Gestão Hospitalar N.º31 1995
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As propostas dos partidos<br />
. para a Saúde<br />
Só é bom baixar custos<br />
se se mantiver a qualidade<br />
afirma John Williamson, médico<br />
e investigador norte-americano<br />
Sistemas de Saúde em questão<br />
- um trabalho de Vasco Pinto dos Reis
sociação Portuguesa<br />
·adores <strong>Hospitalar</strong>es Nº 31 • ANO IX • SETEMBR0 / 95 • 850$00<br />
\<br />
f<br />
1<br />
Membro da Associação Europeia<br />
de Dire.ctores <strong>Hospitalar</strong>es<br />
. -<br />
Revista da Associação Portuguesa de Administradores <strong>Hospitalar</strong>es<br />
' DIRECTORA<br />
Armanda Miranda<br />
CONSELHO REDACTORIAL<br />
Ana Isabel Gonçalves<br />
Joaquina Matos<br />
Jorge Poole da Costa<br />
Manuel Ligeiro<br />
Manuel Delgado<br />
Vitor Freire<br />
PROPRIEDADE<br />
Associação Portuguesa<br />
de Administradores <strong>Hospitalar</strong>es<br />
Empresa jornalística nº 209259<br />
Apartado 40031 1517 Lisboa Codex<br />
ADMINISTRAÇÃO E ASSINATURAS<br />
APAH<br />
Apartado 40031 1517 Lisboa Codex<br />
PUBLICIDADE<br />
SAIBA QUE ... 4<br />
MARCO DO CORREIO . 6<br />
EDITORIAL<br />
ATAC's<br />
INVESTIGAÇÃO 21<br />
As questões que se põem<br />
7 aos sistemas de Saúde<br />
por Vasco Pinto dos Reis<br />
8<br />
GESTÃO 31<br />
OPINIÃO 1<br />
9 As propostas dos principais<br />
A qualidade em Saúde<br />
partidos políticos para a Saúde<br />
- artigo de Manuel Delgado.<br />
IN MEMORIAM 36<br />
OPINIÃO il 12 Preciosa Aguiar<br />
As compras públicas<br />
no sector da saúde ACONTECIMENTO 38<br />
- artigo de Menezes Duarte<br />
HOSPITAL ABERTO 41<br />
~~<br />
ENTREVISTA 16 O Hospital de Viana do Castelo<br />
Com o médico e investigador LEITURAS 46<br />
Avª. Ressano Garcia, 2í-r/c 1000 Lisboa<br />
Tels.: 387 71 38/18/50/42 - 387 70 79<br />
PRODUÇÃO GRÁFICA<br />
Augusto Teixeira<br />
MONTAGEM<br />
Montalito<br />
DISTRIBUIÇÃO<br />
JMToscano<br />
Tel.: 414 29 09/29 34 - Fax: 414 29 51<br />
ASSINATURA ANUAL - 3.000$00<br />
PUBLICAÇÃO TRIMESTRAL<br />
TIRAGEM - 2.000 exemplares<br />
Nº Registo 109060<br />
Depósito legal nº 16288/87<br />
ISSN: 0871 - 0776<br />
norte-americano John Williamson<br />
ASSOCIAÇÃO<br />
PORTUGUESA DE<br />
ADMINISTRADORES<br />
HOSPITALARES<br />
.<br />
ALGUMAS EMPRESAS PROJECTAM O FUTURO.<br />
OUTRAS CRIAM-NO.<br />
....<br />
t:P<br />
Schering-Plough<br />
Apartado 28 •Casal Colaride Agualva • 2736 Cacém Codex • Telef. 431 25 31 Fax: 432 10 97<br />
NORMAS EDITORIAIS<br />
1ª A Revista aceita trabalhos sobre qualquer assunto relacionado<br />
com o tema geral da gestão de serviços de saúde entendida esta no<br />
seu mais amplo sentido.<br />
2ª Os artigos deverão ser enviados ao Director. A este caberá a<br />
respon~abilidade_ de aceit~r , rejeitar ou propor. mod~ficações.<br />
3ª Os artigos deverao ser enoiados em duplicado (incluindo quadros<br />
e figuras), dactilografados a duas entrelinhas em folha de<br />
formato A 4. Em cada folha não deverão ser dactilografadas<br />
mais de 35 linhas. As folhas serão numeradas em ordem<br />
sequencial.<br />
4ª Os art~· os deverão ser acompanhados, sempre que possível, por<br />
fotogra ia do(s) autor(es), tipo passe.<br />
5ª Os tra alhos deverão conter em folhas separadas o seguinte:<br />
a)-Título do trabalho, nome(s) do(s) autor(es) e pegueno esboço<br />
curricular do(s) autor(es), principais funções ou titulas, até ao<br />
máximo de dois;<br />
b)-Pequena introdução ao artigo até ao máximo de uma página<br />
dactilografada;<br />
c)-0 texto;<br />
d)-Quadros com títulos e legendas (folhas autónomas);<br />
e)-Gráficos desenhados a traço de tinta-da-china sobre papel<br />
vegetal sem números ou palavras;<br />
{)-Títulos, legendas ou elementos dos gráficos escritos em folhas<br />
de fotocópias destes, à parte;<br />
g)-Fotografias numeradas no verso, a lápis, segundo a ordem de<br />
entrada no texto e respectivas legendas;<br />
h)-Peguenos resumos do artigo em língua francesa e inglesa,<br />
incluindo títulos; ~ - ,<br />
i)-Os originais não deverãõ conter pés-de-página. Todas as<br />
referências bibliográficas completas serão insertas no final do<br />
artigo. ·-·-<br />
6º Nas referências bibliográficas, os autores são colocados por ordem<br />
alfabetica (apelido seguido das iniciais do nome), seguindo-se o<br />
título completo do artigo, o título abreviado da Revista, o número<br />
do volume, os números da primeira e última páginas e o ano da<br />
publicação .<br />
O Editorial e os Artigos não assin dciS&fUOla e;t;ptins'á:bí~ifd.'ad@fla<br />
Direcç~o da As?ociação._ . SAÚDE P.Uo4ê1~~<br />
Os Artigos assinados sao da excl ~~l'liML<br />
autores, não com_prometendo a As ociação com os pontos de vista<br />
neles expressos. Embora merecendo a melhor atenção, a colaboração<br />
não solicitada não será devoluid , reservando.se o direito de a<br />
publicar ou não.<br />
-:VQ)-. n,u~<br />
'ti-tit'~<br />
3 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> BIBLIOTEC.\
XIII Congresso da Associação<br />
Europeia de Gestores<br />
<strong>Hospitalar</strong>es<br />
Decorrerá em Bruxelas de 12 a 14 de<br />
Outubro deste ano sob o tema "O<br />
Hospital do Século XXI".<br />
O programa científico e social é<br />
bastante atractivo. A abordagem do<br />
hospital do futuro, das novas doençaas<br />
e das novas formas alternativas<br />
de prestação de cuidados, coloca<br />
simultaneamente novos desafios ao<br />
gestor hospitalar, que serão objecto<br />
de várias comunicações e debates.<br />
O programa social inclui uma recepção<br />
no Hotel da Villa, na Grand<br />
Place, um jantar de gala e uma visita<br />
a Bruges, a "Veneza do Norte".<br />
A não perder!<br />
Conferência anual da EHMA<br />
(European Health Management Association) em Portugal<br />
A Escola Nacional de Saúde Pública e a Associação Portuguesa de<br />
Administradores <strong>Hospitalar</strong>es vão organizar, no Estoril de 26 a 28 de Junho<br />
do próximo ano, pela primeira vez em Portugal, a Conferência Anual da<br />
EHMA, associação que congrega instituições de ensino e de investigação,<br />
associações profissionais e Universidades reputadas internacionalmente nos<br />
domínios da economia da saúde e da gestão.<br />
O tema central da Conferência será o impacte na gestão dos novos<br />
contributos científicos e tecnológicos no domínio da prestação de cuidados,<br />
que seguramente motivará, pela sua oportunidade, a adesão de amplos<br />
sectores profissionais.<br />
Considerando o elevado nível científico de conferências anteriores e a<br />
circunstância de se prever a presença entre nós de cerca de 150 gestores de<br />
serviços de saúde do resto da Europa, é para APAH uma honra aparecer<br />
associada a este evento que, estamos certos, concitará a adesão dos gestores<br />
hospitalares portugueses e de outros profissionais interessados. Oportunamente<br />
será divulgado o respectivo programa.<br />
Concursos<br />
para Administradores<br />
<strong>Hospitalar</strong>es<br />
1. Desde 1 de Setembro que<br />
decorre o exercício tutelado de<br />
mais 53 colegas. Obedecendo a<br />
um regulamento que se espera<br />
moralizador desta fase probatória,<br />
os novos colegas têm já<br />
indicados os respectivos "tutores",<br />
todos Administradores <strong>Hospitalar</strong>es<br />
com, pelo menos, o 3º<br />
grau da respectiva carreira. Os<br />
processos foram já remetidos<br />
para o Tribunal de Contas,<br />
aguardando-se, apenas, o respectivo<br />
visto.<br />
Com este concurso, todos os<br />
colegas diplomados nos últimos<br />
anos vêm as suas situações<br />
profissionais finalmente encaminhadas,<br />
terminando, pelo menos<br />
por agora, os casos de contratos<br />
a termo certo ou a recibo verde,<br />
perfeitamente desajustados e<br />
desprestigiantes, face às funções<br />
de grande responsabilidade que<br />
os Administradores <strong>Hospitalar</strong>es<br />
desempenham. O Departamento<br />
de Recursos Humanos de Saúde<br />
está, assim, de parabéns!<br />
2. Decorre, entretanto, um concurso<br />
de acesso para lugares<br />
vagos em diferentes hospitais. O<br />
Juri está a ultimar a análise de<br />
candidaturas, trabalho complexo<br />
e moroso dado o elevado<br />
número de colegas a concurso<br />
(mais de 150).<br />
Pioneiro na « lif!1peza e higiene hospitalar» desde a fundação<br />
deste estabelecimento de acordo com regulamentação da CE<br />
- -- -<br />
A Associação Portuguesa de Admi·<br />
nistradores <strong>Hospitalar</strong>es está<br />
a organizar uma interessante viagem<br />
de estudo a Inglaterra e à Escócia,<br />
a realizar de 11 a 22 de Fevereiro.<br />
O programa, com partida de Lisboa<br />
a 11, inclui visitas a Londres(12,13<br />
e 14), Edimburgo/ Glasgow(lS,16,17<br />
e 18), Manchester/ Leeds(19,20<br />
e 21). O programa técnico será<br />
enviado logo que possível a todos<br />
os colegas interessados.<br />
Estão contempladas visitas,<br />
designadamente, a entidades<br />
públicas de definição e coordenação<br />
da política de saúde, clínicos gerais<br />
e hospitais, autoridades regionais,<br />
universidades e escolas<br />
vocacionadas para a gestão<br />
dos serviços de saúde.<br />
IX Jornadas de Administração<br />
<strong>Hospitalar</strong><br />
Decorrerão nos dias 6 e 7 de Dezembro<br />
as tradicionais jornadas de Administração<br />
<strong>Hospitalar</strong>, organizadas pela Escola<br />
Nacional de Saúde Pública, desta vez<br />
com a colaboração da Associação Portuguesa<br />
de Administradores <strong>Hospitalar</strong>es<br />
e com descontos significativos para<br />
os seus associados.<br />
Após um interregno de alguns anos,<br />
retoma-se um forum único e prestigiado<br />
da Administração <strong>Hospitalar</strong> Portuguesa,<br />
este ano com inovação significativa<br />
no seu formato. Elegendo-se o tema<br />
"Sociedade e Saúde", pretende-se um<br />
olhar sobre o fenómeno da Saúde por<br />
ADRIANO MOREIRA<br />
JOÃO SALGUEIRO<br />
AlJGUSTO WPES CARDOSO<br />
[ __ I<br />
parte de personalidades prestigiadas<br />
em diferentes domínios sociais, e o<br />
confronto de ideias com profissionais<br />
de saúde publicamente reconhecidos.<br />
Serão assim, conferencistas o prof.<br />
Adriano Moreira(solariedade social<br />
ou responsabilidade individual), o dr.<br />
João Salgueiro(regulação normativa<br />
ou por mecanismos de mercado) e o dr.<br />
A u gusto Lopes Cardoso(responsabilidade<br />
e saúde)~ Os comentários<br />
estarão a cargo do padre<br />
Vítor Melícias, prof. Correia de Campos,<br />
prof. Campos e Cunha, dr. Menezes<br />
Correia, prof. Meliço Silvestre, dr.<br />
Raul Moreno Rodrigues, prof. Caldeira<br />
da Silva, prof. Vasco Reis e prof.<br />
--<br />
Nogueira da Rocha.<br />
Hospital de Abrantes<br />
Santiria<br />
Sociedade de Limpeza Técnica e Mecânica, Lda.<br />
Travessa da Lamei ra, 13 -- 2000 SANTAR ÉM<br />
Santarém - Tel.:(043)2 51 22 Fax:(043)332935 • Marinha Grande - Tel. :(044)568063 Fax:(044)504232<br />
4 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />
<strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> 5
Marce> de> Ce>rrt=tie><br />
Edite>rial<br />
Privatização 1<br />
Raras vezes tenho lido<br />
textos tão interessantes<br />
a nível de privatização<br />
na saúde como<br />
aquele que Manuel<br />
Delgado _ assinou no<br />
último número de<br />
GESTÃO HOSPITA<br />
LAR, sob o título<br />
"Cenários para a privatização".<br />
Bem poderia<br />
ser lido por Paulo<br />
Mendo, ainda que o<br />
destino do Amadora<br />
-Sintra estivesse traçado<br />
desde o seu<br />
antecessor, Arlindo<br />
de Carvalho! É que,<br />
como o autor do trabalho<br />
escreve - em que<br />
eu acredito piamente -<br />
"não é claro que a<br />
gestão privada possa<br />
acrescentar ganhos de produtividade<br />
sem pôr em causa o acesso<br />
universal e a qualidade dos actos".<br />
Leitor identificado,<br />
administrador hospitalar<br />
Lisboa<br />
Privatização li<br />
"A privatização em saúde envolve<br />
inconvenientes ponderosos que podem<br />
desvirtuar significativamente<br />
direitos constitucionais dos cidadãos<br />
portugueses". Pergunto: se<br />
assim é, por que razão se verifica<br />
a febre de privatizar a todo o custo?<br />
Vá lá o Diabo entender ...<br />
Administrador<br />
-delegado<br />
José Dias,<br />
enfermeiro<br />
Porto<br />
O sr. secretário de Estado da Saúde<br />
e nosso companheiro de profissão<br />
Lopes Martins reconhece que "o<br />
perfil exigido para o lugar de<br />
administrador-delegado aponta<br />
claramente para uma formação<br />
específica facultada pelo curso de<br />
Administração <strong>Hospitalar</strong>". Reconhece-o<br />
ele e todos nós o reconhecemos<br />
também. O que esperaríamos<br />
do Zé Carloss era, no entanto, um<br />
pouco mais; que aproveitasse a<br />
oportunidade única de ter esta.do<br />
num governo de maioria absoluta<br />
para passar do simples reconhecimento<br />
à justa concretização ..<br />
Leitor identificado,<br />
administrador hospitalar<br />
Lisboa<br />
Pai Mantas 1<br />
Augusto José Quintanilha Mantas<br />
- Pai Mantas, como bem se diz no<br />
"Perfil" - é realmente um nome de<br />
que os administradores hospitalares<br />
se não poderão esquecer. Agradeço<br />
ao director da nossa revista o<br />
destaque tão merecido que lhe deu<br />
na última edição ..<br />
Leitor identificado,<br />
administrador hospitalar<br />
Coimbra<br />
Pai Mantas li<br />
Nunca é demais homenagear um<br />
homem que tanto fez pela nossa<br />
carreira. Refiro-me, claro está, ao<br />
prof. Augu$tO Mantas, a quem<br />
todos nós,. administradores hospitalares,<br />
tanto devemos.<br />
Leitor identificado,<br />
administrador hospitalar<br />
· Coimbra<br />
Destaque · ~<br />
Entre os trabalhos publicados no<br />
último número da revista da vossa<br />
Associação, destaco a entrevista a<br />
Lopes Martins e a homenagem<br />
merecida feita a Augusto Quintanilha<br />
Mantas.<br />
Leitor identificado,<br />
administrador hospitalar<br />
Setúbal<br />
Desejo<br />
Segundo se pode ler na revista<br />
GESTÃO HOSPITALAR, Abrantes<br />
conta, desde 1985, com uma<br />
moderna unidade hospitalar. Como<br />
cidadão de Abrantes, mas há<br />
longos anos ausente da terra onde<br />
nasci, só desejo que o seu novo<br />
hospital contribua para tratar as<br />
pessoas como elas merecem, ao<br />
contrário do que se verificava no<br />
meu tempo.<br />
Manuel Andrade,<br />
bancário<br />
Lisboa<br />
<strong>Gestão</strong><br />
Um dos trabalhos que mais apreciei<br />
na última edição da vossa<br />
revista é a entrevista feita ao dr.<br />
Lopes Martins. Oxalá o sr. secretário<br />
de Estado possa garantir, continuando<br />
no governo ou fora dele, o<br />
que então afirmou: "A rede hospitalar<br />
portuguesa há-de ser sempre<br />
integrada por hospitais públicos<br />
com gestão pública e por hospitais<br />
públicos com gestão privada".<br />
Será a prova de que a política de<br />
privatizações na saúde, desenvolvida<br />
pelo seu governo, teve sucesso.,<br />
como espero.<br />
A. Carlos Machado,<br />
médico<br />
Porto<br />
Uma nova lei de <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong>[<br />
A? A?<br />
porque .... para que ....<br />
ão amiga fez-nos chegar recentemente<br />
um documento de estudo, do Ministério<br />
da Saúde, que pretende regulamentar a<br />
estrutura e o funcionamento dos nossos<br />
hospitais, incluindo naturalmente, o próprio modelo<br />
de gestão.<br />
Sem inovações significativas e enredando-se numa teia<br />
centralizadora e burocrática típica no Estado Português,<br />
tal documento não mereceria especiais ref erências,<br />
não fora o facto de mais uma vez se propôr a<br />
alteração, ainda que ligeira, da lei de <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong>.<br />
Agora, e num movimento pendular curioso, admite-se<br />
timidamente que o Gestor <strong>Hospitalar</strong> deverá ser,<br />
preferencialmente, um profissional integrado na carreira<br />
de Administração <strong>Hospitalar</strong>. Aproximamo-nos,<br />
portanto, da legislação de 1968 (que se pretende<br />
substituir), e de 1977 (entretanto revogada em 1988).<br />
O ziguezaguear do Legislador, ainda por cima num<br />
longo período de governação monopartidária, revela<br />
bem o carácter inconsequente e meramente acidental<br />
da actual lei de <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong>.<br />
Assumida como uma bandeira decisiva na política de<br />
Saúde, a lei de <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> de 1988 revelou-se<br />
completamente ineficaz e a sua aplicação foi, muitas<br />
vezes, conflitual, caricata e contra-producente.<br />
Esqueceu-se sempre, e mais uma vez se esquece neste<br />
documento de estudo, que o modelo de <strong>Gestão</strong><br />
<strong>Hospitalar</strong> tem uma natureza super-estrutural e o seu<br />
sucesso depende essencialmente da autonomia que se<br />
conceda e da perspectiva empresarial que definitivamente<br />
se atribua ao Hospital Português.<br />
Não queremos acreditar que os políticos que nos<br />
governam e os peritos que os assessoram não entendam<br />
esta sequência de questões e muito menos<br />
queremos atribuir-lhes meras e mesquinhas intenções<br />
politiqueiras de controlo dos nomeados ou de reserva<br />
de lugares.<br />
Registamos, com pena, que à Associação Portuguesa<br />
de Administradores <strong>Hospitalar</strong>es, representante dos<br />
interesses deontologicos e profissionais da esmagadora<br />
maioria dos Admnistradores <strong>Hospitalar</strong>es Portugueses<br />
não tenha sido solicitada qualquer opinião sobre este<br />
documento de estudo.<br />
Se assim não fosse, teríamos dito que a <strong>Gestão</strong> dos<br />
Hospitais não se melhora com meros ajustamentos<br />
técnico-jurídicos nos mecanismos de indigitação e<br />
nomeação dos protagonistas.<br />
Previamente ter-se-ão que analisar as condições de<br />
actuação dos Gestores, a sua responsabilização e a sua<br />
autonomia.<br />
Sob pena de os deixarmos queimar em lume brando,<br />
com dignidade, lealdade e veneração, mas frustrando<br />
as suas mais lídimas aspirações profissionais e<br />
deontológicas.<br />
*<br />
* *<br />
Entretanto, noutro documento de estudo do Ministério<br />
da Saúde, encomendado a Professores da Universidade<br />
Nova de Lisboa, reflecte-se sobre o Sistema de Saúde e<br />
propõem-se reformas radicais no domínio do financiamento,<br />
do mercado e da gestão.<br />
Tal estudo não é especialmente inovador já que<br />
assume a bondade da "competição gerida", expressão<br />
que contempla correntes de opinião oriundas dos<br />
E.V.A. e há muito glosadas também entre nós.<br />
Já será inovador que o Ministério da Saúde adapte<br />
essa filosofia e a passe à prática.<br />
A ver vamos ...<br />
6 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />
<strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> 7
·.=:<br />
..- A saúde pública é, no ano da<br />
(des)graça de <strong>1995</strong>, um território<br />
de desigualdades, que vão desde<br />
os condicionalismos que impõem<br />
a requisição de exames radiológicos<br />
com uma antecedência<br />
média de quatro meses, até à<br />
própria falência de interesse<br />
pelos cuidados pessoalizados,<br />
por parte de alguns quadros, sem<br />
a mais ínfima dose de sensibilidade<br />
e qualquer tacto para as<br />
relações humanas ..<br />
Fernando Eusébio B. Firmino<br />
Público 22102195<br />
..- ( ... ) A prática da medicina<br />
é hoje encarada como uma<br />
profissão como outra qualquer,<br />
em que o médico oferece os seus<br />
serviços e recebe por eles uma ·<br />
retribuição (talvez ainda haja<br />
quem receba gal inhas, mas, em<br />
geral, é em dinheiro que<br />
os serviços são pagos).<br />
José António Marques Correia<br />
Público 12103195<br />
..- Como o director do hospital<br />
não necessita de ser médico ou<br />
profissional de saúde, ao administrador<br />
delegado não se exige<br />
carreira de administração hospitalar,<br />
e o director clínico pode<br />
provir doutra instituição, os três<br />
elementos apenas têm em<br />
comum a confiança ministerial.<br />
É fácil adivinhar a razão dessa<br />
confiança quando se trata de<br />
prover centenas de lugares.<br />
Extracto do comunicado<br />
da Associação Portuguesa<br />
dos Médicos da Carreira <strong>Hospitalar</strong><br />
sobre o projecto de Dec. Lei sobre<br />
a <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> (Julho/ <strong>1995</strong>)<br />
..- Alguns elementos do PSD<br />
invocarão certamente o " interesse<br />
nacional" para que, mesmo<br />
em completo estado de inoperância<br />
, o PSD continue a governar,<br />
na esperança de que pelo<br />
menos os administradores hospitalares<br />
ou os carg os nas ARS<br />
poderão continuar a ser decididos<br />
pelos nossos.<br />
Pacheco Pereira<br />
Diário de Notícias 31-8-95<br />
..- Um sistema de tipo Serviço<br />
Nacional de Saúde é de todos<br />
o que cria mais condições para<br />
a redução das desigualdades.<br />
Correia de Campos<br />
Expresso 29107195<br />
..- A confusão entre as funções<br />
de fi nanciamento e de prestação<br />
e a falta de competição entre<br />
financiadores e ent re prestadores<br />
tornaram o sistema monopolístico<br />
e rígido.<br />
Idem<br />
..- Gestores cada vez mais<br />
dependentes do governo, confrontados<br />
com recursos escassos,<br />
depressa aprendem que nada<br />
ganham sendo poupados.<br />
Idem<br />
..- Por ter dinheiro fácil da<br />
