strong> Comunicações, reabertura do museu, planeamento, organizaçãoe concretização de duas exposições permanentes e duas temporárias:uma sobre o centenário da inauguração dos telefones entre Lisboae Porto e outra sobre os 150 anos da introdução da telegrafia eléctricaem Portugal. Ambas envolveram o desenvolvimento do inventário iniciale a investigação documental. Não obstante o desenvolvimento inéditodo sector <strong>das</strong> telecomunicações nos finais do século XX e início doséculo XXI, a Fundação <strong>Portuguesa</strong> <strong>das</strong> Comunicações conseguiu salvaguardar,conservar e restaurar um acervo que em termos de quantidadee de qualidade estará entre os <strong>mais</strong> ricos e variados a nível mundial.De facto, o Museu enquanto órgão da empresa CTT passou por orientaçõesmuseológicas associa<strong>das</strong> à política organizacional do Estado;depois, como empresa pública, as políticas museológicas começarama ficar dependentes <strong>das</strong> administrações; finalmente, a separaçãoem correios e telecomunicações, a privatização <strong>das</strong> empresas e aseparação e passagem da actividade fiscalizadora e reguladora paraa esfera do Estado, ditaram alterações políticas que se repercutiramna gestão e orientação <strong>das</strong> actividades do museu, nomeadamentena incorporação do património, que foi decidida <strong>mais</strong> a partir <strong>das</strong>políticas empresariais do que em decisões integra<strong>das</strong> de gestãomuseológica.O património de telecomunicações tem, pois, uma história que foiinfluenciada pelas tutelas dos regimes e políticas culturais, bem assimcomo pelos estilos de gestão empresariais. A passagem da gestão patrimoniale cultural para uma fundação veio implementar uma visão<strong>mais</strong> concertada no panorama da ciência, técnica, sociedade, culturae sociedade.A história <strong>das</strong> políticas museológicas e <strong>das</strong> práticas subsequentespode/deve, em nosso entender, ser aprofundada nomeadamenteem relação às incorporações, salvaguarda, conservação, informatização,arquivo e exposições, não só para conhecimento do património, bemcomo ferramenta auxiliar <strong>das</strong> administrações, gestão pertinente e económica<strong>das</strong> colecções e dos recursos.


67NOATS1BARROS, Guilhermino Augusto de, in O Museu dos CTT Português, Ed. CTT, 1973, p. 9.2Em telecomunicações incluem-se os serviços de telegrafia visual e a telegrafia eléctrica.A telefonia, a radiodifusão e a teledifusão não existiam ainda naquela época. Na sinalizaçãocosteira da altura compreende-se o sistema de faróis, fachos e bandeiras para informaçãoda actividade marítima. Este sector de sinalização esteve integrado na organizaçãode Correios Telégrafos e Faróis.3DIRECÇÃO GERAL DOS CORREIOS, Relatório. Relatório Postal do Anno Económicode 1877-1878, p. 154.4Godofredo Ferreira ficou célebre nos CTT como autor de várias obras e como exímio compiladorde documentos históricos que trouxeram ao museu uma <strong>das</strong> maiores contribuiçõespara a divulgação da memória da empresa.5CTT – SEP. O Museu dos CTT: Pequena história desde a sua fundação até à actualidades,p. 5.6António Ferro foi o homem que criou e geriu a «máquina de propaganda» do regime doEstado Novo entre 1933 e 1949.7CTT: Organização do Museu dos CTT, Nov. 1947.8CTT OS Nº 5505, 1. Ed. Dos Serviços Culturais dos CTT, Março, 1955, p. 3.9RAMOS, António Mora, O Valor Psico-pedagógico de um Museu Profissional, pp. 5-6.10 RAMOS, António Mora. Id., pp. 9-11.11 MINISTÉRIO DAS COMUNICAÇÕES: Administração Geral dos Correios Telégrafos eTelefones. Ficheiro – Catálogo do Material Museográfico, 1947 ca.12 RAMOS, António Mora, O Valor Psico-Pedagógico de um Museu Profissional, pp. 5-6.13 BRANDÃO, Pinho Domingues in APOM: Actas do Colóquio APOM/76.14 FIRMINO, Maria da Glória Pires in APOM: Actas do Colóquio APOM/76.15 ANCIÃES, Alfredo Ramos, Tabela versão de 2002 para classificação do patrimóniomuseológico de telecomunicações seguida de exemplos <strong>das</strong> peças <strong>mais</strong> conheci<strong>das</strong>.16 CTT, OS nº 33, 87.17 LOPES, Paula Ferreira. Texto de introdução ao plano de actividades do Museu dos CTT,1986.18 CTT: OS nº 33,87 FL 84-87.19 CTT: OS 42,88 FL 194-88.20CTT: OS 42,88 FL 194-88.BIBLIOGRAFIAANCIÃES, Alfredo Ramos, Ensaio de investigação e organização da telegrafia do Museu dosCTT. Lisboa: Arquivo UAL, 1987.ANCIÃES, Alfredo Ramos, O Museu dos CTT. Lisboa: Arquivo UNL, 1988/1989. Disponíveltambém em Arquivo do Grupo dos Amigos do Museu <strong>das</strong> Comunicações.ANCIÃES, Alfredo Ramos, Sugestões para a inventariação, classificação, conferência, acondicionamentoe transferência do acervo. Versão de 2004. Este documento encontra-se nosarquivos técnicos dos patrimónios museológicos de telecomunicações da FPC e da FPT.ANCIÃES, Alfredo Ramos. Tabela de categorias do património museológico de telecomunicações,versão de 1998. Encontra-se no arquivo técnico do património museológico de telecomunicações.ANCIÃES, Alfredo Ramos. Quadro auxiliar de avaliação <strong>das</strong> peças museológicas de telecomunicações,versão de 1998.ANCIÃES, Alfredo Ramos, Tabela para classificação do património museológico de telecomunicaçõesseguida de exemplos <strong>das</strong> peças <strong>mais</strong> representativas, versão de 2002. Esta tabelatambém se encontra no arquivo técnico do património museológico de telecomunicações.APOM: Actas do Colóquio APOM/76: Panorama museológico português – carências e potencialidades.CTT: CDI. O Museu dos CTT: Pequena história desde a sua fundação até à actualidade. Lisboa:SEP – CTT, 1975.CTT: Jornal dos CTT e TLP, nº 13, Abril, 1989.CTT: O Museu dos CTT Português. Lisboa: Serviços Culturais dos CTT, 1973.CTT: Museu. Plano de Actividades, 1986.CTT: Ordem de serviço Nº 33, 87, ficha legislativa Nº 84-87, 1987.CTT: Ordem de serviço Nº 33, 87, ficha legislativa Nº 84-87, 1987.CTT: OS 42,88 FL 194-88. Estrutura do Gabinete de Imagem e Acção Cultural Institucionaldo Conselho de Administração (GIACICA).FIRMINO, Maria da Glória Pires, in Actas do Colóquio APOM/76: Panorama museológicoportuguês – carências e potencialidades.FPC; FPT. Metodologia para a conferência do património museológico de telecomunicações,versão 2006.LOPES, Paula Ferreira. Texto de introdução ao plano de actividades do Museu dos CTT, 1986.MINISTÉRIO DAS COMUNICAÇÕES. Administração Geral dos Correios, Telégrafos eTelefones. Ficheiro – catálogo do material museográfico, 1947, ca.21CTT: OS 42,88 FL 194-88.22 CTT: Jornal dos CTT e TLP, nº 13, Abril, 1989.23 ANCIÃES, Alfredo Ramos, Tabela de categorias do património museológico de telecomunicações.Versão de 1998. Esta tabela encontra-se no arquivo técnico do patrimóniomuseológico de telecomunicações da FPC.RAMOS, António Mora. O valor psico-pedagógico de um museu profissional, 1954. PalestraProfissional Nº 129. Lisboa: Serviços Culturais dos CTT, 1955.VIANA, Mário Gonçalves. Um Museu dos CTT - objectivos - organização - realização e funcionamento.Lisboa: Serviços Culturais dos CTT, 1949. (palestra profissional, Nº 61). Editadoem primeira mão nas colecções de palestras e depois em livros.24 ANCIÃES, Alfredo Ramos. O original deste quadro auxiliar de avaliação <strong>das</strong> peçasmuseológicas de telecomunicações, versão de 1998 encontra-se no arquivo técnico do patrimóniomuseológico de telecomunicações da FPC.25ANCIÃES, Alfredo Ramos. Sugestões para a inventariação classificação conferência acondicionamentoe transferência do acervo, versão de 2004.FPC e FPT. Tabela de metodologia para a conferência do património museológico de telecomunicações,versão de 2006. Estes documentos encontram-se nos arquivos técnicos dospatrimónios museológicos de telecomunicações da FPC e da FPT.


