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Biomas do Brasil: da exploração à convivência<br />
isso, precisam de muita água, muitos produtos químicos; finalmente, não<br />
dizem quem é que realmente ganha com esse tipo de agronegócio. Já se<br />
sabia que o solo do Semiárido, tendo água, é altamente produtivo, especialmente<br />
de frutas; e que as frutas, por causa do sol, são muito ricas em<br />
nutrientes e saborosas. Agora, fazer uma irrigação que gasta grande quantidade<br />
de água, com técnicas que facilitam a evaporação, e com uso de produtos<br />
químicos que contaminam a fruta, o solo e o próprio rio, para onde<br />
volta parte da água utilizada, usar plantas exóticas, estranhas ao ambiente,<br />
que precisam de muita água e muitos cuidados de apoio, e, por fim, montar<br />
uma produção toda voltada para a exportação: tudo isso, certamente, não<br />
tem a ver com o enfrentamento dos problemas e com a criação de condições<br />
favoráveis ao bem viver da população sertaneja. Tem a ver, sim, uma<br />
vez mais, com aumento de poder dos grupos econômicos, tradicionais ou<br />
modernos, que continuam usando a Caatinga para seu enriquecimento. A<br />
prova disso é que, enquanto a “economia” do Nordeste cresce a taxas mais<br />
altas do que as outras regiões do país, a maior parte da população não sai<br />
da situação de pobreza e miséria.<br />
Por isso tudo, a irrigação deve fazer parte do pacote de alternativas.<br />
Mas deve ser bem pensada, para que não aumente a fragilidade da Caatinga,<br />
e favoreça a melhoria das condições de vida do povo da região.<br />
— Tenho escutado que haveria muita água subterrânea no Piauí, que<br />
é uma das regiões que mais sofre com a falta de água. Isso tem fundamento?<br />
— É verdade, Lucas. Nisso, o Piauí é diferente do resto da Caatinga. Só<br />
que, até agora, poucos projetos têm colocado essa água a serviço do povo.<br />
A maior parte vai servindo aos grandes projetos ou é desperdiçada. Mas é<br />
preciso lembrar, sempre, que a água do subsolo só deve ser utilizada como<br />
complementação, para evitar que os lençóis de água se afastem do solo,<br />
aumentando o risco de desertificação. O melhor é coletar e guardar bem<br />
a água da chuva, evitando a evaporação; entre os projetos da ASA, há um<br />
que é denominado P1+2 - Projeto 1 Terra e 2 Águas. Em outras palavras, o<br />
projeto começa com a conquista e garantia da terra para a família ou para<br />
a comunidade, segue com uma primeira água para cada família comer e<br />
beber, e completa-se com uma segunda água, essa destinada ao cultivo de<br />
alimentos e criação de pequenos animais para a família. Por isso, a primeira<br />
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