Boletim BioPESB 2015 - Edição 19
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Entrevista<br />
nas tradições e costumes da serra do brigadeiro,<br />
parteiro de vaca conta sobre sua experiência de ofício<br />
Danilo Santos<br />
Graziela Paulino<br />
Manuel dos Santos Leite<br />
A Serra do Brigadeiro<br />
é território de<br />
várias culturas e tradições,<br />
que ainda hoje se mantém<br />
por seus moradores.<br />
Na entrevista dessa e-<br />
dição, o <strong>Boletim</strong> <strong>BioPESB</strong><br />
quis conhecer um pouco<br />
mais sobre os partos de<br />
vaca realizados na zona<br />
rural. Para isto, conversamos<br />
com um experiente do<br />
assunto, o Senhor Manuel<br />
dos Santos Leite, morador<br />
da comunidade do Bom<br />
Jesus do Madeiro, que<br />
fica no entorno do PESB.<br />
O Sr. Manuel trabalha na<br />
região e já realizou muitos<br />
partos em vaca. Em encontro<br />
realizado na sede<br />
do PESB, o entrevistado<br />
nos conta um pouco da sua<br />
trajetória de vida e profissional<br />
e como os partos<br />
de vacas são realizados.<br />
Senhor Manuel, como o<br />
Senhor começou a tra-<br />
balhar com parto de vaca?<br />
Sr. Manuel: Eu trabalhava<br />
e morava na fazenda com<br />
outros vaqueiros. Morei<br />
aqui desde os 4 anos e<br />
aos 11 anos fui acompanhar<br />
o circo. Nesse tempo<br />
trabalhei como peão e de<br />
vez em quando aparecia<br />
algum trabalho com vacas.<br />
Com o passar do tempo<br />
fui adquirindo experiência<br />
com bezerros e até<br />
mesmo partos. O primeiro<br />
parto de vaca que eu fiz<br />
já era tarde e chovia. O<br />
bezerro veio em posição<br />
contrária, só o rabo saiu.<br />
Eu chequei e percebi<br />
que ele estava morto.<br />
Qual foi o parto mais<br />
difícil?<br />
Sr. M.: Foram vários partos<br />
difíceis. Certa vez me<br />
chamaram quando já não<br />
tinha jeito; a vaca já estava<br />
mal, porque não<br />
conseguia ter o bezerro.<br />
Demorou muito, aí o útero<br />
dela foi fechando e o<br />
bezerro morreu e inchou.<br />
E tudo que incha é difícil<br />
de arrancar, tem que ter<br />
preparo. Eu dizia para<br />
a dona da vaca para<br />
arrancar o bezerro em<br />
pedaços, porque se puxasse<br />
machucaria muito<br />
a vaca e ela iria morrer.<br />
Como o Senhor sabe se<br />
a vaca precisa de ajuda?<br />
Sr. M .: O bezerro sempre<br />
vem com as pernas<br />
para fora, e, caso ele<br />
não consiga sair, a vaca<br />
vira para um lado e para<br />
outro tentando fazer com<br />
que ele saia. Isso acontece<br />
porque o bezerro entestou,<br />
então é preciso ajudar,<br />
nisso eu entro com minha<br />
parte técnica. O parto<br />
demora em média meia<br />
hora se ocorrer tudo bem.<br />
Quais são os preparativos<br />
para o parto?<br />
Sr. M .: Eu pergunto ao<br />
dono se ela está vacinada.<br />
Alguns mentem, dizendo<br />
que a vaca está vacinada,<br />
quando, na verdade, não<br />
está. Mas dá para saber,<br />
porque quando a vaca<br />
está vacinada, possui uma<br />
marca verde na cabeça.<br />
Eu acompanho a gestação,<br />
e não uso luva para fazer<br />
o parto, mas eu tenho os<br />
meus preparos. Coloco<br />
óleo e enfio a minha mão<br />
cheia de óleo na vagina<br />
da vaca e aí está controlado.<br />
Mas o ideal é usar<br />
luvas sempre. Há poucos<br />
dias eu fiz um curso<br />
técnico em veterinária.<br />
“<br />
Eu sou de<br />
família<br />
humilde e a<br />
minha mãe me<br />
ensinou muita<br />
coisa, mas bati<br />
a cabeça pela<br />
escola do<br />
mundo e fui<br />
aprendendo<br />
Ano 5, n°<strong>19</strong> - Pág 6<br />
Em que o senhor trabalha<br />
além do parto?<br />
Sr. M .: Tem dezoito anos<br />
que eu trabalho no PESB<br />
como zelador, mas trabalho<br />
também com o público,<br />
os turistas. Se perguntar<br />
sobre planta medicinal,<br />
tenho tudo na mente. Faço<br />
outras coisas, tiro leite, estou<br />
tentando criar uns animais<br />
em meu pedacinho<br />
de terra. Eu cobro em torno<br />
de R$ 150 e 200 para<br />
realizar partos de vacas.<br />
O que o Senhor mais<br />
gosta de fazer?<br />
Sr. M .: Gosto mais de trabalhar<br />
aqui na sede, mexer<br />
com o público. Gosto<br />
de cuidar das plantas que<br />
tenho, o meu pomar de<br />
laranja, plantio de café,<br />
criação de bois, plantação<br />
de mandioca, inhame,<br />
bananeira, essas coisas.<br />
Mensagem do Senhor<br />
Manuel para a equipe<br />
<strong>BioPESB</strong>:<br />
Eu sou de família humilde<br />
e a minha mãe me ensinou<br />
muita coisa, mas bati<br />
a cabeça pela escola do<br />
mundo e fui aprendendo.<br />
Eu agradeço a vocês que<br />
vieram de Viçosa, da<br />
Universidade Federal de<br />
Viçosa, me procuraram.<br />
Vocês dão importância<br />
para a gente e o nosso<br />
trabalho. Agradeço a<br />
gerência do PESB que sempre<br />
nos trata muito bem.