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Boletim BioPESB 2016 - Edição 22

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<strong>Boletim</strong> Biopesb<br />

Ciência, meio ambiente e cidadania em suas mãos ISSN - 2316-6649 - Ano 6 - Nº <strong>22</strong> - <strong>2016</strong><br />

Águas do Rio Doce<br />

O Rio Doce faz parte da história de Minas Gerais. Ao longo dos anos, o majestoso<br />

Rio foi marcado pela exploração de suas riquezas, pela fé religiosa de seu povo<br />

e pelo espírito de liberdade. Vale a pena saber mais sobre esses 853km de curso<br />

d’água que são fonte de vida para centenas de comunidades.<br />

Páginas 2 e 3<br />

Conservando bromélias<br />

para proteger anuros<br />

As bromélias são capazes<br />

de armazenar água e<br />

proporcionar reservas de<br />

nutrientes e abrigo para<br />

uma diversidade de espécies<br />

da fauna, entre<br />

elas, os anuros.<br />

Conhecendo o Centro de<br />

Visitantes do PESB<br />

Obras de artistas plásticos<br />

regionais e elementos<br />

audiovisuais formam<br />

uma exposição permanente<br />

no Centro de Visitantes<br />

do PESB.<br />

Páginas 4 e 5 Página 7<br />

A Encíclica Papal e a Campanha da Fraternidade <strong>2016</strong><br />

A encíclica fala sobre mudança<br />

climática, dívida<br />

ecológica, a questão da<br />

água, a crise ecológica, bem<br />

como mudanças no estilo<br />

de vida. O tema da Campanha<br />

da Fraternidade<br />

Ecumêmica <strong>2016</strong> é “Casa<br />

Comum, nossa responsabilidade”.<br />

Veja entrevista<br />

com o padre Wander Torres<br />

Costa na página 6<br />

PROGRAMA DE EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA MEC/SESu


MeioAmbiente<br />

Serra do Brigadeiro: um divisor de águas<br />

entre os Rios Doce e Paraíba do Sul<br />

Higor Pereira<br />

Isabella Britto<br />

Paula Sudré<br />

Raissa Castro<br />

Inúmeras nascentes<br />

estão inseridas na Serra do<br />

Brigadeiro. Todas elas contribuem<br />

de maneira significativa<br />

para a formação de<br />

duas importantes bacias<br />

hidrográficas do Estado:<br />

a Área de Proteção Ambiental<br />

(APA) do Rio Doce e<br />

a APA do Paraíba do Sul.<br />

Segundo o livro O<br />

Vale do Rio Doce: “O Rio<br />

Doce faz parte da história<br />

de Minas Gerais, marcada<br />

pela exploração de<br />

suas riquezas, pela fé religiosa<br />

de seu povo e pelo<br />

espírito de liberdade. Do<br />

folclore de toda a região,<br />

emerge uma rica mistura<br />

de crenças afro-brasileiras<br />

representadas pelas<br />

festas de congado, reisado<br />

e zé-pereira [...]. O<br />

Rio Doce se espalha entre<br />

seu povo na forma de rico<br />

artesanato, esculturas de<br />

pedra sabão e pelo uso<br />

artístico de pedras preciosas<br />

e semipreciosas”.<br />

Redação: Alunos do PET- Bioquímica da UFV<br />

e do Departamento de Comunicação Social<br />

(Artur Lopes, Danilo Santos, Graziela Paulino,<br />

Helaindo Júnior, Higor Pereira, Iorrana Vieira,<br />

Isabella Costa, Isabela Paes, Isabella Britto,<br />

Laisse Lourenço, Paula Sudré e RenatoSenra.)<br />

Revisão: Raíra Saloméa<br />

Diagramação: Ana Paula Abreu<br />

O Rio Doce, mais<br />

importante bacia hidrográfica<br />

totalmente incluída<br />

na Região Sudeste,<br />

nasce no município de Ressaquinha<br />

(MG) e desagua<br />

no oceano Atlântico, no<br />

município de Linhares (ES).<br />

São 853 Km da nascente<br />

até a foz, abrangendo<br />

230 municípios. 86% de<br />

seu território se encontra<br />

em Minas Gerais e os outros<br />

14% no Espírito Santo.<br />

Atualmente, as margens<br />

do rio Doce são povoadas<br />

