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Revista Curinga Edição 14

Revista Laboratorial do Curso de Graduação em Jornalismo da Universidade Federal de Ouro Preto.

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q u e<br />

s i g n i -<br />

fica mãe da<br />

comida sagrada,<br />

ou mãe do alimento. O<br />

pai de santo, principal sacerdote,<br />

ajuda a orientar as consultas<br />

que têm que ser feitas e a iabassê quem<br />

faz o ritual”, relata Luanda. Ela ainda nos conta<br />

que a mãe cozinheira possui ajudantes para auxiliar a<br />

preparação, todavia, sendo ofertada a comida errada para a<br />

divindade, esse deslize se reflete na comunidade, podendo afetar<br />

até o axé do terreiro.<br />

O cardápio dos orixás é construído através dos mitos. Histórias contadas<br />

dos mais velhos e principais sacerdotes aos mais novos. Isso explica tanto o preparo,<br />

quanto sua oferenda.<br />

Segundo a tradição, com a oferta do alimento, traz-se para a terra o orixá; torna-se o humano<br />

divino e os deuses mais humanos, encontrando-se o contato com o espiritual, transcendental.<br />

Fortalece-se assim o laço entre o misterioso mundo espiritual que rege essas religiões. Alguns dos pratos<br />

conhecidos são o Amalá para Xangô, feito com quiabo, rabada, cebola e azeite de dendê. Para Oxóssi, é<br />

ofertado o Axoxo, composto por moranga cozida, milho, coco e mel. Oxum gosta do Omolocum, prato<br />

feito com feijão fradinho e ovos. E Acaçá para Oxalá! Que possui como ingrediente canjica branca enrolada<br />

na folha de bananeira.<br />

Do terreiro para as ruas<br />

Apesar de compor o importante elo entre as entidades e o ser humano, algumas das comidas votivas<br />

ganharam as ruas e caíram no paladar da população, como é o caso do acarajé, abará e bobó, vendidos<br />

principalmente pelas baianas no nordeste brasileiro.<br />

A preparação das refeições fora do ritual é praticamente a mesma. Porém, para alimentação pessoal<br />

alguns condimentos e alimentos podem ser adiconados. Proporciona-se assim sabores diferentes daqueles<br />

que são ofertados para os deuses.<br />

O acarajé é o prato da deusa Iansã, entidade das tempestades, ventos e raios. É um bolinho feito de<br />

feijão fradinho, sal, cebola e frito no azeite de dendê. Na Bahia, sua atividade e venda é, em maior parte<br />

feminina. São encontrados nos espaços públicos de Salvador e servidos no tão conhecido tabuleiro das<br />

baianas.<br />

Fora de Salvador, os pratos de orixás também ganharam as cozinhas populares e são servidos em<br />

diversos locais. Lembrados pela cultura negra, esses quitutes estão presentes em comemorações afros e<br />

no dia da consciência negra. Para Luanda, essa inclusão da comida de santo no popular ajuda a combater<br />

o preconceito existente em torno das religiões de matrizes africanas. “São comidas muito convencionais,<br />

então a gente quebra esse tabu e todo mundo adora de um modo geral os pratos e começam a perguntar<br />

mais sobre a religião. Então, é uma forma de conscientização, de quebrar preconceito”, relata. Trazer ao<br />

gosto popular o mundo misterioso das religiões mostra como são crenças comuns e os elementos que as<br />

compõe estão presentes no cotidiano das pessoas.<br />

Texto: Fran Vilas Boas<br />

Foto: Paloma Ávila<br />

Arte: Cíntia Adriana CURINGA | EDIÇÃO <strong>14</strong> 37

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