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ANO 8 Nº 43 - Maio / Junho de 2017

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52 | literatura<br />

®Eduardo Firmo / Agência Estado / AFP<br />

A “Sinfonia da Alvorada” foi<br />

uma obra composta por Tom e<br />

Vinícius, sob encomenda <strong>de</strong> JK<br />

para a inauguração <strong>de</strong> Brasília,<br />

com melodia permeada <strong>de</strong> trechos<br />

inci<strong>de</strong>ntais <strong>de</strong> outras obras<br />

<strong>de</strong> Tom, sendo que o gran finale<br />

traz um trecho <strong>de</strong> coral muito<br />

usado por J.S. Bach.<br />

Na rua Nascimento Silva,<br />

on<strong>de</strong> morava, Tom vislumbrava<br />

<strong>de</strong> sua sacada o Corcovado, o Re<strong>de</strong>ntor...<br />

Surge aí a pictórica “Corcovado”,<br />

que seria gravada por<br />

vários cantores brasileiros e também<br />

por Johnny Mathis, Tony<br />

Bennett, Doris Day, Perry Como e<br />

Nancy Wilson.<br />

“Samba <strong>de</strong> uma nota só”<br />

emergiu após cinco anos <strong>de</strong><br />

construção, numa obra <strong>de</strong> Tom e<br />

Newton Mendonça, e se tornou a<br />

segunda música brasileira mais<br />

conhecida no mundo.<br />

Em 1961 é lançado nos EUA o<br />

álbum Brazil’s brilliant João Gilberto.<br />

Em abril <strong>de</strong> 1962, foi a vez<br />

<strong>de</strong> um LP Jazz samba, com a versão<br />

instrumental <strong>de</strong> “Desafinado”<br />

por Stan Getz e Charlie Byrd, que<br />

ven<strong>de</strong>u um milhão <strong>de</strong> cópias. A<br />

bossa nova estava plantada na<br />

terra <strong>de</strong> Tio Sam e se consagrou,<br />

no final daquele ano, com o lendário<br />

espetáculo do Carnegie<br />

Hall, <strong>de</strong>sorganizado, mas profícuo.<br />

E o ano <strong>de</strong> 1962 terminou<br />

com “Garota <strong>de</strong> Ipanema”, a canção<br />

brasileira mais executada no<br />

mundo, feita numa mesa <strong>de</strong> bar<br />

<strong>de</strong>sse mesmo bairro, on<strong>de</strong> uma<br />

normalista por ali passava, vindo<br />

do colégio, para <strong>de</strong>pois voltar <strong>de</strong><br />

maiô em direção ao mar.<br />

Certa vez, numa festa, havia<br />

uma moça que se negava a dançar<br />

twist, tcha tcha tcha, e então,<br />

ela disse em alto e bom tom: só<br />

danço samba! Foi o mote para que<br />

Tom e Vinicius construíssem “Só<br />

danço samba”.<br />

Francis Albert Sinatra & Antônio<br />

Carlos Jobim é o título do<br />

disco gravado por ambos após<br />

Sinatra tê-lo chamado aos EUA<br />

para trabalharem juntos. Com<br />

certeza, um dos melhores álbuns<br />

da história da música popular do<br />

século XX.<br />

Em 1967, Tom Jobim compõe<br />

sozinho “Wave” e “Triste”, esta<br />

última elaborada em uma tar<strong>de</strong><br />

na Califórnia. “Retrato em branco<br />

e preto” marca o início <strong>de</strong> uma<br />

parceria proficiente entre Tom<br />

e Chico. Reza a lenda que Tom,<br />

<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> receber a letra pronta,<br />