68Antero de Sousa | Antigo Conservador do Museu dos CTTO Museu dos CTTPalestra profissional, acervo do arquivo histórico da FPC.Em palestra proferida em Outubro de 1949, o primeiro conservadordo Museu dos CTT, Dr. Mário Gonçalves Viana, dirigiu-se ao correio--mor Eng. Couto dos Santos nestes termos: «Foi por proposta de V. Exa.que S. Exa. o Ministro <strong>das</strong> Comunicações se dignou criar o Museu dosCorreios, Telégrafos e Telefones, velha aspiração deste organismo,mas aspiração que, há longos anos, não passava de um vago sonho,(...)»Esta palestra, a n. 0 61 <strong>das</strong> Palestras Profissionais que periodicamentereuniam o pessoal dirigente superior dos CTT, quase sem excepções,para darem comum testemunho <strong>das</strong> várias áreas de actividade cometi<strong>das</strong>à Administração-Geral, serviu para o conferencista apresentara sua visão do Museu em geral e daquilo que o Museu dos CTT deveriavir a ser. Consciente <strong>das</strong> dificuldades que iria encontrar, diz <strong>mais</strong> àfrente que «um museu que se organize traz consigo um número infinitode assuntos a resolver, que pouca gente estará em condições deavaliar, com justeza, à primeira vista. (...) com muito <strong>mais</strong> razão podefazer-se tal afirmativa acerca de um Museu dos Correios, Telégrafose Telefones. Com efeito, ele não é um museu de arte, não é um museuindustrial, não é um museu etnográfico, não é um museu técnico,não é um gabinete de estampas, não é um gabinete de fotografias,não é um gabinete de moe<strong>das</strong>, não é um museu de mobiliário, não éum museu histórico, mas participa de to<strong>das</strong> estas modalidades e temde obedecer, em cada uma delas, às técnicas respectivas. Nisto residea sua dificuldade.»A fazermos fé nestas afirmações, pesando tudo o que um Museu dosCorreios, Telégrafos e Telefones não era, o que viria a ser um tal museu?Estava-se nesse momento em fase de arranque da instituição, os primeirospassos destinavam-se a juntar as peças que tinham sido guarda<strong>das</strong>desde o célebre relatório de Guilhermino de Barros, peças desencanta<strong>das</strong>por Godofredo Ferreira e base que lhe serviu para propor aoadministrador-geral a concretização do museu que Guilhermino deBarros congeminara no século XIX, quando os Correios passaram a Direcção-Geraldos Correios, Telégrafos e Faróis.O palestrante, ao fazer uma ronda pelos museus congéneres já em funcionamento,apresenta a experiência do museu dinamarquês, quechegou à conclusão de que «era necessário percorrer as estações dopaís, à procura de objectos de interesse para o Museu. (...) É que só osConservadores sabem o que lhes interessa (...)».E, considerando a selecção do material para o Museu dos CTT, interroga-sese «deverá um museu postal recolher «em espécime» todosos objectos que lhe digam respeito? A admitir resposta afirmativapara esta pergunta, qualquer museu da categoria do nosso se transformarianuma ... Babilónia! Não haveria espaço que chegasse para«recolher» to<strong>das</strong> as coisas utiliza<strong>das</strong> nos Correios, Telégrafos e Telefones:ambulâncias postais, barcos postais, mobiliário, postos emissores,furgonetas, etc.»Afinal, parece que tudo seria muito <strong>mais</strong> simples. Embora a uma distânciaconsiderável em tempo, em Março de 1955, os Serviços Culturaisdos CTT editam, sob o título «Museu dos CTT» e subtítulos ordemde serviço N. o 5501,1, Regulamento do Museu dos CTT, o que iria ser oMuseu dos CTT, quais seriam os seus sectores (o que implica que acervoteria), quais os serviços que comportaria, com que pessoal funcionariae quais as respectivas funções, que horário praticaria ...Indicando-se aqui serviços como os de Secretaria, Inventariação, Técnicose de Conservação, apenas o pessoal da Secretaria é especificado,pois «Os Serviços de Secretaria são desempenhados por pessoaldo quadro administrativo (...)».Nada é esclarecido quanto a classificação, inventariação e registo, serviçostécnicos, serviços de conservação (para utilizar a terminologia doRegulamento citado).


70Na sua palestra, em1949, Gonçalves Vianacita o Museu PostalSueco como sendoexclusivamente ummuseu postal.Dada a riqueza enormeem termos de objectosque o Museu dos CTTviria a ter, os denominadossectores postal,de filatelia e de telecomunicações(é lícitaesta denominação,dado existir, ao tempoda edição do Regulamentodo Museu citado,telégrafo, telefone,rádio e até fax – nafigura do fac–simile que era como que um seu ancestral), constituíamna prática museus dentro do Museu, exigindo a existência de conservadores.E a actividade cultural do Museu impunha igualmente a existência deum responsável devidamente habilitado, o que só seria possível sendoele um profissional de museu, um conservador. Entretanto, o Regulamentodiz apenas que «(...) o correio-mor designará o substituto doCCM; (...)».É bom que se entenda que o Museu dos CTT não era um museu deempresa, mas sim um museu estatal, tutelado por um Ministério, pertencentea um serviço público; mesmo quando surge em 1970, porforça do decreto-lei n. o49368, a Empresa dosCorreios e Telecomunicaçõesde Portugal erauma empresa pública.O organigrama apresentadopor GonçalvesViana na sua conferênciaconsidera os vários«sectores» que dariamcorpo ao Museu, e fazuma referência a arquivo,reservas e depósitos.Se dermos atençãoàs declarações produzi<strong>das</strong>por várias entidadesque, ao tempo,viviam na órbita dosCTT, o acervo desse«sonhado» Museu dos CTT esteve acomodado em edifícios ou zonasde edifícios dos Correios, a maior parte do tempo separado, só vindoa encontrar um espaço comum estável em 1962, vindo a abrir ao públicoem 1967, conforme se lê num opúsculo sem data de publicação maseditado pelo Serviço de Edição de Publicações, com o código CDI 1975-18-1 MUSEU, intitulado «O Museu dos CTT - Pequena história desde afundação até à actualidade».Essas instalações situavam-se na Rua D. Estefânia e eram constituí<strong>das</strong>por um palacete com uma cave, um sótão e três andares, doisdos quais em galerias que originalmente se destinaram a exporcolecções de miniaturas de barcos pertencentes ao proprietário e