por diversas cidades<br />

e uma população de mais<br />

de três milhões de habitantes<br />

utilizam a água para o<br />

<strong>Boletim</strong> Biopesb<br />

www.biopesb.ufv.br<br />

Rio Doce em Galileia/MG<br />

abastecimento, sendo que<br />

diversas comunidades ribeirinhas<br />

vivem da pesca<br />

como renda e alimentação<br />

Já o rio Paraíba do<br />

Sul possui 1.120 km de extensão.<br />

Passa pelo território<br />

de três estados: São Paulo,<br />

Rio de Janeiro e Minas<br />

Gerais. Trata-se da divisa<br />

natural dos estados de<br />

Minas e do Rio de Janeiro.<br />

As águas das bacias<br />

de ambos os rios são<br />

captadas com diversos<br />

objetivos. Entre eles estão<br />

a irrigação, abastecimento<br />

público, produção<br />

de energia elétrica, mineração<br />

e agropecuária.<br />

Editores-Chefes: João Paulo Viana Leite e<br />

Ricardo Duarte Gomes da Silva<br />

Telefone: (31) 3899-3044<br />

E-mail: biopesbufv@gmail.com<br />

Endereço: Departamento de Bioquímica e<br />

Biologia Molecular - UFV<br />

CEP 36570-900, Viçosa - MG - Brasil<br />

Tiragem: 1.000 exemplares<br />

Apoio: Pró-Reitoria de Extensão e Cultura<br />

(PIBEX)-UFV e Programa de Extensão<br />

Universitária MEC/SESu - PROEXT<br />

Imagem: reprodução<br />

Ano 6, n°<strong>22</strong> - Pág 2<br />

Editorial<br />

Ao longo de sua história, o<br />

<strong>Boletim</strong> <strong>BioPESB</strong> tem buscado<br />

parcerias de forma a oferecer<br />

ao leitor um jornal com<br />

visual gráfico mais atraente<br />

e recheado de matérias que<br />

demostram as riquezas biológica<br />

e cultural da Serra<br />

do Brigadeiro. Este ano a<br />

equipe do <strong>Boletim</strong> passa a<br />

contar com a experiência<br />

jornalística do professor Ricardo<br />

Duarte Gomes da<br />

Silva do Departamento de<br />

Comunicação Social da UFV.<br />

Doutor em Comunicação e<br />

Sociabilidade, prof. Ricardo<br />

passa a integrar a comissão<br />

editorial do <strong>BioPESB</strong>,<br />

auxiliando também na ampliação<br />

de sua divulgação<br />

por meio da mídia digital. A<br />

interação entre estudantes e<br />

professores de Bioquímica e<br />

de Comunicação Social tem<br />

sido uma estratégia frutífera<br />

na formação de profissionais<br />

dedicados a popularização<br />

da ciência, democratizando<br />

o saber científico e, ao mesmo<br />

tempo, trazendo a este<br />

encontro a importância do<br />

conhecimento popular. Em<br />

nosso planejamento editorial<br />

levantamos temas que sirvam<br />

de discussão e de reflexão<br />

para todos aqueles que estejam<br />

atuando na conservação<br />

do patrimônio socioambiental<br />

do território da Serra do<br />

Brigadeiro. Neste sentido,<br />

trazemos nesta edição matéria<br />

sobre aspectos e a importância<br />

do Rio Doce que<br />

tenta sobreviver perante a<br />

agressividade que vem sofrendo<br />

ao longo do tempo.<br />

Trazemos também uma bela<br />

entrevista com o padre Wander<br />

que nos recebeu gentilmente<br />

em sua paróquia para<br />

nos falar sobre o recado do<br />

papa Francisco transmitido<br />

pela encíclica papal. De<br />

forma a brindar nosso leitor<br />

com as belíssimas reflexões<br />

do padre Wander, que se<br />

alastrou de forma agradável<br />

por quase duas horas de<br />

conversa, a entrevista mais<br />

completa pode ser lida em<br />

facebook.com/biopesb.<br />

Boa leitura.<br />

João Paulo Viana Leite<br />

Ricardo Duarte Gomes da Silva<br />

Editores Chefes


MeioAmbiente<br />

Ano 6, n°<strong>22</strong> - Pág 3<br />

Nascentes do PESB: preservação e<br />

manutenção dos recursos hídricos<br />

