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Biomas do Brasil: da exploração à convivência<br />
“Peixe-boi” Francisco, com tristeza na voz. Somos um dos animais mais<br />
ameaçados de extinção, mesmo sendo um quase símbolo da Amazônia.<br />
Acho que isso se deve às manias das pessoas: para elas, tudo que serve para<br />
enriquecer deve ser utilizado; no meu caso, buscam carne e couro. Como<br />
sou meio lento, pesadão, pacífico, é fácil me apanhar. Só que, às vezes, me<br />
vejo tendo sentimentos de vingança em relação aos meus matadores – na<br />
hora que escuto que as coisas não vão bem nem na Amazônia para os seres<br />
humanos e para todos os seres vivos; ouço dizer que o pessoal anda<br />
com medo de seca por aqui, e que isso vai aumentando na medida em que<br />
o desmatamento avança. Se isso acontecer, nós e todos que vivemos nas<br />
e das águas seremos os primeiros a sofrer. Já começam a contaminar as<br />
águas dos rios, de modo especial nas áreas em que a criação de gado e a<br />
agricultura chegam perto das margens; perto dos portos e onde há indústrias,<br />
já não dá pra viver.<br />
— E eu, então, o que acontecerá comigo?! — exclamou a “onça pintada”<br />
Ana. Se a vontade e a ação dos grupos econômicos vencerem, a floresta<br />
desaparecerá. Onde poderei viver? Matam-nos por causa do medo criado<br />
com as estórias de que somos violentas, selvagens; matam também porque<br />
nos acham lindas, e querem vender casacos e outros objetos feitos com<br />
nossa pele. Não nos deixam viver na floresta e menos ainda quando, pela<br />
falta de floresta e alimento por lá, nos vemos forçadas a buscar alimento<br />
nas criações das fazendas. Então, por enquanto, só conseguimos viver e ter<br />
filhotes se nos embrenhamos na floresta ainda não tocada pela mão humana.<br />
Mas, pelo visto, isso tem lá seus dias contados.<br />
— Decidi ser o último a dizer como me sinto na Amazônia —, começou<br />
o “uirapuru” Lucas. Eu não reparo, porque me concentro na alegria<br />
de cantar, mas ouço comentários que os outros animais da floresta param<br />
para ouvir o meu canto. Fico um pouco envaidecido, mas também sinto desejo<br />
de cantar ainda mais bonito, só pra deixar a mim e aos outros alegres.<br />
Mas isso também pode chegar ao fim, e por causa de presença ameaçadora<br />
dos seres humanos. Não adianta eles me elogiarem e, ao mesmo tempo,<br />
acabarem com o ambiente que me faz feliz e me leva a cantar. Não cantarei<br />
em gaiolas nem em zoológicos! Morrerei de tristeza quando não houver<br />
mais o bom ambiente da floresta! E é isto que acontecerá com a maioria<br />
dos seres vivos da Amazônia. Só uns poucos terão força e capacidade de,<br />
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