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Gestão Hospitalar N.º31 1995

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As propostas dos partidos<br />

. para a Saúde<br />

Só é bom baixar custos<br />

se se mantiver a qualidade<br />

afirma John Williamson, médico<br />

e investigador norte-americano<br />

Sistemas de Saúde em questão<br />

- um trabalho de Vasco Pinto dos Reis


sociação Portuguesa<br />

·adores <strong>Hospitalar</strong>es Nº 31 • ANO IX • SETEMBR0 / 95 • 850$00<br />

\<br />

f<br />

1<br />

Membro da Associação Europeia<br />

de Dire.ctores <strong>Hospitalar</strong>es<br />

. -<br />

Revista da Associação Portuguesa de Administradores <strong>Hospitalar</strong>es<br />

' DIRECTORA<br />

Armanda Miranda<br />

CONSELHO REDACTORIAL<br />

Ana Isabel Gonçalves<br />

Joaquina Matos<br />

Jorge Poole da Costa<br />

Manuel Ligeiro<br />

Manuel Delgado<br />

Vitor Freire<br />

PROPRIEDADE<br />

Associação Portuguesa<br />

de Administradores <strong>Hospitalar</strong>es<br />

Empresa jornalística nº 209259<br />

Apartado 40031 1517 Lisboa Codex<br />

ADMINISTRAÇÃO E ASSINATURAS<br />

APAH<br />

Apartado 40031 1517 Lisboa Codex<br />

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SAIBA QUE ... 4<br />

MARCO DO CORREIO . 6<br />

EDITORIAL<br />

ATAC's<br />

INVESTIGAÇÃO 21<br />

As questões que se põem<br />

7 aos sistemas de Saúde<br />

por Vasco Pinto dos Reis<br />

8<br />

GESTÃO 31<br />

OPINIÃO 1<br />

9 As propostas dos principais<br />

A qualidade em Saúde<br />

partidos políticos para a Saúde<br />

- artigo de Manuel Delgado.<br />

IN MEMORIAM 36<br />

OPINIÃO il 12 Preciosa Aguiar<br />

As compras públicas<br />

no sector da saúde ACONTECIMENTO 38<br />

- artigo de Menezes Duarte<br />

HOSPITAL ABERTO 41<br />

~~<br />

ENTREVISTA 16 O Hospital de Viana do Castelo<br />

Com o médico e investigador LEITURAS 46<br />

Avª. Ressano Garcia, 2í-r/c 1000 Lisboa<br />

Tels.: 387 71 38/18/50/42 - 387 70 79<br />

PRODUÇÃO GRÁFICA<br />

Augusto Teixeira<br />

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Montalito<br />

DISTRIBUIÇÃO<br />

JMToscano<br />

Tel.: 414 29 09/29 34 - Fax: 414 29 51<br />

ASSINATURA ANUAL - 3.000$00<br />

PUBLICAÇÃO TRIMESTRAL<br />

TIRAGEM - 2.000 exemplares<br />

Nº Registo 109060<br />

Depósito legal nº 16288/87<br />

ISSN: 0871 - 0776<br />

norte-americano John Williamson<br />

ASSOCIAÇÃO<br />

PORTUGUESA DE<br />

ADMINISTRADORES<br />

HOSPITALARES<br />

.<br />

ALGUMAS EMPRESAS PROJECTAM O FUTURO.<br />

OUTRAS CRIAM-NO.<br />

....<br />

t:P<br />

Schering-Plough<br />

Apartado 28 •Casal Colaride Agualva • 2736 Cacém Codex • Telef. 431 25 31 Fax: 432 10 97<br />

