REVISTA GALERIA POR MÁRCIA TRAVESSONI - EDIÇÃO 07

Antes de ter suas portas abertas, o lar de Simone
Bellin já chama atenção enquanto símbolo de
resistência: uma casa, nos limites da Varjota, área
dominada por prédios. Ao abrir o discreto portão
cinza, quase escondido em um muro da mesma cor,
os olhos não têm outra reação senão a de surpresa
e curiosidade em desvendar todas as cores, texturas, objetos
e referências cuidadosamente instalados em cada canto do
jardim e da sala da casa. “Eu sou uma pessoa muito feliz, muito
solta, livre, e todas essas cores falam isso de mim”, revela ela,
apontando para uma área coberta do jardim que abriga peças
vindas de locais como Bali, Marrocos e África do Sul.
Entre uma diversidade generosa de plantas, tons fortes
de azul, turquesa e vermelho se destacam em peças e móveis,
mas o grande destaque é mesmo para a cor amarela. “Gosto
porque atrai fortuna”, brinca ela. O espaço fica ainda mais
interessante à medida em que Simone detalha a história de
alguns objetos que estão ali, a exemplo da moldura comprada
por R$ 10 de um carroceiro, em Fortaleza, que foi adornada
com a escultura de uma deusa vinda de Bali; ou as
três cadeiras de madeira herdadas do extinto Cine Diogo,
que ficava no Centro da Capital; e ainda uma parte do piso
da varanda, comprado em demolição de obra. “Eu gosto de
comprar certas coisas, guardar e depois fazer uma reforma
nelas, reciclar”, justifica. Essa repaginação aparece também
em duas cadeiras e uma base de mesa do estilo Pernambuco,
que perteceram à mãe dela. “Eram pretas e mandei laquear,
também de amarelo”, detalha.
INSPIRAÇÃO FRANCESA
Após o passeio pelo jardim, é hora de conhecer a sala
da casa, que mostra outra faceta de Simone, tão autêntica
MASCOTE DE
Simone Bellin, a
cachorrinha Lola
posa sobre a cadeira
Pernambuco, repaginada
pela ‘marchand’.
quanto a desenhada pelo jardim. “A sala é o showroom do
meu trabalho”, diz ela, que se identifica como “marchand”,
termo francês que designa as pessoas que negociam obras
de arte. “Na verdade, trabalho com peças do estilo Art
Déco”, define ela, que faz uma espécie de curadoria de
objetos produzidos na França, na década de 1930. Essas
peças ficam expostas na sala da casa, junto de itens dos
quais ela não desapega.
“Essa pantera, por exemplo, ganhei de uma pessoa,
em Paris, que acabou se tornando meu marido”, conta,
apontando para a peça de destaque da mesa de centro.
Sem falar em quatro pinturas, de Sergei de Castro, fixadas
no teto. “Ganhei todas de presente, e retratam o tema das
festas de aniversário que dei”, lembra. Na sala, as cores
aparecem com um pouco mais de parcimônia, como em
duas esculturas de peixes, compradas no Mercado de Pulgas,
na França. Telas com referências pop, abstratas ou mesmo
clássicas dividem espaço nas paredes da sala, que estão em
constante mudança, mas reflete bem a personalidade de
Simone: sempre em metamorfose harmônica, e feliz. ¤
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