71Organograma da palestra profissional, acervo do arquivo histórico da FPC.Museu dos CTT, na Rua D. Estefânia, Lisboa, acervo iconográfico da FPC.que hoje se encontram no Museu de Marinha; no jardim existentenas traseiras veio a construir-se um Pavilhão dos Transportes do Correioque expôs quatro carruagens da mala -posta (recupera<strong>das</strong> aoMinistério <strong>das</strong> Finanças a queos Correios em tempos pertenceram),depois de profundorestauro, dado o estadode ruína a que tinham chegado.As paredes interioresdo pavilhão expunham quadrosde Martins Barata alusivosaos transportes postaise, na fachada, aplicaram-sepainéis de azulejo da autoriade Rosário Silva, simbolizandoas vias terrestres, marítimase aéreas, ou seja, to<strong>das</strong>as vias conheci<strong>das</strong> e que otransporte do correio desdesempre utilizou.A cave e o sótão do edifícioprincipal foram destinados aopessoal do Museu, com excepçãodo conservador-chefe queficava instalado na suite quefora a habitação do proprietáriooriginal do palacete.Daqui nasce uma pergunta: eas reservas e os depósitos, queanteriormente acompanharamas vicissitudes <strong>das</strong> peças destina<strong>das</strong> à vida nobre da exposição aopúblico, onde ficaram?No que respeita ao acervo postal, conseguiu-se nos finais dos anossetenta do século passado acedência, por parte dos ServiçosTelegráficos da Praça D.Luís, de três andares na Ruada Moeda, onde se tornou possíveltratar de colecções tãodíspares como mobiliário, nasua maioria de madeira, indumentária,portanto de tecidos,sinalização (a <strong>mais</strong> antigade madeira e a restante emgrande maioria de metal, queaté aí tinha sido mantida empilhadaescariando-se e enferrujando-semutuamente, e deplástico a <strong>mais</strong> recente), receptáculospostais, idem, idem ...Quanto à colecção de indumentária,urgia subtraí-la àameaça da traça e à dificuldadede manutenção em quese encontravam as peças, oque aconteceu com a aquisiçãode um móvel-arquivo deslizanteque acomodou os fardamentosactuais e as réplicas<strong>das</strong> far<strong>das</strong> do passado,


73Recriação de um posto de correios no Museu dos CTT, na Rua D. Estefânia, Lisboa, acervo iconográfico da FPC.facilitando o trabalho <strong>das</strong> funcionárias (do quadro administrativo dosCTT) entregues ao sector postal, que os escovavam, cosiam, passavama ferro...O mobiliário, que comportava uma CTF completa, peças de mobiliáriode estação diverso, de cadeiras, de móveis-arquivo, etc., tudo fabricadocom madeiras escolhi<strong>das</strong> por marceneiros funcionários <strong>das</strong> Oficinasdos CTT com formação da própria Instituição de alta exigênciaprofissional, contava com uma pequena oficina e dois marceneiros deslocadosa título permanente para o Museu.Maquetes dos edifícios construidosao abrigo do programade renovação do serviço de correios,telégrafos e telefonesobrigavam por vezes a restaurospor especialistas, na maioriaexternos aos CTT.E além da colecção de miniaturasdos transportes, algumas <strong>das</strong>quais se expunham permanentemente,havia que tratar <strong>das</strong>peças existentes em reserva etambém <strong>das</strong> peças reais, de quesão bom exemplo as ambulânciaspostais, estaciona<strong>das</strong> eminstalações da CP, e <strong>das</strong> autoambulâncias,sujeitas a manutençãonas oficinas dos CTT.Para se ter uma ideia da importânciae valor do acervo do SectorPostal em grande parte aquiacomodado, atentemos nas colecções existentes nos inícios da últimadécada do século XX e sua valorização na altura:Miniaturas de edifícios(incluindo a maqueta da estação de muda da Mala-Posta)18.800.000$00Sinalização12.170.000$00Malas e sacos22.170.000$00Mobiliário810.000$00Receptáculos postais31.620.000$00Transportes210.385.000$00Indumentária5.046.000$00Suportes e instrumentos deescrita1.450.500$00Pesos e medi<strong>das</strong>10.480.000$00


75Ambulância ferroviária postal E3, acervo iconográfico da FPC.Máquinas e cunhos32.690.000$00Utensílios postais2.590.500$00Temos aqui um total de 348.172.000$00, ou seja, a usar-se nessetempo a moeda que temos hoje, 1.740.860,00 euros. Façamos a correcçãomonetária e veremos o seu valor actual, para além do valor queo tempo vai acrescentando às peças únicas.Sendo o acervo do Sector Postal constituído em larga medida porpeças que exerceram as suas funções no trabalho dos CTT, a suamanutenção revela-se relativamente facilitada. Não há aqui a exigênciade ambientes artificiais, considerando índices de luz, calor, humidade,etc., que preocupam os conservadores de outras áreas e obrigam aarquitecturas complica<strong>das</strong> devido à fragilidade ou exotismo <strong>das</strong> peças,ou mesmo ao seu cariz de bens transaccionáveis nos mercados daarte ou outros.Esta <strong>mais</strong>-valia, no entanto, não dispensa a existência de salas earquivos amplos e constantemente limpos e arejados, em que aspeças sejam encara<strong>das</strong> com a dignidade que merecem, nunca comose de objectos armazenados se tratasse.As colecções de sinalização, mobiliário, receptáculos postais, transportes,pesos e medi<strong>das</strong>, máquinas e cunhos, e utensílios postais, tirandoalguma situação especial, por exemplo, no caso de mobiliário, sãoconstituí<strong>das</strong> por peças provenientes dos locais de trabalho onde foramusa<strong>das</strong> no labor normal dos funcionários dos CTT; que cuidados devemmerecer? Aqueles a que no seu tempo útil estavam habitua<strong>das</strong> areceber, isto é, limpeza escrupulosa e manuseamento cauteloso quantobaste, num ambiente natural e desafogado.Peças como a ambulância de via larga estacionada na estação da CPde Alcântara-Terra e a de via estreita estacionada na Secção Museológicada CP em Macinhata do Vouga, obrigam a inspecções periódicaspara além da manutenção regular, e exigem evidentemente instalaçõesadequa<strong>das</strong> em espaços do próprio Museu.Tudo o que tem motor de combustão, como é o caso <strong>das</strong> auto-ambulânciasBorgward e OM, os ciclomotores e motociclos, impõe a manutençãonormal dos veículos por técnicos da especialidade, que entendamtanto de carburadores como de pneus.Na colecção de pesos e medi<strong>das</strong>, os relógios, por exemplo, obrigam acuidados específicos, como sejam a exigência de corda por vezes quotidiana,e a lubrificação e limpeza por relojoeiros.De maneira geral, podemos entender que o acervo de um museu comoé o Museu dos CTT, que alia características de museu técnico às demuseus de outras áreas, obriga o seu pessoal a uma posição muito especiale atenta, quer ao tratamento <strong>das</strong> peças quer ao desenvolvimentoque pode advir da prospecção do mercado, com vista a eventuaisaquisições que venham complementar ou completar as colecções,que já são muito ricas mas, como é lógico, dificilmente acaba<strong>das</strong>.Os Correios sempre tiveram uma importância económica e social ímparna história de Portugal. O Museu dos CTT nasceu e evoluíu sob a tutelado Estado. Como qualquer outro museu do Estado, por imperativodo papel desempenhado pelos Correios ao serviço do País duranteséculos, não se entende a inexistência de um museu especificamentededicado à memória da missão que lhes esteve confiada.Impõe-se a existência de tal museu instalado de raiz com to<strong>das</strong> as condiçõesactuais propiciatórias <strong>das</strong> funções inerentes aos museus, instituiçõesculturais que espelham a vida de um país pertencente à culturaocidental, o qual desbravou o mundo e deve recordar-se do seupassado no seu presente.


