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livro_narrativa_policial

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mulher estava vendo televisão, um filme colorido, dublado.<br />

Hoje você demorou mais. Estava muito nervoso, ela disse.<br />

Estava. Mas já passou. Agora vou dormir. Amanhã vou ter<br />

um dia terrível na companhia. (FONSECA, 1994, p.402)<br />

Célia Pedrosa, em um dos primeiros estudos acadêmicos sobre a<br />

obra de Rubem Fonseca, trabalha com o conceito de “hiper-realismo” e<br />

destaca o fato de que a agressão assim como o sexo, na medida em que se<br />

tornam exacerbados e presentes em situações imprevistas, funcionando<br />

mesmo como espetáculo ou jogo, são colocados como válvula de escape.<br />

Em função disso, as personagens, que podem ser enquadradas em função<br />

de estereótipos sociais normalmente opostos – a alta burguesia, a classe<br />

média e o proletariado – tornam-se equivalentes (PEDROSA, 1977).<br />

As histórias de sexo e violência sem nenhuma postura crítica aparente<br />

sucedem-se no mesmo nível da literatura de massa vendida em qualquer<br />

livraria, supermercado ou banca de jornal. Parece haver uma intenção<br />

em acentuar essa semelhança. Por trás da aparente alienação, contudo,<br />

constata-se a existência de uma conotação crítica silenciosa, como se as<br />

lentes da arte possibilitassem às retinas fatigadas visualizar contornos<br />

distintos nos fragmentos cotidianos.<br />

Ao nos determos em uma produção mais recente, o romance O<br />

seminarista, publicado em 2009, logo nas primeiras páginas, o leitor<br />

se vê diante de uma sequência de crimes executados e narrados em<br />

ritmo frenético por um matador profissional, José, que se prepara para<br />

se aposentar e levar uma vida pacata. Flávio Carneiro, em texto sobre<br />

romance de Marçal Aquino, faz uma comparação que é bastante pertinente<br />

para tratar do livro de Rubem Fonseca:<br />

(...) este início abrupto está perfeitamente de acordo com<br />

o que será narrado. O efeito é o de literalmente invadir a<br />

página em branco que o leitor tem em mãos, o que equivale<br />

a invadir sua imaginação sem pedir licença e aí se instalar<br />

< sumário<br />

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