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Matéria Prima 92 - AGOSTO 2017- WEB

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aras exceções, não parecem interessados<br />

em avaliar o trabalho do dia a dia<br />

nas redações. Caso houvesse esse cuidado,<br />

todos atentariam, por exemplo, ao<br />

princípio de que os textos jornalísticos,<br />

mesmo os dirigidos ao público jovem,<br />

não podem ser excessivamente coloquiais,<br />

pontilhados de palavras e expressões<br />

inventadas e que, em sua maioria,<br />

não dizem coisa nenhuma.<br />

Pior ainda é justificar o descaso às normas<br />

fundamentais do idioma com a explicação<br />

simplista – principalmente do rádio<br />

e da televisão – de assim o povo fala e entende.<br />

Trata-se de posição cômoda, que libera<br />

os profissionais de buscarem a permanente<br />

reciclagem de conhecimento do<br />

nosso idioma. As empresas, por sua vez,<br />

ficam livres de investir em cursos com<br />

essa finalidade.<br />

Conformadas com essa situação, as<br />

empresas fogem do compromisso de,<br />

além de informar e entreter, apresentar<br />

corretamente a informação.<br />

ÔNIBUS ASSASSINO - “Ônibus cai em precipício<br />

no interior de Pernambuco e<br />

mata quatro pessoas”, informou o apresentador<br />

de uma rádio. Imaginei quatro<br />

pessoas “de bobeira”, no fundo daquele<br />

precipício. Estavam caminhando calmamente<br />

lá embaixo e, de repente, um ônibus<br />

caiu sobre elas.<br />

As pessoas que não acompanharam<br />

até o fim a apresentação do noticiário, e<br />

no dia seguinte não leram o texto integral<br />

sobre o acidente, talvez ainda se perguntem<br />

por que os quatro se aventuraram a<br />

explorar aquele buracão no município de<br />

Verdejantes, arriscando-se a ser esmagados<br />

por algum ônibus, o que acabou<br />

acontecendo. Culpa dos redatores, que<br />

não questionam os velhos modelos de<br />

produção de título e de redação das matérias.<br />

Por que não escrever simplesmente<br />

que o ônibus caiu no precipício e<br />

quatro passageiros morreram? Foi isso<br />

que aconteceu.<br />

Transmitir a informação exata, para evitar<br />

interpretações dúbias, devia ser a regra.<br />

Mas parece que não é, e acredito que<br />

até os meus últimos dias estranharei esses<br />

equívocos em textos de jornais, telejornais<br />

e radiojornais.<br />

Conhecer o significado dos verbos é de<br />

fundamental importância. Embora os jornais,<br />

o rádio e a TV possam informar que<br />

o tomate sofreu aumentos abusivos na entressafra,<br />

qualquer leitor sabe que, também<br />

nesse caso, quem sofre são os consumidores<br />

de tomate e dos produtos à<br />

base desse legume.<br />

Sofrem os leitores, que esperam encontrar<br />

no noticiário as palavras em seu<br />

sentido exato, registrado nos dicionários.<br />

Às vezes, a notícia é agradável, mas o<br />

verbo inadequado tira um pouco do seu<br />

sabor: “O curso de vinhos do enófilo Fulano<br />

acontece mais uma vez, hoje, às 19<br />

horas, em tal local”. No entanto, um<br />

acontecimento é algo não previsto, improvável,<br />

uma surpresa. Já o curso do<br />

enófilo estava programado, seria realizado<br />

em local e horário definidos com<br />

alguma antecedência. Portanto, não<br />

aconteceria e não aconteceu. Foi realizado<br />

e espera-se que os participantes se<br />

lembrem com alegria dos sabores e aromas<br />

experimentados na ocasião.<br />

Na manhã de 24 de janeiro de <strong>2017</strong>, a<br />

repórter de uma rádio mineira de grande<br />

audiência informou, de Brasília, que naquele<br />

dia representantes do governo federal<br />

iam sentar na mesa com o governador<br />

Pezão, do Rio de Janeiro, para debaterem<br />

a dívida fiscal do Estado.<br />

Tudo indica que a mesa suportou o<br />

peso do grupo.<br />

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