Ana Paula Abreu<br />

Junho é o mês em<br />

que se comemora o dia<br />

Mundial do Meio Ambiente.<br />

A data foi estabelecida<br />

pela Assembleia<br />

Geral das Nações Unidas<br />

em 1972. O principal<br />

objetivo da implementação<br />

da data é destacar<br />

o tema e conscientizar a<br />

população mundial sobre<br />

a necessidade do cuidado<br />

ambiental, principalmente<br />

no que diz respeito<br />

à preservação.<br />

Uma das formas<br />

mais eficazes de preservar<br />

é cuidar desde o início.<br />

Nessa perspectiva, o<br />

Parque Estadual Serra do<br />

Brigadeiro é um local de<br />

acolhimento e cuidado,<br />

já que abriga inúmeras<br />

nascentes que contribuem<br />

para a formação de dois<br />

grandes rios.<br />

As nascentes são<br />

fontes de água que surgem<br />

em determinados locais<br />

da superfície do solo.<br />

Elas dão origem a pequenos<br />

cursos d’água. Estes<br />

formam os córregos que<br />

posteriormente se ajuntam<br />

para formar riachos<br />

e ribeirões e que voltam<br />

a se unir para formar os<br />

rios.<br />

As nascentes são,<br />

portanto, fundamentais<br />

para a manutenção da<br />

vida na Terra. Isso se justifica<br />

quando se pensa<br />

na importância da água<br />

doce, pois, é por meio<br />

dela que os seres vivos<br />

satisfazem suas necessidades<br />

básicas, como<br />

saúde, produção de alimentos,<br />

higienização, bem<br />

como a continuidade dos<br />

ecossistemas.<br />

Devido à possibilidade<br />

de escassez<br />

da água, é necessário ter<br />

sempre em mente a conservação<br />

e a recuperação<br />

das nascentes. Garantese,<br />

assim, a manutenção<br />

e qualidade de vida das<br />

futuras gerações. Para<br />

promover a recuperação e<br />

a preservação das nascentes,<br />

é preciso adotar algumas<br />

medidas e banir determinadas<br />

ações.<br />

queimadas degradam<br />

as nascentes<br />

Além de queimar os resíduos<br />

da floresta, as queimadas<br />

acabam destruindo<br />

a matéria orgânica<br />

da camada superficial do<br />

solo, eliminando os microorganismos<br />

benéficos que<br />

atuam na decomposição<br />

de restos de plantas e animais.<br />

No Brasil, o número<br />

de focos de queimadas e<br />

incêndios florestais dentro<br />

de Unidades de Conservação<br />

federais e estaduais,<br />

no primeiro semestre,<br />

mais que dobrou em<br />

relação ao mesmo período<br />

de 2014. Em Minas<br />

Gerais, foram 401 focos.<br />

preservação das<br />

matas ciliares<br />

Matas ciliares são tipos<br />

de cobertura vegetal nativa,<br />

que ficam às margens<br />

de nascentes, rios e<br />

outros cursos d’água. O<br />

nome “mata ciliar” vem<br />

do fato de serem tão<br />

importantes para a proteção<br />

de nascentes como<br />

são os cílios para os olhos<br />

humanos. A preservação<br />

das matas ciliares impede<br />

o assoreamente. Este, por<br />

sua vez, é o processo pelo<br />

qual há a deposição de<br />

sedimentos no fundo de<br />

um curso d’água.<br />

No PESB, algumas<br />

práticas foram proibidas,<br />

afim de proteger não só<br />

as nascentes, como toda a<br />

fauna e a flora local. Por<br />

este motivo, não é possível,<br />

por exemplo, acampar<br />

na Unidade de Conservação.<br />

A medida visa,<br />

entre outros objetivos, diminuir<br />

o risco de incêndios.<br />

A preservação do<br />

meio ambiente precisa<br />

estar em primeiro lugar.<br />

Nascer para viver<br />

Preservar para conhecer<br />

Cuidar para existir<br />

Encorajar para agir<br />

Se unir para que a<br />

natureza continue<br />

a sorrir.


