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aras exceções, não parecem interessados<br />
em avaliar o trabalho do dia a dia<br />
nas redações. Caso houvesse esse cuidado,<br />
todos atentariam, por exemplo, ao<br />
princípio de que os textos jornalísticos,<br />
mesmo os dirigidos ao público jovem,<br />
não podem ser excessivamente coloquiais,<br />
pontilhados de palavras e expressões<br />
inventadas e que, em sua maioria,<br />
não dizem coisa nenhuma.<br />
Pior ainda é justificar o descaso às normas<br />
fundamentais do idioma com a explicação<br />
simplista – principalmente do rádio<br />
e da televisão – de assim o povo fala e entende.<br />
Trata-se de posição cômoda, que libera<br />
os profissionais de buscarem a permanente<br />
reciclagem de conhecimento do<br />
nosso idioma. As empresas, por sua vez,<br />
ficam livres de investir em cursos com<br />
essa finalidade.<br />
Conformadas com essa situação, as<br />
empresas fogem do compromisso de,<br />
além de informar e entreter, apresentar<br />
corretamente a informação.<br />
ÔNIBUS ASSASSINO - “Ônibus cai em precipício<br />
no interior de Pernambuco e<br />
mata quatro pessoas”, informou o apresentador<br />
de uma rádio. Imaginei quatro<br />
pessoas “de bobeira”, no fundo daquele<br />
precipício. Estavam caminhando calmamente<br />
lá embaixo e, de repente, um ônibus<br />
caiu sobre elas.<br />
As pessoas que não acompanharam<br />
até o fim a apresentação do noticiário, e<br />
no dia seguinte não leram o texto integral<br />
sobre o acidente, talvez ainda se perguntem<br />
por que os quatro se aventuraram a<br />
explorar aquele buracão no município de<br />
Verdejantes, arriscando-se a ser esmagados<br />
por algum ônibus, o que acabou<br />
acontecendo. Culpa dos redatores, que<br />
não questionam os velhos modelos de<br />
produção de título e de redação das matérias.<br />
Por que não escrever simplesmente<br />
que o ônibus caiu no precipício e<br />
quatro passageiros morreram? Foi isso<br />
que aconteceu.<br />
Transmitir a informação exata, para evitar<br />
interpretações dúbias, devia ser a regra.<br />
Mas parece que não é, e acredito que<br />
até os meus últimos dias estranharei esses<br />
equívocos em textos de jornais, telejornais<br />
e radiojornais.<br />
Conhecer o significado dos verbos é de<br />
fundamental importância. Embora os jornais,<br />
o rádio e a TV possam informar que<br />
o tomate sofreu aumentos abusivos na entressafra,<br />
qualquer leitor sabe que, também<br />
nesse caso, quem sofre são os consumidores<br />
de tomate e dos produtos à<br />
base desse legume.<br />
Sofrem os leitores, que esperam encontrar<br />
no noticiário as palavras em seu<br />
sentido exato, registrado nos dicionários.<br />
Às vezes, a notícia é agradável, mas o<br />
verbo inadequado tira um pouco do seu<br />
sabor: “O curso de vinhos do enófilo Fulano<br />
acontece mais uma vez, hoje, às 19<br />
horas, em tal local”. No entanto, um<br />
acontecimento é algo não previsto, improvável,<br />
uma surpresa. Já o curso do<br />
enófilo estava programado, seria realizado<br />
em local e horário definidos com<br />
alguma antecedência. Portanto, não<br />
aconteceria e não aconteceu. Foi realizado<br />
e espera-se que os participantes se<br />
lembrem com alegria dos sabores e aromas<br />
experimentados na ocasião.<br />
Na manhã de 24 de janeiro de <strong>2017</strong>, a<br />
repórter de uma rádio mineira de grande<br />
audiência informou, de Brasília, que naquele<br />
dia representantes do governo federal<br />
iam sentar na mesa com o governador<br />
Pezão, do Rio de Janeiro, para debaterem<br />
a dívida fiscal do Estado.<br />
Tudo indica que a mesa suportou o<br />
peso do grupo.<br />
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