NORMAS EDITORIAIS<br />

1ª A Revista aceita trabalhos sobre qualquer assunto relacionado<br />

com o tema geral da gestão de serviços de saúde entendida esta no<br />

seu mais amplo sentido.<br />

2ª Os artigos deverão ser enviados ao Director. A este caberá a<br />

respon~abilidade_ de aceit~r , rejeitar ou propor. mod~ficações.<br />

3ª Os artigos deverao ser enoiados em duplicado (incluindo quadros<br />

e figuras), dactilografados a duas entrelinhas em folha de<br />

formato A 4. Em cada folha não deverão ser dactilografadas<br />

mais de 35 linhas. As folhas serão numeradas em ordem<br />

sequencial.<br />

4ª Os art~· os deverão ser acompanhados, sempre que possível, por<br />

fotogra ia do(s) autor(es), tipo passe.<br />

5ª Os tra alhos deverão conter em folhas separadas o seguinte:<br />

a)-Título do trabalho, nome(s) do(s) autor(es) e pegueno esboço<br />

curricular do(s) autor(es), principais funções ou titulas, até ao<br />

máximo de dois;<br />

b)-Pequena introdução ao artigo até ao máximo de uma página<br />

dactilografada;<br />

c)-0 texto;<br />

d)-Quadros com títulos e legendas (folhas autónomas);<br />

e)-Gráficos desenhados a traço de tinta-da-china sobre papel<br />

vegetal sem números ou palavras;<br />

{)-Títulos, legendas ou elementos dos gráficos escritos em folhas<br />

de fotocópias destes, à parte;<br />

g)-Fotografias numeradas no verso, a lápis, segundo a ordem de<br />

entrada no texto e respectivas legendas;<br />

h)-Peguenos resumos do artigo em língua francesa e inglesa,<br />

incluindo títulos; ~ - ,<br />

i)-Os originais não deverãõ conter pés-de-página. Todas as<br />

referências bibliográficas completas serão insertas no final do<br />

artigo. ·-·-<br />

6º Nas referências bibliográficas, os autores são colocados por ordem<br />

alfabetica (apelido seguido das iniciais do nome), seguindo-se o<br />

título completo do artigo, o título abreviado da Revista, o número<br />

do volume, os números da primeira e última páginas e o ano da<br />

publicação .<br />

O Editorial e os Artigos não assin dciS&fUOla e;t;ptins'á:bí~ifd.'ad@fla<br />

Direcç~o da As?ociação._ . SAÚDE P.Uo4ê1~~<br />

Os Artigos assinados sao da excl ~~l'liML<br />

autores, não com_prometendo a As ociação com os pontos de vista<br />

neles expressos. Embora merecendo a melhor atenção, a colaboração<br />

não solicitada não será devoluid , reservando.se o direito de a<br />

publicar ou não.<br />

-:VQ)-. n,u~<br />

'ti-tit'~<br />

3 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> BIBLIOTEC.\


XIII Congresso da Associação<br />

Europeia de Gestores<br />

<strong>Hospitalar</strong>es<br />

Decorrerá em Bruxelas de 12 a 14 de<br />

Outubro deste ano sob o tema "O<br />

Hospital do Século XXI".<br />

O programa científico e social é<br />

bastante atractivo. A abordagem do<br />

hospital do futuro, das novas doençaas<br />

e das novas formas alternativas<br />

de prestação de cuidados, coloca<br />

simultaneamente novos desafios ao<br />

gestor hospitalar, que serão objecto<br />

de várias comunicações e debates.<br />

O programa social inclui uma recepção<br />

no Hotel da Villa, na Grand<br />

Place, um jantar de gala e uma visita<br />

a Bruges, a "Veneza do Norte".<br />

A não perder!<br />

Conferência anual da EHMA<br />

(European Health Management Association) em Portugal<br />

A Escola Nacional de Saúde Pública e a Associação Portuguesa de<br />

Administradores <strong>Hospitalar</strong>es vão organizar, no Estoril de 26 a 28 de Junho<br />

do próximo ano, pela primeira vez em Portugal, a Conferência Anual da<br />

EHMA, associação que congrega instituições de ensino e de investigação,<br />

associações profissionais e Universidades reputadas internacionalmente nos<br />

domínios da economia da saúde e da gestão.<br />

O tema central da Conferência será o impacte na gestão dos novos<br />

contributos científicos e tecnológicos no domínio da prestação de cuidados,<br />

que seguramente motivará, pela sua oportunidade, a adesão de amplos<br />

sectores profissionais.<br />

Considerando o elevado nível científico de conferências anteriores e a<br />

circunstância de se prever a presença entre nós de cerca de 150 gestores de<br />

serviços de saúde do resto da Europa, é para APAH uma honra aparecer<br />

associada a este evento que, estamos certos, concitará a adesão dos gestores<br />

hospitalares portugueses e de outros profissionais interessados. Oportunamente<br />