76Júlia Saldanha | Licenciada em História (UC). Arquivista (UC).António Rodrigues da Luz CorreiaUm percurso singular, 1925-2008escultura de Luz Correia, acervo da FPC.In memoriam«Uns têm uma personalidade <strong>mais</strong> espacial, outros uma personalidade<strong>mais</strong> temporal.Estaria aqui a distinção entre heróis e artistas?»Novalis, FragmentosÉcom este tipo de inquietações que iniciamos a tentativa de abordagemà personalidade de Luz Correia, patente no seu percursoprofissional, e os múltiplos e diversificados testemunhos que deixou.Detentor de uma carácter forte, muitas vezes polémico, Luz Correiaé simultaneamente tímido e modesto na sua afirmação artística, provavelmentefruto da sua dupla formação científica e artística.Entre a psicologia, a escultura e a medalhística, todos estes mundosfor<strong>mais</strong> foram utilizados, por vezes simultaneamente para preenchero seu espírito de «fazedor», na acepção borgeana do termo.Dir-se-ia que o Luz Correia que alguns de nós tivemos o privilégio deconhecer na sua multiplicidade artística atravessa o universo dicotómicodo século XX e as caóticas incertezas dos primeiros anos doséculo XXI, tentando interpretar sob uma luz muito própria o mundoe o os seus contemporâneos, legando a todos nós os testemunhosda suas inquietações.Ferro, bronze, vidro, quais elementos da pedra filosofal, são os materiaisde eleição, na sua expressão artística, que com mestria trabalhadesde a medalha de dimensões reduzi<strong>das</strong> à arte urbana de grandevolumetria.Poderemos afirmar sem sombra de dúvida que durante o seu percursode vida tentou aproximar-se com algum êxito a «sabedoria», no sentidoalquímico do conceito.BiografiaOriundo de uma classe média do Portugal do século XX descapitalizadoe com crises políticas constantes, enfrentou as dificuldades económicasda grande maioria da população, colmata<strong>das</strong> por um tipo de instituiçõesque os impérios coloniais tecem, as militares e para-militares.Luz Correia não fugiu à regra e entre 1937 e 1968 adquire a sua formação,frequentando durante dez anos o Instituto dos Pupilos do Exército,e cumpre a sua vocação na Escola de Belas-Artes do Porto, concluindoo curso de Escultura.O pedagogo. Ensinar brincando«A criança é sempre um mundo por conhecer.»Luz Correia, GaratujasNum dos seus primeiros cruzamentos de vida, Luz Correia ao ingressarna Escola Industrial da Póvoa do Varzim, revelou de imediato a suasensibilidade e espírito artístico inovador ao fundar em 1951 o CentroArtístico Infantil, CAI, para aí observar o que as crianças entre os 10e 14 anos pintavam e «ensinar brincando». Mais tarde promove umaexposição destes trabalhos na Póvoa do Varzim.Como bolseiro do SNI, promove a exposição «O que é arte infantil»,largamente noticiada na imprensa da época.Ele próprio relata este período:«Em 53-54, ... obtive uma bolsa da Administração <strong>das</strong> Minas do Pejão,onde estagiei 6 meses. Consegui que os mineiros dos 20 aos 60 anosdesenhassem e pintassem. Para além do documentário fotográfico,teve lugar uma grande Exposição do SNI «Arte de Crianças e Adultos»,que obteve assinalável êxito, na comunicação social e no público.» 1A esta exposição largamente ilustrada no magazine O Século Ilustrado,refere-se o filósofo e pedagogo Delfim Santos: «... documenta pro-


78escultura de Luz Correia, acervo da FPC.fusamente essa luta pela expressão e indica em alguns casos o sentidoda vitória». 2A dinâmica que Luz Correia aqui inicia de desenvolvimento educativoatravés do desenho junto dos sectores <strong>mais</strong> desfavorecidos da população,as crianças carencia<strong>das</strong> e o operariado, demonstram não só umagrande sensibilidade social, mas sobretudo o pioneirismo em Portugalde um movimento iniciado por Herbert Read nos anos 40, em quea educação deverá ser muito <strong>mais</strong> facilmente apreendida através dodesenho e da arte.Durante os anos 50 e 60, dedicou grande parte da sua energia a realizarexperiências nesta área, também como bolseiro da FundaçãoCalouste Gulbenkian, trabalhando com os ardinas de Lisboa, os filhosdos empregados do Jardim Zoológico, e até as crianças do Funchal, ondefunda um novo CAI, Centro Artístico Infantil, promovendo simultaneamente,com a ajuda do SNI, exposições cujo eco se faz sentir naimprensa local e nacional.Colabora ainda com a Fundação Calouste Gulbenkian no Centro dePreparação de Monitores para o Ensino Artístico Infantil, integradonuma comissão de especialistas.Assim, quando esta comemora os 40 anos da sua acção educativa,publica o catálogo «Educação, Arte e Cultura. 40 Anos da FundaçãoCalouste Gulbenkian no desenvolvimento Estético Infanto-Juvenil»em 1996, que inclui Luz Correia como um dos pioneiros em Portugal daeducação através da arte.Por último, e talvez como forma metafórica de aplicar e ensaiar todosos seus conhecimentos teóricos e vivências da sua vasta experiênciana expressão plástica infantil, publica em 1963 o ensaio Garatujas. Estudopsicopedagógico do grafismo infantil, obra surpreendente na suaauto-análise. O autor do seu prefácio, Professor Victor Fontes 3 , define-oassim:Cronologia de percurso profissional1947Curso de Civil e Minas do Instituto dos Pupilos do Exército1950Professor de Matemática e Desenho na Escola Industrialda Póvoa de Varzim1952Bolseiro do Secretariado Nacional de Informação eInstituto de Alta Cultura1954Frequenta o curso de Ciências Pedagógicas da Faculdadede Letras e o curso de Psicologia do Instituto Superior dePsicologia Aplicada1954Ingressa nos quadros dos Correios, Telégrafos e Telefones1957-1970Integrado na Direcção de Serviços de Edifícios, destacadona Ilha da Madeira, colabora na montagem da primeirarede de telefones automáticos e na instalação ereinstalação de to<strong>das</strong> as estações de Correios da Ilha ePorto Santo.1959-1966Bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian na EducaçãoArtística Infantil1968Curso de Escultura da Escola de Belas-Artes do Porto1974Relações públicas do secretário-geral da Administraçãodos CTT1975Ingressa no Museu dos CTT como consultor artístico1990Aposentação CTT