Europa, o Governo constru iu<br />
hospitais dispendiosos sem critérios<br />
rigorosos de análise de<br />
necessidades, às vezes para satisfação<br />
de clientelas regionalistas.<br />
Idem<br />
..- Se eu necessita r, para amanhã,<br />
de uma consulta de clínica<br />
geral ou de especialidade, num<br />
centro de saúde ou num hospital,<br />
consigo-o gastando metade de<br />
uma manhã; a minha mulher-a<br />
-dias perderá um dia e terá de<br />
esperar pelo menos uma semana.<br />
Somos todos iguais, mas<br />
" uns são mais do que outros".<br />
Idem<br />
..- O SNS tem estado cronicamente<br />
subfinanciado, governamentalizado<br />
e ileg itimamente<br />
partidarizado.<br />
Idem<br />
·.··.· . ..<br />
:·.';<br />
f<br />
Manuel Delgado *<br />
A Qualidade em Saúde é<br />
tendencialmente assumida<br />
pelas suas vertentes<br />
menos importantes, apresenta-se,<br />
muitas vezes,<br />
como um "show off' vazio<br />
de conteúdo e, o que é mais<br />
preocupante, desvia recursos<br />
e atenções das questões<br />
essenciais para a eficácia<br />
dos cuidados e para a<br />
satisfação e bem-estar dos<br />
utilizadores.<br />
A qualidade em SaUde<br />
QUALIDADE é, já<br />
hoje, um tema recorrente<br />
quando se<br />
abordam as questões<br />
de Saúde.<br />
Rodeado de alguma<br />
abstracção e sem limites definidos,<br />
o conceito é indiscriminadamente<br />
aplicado para adjectivar o Sistema<br />
de Saúde que temos e as diferentes<br />
formas de prestação de cuidados.<br />
Utiliza-se a expressão mas raramente<br />
se dilucida o seu conteúdo.<br />
Será, p,orventura, uma questão de<br />
moda. E, com certeza, uma questão<br />
de ignorância.<br />
Assistimos, por outro lado, à proliferação<br />
de iniciativas de sensibilização,<br />
de circulares informativas,<br />
de prospectos de divulgação e até<br />
de concursos, por parte do Secretariado<br />
para a Modernização Administrativa,<br />
no sentido de promover<br />
a qualidade dos serviços prestados<br />
pela Administração Pública.<br />
Tais acções, louváveis no contexto<br />
em que são concebidas, têm, no<br />
entanto, provocado alguns equívocos<br />
junto dos profissionais de<br />
Saúde: abordam a qualidade apenas<br />
na perspectiva da inter-relação<br />
pessoal, da informação e da humanização;<br />
revelam frequentemente<br />
uma gritante inadaptação (mesmo<br />
nesse contexto) face à realidade dos<br />
estabelecimentos e serviços de saúde.<br />
A ausência de uma visão ampla e<br />
consistente sobre a Qualidade em<br />
Saúde, conduziu a que tais iniciativas<br />
ocupassem, para muita boa<br />
gente, todo o terreno reservado a<br />
esta matéria, o que tem tido consequências<br />
desastrosas para o seu<br />
desenvolvimento entre nós:<br />
a) sobrelevam-se questões secundárias<br />
ou de natureza marginal;<br />
b) privilegia-se a humanização<br />
como se esta fosse matéria específica;<br />
c) não se tocam nas questões<br />
nucleares em saúde, quais sejam,<br />
a qualidade dos "meios de<br />
produção", a qualidade dos<br />
"processos" de intervenção clínica<br />
utilizados ou a qualidade<br />
dos resultados obtidos.<br />
Em síntese, a Qualidade em Saúde é<br />
tendencialmente assumida pelas<br />
suas vertentes menos importantes,<br />
apresenta-se, muitas vezes, como<br />
um "show off' vazio de conteúdo<br />
e, o que é mais preocupante, desvia<br />
recursos e atenções das questões<br />
essenciais para a eficácia dos cuidados<br />
e para a satisfação e bem<br />
-estar dos utilizadores.<br />
A evolução do conceito<br />
E, no entanto, quer no mundo da<br />
indústria e dos serviços, quer especificamente<br />
no âmbito da saúde,<br />
temos assistido ao desenvolvimento<br />
de experiências, metodologias e<br />
conceitos na área da QUALI<br />
DADE, que têm contribuído decisivamente<br />
para a sua operacionalidade<br />
e eficácia.<br />
A evolução histórica foi interessante<br />
e iniciou-se na indústri2.t através<br />
do controlo passivo da QUALI<br />
DADE: ao cliente que reclamava<br />
•<br />
8 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />
<strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> 9
- - o p 1 n 1 a o<br />
perante um produto "avariado" ou<br />
desconforme face às suas expectativas<br />
preço-utilidade, o produtor ou<br />
vendedor respondia com um novo<br />
produto ou com uma indemnização.<br />
Mais tarde, e apercebendo-se do<br />
desprestígio que poderia resultar<br />
de tal prática, os produtos passaram<br />
a ser testados no interior da<br />
empresa, evitando-se, assim, que os<br />
produtos "avariados" entrassem no<br />
mercado sendo, então, reciclados<br />
ou simplesmente destruídos.<br />
Só mais tarde se introduziu o<br />
controlo activo da qualidade dos<br />
produtos: o fabricante preocupava<br />
-se logo de início com a qualidade<br />
das suas matérias-primas e de todo<br />
o processo produtivo, antecipando<br />
-se na detecção de erros ou avarias e<br />
prevenindo, assim, a qualidade dos<br />
seus produtos.<br />
A qualidade dos bens e serviços,<br />
teve, por esta via, um incremento<br />
imparável, o nível de erros e<br />
avarias baixou consideravelmente<br />
e a margem de desperdícios reduziu<br />
-se para valores economicamente<br />
admissíveis. Paralelamente, as empresas<br />
ganharam credibilidade junto<br />
dos consumidores na razão directa<br />
dos pontos de controlo de<br />
qualidade utilizados.<br />
Seria absurdo admitir na prestação<br />
de cuidados de saúde uma evolução<br />
desta natureza. Indemnizar os familiares<br />
de um doente que morre<br />
imprevistamente, para além do<br />
princípio puro de justiça material<br />
que se cumpra, revelará isso sim,<br />
uma falta de qualidade do serviço<br />
em que tal facto ocorreu e tratar-se<br />
-á sempre de um acontecimento<br />
irreparável.<br />
A morte, as sequelas ou as deficiências<br />
devem ser prevenidas e evitadas<br />
e exige-se, por imperativos<br />
éticos que, em matéria de saúde,<br />
os serviços utilizem necessariamente<br />
um controlo de qualidade<br />
activo e sistemático.<br />
Por outro lado, e ao contrário do<br />
que se passa na indústria ou numa<br />
repartição pública, o consumidor é<br />
em saúde e simultaneamente, ,Parte<br />
integrante do processo produtivo.<br />
Ou seja, ele próprio é o objecto de<br />
transformação (a matéria-prima) e<br />
não apenas o consumidor que se<br />
posiciona no "fim da linha" e<br />
adquire um bem ou obtém um<br />
Em saúde temos que ter uma visão da qualidade mais<br />
complexa e compreensiva, que integre a avaliação<br />
final do "produto" e concomitantemente a avaliação<br />
inicial das condições de prestação de cuidados e a<br />
avaliação intermédia dos actos clínicos e das outras<br />
prestações.<br />
serviço. Tal característica implica,<br />
portanto, uma visão da qualidade<br />
mais complexa e compreensiva, que<br />
integre a avaliação final do "prod<br />
u t o " e concomitantemente . a avaliação<br />
inicial das condições de<br />
prestação de cuidados e a avaliação<br />
intermédia dos actos clínicos e<br />
das outras prestações.<br />
Tipos de abordagem<br />
Por isso mesmo, a Qualidade em<br />
Saúde tem sido objecto de vários<br />
tipos de abordagem, sendo vasta a<br />
literatura internacional sobre a<br />
matéria e variados os estudos e<br />
experiências desenvolvidas em hospitais<br />
e em cuidados primários.<br />
Durante muito tempo as orientações<br />
dominantes assentavam nas<br />
ópticas da "estrutura" e do "processo",<br />
de que são exemplos paradigmáticos<br />
a Acreditação de Hospitais<br />
e os "Clinical Audit", respectivamente.<br />
Mais recentemente, tem-se investido<br />
na avaliação de resultados em<br />
saúde, considerando-se ser este o<br />
fim último de um sistema, de um<br />
serviço ou de um prestador, e<br />
consequentemente, a medida incontornável<br />
do seu sucesso. A utilização<br />
de indicadores macro-sanitários<br />
e de bem-estar é, no entanto,<br />
controversa e difícil, já que os<br />
Ainda há quem pense<br />
que a QUALIDADE é<br />
antes de mais uma sensação<br />
ou um estado de<br />
espírito, que se avalia<br />
por intuição ou por<br />
fenómenos anor~ais<br />
aberrantes.<br />
respectivos resultados são influenciados<br />
por "externalidades" que<br />
tornam esses instrumentos de avaliação,<br />
por vezes, pouco sensíveis às<br />
questões especificas da Saúde. Os<br />
QAL Y (Quality Adjusted Life<br />
Years), por exemplo, pese embora<br />
permitam recolher uma informação<br />
mais consentanea com a efectiva<br />
vivência das pessoas, são fortemente<br />
influenciados por aspectos<br />
económicos, sociais e culturais,<br />
que, em muito, extravasam as<br />
responsabilidades atribuíveis aos<br />
sistemas de saúde.<br />
Paralelamente, e ainda dentro da<br />
óptica dos resultados, tem-se privilegiado<br />
de forma crescente a dimensão<br />
"satisfação". Considerada como<br />
uma atitude decisiva no mundo dos<br />
negócios, a orientação dos produtos<br />
e serviços para o Cliente, seguindo<br />
sempre que possível, as suas expectativas<br />
e o seu grau de exigência,<br />
fez com que se considerassem os<br />
estudos sobre satisfação em saúde<br />
elementos indispensáveis numa<br />
perspectiva geral da QUALI<br />
DADE. A introdução de mecanismos<br />
de mercado e de livre-escolha,<br />
poderão tornar este indicador imprescindível,<br />
a exemplo do que<br />
acontece noutros países. Acrescente-se<br />
ainda que a satisfação dos<br />
doentes, sendo sinónimo de confiança,<br />
poderá ser um atributo decisivo<br />
num processo terapêutico e de<br />
reabilitação.<br />
A qualidade<br />
como dimensão objectiva<br />
Noutro plano de análise se colocam<br />
as questões que se prendem com os<br />
mecanismos de avaliação da qualidade<br />
e a sua objectividade.<br />
Ainda há quem pense que a QUA<br />
LIDADE é antes de mais uma<br />
sensação ou um estado de espírito,<br />
que se avalia por intuição ou por<br />
fenómenos anormais aberrantes.<br />
Nada mais errado! De pouco serviria<br />
essa metodologia de avaliação.<br />
O estilo, a formação e as idiossincrasias<br />
pessoais ou de grupo, ditariam<br />
apreciações subjectivas de<br />
qualidade, não seria possível avaliar<br />
com rigor os níveis de qualidade<br />
e de não qualidade e, quando<br />
muito, seríamos alertados apenas<br />
para casos-sentinela de desconformidade<br />
evidente.<br />
Os grandes avanços que se vêm<br />
registando em ,matéria de QUALI<br />
DADE em SAUDE situam-se exactamente<br />
na criação de mecanismos<br />
objectivos de medida.<br />
A QUALIDADE assenta em critérios<br />
que identificam de forma clara<br />
e objectiva a forma correcta de<br />
actuar face a um determinado<br />
fenómeno de saúde que se quer<br />
avaliar. São, portanto, cenários de<br />
actuação pré-definidos que representam<br />
o nível de excelência que se<br />
considera possível. Posteriormente,<br />
compara-se a realidade com esses<br />
critérios e regista-se o grau de<br />
observância ou de desvio, ficando<br />
-se, assim, de posse de uma informação<br />
objectiva e rigorosa quanto aos<br />
níveis de qualidade praticados.<br />
Se, por exemplo, se considera desejável<br />
que um utente de uma consulta<br />
externa hospitalar não deve<br />
esperar no dia da consulta, mais<br />
de 20 minutos para que esta se<br />
inicie, não será difícil medir com<br />
rigor os desvios verificados na<br />
realidade. Se, por hipótese, verificássemos<br />
que 90% dos nossos doentes<br />
esperam menos de 20 minutos,<br />
poderíamos então dizer que tínhamos,<br />
neste particular, um padrão<br />
excelente de qualidade, já que seria<br />
admissível, por razões aleatórias,<br />
que 10% dos casos tivessem um<br />
Os grandes avanços<br />
que se vêm registando<br />
em matéria de Q U ALI- ,<br />
DADE em SAUDE<br />
sit ua m-se ex acta <br />
mente na criação de<br />
mecanismos objectivos<br />
de medida.<br />
tempo de espera superior.<br />
Só a introdução de mecanismos<br />
objectivos de avaliação de qualidade,<br />
de que acabamos de dar um<br />
exemplo muito simples, nos permite<br />
incorporar a QUALIDADE na perspectiva<br />
da gestão de unidades de<br />
Saúde.<br />
A existência de indicadores quantificados<br />
sobre padrões de qualidade<br />
e níveis de qualidade e de não<br />
qualidade, permitem ao gestor detectar<br />
e apreciar os desvios e<br />
conferir-lhe a importância que merecem.<br />
Daí decorrerão, eventualmente,<br />
medidas correctivas e o<br />
tempo necessário para que as melhorias<br />
de qualidade se verifiquem.<br />
O papel dos profissionais<br />
Como se vê, a qualidade exige<br />
transparência de processos e a<br />
criação de consensos suficientemente<br />
alargados e duradouros sobre<br />
a melhor ou mais correcta<br />
forma de estar ou de actuar. Sabemos<br />
que em saúde, a padronização<br />
de comportamentos e o cumprimento<br />
uniforme de protocolos clínicos<br />
de actuação não são muitas vezes<br />
compatíveis com as situações espe-<br />
cíficas com que os profissionais se<br />
confrontam. Isso exige que na<br />
formulação e na definição de critérios<br />
e padrões, para além da sua<br />
mais ampla e genuína aceitação, se<br />
introduzam mecanismos de excepção,<br />
que acolham intervenções<br />
desviantes mas técnica e cientificamente<br />
justificadas.<br />
O papel dos profissionais de saúde<br />
é, nesta matéria, insubstituível. Os<br />
critérios e padrões de qualidade<br />
devem ser concebidos e discutidos<br />
inter-pares porque só isso lhes dá a<br />
credibilidade e exequibilidade desejadas.<br />
A imposição de regras de actuação<br />
de forma autoritária e por via<br />
administrativa adulteram significativamente<br />
os programas de QUALI<br />
DADE e comprometem irremediavelmente<br />
os seus objectivos: contribuir<br />
para que os cuidados de saúde<br />
sejam prestados com eficácia, com<br />
racional utilização de meios e de<br />
forma segura e satisfatória para os<br />
doentes.<br />
Temos esperaIJ.ça de que a QUALI<br />
DADE em SAUDE evolua entre nós<br />
com profundidade e seriedade. Há<br />
muitos profissionais interessados e<br />
que já participaram em programas<br />
de qualidade que lhes deram satisfação<br />
e, acima de tudo, produziram<br />
resultados positivos junto dos doentes.<br />
Há, da parte da Direcção Geral<br />
da Saúde, vontade e capacidade<br />
para se desenvolverem programas<br />
integrados de qualidade, que mostram<br />
pertinência e oportunidade.<br />
Oxalá tais iniciativas tenham o<br />
apoio e o reconhecimento que<br />
merecem e se ultrapasse a diversão<br />
e a superficialidade em que, nesta<br />
matéria, nos vamos arrastando. 1<br />
* Administrador hospitalar<br />
10 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />
<strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> 11
Opiniãe»<br />
Menezes Duarte *<br />
Texto-base da comunicação apresentada<br />
no seminário sobre as·<br />
Compras Públicas no Sector da<br />
Saúde, organizado pela APAH<br />
em 29de Maio último.<br />
As compras públicas<br />
no sector da saúde<br />
recente publicação<br />
do Dec.-Lei nº 55/<br />
95 de 29 de Março<br />
relativo ao regime<br />
jurídico de aquisições<br />
de bens e serviços<br />
na Administração Pública<br />
constitui mais uma fonte de preocupações<br />
para os administradores e<br />
outros responsáveis hospitalares.<br />
Nos meios hospitalares havia alguma<br />
expectativa quanto ao novo<br />
diploma nomeadamente no sentido<br />
de se esperar dele alguma flexibilização<br />
e simplificação nos procedimentos<br />
administrativos.<br />
Verifica-se, face a uma primeira<br />
leitura de texto, um geral sentimento<br />
de frustração.<br />
A questão contudo é provavelmente<br />
outra, ou seja, a de saber se<br />
um diploma com estas características,<br />
pretendendo regular a actividade<br />
administrativa de todos os<br />
serviços públicos se deverá aplicar<br />
a instituições tão especiais como<br />
são os hospitais. Ou, dito de outro<br />
modo, se não deverão os hospitais<br />
ter um estatuto diferente com<br />
diferentes enquadramentos jurídicos<br />
nesta e noutras matérias.<br />
Acontece que hoje em dia ninguém<br />
tem dúvidas sobre a singularidade<br />
e especificidade das instituições<br />
hospitalares no quadro geral da<br />
Administração Pública.<br />
Constitui uma evidência que em<br />
nenhum outro sector da Administração<br />
Pública se encontram instituições<br />
que, pelos meios financeiros<br />
que movimentam, pela dimensão<br />
e variedade dos recursos<br />
humanos e materiais que envolvem,<br />
pela especificidade e delicadeza<br />
das prestações que realizam,<br />
impliquem uma tão marcada complexidade<br />
de gestão, comJ os hospitais.<br />
E, à medida que os tempos correm,<br />
mais aquela convicção se confirma<br />
e a complexidade da gestão dos<br />
hospitais se acentua, tendo em<br />
conta o crescimento dos custos, a<br />
invasão incessante de novas tecnologias,<br />
a diversificação crescente<br />
das funções que lhe são cometidas,<br />
a pressão dos utentes, as acrescidas<br />
exigências de qualidade, segurança<br />
e modernização.<br />
Face a esta realidade, as considerações<br />
relativas aos modelos de<br />
gestão apropriados para os hospitais<br />
apontam inevitavelmente para<br />
o reforço das ideias de autonomia e<br />
para aproximações a formas de<br />
gestão empresarial.<br />
Este tipo de discurso tornou-se<br />
praticamente universal. Ele é defendido<br />
por administradores e outros<br />
profissionais hospitalares, vê<br />
-mo-lo em programas políticos e<br />
textos de organizações profissionais<br />
e sindicais da saúde, é assumido<br />
abertamente por responsáveis<br />
políticos da área da saúde, encontramo-lo,<br />
enfim, nos próprios textos<br />
legislativos que regulam a organização<br />
e gestão dos Hospitais.<br />
O Dec.-Lei nº 19/88 de 21 de Janeiro<br />
inicia desta forma inequívoca o seu<br />
preâmbulo:<br />
«Dentro da afirmação, hoje pacífica,<br />
de que a evolução do sistema<br />
hospitalar aponta claramente no<br />
sentido de uma dinâmica própria, a<br />
que subjaz uma unidade muito<br />
complexa onde se produzem bens<br />
e serviços, a sua gestão tem necessariamente<br />
de assentar em suportes<br />
compatíveis e que de forma<br />
alguma podem coincidir ou identificar-se<br />
com a situação relativamente<br />
bloqueante, como continua<br />
ainda a ser a actual, de um serviço<br />
público que, se não em teoria, pelo<br />
menos na prática, alinha a par dos<br />
que vivem integrados na gestão<br />
directa do Estado.»<br />
Dir-se-ia que o estado de amadurecimento<br />
da questão é completo<br />
para se avançar com as consequentes<br />
medidas legislativas.<br />
Paradoxalmente, contudo, não houve<br />
ainda capacidade para dar o<br />
passo em fren te e conferir aos<br />
hospitais um estatuto jurídico-adrµinistrativo<br />
adequado.<br />
A parte os benefícios bem modestos<br />
que lhe advem do estatuto de<br />
autonomia administrativa e financeira,<br />
os Hospitais continuam sujeitos<br />
ao mesmo regime administrativo<br />
dos demais serviços públicos.<br />
Trata-se de uma contradição incontornável,<br />
geradora de graves bloquamentos<br />
e preversões.<br />
As administrações hospitalares deparam<br />
no dia a dia com controlos<br />
prévios e constrangimentos legais e<br />
regulamentares que as desgatam,<br />
inibem e desresponsabilizam.<br />
A sua postura que deveria ser<br />
necessariamente de condução e de<br />
iniciativa desliza para o comportamento<br />
burocrático e defensivo: a<br />
preocupação relativa ao cumprimento<br />
de leis e regulamentos prevalece<br />
sobre os objectivos da gestão.<br />
Mais grave que isso, contudo, é a<br />
dramática realidade de que, não<br />
obstante aqueles eqforços, os constrangimentos<br />
jurídicos que pesam<br />
sobre os hospitais são em muitas<br />
situações insusceptíveis de cumprimento.<br />
A contradição entre a realidade da<br />
vida hospitalar e o quadro regulamentar<br />
que lhe é imposto é de tal<br />
forma severa, que não há compatibilização<br />
possível e a ruptura<br />
jurídica é, em muitas áreas, inevitável.<br />
Em matéria de recrutamento<br />
de pessoal e de aquisições de bens e<br />
serviços a prática de actos ilegais é<br />
constante. Entre o estrito cumpri-<br />
Não houve ainda capacidade<br />
para dar o<br />
passo em frente e con·<br />
ferir aos hospitais um<br />
estatuto jurídico-administrativo<br />
adequado.<br />
mento da lei e a continuidade do<br />
serviço hospitalar, as Administrações<br />
optam por esse último valor.<br />
Esta opção que, no ponto de vista<br />
dos administradores, por razões<br />
cívicas e deontológicas, é indiscutível,<br />
obriga-os contudo a decair na<br />
prática de actos passivos de responsabilidade<br />
disciplinar e financeira.<br />
,<br />
E o que, sem exagero, se pode<br />
chamar uma situação insustentável.<br />
A continuidade do escamoteamento<br />
da gravidade da situação e o<br />
adiamento da tomada de decisões<br />
de fundo sobre a matéria serão a<br />
pior resposta para o problema<br />
apresentado.<br />
Entretanto, o novo diploma sobre<br />
as compras públicas e a sua aplicabilidade<br />
aos hospitais não indicia a<br />
chegada de tempos melhores. Mas<br />
ele está aí, é um facto consumado,<br />
há então que o analisar e que ver as<br />
suas incidências na vida dos hospitais.<br />
A apreciação que se adianta é<br />
necessariamente genérica e incompleta<br />
pois só a prática de aplicação<br />