Ciência<br />

Isabela Paes<br />

Laisse Lourenço<br />

Isabella Alves<br />

Joana Mozer<br />

O Parque Estadual<br />

Serra do Brigadeiro,<br />

Unidade de Conservação<br />

com localização<br />

no extremo norte da<br />

Serra da Mantiqueira,<br />

abrange aproximadamente<br />

15.000 hectares<br />

do bioma Mata Atlântica,<br />

oferecendo fauna e flora<br />

bastante diversificadas.<br />

Em caminhadas<br />

pelas trilhas do PESB, em<br />

meio a sua vegetação<br />

florestal, é notável aos<br />

visitantes e turistas a presença<br />

de plantas epífitas,<br />

entre elas as bromélias.<br />

Devido ao seu formato,<br />

as bromélias são capazes<br />

de armazenar água<br />

e proporcionar reservas<br />

de nutrientes e abrigo<br />

para uma diversidade<br />

de espécies da fauna. Um<br />

exemplo dessas espécies<br />

são os anuros, anfíbios<br />

que não possuem cauda,<br />

como rãs, pererecas e sapos.<br />

(figura1.)<br />

Ano 6, n°<strong>22</strong> - Pág 4<br />

Importância da conservação de bromélias<br />

para preservação de anuros<br />

Figura 1. Anuro no interior de uma bromélia. Disponível em:<br />

arquivosdoinsolito.blogspot.com.br<br />

Figura 2. Alcantarea Extensa é uma espécie de bromélia que armazena grande quantidade de água<br />