81escultura de Luz Correia, acervo da FPC.«Luz Correia é um autodidacta e, como tal, sofre as consequências positivase porventura negativas dessa situação.Espírito de uma aguçada sensibilidade, aberto ao estudo e investigação,debruçou-se sempre com grande interesse sobre a psicologia infantile por uma <strong>das</strong> suas formas <strong>mais</strong> expressivas: as suas manifestaçõesgráficas. ... Luz Correia é, pode dizer-se, uma personalidade rara na épocapresente... Tem feito e conseguido uma formação instrutiva muitovasta, não deixa de sofrer a acção, às vezes benéfica, duma independênciana forma de pensar.O trabalho do Sr. Luz Correia, refere, sem dúvida, um interessanteaspecto <strong>das</strong> manifestações exteriorizáveis da psicologia infantil». 4O artista«O que é um atlas para nós, Borges?Um pretexto para entretecer na urdidura do tempo os nossos sonhos,feitos da alma do mundo.»Jorge Luís Borges, AtlasDigamos que, na magnífica metáfora de Borges, a actividade artísticade Luz Correia preencheu de um modo indelével o espaço que lheera reservado.A par <strong>das</strong> suas funções nos CTT, Luz Correia desenvolve a sua criatividadeartística entre medalhas comemorativas, esculturas e arte urbana,revelando a sua versatilidade plástica, onde o bronze, o ferro e ovidro são normalmente a sua matéria-prima, condensando de formamagistral a sua formação científico-tecnológica a uma sensibilidadeúnica.A personalidade multifacetada de Luz Correia é reflectida de umaforma constante durante todo o seu percurso artístico entre 1967 e 2005,desde as concepções de objectos comemorativos nos CTT, Caixa Geralde Depósitos, Metropolitano de Lisboa, Diário de Notícias, Institutodos Pupilos do Exército, Siemens, Cimpor, Regiões Autónomas dosAçores e Madeira até à estreita colaboração com as Câmaras Municipaisda Amadora, Damaia, Loures, Cal<strong>das</strong> da Rainha, Seixal e Tondela,entre outras, legando um espólio artístico de centenas de peças.Entre exposições colectivas, concursos oficiais e convites para a execuçãode obras, Luz Correia concebeu e executou inúmeras peçasque foram objecto de reconhecimento público, como o demonstramos prémios recebidos: em 1967, 1 o Prémio de Artes Plásticas na Queima<strong>das</strong> Fitas, em Coimbra; em 1968, Prémio do V Salão de Arte Moderna,no Estoril; em 1973, Medalha de Prata do VI Salão de Arte Moderna,no Estoril; em 1978, 1 o Prémio do Troféu da Caixa Geral de Depósitos.Não sendo objectivo desta memória fazer uma biografia artística, quecom toda a justiça deverá ser realizada, propomo-nos realçar os trabalhosque consideramos <strong>mais</strong> emblemáticos da criatividade de LuzCorreia.Na escultura, Luz Correia, ao seleccionar preferencialmente o vidro,o bronze e o ferro, matérias-primas primordiais, revela uma procuraconsciente de captar o «essencial da vida e do mundo», no sentidofilosófico e universal.O troféu que concebeu em 1989 para comemorar as Bo<strong>das</strong> de Ourodos Finalistas de 1939 do Instituto dos Pupilos do Exército, onde se incluio autor, revela magistralmente este princípio: «Constituída por umacavilha de bronze e lâminas de vidro, meio cristal, como o desenho mostraum movimento helicoidal, quer representar o próprio ciclo davida».Também este movimento está presente no monumento ao Emigrantede Tondela inaugurado em 1994, que realiza em colaboração com oProf. Joaquim Machado, e onde grandes colunas helicoidais mate-


82rializam o «desenrolar da vida» que, de forma singularmente simples,Luz Correia caracteriza: «é a Humanidade que está aqui representada».5O monumento aos Combatentes do Ultramar, em 2003, simbolizadopor uma grande coluna, será o último testemunho de Luz Correia emterras beirãs.A diversidade e o número de peças que concebe, em função quer deconcursos, quer de convites da sua própria empresa, os CTT, ou deoutras instituições públicas ou priva<strong>das</strong>, demonstram uma atenção eanálise muito particular ao mundo que o rodeia, procurando sempretraduzir num estilo muito próprio a mensagem pretendida.Notável é a sua versatilidade na dimensão e volumetria <strong>das</strong> peçasque concebe, variando entre um pisa-papéis e um monumento público,o que demonstra um nível de mestria fora do comum.É assim que Luz Correia é considerado um dos nossos melhores medalhistas,e internacionalmente esteve presente nas principais manifestações.Foi membro da FIDEM, Federação Internacional da Medalha, quereúne escultores e artistas de todo o mundo, com trabalhos na áreada medalhística, promovendo desde 1937 congressos de dois em doisanos, sendo Luz Correia um artista habitual destas exposições desde1987.Recentemente, em 2004, o Seixal foi palco do XXVI Congresso daFIDEM, onde Luz Correia esteve representado e, em 2005, a CâmaraMunicipal promoveu igualmente a IV Bienal Internacional da MedalhaContemporânea, onde, para além de figurar entre os artistas, LuzCorreia foi homenageado por António Nogueira, que lhe dedicou umamedalha comemorativa do seu 80 o aniversário.Neste certame, foi distinguido de forma especial pelo Júri da IV Bienal,que passamos a citar: «O Júri... deliberou distinguir o professor escultorJoaquim Correia e o escultor Luz Correia pela qualidade artística quese tem traduzido numa constante criatividade de que têm dado mostraspela sua tenacidade e coerência profissional.» 6Ambos prestigiam a classe dos escultores medalhistas portugueses».


