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livro_narrativa_policial
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submundo expresso metaforicamente ou não, onde se põe a nu a hipocrisia<br />
dos valores que regem os relacionamentos em nossas sociedades burguesas:<br />
o dinheiro, a prostituição, o crime, as diferentes formas de violência.<br />
O viés recepcional ajuda a entender o porquê de o romance noir<br />
não ter substituído o romance de enigma e, consequentemente, ambos<br />
continuarem convivendo no século XXI. É que esses dois tipos de<br />
narrativas se destinam a leituras distintas. O romance de enigma atua no<br />
campo do raciocínio quase matemático de superdetetives que, a partir da<br />
soma de muitas pistas, revelam à plateia o culpado, enquanto o romance<br />
noir atua na esfera de uma percepção crítica do mundo que nos cerca.<br />
É justamente desse modelo de romance policial que se aproximam as<br />
narrativas de Rubem Fonseca.<br />
Em entrevista concedida nos anos 70, o próprio escritor afirma que:<br />
A verdade do escritor é instintiva. Daí a sua vantagem sobre o<br />
cientista, porque ele tem essa visão que não está comprometida<br />
com nenhuma fórmula. O escritor pode dar-se ao luxo de usar<br />
o seu instinto e, graças a isso, acaba prevendo a ação latente<br />
de forças subterrâneas não pressentidas pela maioria. (Rubem<br />
Fonseca apud VISÃO, 1975, p.35)<br />
Como salienta Vera Lúcia Follain de Figueiredo, em seu livro Os<br />
crimes do texto e a ficção contemporânea, diante da descrença numa<br />
história capaz de reconciliar o homem e o mundo, o romance policial,<br />
bem como a autobiografia e o romance histórico, constituem subgêneros<br />
retomados na contemporaneidade com o objetivo de apontar como:<br />
(i)lusórias as certezas sobre as quais eles se erigiam: a de<br />
um mundo ordenado e transparente, a da unidade coerente<br />
do eu e a do sentido teleológico da trajetória do homem.<br />
Chama-se atenção para o fato de veicularem um “discurso<br />
da verdade” autoritário e excludente. (2003, p.86)<br />
< sumário<br />
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