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livro_narrativa_policial
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apenas observam e examinam os indícios deixados pelo<br />
assassino, não realizando nenhum tipo de ação fora dos<br />
limites da racionalização lógica. O relato da investigação<br />
geralmente fica a cargo de um companheiro do detetive,<br />
como, por exemplo, o Dr. Watson que narra as aventuras<br />
do mais famoso detetive de ficção Sherlock Holmes, que só<br />
apareceria nos fins do século XIX. Nesse tipo de narrativa,<br />
o enredo se arma com base em cenas progressivas de<br />
suspense que desencadearão, ao final, na descoberta do<br />
criminoso. Durante a investigação, porém, nada que ponha<br />
em risco a integridade física do detetive poderá acontecer.<br />
Esta é uma das regras do gênero que postula a imunidade<br />
do detetive. Uma vez que os personagens nesse momento<br />
não agem, mas tiram conclusões sobre uma ação passada, a<br />
narrativa é elaborada em forma de memória, diminuindo,<br />
em princípio, as possibilidades do detetive ser atacado ou<br />
morrer no desenrolar da estória. A estrutura básica de todo<br />
romance de enigma clássico serão essas características de<br />
cada uma das duas estórias, estrutura esta que enfatizará,<br />
não o crime da primeira estória, mas a forma de investigação<br />
do detetive sobre a ação passada e a forma de condução do<br />
inquérito da segunda estória. (2005, p.38)<br />
Verissimo segue algumas dessas premissas. No entanto, como<br />
escritor pós-moderno, e ainda de acordo com o caráter de sua obra como<br />
um todo, irá satirizar muitos desses clichês policialescos. Ele rompe com<br />
os limites de racionalização lógica, na medida em que, por meio do riso,<br />
os personagens espiões irão se meter nas maiores trapalhadas já vistas em<br />
romances dessa categoria. Como já fora dito, o relato da investigação fica<br />
a cargo do agente secreto, que será principal na trama em que os detetives<br />
são postos em segundo plano.<br />
Apesar disso, podemos verificar o âmago da tradição dos livros<br />
policiais, mesmo que por meio da profanação – que aqui obviamente se<br />
faz de modo positivo, tal qual a indicada por Agamben, segundo o qual<br />
“profanar não significa apenas abolir e cancelar as separações, mas aprender<br />
a fazer delas um uso novo, a brincar com elas” (2007, p.34). Aliás, o impulso<br />
< sumário<br />
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