do novo texto legislativo poderá<br />
melhor evidenciar as suas virtudes<br />
e , defeitos.<br />
E indiscutível que como "documento<br />
técnico" o novo diploma<br />
supera obviamente o obsoleto<br />
Dec.-Lei nº 211/79, cujas ideias<br />
sobre Administração Pública remontam<br />
aos anos 50.<br />
Assim, como aspectos positivos do<br />
Dec.-Lei nº 55/95 poderão indicar-se<br />
os seguintes:<br />
1. A actualização dos novos valores<br />
que delimitam os níveis de competência<br />
para autorização de despesas<br />
e as modalidades processuais a<br />
adoptar, valores que permaneceram<br />
inalterados desde 1985.<br />
Registe-se contudo que a actualização<br />
efectuada é mais quantitativa<br />
do que qualitativa, pois se limitou à<br />
aplicação dos valores da inflacção<br />
verificados de 1985 à actualidade.<br />
2. A consubstanciação num único<br />
texto de todo o regime jurídico dos<br />
contratos dos Serviços Públicos.<br />
3. A complexa regulamentação dos<br />
procedimentos, ultrapassando-se<br />
assim a indigência que na matéria<br />
o Dec.-Lei 211/79 revelava e a<br />
necessidade concomitante de recurso<br />
à regulamentação das obras<br />
públicas, como regime supletivo.<br />
4. A adopção das modalidades<br />
processuais que envolvem mecanismos<br />
de negociação o que poderá<br />
criar condições acrescidas de eficiência<br />
nas aquisições.<br />
5. A consideração do factor urgência<br />
como causa de dispensa de<br />
formalidades, colmatando assim<br />
lacuna grave do Dec.-Lei 211/79,<br />
embora a necessidade de aprovação<br />
prévia do Ministro limite muito o<br />
alcance da medida.<br />
Como aspectos negativos sublinham-se<br />
os seguintes:<br />
12 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />
<strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> 13
o - - p 1 n 1 a o<br />
1. A obrigatoriedade do controlo<br />
escrito retoma no essencial o que<br />
se dispunha no Dec.-Lei 211/79,<br />
com actualização do "plafond"<br />
para 2500 contos.<br />
Sabendo-se que a realização deste<br />
documento implica a fiscalização<br />
prévia do Tribunal de Contas,<br />
poder-se-á concluir que não há<br />
alterações substanciais quanto<br />
aos princípios da intervenção daquele<br />
Tribunal na gestão corrente<br />
dos Hospitais.<br />
Como é conhecido, essa intervenção,<br />
além de provocar grande peso<br />
de trabalho administrativo e de<br />
produzir indesejáveis alongamentos<br />
nos prazos de aprovisionamento,<br />
constitui elemento perturbador<br />
dos processos de decisão que o<br />
orgão de gestão não controla por<br />
inteiro.<br />
Estamos nesta matéria a tocar a<br />
questão de fundo abordada no<br />
início desta exposição.<br />
A necessidade de visto prévio do<br />
Tribunal de Contas introduz intoleráveis<br />
incertezas quanto ao desenlace<br />
final das decisões, podendo<br />
comprometer ou invalidar planos e<br />
programas, ou adiando a solução<br />
de necessidades prementes.<br />
Seria bem desejável que as intervenções<br />
do Tribunal de Contas" ou<br />
de outras entidades de tutela se<br />
ef ectuassem à posteriori (não interrompendo<br />
o processo de decisão)<br />
e se concentrassem sobretudo em<br />
critérios que tenham a ver com a<br />
transparência, a objectividade e a<br />
correcção técnico-económica das<br />
decisões. Em matéria de aprovisionamento<br />
somos visados intensivamente<br />
com intervenções que procuram<br />
avaliar aspectos formais da<br />
decisão (documentos, prazos, assinaturas,<br />
etc.) mas raramente nos<br />
sentimos avaliados pelo resultado<br />
obtido ou pela qualidade da decisão<br />
adaptada.<br />
Entretanto, e porque a realidade é<br />
esta, o novo diploma não vai evitar<br />
que face à impossibilidade prática<br />
de realizar contratos escritos sempre<br />
que a tal a lei obriga, os<br />
Hospitais continuem a invocar<br />
razões inconsistentes para a 'dispensa<br />
de contrato ou desdobrem as<br />
aquisições em valores inferiores ao<br />
plafond estabelecido.<br />
2. O novo diploma torna obrigatório<br />
nos processos de aquisições a<br />
audiência escrita ou oral dos interessados<br />
prevista nos artigos 100 e<br />
seguintes do Código de Procedimento<br />
Administrativo.<br />
Constitui mais um pesado e porventura<br />
insuportável ónus que<br />
recai sobre a actividade administrativa<br />
dos Hospitais.<br />
As citadas diligências são obrigatórias<br />
para todos os processos de<br />
valor superior a 100 contos e serão<br />
ef ectuadas ou pelo orgão de gestão<br />
0) ou por delegação deste pela<br />
Comissão de Análise de Propostas<br />
composta por 3 membros.<br />
Nos hospitais de grande e média<br />
dimensão vai haver lugar anualmente<br />
a milhares de audiências,<br />
envolvendo o trabalho de grandes<br />
contingentes de pessoal hospitalar.<br />
Não se afigura com efeito, como<br />
possível, dar adequado cumprimento<br />
a esta nova determinação que<br />
vem agravar consideravelmente o<br />
estado já penoso dos Serviços de<br />
Aprovisionamento e constituir<br />
mais uma fonte de situações jurídicas<br />
irregulares.<br />
Entretanto, os prazos de aprovisionamento<br />
vão ter seguramente aqui<br />
mais um factor de agravamento.<br />
3. No que respeita às novas modalidades<br />
processuais poder-se-á dizer<br />
que a situação actual vai ser<br />
prejudicada nas aquisições de menor<br />
valor que tem uma grande<br />
incidência na vida diária dos hospitais.<br />
Para essas aquisições hoje adopta<br />
-se a modalidade expedita e informal<br />
do Ajuste Directo cujo limite<br />
financeiro de aplicação são os 800<br />
contos.<br />
Na nova lei, o Ajuste Directo só<br />
tem lugar em aquisições de valor<br />
inferior a 100 contos. Acima deste<br />
montante têm lugar outros procedimentos<br />
que envolvem diligências<br />
(constituição de comissões, actas<br />
de reuniões, relatórios e audiência<br />
de interessados) que muito virão a<br />
sobrecarregar o trabalho administrativo<br />
dos Serviços de Aprovisionamento.<br />
4. Mantém-se no novo diploma a<br />
omissão das situações de mercado<br />
com fornecedor único como factor<br />
de dispensa de concurso.<br />
"<br />
Trata-se de situações com grande<br />
frequência nos hospitais e que, à<br />
falta de adequada previsão legal,<br />
o brigam à abertura de concursos<br />
sem qualquer sentido.<br />
5. A prática de contratos plurianuais<br />
deveria ser admitida com<br />
maior liberalidade dado o seu real<br />
interesse para as instituições, mas<br />
a manutenção da obrigatoriedade<br />
da portaria conjunta do Ministério<br />
das Finanças e da Tutela funciona<br />
como importante factor de contenção<br />
daquelas práticas.<br />
Em termos de gestão, os contratos<br />
plurianuais podem ter o maior<br />
interesse não só por razões de<br />
financiamento mas ainda porque o<br />
alargamento do prazo contratual<br />
pode em muitos casos condicionar<br />
a obtenção de melhores resultados.<br />
6. A existência de um contrato<br />
anterior como fundamento de dispensa<br />
de concurso que existia no<br />
Dec.-Lei nº 211/79 e não foi reproduzida<br />
no novo diploma, constitui<br />
uma lacuna com efeitos práticos<br />
importantes. Assim, por exemplo, o<br />
procedimento muito frequente nos<br />
hospitais de equipar laboratórios<br />
mediante a concessão do exclusivo<br />
de consumo de reagentes ao fornecedor<br />
do equipamento, não parece<br />
ter acolhimento jurídico no novo<br />
diploma.<br />
7. Continua a não haver enquadramento<br />
jurídico para os casos de<br />
aquisições sem previsão de quantidades,<br />
situações que se verificam<br />
frequentemente com produtos de<br />
consumo de gasto aleatório onde é<br />
impossível preparar concursos com<br />
estimativas de consumo credíveis.<br />
Nestes casos o que interessaria era<br />
preparar consultas de mercado,<br />
seleccionar o fornecedor e realizar<br />
Os Serviços Farmacêuticos<br />
e de Aprovisionamento<br />
dos hospitais<br />
de cada região<br />
(ou alguns deles) poderiam<br />
apoiar a realização<br />
técnica e administr<br />
ativa dos<br />
concursos, que teriam<br />
as ARS como<br />
suporte jurídico.<br />
as aquisições à medida das necessidades.<br />
Mas nestas consultas não há<br />
propriamente nem autorizações de<br />
despesa, nem adjudicações, decisões<br />
que se devolvem para as<br />
aquisições que subsequentemente<br />
vierem a ser efectuadas.<br />
Situações semelhantes se po,dem<br />
verificar com equipamentos. E do<br />
maior interesse para os hospitais<br />
preparar consultas de mercado<br />
para certos equipamentos de aquisição<br />
repetitiva mas imprevisível,<br />
por forma a evitar que se tenha de<br />
realizar um processo de compra<br />
sempre que a necessidade surja.<br />
Um comentário final relativo à<br />
perspectiva de centralização ou de<br />
agrupamento de compras hospitalares.<br />
Esta prática que teve entre<br />
nós significativo sucesso nos anos<br />
70 e 80 (Serviço de Aprovisionamento<br />
da Sec. Geral do Ministério)<br />
entrou em progressiva desactivação<br />
e está praticamente extinta.<br />
Contudo, parece fora de questão o<br />
interesse que aquele tipo de aquisição<br />
assumia para os hospitais:<br />
melhores preços (fruto das economias<br />
de escala), normalização de<br />
produtos, aceitação de novas marcas<br />
de produtos em hospitais onde<br />
outras detinham o "exclusivo",<br />
enorme simplificação do trabalho<br />
administrativo dos hospitais que se<br />
limitavam a receber as listagens de<br />
adjudicação e a colocar as respectivas<br />
encomendas, etc ...<br />
Seria importante retomar o tema.<br />
Acontece que o Dec.-Lei nº 55/95<br />
(artº. 33º, nº 7) parece abrir essa<br />
perspectiva ao permitir a adopção<br />
de modalidades de a provisionamento<br />
para sectores específicos da<br />
Administração Pública, semelhantes<br />
às que são já praticadas pela<br />
Direcção Geral do Património do<br />
Estado.<br />
Caso essa possibilidade jurídica se<br />
confirme haveria que dar-lhe o<br />
máximo de aproveitamento. Um<br />
caminho a explorar seria o da<br />
realização de contratos a nível<br />
das ARS para os principais grupos<br />
de produtos de consumo.<br />
Os Serviços Farmacêuticos e de<br />
Aprovisionamento dos hospitais<br />
de cada região (ou alguns deles)<br />
poderiam apoiar a realização técnica<br />
e administrativa dos concursos,<br />
que teriam as ARS como<br />
suporte jurídico.<br />
A viabilização desta hipótese de<br />
trabalho viria, sem dúvida, atenuar<br />
significativamente as sombrias<br />
perspectivas que o Dec .-Lei nº 55/<br />
95 suscita em todos nós. 1<br />
* Administrador-Delegado<br />
do Hospital Pulido Valente<br />
14 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />
<strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> 15
Entr~vista<br />
"Se poupamos dinheiro mas há mais pessoas a morrer, não podemos dizer que haja melhoria", afirma,<br />
categórico, numa entrevista que pode considerar-se notável, John Williamson, médico e investigador norte<br />
-americano, especialista da área da Qualidade.<br />
ó é om aixar custos<br />
se se mantiver a qua i a e<br />
ESTAO HOSPITALAR -<br />
Que tipo de desenvolvimento<br />
é necessário para<br />
ef ectuar a melhoria de<br />
qualidade em todo o país, sabendo-se<br />
que há o Governo a prestar<br />
uma grande parte dos cuidados<br />
de saúde, a financiar os cuidados,<br />
a garantir a prestação dos cuidados?<br />
JOHN WILLIAMSON - Nós tivemos<br />
uma grande experiência neste<br />
campo há mais de 20 ou 30 anos ê eu<br />
continuo convencido de que se deve<br />
começar com um centro de recursos<br />
de melhoria da qualidade independente<br />
do Governo e do sector privado<br />
se neste também for utilizado. Com<br />
um centro destes, começa por ter-se<br />
um onde haverá pessoas com formação<br />
adequada para ajudar os diversos<br />
grupos. Estas pessoas estudam a<br />
qualidade, ajudam, estabelecem as<br />
prioridades, procedem a medições<br />
dos resultados e, se o problema for<br />
real, tentam resolvê-lo através de um<br />
protocolo ou de um plano que desenvolvem,<br />
voltando sempre ao princípio<br />
para reavaliação do resultado,<br />
para ver se se conseguiu a melhoria.<br />
Depois deste centro ter trabalhado<br />
com um ou dois hospitais voluntários<br />
(não se pode impor isto) e depois de<br />
se começar a assistir a progressos e a<br />
melhorias reais, vão ver, como nós<br />
vimos em cinco anos, que haverá<br />
muitos outros hospitais a querer a<br />
mesma coisa. Vêem os dados e<br />
querem também melhorar assim.<br />
Mas a essência está no centro que<br />
tem os conhecimentos especializados,<br />
os instrumentos necessários, professores,<br />
pessoas que podem formar<br />
outras dentro do hospital, consultores<br />
que podem ajudar se houver<br />
problemas graves.<br />
GH -<br />
Quais os indicadores a<br />
"'<br />
'<br />
utilizar pela administração<br />
para saber se o<br />
pessoal, o hospital ou a<br />
unidade de saúde globalmente,<br />
têm um bom<br />
ou um mau desempenho?<br />
JW - Quando começamos<br />
a falar de indicadores<br />
entramos num tema muito<br />
interessante. Posso começar<br />
por dizer, com base<br />
na minha experiência de<br />
mais de trinta anos de<br />
trabalho, que os indicadores<br />
não constituem a resposta.<br />
Os indicadores só<br />
se debruçam sobre um<br />
número muito limitado de<br />
questões relacionadas<br />
com o desempenho de um<br />
hospital. Se nos basearmos<br />
apenas nesses indicadores,<br />
vamos provavelmente<br />
perder de vista a<br />
maior parte das áreas em que se<br />
poderiam conseguir as grandes melhorias<br />
ao menor custo. Assim, a<br />
minha sugestão é que um hospital<br />
constitua um grupo, uma equipa de<br />
melhoria da qualidade, que se debruce<br />
sobre os problemas do hospital no<br />
seu todo, sobre os problemas entre<br />
serviços, problemas entre indivíduos,<br />
tais como o pessoal de enfermagem e<br />
os médicos, os administradores e os<br />
médicos, problemas fiscais e tudo o<br />
resto que se possa aplicar ao hospital<br />
no seu todo. Ora, ao criarem uma<br />
equipa destas e ao começarem a ver<br />
algum sucesso, vão estabelecer o<br />
modelo para os serviços e para<br />
Queremos que sejam os próprios profissionais a identificaros<br />
problemas nas suas áreas de responsabilidade.<br />
aquilo que cada chefe de serviço<br />
pode fazer. No Serviço de Medicina<br />
Interna, o chefe de serviço pode<br />
constituir uma equipa com médicos,<br />
pessoal de enfermagem, pessoal administrativo<br />
e esta equipa dedicar-se<br />
-ia às questões intra-serviço, às questões<br />
que têm a ver com esse serviço<br />
específico.<br />
GH- Em Portugal tem vindo a ser<br />
a Inspecção Geral dos Serviços de<br />
Saúde (que é um departamento do<br />
Estado) a assumir algum papel<br />
conhecido em matéria de qualidade,<br />
auditando a adequação técnica,<br />
por exemplo, de serviços de<br />
A minha sugestão é que um hospital<br />
constitua um grupo, uma equipa de<br />
melhoria da qualidade, que se debruce<br />
sobre os problemas do hospital no seu<br />
todo, sobre os problemas entre serviços,<br />
problemas entre indivíduos, tais<br />
como o pessoal de enfermagem e os<br />
médicos, os administradores e os<br />
médicos, problemas fiscais e tudo o<br />
resto que se possa aplicar ao hospital<br />
no seu todo.<br />
sangue ou da hemodiálise.<br />
Pensa ser este o<br />
caminho certo?<br />
JW - Há alturas em que<br />
esse será o caminho certo<br />
a percorrer. Se há tentativas<br />
de se detectar uma<br />
melhoria e nada acontece,<br />
a administração tem<br />
de meter mãos à obra e<br />
desenvolver indicadores,<br />
fazer medições e, seguidamente,<br />
arranjar um<br />
tipo de motivação ou<br />
incentivo (muitas vezes<br />
negativo, infelizmente)<br />
para eles cumprirem.<br />
Mas, na maior parte dos<br />
casos, queremos que sejam<br />
os próprios profissionais<br />
a identificar os problemas<br />
nas suas áreas de<br />
responsabilidade. E, se<br />
eles trabalharem cotmbas<br />
pessoas com quem ra a-<br />
lham agora, identificarem os problemas<br />
e as soluções, há muito mais<br />
probabilidades de conseguir mudanças<br />
de comportamento e melhores<br />
resultados do que se se forçar tudo<br />
através de regulamentos e normas.<br />
GH - A acreditação de unidades de<br />
saúde, centros de saúde e hospitais<br />
é uma priorid~de num sistema<br />
de qualidade? E possível num<br />
sistema de saúde como o nosso,<br />
sem um verdadeiro mercado e<br />
sem livre escolha, desenvolver<br />
programas de acreditação? Quem<br />
os deverá conduzir?<br />
JW - Tal como acontece com o<br />
Estado a mandar os seus fiscais<br />
examinar os registos (o que pode ser<br />
útil numa pequena área, mas não<br />
aqui), também aqui os procedimentos<br />
de acreditação e certificação não são<br />
frequentemente válidos. Não identificam<br />
onde é que se devem introduzir<br />
as mudanças mais importantes. Nós<br />
fizemos estudos em que examinámos<br />
os exames de certificação e, sempre<br />
que havia uma pontuação elevada,<br />
víamos o que tinham feito na prática<br />
e verificávamos não haver qualquer<br />
relação. Pode ter-se uma pontuação<br />
alta e ser-se péssimo médico e pode<br />
ter-se uma pontuação, baixa e ser-se<br />
um grande médico. E por isso que<br />
tendemos a não gostar dos exames de<br />
acreditação que são feitos em dado<br />
momento, até porque é a longo prazo<br />
que se consegue fazer a melhor<br />
<strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> 17
O administrador é responsável pelas relações do hospital com a<br />
comunidade. O médico é responsável pelas comunicações e pelas relações<br />
com os seus próprios doentes.<br />
avaliação e que se pode conseguir<br />
melhores observações e resultados.<br />
Para isso, também é melhor usar<br />
equipas em que os próprios médicos<br />
tentam identificar as áreas em que<br />
podem melhorar. Não queremos estar<br />
a apontar para um médico e dizer-lhe<br />
"o senhor é mau".<br />
GH - Quer exemplificar?<br />
JW - Posso dar como exemplo o que<br />
se passa nos Países Baixos. Eles estão<br />
a abandonar a acreditação, a certificação.<br />
Tudo o que precisam é que um<br />
médico passe pelas fases da sua<br />
formação e que as pessoas que o<br />
acompanharam ao longo dos anos<br />
digam que ele é competente e está<br />
pronto para exercer a profissão:· Não<br />
os fazem passar por novos exames<br />
para mostrar que decoraram imensos<br />
factos isolados que, muitas vezes,<br />
nada têm a ver com prestação de<br />
cuidados competentes. Penso que<br />
usar este tipo de métodos para<br />
identificar a competência é melhor<br />
do que estar a fazer-lhes um exame<br />
em determinado momento e, depois,<br />
partir do princípio de que vão ser<br />
sempre bons ou maus. Penso que isso<br />
é um disparate.<br />
GH - Há uma tendência fortemente<br />
reactiva da classe médica<br />
à introdução de mecanismos de<br />
avaliação da qualidade na prática<br />
clínica, designadamente porque<br />
lhe repugna a ideia de uniformizar<br />
procedimentos, estabelecer<br />
critérios e proceder a comparações<br />
entre o exercício e os padrões.<br />
Como se poderá<br />
ultrapassar esta questão?<br />
JW - Bom, de certa maneira, esses<br />
médicos têm razão. Mas tem de se<br />
pensar em termos dos factores que<br />
vão levar à mudança e, no início, as<br />
pessoas resistem. Nos Países Baixos,<br />
por exemplo, foram precisos cinco<br />
anos para muitos hospitais ficarem<br />
convencidos de que era isso que<br />
deviam fazer. Portanto, não nos<br />
Um dos piores problemas que temos é o<br />
dos erros no diagnóstico, até porque<br />
há imensos estudos sobre autópsias<br />
que mostram que não estamos a<br />
diagnosticar a situação certa.<br />
18 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />
devemos preocupar se eles ficarem<br />
muito zangados e pouco implicados.<br />
São estes os médicos que, muito<br />
provavelmente, serão os líderes da<br />
melhoria de qualidade. Depois, começam<br />
a falar sobre as informações,<br />
sobre as razões por que não gostam e<br />
começam a ver o que se diz na<br />
literatura e o que se passa noutros<br />
países. Verificámos muitas vezes que<br />
os mais negativos dão uma reviravolta<br />
rápida e, ao fim de um ano mais ou<br />
menos, são os mais positivos.<br />
GH - Talvez por isso o Governo<br />
português tem, ainda que timidamente,<br />
investido áreas técnicas<br />
em que o "know-how" está consolidado,<br />
procurando afinar normas<br />
quanto a instalações, equipamentos<br />
com o rácio de pessoal (questões<br />
de natureza estrutural) ou,<br />
então, na área da humanização,<br />
desenvolvendo campanhas de sensibilização<br />
para a delicadeza ( estamos<br />
no "Ano da Delicadeza",<br />
disse o nosso ministro), formação<br />
em atendimento , conforto dos<br />
doentes, etc., sempre ao lado do<br />
processo clínico, da prestação de<br />
cuidados. Até que ponto estamos<br />
a tocar nas questões essenciais?<br />
Ou pensa que há abordagens mais<br />
importantes da qualidade em saúde?<br />
JW - Uma das áreas mais importantes<br />
para melhorar os cuidados de<br />
saúde tem a ver com as comunicações<br />
e com as relações interpessoais<br />
entre prestadores de cuidados e<br />
consumidores. O administrador é<br />
responsável pelas relações do hospital<br />
