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Quem tem o espírito formado assim, ama todas as hierarquias,<br />
independentemente do problema de saber onde<br />
é que o “euzinho” fica colocado nessa escala hierárquica.<br />
Em toda essa multivariedade de sacralidades, e depois<br />
nas simples transcendências, vejo melhor a Deus. É<br />
um conjunto onde o Criador se faz ver melhor do que no<br />
próprio firmamento, estrelas, etc., que apenas repetem<br />
isso a seu modo. Exclui, portanto, uma porção de formas<br />
pagãs de superioridade, que não são transcendentais.<br />
Poderíamos, ainda, relacionar a grandeza com a transcendência<br />
e a sacralidade.<br />
Toda transcendência é uma grandeza que se afirma diante<br />
de outra grandeza menor, e uma grandeza menor que reverencia<br />
uma grandeza maior. Mas não cabe nada que não seja<br />
grandeza dentro disso. Porque, nessa perspectiva, o indivíduo<br />
mais insignificante é grande; e a sociedade católica é uma sociedade<br />
de grandes. É uma coisa lindíssima, de uma elevação<br />
extraordinária, diferente do conceito pagão de plebe.<br />
A grandeza não é senão um dos aspectos da sacralidade,<br />
vista enquanto dotada do esplendor e do poder próprio a<br />
produzir enlevo e fazer-se respeitar pelo temor. Assim como<br />
em Deus há aquilo que impõe temor reverencial, é admirável<br />
ver a majestade ou a grandeza capaz de impor medo.<br />
Preparando o Grand Retour<br />
Cabe aqui uma consideração sobre o papel dos protótipos<br />
e arquétipos nesta temática.<br />
“Proto” é primeiro; protótipo é o “tipo primeiro”,<br />
portanto, o tipo mais alto. Mas é o tipo mais alto de algo<br />
que não toca no gênero superior e não está iluminado<br />
por ele. O protótipo não transcendeu, enquanto que o<br />
arquétipo transcende.<br />
Vejam o efeito curioso do fato de estarmos num mundo<br />
feito para ser uma terra de exílio, em comparação<br />
com o Paraíso Terrestre.<br />
Segundo essa teoria, deveria haver também entre os<br />
animais aqueles que constituíssem arquétipos do próprio<br />
gênero, tendo algo pelo qual fossem superiores. Nesse<br />
ponto, o imitar a voz humana e falar, ainda que sem entender,<br />
seria uma das características mais “arquetipizantes”<br />
do gênero animal.<br />
O leão rugindo não emprega nenhuma palavra humana,<br />
mas tem algo parecido com a cólera do homem. De<br />
maneira que quando se quer dizer que um homem teve<br />
uma manifestação de cólera magnífica, poder-se-ia afirmar:<br />
“Rugiu como um leão!”<br />
Então, o leão é mais bonito na sua cólera do que o homem,<br />
a ponto de se poder dizer que o homem rugiu como<br />
leão. Mas, na realidade e absolutamente falando, a cólera do<br />
homem é mais bela do que a do leão, porque é uma cólera intelectiva,<br />
racional, volitiva; a do leão é apenas instintiva.<br />
Como as cóleras de Nosso Senhor teriam sido incomparavelmente<br />
mais bonitas do que o rugido de um leão!<br />
Ou então a indignação dos profetas. Elias, eu acho que<br />
era um leão!<br />
O Criador deu ao canário a possibilidade de cantar,<br />
mas a de falar concedeu ao papagaio. Porém o papagaio<br />
é caricato. Suponho que isso seja assim para o homem<br />
cair em certas realidades neste vale de lágrimas. Por<br />
exemplo, quando se quer dizer que uma pessoa falou de<br />
modo ininteligível ou quando alguém repete o que outro<br />
disse, sem entender, diz-se que “papagaiou”.<br />
Cada arara é um escrínio de pedras preciosas! Fala<br />
também, mas só para dizer idiotices… O rosto da arara<br />
é feio: uma carnatura com aquela espécie de círculo<br />
preto, uma coisa medonha! Mas o resto é de uma beleza<br />
da qual não se sabe o que dizer. A considerar apenas<br />
a penugem, hesito um pouco entre o pavão e a arara, por<br />
causa do esplendor das cores da arara.<br />
Enfim, vai alta a Lua no solar da sacralidade… Creio<br />
que se pudéssemos dar passos significativos no estudo desses<br />
assuntos, estaríamos preparando o Grand Retour 1 . v<br />
(Extraído de conferência de 26/4/1989)<br />
1) Do francês: Grande retorno. No início da década de 1940,<br />
houve na França extraordinário incremento do espírito religioso,<br />
quando das peregrinações de quatro imagens de Nossa<br />
Senhora de Boulogne. Tal movimento espiritual foi denominado<br />
de “grand retour” para indicar o imenso retorno daquele<br />
país a seu antigo e autêntico fervor, então esmaecido.<br />
Ao tomar conhecimento desses fatos, <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> começou a<br />
empregar a expressão no sentido não só de “grande retorno”,<br />
mas de uma torrente avassaladora de graças que, através<br />
da Virgem Santíssima, Deus concederá ao mundo para a<br />
implantação do Reino de Maria.<br />
Leoboudv (CC 3.0)<br />
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