revista cruzilia
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especial<br />
Sul<br />
A heroica<br />
de<br />
marcha<br />
Minas<br />
do<br />
O CAVALO E O POETA<br />
O poeta Guilherme de Almeida, em dia<br />
de tocante inspiração, descreveu a intimidade<br />
do cavalo com o homem de forma<br />
lúcida, candente e primorosa. Eis aqui<br />
como as palavras, usadas com propriedade<br />
e carregadas de talento literário, puderam<br />
definir o animal que sempre esteve a serviço<br />
da humanidade. Divulgo-as em homenagem<br />
aos amigos que criam e àqueles que<br />
costumam cavalgar ou apreciar, mesmo de<br />
longe, o belo animal que é o cavalo.<br />
“No seu elevado sonho ou na sua mais<br />
tresloucada fantasia, não foram ainda capazes<br />
os homens de inventar um atributo<br />
que lhes desse maior nobreza que a figura<br />
esbelta e fogosa do cavalo. Divino na mitologia,<br />
belo na arte, heroico na guerra,<br />
robusto no trabalho, elegante no esporte,<br />
ele transmite ao homem, que o doma e<br />
conduz, precisamente aquela convicção de<br />
superioridade que a sua vaidade reclama e<br />
que nem as árvores genealógicas, nem os<br />
brasões com seu elmo, sua coroa, seus<br />
metais, seus esmaltes, seus tenentes e seu<br />
mote conseguem despertar: cavalo, nobreza<br />
do homem”.<br />
Os que apreciam a beleza e a utilidade do<br />
cavalo percebam como a sonoridade das palavras<br />
se ajustou ao som dos passos desta magnífica<br />
obra de arte criada pela Mãe Natureza<br />
para que o homem nela se realizasse.<br />
O CAVALO E O ESTADISTA<br />
Uma das maiores figuras do século XX,<br />
o primeiro-ministro britânico Winston<br />
Leonard Spencer-Churchill, era originalmente<br />
um oficial de cavalaria, formado<br />
pela Real Academia Militar de Sandhurst.<br />
Amava cavalos. Em seu livro Minha<br />
Mocidade, conta:<br />
“Os cavalos eram a minha maior distração<br />
em Sandhurst. Eu e meus camaradas<br />
gastávamos todo o nosso dinheiro alugando<br />
cavalos das excelentes cavalariças locais.<br />
Abríamos com o locador contas a pagar<br />
depois, quando fôssemos promovidos a oficiais.<br />
Organizávamos corridas e até provas<br />
de obstáculos no parque de um amável<br />
vizinho, e cavalgávamos alegremente pelo<br />
campo. Aqui interrompo para oferecer um<br />
conselho aos pais, principalmente aos pais<br />
ricos: Não deem dinheiro a seus filhos. Se<br />
puderem, deem-lhes cavalos. A equitação<br />
nunca arrastou ninguém à desonra.<br />
Nenhuma hora de vida passada numa sela<br />
é perdida.”<br />
O CAVALO E O ESCRITOR<br />
Ele fala de uma égua. Ele é Machado de<br />
Assis, no capítulo XL do seu incrível Dom<br />
Casmurro. O assunto é sua imaginação. Ao<br />
fazê-lo, diz:<br />
“A imaginação foi a companheira de<br />
toda a minha existência, viva, rápida,<br />
inquieta, alguma vez tímida e amiga de<br />
empacar, as mais delas capaz de engolir<br />
campanhas e campanhas, correndo. Creio<br />
haver lido em Tácito que as éguas iberas<br />
concebiam pelo vento; se não foi nele foi<br />
noutro autor mais antigo, que entendeu<br />
guardar essa crendice nos seus livros. Neste<br />
particular, a minha imaginação era uma<br />
grande égua ibera; a menor brisa lhe dava<br />
um potro, que saía logo cavalo de<br />
Alexandre...”.<br />
Tenho certeza de que criar cavalos exige<br />
o uso intenso da imaginação. A decisão de<br />
acasalar há de levar em conta que ventos<br />
usar para poder ver nascerem potros cobiçáveis<br />
pelos Alexandres ligados a este ser<br />
tão excepcional.<br />
O CAVALO MARCHADOR E EU<br />
GUIADO PELA NOBREZA QUE<br />
SÓ ELE GARANTE<br />
Para poder conviver em harmonia com<br />
os gênios, nada melhor que o cavalo, um<br />
indiscutível elo entre as pessoas, um evidente<br />
gerador de amizades. Para juntar-me<br />
a Guilherme de Almeida, Winston<br />
Churchill e Machado de Assis e suas ideias<br />
sobre o nobre animal era preciso espaço e<br />
gente hábil em lidar com ele.<br />
Tudo começou no início dos anos 70,<br />
quando, talvez por incrível manifestação<br />
de atavismo, comprei uma fazenda, a primeira<br />
delas, cortada pela rodovia SP-50, a<br />
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