RELICÁRIO quanto vale acultura O que você consegue fazer, em um mês, com a quantia de R$ 50? Texto: Luma Oliveira Foto: Fernanda de Paula <strong>Edição</strong> Gráfica: Marcelo Nahime Jr. 30 cURINGA | EDIÇÃO 9
É interessante ver como o consumo cultural tem crescido em nosso país. Durante muito tempo, o acesso a bens culturais parecia coisa distante e estava restrito apenas a uma parcela da população. Nos anos 2000, as políticas sociais foram, inicialmente, desenvolvidas para a alimentação e transporte, havendo pouca valorização do que chamamos de “alimento para a alma”. Idealizado em 20<strong>09</strong>, pelo governo Lula, e lançado no final de 2013, o Vale-Cultura - primeira política pública governamental focada na cultura - beneficia o trabalhador que possui carteira assinada, proporcionando à ele o acesso a bens culturais a partir de um cartão magnético acumulativo, com o valor de R$50 mensais. A quantia não é grande, mas considerando os custos destes produtos no Brasil, já é alguma coisa. O objetivo ao se criar o Vale foi qualificar os hábitos culturais da população, incorporando ao seu cotidiano novas práticas de lazer e entretenimento. Entretanto, como escolher a melhor forma de gastar os R$50? O Vale pode ser gasto somente com aquilo que o projeto enquadra como serviço ou produto cultural. E é exatamente aí que encontramos o ponto mais polêmico da proposta. Afinal, o que pode ser considerado cultura? De acordo com o estudo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que fundamenta esta política pública, apenas 14% da população brasileira vai ao cinema regularmente, 96% não frequenta museus, 93% nunca foi a uma exposição de arte e 78% nunca assistiu a um espetáculo de dança. É inegável a excelente oportunidade que a iniciativa do governo dará a muitos trabalhadores, promovendo o aumento do acesso a segmentos como teatro, cinema, cursos de música e museus. Todavia, não adianta apenas fornecer dinheiro ao trabalhador para esse tipo de entretenimento. É preciso ampliar a visão cultural do brasileiro fomentandoa desde o ensino básico da educação, dando mais possibilidades de escolha para a sociedade. Fosse isso uma realidade, tantas pessoas que passam a dispor do Vale teriam ideia de como enriquecer o seu uso. Afinal, “a gente não quer só comida. A gente quer comida, diversão e arte!”. 31