Por proporcionarem<br />

sombra e umidade<br />

necessárias durante o dia,<br />

as bromélias são consideradas<br />

um habitat seguro<br />

para as espécies de<br />

anuros, ocorrendo, portanto,<br />

uma associação entre<br />

as espécies.<br />

De acordo com a<br />

associação que ocorre entre<br />

os anuros e as bromélias,<br />

estes anfíbios podem<br />

ser categorizados em dois<br />

tipos: as espécies bromelícolas,<br />

que utilizam a planta<br />

apenas como abrigo,<br />

e as bromeligenous, que<br />

são estritamente dependentes<br />

da planta, dependendo<br />

dela para completar<br />

seu ciclo reprodutivo,<br />

como local de ovoposição.<br />

Ainda não há comprovação<br />

científica para a<br />

vantagem das bromélias<br />

nessa associação, mas há<br />

estudos com o objetivo de<br />

testar tal hipótese.<br />

Conforme pesquisa<br />

de João Victor Andrade<br />

de Lacerda, do Departamento<br />

de Biologia Animal<br />

da Universidade Federal<br />

de Viçosa, na região central<br />

do PESB, compreendida<br />

entre os municípios<br />

de Araponga e Fervedouro,<br />

foram registradas<br />

em diferentes lugares oito<br />

espécies de anuros, entre<br />

elas algumas endêmicas<br />

da Mata Atlântica. Estes<br />

anfíbios estão associadas<br />

a uma espécie especifica<br />

de bromélia, que apresenta<br />

um tangue gigante<br />

capaz de armazenar uma<br />

grande quantidade de<br />

água.<br />

Imagem: reprodução


Imagens: reprodução<br />

Ciência<br />

Dentre os anfíbios encontrados<br />

associados às bromélias, estão:<br />

Segundo a classificação<br />

proposta por Peixoto<br />

e sugerida por João Victor<br />

Andrade de Lacerda,<br />

todas as espécies são categorizadas<br />

como bromelícolas,<br />

exceto por Scinax gr.<br />

perpusillus,categorizada<br />

como bromeligenous, devido<br />

à sua dependência<br />

da planta para completar<br />

seu ciclo reprodutivo, haja<br />

vista que em determinada<br />

época do estudo, observouse<br />

atividade reprodutiva e<br />

a ocorrência de girinos em<br />

abundância dentro das bromélias.<br />

Muito ainda se tem<br />

a estudar sobre a associação<br />

de anuros com espécies<br />

de bromélias, para com-<br />

Ano 6, n°<strong>22</strong> - Pág 5<br />

preender a complexidade<br />

dessa relação e atentar<br />

para a conservação das<br />

bromélias, que são extremamente<br />

importantes para a<br />

sobrevivência de algumas<br />

populações de anuros. A<br />

destruição e fragmentação<br />

desse habitat talvez seja<br />

a maior causa de extinção<br />

de anfíbios. O hábito de<br />

coletar bromélias, além de<br />

interferir no habitat, pode<br />

comprometer o equilíbrio<br />

da fauna de outra região.<br />

Ao serem colhidas, as bromélias<br />

podem levar consigo<br />

determinadas espécies de<br />

animais que se encontravam<br />

em seu interior buscando<br />

sombra e umidade por meio<br />

da associação.<br />

O Relatório da<br />

Expedição científica de<br />

1935 da antiga Escola<br />

Superior de Agricultura<br />

e Veterinaria do Estado<br />

de Minas Gerais, atualmente<br />

Universidade<br />

Federal de Viçosa, realizadas<br />

pelos professores<br />

João Moojen de<br />

Oliveira, João Geraldo<br />

Kuhlmann e Octavio<br />

Drummond demostra<br />

que o interesse científico<br />

pela região da Serra<br />

do Brigadeiro se dá<br />

anterior à criação do<br />

Parque. Outros registros<br />

de naturalistas que<br />

estiveram na região<br />

também demonstram<br />

os motivos pelos quais<br />

a região é considerada<br />

de extrema importância<br />

biológica. Hoje,<br />

o PESB recebe pesquisadores<br />

de diversas<br />

instituições renomadas,<br />

sendo considerado um<br />

laboratório a céu aberto<br />

por abrigar grande<br />

biodiversidade.<br />

Figura 3. Espécies de anuros do Parque Estadual<br />

Serra do Brigadeiro encontradas em bromélias:<br />

A.Bokermannohyla circumdata, B.Dendropsophus<br />

elegans, C.Dendropsophus minutus, D.Scinax aff.<br />

perereca, E.Scinax gr. perpusillus, F.Thoropa miliaris<br />

Cartilha do Pesquisador visa regulamentar as<br />

pesquisas dentro do PESB<br />

Para que pesquisas<br />

científicas realizadas<br />

no PESB tenham<br />

um melhor gerenciamento,<br />

bem como<br />

os resultados gerados<br />

por essas pesquisas<br />

possam contribuir<br />

para o manejo da Unidade,<br />

o setor de pesquisa<br />

juntamente com<br />

a gerência da UV e a<br />

Gerência de Projetos<br />

e Pesquisas (GPROP)<br />

elaboraram a “Cartilha<br />

do Pesquisador”.<br />

Você encontra a cartilha<br />

no portal <strong>BioPESB</strong>.<br />

Acesse:<br />

www.biopesb.ufv.br


Entrevista<br />

Ano 6, n°<strong>22</strong> - Pág 6<br />

A encíclica papal sobre meio ambiente e a<br />

Campanha da Fraternidade<br />

Na entrevista da <strong>Edição</strong> <strong>22</strong>, o <strong>Boletim</strong> <strong>BioPESB</strong> traz uma reflexão acerca do posicionamento<br />

da Igreja Católica no que concerne o meio ambiente. Em 2015 foi publicada a nova Encíclica<br />

do Papa Francisco, intitulada “Louvado Sejas”, sobre o cuidado com a Casa Comum. O<br />

documento reitera a necessidade do cuidado com a criação. Além disso, o tema da Campanha<br />

da Fraternidade Ecumênica de <strong>2016</strong> é “Casa Comum, nossa responsabilidade”. O<br />

entrevistado é o padre Wander Torres Costa, mestre em Extensão Rural pela UFV. Atualmente ele é pároco na<br />

Paróquia de São Sebastião, em Ponte Nova, e professor de Filosofia na Faculdade Arquidiocesana de Mariana.<br />