com a comunidade. O médico é<br />
responsável pelas comunicações e<br />
pelas relações com os seus próprios<br />
doentes mas, se falamos de clientes<br />
(que é o que se faz agora com base nos<br />
modelos industriais), temos clientes<br />
internos e clientes externos. Num<br />
hospital, o cliente interno pode ser<br />
um administrador, porque é a ele que<br />
se apresentam relatórios. Um cliente<br />
externo pode ser o próprio doente. As<br />
relações destas pessoas, dentro do<br />
pessoal, dentro do hospital, com os<br />
que estão fora - uma das melhores<br />
formas de se melhorar isto é aprender<br />
a comunicar melhor, aprender a<br />
prestar o tipo de cuidados carinhosos<br />
de saúde em vez da atitude brusca<br />
de dizer "eu sou o médico, eu é que<br />
sei". Bom, se um médicp pensa assim,<br />
geralmente não sabe. E por isso que<br />
eu acho que a área da comunicação<br />
é muito importante.<br />
Mas, para se poder depois<br />
determinar o que é que é<br />
mais importante a seguir, é<br />
necessário fazer uma avaliação<br />
e tirar as inferências com<br />
base no nosso próprio sistema.<br />
Eu sou de opinião de que,<br />
no nosso país, um dos piores<br />
problemas que temos é o dos<br />
erros no diagnóstico, até<br />
porque há imensos estudos<br />
sobre autópsias que mostram<br />
que não estamos a diagnosticar<br />
a situação certa. Portanto,<br />
o tratamento é frequentemente<br />
errado e o doente vive<br />
muito menos tempo e em<br />
condições mais duras do que<br />
se se começasse por fazer um<br />
diagnóstico correcto. Esta<br />
área da triagem diagnóstica<br />
é, a meu ver, uma daquelas<br />
em que se poderia conseguir<br />
fazer uma avaliação e obter<br />
melhorias.<br />
GH - Hoje aborda-se a qualidade<br />
muito mais na óptica dos "outcomes"<br />
(resultados) do que na óptica<br />
do processo. Olhando apenas para<br />
resultados finais ou impactes,<br />
como, por exemplo, "quality adjusted<br />
life years", não estaremos a<br />
misturar externalidades que em<br />
muito ultrapassam os sistemas de<br />
saúde e a sua capacidade de<br />
resolver problemas, ou devemos<br />
também perspectivar resultados<br />
intermédios, fiabilidade e pertinência<br />
do diagnóstico, as cirurgias,<br />
diminuição de infecções<br />
nosocomiais, etc.?<br />
JW - Eu, diria que sim, sem dúvida<br />
alguma. E muito importante pensar<br />
sobre onde devemos começar, o que<br />
devemos estudar. Acaba por verificar-se<br />
que têm de melhorar-se os<br />
procedimentos. Não se podem melhorar<br />
resultados sem se melhorarem os<br />
procedimentos, a estrutura. Se não<br />
tivermos os equipamentos certos não<br />
vamos melhorar a maneira de se<br />
tratar os cálculos renais. Portanto, é<br />
bom considerar-se os resultados intermédios,<br />
e nós fazemos isso. Talvez<br />
não seja o resultado final para a<br />
saúde do doente, mas se sabemos<br />
que há um rim gravemente infectado,<br />
esse é um resultado intermédio<br />
que tem de ser considerado. Depois,<br />
trabalhamos de forma dedutiva para<br />
Se poupamos dinheiro mas há mais pessoas a<br />
morrer, não podemos dizer que haja melhoria.<br />
encontrar os procedimentos e ver<br />
como o médico está a fazer o diagnóstico<br />
e estudamos todos os outros<br />
factores do processo que podem estar<br />
relacionados com o resultado e que<br />
podem ser inaceitáveis. Creio que<br />
não são precisos grandes prognósticos<br />
para se saber que, se os rins<br />
deixam de funcionar, temos um problema<br />
muito sério com esse doente.<br />
Portanto, neste caso, o resultado<br />
intermédio é crítico. Mas, de uma<br />
maneira geral, temos de nos manter<br />
atentos à qualidade de vida, tanto dos<br />
consumidores como dos prestadores<br />
de cuidados de saúde como sendo<br />
uma série de resultados que acabarão<br />
por ter de ser discutidos.<br />
GH - Por outro lado, cada vez<br />
mais a qualidade aparece associada<br />
à racional utilização de recursos,<br />
ou seja, à eficiência técnica e<br />
distributiva. Como conciliar esta<br />
perspectiva com a do prestador<br />
individual, geralmente avesso às<br />
questões de eficiência e mais<br />
virado para as questões da efectividade?<br />
JW - Agora estamos a transferir a<br />
nossa atenção dos resultados de<br />
saúde para os resultados económicos<br />
e estes implicam o uso de recursos<br />
económicos, implicam a análise de<br />
custos finais e de custos agregados.<br />
<strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> 19<br />
Entrevista<br />
Ao tentarmos melhorar os<br />
resultados económicos, um<br />
dos primeiros e mais úteis<br />
meios no nosso país consiste<br />
em procurar os procedimentos<br />
desnecessários, os testes desnecessários,<br />
os internamentos<br />
desnecessários ou um elevado<br />
nível técnico quando não era<br />
necessário. Isso significa desperdício<br />
de dinheiro e não<br />
melhora os resultados. Mas,<br />
a prazo, para a eficiência, que<br />
é o que estamos a tentar<br />
melhorar, não podemos dizer<br />
que baixar custos seja bom a<br />
não ser que descubramos que<br />
os resultados para a saúde se<br />
mantiveram iguais antes e<br />
depois de começarmos a aplicar<br />
o plano de melhoria económica.<br />
Se poupamos dinheiro<br />
mas há mais pessoas a<br />
morrer, não podemos dizer<br />
que haja melhoria.<br />
GH - Temos tido muita<br />
dificuldade em incluir os<br />
consumidores como parte activa<br />
nos sistemas de qualidade. Que<br />
mecanismos desenvolver para a<br />
sua efectiva participação?<br />
JW - Um dos tipos de resultados<br />
mais importantes tem a ver directamente<br />
com as expectativas do doente<br />
e com a consecussão dessas expectativas.<br />
Se as expectativas são irrealistas,<br />
o médico tem de trabalhar com o<br />
doente para o educar, de forma a que<br />
ele veja o que poderá ser uma<br />
expectativa realista. Infelizmente,<br />
muitas vezes o médico também não<br />
tem expectativas realistas, mas, se<br />
entrarmos nesta análise cíclica, descobrimos<br />
isto e podemos ensinar o<br />
médico que, por sua vez, pode ensinar<br />
o doente para que ele veja um<br />
prognóstico mais realista no seu<br />
caso específico. Mas é importante<br />
reconhecer que existem muitos caminhos<br />
para se poder melhorar eficazmente<br />
o comportamento do doente.<br />
Por exemplo, o estilo de vida; um<br />
médico tem grandes dificuldades em<br />
tentar ajudar a melhorar o estilo de<br />
vida dos seus doentes. Por exemplo,<br />
fumar. Costumávamos ter cartazes<br />
que diziam que 100 mil médicos<br />
tinham deixado de fum1:i.r e esperávamos<br />
que esta mensagem fosse compreendida<br />
pelos doentes; isto não foi<br />
conseguido e só ao fim de muito<br />
tempo e de se tomar várias outras
medidas é que se conseguiu reduzir o<br />
número de fumadores. Esta é uma<br />
área em que o médico tem de trabalhar<br />
com a comunidade. Reduzir o<br />
tabagismo requer o esforço de uma<br />
comunidade e não pode apenas dizer<br />
respeito a um doente. Se este ouvir<br />
mensagens educativas na televisão,<br />
nos jornais, nas revistas; se a igreja<br />
começar a falar da importância de se<br />
melhorar a saúde para que a vida seja<br />
melhor, quando o doente começar a<br />
ouvir toda a gente a dizer que a<br />
redução do tabaco é realmente qualquer<br />
coisa que pode melhorar a vida,<br />
então isto pode levar a uma surpreendente<br />
mudança de comportamentos<br />
benéfica para o estado de saúde das<br />
pessoas e da nação no seu todo.<br />
GH - Qual o relacionamento a ter<br />
com os médicos?<br />
JW - É preciso ver qual é a sua<br />
atitude perante a profissão no seu<br />
todo. Se se pensa que, na sua maior<br />
parte, os médicos são cabeças no ar e<br />
não poderão fazer bem aos doentes<br />
nem ter bons resultados a não ser que<br />
sejam forçados por regras, normas e<br />
exames de x em x anos, havendo esta<br />
tentativa de se melhorar a partir de<br />
cima, são necessárias regras impostas<br />
de cima para baixo. Precisam que o<br />
fiscal de cuidados de saúde venha à<br />
consulta dia sim, dia não para ver se<br />
se está a fazer o que se deve. Só que se<br />
se fizer isso, as coisas vão piorar.<br />
Mas, se, por outro lado, se partir do<br />
princípio de que os médicos são<br />
espertos, têm formação boa, são<br />
profissionais de saúde conscientes;<br />
No que respeita ao relacionamento<br />
com os médicos, "devemos ter apenas<br />
um mínimo de regras a impor<br />
de cima".<br />
se se considerar a maior parte deles<br />
assim, ter-se-á de dedicar esforços<br />
para os ajudar a trabalhar ainda<br />
melhor, levando-os a ver que poderão<br />
não estar a cuidar adequadamente<br />
dos doentes. Assim é mais possível ter<br />
melhorias. Não podemos eliminar as<br />
regras e as normas porque estas são<br />
muito importantes para os 2% ou 3%<br />
que talvez só pensem em ganhar<br />
dinheiro, que não se preocupam com<br />
os doentes e que talvez também se<br />
metam nas drogas. Haverá alguns<br />
que têm de ser mantidos debaixo de<br />
olho, mas não devem castigar-se os<br />
outros 97%, impondo-lhes regras<br />
Não podemos eliminar as regras e as<br />
normas porque estas são muito importantes<br />
para os 2°/o ou 3o/o que talvez só<br />
pensem em ganhar dinheiro, que não<br />
se preocupam com os doentes e que<br />
talvez também se metam nas drogas.<br />
Haverá alguns que têm de ser mantidos<br />
debaixo de olho, mas não devem<br />
castigar-se os outros 97%, impondo<br />
-lhes regras duras de cima para tentar<br />
evitar o comportamento dos outros 2<br />
OU 3°/o.<br />
20 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />
duras de cima para tentar evitar 9<br />
comportamento dos outros 2 ou 3%. E<br />
por isso que acho que devemos ter<br />
apenas um mínimo de regras a impor<br />
de cima. Isto não significa termos de<br />
irritar e metermo-nos com a maioria<br />
dos médicos por causa de uma minoria<br />
a quem chamamos maçãs podres<br />
ou cabeças tontas.<br />
GH- O que é que está a acontecer<br />
então com a Joint Commission of<br />
Health Care Organizations?<br />
JW - A J oint Commission é um<br />
exemplo clássico das regras impostas<br />
de cima em que se mandam os fiscais<br />
aos diversos hospitais (eles designam<br />
-se a si próprios por analistas). Depois<br />
de vermos as variáveis estruturais<br />
que eles examinaram e que eles<br />
trabalharam muito bem, que realmente<br />
temos as portas com largura<br />
suficiente, os extintores de incêndios<br />
no sítio certo, os edifícios estão bem<br />
arejados, é óptimo. Trabalharam<br />
bem, mas eles estão a concentrar-se<br />
nos comportamentos individuais, no<br />
desempenho individual e é aqui que,<br />
em minha opinião, eles saem dos<br />
trilhos. Temos tantos exemplos! Um<br />
foi mesmo publicado no Wall Street<br />
Journal. A Joint Commission foi<br />
fazer uma inspecção a um hospital<br />
e, quando voltou para o escritório,<br />
disse que o hospital tinha sido<br />
aprovado e era muito bom. Na<br />
realidade, esse hospital era dos piores<br />
da cidade quando os inspectores<br />
lá não estavam e os cidadãos da<br />
comunidade protestaram e conseguiram<br />
que ele fosse fechado. Verificaram<br />
haver casos em que se pegava<br />
numa toalha e se limpava a mesa de<br />
operações antes de se fazer entrar o<br />
doente seguinte. Horrível. Mas, depois<br />
de terem conseguido fechar o<br />
hospital, receberam uma carta que<br />
dizia: "Parabéns, é com prazer que<br />
informamos que passaram o nosso<br />
exame e o vqsso hospital é de boa<br />
qualidade". E um disparate, mas<br />
acontece. Se se reconhece que menos<br />
de meio por cento dos hospitais que<br />
examinam é que são reprovados,<br />
verifica-se que (e aqui estou a ser<br />
·cínico) que a Joint Commission<br />
ganha o seu dinheiro em formação.<br />
Isso, na minha opinião, representa<br />
um conflito de interesses. Eles produzem<br />
os seus próprios clientes e<br />
ganham dinheiro artificialmente pretendendo<br />
estar a proteger a qualidade.<br />
1<br />
- ~<br />
\<br />
--<br />
1 n v~st1gaçae»<br />
As questões que se põem<br />
aos sistemas de Saúde ·<br />
Mais ou menos, todos os países têm dificuldades em encontrar as<br />
melhores soluções para no plano da oferta dar satisfação à procura, o<br />
que determina situações bastante generalizadas de ajustamento<br />
qualitativo e quantitativo entre uma e outra.<br />
o contexto do desenvolvimento<br />
dos sistemas de saúde<br />
da maior parte dos paí ·<br />
ses , é hoje possível<br />
identificar claramente um conjunto<br />
significativo de problemas semelhantes.<br />
No entanto, as tentativas<br />
de resposta passam com alguma<br />
frquência ao lado das grandes questões<br />
que, assim, continuam a pôr-se<br />
aos sistemas de saúde:<br />
..-Qual a parte da riqueza produzida<br />
por cada nação que pode ser<br />
dedicada às prestações sociais em<br />
geral e às de saúde em particular?<br />
..- Como distribuir os encargos<br />
com as prestações de saúde entre<br />
os diferentes protagonistas do<br />
processo social?<br />
..- Como organizar (diferentemente?)<br />
as prestações de saúde de<br />
modo a garantir a melhoria da<br />
saúde das populações e, designadamente,<br />
a equidade no acesso e a<br />
sua eficiência sobretudo económica<br />
mas também técnica?<br />
..- Quais os resultados exigíveis<br />
das despesas e particularmente dos<br />
investimentos em saúde?<br />
..- Como fazer participar correcta e<br />
activamente os consumidores nas<br />
grandes decisões sobre a organização<br />
e o funcionamento dos serviços,<br />
conferindo-lhes autênticos direi<br />
tos e a possibilidade de<br />
intervirem no relacionamento pagadores/prestadores?<br />
Verificam-se problemas semelhantes<br />
nos sistemas de saúde da maior<br />
parte dos países, quer do lado de<br />
uma procura que continua a crescer<br />
num mundo em que a informação<br />
ignora as fronteiras facilitando a<br />
formação de ambições comuns ainda<br />
que temperadas por especificidades<br />
de índole cultural e social, quer do<br />
lado da oferta, apesar de no plano<br />
conceptual e estrutural, esta apresentar<br />
assinaláveis diferenças entre<br />
I • I<br />
os varias paises.<br />
Não é, pois, difícil aceitar que, mais<br />
ou menos todos os países tenham<br />
dificuldades em encontrar as melhores<br />
soluções para no plano da oferta<br />
dar satisfacção à procura, o que<br />
determina situações bastante generalizadas<br />
de desajustamento qualitativo<br />
e quantitativo entre uma e<br />
outra.<br />
Esta situação gerou um movimento<br />
tão vasto quanto heterógéneo que,<br />
apoiado senão mesmo dinamizado<br />
por um importante número de organizações<br />
internacionais, umas com<br />
interesses específicos ou restritos à<br />
área da saúde, outras com objectivos<br />
mais alargados e voltados para<br />
outras áreas (OCDE, Banco Mundial,<br />
OMS, Unico Europeia, Conselho<br />
da Europa, etc), ganhou o<br />
estatuto, totalmente justificado<br />
mas não por uma questão de moda,<br />
de tópico obrigatório . de todas as<br />
políticas de saúde.<br />
Abrigando-se a maior parte das<br />
Vasco Pinto dos Reis**<br />
vezes sob a mesma designação ("A<br />
Reforma do Sistema de Saúde"),<br />
importa no entanto dar-lhe contornos<br />
mais precisos, para não generalizar<br />
equívocos que hoje são dominantes.<br />
De facto, é possível encontrar múltiplas<br />
situações:<br />
• Países em q·ue as mudanças na<br />
saúde são arrastadas por alterações<br />
mais profundas do tecido<br />
económico, designadamente pela<br />
introdução directa de conceitos<br />
típicos de outros mercados que,<br />
com maior ou menor ligeireza, são<br />
adaptados à área social (caso<br />
típico das situações de "transição"<br />
de alguns países da Europa<br />
Central e de Leste);<br />
• Países em que a "reforma" se<br />
traduz em situações de simples<br />
ajustamento organizado mas de<br />
Apesar das espectaculares melhorias<br />
obtidas nos últimos anos, e11ormes<br />
problemas com a saúde permanecem<br />
por resolver.<br />
<strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> 21
tipo meramente incrementalista (a<br />
França, por exemplo);<br />
• Situações em que as reformas<br />
tiveram natureza específica, circunscrevendo-se<br />
à saúde mas com<br />
alguma profundidade (a Holanda,<br />
por exemplo);<br />
• Países em que as reformas foram<br />
afinal um somatório de medidas<br />
mais ou menos avulsas e sem<br />
coerência intrínseca;<br />
• E situações que, enquadrando-se<br />
em qualquer das tipologias atrás<br />
listadas, foram abortadas por movimentos<br />
de sentido contrário, não<br />
se chegando a concretizar (os<br />
Estados Unidos, por exemplo) ou<br />
tendo apenas concretização parcial.<br />
A origem deste movimento decorre<br />
de uma multiplicidade de factores<br />
em que avulta, por um lado, o<br />
reconhecimento generalizado de<br />
que n,ielhor saúde e/ou melhores<br />
serviços de saúde podem aumentar<br />
a equidade e melhorar a qualidade<br />
de vida dos seus cidadãos e, por<br />
outro lado, a também generalizada<br />
convicção de que, apesar das espectaculares<br />
melhorias obtidas nos<br />
últimos anos, enormes problemas<br />
com a saúde permanecem por resolver.<br />
De qualquer forma é possível identificar<br />
nestas situações, de transição,<br />
de simples mudança, de verdadeira<br />
reforma ou, mais simplesmente, de<br />
anunciada intenção de realizar qualquer<br />
um destes graus de viragem,<br />
alguns aspectos peculiares.<br />
Mas:<br />
• Se a importância da dimensão<br />
saúde como factor positivo na<br />
evolução registada não é posta em<br />
causa;<br />
• Se é quase pacífico, provavelmente<br />
até demasiado consensual<br />
face às profundas diferenças estruturais<br />
e funcionais existentes, a<br />
identificação dos chamados pontos<br />
críticos, num processo de análise<br />
que, por norma, valoriza mais<br />
semelhanças discutíveis do que<br />
diferenças tão naturais quanto<br />
enriquecedoras do ponto de vista<br />
do conhecimento crítico dos sistemas.<br />
O mesmo já não ocorre, nem com os<br />
As alternativas adiantadas nem semp(e<br />
são adequadas aos objectivos anunciados<br />
quando perspectivadas isoladamente,<br />
nem coerentes entre si quando<br />
encaradas em conjunto.<br />
seus objectivos anunciados nem com<br />
as medidas com que se pretende<br />
consubstanciar esses objectivos e<br />
ainda menos com a sua aplicação<br />
em cada caso concreto.<br />
Análise da situação<br />
Inquestionavelmente, as alternativas<br />
adiantadas nem sempre são<br />
adequadas aos objectivos anunciados<br />
quando perspectivadas isoladamente,<br />
nem coerentes entre si quando<br />
encaradas em conjunto.<br />
Saltman (Saltman, 1994), avaliando<br />
retrospectivamente o movimento de<br />
reforma dos sistemas de saúde que<br />
desde o final da década de 80<br />
atravessa o mundo, identifica como<br />
principais objectivos, explicitamente<br />
assumidos, ainda que nem<br />
sempre concomitantemente:<br />
• A procura de maior adequação e<br />
equidade no acesso aos cuidados;<br />
•A manutenção do nível de rendimento<br />
dos consumidores;<br />
• A obtenção de maior eficiência<br />
do ponto de vista macroeconómico;<br />
• A obtenção de maiores níveis de<br />
eficiência no plano microeconómico;<br />
• A atribuição ao consumidor de<br />
uma maior liberdade de escolha;<br />
• A atribuição aos prestadores de<br />
níveis de autonomia adequados (a<br />
sua responsabilização).<br />
Objectivos cuja concretização teria<br />
sido sempre graduada (ou, se se<br />
preferir, alterada ou mesmo prejudicada)<br />
em função de duas condicionantes<br />
maiores que poderemos qualificar<br />
como tendo natureza política:<br />
• O contexto "histórico, filosófico e<br />
cultural" de cada país e do seu<br />
sistema de saúde, com especial<br />
evidência para as diferenças existentes<br />
a nível do ponto de viragem<br />
em múltiplos aspectos e, designadamente,<br />
do "mix" público privado<br />
existente, dos níveis de satisfação<br />
dos consumidores e dos profissionais<br />
e até dos detentores do poder<br />
político;<br />
•A existência de "ciclos políticos"<br />
(eleições, promessas, demonstração<br />
de progressos) que determinam a<br />
definição de estratégias de çurto<br />
prazo.<br />
Uma análise atenta das reformas<br />
realizadas permite igualmente identificar<br />
três pontos ou as três dimensões<br />
de intervenção mais frequentes,<br />
quase sempre no contexto do recurso<br />
QUADRO 1<br />
PONTOS DE INTERVENÇÃO MAIS FREQUENTES<br />
I<br />
DAS REFORMAS DE SAUDE<br />
DIMENSÃO FINANCEIRA DIMENSÃO PRODUTIVA DIMENSÃO DISTRIBUTIVA<br />
RECEITAS FISCAIS SERVIÇOS PRESTADORES INTEGRAÇÃO DAS DUAS<br />
DIMENSÕES NAS MESMAS<br />
ENTIDADES<br />
PREMIOS SEGURO SOCIAL - HOSPITAIS SITUAÇOES DE CONTRATO<br />
COM SEPARAÇÃO<br />
DAS DUAS DIMENSÕES<br />
PREMIOS SEGURO PRIVADO - MEDICOS REEMBOLSO (q uase sempre<br />
por serviço recebido)<br />
PAGAMENTO PELO PROPRIO - OUTROS SERVIÇOS<br />
SERVIÇOS DE SAUDE<br />
PÚBLICA<br />
Adaptado de SALTMAN, R.;A Conceptual Overview of Recent Health Gare Reforms.In "European Jornal<br />
of Public Health, vol 4, 1994, nº- 4, pág 288<br />
22 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />
muito generalizado a modelos de<br />
regulação, normativos ou recorrendo<br />
a mecanismos de mercado (incentivos<br />
sobretudo) e listar, ainda<br />
