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livro_narrativa_policial
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De repente ocorre a Blue que não pode mais se fiar nos<br />
velhos procedimentos. Pistas, averiguações, a rotina de uma<br />
investigação – nada disso vai importar daqui para frente.<br />
Mas então, quando tenta imaginar o que vai substituir essas<br />
coisas, não consegue chegar a lugar nenhum (Auster,<br />
2004, p.163)<br />
Em Fantasmas, no decorrer do caso Black, Blue se dá conta de que<br />
a escrita, possibilidade de contato com a subjetividade, é de difícil acesso,<br />
pois as palavras já não podem ser concebidas como janelas transparentes<br />
a ligar o interior do sujeito ao exterior; os significantes e significados<br />
apresentam-se desconectados, já não traduzem de maneira límpida e<br />
eficiente os pensamentos daquele que escreve.<br />
Derivados dos romances de detetive, os romances de espionagem<br />
são, poderíamos dizer, sua contrapartida pública, quando é toda uma<br />
sociedade, e não apenas um homem, que precisa ser vigiada. Em seu livro<br />
La fiesta vigilada (2007), o escritor cubano Antonio José Ponte, ao analisar<br />
o romance Nosso homem em Havana (1958), de Graham Greene, traça<br />
paralelos entre o trabalho do espião e do ficcionista, pois o personagem<br />
de Greene, Wormold, sem qualquer treinamento, ou escrúpulos, escreve<br />
relatórios ficcionais sobre figuras desimportantes com as quais tem<br />
contato em Havana.<br />
Sem fatos aos quais se ater, Blue, de modo semelhante a Wormold,<br />
começa a inventar histórias possíveis que expliquem o caso. Quando<br />
vai escrever seu relatório semanal, pensa na possibilidade de incluir as<br />
histórias que criou para si mesmo,<br />
(...) mas Blue muda de ideia, percebendo que essas histórias<br />
na verdade nada têm a ver com Black. Afinal, isto não é a<br />
história da minha vida, diz ele. Tenho de escrever sobre ele,<br />
e não sobre mim mesmo (Auster, 2004, p.164)<br />
< sumário<br />
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