Ana Paula Abreu<br />

Artur Lopes<br />

Graziele Paulino<br />

Para o senhor, qual é a<br />

chave da crise ecológica<br />

que estamos vivendo?<br />

Vamos pensar sob a perspectiva<br />

da Encíclica. O Papa<br />

Francisco dedica um capítulo<br />

para a questão da crise<br />

ecológica. No terceiro capítulo,<br />

ele trata da raiz humana<br />

da crise ecológica. Para ele,<br />

a questão fundamental, que<br />

está na base de todas as nossas<br />

dificuldades, está no paradigma<br />

tecnocrático, sobretudo<br />

a partir da modernidade.<br />

A técnica transformada<br />

apenas em meio de dominação<br />

de tudo que existe, incluindo<br />

o ser humano, de certo<br />

modo, fez a humanidade<br />

caminhar às avessas em todas<br />

as áreas. Claro que o Papa<br />

percebe que há um grande<br />

ganho com as inovações da<br />

técnica. Toda essa transformação<br />

tecnológica é bem vinda.<br />

No entanto, o paradigma<br />

tecnocrático dominante acaba<br />

por ocupar o lugar central<br />

nas relações humanas, e provoca<br />

o rompimento com a compreensão<br />

de vida mais alargada.<br />

Um dos pontos chaves<br />

desse paradigma é que ele<br />

se baseia na ótica do domínio,<br />

o que torna a convivência humana<br />

e ecológica cada vez<br />

mais difícil, já que entra na<br />

lógica do poder, mais especificamente<br />

do “biopoder”.<br />

Qual é principal fator<br />

que desencadeia a crise<br />

ecológica do Brasil?<br />

Não podemos analisar o Brasil<br />

sem pensar a nossa história.<br />

Historicamente, o Brasil sempre<br />

foi entendido como uma<br />

grande empresa, um grande<br />

quintal de onde você pode<br />

retirar recursos naturais de<br />

qualquer forma. E isso é um<br />

problema de origem que,<br />

a meu ver, ainda não foi superado.<br />

No Brasil é possível<br />

ver o Paradigma Tecnocrático<br />

se expressando sobretudo<br />

na desigualdade social.<br />

Os grandes bens do povo<br />

brasileiro não estão nas mãos<br />

do próprio povo. A soberania<br />

com relação ao cuidado com<br />

a Amazônia é um exemplo.<br />

Não se pode internacionalizar<br />

o cuidado com a Amazônia.<br />

A responsabilidade é<br />

nossa, o que não significa que<br />

não possamos ser ajudados.<br />

É uma questão de soberania<br />

“<br />

A juventude<br />

traz consigo<br />

a chance da<br />

virada,<br />

ou seja, da<br />

mudança de<br />

paradigma<br />

do povo brasileiro. O grande<br />

problema é que, ao longo dos<br />

anos, a nossa falta de soberania<br />

beneficiou alguns grupos,<br />

especialmente parcelas<br />

da elite social. No Brasil, não<br />

é possível definir se a crise<br />

ecológica é desencadeada<br />

por uma situação politica. Trata-se<br />

de um entrelaço de situações<br />

que se sobrepõem, mas<br />

que proporcionam a questão<br />

do poder econômico.<br />

Como os jovens devem<br />

agir frente ao problema?<br />

Jovem não é esperança<br />

de futuro, mas sim do presente.<br />

Penso que as novas<br />

gerações têm o papel de<br />

nos ajudar a melhorar. Ao<br />

jovem é dada a oportunidade<br />

de cuidar da Casa<br />

Comum. Um passo importante<br />

é escutar os idosos,<br />

os mais velhos e ir transformando<br />

o que se ouve em<br />

saber e conhecimento. Não<br />

há uma visão apocalíptica<br />

na Encíclica, pois o Papa<br />

diz que basta um homem<br />

bom para haver esperança.<br />

É no meio dessa<br />

crise que vemos o papel do<br />

jovem que não compactua<br />

com os desmandos, busca<br />

a mudança e quer um<br />

caminho diferente. A juventude<br />

traz consigo a chance<br />

da virada, ou seja, da<br />

mudança de paradigma.<br />

E quanto à Campanha<br />

da Fraternidade <strong>2016</strong>?<br />

Percebemos a importância<br />

de cada peça nesse<br />

emaranhado de relações<br />

humanas. Eis o apelo da<br />

Campanha da Fraternidade<br />

deste ano, que prega<br />

o cuidado com a Casa<br />

Comum. Isso passa pelo saneamento<br />

básico, que não<br />

trata apenas da saúde,<br />

mas da justiça social. Uma<br />

das estrofes do hino da<br />

Campanha diz: “Te dei um<br />

mundo de beleza e cores;<br />

Tu me devolves esgoto e<br />

fumaça; Criei sementes<br />

de remédio e flores; Semeias<br />

lixo pelas tuas praças;<br />

Justiça e paz, saúde<br />

e amor têm pressa; Mas,<br />

não te esqueças, há uma<br />

condição; O saneamento<br />

de um lugar começa; Por<br />

sanear o próprio coração”.<br />

Para mim, esse verso é a<br />

