Revista Penha | dezembro 2017
O que acontece, quem são as pessoas que marcam a Freguesia e ainda algumas curiosidades sobre a Penha de França. Uma revista editada pela Junta de Freguesia da Penha de França.
O que acontece, quem são as pessoas que marcam a Freguesia e ainda algumas curiosidades sobre a Penha de França.
Uma revista editada pela Junta de Freguesia da Penha de França.
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EMÍLIA,<br />
ENTRE<br />
FRANJAS E<br />
CORES<br />
"Emília, dá-me lá uma lã preta, para me ir<br />
embora!" pede uma das senhoras que passou<br />
a manhã na PEDRO E A LOJA. "Mas<br />
vais já embora? Fica mais um bocadinho".<br />
É este o espírito da oficina/loja que passa<br />
despercebida na Rua Actor Vale.<br />
O que ali há são tapetes de Arraiolos, muita<br />
lã para os fazer, e o resto da parafernália<br />
associada a este ofício (ou passatempo).<br />
"Vendemos os materiais e fazemos as manutenções:<br />
limpeza, restauro, substituição<br />
das franjas e os acabamentos”, explica EMÍ-<br />
LIA CRISTINA, a proprietária. E que acabamentos<br />
são estes? “Quando alguém acaba<br />
o tapete é preciso esticá-lo, bainhá-lo (fazer<br />
a baínha) e franjá-lo (pôr as franjas)".<br />
Emília ainda faz tapetes, ou melhor,<br />
acaba projetos que alguém<br />
não terminou, porque fazê-los<br />
de raiz é uma atividade que “não<br />
compensa”, diz. “O tapete de Arraiolos<br />
é muito mal pago. Uma<br />
pessoa com experiência que<br />
trabalhe oito horas por dia, cinco<br />
dias por semana, consegue fazer<br />
um metro quadrado num mês e<br />
não chega a receber 300 euros<br />
mensais pelo trabalho, descontando<br />
o valor do material”. A<br />
atividade – os tapetes feitos no<br />
Alentejo, em 100% lã – sobrevive<br />
pelo “trabalho de senhoras reformadas,<br />
que vivem nas aldeias<br />
ou nos montes, e que os fazem<br />
para complementar as reformas<br />
ou para se manter ocupadas”.<br />
Uma situação que “não faz sentido”,<br />
afirma Emília, já que há<br />
quem esteja “disposto a pagar,<br />
sobretudo os estrangeiros – que<br />
me parece que conhecem melhor<br />
o tapete de Arraiolos do que<br />
os portugueses”. E, entre outros,<br />
dá como exemplo a história de<br />
um casal de noruegueses que<br />
foi à sua oficina para comprar<br />
um tapete, depois de encontrarem<br />
a sua página na internet.<br />
Encaminhou-os para uma loja<br />
de confiança.<br />
Enquanto fala, vai trabalhando.<br />
“Vou fazer uma franjinha para<br />
vocês verem, que com a conversa<br />
até se faz mais depressa, e<br />
ainda mais se for a ver um filme<br />
de terror quando chega a parte<br />
do nervoso miudinho", brinca,<br />
sempre divertida. As mãos mexem-se<br />
a uma velocidade impressionante,<br />
“porque o pensar<br />
como se faz já não faz parte do<br />
processo, as mãos fazem quase<br />
por si mesmas”.<br />
Sempre gostou de fazer crochet,<br />
bordados, costura. “Em miúda,<br />
era mais maria rapaz. Também<br />
tinha bonecas, mas só serviam<br />
como manequins para exibir um<br />
enxoval magnífico!". No liceu decidiu<br />
experimentar fazer o ponto<br />
de Arraiolos. “Na altura ainda tínhamos<br />
aulas de lavores e o que<br />
as outras meninas faziam, já eu<br />
sabia fazer, não me dava pica!”.<br />
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