será divulgado o respectivo programa.<br />

Concursos<br />

para Administradores<br />

<strong>Hospitalar</strong>es<br />

1. Desde 1 de Setembro que<br />

decorre o exercício tutelado de<br />

mais 53 colegas. Obedecendo a<br />

um regulamento que se espera<br />

moralizador desta fase probatória,<br />

os novos colegas têm já<br />

indicados os respectivos "tutores",<br />

todos Administradores <strong>Hospitalar</strong>es<br />

com, pelo menos, o 3º<br />

grau da respectiva carreira. Os<br />

processos foram já remetidos<br />

para o Tribunal de Contas,<br />

aguardando-se, apenas, o respectivo<br />

visto.<br />

Com este concurso, todos os<br />

colegas diplomados nos últimos<br />

anos vêm as suas situações<br />

profissionais finalmente encaminhadas,<br />

terminando, pelo menos<br />

por agora, os casos de contratos<br />

a termo certo ou a recibo verde,<br />

perfeitamente desajustados e<br />

desprestigiantes, face às funções<br />

de grande responsabilidade que<br />

os Administradores <strong>Hospitalar</strong>es<br />

desempenham. O Departamento<br />

de Recursos Humanos de Saúde<br />

está, assim, de parabéns!<br />

2. Decorre, entretanto, um concurso<br />

de acesso para lugares<br />

vagos em diferentes hospitais. O<br />

Juri está a ultimar a análise de<br />

candidaturas, trabalho complexo<br />

e moroso dado o elevado<br />

número de colegas a concurso<br />

(mais de 150).<br />

Pioneiro na « lif!1peza e higiene hospitalar» desde a fundação<br />

deste estabelecimento de acordo com regulamentação da CE<br />

- -- -<br />

A Associação Portuguesa de Admi·<br />

nistradores <strong>Hospitalar</strong>es está<br />

a organizar uma interessante viagem<br />

de estudo a Inglaterra e à Escócia,<br />

a realizar de 11 a 22 de Fevereiro.<br />

O programa, com partida de Lisboa<br />

a 11, inclui visitas a Londres(12,13<br />

e 14), Edimburgo/ Glasgow(lS,16,17<br />

e 18), Manchester/ Leeds(19,20<br />

e 21). O programa técnico será<br />

enviado logo que possível a todos<br />

os colegas interessados.<br />

Estão contempladas visitas,<br />

designadamente, a entidades<br />

públicas de definição e coordenação<br />

da política de saúde, clínicos gerais<br />

e hospitais, autoridades regionais,<br />

universidades e escolas<br />

vocacionadas para a gestão<br />

dos serviços de saúde.<br />

IX Jornadas de Administração<br />

<strong>Hospitalar</strong><br />

Decorrerão nos dias 6 e 7 de Dezembro<br />

as tradicionais jornadas de Administração<br />

<strong>Hospitalar</strong>, organizadas pela Escola<br />

Nacional de Saúde Pública, desta vez<br />

com a colaboração da Associação Portuguesa<br />

de Administradores <strong>Hospitalar</strong>es<br />

e com descontos significativos para<br />

os seus associados.<br />

Após um interregno de alguns anos,<br />

retoma-se um forum único e prestigiado<br />

da Administração <strong>Hospitalar</strong> Portuguesa,<br />

este ano com inovação significativa<br />

no seu formato. Elegendo-se o tema<br />

"Sociedade e Saúde", pretende-se um<br />

olhar sobre o fenómeno da Saúde por<br />

ADRIANO MOREIRA<br />

JOÃO SALGUEIRO<br />

AlJGUSTO WPES CARDOSO<br />

[ __ I<br />

parte de personalidades prestigiadas<br />

em diferentes domínios sociais, e o<br />

confronto de ideias com profissionais<br />

de saúde publicamente reconhecidos.<br />

Serão assim, conferencistas o prof.<br />

Adriano Moreira(solariedade social<br />

ou responsabilidade individual), o dr.<br />

João Salgueiro(regulação normativa<br />

ou por mecanismos de mercado) e o dr.<br />

A u gusto Lopes Cardoso(responsabilidade<br />

e saúde)~ Os comentários<br />

estarão a cargo do padre<br />

Vítor Melícias, prof. Correia de Campos,<br />

prof. Campos e Cunha, dr. Menezes<br />

Correia, prof. Meliço Silvestre, dr.<br />

Raul Moreno Rodrigues, prof. Caldeira<br />

da Silva, prof. Vasco Reis e prof.<br />

--<br />

Nogueira da Rocha.<br />

Hospital de Abrantes<br />

Santiria<br />

Sociedade de Limpeza Técnica e Mecânica, Lda.<br />

Travessa da Lamei ra, 13 -- 2000 SANTAR ÉM<br />

Santarém - Tel.:(043)2 51 22 Fax:(043)332935 • Marinha Grande - Tel. :(044)568063 Fax:(044)504232<br />