chave da leitura. O tema<br />

da Campanha nos mostra<br />

que quando falamos de<br />

Casa Comum, devemos envolver<br />

a todos. Para cuidar<br />

da Casa Comum é preciso<br />

sarar primeiro o coração e<br />

a consciência humana.<br />

Confira a entrevista do padre<br />

Wander Torres Costa na íntegra:<br />

facebook.com/biopesb<br />

www.biopesb.ufv.br


Serra do Brigadeiro Ano 6, n°<strong>22</strong> - Pág 7<br />

Renato Senra<br />

Helaindo Júnior<br />

Júlia Condé<br />

Projeto do Centro de Visitantes do<br />

PESB atrai turistas<br />

Fernanda Rebellato<br />

No dia 20 de novembro<br />

de 2014, a sede<br />

do Parque Estadual da<br />

Serra do Brigadeiro (PESB)<br />

inaugurou uma exposição<br />

permanente no Centro de<br />

Visitantes, a qual conta com<br />

obras de artistas plásticos<br />

regionais e elementos<br />

audiovisuais que visam<br />

demonstrar a importância<br />

da Unidade de Conservação,<br />

além de promover<br />

a interação socioambiental<br />

com as comunidades.<br />

Essa é uma maneira<br />

interativa de difundir o conhecimento<br />

sobre a história<br />

e diversidade biológica da<br />

região, como, por exemplo,<br />

por meio da maquete do<br />

PESB e do painel com os<br />

sons dos principais animais<br />

que habitam o Parque.<br />

A exposição permanente<br />

é fruto da parceria<br />

entre o banco alemão<br />

Kreditanstalt für Wiederaufbau<br />

(KfW) e o Instituto<br />

Estadual de Florestas<br />

(IEF), que busca promover<br />

medidas de proteção,<br />

recuperação e sustentabilidade<br />

na Mata Atlântica<br />

em Minas Gerais.<br />

Segundo a monitora<br />

ambiental do PESB,<br />

Laurielen Gurgel Pacheco,<br />

o local ficou fechado<br />

por aproximadamente<br />

10 dias para o processo<br />

de implantação do novo<br />

Centro de Visitantes. Antes,<br />

havia somente uma<br />

sala com fotos expostas,<br />

uma maquete interativa<br />

e uma mesa de reuniões.<br />

O novo centro ocasionou,<br />

no início, uma maior<br />

procura de visitações principalmente<br />

pelos moradores<br />

do entorno do Parque.<br />

Posteriormente, após uma<br />

maior divulgação nas redes<br />

sociais e mídias digitais,<br />

o Centro de Visitantes<br />

passou a receber mais<br />

turistas de outras cidades,<br />

estados e até mesmo visitantes<br />

estrangeiros. O PESB<br />

registrou, no ano de 2015,<br />

cerca de 7.600 visitantes;<br />

outras 47.911 passaram<br />

Fórum Regional de Educação Ambiental<br />

<strong>2016</strong> aconteceu em Miraí<br />

por ele através da BR 482,<br />

a qual intercepta o Parque.<br />

A maioria dessas pessoas<br />

procura a Serra em busca<br />

de pousadas, cachoeiras<br />

e acabam por conhecer o<br />

Centro de Visitantes antes<br />

de seguirem viagem.<br />

O local está e-<br />

quipado para recepcionar<br />

os visitantes por meio<br />

dos funcionários que estão<br />

à disposição para dar informações<br />

indispensáveis<br />

aos turistas, como o que<br />

levar, principais atrações<br />

e o que é encontrado em<br />

cada uma delas, além da<br />

maquete interativa com todos<br />

os pontos de visitação<br />

do PESB, grandes histórias<br />

e várias curiosidades.<br />

A Educação Ambiental,<br />

seja ela formal ou<br />

informal, é uma ferramenta<br />

no processo de sensibilização<br />

da população para<br />

com as questões ambientais,<br />

sobretudo para com a<br />

conservação do meio ambiente.<br />

Neste sentido, o<br />

Fórum Regional de Educação<br />

Ambiental – ForEA,<br />

implantado desde o ano<br />

de 2006, tem se consolidado<br />

com a proposta de<br />

apresentar e trabalhar<br />

os problemas ambientais<br />

dos municípios da Bacia<br />

Hidrográfica do Rio Muriaé<br />

e entorno do Parque<br />

Estadual da Serra do Brigadeiro,<br />

buscando estimular<br />

as articulações entre<br />

os membros das comunidades,<br />

acreditando que é<br />

por meio destas que ocorrerão<br />

as ações, facilitando<br />

o processo participativo,<br />

fator relevante à evolução<br />

do processo de educação<br />

ambiental.<br />

Este Fórum acontece<br />

anualmente e, neste<br />

ano, contemplou a participação<br />

de quatorze municípios<br />

mineiros. Em maio<br />

foi a vez do município de<br />

Miraí. A discussão das<br />

questões ambientais manteve<br />

o tema central: “Conectividade<br />

Sócioambiental<br />

Brigadeiro Caparaó”<br />

elevando o ForEA como<br />

uma das mais significativas,<br />