que de modo não exaustivo, os tipos<br />
de intervenção ou as medidas mais<br />
utilizadas.<br />
Os quadros I e II procuram mostrar<br />
as medidas ou os instrumentos mais<br />
utilizados.<br />
Ainda segundo Saltman (Saltman,<br />
1994), a ponderação dos objectivos<br />
definidos para as reformas com<br />
aquelas duas condicionantes maiores<br />
que atrás se identificaram determinariam<br />
os instrumentos ou medidas<br />
escolhidos e o seu campo de<br />
intervenção.<br />
Isto é, para atingir os objectivos que<br />
atribuíram às suas "reformas", os<br />
Governos escolhem as medidas que<br />
as consubstanciam e optam pelas<br />
dimensões do mercado em que irão<br />
1 nvestigaçao<br />
Para atingir os objectivos que atribuíram<br />
às suas "reformas", os Governos<br />
escolhem as medidas que as consubstanciam<br />
e optam pelas dimensões do<br />
mercado em que 1rao intervir, em<br />
função do contexto histórico, filosófico<br />
e cultural do país e dos seus<br />
objectivos a curto prazo.<br />
intervir, em função do contexto<br />
histórico, filosófico e cultural do<br />
país e dos seus objectivos a curto<br />
prazo.<br />
Os autores que se têm dedicado ao<br />
tema - entre outros Johnson 1994,<br />
Evans 1994, Ovretveit 1994 - identificam<br />
generalizadamente, para além<br />
QUADRO li<br />
PRINCIPAIS MEDIDAS OU INSTRUMENTOB UTILIZADOS _<br />
NAS REFORMAS EM CADA UM DOS PONTOS DE INTERVENÇAO<br />
DIMENSÃO FINANCEIRA DIMENSÃO PRODUTIVA DIMENSÃO DISTRIBUTIVA<br />
ESTABELECIMENTO GESTAO QUASE CONTRATOS<br />
DE MECANISMOS . AUTÓNOMA DOS NEGOCIADOS<br />
DE COMPETIÇÃO ENTRE HOSPITAIS PÚBLICOS<br />
OS SEGURADORES<br />
PRIVADOS<br />
PROMOÇAO<br />
DOS SEGUROS<br />
PRIVADOS<br />
PROMOÇAO DO .<br />
SEGURO SOCIAL<br />
ESTABELECIM ENTO DE<br />
MECANISMOS COMPETITIVOS<br />
ENTRE HOSPITAIS E MÉDICOS<br />
DESCENTRALIZAÇAO DA<br />
PRESTAÇÃO DE CUIDADOS<br />
-------l---:-:-UT=:-:IL-=1z~AÇ-=-'= AC:::O--::D::--:::: O~S -==c<br />
L~I<br />
GERAIS COMO PORTEIROS<br />
DO SISTEMA<br />
PRIVATIZAÇAO DOS<br />
SERVIÇOS PRESTADORES<br />
MELHORIA DA COORDENAÇAO<br />
INTERSERVIÇOS SOBRETUDO<br />
PARA OS IDOSOS<br />
PROMOÇAO DA QUALIDADE<br />
DAS PRESTAÇÕES<br />
PROMOÇAO DO DIREITO<br />
DE ESCOLHA<br />
DOS DOENTES<br />
ESTABELECIMENTO DE<br />
ORÇAMENTOS PARA OS<br />
CLÍNICOS GERAIS<br />
E/OU CERTOS NÍVEIS<br />
DE ADMINI STRAÇÃO<br />
N-;-;-:IC::-;:;0:-;:-S ---i-;:- E ;:::;; ST~ABELEC IM ENTO DE<br />
PREÇOS DE REFERÊNCIA<br />
PARA OS MEDICAMENTOS<br />
DEFINIÇAO DE<br />
FORMULÁRIOS PARA<br />
OS MEDICAMENTOS<br />
RECURSO A MODELOS<br />
DE CO-PAGAMENTO<br />
E A FRANQUIAS<br />
INICIATIVAS MULTIPERSPECTIVADAS<br />
MELHORIA DOS SISTEMAS DE INFORMAÇAO<br />
MELHORIA DOS SERVIÇOS DE PROFILAXIA (OU PREVENÇÃO)<br />
PROMOÇÃO DOS DIREITOS DOS DOENTES<br />
Adaptado de SALTMAN, R.;A Conceptual Overview of Recent Health Gare Reforms.In "European Journal of<br />
Public Health, vol 4, 1994, nº· 4, pág 289<br />
<strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> 23<br />
dos instrumentos de outro tipo<br />
referidos, uma tendência muito vasta<br />
para o recurso a modelos derivados<br />
do mercado com introdução de<br />
incentivos , o que não é totalmente<br />
pacífico, suscitando no contexto de<br />
especificidades que distinguem o<br />
mercado da saúde fundadas dúvidas,<br />
pelo menos sobre a sua utilização<br />
imponderada - Campos 1993,<br />
Rodwin 1993, Grupo de Lisboa 1994<br />
e Glennerster 1994.<br />
Tem-se também considerado generalizadamente<br />
que, tendo embora as<br />
mesmas finalidades, cada modelo de<br />
intervenção seria o produto de uma<br />
actuação filosoficamente condicionada<br />
e de determinados objectivos<br />
de curto prazo em matéria de política<br />
de saúde:<br />
1 uma actuação sobre dimensão<br />
financeira tal qual se identificou<br />
no quadro I traduziria a procura de<br />
competição no quadro de um sistema<br />
predominantemente privado ou<br />
de seguro privado e em que esta<br />
não só poderia estimular a redução<br />
de preços como uma melhoria da<br />
qualidade e a produção de cuidados<br />
mais efectivos e de modo mais<br />
eficiente.<br />
Seria uma actuação que obedeceria<br />
a uma lógica económica de tipo<br />
neoclássico que, perspectivando a<br />
saúde mais como um bem comercializável<br />
do que como um bem<br />
público e colectivo, é pelo menos<br />
criticável enquanto se não provarem<br />
as vantagens da multiplicidade<br />
de seguradores, garantindo<br />
que a concor-rência entre seguradores<br />
não estimula preferencialmente<br />
o crescimento de situações<br />
de exercício de selecção ad.versa;
lnvestigaçao<br />
• uma actuação sobre a dimensão<br />
produtiva, e designadamente sobre<br />
os prestadores de cuidados de<br />
saúde, tem também e habitualmente<br />
por intenção obter mais<br />
eficiência, maior ef ectividade e<br />
maior responsabilidade perante os<br />
consumidores, através de uma regulação<br />
normativa orientada por<br />
conceitos de missão ou recorrendo<br />
a mecanismos de mercado, normal -<br />
mente incentivos, o que coloca as<br />
críticas com frequência numa sede<br />
ideológica perante a possibilidade<br />
de indução de comportamentos<br />
perversos à aludida especificidade<br />
do mercado ou de quebras da<br />
qualidade das prestações;<br />
• intervenções sobre a dimensão<br />
distributiva do sistema também<br />
procuram atingir habitualmente<br />
as mesmas finalidades (definir estí -<br />
mulos para que prestadores actuem<br />
de modo mais efectivo e eficiente)<br />
mas desta vez enfatizando outros<br />
instrumentos e, designadamente,<br />
promovendo a posição e a actuação<br />
no mercado dos próprios consumidores<br />
e procurando combinar,<br />
através dessa sua intervenção,<br />
mecamsmos<br />
de mercado com a manutenção de<br />
princípios de solidariedade financeira<br />
que podem contribuir para<br />
evitar riscos de pura competição<br />
(selecção adversa, falta de qualidade,<br />
etc).Em sentido oposto, aponta-se<br />
que a eficiência pode ser<br />
privilegiada em relação às reais<br />
necessidades das populações e às .<br />
actividades de tipo preventivo.<br />
Saltman, como se referiu, aponta a<br />
implantação de mecanismos derivados<br />
do mercado e particularmente os<br />
atinentes à competição, como as<br />
medidas mais utilizadas. Só que a<br />
expressão competição tem características<br />
potencialmente conflituantes<br />
com muitos dos outros e por<br />
vezes mais importantes objectivos<br />
perseguidos.<br />
No entanto, parece evidente que<br />
medidas desse .tipo têm tido mais<br />
capacidade de promover a eficiência,<br />
a efectividade e a contenção de<br />
custos quando utilizadas na dimensão<br />
ou como mecanismo distributivo<br />
Saltman aponta a implantação de<br />
mecanismos derivados do mercado e<br />
particularmente os atinentes à competição,<br />
como as medidas mais utilizadas.<br />
Só que a expressão competição<br />
tem características potencialmente<br />
conflituantes com muitos dos outros e<br />
por vezes mais importantes objectivos<br />
perseguidos.<br />
e, portanto, do lado da produção, do<br />
que quando introduzidas na dimensão<br />
de financiamento do sistema.<br />
De facto, na dimensão estritamente<br />
financeira do sistema, o Estado teria<br />
apenas e em algumas circunstân-<br />
. '<br />
cias, quase sempre com recurso a<br />
via normativa, maior capacidade de<br />
repartir riscos e impor soluções de<br />
contenção económica do que qualquer<br />
privado.<br />
Numa perspectiva de análise diferente<br />
e a propósito de uma interessantíssima<br />
comparação entre as<br />
enormes dissemelhanças (melhor<br />
seria dizer contradições) entre as<br />
metas da "Saúde para Todos" e as<br />
medidas de reforma tomadas pelos<br />
países que as aprovaram, Dekker<br />
(Dekker, 1994) admite uma maior<br />
diversidade de objectivos para as<br />
reformas empreendidas, reconhecendo<br />
no entanto existirem alguns<br />
factores de mudança que seriam,<br />
senão comuns, pelo menos mais<br />
frequentes:<br />
• a necessidade de conter custos;<br />
• uma insatisfação generalizada<br />
com o excesso de regulação e a<br />
burocracia daí decorrente;<br />
• uma generalizada insatisfação<br />
com a qualidade das prestações.<br />
Contudo, o que distinguiria essencialmente<br />
as reformas seriam os<br />
valores subjacentes às intenções de<br />
reforma que dariam azo a quatro<br />
diferentes tipos de abordagem:<br />
• uma de tipo humanístico, que<br />
seria caracterizada por um certo<br />
cepticismo em relação aos cuidados<br />
de saúde existentes e sobretudo<br />
ao tecnocrático e reducionista<br />
QUADRO Ili<br />
TIPOS DE REFORMAS DOS SISTEMAS DE SAÚDE *<br />
PERSP. EM TERMOS<br />
DE OFERTA<br />
ASPECTOS SUBJECTIVOS<br />
b)<br />
c)<br />
a)<br />
d)<br />
ASPECTOS OBJECTIVOS'<br />
a) Abordagem humanística;<br />
b) Abordagem organizacional;<br />
c) Abordagem administrativa/financeira;<br />
d) Abordagem de Saúde Pública.<br />
PERSP. EM TERMOS<br />
DE PROCURA<br />
*Adaptado de DEKKER, E.;Health Gare Reforms and Public Health.In "European Journal of Public Health",<br />
uol. 4, 1994, nu. 4, pág. 281<br />
1<br />
J<br />
enfoque na moderna medicina especializada;<br />
• uma de natureza organizacional,<br />
voltada para para a melhoria do<br />
modelo de prestação dos cuidados<br />
de saúde (por exemplo, um reforço<br />
dos cuidados de saúde primários,<br />
maior integração dos prestadores e<br />
das prestações);<br />
• uma de índole administrativa/<br />
/financeira, filiada na subida das<br />
despesas com a saúde e dos custos<br />
das respectivas prestações e que,<br />
criticando a sobrerregulação dos<br />
sistemas, a sua estrutura burocratizada<br />
e o sentido de inadequação<br />
que os consumidores teriam, procuraria<br />
orientar os sistemas para<br />
uma menor regulação, maior pluralismo<br />
e descentralização, tentando<br />
combinar a contenção dos<br />
custos com a protecção, a nível<br />
macroeconómico, dos rendimentos;<br />
•finalmente, uma quarta, centrada<br />
nos princípios da saúde pública,<br />
que defenderia uma transferência<br />
das atenções, dos cuidados curativos<br />
e especilizados baseados na<br />
actividade hospitalar para as<br />
áreas de cuidados comunitários,<br />
afastando-se de modelos clínicos<br />
limitados para modelos mais vastos<br />
e determinantes da doença.<br />
Identificando como subjectiva a<br />
abordagem de tipo humanístico e<br />
como mais objectivas as restantes e<br />
reconhecendo que a<br />
primeira e a última<br />
se voltam mais para a<br />
procura enquanto as<br />
duas restantes privilegiam<br />
a oferta, pode<br />
traçar-se um esquema<br />
do tipo do que é<br />
apresentado no quadro<br />
III.<br />
Nesta perspectiva, as<br />
reformas estariam a<br />
privilegiar o lado da<br />
oferta e os seus aspectos<br />
mais objectivos<br />
centrando-se em<br />
abordagens de tipo<br />
incremental desenhadas<br />
numa óptica de<br />
longo prazo que, consoante<br />
se referiu, raramente<br />
pode ser<br />
Na dimensão estritamente financeira<br />
do sistema, o Estado teria apenas e em<br />
algumas circunstâncias, quase sempre<br />
com recurso à via normativa, maior<br />
capacidade de repartir riscos e impor<br />
soluções de contenção económica do<br />
que qualquer privado.<br />
mantida.<br />
A abordagem do tipo "Saúde Pública"<br />
e a "Humanística", afinal as que<br />
conterão em si mesmas um maior<br />
conteúdo de questões de saúde<br />
propriamente ditas, teriam pois sido<br />
postergadas em favor daquelas, mais<br />
tecnologicamente dependentes e,<br />
aparentemente pelo menos, mais<br />
factíveis.<br />
Uma terceira abordagem, que se<br />
poderá considerar mais crítica do<br />
desenvolvimento do processo de<br />
reforma (ou de mudança) dos sistemas<br />
de saúde (sobretudo em países<br />
com maiores carências neste domínio),<br />
porque centrada numa Óptica<br />
mais intrinsecamente de saúde, foi<br />
apresentada pelo Banco Mundial,<br />
no seu Relatório para o Desenvolvimento<br />
Mundial de 1993 "Investindo<br />
em Saúde" (World Bank, 1993).<br />
A fim de permitir avaliar os anos de<br />
vida saudável perdidos por mortalidade<br />
precoce ou por morbilidade<br />
incapacitante, traçando assim o<br />
que se poderia chamar "quadro da<br />
doença evitável", o Banco Mundial<br />
preparou uma unidade "DAL Y s"<br />
(Disability-Adjusted Life Years),<br />
que lhe permitiu calcular o impacte<br />
nos DALY s de diferentes níveis de<br />
despesa em saúde, quer a nível de<br />
"saúde pública", quer a nível de<br />
"serviços clínicos essenciais".<br />
O quadro IV mostra a distribuição<br />
das percas em anos de vida ajustados.<br />
O quadro V mostra o resultado<br />
da aplicação daquele exercício.<br />
Questões que se põem<br />
aos sistemas de saúde<br />
- o sistema de saúde português<br />
Apresentada esta sumária "análise<br />
da situação", quatro pontos há pelo<br />
menos que devem merecer destaque<br />
QUADRO IV<br />
DISTRIBUIÇÃQ DAS PERCAS EM ANOS DE VIDA AJUSTADOS<br />
EM FUNÇAO DA INCAPACIDADE (DALYs) EM 1990 (%)<br />
AUSAS MUNDO ÁFRICA ÍNDIA CHINA *OUTROS AMÉRICA MÉDIO PAÍSES PAÍSES<br />
SUB-SAARA . LATINA ORIENTE ANTES ECON.<br />
~RIBE SOCIAL. MERCADO<br />
- - ------ -- - ----------- --- - --- - ---------<br />
POPULAÇÃO 1<br />
797<br />
DOENÇAS<br />
TRANSMIT.<br />
9.7<br />
DOENÇAS<br />
N. TRANSMIT.<br />
MILHÕES<br />
DE AVAD<br />
EQUIV.<br />
INFANTIL**<br />
AVAD<br />
1 000/H 259 575<br />
* Outros Países Asiáticos e Insulares<br />
344 178<br />
* * Equivalentes em incapacidades (disfunções) infantis.<br />
260 233<br />
FONTE - WORLD BANK; World Deuelopment Report,Inuesting in Health 1993, pág 11<br />
94<br />
2.9<br />
286 168 117<br />
24 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />
<strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> 25
QUADRO V<br />
CUSTOS ESTIMADOS E BENEFÍCIOS PARA A SAÚDE<br />
, I I<br />
DE UM CONJUNTO MINIMO DE MEDIDAS DE SAUDE PUBLICA<br />
E SERVIÇOS CLÍNICOS ESSENCIAiq EM PAÍSES<br />
COM RENDIMENTOS BAIXOS E MEDIOS (1990)<br />
GRUPOS<br />
CUSTO<br />
DÓLAR/<br />
CAP/ANO<br />
CUSTO COM<br />
% DO REND.<br />
PER CAP.<br />
REDUÇÃO<br />
DA MORB.<br />
%<br />
PAISES C/RENDIMENTO BAIXO = > 350 Dólares er ca .<br />
MEDIDAS DE SAÚDE PÚBLICA 4,2 1,2 8<br />
SERVIÇOS CLÍNICOS ESSENCIAIS 7,8 2,2 24<br />
TOTAL 12 3,4 32<br />
l ~(ilt•Jlil~~l·Jl~l~~il•l~l~·J~·- -II•l•l-t•r:lEllll·lgl!I~<br />
MEDIDAS DE SAÚDE PÚBLICA 6,8 0,3 4<br />
SERVIÇOS CLÍNICOS ESSENCIAIS 14 7- 0,6 11<br />
I<br />
TOTAL 21,5 0,9 15<br />
FONTE. WORLD BANK; World Development Report, Investing in Health1993, pág 11<br />
e reflexão, designadamente em países<br />
que, por diferentes razões, têm<br />
vivido processos de mudança mais<br />
tardios, mais lentos ou menos rectilíneos<br />
em termos da sua evolução,<br />
designadamente por força de uma<br />
influência mais acentuada dos referidos<br />
"ciclos políticos":<br />
• Desde logo parece evidente que<br />
nunca tanto como hoje se viveu<br />
nos sistemas de saúde um período<br />
de crise tão vasto, tão profundo e<br />
tão duradouro;<br />
• As mudanças ou a "reforma"<br />
surge assim com um carácter de<br />
inelutabilidade e de premência que<br />
consideramos pelo menos inédito;<br />
• Mas também nunca os governos<br />
dispuseram de um leque tão alargado<br />
de experiências em curso e de<br />
soluções, muitas vezes já aprofundadas<br />
e corrigidas, algumas vezes<br />
já avaliadas.<br />
• No entanto há que ter a consciência,<br />
de que se estas abordagens<br />
não são mutuamente exclusivas;<br />
constituindo um tentador<br />
"cardápio" que faculta uma escolha<br />
ampla, o sucesso dos processos<br />
de reestruturação organizacional e<br />
operacional dos sistemas de saúde<br />
passa crescentemente pela correcta<br />
escolha das adaptáveis, pela sua<br />
adequada combinação, de modo a<br />
privilegiar a sua coerência intrínseca,<br />
e pelo aperfeiçoamento do<br />
sentido de oportunidade que pode<br />
fazer triunfar hoje a medida de<br />
política que amanhã já não seria<br />
aceite ou, o que é mais frequente,<br />
fazer falhar hoje medidas indubitavelmente<br />
correctas e necessárias,<br />
eficazes se lançadas com<br />
preparação no tempo próprio.<br />
O sistema de saúde português tem<br />
sido objecto, nas últimas décadas,<br />
de sucessivas mudanças (com frequência<br />
baptizadas como "reformas")<br />
que, no entanto, nem sempre<br />
terão sido esgotantemente aplica-<br />
Pese embora a dificuldade sempre<br />
existente em datar-. com exactidão<br />
mudanças que se não registaram num<br />
momento único, esse exercício sobre a<br />
história recente da saúde em Portugal<br />
é indispensável, para evitar algumas<br />
dúvidas e esclarecer situações doutro<br />
modo pouco decifráveis.<br />
Mas é sobre o período que actualmente<br />
vivemos e o movimento de mudança ou<br />
de reforma formalmente iniciado em<br />
1989 que se julga mais pertinente ou<br />
actualizada a presente reflexão.<br />
das, não sendo sequer fácil identificar<br />
e apontar de modo indiscutível<br />
os momentos de viragem do sistema<br />
de saúde português.<br />
Com efeito, mesmo no período da<br />
revolução, a realização efectiva das<br />
mudanças não corresponde temporalmente<br />
ao seu anúncio, sendo<br />
frequente que:<br />
•Já anteriormente, medidas anunciadas<br />
como novas, estivessem em<br />
execução em processos evolutivos<br />
não assumidos publicamente e que<br />
só muito mais tarde são anunciados<br />
de modo formal;<br />
• Decisões assumidas, ou até publicitadas<br />
num dado momento<br />
histórico, só muito tempo mais<br />
tarde vieram a ser concretizadas.<br />
Situação que, não sendo original do<br />
processo português, ajudou a conferir-lhe,<br />
pela manutenção nos novos<br />
modelos de posições residuais e pelo<br />
atrazo na concretização de medidas<br />
de extremo significado em termos de<br />
"viragem" do sistema, características<br />
de complexidade e atipicidade<br />
verdadeiramente singulares.<br />
Pese embora a dificuldade sempre<br />
existente em datar com exactidão<br />
mudanças que se não registaram<br />
num momento único, esse exercício<br />
sobre a história recente da saúde em<br />
Portugal é indispensável, para evitar<br />
algumas dúvidas e esclarecer<br />
situações doutro modo pouco decifráveis.<br />
Mas, naturalmente, é sobre o período<br />
que actualmente vivemos e sobre<br />
o movimento de mudança ou de<br />
reforma formalmente iniciado em<br />
1989 que se julga mais pertinente<br />
ou actualizada a presente reflexão.<br />
Com efeito, durante a década de 80,<br />
foram apontados ao sistema de<br />
saúde português alguns pontos fracos:<br />
• Manteve-se (já anteriormente<br />
existia ainda de modo bastante<br />
mais acentuado) uma evidente<br />
assimetria na distribuição dos recursos;<br />
• A existência de múltiplos "subsistemas<br />
de saúde", alguns fortemente<br />
expressivos, e a não exigência<br />
daquilo a que se poderia<br />
chamar "opting out", facilitou sistuações<br />
de dupla cobertura e a<br />
existência e efecti vação de uma<br />
"procura" muito selectiva;<br />
• Manteve-se (e até terá crescido) a<br />
insatisfação dos consumidores e<br />
dos profissionais quanto à prontidão,<br />
qualidade e adequação da<br />
"oferta" de prestações de saúde;<br />
• Aumentou a reputação das prestações<br />
privadas naqueles aspectos<br />
e cresceu a apetência pela sua<br />
utilização;<br />
• Manteve-se ou até aumentou a<br />
dificuldade em clarificar a distinção<br />
entre os diferentes intervenientes<br />
no sistema de cuidados de saúde<br />
(públicos e privados) e, dentro do<br />
sector público, de distinguir o<br />
"papel" em cada momento desempenhado<br />
pelo Ministério da Saúde;<br />
• A adequada articulação entre as<br />
unidades do SNS não progrediu;<br />
• A centralização das decisões<br />
financeiras e de gestão em geral<br />
manteve-se, tendo até crescido no<br />
fim da década;<br />
• A nível de ambulatório programado<br />
(e também por força do<br />
modelo remuneratório de salarização<br />
pura adoptado) a efectiva<br />
capacidade de resposta do sector<br />
público manteve-se insuficiente,<br />
fazendo aumentar a procura do<br />
atendimento nas urgências hospitalares<br />
que perderam, ainda mais a<br />
sua natureza de serviços de emer-<br />
~ .<br />
gencia; ·<br />
• Houve um aumento significativo<br />
das despesas totais de saúde, de-<br />
Investigação<br />
Na década de 90, a cobertura em saúde<br />
da população portuguesa não é diferente<br />
da que existia na década de 80.<br />
Mantiveram-se os subsistemas, cresceram<br />
os seguros privados de saúde,<br />
mas em matéria de obrigatoriedade de<br />
opções que evitassem duplicações, o<br />
progresso foi, senão reduzido, pelo<br />
menos formal.<br />
signadamente no que se refere às<br />
"despesas das famílias", mantendo<br />
-se no entanto as dificuldades do<br />
seu financiamento e controlo, mormente<br />
em matéria de eficiência<br />
I '<br />
econom1ca;<br />
• Não se registou progresso na<br />
competição dentro de cada sector<br />
nem entre o sector privado e o<br />
sector público, registando-se até<br />
um aumento da forte selectividade<br />
existente, também do ponto de<br />
vista da "oferta"· '<br />
• Mantiveram-se muitas situações<br />
de múltiplo emprego e um número<br />
relativamente escasso de situações<br />
de dedicação exclusiva;<br />
• Cresceram as dificuldades de<br />
