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OPINIÃO<br />
Carros a diesel? Nein, danke<br />
O preço da poluição do ar é pago em mortes precoces, sobretudo<br />
por problemas cardiovasculares, como infartos e derrames<br />
MARCELO LEITE (*)<br />
Poucas colunas colheram<br />
tantas reações,<br />
nos últimos<br />
tempos, quanto a<br />
"Temer movido a diesel".<br />
Talvez tenha sido a pequena<br />
provocação do título, uma<br />
cutucada na onça ideológica<br />
que ronda qualquer debate<br />
no Brasil de hoje e cujos esturros<br />
impedem ouvir todo o<br />
resto.<br />
Surpreendeu, porém, ver<br />
que ainda há quem defenda<br />
o óleo diesel como propelente<br />
para veículos leves, ou<br />
seja, carros de passeio.<br />
Fora ser um combustível<br />
fóssil, que lança dióxido de<br />
carbono (CO 2 ) na atmosfera<br />
e assim agrava o efeito estufa,<br />
a queima desse derivado<br />
de petróleo produz a<br />
poluição do ar mais tóxica.<br />
O primeiro e grande problema<br />
do diesel é a fuligem,<br />
produto da combustão imperfeita<br />
do óleo. É um dos<br />
principais componentes do<br />
material particulado fino,<br />
capaz de penetrar fundo no<br />
pulmão e depositar materiais<br />
danosos à saúde diretamente<br />
sobre as células<br />
(não bastasse, também<br />
contribui para o aquecimento<br />
global).<br />
Em segundo<br />
lugar, o consumo<br />
de<br />
diesel emite<br />
óxidos<br />
de nitrogênio<br />
e<br />
compostos<br />
de enxofre<br />
que também<br />
são perniciosos<br />
para<br />
seres<br />
humanos.<br />
Fora dos<br />
g r a n d e s<br />
centros urbanos<br />
ainda predomina<br />
no Brasil o padrão<br />
S500, sendo que os motores<br />
a diesel mais modernos,<br />
como os que equipam carros<br />
na Europa, têm filtros<br />
que só funcionam bem com<br />
o S10.<br />
“E ainda tem gente<br />
O impedimento a comercializar<br />
diesel para veículos<br />
leves, no Brasil, não tem,<br />
contudo, origem no combate<br />
à poluição do ar. A restrição,<br />
que data dos anos<br />
1970, serve para limitar a<br />
importação desse combustível<br />
e manter seu subsídio<br />
para os transportes coletivos<br />
e de carga.<br />
Se faz bem para a saúde<br />
dos brasileiros, para que então<br />
mudar a regra? Só para<br />
ficar mais parecido com a<br />
Europa?<br />
aqui no Brasil achando<br />
que devemos seguir<br />
o exemplo alemão.”<br />
Na realidade,<br />
até os europeus<br />
já estão<br />
r e v e n d o<br />
suas políticas<br />
perm<br />
i s s i v a s<br />
com o diesel<br />
em carros<br />
de passeio.<br />
E não<br />
é só por<br />
causa dos<br />
trambiques<br />
para passar<br />
nos testes de<br />
emissão que<br />
vieram à tona com<br />
o escândalo da Volkswagen,<br />
mas por causa da poluição.<br />
O diário "Frankfurter<br />
Rundschau" trouxe uma reportagem<br />
apontando a Alemanha<br />
- sim, ela, a pátria do<br />
Partido Verde - como a<br />
campeã do continente em<br />
emporcalhamento do ar. E<br />
pôs a culpa no diesel.<br />
A Comissão Europeia tem<br />
dois processos contra o governo<br />
alemão por desrespeito<br />
aos limites de emissão<br />
de particulado fino e de dióxido<br />
de nitrogênio. No segundo<br />
caso, o limite europeu<br />
de 40 microgramas<br />
por metro cúbico de ar vem<br />
sendo ultrapassado em 29%<br />
de todas as estações medidoras<br />
no país de Angela<br />
Merkel.<br />
No caso do material particulado<br />
fino, são poucas as<br />
estações em que o teto europeu<br />
termina superado,<br />
como em Stuttgart e Leipzig.<br />
Mas só porque o padrão<br />
na UE é menos exigente<br />
que o recomendado<br />
pela Organização Mundial<br />
da Saúde, explica o jornalista<br />
Frank-Thomas Wenzel;<br />
valesse o critério da OMS,<br />
96% das estações alemãs<br />
estariam medindo níveis excessivos.<br />
O preço da poluição do ar,<br />
aqui como lá, é pago em<br />
mortes precoces, sobretudo<br />
por problemas cardiovasculares,<br />
como infartos e derrames.<br />
A OMS calculou que o<br />
custo econômico desses<br />
óbitos para a Alemanha, em<br />
2010, havia sido de US$<br />
145 bilhões, segundo o<br />
"Rundschau".<br />
E ainda tem gente aqui no<br />
Brasil achando que devemos<br />
seguir o exemplo alemão.<br />
(*) Marcelo Leite é reporter<br />
especial da Folha de<br />
S.Paulo, colunista e autor<br />
de vários livros.<br />
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<strong>Julho</strong> <strong>2016</strong> - <strong>Jornal</strong> <strong>Paraná</strong>