questionou Chico sobre o porquê<br />

<strong>de</strong> retrato em preto e branco e<br />

não em branco e preto? Ao que<br />

Chico respon<strong>de</strong>u: então terei que<br />

mudar para “vou colecionar mais<br />

um tamanco, outro retrato em<br />

[...]”. Bem, o resto todos sabem.<br />

Porém, a primeira vaia estava<br />

por vir, e veio com “Sabiá”, composição<br />

<strong>de</strong> câmara, muito elaborada,<br />

feita em parceria com Chico,<br />

com a qual ganharam o festival<br />

sob os apupos da plateia, que queria<br />

uma música engajada por causa<br />

do momento político vivido.<br />

Ainda que tivesse recusado<br />

propostas importantes para<br />

musicar filmes, Tom finalmente<br />

aceitou compor a trilha <strong>de</strong> The<br />

adventures, baseado em um romance<br />

<strong>de</strong> Harold Robbins. Surgiam<br />

daí “Chovendo na roseira”<br />

e “Olha Maria”, esta última com<br />

letra <strong>de</strong> Chico e Vinicius.<br />

A canção “Matita Perê” <strong>de</strong>ulhe<br />

um trabalho enorme, pois não<br />

conseguia terminá-la. Ao tempo<br />

<strong>de</strong> sua construção, num dia<br />

chuvoso em Poço Fundo, em seu<br />

rancho, Tom <strong>de</strong>dilhou as primeiras<br />

notas <strong>de</strong> “Águas <strong>de</strong> março”,<br />

cuja letra foi feita em um papel<br />

<strong>de</strong> embrulho. E “Matita Perê” se<br />

refere a um pássaro que gosta do<br />

ermo, que no verão canta à noite<br />

e tem o po<strong>de</strong>r mágico <strong>de</strong> sumir <strong>de</strong><br />

on<strong>de</strong> está seu pio. A música é então<br />

terminada com letra <strong>de</strong> Paulo<br />

César Pinheiro, citações <strong>de</strong> Mário<br />

Palmério, Drummond e Guimarães<br />

Rosa, constituindo o tema<br />

principal do filme Sagarana, <strong>de</strong><br />

Paulo Thiago.<br />

Suspeita-se que “Ligia” tenha<br />

sido escrita para a mulher<br />

<strong>de</strong> Fernando Sabino, que tem o<br />

mesmo nome. Já “Ana Luiza” foi<br />

consi<strong>de</strong>rada uma canção premonitória<br />

no dizer <strong>de</strong> Tom, que teve<br />

inspiração no Antonio’s, quando<br />

lá chegou uma moça linda, alta,<br />

homônima. Premonitória, pois se<br />

casou com Ana e teve uma filha<br />

chamada Luiza.<br />

Logo <strong>de</strong>pois, dois bicudos se<br />

bicaram, Tom e Elis, em Los Angeles,<br />

on<strong>de</strong> o primeiro morava, e<br />

iniciaram um projeto <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ado<br />

pela Philips, para comemorar<br />

os <strong>de</strong>z anos <strong>de</strong> carreira<br />

da inesquecível pimentinha, que<br />

resultou num dos melhores momentos<br />

da música popular, e os<br />

dois, mesmo às turras, enten<strong>de</strong>ram-se<br />

maravilhosamente bem.<br />

Tom com sua verve ecológica<br />

lança um disco que recebeu o título<br />

<strong>de</strong> “Urubu”, ave que vive em<br />

meios inóspitos, sobrevivendo <strong>de</strong><br />

restos mortais <strong>de</strong> animais. Nada<br />

mais que Antonio Carlos Jobim.<br />

Nele, estão as composições “O<br />

Boto”, “Correnteza”, “Ângela”, “Lígia”,<br />

“Sauda<strong>de</strong>s do Brasil”, “Valse”,<br />

“Arquitetura <strong>de</strong> morar” e o “O<br />

Homem”. Por incrível que pareça,<br />

a começar do título, esse é o trabalho<br />

mais erudito <strong>de</strong> Tom.<br />

“Falando <strong>de</strong> amor”, que este<br />

resenhista reputa como a mais<br />

bela do cancioneiro popular brasileiro,<br />

foi <strong>de</strong>dicada a sua mulher,<br />

Ana Lontra Jobim.<br />

Tom e Sinatra novamente...<br />

Sinatra estava em temporada<br />

no Carnegie Hall, com todos<br />

Coletiva | maio • junho/<strong>2017</strong>

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