resposta às necessidades de alguns<br />
"grupos de risco" (velhos, toxicodependentes,<br />
alcoólicos, transplantes,<br />
etc);<br />
• Também cresceram as diculdades<br />
em reduzir os acidentes de trânsito<br />
e outras "doenças da civilização".<br />
Provavelmente no que terá sido<br />
entendido como primeiro e necessário<br />
passo para a superação dessas e<br />
doutras questões, a revisão constitucional<br />
de 1989 tentou promover<br />
algumas reformas do Sistema de<br />
Saúde que, em 1990, foram desenvolvidas<br />
pela nova Lei de Bases da<br />
Saúde.<br />
E, para dar execução aos princípios<br />
constitucionais, a nova Lei de Bases<br />
da Saúde determinou que:<br />
• O sistema de saúde português<br />
passasse a ser constituído pelo<br />
SNS e por todas as entidades<br />
públicas que desenvolvem a promoção,<br />
a prevenção e o tratamento na<br />
área da saúde, bem como por todas<br />
as entidades privadas e profissões<br />
liberais que acordassem com o<br />
primeiro (SNS) uma ou várias<br />
daquelas actividades;<br />
• O desenvolvimento do sector<br />
privado da saúde deveria ser apoiado<br />
na sua competição com o sector<br />
público e, especialmente, no caso<br />
de iniciativas de organizações privadas<br />
de fim não lucrativo;<br />
• Os cuidados de saúde, mesmo a<br />
nível de SNS, passariam a ser<br />
apenas tendencialmente gratuitos<br />
e os preços seriam estabelecidos de<br />
acordo com as condições económicas<br />
e sociais dos utentes;<br />
• Os seguros de saúde deveriam ser<br />
incentivados;<br />
• A gestão dos serviços públicos de<br />
saúde poderia ser transferida para<br />
o sector privado;<br />
• Os serviços de saúde deveriam ser<br />
estruturados e funcionar de acordo<br />
com o interesse dos consumidores e<br />
deveriam ter uma actividade coordenada<br />
com outros das áreas sociais;<br />
• A gestão dos recursos existentes<br />
deveria ser orientada no sentido de<br />
obter os mais vastos benefícios<br />
sociais (custo de oportunidade ?) e<br />
evitar a utilização abusiva dos<br />
serviços;<br />
• A actividade do SNS deveria ser<br />
realizada sob constante avaliação;<br />
• A qualidade dos cuidados de<br />
saúde e a satisfação dos consumidores<br />
e dos profissionais 11a utilização<br />
dos recursos deveriam ser<br />
constantemente avaliados.<br />
Na década de 90, a cobertura em<br />
26 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />
<strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> 27
saúde da população portuguesa não<br />
é diferente da que existia na década<br />
de 80. Mantiveram-se os subsistemas,<br />
cresceram os seguros privados<br />
de saúde, mas em matéria de obrigatoriedade<br />
de opções que evitassem<br />
duplicações, o progresso foi,<br />
senão reduzido, pelo menos formal.<br />
Em Janeiro de 1993, o Governo, em<br />
execução da nova Lei de Bases da<br />
Saúde, publicou dois outros importantes<br />
decretos:<br />
• Um, sobre a reorganização do<br />
Ministério da Saúde, que prevê a<br />
fusão de alguns serviços, designadamente,<br />
dos dois serviços operacionais<br />
(Direcção Geral dos Cuidados<br />
de Saúde Primários e Direcção<br />
Geral dos Hospitais) reunidos numa<br />
nova Direcção Geral de Saúde<br />
e a concessão de um estatuto de<br />
autonomia do ponto de vista administrativo<br />
e financeiro a alguns<br />
dos serviços centrais do Ministério;<br />
•Outro, que aprova o "Estatuto do<br />
Serviço Nacional de Saúde" e do<br />
qual constam algumas medidas,<br />
nalguns casos pelo menos discutíveis,<br />
com princípios cuja concretização<br />
pode alterar significati-vamente<br />
o sistema de saúde<br />
português:<br />
..- As Administações Regionais<br />
de Saúde, agora reduzidas a<br />
cinco, foram atribuídas competências<br />
e o máximo de autonomia<br />
(que a lei portuguesa prevê) para<br />
coordenar a actividade dos serviços<br />
de saúde (incluindo pela<br />
primeira vez os hospitais);<br />
..- Os centros de saúde deverão<br />
agregar-se em "grupos" que, conjuntamente<br />
com os hospitais da<br />
sua área irão formar "Unidades<br />
de Saúde" que deverão assumir a<br />
continuidade dos cuidados de<br />
saúde;<br />
..- Foram criados e regulados<br />
modelos de gestão privada para<br />
os serviços de saúde;<br />
..- Foram criadas regras que<br />
tornaram mais fácil a mobilidade,<br />
ainda que temporária, de<br />
funcionários públicos do SNS<br />
para o sector privado;<br />
..- Com a intenção de estimular a<br />
criação de uma procura privada<br />
de cuidados de saúde, foi determinada<br />
a realização de um estudo<br />
sobre a criação de um "seguro<br />
alternativo de saúde" voluntário,<br />
cujo prémio seria comparticipado<br />
pelo Ministério da Saúde.<br />
..- Pela primeira vez foi explicitamente<br />
prevista a criação de co<br />
-pagamen tos na prestação de<br />
cuidados de saúde, de acordo<br />
com a sua capacidade económica<br />
e não apenas "taxas moderadoras".<br />
Uma parte significativa destas medidas<br />
de política de saúde não teve<br />
ainda aplicação, ou pelo menos<br />
aplicação integral, pelo que não é<br />
possível avaliar os seus efeitos<br />
concretos.<br />
No entanto, parece óbvio que elas<br />
não esgotam a totalidade dos problemas<br />
existentes e, mesmo neste<br />
contexto, é possível identificar ainda<br />
uma multiplicidade de desafios<br />
para um futuro próximo, em termos<br />
de filosofia de funcionamento, de<br />
organização da prestação de cuidados<br />
de saúde, de utilização pelos<br />
consumidores, de financiamento e<br />
de regulação do sistema.<br />
De facto e em coerência com os<br />
princípios programáticos estabelecidos<br />
ou, noutros casos, ensaiando a<br />
sua modificação, mudanças ou<br />
"reformas" devem ocorrer nestes<br />
domínios, dando resposta a autênticos<br />
desafios que permanecem ou não<br />
foram levados às últimas consequências:<br />
• Na organização do sistema de<br />
saúde, aprofundando a reorganização<br />
já iniciada ou explorando<br />
novos modelos de articulação de<br />
actividades;<br />
• Na clarificação dos limites entre<br />
o sector público e o sector privado,<br />
através da definição de modelos de<br />
prestação de cuidados de pagamento<br />
dessas prestações ou até de<br />
exploração de serviços mais claros<br />
e mais facilmente avaliáveis;<br />
• No apoio ao desenvolvimento a<br />
um verdadeiro sector privado, quer<br />
em termos de "oferta" (pouco<br />
compreensiva por muito fraccionada,<br />
designadamente no que se<br />
refere aos prestadores individuais<br />
que constituem a sua maior parte),<br />
quer em termos de "procura" de<br />
cuidados;<br />
• Na correcta definição da origem,<br />
da afectação (a nível regional, por<br />
ex.) e da utilização dos recursos<br />
financeiros do sistema (questão<br />
particularmente delicada se se<br />
mantiver a actual opção por cuidados<br />
tendencialmente gratutitos<br />
de acordo com as condições sociais<br />
e económicas dos consumidores),<br />
criando modelos que estimulem<br />
uma competição controlada dentro<br />
de cada um dos sectores e entre<br />
os sectores público e privado;<br />
• Na promoção e garantia da<br />
equidade no acesso às prestações<br />
de saúde a todos os cidadãos, num<br />
sistema que podendo combinar o<br />
sector público com o privado,<br />
conceda, pelo menos potencialmente,<br />
benefícios idênticos a toda<br />
O sistema de saúde português, tipificável<br />
constitucionalmente como um<br />
"Serviço Nacional de Saúde", foi<br />
confrontado com modificações legais<br />
de tipo estrutural cuja operacionalização<br />
está em curso e que também<br />
põem em causa a gratuitidade, apontando<br />
para co-pagamentos dos utilizadores<br />
de acordo com as suas<br />
possibilidades económicas .<br />
28 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />
a população (que não opte por se<br />
oferecer um regime distinto), independentemente<br />
de estar integrada<br />
num "subsistema de saúde";<br />
• Na promoção da satisfação dos<br />
profissionais e na motivação da<br />
sua actuação, pela criação das<br />
melhores condições de exercício<br />
no quadro das possibilidades do<br />
,<br />
pais;<br />
• Mas sobretudo na promoção da<br />
qualidade e da satisfação dos<br />
utentes, alargando a sua capacidade<br />
de escolha através de uma<br />
"carta de direitos" que lhes permita<br />
intervir do ponto de vista<br />
político e social no domínio da<br />
saúde, reforçando poderes e reequilibrando<br />
a sua intervenção,<br />
claramente limitada do ponto de<br />
vista técnico e económico pela<br />
especificidade do "mercado da<br />
saúde".<br />
Mas é especialmente no domínio do<br />
financiamento e da regulação futura<br />
do sistema que os desafios que se<br />
põem exigem respostas mais claras<br />
e, provavelmente, mais delicadas:<br />
• Ir-se-á proceder à concentração<br />
num ou em vários "fundos" dos<br />
recursos financeiros angariados ?<br />
• Será esse(s) "fundo(s)" gerido(s)<br />
com autonomia e de modo totalmente<br />
separado em relação aos<br />
prestadores ?<br />
• Continuará o Ministério da<br />
Saúde a protagonizar os mais<br />
variados "papéis" existentes no<br />
sistema e privilegiar o exercício<br />
da sua regulação por via normativa<br />
recorrendo ao poder legislativo<br />
do Estado?<br />
• Irá, atendendo à sua posição de<br />
principal pagador, exercer uma<br />
regulação por via financeira ?<br />
Investigação<br />
A gratuitidade que nos últimos ano.s<br />
tem vigorado não estimulou o aparecimento<br />
do que se poderá chamar uma<br />
"procura" privada, em que o próprio<br />
suporta, directamente ou através de<br />
seguros ou planos de saúde de tipo<br />
comercial ou outro, os encargos com as<br />
suas despesas de saúde.<br />
• Irá recorrer à sua condição de<br />
principal prestador para ensaiar<br />
uma via de regulação de tipo<br />
económico?<br />
Conclusão<br />
O sistema de saúde português,<br />
tipificável constitucionalmente como<br />
um "Serviço Nacional de Saúde",<br />
foi confrontado com modificações<br />
legais de tipo estrutural cuja<br />
operacionalização está em curso e<br />
que também põem em causa a<br />
gratuitidade, apontando para co<br />
-pagamentos dos utilizadores de<br />
acordo com as suas possibilidades<br />
'<br />
econom1cas;<br />
.<br />
A concretização dessas alterações<br />
confronta-se com a complexidade da<br />
situação pre-existente e em particular<br />
com algumas caracteristícas do<br />
caso português;<br />
O mercado de saúde em Portugal<br />
carece de uma clarificação que está<br />
a ser ensaiada.<br />
• Do lado da oferta existe um peso<br />
muito importante da propriedade<br />
pública que, no entanto, se desenvolve<br />
assimetricamente:<br />
..- é quase exclusiva no sector<br />
FACTOR PLUS «·<br />
PRODUTOS MÉDICOS E HOSPITALARES, S.A .<br />
Edifício Altejo, 403 / 404 • Rua 3 à Matinha<br />
1900 Lisboa • Telef. 868 76 04 • Fax 868 76 21<br />
Praça Pedro Nt,.mes, 94 • 4050 Porto<br />
Telef. 6001683 • Fax 6094648<br />
hospitalar;<br />
..- é dominante a nível de cuidados<br />
primários com médicos salarizados;<br />
..- é muito limitada no entanto no<br />
que se refere às prestações de<br />
segunda linha, cada vez mais<br />
importantes no quadro de uma<br />
especialização crescente.<br />
• Do lado da "procura" há uma<br />
cobertura tendencialmente "universal"<br />
protagonizada pelo "Serviço<br />
Nacional de Saúde" em plano<br />
supletivo, no quadro de um sistema<br />
que, tradicionalmente, comporta<br />
uma série numerosa de outros<br />
"seguros" (os chamados "subsistemas")<br />
que cobrem cerca de 16 % da<br />
população;<br />
• A gratuitidade que nos últimos<br />
anos tem vigorado não estimulou o<br />
aparecimento do que se poderá<br />
chamar uma "procura" privada,<br />
em que o próprio suporta, directamente<br />
ou através de seguros ou<br />
planos de saúde de tipo comercial<br />
ou outro, os encargos com as suas<br />
despesas de saúde.<br />
Neste mercado pouco transparente<br />
e em que o Estado desempenha<br />
L<br />
~- ., ~<br />
«· .«· ..<br />
~ .. «· .(.,...<br />
!'... L.<br />
L. L. L.<br />
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L. L. L.<br />
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«· ~· f.?. ~- · . ~ (~ . L . .. L . ...<br />
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4. ~- . (:t... L;. " (.. .. /:,. " (.. " ~· .. (.t.. «· .A. «· ~·<br />
•<br />
<strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> 29<br />
• ~ .. "' 1
uma multiplicidade de papéis, nalguns<br />
casos até aparentemente pouco<br />
conciliáveis - garante do direito<br />
à saúde/regulador, proprietário,<br />
terceiro responsável pagador - o<br />
sector privado tem mostrado mais<br />
capacidade financeira do que o<br />
Estado para assumir a inovação<br />
tecnológica, funcionando de forma<br />
muito selectiva, sobretudo em<br />
áreas em que o investimento tem<br />
recuperação mais assegurada.<br />
Também a eficiência e qualidade<br />
do sistema no seu conjunto têm<br />
sido com frequência postas em<br />
causa, admitindo-se que, face aos<br />
recursos utilizados, a prestação de<br />
cuidados poderia ser mais extensa<br />
e intensa.<br />
Igualmente, no que se refere à<br />
qualidade dos cuidados, as prestações<br />
do sector público são com<br />
alguma frequência contestadas,<br />
ainda que sobretudo nas sua componente<br />
hoteleira ou no quadro<br />
das amenidades que enquadram a<br />
prestação técnica propriamente<br />
dita.<br />
• No plano financeiro tem-se registado,<br />
como é normal numa situação<br />
deste tipo, um aumento das<br />
"despesas públicas com a saúde",<br />
tendência que continua a verificar<br />
-se.<br />
No entanto, este aumento traduzirá<br />
mais um aumento e encarecimento<br />
da "utilização" do que um<br />
aumento da "oferta". Por outro<br />
lado, o aumento das "despesas<br />
totais com a saúde" é maior do<br />
que o aumento das "despesas públicas",<br />
o que, significando um<br />
maior contributo das famílias,<br />
levanta dúvidas sobre a equidade<br />
da situação actual neste plano.<br />
I<br />
E no quadro desta situação que se<br />
quis situar a abordagem à política<br />
de saúde aqui ensaiada, centrada<br />
num primeiro momento na proposta<br />
(sem preocupações de exaustividade)<br />
de identificação e análise das<br />
grandes questões dos sistemas saúde<br />
(incluindo o sistema português)<br />
atrás indicadas.<br />
A análise da situação dos sistemas<br />
de saúde e as medidas que dela<br />
decorrem têm passado com frequência<br />
ao lado dessas grandes questões<br />
que, por isso, continuam a pôr-se aos<br />
sistemas de saúde.<br />
As alternativas de métodos e de<br />
soluções adiantadas não terão sido<br />
sempre e cabalmente adequadas aos<br />
problemas existentes nem aos objectivos<br />
anunciados, nem quando perspectivados<br />
isoladamente, nem ainda<br />
menos quando encaradas em conjunto.<br />
Quanto aos resultados, poderá ser<br />
ainda cedo para uma avaliação<br />
objectiva e cabal, mas há indiscutíveis<br />
manchas de heterogeneidade.<br />
De qualquer modo, pareceu adequado<br />
e oportuno alinhar algumas<br />
muito singelas e sumárias reflexões<br />
sobre as reformas ou as mudanças<br />
que têm atravessado os sistemas de<br />
saúde (incluindo o português), confrontando<br />
o que foi feito com aquelas<br />
grandes questões, não tanto com<br />
a intenção de propõr complementos<br />
às medidas tomadas mas apenas com<br />
o objectivo de recordar que haverá<br />
outros tópicos a abordar e que,<br />
provavelmente, a mudança, num<br />
cenário que tem um ritmo de evolução<br />
frenético, não pode ser um<br />
simples gesto pontual.<br />
Terá sempre que ser uma atitude<br />
permanentemente desperta, atenta e<br />
centrada, não apenas em preocupações<br />
de curto prazo, mas sobretudo<br />
de antecipação face a sinais de<br />
mudança, a médio e a longo prazo.<br />
O que, inevitavelmente, retirando<br />
ao sector e às suas mudanças ou<br />
reformas o pendor imediatista e<br />
circunstancial que tem vivido em<br />
múltiplas latitudes ou, por outras<br />
palavras, a influência do "ciclo<br />
político", deveria propiciar, à semelhança<br />
do que tem ocorrido noutros<br />
sectores, um espaço de consensos<br />
(pelo menos parciais), nacionais de,<br />
pelo menos, médio prazo que a<br />
resolução destas grandes questões<br />
justifica ou até exige, e que, permitindo<br />
uma transparente revalorização<br />
dos interesses em presença e das<br />
alternativa de respostas às questões<br />
ainda existentes, facilitasse uma<br />
efectiva participação na discussão<br />
das forças sociais interessadas.<br />
Que, afinal, serão todas. 1<br />
BIBLIOGRAFIA<br />
CAMPOS, A.C.; Contribuição Gerida.Contributos<br />
para num Debate Indispensável.ln "Management<br />
Forum' 1 , (Mimeog.), Lisboa, 1993, pág.16.<br />
CEE; La Protection Sociale em EUROPE. Bruxelas,<br />
1993<br />
DEKKER, E.;Health Care Refo rms and Public<br />
Health.In "European Journal of Public Health' 1 , uol.<br />
4, 1994, nº-4, pág. 281).<br />
EVANS, R.G.;Market Forces versus Regulation.OECD,<br />
"High Levei Conference on Health Care<br />
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GLENNERSTER, H.;GP Fundholding: Wild Card or<br />
Winning Hand.In "Eualuating the NHS Reforms.Ed.<br />
by RAY ROBINSON and JULIAN LE GRAND. The<br />
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GR UPO DE LISBOS;Limites à Competição.Publicações<br />
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"High Levei Conference on Health Care<br />
Reform", (mimeog).Paris, 1994, pág.15.<br />
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Health, uol 4, 1994, nº-4, pág 287<br />
WORLD BANK; World Development Report, 1993,<br />
Investing in Health. New York, 1993.<br />
* Sobre este tema foi feita pelo mesmo autor uma<br />
apresentação no "Forum Saúde 1 ' , organizado em 10 de<br />
Março de <strong>1995</strong> pela Associação Portuguesa de Administradores<br />
<strong>Hospitalar</strong>es, em Lisboa, no Hotel Tiuoli.<br />
**Professor Auxiliar da Escola Nacional de Saúde<br />
Pública e Administrador <strong>Hospitalar</strong> destacado do<br />
Hospital de St 0 António dos Capuchos para o<br />
Departamento de Estudos e Planeamento da Saúde (o<br />
autor agradece a colaboração prestada pela Drª Rute<br />
Pinto dos Reis na preparação de diversos quadros)<br />
ASSOCIAÇÃO<br />
PORTUGUESA DE<br />
ADMINISTRADORES<br />
HOSPITALARES<br />
G«:tstãe><br />
As propostas dos principais<br />
partidos políticos para a Saúde<br />
GEST AO HOSPITALAR consultou os programas e outros documentos dos quatro maiores<br />
partidos. Retirou de cada um as propostas essenciais para a Saúde e construiu uma grelha<br />
comparativa por áreas temáticas consideradas fu ndamentais. Retenha as semelhanças,pondere as<br />
diferenças e reflicta sobre as omissões ...<br />
1 :;..., PARTIDOS ~ P".:l<br />
TEMAS _______________________________________ lrllt ________________ ~-- -----------<br />
Linhas de<br />
orientação<br />
estratégica<br />
Papel ·<br />
do SNS<br />
- Todos devem<br />
ter acesso à saúde<br />
- O Estado como<br />
principal organizador<br />
e garante<br />
de cuidados de<br />
saúde<br />
- Participação<br />
activa dos profissionais<br />
na reforma<br />
do sistema de<br />
saúde<br />
- Princípio da livre<br />
escolha do médico<br />
pelo doente<br />
-Reestruturação<br />
desconcentrada<br />
dos serviços, que<br />
permita, designadamente:<br />
-Reforço da<br />
-A medicina familiar<br />
como base da prestação<br />
de cuidados.<br />
- Sistema de Saúde<br />
universal que garanta<br />
a equidade no<br />
acesso.<br />
- A base do sistema<br />
continuará a ser o<br />
SNS.<br />
- Introdução de<br />
regimes de cobertura<br />
alternativos ("opting<br />
out") com direito a<br />
benefício fiscal.<br />
- Clara delimitação<br />
entre o sector público<br />
e o sector privado.<br />
- Proposta de um<br />
pacto social entre as<br />
principais forças políticas<br />
e sociais.<br />
-É a base<br />
do financiamento do<br />
sistema prestador de<br />
cuidados.<br />
- Introdução<br />
progressiva de meca-<br />
- Permitir o<br />
imperativo<br />
constitucional<br />
do direito à<br />
saúde.<br />
- Defesa do SNS<br />
e combate à sua<br />
destruição.<br />
- Reformar o SNS<br />
eliminando sistemas<br />
de direcção<br />
centralizado<br />
e de comando<br />
burocrático-administrativo.<br />
-Descentralizar,<br />
desgovernamentalizar<br />
e autonomizar.<br />
-Dotá-lo de<br />
financiamento<br />
- O Estado deve ser garante<br />
da função reguladora, coordenadora<br />
e fiscalizadora das<br />
estruturas integradas no<br />
Sistema Nacional de Saúde.<br />
- Criação de uma lei de bases<br />
do Sistema Nacional de<br />
Saúde em que o financiamento<br />
por seguro obrigatório<br />
seja uma das bases do<br />
sistema.<br />
- Separação da função<br />
financiadora da função<br />
prestadora.<br />
- O Sistema de Saúde deve ser<br />
universal e global e ter por<br />
base a solidariedade, a<br />
igualdade, a eficiência e a<br />
liberdade.<br />
- O Estado deve intervir<br />
selectivamente (em situações<br />
económicas mais débeis)<br />
preconizando-se o fim<br />
de monopólios a qualquer<br />
nível da área da prestação<br />
de cuidados de saúde. Competirá<br />
prioritariamente ao<br />
Estado a concretização correcta<br />
e eficaz de cuidados de<br />
saúde pública.<br />
- A medicina livre deverá<br />
