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Biomas do Brasil: da exploração à convivência<br />
e à mãe da vida, a Terra, do que às empresas? Não controlam ou proíbem<br />
nem empresas que criam camarões em áreas próximas ao mar, e modificam,<br />
contaminam e estragam o ambiente. Na verdade, Laura, muitos brasileiros<br />
e brasileiras têm responsabilidade pelos estragos feitos nas praias,<br />
nos mangues, nas falésias. Por quê? Primeiro, pelo seu desejo de fazer casas<br />
de veraneio o mais próximo possível do mar, e pelo valor que se dá aos<br />
hotéis que estão quase dentro das praias. Além disso, por jogar ou deixarem<br />
jogar esgoto diretamente no mar, passando pelas praias, sem qualquer<br />
tratamento ou cuidado. Em segundo lugar, cabe aos cidadãos e cidadãs a<br />
responsabilidade pela eleição de autoridades comprometidas com esse<br />
progresso agressivo. Tudo somado, sabe?, antes se foi a floresta da Mata<br />
Atlântica, e agora está em perigo a riqueza da biodiversidade das áreas próximas<br />
ao mar e rios, bem como a biodiversidade marinha.<br />
— Permita-me fazer uma pergunta mais — atalhou Lucas: ainda<br />
existem os povos caiçaras, que você lembrou há pouco? Na verdade, quais<br />
são os povos da Zona Costeira?<br />
— Existem, sim, Lucas. Creio que o melhor é falar do “povo caiçara”,<br />
formado por comunidades existentes no litoral de São Paulo, Rio de Janeiro<br />
e Paraná, desde o século XVI. De origem Tupi, essa palavra denominava as<br />
famílias que viviam da pesca e tinham moradias protegidas por caiçaras<br />
— “cerca de varas”. Constituíram-se a partir da convivência de índios que<br />
sobreviveram ao massacre fugindo para longe das vilas e cidades, de brancos<br />
portugueses que, por muitos motivos, se juntaram a eles, e de negros<br />
que fugiram da escravidão. Pode-se dizer que são constituídas por pessoas<br />
que resistiram à profunda e violenta discriminação e exploração praticada<br />
pelos colonizadores. Vivem perto do mar, em lugares isolados, tanto que<br />
muitas delas só tiveram maior contato com a sociedade dominante nas<br />
últimas décadas; antes disso, mantinham contatos esporádicos, evitando a<br />
entrada de estranhos.<br />
Tornaram-se mais conhecidas quando resistiram ao avanço de projetos<br />
de turismo. Aos poucos, tomaram consciência de seus direitos e exigiram<br />
que fossem respeitados. O mais complicado desses direitos sempre foi<br />
o do “território da comunidade”, que incluía a área das moradias, as roças<br />
e o contato com o mar através das praias. Por suas características de boa<br />
convivência com o bioma, sua cultura passou a ser estudada, e isso possibi-<br />
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