4 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />

<strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> 5


Marce> de> Ce>rrt=tie><br />

Edite>rial<br />

Privatização 1<br />

Raras vezes tenho lido<br />

textos tão interessantes<br />

a nível de privatização<br />

na saúde como<br />

aquele que Manuel<br />

Delgado _ assinou no<br />

último número de<br />

GESTÃO HOSPITA­<br />

LAR, sob o título<br />

"Cenários para a privatização".<br />

Bem poderia<br />

ser lido por Paulo<br />

Mendo, ainda que o<br />

destino do Amadora­<br />

-Sintra estivesse traçado<br />

desde o seu<br />

antecessor, Arlindo<br />

de Carvalho! É que,<br />

como o autor do trabalho<br />

escreve - em que<br />

eu acredito piamente -<br />

"não é claro que a<br />

gestão privada possa<br />

acrescentar ganhos de produtividade<br />

sem pôr em causa o acesso<br />

universal e a qualidade dos actos".<br />

Leitor identificado,<br />

administrador hospitalar<br />

Lisboa<br />

Privatização li<br />

"A privatização em saúde envolve<br />

inconvenientes ponderosos que podem<br />

desvirtuar significativamente<br />

direitos constitucionais dos cidadãos<br />

portugueses". Pergunto: se<br />

assim é, por que razão se verifica<br />

a febre de privatizar a todo o custo?<br />

Vá lá o Diabo entender ...<br />

Administrador­<br />

-delegado<br />

José Dias,<br />

enfermeiro<br />

Porto<br />

O sr. secretário de Estado da Saúde<br />

e nosso companheiro de profissão<br />

Lopes Martins reconhece que "o<br />

perfil exigido para o lugar de<br />

administrador-delegado aponta<br />

claramente para uma formação<br />

específica facultada pelo curso de<br />

Administração <strong>Hospitalar</strong>". Reconhece-o<br />

ele e todos nós o reconhecemos<br />

também. O que esperaríamos<br />

do Zé Carloss era, no entanto, um<br />

pouco mais; que aproveitasse a<br />

oportunidade única de ter esta.do<br />

num governo de maioria absoluta<br />

para passar do simples reconhecimento<br />

à justa concretização ..<br />

Leitor identificado,<br />

administrador hospitalar<br />

Lisboa<br />

Pai Mantas 1<br />

Augusto José Quintanilha Mantas<br />

- Pai Mantas, como bem se diz no<br />

"Perfil" - é realmente um nome de<br />

que os administradores hospitalares<br />

se não poderão esquecer. Agradeço<br />

ao director da nossa revista o<br />

destaque tão merecido que lhe deu<br />

na última edição ..<br />

Leitor identificado,<br />

administrador hospitalar<br />

Coimbra<br />

Pai Mantas li<br />

Nunca é demais homenagear um<br />

homem que tanto fez pela nossa<br />

carreira. Refiro-me, claro está, ao<br />

prof. Augu$tO Mantas, a quem<br />

todos nós,. administradores hospitalares,<br />

tanto devemos.<br />

Leitor identificado,<br />

administrador hospitalar<br />

· Coimbra<br />

Destaque · ~<br />

Entre os trabalhos publicados no<br />

último número da revista da vossa<br />

Associação, destaco a entrevista a<br />

Lopes Martins e a homenagem<br />

merecida feita a Augusto Quintanilha<br />

Mantas.<br />

Leitor identificado,<br />

administrador hospitalar<br />

Setúbal<br />

Desejo<br />

Segundo se pode ler na revista<br />

GESTÃO HOSPITALAR, Abrantes<br />

conta, desde 1985, com uma<br />

moderna unidade hospitalar. Como<br />

cidadão de Abrantes, mas há<br />

longos anos ausente da terra onde<br />

nasci, só desejo que o seu novo<br />

hospital contribua para tratar as<br />

pessoas como elas merecem, ao<br />

contrário do que se verificava no<br />

meu tempo.<br />

Manuel Andrade,<br />

bancário<br />

Lisboa<br />

<strong>Gestão</strong><br />

Um dos trabalhos que mais apreciei<br />

na última edição da vossa<br />

revista é a entrevista feita ao dr.<br />

Lopes Martins. Oxalá o sr. secretário<br />

de Estado possa garantir, continuando<br />

no governo ou fora dele, o<br />

que então afirmou: "A rede hospitalar<br />

portuguesa há-de ser sempre<br />

integrada por hospitais públicos<br />

com gestão pública e por hospitais<br />

públicos com gestão privada".<br />

Será a prova de que a política de<br />

privatizações na saúde, desenvolvida<br />

pelo seu governo, teve sucesso.,<br />

como espero.<br />

A. Carlos Machado,<br />

médico<br />

Porto<br />

Uma nova lei de <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong>[<br />

A? A?<br />

porque .... para que ....<br />

ão amiga fez-nos chegar recentemente<br />

um documento de estudo, do Ministério<br />

da Saúde, que pretende regulamentar a<br />

estrutura e o funcionamento dos nossos<br />

hospitais, incluindo naturalmente, o próprio modelo<br />

de gestão.<br />

Sem inovações significativas e enredando-se numa teia<br />

centralizadora e burocrática típica no Estado Português,<br />

tal documento não mereceria especiais ref erências,<br />

não fora o facto de mais uma vez se propôr a<br />

alteração, ainda que ligeira, da lei de <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong>.<br />

Agora, e num movimento pendular curioso, admite-se<br />

timidamente que o Gestor <strong>Hospitalar</strong> deverá ser,<br />

preferencialmente, um profissional integrado na carreira<br />

de Administração <strong>Hospitalar</strong>. Aproximamo-nos,<br />

portanto, da legislação de 1968 (que se pretende<br />

substituir), e de 1977 (entretanto revogada em 1988).<br />

O ziguezaguear do Legislador, ainda por cima num<br />

longo período de governação monopartidária, revela<br />

bem o carácter inconsequente e meramente acidental<br />

da actual lei de <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong>.<br />