83NOATS1In “Do Polígono Militar de Tancos à Fundação <strong>Portuguesa</strong> <strong>das</strong> Comunicações”. EspólioLuz Correia, Arquivo Histórico da Fundação <strong>Portuguesa</strong> <strong>das</strong> Comunicações.2In “Educação, Arte e Cultura. 40 Anos da Fundação Calouste Gulbenkian no desenvolvimentoestético infanto-juvenil”. 1996, p.11.3Investigador da psicologia evolutiva e às suas alterações.4In “Garatujas. Estudo psicopedagógico do grafismo infantil”, p.14; p. 20.5In “Planalto Beirão”, SET, 1994.6In “IV Bienal Internacional de Medalha Contemporânea. Seixal. 2005”, [Catálogo].7In “No Museu dos CTT”.BIBLIOGRAFIAImpressosCORREIA, Luz, Garatujas. Estudo psicológico do grafismo infantil. Lisboa: Junta Geral doDistrito Autónomo do Funchal, 1963, 115p.Educação, Arte e Cultura. 40 anos da Fundação Calouste Gulbenkian no desenvolvimentoEstético Infanto-Juvenil. Lisboa, FCG, 1996.FRANCASTEL, Pierre, Arte e técnica nos séculos XIX e XX. Lisboa: Livros do Brasil, 1963,345p.IV Bienal da Medalha Contemporânea. Seixal. Câmara Municipal do Seixal, 2005.Planalto Beirão. Setembro, 1994.DocumentosEspólio Luz Correia“Do polígono Militar de Tancos à Fundação <strong>Portuguesa</strong> <strong>das</strong> Comunicações”. 2003, DEZ, 16 fl.“No Museu dos CTT, a partir de 1974”. 2004, MAI, 2 fl.exposição de esculturas de Luz Correia.No entanto, já anteriormente Luz Correia tinha sido alvo de homenagenspelos seus pares (1993, I Exposição de medalhística da Amadora93, com homenagem aos escultores António Marinho e Luz Correia, naGaleria Municipal da Amadora; 1994, António Marinho homenageia oescultor, com bronze, Ø 84mm; em 1999, Carlos Raposo faz o mesmo comconstrução mecânica em latão, Ø 80mm).A profusão de medalhas que concebeu, desde 1972, grande parte ligadaao mundo <strong>das</strong> comunicações a que estava ligado profissionalmente,lega aos CTT dos melhores exemplos da sua criatividade entre comemoraçõesdos Correios portugueses, telecomunicações, inauguraçãode edifícios, telefone móvel, ou <strong>digital</strong>ização telefónica, onde simbolizamagistralmente a essência formal e funcional <strong>das</strong> comunicações.Na área filatélica, foi ainda autor de uma emissão de quatro seloscomemorativa do Segundo Centenário da criação do Ensino Primário Oficial,de 1973, que a revista filatélica italiana Il Colezionista, considerou«o <strong>mais</strong> belo do mundo».Para além dos CTT, Luz Correia é criador de peças comemorativas muitodiversas, como a do restauro da capela-mausoléu da S. Frutuoso de Montélios,Braga, colaborando ainda com grandes instituições como a FundaçãoCalouste Gulbenkian, Metropolitano de Lisboa, ou a Siemens, ououtras entidades como o Parque de Campismo <strong>das</strong> Fontainhas, Seixal,ou o Grupo dos Amigos do Museu dos CTT.O despojamento que revelava, face ao seu vasto espólio medalhístico,demonstra a sua personalidade de «cidadão do mundo».Transições museológicas«Somos o tempo.... Tudo nos diz adeus, tudo nos deixa.A memória não cunha moeda lesta.E no entanto há algo que ainda restaE no entanto há algo que se queixa.»Jorge Luís Borges, São os riosComo parágrafo último deste breve memorial a Luz Correia, não podemosdeixar referir a sua actividade no Museu dos CTT nos anos 70 e 80,como consultor técnico, deixando testemunhos significativos da sua criatividadecomo artista plástico, como o cartaz comemorativo do centenáriodo Museu dos CTT de 1978, que, pelo seu grafismo e dinâmica deimagem, quase se transforma num ícone do Museu; ou a construçãodo logótipo dos Correios no passeio da rua de acesso ao Museu.«Pessoalmente, congratulo-me de ter feito parte de uma equipa de funcionáriosespecialistas de grande mérito...» 7 , eis como Luz Correia definea sua passagem pelo Museu.Este mesmo Museu que comemora este ano, 2008, o seu 130 o aniversário,apesar dos muitos condicionalismos sofridos, permanece vivo, comtodo o seu acervo já multiplicado, inserido na Fundação <strong>Portuguesa</strong> <strong>das</strong>Comunicações.Foi justamente a esta Fundação que Luz Correia doou o seu espólio artísticoe documental em 2000, inserido no Património Artístico e Filatélicoe no Arquivo Histórico, respectivamente.Ainda neste período e até 2005, Luz Correia concebeu para a Fundaçãodiversas peças comemorativas, onde é sempre visível a sua indelévelcriatividade.Na exposição que a Fundação <strong>Portuguesa</strong> <strong>das</strong> Comunicações promoveuem 2004, apresentando a sua obra, foi assim sintetizada a acçãode Luz Correia: uma formação científica e artística; um olhar atento sobreo mundo e os outros; um sentido de missão pedagógica invulgar, despertandonos universos infantil e adulto as suas potencialidades artísticas,através do grafismo; um raro sentido estético na simbologia daforma e da matéria; e uma surpreendente conciliação entre tecnologiae arte.


84Isabel Varão | Licenciada em História (UL), Pós-Graduada em Ciências Documentais (UL)A Biblioteca da Fundação<strong>Portuguesa</strong> <strong>das</strong> Comunicações:uma questão de patrimónioA Biblioteca da Fundação <strong>Portuguesa</strong> <strong>das</strong> Comunicações: instalação inicial no 1º andar.O princípio...O Relatório do Anno Económico 1877-1878 da autoria do Dr. GuilherminoAugusto de Barros declara, a dado passo 1 , que se criou um MuseuPostal, dotando-o com trinta objectos e que a Biblioteca foi enriquecidacom quatrocentos volumes.É este o momento fundador que assinala o início da existência destasduas instituições, tão profundamente liga<strong>das</strong>, associando-as aodesenvolvimento dos serviços postais que, por esta época, conheceramum período particularmente inovador.Já em 1877, o ministro <strong>das</strong> Obras Públicas, João Gualberto de Barros eCunha, que tutelava os Correios e Postas do Reino, dava instruções nosentido de se envidarem esforços para a sua criação. E assim se fez, como concurso abnegado do conceituado editor David Augusto Corazzi,que era simultaneamente oficial da Administração do Correio de Lisboa.Este editor ofereceu os primeiros vinte e nove exemplares daBiblioteca Postal, conjunto formado por obras de Júlio Verne e Mayne-Reid. Embora não se enquadrasse nos objectivos de apoio técnicoprofissionalque estiveram na base da criação da Biblioteca, o seucontributo foi aceite pelo Dr. Guilhermino de Barros que lhe encomendaa edição do «Repositório Mensal de documentos da DirecçãoGeral de Correios», instrumento que se tornou fundamental para a uniformizaçãoda prestação de serviço postal e cujo primeiro número sailogo em Janeiro de 1879.Sabemos que após este entusiasmo inicial e a unificação entre Correiose Telégrafos promovida pela Reforma de 1880, que coloca a guarda earrumação da Biblioteca sob a responsabilidade da 1 a Secção da Secretariada Direcção-Geral dos Correios, Telégrafos e Faróis, se faz silênciosobre a sua existência.Entretanto, Paulo Benjamim Cabral, inspector-geral dos Telégrafosentre 1888 e 1910, eminente professor do Instituto Industrial a quemse ficou a dever, aliás, a introdução do ensino da electrotecnia emPortugal, foi reunindo vasta bibliografia sobre telegrafia, engenhariaelectrotécnica, telefonia e tracção eléctrica, bem como revistasda especialidade.Na nova Organização dos Correios, Telégrafos, Telefones e Fiscalização<strong>das</strong> Indústrias Eléctricas de 1911, a Biblioteca reaparece em anexo aoentretanto criado Laboratório Electrotécnico, e nela é incorporada abibliografia de Paulo Benjamim Cabral, além de se tornar obrigatóriaa recolha de regulamentos, instruções e de<strong>mais</strong> legislação. É, pela primeiravez, nomeado um bibliotecário, João Gualberto do NascimentoPires, substituído no ano seguinte por Joaquim Chagas, que empreendeum esforço de sistematização da colecção, sendo publicado o primeirocatálogo onomástico <strong>das</strong> 3500 obras já então existentes.A Biblioteca, até então instalada no Terreiro do Paço, junto do gabinetedo inspector-geral acompanha, em meados de 1912, a mudançados restantes serviços centrais para a Rua de S. José, 20, sendo colocada,numa primeira fase, nas antigas cozinha e copa do PalácioSousa Leal, e posteriormente remetida para a antiga cavalariça do palácio.No entretanto, em 1920, o Decreto 6822 de 10 de Agosto aprova o primeiroRegulamento da Biblioteca, elaborado por uma comissão chefiadapor Manuel Pinto de Melo, com contributo determinante de JoaquimChagas e Godofredo Ferreira, então 3 o oficial dos Correios.Os anos trinta do século XX e inícios da década seguinte foram marcadospor um certo apagamento, situação que veio a ser alterada apartir de 1945, com o contributo de Amália Duarte dos Santos Ferreira.Trata-se da filha de Godofredo Ferreira, ele próprio bibliotecário deformação, cujos contributos directos ou indirectos originaram a constituiçãode um importante património cultural, base dos actuais ArquivoHistórico e Biblioteca da Fundação. Amália Ferreira conseguiu a