fazer parte integrante do<br />
Sistema de Saúde, de tipo<br />
misto.<br />
- Preconiza-se a sua<br />
reforma gradual.<br />
- O SNS será, na sua função<br />
prestadora, a penas opcional,<br />
concorrendo com entidades<br />
privadas,<br />
30 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />
<strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> 31
TEMAS ---------------------------------------~----------------~--------------<br />
PARTIDOS 1 J.:J ~ ~<br />
Estatuto<br />
dos<br />
profissionais<br />
Regionalização<br />
colectivos,<br />
aumentando<br />
a oferta<br />
de serviços<br />
Nada<br />
é referido sobre<br />
esta matéria<br />
- Maior<br />
responsabilização<br />
das<br />
Administrações<br />
Regionais<br />
de Saúde<br />
- Criar mecanismos que<br />
impeçam conflitos de<br />
interesses no mesmo<br />
profissional.<br />
- Clara delimitação<br />
entre exercício no sector<br />
público e privado.<br />
- Aposta na formação<br />
dos profissionais de<br />
saúde em matéria de<br />
humanização.<br />
· Reforço das ARS, de<br />
modo a poderem funcionar<br />
como agências<br />
financiadoras.<br />
- Distribuição das<br />
verbas pelas ARS com<br />
base na estrutura etária<br />
e por sexos e na<br />
morbilidade regional.<br />
- Autonomia das ARS<br />
para negociarem acordos<br />
ou convenções com<br />
as unidades estatais ou<br />
privadas com base na<br />
melhor relação custo/<br />
/qualidade.<br />
- Participação activa dos<br />
profissionais na realização<br />
dos objectivos<br />
básicos de eficácia e<br />
qualidade.<br />
- Política de estímulo aos<br />
profissionais com boas<br />
condições de trabalho e<br />
remunerações condignas<br />
e progressao nas<br />
suas carreiras.<br />
- Dentro do conceito de<br />
gestão democrática do<br />
SNS preconiza-se um<br />
poder político regional<br />
assumido pelas regiões<br />
administrativas.<br />
- As ARS serão<br />
nomeadas pela Assembleia<br />
Regional sob proposta<br />
da Junta<br />
Regional. Devem incluir<br />
um presidente,<br />
um administrador, um<br />
médico e um enfermeiro.<br />
Compete-lhes designadamente<br />
a execução<br />
do plano e orçamento e<br />
a articulação entre estabelecimentos.<br />
- Criação dum Conselho<br />
Regional de Saúde,<br />
composto por representantes<br />
das autarquias<br />
locais, associações de<br />
utentes, associações<br />
profissionais e sindicais<br />
dos trabalhadores<br />
de saúde.<br />
Saúde" de âmbito nacional<br />
e que defina índices<br />
técnicos.<br />
- Abertura ao sector<br />
privado com e sem fins<br />
lucrativos.<br />
- O espírito do médico de<br />
família implica uma remuneração<br />
por acto médico<br />
além da base fixa.<br />
- Agrupamento de médicos<br />
na área dos cuidados<br />
primários e existência de<br />
especialistas na área do<br />
ambulatório no âmbito<br />
da medicina livre ou em<br />
grupo.<br />
- Devem existir carreiras<br />
hierarquizadas.<br />
- Prática da medicina<br />
privada no âmbito dos<br />
hospitais públicos.<br />
- Não é feita qualquer<br />
menção explícita<br />
em matéria de<br />
regionalização.<br />
Apenas se preconiza a<br />
definição de uma Carta<br />
Sanitária Nacional<br />
Global que permita<br />
um reajustamento de<br />
necessidades sem<br />
duplicação de serviços.<br />
G<br />
esta o<br />
TEMA;A_R-Tl-DO-S~------:--'-4t_1 ____ 1_g_~-~-----=~=· ~=j=~--<br />
Seguros<br />
de Saúde<br />
de o desempenho<br />
do sector privado<br />
possa ser mais<br />
eficaz que o pú<br />
blico<br />
- Criação<br />
de seguros<br />
alternativos e<br />
complementares<br />
de saúde de<br />
carácter empresarial,<br />
colectivos<br />
ou<br />
individuais<br />
- Criação de<br />
mecanismos de<br />
compensação<br />
fiscal<br />
· Possibilidade<br />
dos cidadãos optarem<br />
por seguros alternativos<br />
("opting out").<br />
· Existência de um<br />
"pacote público" universal<br />
que incluirá os<br />
gastos com a saúde<br />
pública e a cobertura<br />
de riscos "catastróficos"<br />
(Sida, tuberculose,<br />
toxicodependência,<br />
saúde mental, cuidados<br />
oncológicos, insuficiência<br />
renal<br />
crónica, etc.)<br />
- Não são<br />
consideradas propostas<br />
para um seguro<br />
alternativo de<br />
saúde. Admitem-se<br />
subsistemas de natureza<br />
corporativa<br />
ou profissional de<br />
base complementar.<br />
com certeza regras, mas<br />
a forma de fornecer cuidados<br />
de saúde, a sua<br />
organização e o pessoal<br />
dever~o depender de quem<br />
as gerir.<br />
· Defende-se um mercado<br />
concorrencial, com base<br />
num seguro obrigatório de<br />
base capitacional e estabelecido<br />
de acordo com os<br />
rendimentos dos cidadãos.<br />
- Esse seguro obrigatório<br />
será fornecido por empresa<br />
estatal, para-estatal ou<br />
privada, concorrendo entre<br />
si, podendo ainda fazer-se<br />
seguros<br />
complementares em qualquer<br />
delas.<br />
- Esse seguro obrigatório<br />
assentará num "package"<br />
básico de cuidados e será<br />
universal.<br />
<strong>Gestão</strong><br />
privada de<br />
estabelecimentos<br />
públicos<br />
- Alargamento<br />
da privatização<br />
da gestão de<br />
unidades de<br />
saúde e de<br />
,<br />
serv1ços,<br />
em areas<br />
específicas on-<br />
- Admite-se a concessão<br />
da gestão a entidades<br />
particulares ou<br />
privadas, mediante<br />
garantias públicas.<br />
- Não são conhecidas<br />
propostas sobre esta<br />
matéria, admitindo-se,<br />
face a diferentes tomadas<br />
de posição públicas,<br />
que são contra tal<br />
modelo.<br />
- Na actual situação,<br />
a tomada de atitudes<br />
avulsas nesta matéria<br />
será inconsequente.<br />
- A gestão privada<br />
e mesmo as unidades<br />
privadas de saúde, terão<br />
ASSOCIAÇÃO<br />
PORTUGUESA DE<br />
ADMINISTRADORES<br />
HOSPITALARES<br />
34 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />
<strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> 35
'<br />
1 ........_ ..... e>rle11m<br />
Preciosa Aguiar<br />
Um perfil original e humanista<br />
Falar de Preciosa Aguiar só com emoção.<br />
Deixou-nos silenciosamente, num deslisar<br />
suave e fugídio, como quem se<br />
despede da vida s·em querer fazer ruído.<br />
Tal como a sua vida também na morte ela<br />
passou como uma aragem quente, que nos<br />
envolve, mas não magoa.<br />
Agora caberiam as palavras de circunstância,<br />
as doutas palavras do saber, os<br />
encómios e louvaminhas, mas como falar<br />
da Preciosa, com retóricas e roupagens<br />
de estilo, ela que perpassou com graça e<br />
leveza no meio de nós?<br />
Ela "era pura", disse alguém.<br />
E penso que com essa palavra tudo<br />
estaria dito.<br />
Mas para quem não a conheceu de perto,<br />
que mais podemos dizer?<br />
Onde ela estava, tudo se transformava.<br />
Havia ali uma chama e tudo ficava mais<br />
quente. Um sopro que nos unia, que nos<br />
conduzia para uma perfeição sempre<br />
inatingível.<br />
Recordo os idos do 25 de Abril - o nosso<br />
glorioso "5º CURSO" na ENSP, - 1974 -<br />
-1976 - em que a juventude e irrequietude<br />
"revolucionárias" nos agitavam frementes<br />
e indómi tos.<br />
Os professores, esses queridos professores<br />
de então, olhavam para nós estupefactos,<br />
varridos pela nossa audácia, mas sedentos<br />
do nosso entusiasmo.<br />
E a Preciosa, ali estava sempre, no centro<br />
da fila, fazendo o contraponto da paz e da<br />
guerra, serena e lúcida, como um clarão.<br />
A sua alegria era calma, mas irradiava<br />
luz, nos gracejos com que temperava<br />
todas as conversas.<br />
Para muitos pareceria distraída e leve,<br />
essa arte de humildade com que sabia<br />
preservar o seu gosto pelo saber e a sua<br />
ânsia de verdade.<br />
A infinita busca que a levava a estar<br />
sempre presente, em todo o sopro de<br />
novidade, nas realizações mais vanguardistas<br />
que farejava em seu redor, como<br />
quem capta a essência última das coisas.<br />
Daí talvez o seu maior gosto pela<br />
Psiquiatria - essa "ciência oculta" - onde<br />
ela parecia sobrenadar, apreendendo os<br />
"espíritos" que pairavam à superfície das<br />
águas movediças.<br />
No Hospital Miguel Bombarda ainda<br />
agora os doentes recordam "aquela administradora"<br />
que tudo transformou - os<br />
novos jardins, os recantos de convívio, as<br />
enfermarias modernizadas, as refeições<br />
quentes e saborosas, os medicamentos<br />
pagos pela Segurança Social.<br />
A luta infatigável num quotidiano multifacetado,<br />
onde as energias se desmultiplicavam<br />
do concreto imediato aos<br />
ventos de renovação que sopravam dos<br />
mais audazes - ela sempre caminhando a<br />
par.<br />
A Escola de Eduardo Cortesão e seus<br />
discípulos - a "nova vaga" da psiquiatria<br />
das décadas de 70 e 80 - arrastou-a em<br />
novos voos e o seu contributo foi<br />
inestimável no apoio às inúmeras realizações<br />
científicas que surgiam entre os<br />
jovens médicos.<br />
Desejosa de progredir no saber e apontar<br />
sempre caminhos novos meteu-se à tarefa<br />
de fazer um estudo exaustivo para a<br />
reorganização das "URGÊNCIAS PSI-<br />
~<br />
QUIATRICAS" na Area Metropolitana<br />
de Lisboa, em estreita colaboração com o<br />
DEPS, trabalho que veio a constituir a<br />
sua dissertação de Concurso ao 1 º grau de<br />
Carreira de Administração <strong>Hospitalar</strong>,<br />
em 1983, sendo então a 1ª Administradora<br />
a atingir o mais elevado grau de Carreira<br />
por mérito próprio.<br />
Colaborou ainda intensamente na implementação<br />
do Departamento de Psiquiatria<br />
da Faculdade de Ciências Médicas,<br />
de que foi fundador o Prof. Eduardo<br />
Cortesão, e que veio a originar um<br />
movimento impulsionador dos estudos<br />
universitários no campo da psiquiatria e<br />
saúde mental.<br />
No entanto, os seus esforços e sonhos<br />
fizeram inveja de muitos e concitaram<br />
contra ela animosidades e incompreensoes.<br />
Em 1987 deixa o Hospital Miguel Bombarda<br />
com saudade e mágoa.<br />
Com uma passagem breve pelos H.C.L.,<br />
concorre em 1988 para o novo Hospital de<br />
S. Francisco Xavier, onde imaginava um<br />
campo aberto a novos desafios.<br />
Infelizmente os ventos nunca mais sopraram<br />
de feição.<br />
Coartada pelo carreirismo político reinante<br />
à sua volta, atropelada em sonhos e<br />
projectos pela ambição mesquinha dos<br />
"novos donos" do poder, viu sufocada a<br />
sua ânsia de desbravar e de levantar a<br />
voz para um novo humanismo e um novo<br />
progresso.<br />
Nos últimos anos, para fugir à estagnação,<br />
aderiu a novas experiências de<br />
intercâmbio cultural, no âmbito do<br />
PROGRAMA "HOPE" da UNIÃO EU<br />
ROPEIA, que a levaram a estágios<br />
enriquecedores e gratificantes em Espanha<br />
(Astúrias) e França (Paris).<br />
Ouvi-la falar destas vivências era sentir a<br />
sua paixão pelos outros, pelas novas<br />
correntes da administração hospitalar,<br />
pela juventude de novos ideais.<br />
Agora essa voz sempre viva calou-se.<br />
Mas o seu exemplo não.<br />
Arminda Cepeda<br />
·'<br />
36 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />
<strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> 37
Santos Cardoso<br />
No passado dia 20 de Janeiro,<br />
decorreu em Coimbra um jantar de<br />
confraternização a propósito da então<br />
recente aposentação daquele<br />
ilustre colega. Santos Cardoso foi<br />
um dos artífices da criação da<br />
Associação Portuguesa de Administradores<br />
<strong>Hospitalar</strong>es, em 1981. Integrou<br />
o elenco da primeira direcção,<br />
então presidida por Sá Ferreira.<br />
Mais tarde, de 1984 a 1987, foi<br />
presidente da direcção. Foi o primeiro<br />
director desta revista, cujo primeiro<br />
número foi publicado em<br />
Janeiro de 1983.<br />
Profissionalmente, Santos Cardoso,<br />
tem também um currículum invejável.<br />
Liderou a abertura de vários<br />
hospitais, destacando-se o seu trabalho<br />
exemplar em Beja e Portalegre.<br />
Ultimamente dedicou-se de alma e<br />
coração ao Hospital Pediátrico de<br />
Coimbra onde deixou muitas saudades.<br />
Lembramo-nos todos muito bem da<br />
postura serena, isenta e lúcida que<br />
Santos Cardoso adoptava no seu<br />
trabalho e na vida associativa.<br />
Competente, consensual e incentivador<br />
da gestão participada, sem preconceitos<br />
nem sectarismos, Santos<br />
Cardoso é um exemplo para todos<br />
nós e perdurará sempre no nosso<br />
imaginário. Foi com simplicidade e<br />
emoção que ele aceitou confraternizar<br />
com os mais de 60 profissionais de<br />
Saúde presentes naquele jantar.<br />
Particularmente sentidas foram as<br />
presenças de Augusto Mantas, Mariana<br />
Dinis de Sousa, Delfim Rodrigues<br />
e Fernanda Dias, que lhe dirigiu<br />
uma cativante saudação em nome de<br />
todos.<br />
Forum Saúde<br />
Novas Estratégias<br />
na <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />
Decorreu, com assinalável sucesso, o<br />
Forum Saúde sobre Novas Estratégias<br />
na <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong>, realizado<br />
em Março, no Hotel Tivoli, em<br />
Lisboa. As excelentes intervenções<br />
de Bagão Félix, V asco Reis e do<br />
Secretário de Estado da Saúde,<br />
Lopes Martins, permitiram passar<br />
em revista a situação actual do<br />
nosso sistema de Saúde, o seu<br />
enquadramento na questão mais<br />
ampla do "Estado Social" ou de<br />
"Bem-Estar" e os cenários para o<br />
futuro. Tiveram ainda a presença de<br />
Michel Crema dez professor dos Altos<br />
Estudos Comerciais em Paris e<br />
especialista em estratégias hospitalares,<br />
que nos trouxe uma perspectiva<br />
interna da gestão dos hospitais<br />
para o futuro.<br />
O número de participantes, cerca de<br />
150, ultrapassou largamente as expectativas<br />
da organização, confirmando<br />
o interesse e oportunidade<br />
dos temas em debate.<br />
Os Políticos e a Saúde<br />
A direcção da APAH organizou no<br />
dia 3 de Julho, no Hotel da Lapa, em<br />
Lisboa, com o apoio da TSF, um<br />
Workshop sobre Qualidade<br />
debate sobre a Saúde, com base nas<br />
propostas dos quatro maiores partidos<br />
políticos para a próxima legislatura.<br />
Estiveram presentes pelos partidos,<br />
o dr. Fernando Andrade(PSD),<br />
o dr. José Boquinhas(PS), o engº.<br />
Edgar Correia(PCP) e a drª. Maria<br />
José Nogueira Pinto(PP).<br />
Após as intervenções dos representantes<br />
dos partidos, seguiram-se os<br />
comentários do prof. Meliço Silvestre,<br />
dr. António Galhordas, prof.<br />
Pedro Pita Barros e dr. João Urbano.<br />
As posições dos políticos, nalguns<br />
casos semelhantes e noutras<br />
substancialmente divergentes, são<br />
pormenorizadamente analisadas e<br />
comparadas noutra rúbrica deste<br />
número da GESTÃO HOSPITALAR.<br />
Também em Março, e com o apoio da Fundação Luso-Americana para o<br />
Desenvolvimento e da Escola Nacional de Saúde Pública, foi possível trazer a<br />
Portugal para um Workshop de uma semana, uma equipa de peritos norte<br />
-americanos da área de Qualidade, liderada pelo prof. John Williamson.<br />
De renome internacional e com uma vasta bibliografia publicada, John<br />
Williamson, representa hoje uma das correntes mais inovadoras da<br />
abordagem da Qualidade em Saúde - a "Continuous Quality Improvement",<br />
muito baseada na melhoria gradual da qualidade dos actos praticados,<br />
através de critérios e padrões mutáveis e crescentemente exigentes.<br />
Reservadas de início exclusivamente para os sócios da AP AH, as inscrições<br />
foram posteriormente abertas a outros profissionais, o que propiciou a<br />
constituição de grupos de trabalho pluridisciplinares e uma discussão mais<br />
ampla e frutuosa.<br />
38 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />
As Compras Públicas no Sector da Saúde<br />
Organizado pela APAH, decorreu no<br />
Forum Picoas, em 29 de Maio último,<br />
um seminário que contou com a<br />
adesão maciça e interessada dos<br />
profissionais do sector e revestiu-se<br />
de grande actualidade.<br />
Da parte dos utilizadores (gestores<br />
hospitalares) foram, principalmente<br />
realçados os aspectos dos custos e<br />
das cargas de trabalho administrativo<br />
acrescidas, com o agravamento,<br />
dos formalismos, dos tempos de<br />
processamento, do nº de procedimentos<br />
bem como dos novos "Procedimentos<br />
da Transparência". Para<br />
estes reputam-se como necessárias<br />
milhares de horas de trabalho anual,<br />
num Hospital de média ou grande<br />
dimensão, envolvendo a afectação<br />
de grandes contingentes de pessoal.<br />
Apreciados, nesta lei, foram os<br />
aspectos ligados ao aumento dos<br />
limites de competência e das modalidades<br />
processuais a adoptar, a<br />
aglutinação, num mesmo diploma,<br />
dum conjunto de procedimentos que<br />
precedem a realização da despesa,<br />
que se encontravam dispersos ou<br />
nem sequer estavam estabelecidos,<br />
a complexa regulamentação dos<br />
procedimentos bem como a adaptação<br />
da figura da negociação, que, se<br />
pensa, poderá vir a introduzir condições<br />
de maior eficiência nas aquisições<br />
hospitalares. De salientar, ainda,<br />
o factor urgência como causa de<br />
dispensa de formalidade, facto que a<br />
nível hospitalar se reveste de grande<br />
importância e poderá agora ser<br />
explorada.<br />
Aceitaram, também, ser parte interveniente<br />
neste Seminário responsáveis<br />
pela Direcção Geral da Contabilidade<br />
Pública e do Tribunal de<br />
Contas através, respectivamente, do<br />
seu Director Geral e do Contador<br />
para a Saúde, abordando alguns<br />
aspectos importantes que de seguida<br />
mencionamos.<br />
O "peso do Estado" no desempenho<br />
das suas funções com a educação, a<br />
saúde e a segurança social, bem<br />
como o "peso dos impostos" e a<br />
crescente exigência da opinião pública<br />
nas respectivas prestações de<br />
serviços versus a "boa utilização"<br />
dos dinheiros públicos, constituem<br />
uma preocupação constante dos<br />
sucessivos Governos.<br />
A adesão de Portugal à Comunidade<br />
Europeia e mais recentemente a<br />
assinatura do Tratado de Maastricht,<br />
tendem a privilegiar as situações<br />
económico-financeiras sustentáveis,<br />
concretamente evitando os<br />
déficites excessivos.<br />
Face ao elevado volume de recursos<br />
af ectos ao Sector Público Administrativo<br />
no total da economia, torna<br />
-se indispensável o controlo das<br />
contas públicas bem como a racionalização<br />
e modernização da gestão<br />
pública, através, designadamente,<br />
da organização dos seus sistemas<br />
de informação contabilística por<br />
forma a disponibilizarem em tempo<br />
Honraram-nos com a sua preferência, confiando-nos a gestão<br />
dos seus serviços de alimentação as Unidades <strong>Hospitalar</strong>es:<br />
HOSP. DIST. DE ABRANTES • HOSP. DIST. DE BRAGANÇA • HOSP. DIST. DE CASTELO BRANCO • HOSP. DIST. DO FUNDÃO • HOSP.<br />
DIST. DE MJRANDELA • HOSP. DIST. SOUSA MARTINS(GUARDA) • HOSP. DIST. DE TORRES VEDRAS • HOSP. GERAL DA COL. PORT.<br />
DO BRASIL(COVÕES) • HOSP. MTGUEL BOMBARDA • HOSP. PEDIÁT. DE COIMBRA • HOSP. REINALDO DOS SANTOS(V.F. DE XIRA) •<br />
HOSP. S. JOÃO DE DEUS(FAMALICÃO) • HOSP. S. JOSÉ DE FAFE • HOSP. DO STO. ESPÍRITO DE ANGRA DO HEROÍSMO(A.ÇORES) •<br />
HOSf. DE STA LUZIA(ELVAS) • HOSP. DE VIALONGA • MATERN. ALFREDO DA COSTA(LISBOA) • MATERN. JÚLIO DINIS(PORTO)<br />
NUTRIRE s T, C OMPANHIA PORTUGUESA DE RESTAURAÇÃO C OLECTIVA, S. A.<br />
SEDE: R. Francisco Tomás da Costa, 2-2º Esq. 1600 LISBOA - (01 )796 12 37 Fax (0 1)796 16 88<br />
DEL. NORTE: Av. do Conde, 6150 - l~ Esq. 4465 S. MAMEDE DE INFESTA - 'R(02) 902 44 t2 Fax (02) 902 43 96<br />
<strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> 39
útil os resultados da execução orçamental<br />
e patrimonial.<br />
Em termos de quadro legal, está-se a<br />
proceder à Reforma da Administração<br />
Financeira do Estado, da qual o<br />
novo diploma sobre aquisição de<br />
bens e serviços para o Estado faz<br />
parte.<br />
Pretende alcançar "o equilíbrio entre<br />
dois objectivos essenciais: a<br />
transparência, absolutamente indispensável<br />
à realização do objectivo<br />
da credibilidade de Estado e a<br />
flexibilidade, condição necessária<br />
para a prossecução dos o bj ecti vos -<br />
-economia, eficiência e eficácia - na<br />
gestão pública".<br />
Em termos da função aprovisionamento,<br />
foi opinião da Direcção Geral<br />
da Contabilidade Pública, que o<br />
diploma procura, uma maior especialização<br />
e profissionalismo.<br />
O representante do Tribunal de<br />
Contas analisou a fiscalização prévia<br />
no contexto da fiscalização das<br />
despesas públicas, o âmbito e conteúdo<br />
da mesma à luz da Lei Nº 86/89<br />
de 8 de Setembro, bem como, algumas<br />
notas sobre a jurisprudência do<br />
Tribunal de Contas em matéria de<br />
contratação pública.<br />
Ainda, numa perspectiva financeira,<br />
da parte dos utilizadores (Administrador<br />
<strong>Hospitalar</strong>), salientou que<br />
esta nova legislação, em matéria de<br />
controlo orçamental e cabimentação<br />
estipula que "A assunção de compromissos<br />
exige a prévia informação<br />
de cabimento dada pelos serviços de<br />
contabilidade no respectivo documento<br />
de autorização para a realização<br />
da despesa, ficando os dirigentes<br />
dos serviços e organismos responsáveis<br />
pela assunção de encargos<br />
com infracção das normas legais<br />