Assumida como uma bandeira decisiva na política de<br />

Saúde, a lei de <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> de 1988 revelou-se<br />

completamente ineficaz e a sua aplicação foi, muitas<br />

vezes, conflitual, caricata e contra-producente.<br />

Esqueceu-se sempre, e mais uma vez se esquece neste<br />

documento de estudo, que o modelo de <strong>Gestão</strong><br />

<strong>Hospitalar</strong> tem uma natureza super-estrutural e o seu<br />

sucesso depende essencialmente da autonomia que se<br />

conceda e da perspectiva empresarial que definitivamente<br />

se atribua ao Hospital Português.<br />

Não queremos acreditar que os políticos que nos<br />

governam e os peritos que os assessoram não entendam<br />

esta sequência de questões e muito menos<br />

queremos atribuir-lhes meras e mesquinhas intenções<br />

politiqueiras de controlo dos nomeados ou de reserva<br />

de lugares.<br />

Registamos, com pena, que à Associação Portuguesa<br />

de Administradores <strong>Hospitalar</strong>es, representante dos<br />

interesses deontologicos e profissionais da esmagadora<br />

maioria dos Admnistradores <strong>Hospitalar</strong>es Portugueses<br />

não tenha sido solicitada qualquer opinião sobre este<br />

documento de estudo.<br />

Se assim não fosse, teríamos dito que a <strong>Gestão</strong> dos<br />

Hospitais não se melhora com meros ajustamentos<br />

técnico-jurídicos nos mecanismos de indigitação e<br />

nomeação dos protagonistas.<br />

Previamente ter-se-ão que analisar as condições de<br />

actuação dos Gestores, a sua responsabilização e a sua<br />

autonomia.<br />

Sob pena de os deixarmos queimar em lume brando,<br />

com dignidade, lealdade e veneração, mas frustrando<br />

as suas mais lídimas aspirações profissionais e<br />

deontológicas.<br />

*<br />

* *<br />

Entretanto, noutro documento de estudo do Ministério<br />

da Saúde, encomendado a Professores da Universidade<br />

Nova de Lisboa, reflecte-se sobre o Sistema de Saúde e<br />

propõem-se reformas radicais no domínio do financiamento,<br />

do mercado e da gestão.<br />

Tal estudo não é especialmente inovador já que<br />

assume a bondade da "competição gerida", expressão<br />

que contempla correntes de opinião oriundas dos<br />

E.V.A. e há muito glosadas também entre nós.<br />

Já será inovador que o Ministério da Saúde adapte<br />

essa filosofia e a passe à prática.<br />

A ver vamos ...<br />

6 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />

<strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> 7


·.=:<br />

..- A saúde pública é, no ano da<br />

(des)graça de <strong>1995</strong>, um território<br />

de desigualdades, que vão desde<br />

os condicionalismos que impõem<br />

a requisição de exames radiológicos<br />

com uma antecedência<br />

média de quatro meses, até à<br />

própria falência de interesse<br />

pelos cuidados pessoalizados,<br />

por parte de alguns quadros, sem<br />

a mais ínfima dose de sensibilidade<br />

e qualquer tacto para as<br />

relações humanas ..<br />

Fernando Eusébio B. Firmino<br />

Público 22102195<br />

..- ( ... ) A prática da medicina<br />

é hoje encarada como uma<br />

profissão como outra qualquer,<br />

em que o médico oferece os seus<br />

serviços e recebe por eles uma ·<br />

retribuição (talvez ainda haja<br />

quem receba gal inhas, mas, em<br />

geral, é em dinheiro que<br />

os serviços são pagos).<br />

José António Marques Correia<br />

Público 12103195<br />

..- Como o director do hospital<br />

não necessita de ser médico ou<br />

profissional de saúde, ao administrador<br />

delegado não se exige<br />

carreira de administração hospitalar,<br />

e o director clínico pode<br />

provir doutra instituição, os três<br />

elementos apenas têm em<br />

comum a confiança ministerial.<br />

É fácil adivinhar a razão dessa<br />

confiança quando se trata de<br />

prover centenas de lugares.<br />

Extracto do comunicado<br />

da Associação Portuguesa<br />

dos Médicos da Carreira <strong>Hospitalar</strong><br />

sobre o projecto de Dec. Lei sobre<br />

a <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> (Julho/ <strong>1995</strong>)<br />