86reinstalação <strong>mais</strong> adequada dovasto espólio existente 2 e procedeuà elaboração de um catálogosistemático exaustivo reportadoao ano de 1950.É, no entanto, necessário esperarpelos anos setenta paraassistir a uma verdadeira revoluçãoqualitativa no que se refereà Biblioteca. Em 4 de Julho de1973, pela ordem de serviço n o20, é criado o Centro de Documentaçãoe Informação (CDI)dos CTT, na dependência <strong>das</strong>ecretária-geral, vocacionadoessencialmente para o fornecimentode informação técnicoprofissionalde forma descentralizadae em rede, suportada pela existência de núcleos de documentaçãoassociados às diversas direcções da Empresa e baseadanuma informatização progressiva.A Biblioteca que estava na dependência da Direcção dos Serviços dePessoal é desanexada desta estrutura e fica como um dos sectores doCDI, mantendo-se as suas habituais atribuições de aquisição, tratamento,divulgação e conservação.Esta situação mantém uma certa estabilidade e progressiva modernizaçãodentro da mesma linha programática à qual é acrescentada,a partir de 1977, a vertente de desenvolvimento cultural junto dos trabalhadorescom um impacto conhecido na aquisição de novos conhecimentose competências escolares e académicas junto de largas fai-xas da população CTT, testemunhadapela crescente frequência<strong>das</strong> suas instalações na Av.Casal Ribeiro.... e o fim.Os anos 90 assistiram a alteraçõesestruturais profun<strong>das</strong> queditaram um fim inglório a esteedifício tão laboriosamente construídodesde finais do século XIX.Com o decréscimo do âmbito dosCTT, enquanto empresa de Correiose Telecomunicações, e aassunção de uma vocação exclusivade prestação de serviços postais,todos os serviços centrais daempresa foram questionadosquer na sua dimensão quer nos seus objectivos e utilidade. A estaproblemática não escapou a existência da própria Biblioteca.Em 1992, quando a cisão entre os CTT, Correios de Portugal e a entãoTelecom Portugal se concretizou, a Biblioteca entrou num limbo deindefinição que ditou uma transferência apressada para instalaçõesprovisórias na Rua de S. José, 10, de parte do acervo considerado históricoe com interesse informativo para os objectivos estatutários dafutura Fundação <strong>Portuguesa</strong> <strong>das</strong> Comunicações. Porém, nesta transiçãoperdeu-se irremediavelmente parte do espólio documental emesmo bibliográfico, nomeadamente documentação técnica, publicaçõesperiódicas e monografias cujas cotas de classificação não seenquadravam nos critérios entretanto definidos.


87Os primeiros armários da Biblioteca.Intérieur ou L’harmonium, la bibliothèque, les échecs, 1945, têmpera sobre cartão, 24x37,2 cm, colecção Fundação Arpad Szenes-Vieira da Silva.Novas perspectivasA situação arrastou-se até finais de 1997, quando a criação da Fundação<strong>Portuguesa</strong> <strong>das</strong> Comunicações, a sua instalação na Rua D. LuísI e a fundamentação jurídica e financeira entretanto obtida permitiraminverter a situação de armazenagem provisória até então verificada,em condições muito deficientes, na Rua do Açúcar.De facto, em finais de 1998, este espólio é finalmente resgatado e colocadono primeiro andar do edifício da Fundação, em instalaçõesambientalmente adequa<strong>das</strong> à sua preservação.Como as anteriores condições de conservação tinham sido particularmenteseveras, tornou-se prioritário salvaguardar a integridadefísica <strong>das</strong> espécies, promovendo a limpeza e restauro pontual <strong>das</strong>obras <strong>mais</strong> danifica<strong>das</strong>. Paralelamente, foi feito um esforço de organizaçãodo acesso ao acervo de que resultou a aprovação do novo Regulamentoda Biblioteca da FPC (DE00312003CA).É então promovida a divulgação interna <strong>das</strong> novas aquisições, incluindoa <strong>das</strong> publicações periódicas por perfil de utilizador. O serviço ao utilizadoré tornado prioritário, seja ele constituído por público interno ouexterno, e promove-se o acompanhamento personalizado na orientaçãoda pesquisa. De facto, a Biblioteca começa a registar uma procurapositiva, ainda que incipiente, sobretudo por público especializado,universitários, mestrandos e investigadores.Já que da multifacetada história desta Biblioteca, dos muitos contributose necessidades informativas a preencher resultou um patrimó-


88nio tão especial em termos de qualidade, raridade e originalidade, urgecontinuar a valorizá-lo e enriquecê-lo, numa perspectiva cada vez<strong>mais</strong> aberta à comunidade.O património da biblioteca: uma escolhapessoalApós esta breve passagem sobre a história secular da Biblioteca, sobreas suas «grandezas e misérias» e porque, como afirmou UmbertoEco «a função ideal de uma biblioteca é semelhante à de um alfarrabistaonde se descobrem raridades» 3 , peço-vos que me acompanhemà descoberta de algumas <strong>das</strong> preciosidades que ela contém. Têm sido,de facto, muitas as déca<strong>das</strong> em que por variados motivos, incluindonos últimos anos estrita responsabilidade profissional, me aproximeideste importante acervo. Desta proximidade e progressivo conhecimentoresultou uma «biblioteca imaginária», cuja visita não programada vosdesafio a acompanhar.Dos livros <strong>mais</strong> antigos presentes na Biblioteca, destaque para a HistoireGénérale de Portugal, da autoria de Lequien de la Neufville, editadoem Paris no ano de 1700. Dedicado a D. Pedro II, é ilustrado comrequinta<strong>das</strong> gravuras em miniatura no pórtico de cada capítulo deque se destacam, por serem particularmente interessantes, duas alusivasa D. Inês de Castro, à sua morte (reinado de D. Afonso IV) e entronização(reinado de D. Pedro I) e uma outra ilustrando o Terreiro do Paçoe a Ribeira <strong>das</strong> Naus (D. Manuel I). Trata-se de uma obra em dois tomoscujo segundo volume é inteiramente dedicado a D. Manuel I, contendo,além <strong>das</strong> já descritas gravuras, uma outra assinalável, de páginainteira, que retrata D. Pedro II.No capítulo quer da História Geral quer da História de Portugal em quea Biblioteca é particularmente rica, surge uma verdadeira raridade aHistoria da feliz acclamação do Senhor Rei D. João o Quarto publicadaem Lisboa na oficina de Simão Thaddeo Ferreira (administrador doCorreio do Reino) em 1803. Esta obra panegírica contém a lista dos


89fidalgos que apoiaram o futuro D. João IV no dia 1 de Dezembro de 1640.Nas generalidades, aparecem-nos também dois tomos <strong>das</strong> ObrasCompletas de Voltaire publicados em Paris em 1792.O século XIX e a sua turbulência política e militar dão origem ao textocomentado Relação dos sucessos ocorridos no Tejo... desde 8 de Julhoaté 15 de Agosto de 1831, folheto escrito pelo vice-almirante Roussin,


90Entretanto, o período entre finais do século XVIII e meados do séculoXIX é abordado nas Recordações de Jacome Ratton: sobre ocorrênciasdo seu tempo: de Maio de 1747 a Setembro de 1810, numa ediçãorevista (a primeira é de 1813) publicada pela Imprensa da Universidadede Coimbra no ano de 1920. Aparece também ilustrado num curiopublicadoem Lisboa por José Baptista Morando em 1832, e à Memoriasobre a conspiração de 1817: vulgarmente chamada a conspiração deGomes Freire, escripta e publicada por um português amigo da justiçae da verdade, texto que procura reabilitar o bom-nome e a integridadede Gomes Freire de Andrade, publicada em Londres em 1822.