importantes e abrangentes<br />

ações de Educação<br />

Ambiental do Estado de<br />

Minas Gerais. Neste ano<br />

de <strong>2016</strong>, os Eixos Temáticos<br />

Locais: “A Água, o Lixo<br />

e a falta de Educação<br />

Ambiental, Gincana: Eu<br />

faço a diferença e Casa<br />

Comum, Nossa Responsabilidade”,<br />

buscaram<br />

incentivar a implantação<br />

da política ambiental em<br />

todos os municípios participantes,<br />

de forma a restabelecer<br />

valores, propor mudanças<br />

de comportamento,<br />

para obter um modo de<br />

vida sustentável. Não é<br />

possível prever o futuro,<br />

mas é possível planejá-lo,<br />

com a mobilização de toda<br />

a sociedade em busca de<br />

uma visão do mundo que<br />

queremos.<br />

Equipe do ForEA


Turismo<br />

Ano 6, n°<strong>22</strong> - Pág 8<br />

brigadistas<br />

Iorrana Vieira<br />

Danilo Santos<br />

Italo Bianchini<br />

os salva-vidas das florestas<br />

O fogo é um fenômeno<br />

físico que surge a<br />

partir da combinação das<br />

partículas de oxigênio presentes<br />

no ar atmosférico<br />

com outro material, como<br />

o gás de cozinha, madeira<br />

e vegetação. Ele é capaz<br />

de gerar calor e luz,<br />

o que o torna muito útil no<br />

dia-a-dia. Um lado prejucidial<br />

do fogo são os incêndios,<br />

seja em florestas,<br />

residências ou indústrias.<br />

Incêndio florestal é<br />

todo fogo que se espalha<br />

de maneira indiscriminada<br />

sobre qualquer tipo de<br />

vegetação. Pode ter causas<br />

naturais ou criminas.<br />

Suas características dependem<br />

dos atributos da<br />

área atingida. Algo comum<br />

a todas as ocorrências é o<br />

prejuízo causado à biodiversidade<br />

do território.<br />

Os oito municípios<br />

abrangidos pelo PESB desenvolvem<br />

dois tipos majoritários<br />

de economia:<br />

a pecuária leiteira e o<br />

cultivo do café. Para essas<br />

práticas, o manejo do<br />

solo se torna-se necessário,<br />

e limpar a área usando<br />

o fogo é uma prática comum.<br />

O risco dessa atividade<br />

está na destruição<br />

da vegetação primária do<br />

local, e o desencadeamento<br />

de incêndios florestais.<br />

Os incêndios consistem<br />

nas principais ameaças<br />

sofridas atualmente<br />

pelo PESB. Por isso, a equipe<br />

técnica buscou algumas<br />

formas de minimizar<br />

o problema. Com o auxílio<br />

dos brigadistas, trabalhadores<br />

que atuam no<br />

combate e prevenção das<br />

queimadas, somado ao<br />

trabalho dos funcionários<br />

do Parque e moradores<br />

do entorno, foi possível<br />

obter resultados satisfatórios<br />

na proteção da<br />

biodiversidade da região.<br />

Com a execução do contrato<br />

com a SEMAD (Secretaria<br />

de Estado de Meio<br />

Ambiente e Desenvolvimento<br />

Sustentável) e a<br />

dedicação dos brigadistas,<br />

foi possível comprovar os<br />

resultados ao analisar os<br />

registros de queimadas.<br />

Em 2014 houve 240 ha de<br />

queimadas na área interna<br />

e em 2015 esse número<br />

se reduziu para 6,32. Já<br />

na zona de amortecimento,<br />

esse número caiu de<br />

331 ha para 136,26 ha.<br />

O seguinte planejamento<br />

estratégico foi<br />

realizado: conhecimentos<br />

do plano de manejo e de<br />

acordo com este, realização<br />

dos planos de ação;<br />

capacitação da equipe<br />

por meio de cursos de<br />

formação da brigada e<br />

curso de GPS; visitas preventivas,<br />

mobilização e<br />

orientação aos moradores<br />

do entorno para a realização<br />

da ACAP (Ação<br />

Comunitária Ambiental<br />

Previncêncio); participação<br />

em eventos religiosos<br />

e culturais; palestras<br />

no PESB e em escolas do<br />

entorno; manutenção de<br />

aceiros, trilhas e estradas.<br />

A ideia principal<br />

é buscar alternativas sustentáveis<br />

e associativas<br />

a serem firmadas com as<br />

comunidades urbanas e<br />

rurais do entorno do PESB<br />

para, aos poucos, eliminar<br />

o uso do fogo e substituílo<br />

por formas de manejo<br />

mais adequadas à realidade<br />

local. A ação visa<br />

a conservação e recuperação<br />

da vegetação nativa<br />

de mata Atlântica da<br />

região e a proteção da<br />

sua biodiversidade. Em<br />

<strong>2016</strong>, espera-se atingir<br />

números ainda mais significativos<br />

do que em 2015.<br />

Brigadistas em atividade no Parque Estadual Serra do Brigadeiro<br />

Imagem: reprodução

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