..- Alguns elementos do PSD<br />

invocarão certamente o " interesse<br />

nacional" para que, mesmo<br />

em completo estado de inoperância<br />

, o PSD continue a governar,<br />

na esperança de que pelo<br />

menos os administradores hospitalares<br />

ou os carg os nas ARS<br />

poderão continuar a ser decididos<br />

pelos nossos.<br />

Pacheco Pereira<br />

Diário de Notícias 31-8-95<br />

..- Um sistema de tipo Serviço<br />

Nacional de Saúde é de todos<br />

o que cria mais condições para<br />

a redução das desigualdades.<br />

Correia de Campos<br />

Expresso 29107195<br />

..- A confusão entre as funções<br />

de fi nanciamento e de prestação<br />

e a falta de competição entre<br />

financiadores e ent re prestadores<br />

tornaram o sistema monopolístico<br />

e rígido.<br />

Idem<br />

..- Gestores cada vez mais<br />

dependentes do governo, confrontados<br />

com recursos escassos,<br />

depressa aprendem que nada<br />

ganham sendo poupados.<br />

Idem<br />

..- Por ter dinheiro fácil da<br />

Europa, o Governo constru iu<br />

hospitais dispendiosos sem critérios<br />

rigorosos de análise de<br />

necessidades, às vezes para satisfação<br />

de clientelas regionalistas.<br />

Idem<br />

..- Se eu necessita r, para amanhã,<br />

de uma consulta de clínica<br />

geral ou de especialidade, num<br />

centro de saúde ou num hospital,<br />

consigo-o gastando metade de<br />

uma manhã; a minha mulher-a­<br />

-dias perderá um dia e terá de<br />

esperar pelo menos uma semana.<br />

Somos todos iguais, mas<br />

" uns são mais do que outros".<br />

Idem<br />

..- O SNS tem estado cronicamente<br />

subfinanciado, governamentalizado<br />

e ileg itimamente<br />

partidarizado.<br />

Idem<br />

·.··.· . ..<br />

:·.';<br />

f<br />

Manuel Delgado *<br />

A Qualidade em Saúde é<br />

tendencialmente assumida<br />

pelas suas vertentes<br />

menos importantes, apresenta-se,<br />

muitas vezes,<br />

como um "show off' vazio<br />

de conteúdo e, o que é mais<br />

preocupante, desvia recursos<br />

e atenções das questões<br />

essenciais para a eficácia<br />

dos cuidados e para a<br />

satisfação e bem-estar dos<br />

utilizadores.<br />

A qualidade em SaUde<br />

QUALIDADE é, já<br />

hoje, um tema recorrente<br />

quando se<br />

abordam as questões<br />

de Saúde.<br />

Rodeado de alguma<br />

abstracção e sem limites definidos,<br />

o conceito é indiscriminadamente<br />

aplicado para adjectivar o Sistema<br />

de Saúde que temos e as diferentes<br />

formas de prestação de cuidados.<br />

Utiliza-se a expressão mas raramente<br />

se dilucida o seu conteúdo.<br />

Será, p,orventura, uma questão de<br />

moda. E, com certeza, uma questão<br />

de ignorância.<br />

Assistimos, por outro lado, à proliferação<br />

de iniciativas de sensibilização,<br />

de circulares informativas,<br />

de prospectos de divulgação e até<br />

de concursos, por parte do Secretariado<br />

para a Modernização Administrativa,<br />

no sentido de promover<br />

a qualidade dos serviços prestados<br />

pela Administração Pública.<br />

Tais acções, louváveis no contexto<br />

em que são concebidas, têm, no<br />

entanto, provocado alguns equívocos<br />

junto dos profissionais de<br />

Saúde: abordam a qualidade apenas<br />

na perspectiva da inter-relação<br />

pessoal, da informação e da humanização;<br />

revelam frequentemente<br />

uma gritante inadaptação (mesmo<br />

nesse contexto) face à realidade dos<br />

estabelecimentos e serviços de saúde.<br />

A ausência de uma visão ampla e<br />

consistente sobre a Qualidade em<br />

Saúde, conduziu a que tais iniciativas<br />

ocupassem, para muita boa<br />

gente, todo o terreno reservado a<br />

esta matéria, o que tem tido consequências<br />

desastrosas para o seu<br />

desenvolvimento entre nós:<br />

a) sobrelevam-se questões secundárias<br />

ou de natureza marginal;<br />

b) privilegia-se a humanização<br />

como se esta fosse matéria específica;<br />

c) não se tocam nas questões<br />

nucleares em saúde, quais sejam,<br />

a qualidade dos "meios de<br />

produção", a qualidade dos<br />

"processos" de intervenção clínica<br />

utilizados ou a qualidade<br />

dos resultados obtidos.<br />

Em síntese, a Qualidade em Saúde é<br />

tendencialmente assumida pelas<br />

suas vertentes menos importantes,<br />

apresenta-se, muitas vezes, como<br />

um "show off' vazio de conteúdo<br />

e, o que é mais preocupante, desvia<br />

recursos e atenções das questões<br />

essenciais para a eficácia dos cuidados<br />

e para a satisfação e bem­<br />

-estar dos utilizadores.<br />

A evolução do conceito<br />

E, no entanto, quer no mundo da<br />

indústria e dos serviços, quer especificamente<br />

no âmbito da saúde,<br />

temos assistido ao desenvolvimento<br />

de experiências, metodologias e<br />

conceitos na área da QUALI­<br />

