identidade Texto: Elis Regina Gonçalves Fotos: Lais Diniz Arte: Aprigio Vilanova Saber os sabores Liandra e Ellen. Duas pré-adolescentes criadas em ambientes distintos: uma da zona rural e a outra do zona urbana. Rotinas parecidas e alimentação nem tanto Segundo a psicóloga Cláudia Itaborahy, “do que se gosta e do que não se gosta vem, primariamente, da experiência”. As teorias do desenvolvimento de aprendizagem, elaboradas pelo filósofo e psicólogo Piaget, apontam que já no primeiro ano de vida muitas das nossas preferências se apresentam e o paladar, ponto inicial de prazer em uma criança (fase oral), se desenvolve desde a amamentação. A princípio, o bebê comerá o que se come em sua casa e na medida em que a vida social se amplia, novos sabores serão experimentados, na escola, na casa de coleguinhas e outros familiares. O gosto se modifica ao longo dos anos e, independente do ambiente de vivência, as experiências sociais somadas a esses gostos determinam os hábitos alimentares.
Liandra Ferreira, 13 anos, filha de Geraldo e Rita de Cássia, nasceu e foi criada na zona rural, no distrito de Santo Antônio do Leite, em Ouro Preto. Num ambiente saudável, sem barulhos nem agitações, vida sossegada, propício à boa alimentação. Nasceu de parto normal e se alimentou do leite materno até os três meses de vida, quando já lhe foram ofertados outros tipos de alimentos: mingau de amido de milho feito com leite de vaca in natura e a partir dos seis meses, comidas variadas, sem restriçoes, com os mesmos temperos utilizados para os adultos da casa. Sempre lhe foi oferecido todo tipo de alimentos, mas desde pequena demonstrava sua preferência por alguns deles. Apesar de ter muitas verduras e legumes fresquinhos, pois sempre teve horta em casa, nunca foi amante. Entre elas, escolheu a couve, mas rejeita quase todos os legumes. É apaixonada por batatas, fritas é claro. Consome vários tipos de frutas, tendo o privilé- gio, por morar na roça, de saborearlas colhidas na hora. Mesmo assim, não é fanática por nenhuma, às vezes as deixa estragar na fruteira preferindo o biscoito ou o pão. Prefere também refrigerante ao suco, e não troca um prato de arroz, feijão e batata frita por um hambúrguer. É apaixonada por doce, puxou ao pai. Se deixar come sem medida, principalmente chocolates. Sua rotina de alimentação talvez não seja muito diferente de outras meninas de sua idade: faz seu desjejum às 6h30, se alimentando com pão e leite com açúcar, às 9h30 faz o lanche na escola, com cardápio de almoço, elaborado por uma nutricionista. Após a aula, no retorno para casa, por volta de 12h30, almoça ou às vezes faz um lanche com pão, biscoito ou o que tiver para comer. Mais à tarde, por volta de 16h, faz outro lanche e janta por volta de 18h ou 19h. Liandra adora praticar esportes e é para o futsal, seu esporte preferido, que ela dedica três tardes de sua semana. Ellen também tem 13 anos. Segunda filha do senhor Carlos e dona Fabrícia Elisabeth de Souza Saquett, têm mais três irmãs. Nasceu em Itabirito onde viveu até o ano passado, quando os pais decidiram mudar para Ouro Preto. Ellen veio ao mundo de parto cesariano, foi alimentada com leite materno até um ano de vida. Depois desse período sua alimentação, comum aos demais da família, era reforçada com mamadeira de amido de milho. Apesar de morar na cidade e não ter horta e nem frutas fresquinhas, desenvolveu hábitos alimentares bastante saudáveis. Desde muito cedo foram oferecidos a ela todos os tipos de alimentos, aceitos sem resistência. Apesar disso, depois de certa idade, talvez por influências, começou a estranhar o sabor do chuchu e do jiló, os únicos legumes que ela recusa atualmente. Gosta muito de refrigerantes, hambúrguer, pizza ou um prato de fritas, mas são alimentos que consome eventualmente. Tem preferência pelos alimentos salgados, nunca foi amante dos doces, mas tem uma inexplicável paixão por chocolates. Se pudesse comeria todos os dias e muito. Sua rotina alimentar diária, não se difere muito do dia a dia de Liandra. Toma café da manhã às 6h00 e às 9h30, faz o lanche da escola, comendo de tudo que lhe é oferecido. No término da aula, já em casa, sempre almoça. No período da tarde, faz um lanche que, na maioria das vezes, é um pão francês e café com leite. À noite, por volta de 19h, faz sua última refeição do dia, também sem restrição de qualquer alimento que sua mãe prepare. Ellen não gosta muito de esportes, se diz preguiçosa para essa prática, participa com dedicação das aulas de Educação Física na escola e nada mais. CURINGA | EDIÇÃO <strong>14</strong> 17