92obra fundamental da historiografia portuguesa, encontra-se tambémentre o vasto acervo de cariz histórico, enriquecido igualmente poroutros clássicos como a História da Administração Pública em Portugal:nos Séculos XII a XV, de Henrique da Gama Barros em edição dirigidapor Torquato de Sousa Soares de 1945, ou a História da Igreja emPortugal de Fortunato de Almeida, de 1910. A acrescentar a estes versíssimofolheto sem local nem data de edição intitulado Portugaldesafia Napoleão: 1807-1814, que contém boas imagens sobre asinvasões francesas e as suas principais batalhas, bem como reproduçõesde retratos dos principais protagonistas.A História de Portugal, edição monumental de Damião Peres e EleutérioCerdeira, publicada em Barcelos pela Portucalense em 1928,


94O olhar de estrangeiros sobre a sociedade portuguesa em diversasépocas é, igualmente, um aspecto que mereceu a atenção dos responsáveisda Biblioteca ao longo do tempo. Assim, podemos encontrarobras tão interessantes como A formosa Lusitânia (1877), de Lady Jackson,com prefácio e notas de Camilo Castelo Branco, Voyage en Portugalet Espagne (1776), de Richard Twiss, ou Travels in Portugal (1795), deJames Murphy.Quanto a obras de referência, além de varia<strong>das</strong> enciclopédias e dicionários,devemos destacar a riqueza do acervo em dicionários geográficose corográficos relativos ao território nacional, não esquecendo oPortugal Antigo e Moderno (1873), de Pinho Leal, o Diccionario BibliographicoPortuguez (1858-1958), de Inocêncio Francisco da Silva, o Elucidário(1798/99-1895), de Sousa Viterbo, e a obra em dezoito tomos Históriados estabelecimentos scientíficos, litterarios e artísticos de Portugal(1871), de José Silvestre Ribeiro.As publicações periódicas estão também muito bem representa<strong>das</strong>, particularmenteas do século XIX e início do século XX, como as revistas OPanorama (1837-1858), O Occidente (1878-1915), Ilustração <strong>Portuguesa</strong>e Brasileira (1884-1891) e Ilustração <strong>Portuguesa</strong> (1906-1924).Para finalizar, refira-se a existência de três verdadeiras pérolas deste acervo:a obra Tôjos e rosmaninhos: contos da serra, de Alfredo Keil, de queexistem dois exemplares mas apenas um com a encadernação original,publicada em 1907 em Lisboa, e que vale acima de tudo pelas magníficasilustrações da sua autoria, com uma poesia dedicada à diligência eonde quer esta quer uma estação de muda na carreira Tomar-Sertã sãoprofusamente e realisticamente retrata<strong>das</strong> no seu percurso (não esquecendoo autor a presença <strong>das</strong> caixas de correio nas várias situações); aHistória Natural Illustrada, de Júlio de Matos, publicada no Porto pela LivrariaUniversal em 1880 e contendo a descrição física e comportamentalde muitas dezenas de espécies ani<strong>mais</strong> com o respectivo desenho ciendadeirosmonumentos de síntese histórica, podemos ainda citar peloseu valor documental, as Memórias da Academia Real <strong>das</strong> Sciências(1797-1825), sobre os <strong>mais</strong> diversos temas desde ciências (trabalhos deengenharia hidráulica, meteorologia, ciências naturais) a história, literaturae outros ou ainda, pelo seu contributo, a edição crítica de LindleyCintra da Crónica Geral de Espanha de 1344 (texto português), dada àestampa em Lisboa pela Imprensa Nacional em 1951, e que seguiu o códiceiluminado conservado justamente na Academia de Ciências.As ciências auxiliares da história, como a arqueologia, contêm exemplosde grande valor bibliográfico como a obra completa do pioneiro Estácioda Veiga, de que destaco as obras Antiguidades de Mafra (1879), AntiguidadesMonumentaes do Algarve: tempos prehistoricos (1886), ou Atabula de bronze de Aljustrel: lida, deduzida e commentada em 1876(1880), primeira notícia da existência <strong>das</strong> famosas tábuas de Vipasca.A juntar a estas obras de grande valor documental, podemos falarainda de sínteses como a História do Exército Português, da autoria dogeneral Ferreira Martins, edição muito cuidada e com restauro recente,publicada pela Inquérito em Lisboa em 1945, ou ainda de um livro bastanteraro da autoria de Fernando Emygdio da Silva, As greves, publicadoem 1912 pela Imprensa da Universidade de Coimbra, que abordade forma exaustiva as primeiras manifestações grevistas e de associaçãode trabalhadores no nosso país.A lista já vai longa mas, entre muitas outras escolhas possíveis, não possodeixar de referir a rica colecção de memórias que integra as do condedo Lavradio, do marquês de Fronteira e Alorna, do conde de Mafra bemcomo as da marqueza de Rio Maior coligi<strong>das</strong> por Branca de Gonta Colaço,importantes dada a proximidade destas personalidades ao poderno final da monarquia e à abundância de relatos contemporâneos dealguns dos <strong>mais</strong> importantes acontecimentos entre os finais do séculoXVIII e a implantação da República.


96NOATS1Relatório Postal do Anno Economico de 1877-78, p. 154.2Palácio Sousa Leal, p. 54.3De Bibliotheca, p. 22 (tradução livre).BIBLIOGRAFIACTT – Boletim Oficial. Lisboa: Ed. do autor.CTT – Palácio Sousa Leal. Lisboa: Museu dos CTT e TLP, 1984.ECO, Umberto – De Bibliotheca. Caen: L’Échoppe, 1986.PORTUGAL. ADMINISTRAÇÃO GERAL DOS CORREIOS, TELÉGRAFOS E TELEFO-NES – Catálogo sistemático da Biblioteca da Administração Geral dos Correios, Telégrafose Telefones. Lisboa: CTT, 1950.PORTUGAL. DIRECÇÃO-GERAL DOS CORREIOS – Relatorio Postal do Anno Economicode 1877-78… Lisboa: Lallement Frères, 1879.tífico; e finalmente, o Album dos Costumes Portuguezes, da editora deDavid Corazzi, publicado em 1888 com ilustrações de Roque Gameiro,Columbano e Rafael Bordalo Pinheiro, entre outros, e textos de Fialhode Almeida , Pinheiro Chagas, Ramalho Ortigão e Xavier da Cunha.De facto, o enriquecimento constante da Biblioteca ao longo destes<strong>mais</strong> de cem anos, o empenhamento de gerações sucessivas que como seu saber e gosto deram um cunho eclético a este acervo inestimável,muito baseado no que de melhor cada época produziu, provocaem quem a frequenta e sabe utilizar o sentimento que muito há aindapara descobrir. É a esta descoberta que vos convido pois, numa épocade expansão do <strong>digital</strong> como a nossa, o livro continua a ser, sem dúvida,um dos instrumentos privilegiados de acesso ao conhecimento.

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