DADE, que têm contribuído decisivamente<br />

para a sua operacionalidade<br />

e eficácia.<br />

A evolução histórica foi interessante<br />

e iniciou-se na indústri2.t através<br />

do controlo passivo da QUALI­<br />

DADE: ao cliente que reclamava<br />

•<br />

8 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />

<strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> 9


- - o p 1 n 1 a o<br />

perante um produto "avariado" ou<br />

desconforme face às suas expectativas<br />

preço-utilidade, o produtor ou<br />

vendedor respondia com um novo<br />

produto ou com uma indemnização.<br />

Mais tarde, e apercebendo-se do<br />

desprestígio que poderia resultar<br />

de tal prática, os produtos passaram<br />

a ser testados no interior da<br />

empresa, evitando-se, assim, que os<br />

produtos "avariados" entrassem no<br />

mercado sendo, então, reciclados<br />

ou simplesmente destruídos.<br />

Só mais tarde se introduziu o<br />

controlo activo da qualidade dos<br />

produtos: o fabricante preocupava­<br />

-se logo de início com a qualidade<br />

das suas matérias-primas e de todo<br />

o processo produtivo, antecipando­<br />

-se na detecção de erros ou avarias e<br />

prevenindo, assim, a qualidade dos<br />

seus produtos.<br />

A qualidade dos bens e serviços,<br />

teve, por esta via, um incremento<br />

imparável, o nível de erros e<br />

avarias baixou consideravelmente<br />

e a margem de desperdícios reduziu­<br />

-se para valores economicamente<br />

admissíveis. Paralelamente, as empresas<br />

ganharam credibilidade junto<br />

dos consumidores na razão directa<br />

dos pontos de controlo de<br />

qualidade utilizados.<br />

Seria absurdo admitir na prestação<br />

de cuidados de saúde uma evolução<br />

desta natureza. Indemnizar os familiares<br />

de um doente que morre<br />

imprevistamente, para além do<br />

princípio puro de justiça material<br />

que se cumpra, revelará isso sim,<br />

uma falta de qualidade do serviço<br />

em que tal facto ocorreu e tratar-se­<br />

-á sempre de um acontecimento<br />

irreparável.<br />

A morte, as sequelas ou as deficiências<br />

devem ser prevenidas e evitadas<br />

e exige-se, por imperativos<br />

éticos que, em matéria de saúde,<br />

os serviços utilizem necessariamente<br />

um controlo de qualidade<br />

activo e sistemático.<br />

Por outro lado, e ao contrário do<br />

que se passa na indústria ou numa<br />

repartição pública, o consumidor é<br />

em saúde e simultaneamente, ,Parte<br />

integrante do processo produtivo.<br />

Ou seja, ele próprio é o objecto de<br />

transformação (a matéria-prima) e<br />

não apenas o consumidor que se<br />

posiciona no "fim da linha" e<br />

adquire um bem ou obtém um<br />

Em saúde temos que ter uma visão da qualidade mais<br />

complexa e compreensiva, que integre a avaliação<br />

final do "produto" e concomitantemente a avaliação<br />

inicial das condições de prestação de cuidados e a<br />

avaliação intermédia dos actos clínicos e das outras<br />

prestações.<br />

serviço. Tal característica implica,<br />

portanto, uma visão da qualidade<br />

mais complexa e compreensiva, que<br />

integre a avaliação final do "prod<br />

u t o " e concomitantemente . a avaliação<br />

inicial das condições de<br />

prestação de cuidados e a avaliação<br />

intermédia dos actos clínicos e<br />

das outras prestações.<br />

Tipos de abordagem<br />

Por isso mesmo, a Qualidade em<br />

Saúde tem sido objecto de vários<br />

tipos de abordagem, sendo vasta a<br />

literatura internacional sobre a<br />

matéria e variados os estudos e<br />

experiências desenvolvidas em hospitais<br />

e em cuidados primários.<br />

Durante muito tempo as orientações<br />

dominantes assentavam nas<br />

ópticas da "estrutura" e do "processo",<br />

de que são exemplos paradigmáticos<br />

a Acreditação de Hospitais<br />

e os "Clinical Audit", respectivamente.<br />

Mais recentemente, tem-se investido<br />

na avaliação de resultados em<br />

saúde, considerando-se ser este o<br />

fim último de um sistema, de um<br />

serviço ou de um prestador, e<br />

consequentemente, a medida incontornável<br />

do seu sucesso. A utilização<br />

de indicadores macro-sanitários<br />

e de bem-estar é, no entanto,<br />

controversa e difícil, já que os<br />

Ainda há quem pense<br />

que a QUALIDADE é<br />

antes de mais uma sensação<br />

ou um estado de<br />

espírito, que se avalia<br />

por intuição ou por<br />

fenómenos anor~ais<br />

aberrantes.<br />

respectivos resultados são influenciados<br />

por "externalidades" que<br />

tornam esses instrumentos de avaliação,<br />

por vezes, pouco sensíveis às<br />

questões especificas da Saúde. Os<br />

QAL Y (Quality Adjusted Life<br />

Years), por exemplo, pese embora<br />

permitam recolher uma informação<br />

mais consentanea com a efectiva<br />

vivência das pessoas, são fortemente<br />