aplicáveis à realização das despesas<br />
públicas, nos termos da legislação<br />
em vigor". Tem como finalidade,<br />
subordinar, necessariamente, a utilização<br />
das dotações a critérios de<br />
rigorosa contenção, indispensáveis<br />
à consolidação orçamental.<br />
Contudo, tal situação não será<br />
viabilizável se anualmente os Orçamentos<br />
dos Organismos do S.N.S.,<br />
nomeadamente Hospitais, apresentarem,<br />
em regra, previsões de déficites<br />
financeiros muito significativos.<br />
Nesta matéria, opiniões existem em<br />
que, a par do controlo orçamental,<br />
deveriam ser analisados, por<br />
organismo do SNS, a sua capacidade<br />
de produção pela via dos<br />
custos reais.<br />
O mercado esteve representado<br />
pela Apifarma e Apormed, Associações<br />
representativas, respectivamente,<br />
da Indústria Farmacêutica<br />
e da Indústria e Comércio<br />
de Produtos de Uso Clínico<br />
não Farmacêutico.<br />
Estas associações salientaram<br />
nas suas comunicações, aspectos<br />
relevantes e complementares<br />
da aplicação do diploma:<br />
• Enquanto a Apifarma realça<br />
dois aspectos relevantes do<br />
preâmbulo do Dec-Lei 55/95 a<br />
saber: O Reforço de garantia<br />
dos direitos do Administrado<br />
e a transparência das normas<br />
bem como o reconhecimento de<br />
que os procedimentos nesta área<br />
devem ser mais eficazes, sim'<br />
ples e desburocratizados.<br />
E ainda "o equilíbrio entre<br />
objectivos de transparência e<br />
de rigoroso controlo das<br />
despesas por um lado e de<br />
eficácia e simplicidade nos respecti<br />
vos procedimentos ... ";<br />
• A Apormed refere-se a outro<br />
aspecto, de não menor importância,<br />
que é o de qualidade e de<br />
certificação de empresas e<br />
produtos.<br />
Refere-se esta associação à incongruência<br />
patente na comercialização<br />
de dispositivos médicos<br />
em Hospitais em fase de<br />
instalação para a qual é necessário<br />
alvará de obras públicas e<br />
não por exemplo um alavará de<br />
"Fornecedor <strong>Hospitalar</strong>", este<br />
com a possibilidade de ser periodicamente<br />
obtido através de<br />
~ntidade competente.<br />
A semelhança da Apifarma também<br />
a Apormed alerta para o<br />
acréscimo dos custos de processamento<br />
de procedimentos mais<br />
numerosos (como por exemplo o<br />
ajuste directo) de maior volume<br />
de documentos, de garantia de<br />
empresas em circulação, bem<br />
como pela carga burocrática<br />
em geral, que contrariamente<br />
ao que o diploma preconiza<br />
vem, indubitavelmente, acarretar.<br />
1<br />
40 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />
Acontecimento<br />
w<br />
e<br />
'-=><br />
'"'e>spital al>erte><br />
existentes no vetusto Hospital da<br />
Misericórdia, no pavilhão Cirúrgico<br />
e na antiga maternidade. A segunda<br />
fase ficou concluída em 1985.<br />
Actualmente, o HSL integra a unidade<br />
de saúde de Viana do Castelo,<br />
recentemente criada por despacho de<br />
24/03/95 do Secretário. de Estado da<br />
Saúde, tendo uma área de atracção<br />
que corresponde, basicamente, ao<br />
distrito de Viana do Castelo.<br />
De acordo com o despacho 36/86, é<br />
um Hospital de nível 3, que possui,<br />
para além das especialidades médico<br />
-cirúrgicas de base, especialidades<br />
diferenciadas e algumas altamente<br />
diferenciadas.<br />
Departamentos/Serviços<br />
com Internamento<br />
Dep. Medicina ................................ 102<br />
- Dermatologia<br />
- Endocrinologia<br />
- Gastrenterologia<br />
- Medicina Interna<br />
- Neurologia<br />
Dep. Cirúrgico ................................ 118<br />
- Cirurgia Geral<br />
- Cirurgia Plástica e Reconstrutiva<br />
- Estomatologia<br />
- Oftalmologia<br />
- Otorrinolaringologia<br />
- Urologia<br />
Dep. Psiquiatria e Saúde Mental.. .. .140<br />
Obstetrícia/ Ginecologia ..................... 5 6<br />
Pediatria/Neonatologia ..................... .37<br />
Ortopedia ......................................... 67<br />
Unidade de Cuidados Intensivos ........ 6<br />
TOTAL DE CAMAS ............. 526<br />
OBS - Serviço de Urgência .............. 13<br />
Consultas Externas<br />
-Adolescência<br />
- Cardiologia<br />
- Cirurgia Geral<br />
·,<br />
- Cirurgia Plástica e Reconstrutiva<br />
- Dermatologia<br />
- Dietética<br />
- Endocrinologia<br />
- Estomatologia<br />
- Fisiatria<br />
- Gastrenterologia<br />
- Ginecologia<br />
- Hematologia<br />
- Imuno-Hemoterapia<br />
- Medicina Interna<br />
- Neonatologia<br />
- Neurologia<br />
- Obstetrícia<br />
- Oftalmologia<br />
- Otorrinolaringologia<br />
- Pediatria<br />
- Pneumologia<br />
- Psicologia<br />
-Psiquiatria<br />
- Urologia<br />
Serviços de Diagnóstico<br />
e Terapêutica<br />
-Anatomia Patológica<br />
-Imagiologia<br />
-Imuno-Hemoterapia<br />
-Laboratório de Análises Clínicas<br />
- Medicina Física e Reabilitação<br />
-Unidade de Exames<br />
-Unidade de Oncologia<br />
Apesar da importância decrescente<br />
dos tradicionais dados de actividade<br />
assistencial para análise do desempenho<br />
das instituições, em face do<br />
crescente intercâmbio e colaboração<br />
institucional nas diferentes fases do<br />
tratamento dos doentes, não deixaremos<br />
de apresentar alguns.<br />
mesmo nível, muito embora se constatem<br />
algumas disfunções em alguns<br />
sectores pontuais se descermos à<br />
~nálise por GDH.<br />
E interessante verificarar que o<br />
número de doentes assistidos no<br />
Serviço de Urgência já foi, em 1994,<br />
bastante inferior àqueles que foram<br />
atendidos no sector do ambulatório<br />
programado, o que revela um trabalho<br />
de fundo de algumas especialidades<br />
em sede de organização e de<br />
desenvolvimento sistemático da sua<br />
capacidade de resposta.<br />
Os elementos assistenciais relativos<br />
à utilização dos serviços complementares<br />
de diagnóstico e terapêutica<br />
ctividade Assistencial 1993 1994<br />
Lotação (1)<br />
Doentes tratados (Internamento)<br />
Demora médica (Internamento)<br />
Doentes atendidos (Consulta Externa)<br />
Doentes assistidos (Urgência)<br />
(1) Excluindo SO e DPSM<br />
Da análise aos dados que reflectem o<br />
movimento assistencial no internamento<br />
hospitalar, podemos considerar<br />
uma produtividade global aceitável<br />
no centexto dos Hospitais do<br />
368<br />
13310<br />
7,7 dias<br />
81089<br />
82868<br />
368<br />
13236<br />
7,6 dias<br />
84497<br />
80240<br />
são prova de um crescimento espectacular<br />
destas áreas de actividade,<br />
apenas possível graças à conjugação<br />
de dois factores - a aposta no<br />
desenvolvimento tecnológico e o<br />
empenhamento dos profissionais envolvidos.<br />
Meios Complementares de Diagnóstico e Terapêutica<br />
Sectores de actividade 1993 1994<br />
Laboratório Análises Clínicas (análises)<br />
Imagiologia (exames)<br />
Cardiopneumografia (exames)<br />
Gastrenterologia (exames)<br />
Pneumologia (exames)<br />
Anatomia Patológica (exames)<br />
Ortóptica (tratamentos)<br />
Imuno-Hemoterapia (transfusões)<br />
Quimioterapia (tratamentos)<br />
Fisioterapia (tratamentos)<br />
Diversos (intervenções cirúrgicas)<br />
Com um bloco operatório constituído<br />
por cinco salas, o HSL tem mantido<br />
ao longo dos dois últimos anos uma<br />
produtividade estável de 25,1 intervenções/dia<br />
útil.<br />
De salientar igualmente o nível de<br />
actividade do Serviço de Anatomia<br />
Patológica que, com um quadro<br />
técnico constituído por apenas um<br />
médico e duas técnicas, executou no<br />
ano de 1994 um total de 6481 exames<br />
anátomo-patológicos.<br />
577.582<br />
55.577<br />
3.658<br />
1.068<br />
815<br />
6.176<br />
815<br />
12.782<br />
672<br />
27,622<br />
9.372<br />
615.673<br />
50.764<br />
3.736<br />
1.015<br />
1.049<br />
6.481<br />
1.459<br />
23.697<br />
457<br />
41.291<br />
9.892<br />
Movimentando anualmente verbas<br />
superiores a 5 milhões de contos,<br />
este Hospital contou com o OGE<br />
para suportar, no ano transacto,<br />
cerca de 85 % das suas necessidades<br />
financeiras, tendo o peso das receitas<br />
próprias vindo a crescer significativamente<br />
nos últimos anos.<br />
Sistematizando a acção dos órgãos<br />
de gestão nos últimos 3 anos, posso<br />
dizer que os grandes vectores de<br />
intervenção institucional se situam<br />
Recursos humanos em 31 de Dezembro<br />
Gr~pos profissionais 1992 1993 1994<br />
Pessoal dirigente<br />
Pessoal Técnico Superior<br />
•médicos<br />
•outros<br />
Pessoal de enfermagem<br />
Pessoal técnico<br />
• técnico diagnóstico e terapêutica<br />
•outros<br />
Pessoal administrativo<br />
Pessoal auxiliar<br />
Pessoal operário<br />
Outro pessoal<br />
TOTAL<br />
Com um quadro de pessoal desajustado,<br />
o HSL tinha, em 94.12.31, um<br />
total de 1010 trabalhadores ao seu<br />
serviço, distribuídos pela instituição<br />
-sede e pelos Hospitais Psiquiátricos<br />
de Paredes de Coura e Gelfa, apresentando<br />
uma população hospitalar<br />
maioritariamente feminina (67% do<br />
total).<br />
Para tentar resolver este desajustamento,<br />
foi enviada, para aprovação<br />
superior, uma proposta de alteração<br />
do quadro de pessoal contemplando<br />
um aumento do número de lugares<br />
nas áreas médica, de enfermagem e<br />
auxiliar, fundamentalmente.<br />
6 6 6<br />
147 154 163<br />
17 14 19<br />
275 326 347<br />
35 46 45<br />
1 1 2<br />
90 95 92<br />
303 302 302<br />
28 26 31<br />
3 3 3<br />
895 973 1010<br />
na modernização e desenvolvimento<br />
da qualidade e capacidade técnica<br />
dos serviços hospitalares a par de um<br />
nível crescente de humanização de<br />
serviços e aproximação do Hospital à<br />
comunidade alto-minhota.<br />
Sem pretender ser exaustivo, gostaria<br />
de realçar as seguintes acções<br />
desenvolvidas ultimamente no contexto<br />
do primeiro vector referido:<br />
• a criação de uma Unidade de<br />
Exames e Tratamentos, um Gabinete<br />
de Informática, a reestruturação<br />
do Centro de Documentação, a<br />
constituição do Departamento de<br />
Educação Permanente de Educação<br />
Permanente Multiprofi.ssional;<br />
• a remodelação parcial do Serviço<br />
de Urgência, ampliando a área<br />
assistencial, melhorando as ligações<br />
funcionais entre os seus sectores<br />
integrantes e permitindo a<br />
criação de um sector de informações<br />
aos utentes; -<br />
• a introdução de novas técnicas<br />
operatórias, e outras·, mais eficazes<br />
e menos invasivas, como é exemplo<br />
a laparoscopia, a utilização de<br />
oxímetros com capnógrafos, etc;<br />
• Colocação ao serviço de uma<br />
ambulância medicalizada para<br />
transporte de doentes graves como<br />
os que necessitam de ventilação<br />
assistida;<br />
• o estabelecimento de protocolos<br />
de acordo com instituições de saúde<br />
altamente diferenciadas que, em<br />
áreas específicas, possam apoiar o<br />
HSL a desenvolver o seu potencial<br />
de intervenção técnica.<br />
No que concerne à humanização de<br />
serviços e à aproximação do HSL à<br />
comunidade que serve, saliento:<br />
• estabelecimento de protocolos de<br />
acordo com o Hospital Conde de<br />
Bertiandos - Ponte de Lima - para<br />
prestação nesta instituição·de consultas<br />
externas de variadas espeçialidades<br />
médicas e cirúrgicas ·e de<br />
colaboração num programa d~ cirurgia<br />
de alta precoce; ,<br />
• no domínio da reabilitação, o<br />
acordo com várias clínicas espalhadas<br />
pelo distrito, sliprindo carências<br />
evidentes dos serviços públicos<br />
nesta área;<br />
• acordos com diversas enti,des,<br />
públicas e privadas, para o tratamento<br />
de roupas e incineração de<br />
resíduos sólidos contaminados;<br />
• constituição de um Sector de Voluntariado<br />
e de um Centro de Informação<br />
e Aconselhamento de deficientes integrado<br />
na rede Handynet;<br />
• Criação de um sistema de informação<br />
aos utentes sustentada por<br />
rede televisiva e com programa<br />
informático próprio e ainda a<br />
divulgação de um Guia do Utente.<br />
Apesar do esforço desenvolvido e das<br />
concretizações que estão à vista, é<br />
evidente que há ainda um longo<br />
caminho a percorrer para que o<br />
Hospital de Santa Luzia possa assumir<br />
o nível qualitativo que os profissionais<br />
desejariam e a população<br />
merece e exige.<br />
42 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />
<strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> 43
al>erte><br />
Santa Luzia à espera<br />
de quadro actualizado<br />
O trabalho que o hospital hoje desenvolve e a qualidade de<br />
serviços que se lhe exige não são compatíveis com o seu actual<br />
quadro de pessoal - afirma Fernando Marques, administrador-delegaâo<br />
da instituição.<br />
ESTAO HOSPITALAR -<br />
-Desde há muitos anos<br />
que, no sector da saúde,<br />
se ouve falar da dificuldade<br />
de articulação entre os<br />
diferentes níveis de cuidados.<br />
Qual é o ponto da situação neste<br />
distrito?<br />
FERNANDO MARQUES - Julgo<br />
ser indiscutível e consensual a importância<br />
dessa temática. O que é<br />
deveras surpreendente é a manifesta<br />
ausência de resultados práticos em<br />
quase todo o território nacional,<br />
apesar de parecer, numa primeira<br />
análise, um problema de solução<br />
fácil e imediatista. No distrito de<br />
Viana do Castelo foram dados passos<br />
significativos na direcção certa, mas<br />
ainda estamos a alguma distância da<br />
verdadeira prestação de cuidados<br />
integrados. O conhecimento pessoal ·<br />
entre os protagonistas dos diferentes<br />
níveis de cuidados, como forma de<br />
acabar com a desconfiança instalada,<br />
uma efectiva unidade de comando<br />
na sub-região de saúde capaz de<br />
conduzir os dirigentes nas instituições<br />
em consonância com uma linha<br />
estratégica definida e previamente<br />
conhecida. Por último, é urgente<br />
inovar os métodos e a prática da<br />
44 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />
circulação da informação médico<br />
-administrativa. Nos nossos distritos,<br />
alguns passos foram dados nesse<br />
sentido, mas muito há ainda a fazer<br />
para que possamos falar de uma<br />
verdadeira integração de cuidados<br />
de saúde.<br />
G .H. - De qualquer forma, são<br />
conhecidas algumas iniciativas<br />
bem conseguidas resultantes de<br />
um esforço conjunto entre instituições<br />
,de saúde desta zona ...<br />
F.M. - E verdade. A deslocação de<br />
médicos do Hospital de Santa Luzia<br />
de oito especialidades, médicas e<br />
cirúrgicas, para a realização de<br />
consultas externas no Hospital Conde<br />
de Bertiandos, de Ponte de Lima, é<br />
um exemplo feliz de uma forma de<br />
descentralização de serviços e da sua<br />
aproximação às populações. Em<br />
1994, realizaram-se, desta forma, no<br />
Hospital Conde de Bertiandos 8307<br />
consultas externas.<br />
Igualmente em conjunto com o Hospital<br />
Conde de Bertiandos, temos<br />
vindo a desenvolver um programa<br />
de Cirurgia de Alta Precoce, nas<br />
especialidades de Cirurgia Geral e<br />
Ginecologia, aproveitando, assim,<br />
uma disponibilidade de camas que<br />
já se torna difícil encontrar no<br />
hospital de Santa Luzia. Perante os<br />
bons resultados obtidos, em termos<br />
de lista de espera das patologias mais<br />
ligeiras nas especialidades referidas,<br />
iremos, dentro de dias, iniciar idêntica<br />
colaboração com o Centro de<br />
Saúde de Valença, num programa<br />
destinado a beneficiar os utentes<br />
dos concelhos da bacia do rio Minho,<br />
e alargado a mais algumas<br />
especialidades, como ORL e Oftalmologia.<br />
Existem outros acordos com instituições<br />
públicas de saúde do distrito nas<br />
áreas de reabilitação, tratamento de<br />
roupas e incineração de resíduos<br />
sólidos contaminados que, por razões<br />
diversas, não têm tido os resultados<br />
esperados.<br />
Uma dificuldade sentida desde que este<br />
hospital iniciou o seu funcionamento é a<br />
sistemática ausência de investimento<br />
de inovação, e até de substituição,<br />
dadas as insignificantes verbas atribuídas<br />
pelos sucessivos PIDDAC.<br />
G.H. - Para além da questão do<br />
sub-financiamento das unidades<br />
de saúde, sempre abordada nestas<br />
circunstâncias, que outras carências<br />
e dificuldades se apresentam<br />
ao Hospital de Santa Luzia?<br />
F.M. -As carências são naturalmente<br />
muitas, pois neste sector, por muito<br />
que se faça, haverá sempre muito<br />
mais para fazer. Contudo, permita-se<br />
que saliente a necessidade de ver<br />
aprovado um novo quadro de pessoal,<br />
mais compatível com o trabalho<br />
já desenvolvido neste momento e<br />
com o grau de diferenciação e a<br />
qualidade de serviços que se exigem<br />
desta instituição. Outra dificuldade<br />
sentida desde a data de início do seu<br />
funcionamento é a sistemática ausência<br />
de investimento de inovação,<br />
e até de substituição, dadas as<br />
insignificantes verbas atribuídas pelos<br />
sucessivos PIDDAC a este Hospital<br />
e as escassas verbas do orçamento<br />
de exploração não permitirem efectuar<br />
as substituições de equipamento<br />
desejáveis.<br />
G.H. - Para finalizar, gostaríamos<br />
de saber das suas expectativas<br />
para o futuro próximo.<br />
A deslocação de médicos do Hospital de<br />
Santa Luzia de oito especialidades,<br />
médicas e cirúrgicas, para a realização<br />
de consultas externas no Hospital<br />
Conde de Bertiandos, de Ponte de<br />
Lima, é um exemplo feliz de uma forma<br />
de descentralização de serviços e da<br />
sua aproximação às populações.<br />
Boehringer<br />
lngelheim<br />
<strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> 45<br />
F.M. - Sendo tantos os projectos,<br />
difícil se torna seleccioná-los. Todavia,<br />
permitam-me que distinga dois,<br />
de natureza completamente distinta.<br />
A imagem do Serviço de Urgência do<br />
Hospital de Santa Luzia junto dos<br />
utentes não é, seguramente, aquela<br />
que os trabalhadores desejariam.<br />
Nesta matéria importa congregar<br />
esforços dos responsáveis do Hospital,<br />
aos mais variados níveis, e dos<br />
dirigentes dos centros de saúde do<br />
concelho na procura de uma solução<br />
equilibrada e satisfatória, conscientes<br />
de que a satisfação da sufocante<br />
procura não é problema do Hospital<br />
de Santa Luzia mas responsabilidade<br />
de todos. A segunda preocupação<br />
tem a ver com a procura de uma<br />
solução de consenso com a Santa<br />
Casa da Misericórdia de Viana do<br />
Castelo sobre a propriedade do<br />
imóvel chamado Maternidade Velha,<br />
para onde se encontram previstas<br />
obras de remodelação com o<br />
objectivo de criar uma Unidade de<br />
Cirurgia do Ambulatório, uma Unidade<br />
de Oncologia e um novo Serviço<br />
de Medicina Física e de Reabilitação,<br />
um investimento que muito<br />
contribuirá para a melhoria da<br />
qualidade dos serviços de saúde<br />
prestados à população em áreas de<br />
crucial importância. •<br />
HOSPITAL<br />
DIVISION<br />
Value through innovation
Leituras<br />
I -<br />
E com profunda satisfação que a GESTA O<br />
HOSPITALAR, aconselha neste número,<br />
a leitura de um livro publicado por<br />
administradores hospitalares.<br />
O prof. Lopes dos Reis, doutorado em<br />
Lovaina e professor da Escola Nacional<br />
de Saúde Pública, h4 ~uito tempo que se<br />
vem dedicando às questões do<br />
aprovisionamento, regendo estas matérias<br />
na área da Saúde e em cursos superiores<br />
de <strong>Gestão</strong>.<br />
António Paulino é também um especialista<br />
na área do aprovisionamento com um<br />
curriculum profissional e docente<br />
por todos reconhecido.<br />
O carácter rigoroso, simples e didáctico<br />
desta obra, torna a leitura obrigatória para<br />
profissionais de aprovisionamento e para os<br />
gestores em geral.<br />
presente livro ocupa-se da<br />
matéria do aprovisionamento<br />
nos seus dois vectores<br />
fundamentais: a gestão<br />
dos stocks e as compras, razão de<br />
ser do seu título.<br />
Resultado de uma longa experiência<br />
dos seus autores no exercício<br />
da docência, da consultoria e da<br />
gestão do aprovisionamento, ele<br />
constitui a resultante destes três<br />
vectores, o que consideramos essencial<br />
para se conseguir a síntese<br />
ideal destas matérias com a clareza<br />
suficiente p~ra que estejam ao<br />
R. Lopes dos Reis*<br />
António Paulino *<br />
alcance de todos, sejam dirigentes<br />
interessados em melhorar o aprovisionamento<br />
nas suas empresas<br />
sejam iniciados no estudo destas<br />
técnicas.<br />
Nem sempre o aprovisionamento,<br />
mereceu o conveniente cuidado na<br />
gestão das empresas mas, nas<br />
últimas décadas tornou-se evidente<br />
como constitui um contributo<br />
apreciável para a sua rentabilidade.<br />
Apesar disso, são escassas<br />
as publicações sobre este assunto,<br />
no nosso país, daí se considerar<br />
que, o aparecimento deste livro. é<br />
extremamente oportuno.<br />
*Administradores hospitalares<br />
<strong>Gestão</strong> dos Stocks<br />
& Compras<br />
Rui Lopes dos Reis/<br />
António Paulino<br />
Livraria Internacional<br />
OLA NACIONAL DE<br />
AÚDE PÚBLICA<br />
ASSOCIAÇÃO<br />
PORTUGUESA DE<br />
ADMINISTRADORES<br />
HOSPITALARES<br />
"<br />
46 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />
BIBLIOTECA
I,<br />
Medicamentos<br />
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