influenciados por aspectos<br />

económicos, sociais e culturais,<br />

que, em muito, extravasam as<br />

responsabilidades atribuíveis aos<br />

sistemas de saúde.<br />

Paralelamente, e ainda dentro da<br />

óptica dos resultados, tem-se privilegiado<br />

de forma crescente a dimensão<br />

"satisfação". Considerada como<br />

uma atitude decisiva no mundo dos<br />

negócios, a orientação dos produtos<br />

e serviços para o Cliente, seguindo<br />

sempre que possível, as suas expectativas<br />

e o seu grau de exigência,<br />

fez com que se considerassem os<br />

estudos sobre satisfação em saúde<br />

elementos indispensáveis numa<br />

perspectiva geral da QUALI­<br />

DADE. A introdução de mecanismos<br />

de mercado e de livre-escolha,<br />

poderão tornar este indicador imprescindível,<br />

a exemplo do que<br />

acontece noutros países. Acrescente-se<br />

ainda que a satisfação dos<br />

doentes, sendo sinónimo de confiança,<br />

poderá ser um atributo decisivo<br />

num processo terapêutico e de<br />

reabilitação.<br />

A qualidade<br />

como dimensão objectiva<br />

Noutro plano de análise se colocam<br />

as questões que se prendem com os<br />

mecanismos de avaliação da qualidade<br />

e a sua objectividade.<br />

Ainda há quem pense que a QUA­<br />

LIDADE é antes de mais uma<br />

sensação ou um estado de espírito,<br />

que se avalia por intuição ou por<br />

fenómenos anormais aberrantes.<br />

Nada mais errado! De pouco serviria<br />

essa metodologia de avaliação.<br />

O estilo, a formação e as idiossincrasias<br />

pessoais ou de grupo, ditariam<br />

apreciações subjectivas de<br />

qualidade, não seria possível avaliar<br />

com rigor os níveis de qualidade<br />

e de não qualidade e, quando<br />

muito, seríamos alertados apenas<br />

para casos-sentinela de desconformidade<br />

evidente.<br />

Os grandes avanços que se vêm<br />

registando em ,matéria de QUALI­<br />

DADE em SAUDE situam-se exactamente<br />

na criação de mecanismos<br />

objectivos de medida.<br />

A QUALIDADE assenta em critérios<br />

que identificam de forma clara<br />

e objectiva a forma correcta de<br />

actuar face a um determinado<br />

fenómeno de saúde que se quer<br />

avaliar. São, portanto, cenários de<br />

actuação pré-definidos que representam<br />

o nível de excelência que se<br />

considera possível. Posteriormente,<br />

compara-se a realidade com esses<br />

critérios e regista-se o grau de<br />

observância ou de desvio, ficando­<br />

-se, assim, de posse de uma informação<br />

objectiva e rigorosa quanto aos<br />

níveis de qualidade praticados.<br />

Se, por exemplo, se considera desejável<br />

que um utente de uma consulta<br />

externa hospitalar não deve<br />

esperar no dia da consulta, mais<br />

de 20 minutos para que esta se<br />

inicie, não será difícil medir com<br />

rigor os desvios verificados na<br />

realidade. Se, por hipótese, verificássemos<br />

que 90% dos nossos doentes<br />

esperam menos de 20 minutos,<br />

poderíamos então dizer que tínhamos,<br />

neste particular, um padrão<br />

excelente de qualidade, já que seria<br />

admissível, por razões aleatórias,<br />

que 10% dos casos tivessem um<br />

Os grandes avanços<br />

que se vêm registando<br />

em matéria de Q U ALI- ,<br />

DADE em SAUDE<br />

sit ua m-se ex acta ­<br />

mente na criação de<br />

mecanismos objectivos<br />

de medida.<br />

tempo de espera superior.<br />

Só a introdução de mecanismos<br />

objectivos de avaliação de qualidade,<br />

de que acabamos de dar um<br />

exemplo muito simples, nos permite<br />

incorporar a QUALIDADE na perspectiva<br />

da gestão de unidades de<br />

Saúde.<br />

A existência de indicadores quantificados<br />

sobre padrões de qualidade<br />

e níveis de qualidade e de não<br />

qualidade, permitem ao gestor detectar<br />

e apreciar os desvios e<br />

conferir-lhe a importância que merecem.<br />

Daí decorrerão, eventualmente,<br />

medidas correctivas e o<br />

tempo necessário para que as melhorias<br />

de qualidade se verifiquem.<br />

O papel dos profissionais<br />

Como se vê, a qualidade exige<br />

transparência de processos e a<br />

criação de consensos suficientemente<br />

alargados e duradouros sobre<br />

a melhor ou mais correcta<br />

forma de estar ou de actuar. Sabemos<br />

que em saúde, a padronização<br />

de comportamentos e o cumprimento<br />

uniforme de protocolos clínicos<br />

de actuação não são muitas vezes<br />

compatíveis com as situações espe-<br />

cíficas com que os profissionais se<br />

confrontam. Isso exige que na<br />

formulação e na definição de critérios<br />

e padrões, para além da sua<br />

mais ampla e genuína aceitação, se<br />

introduzam mecanismos de excepção,<br />

que acolham intervenções<br />

desviantes mas técnica e cientificamente<br />

justificadas.<br />

O papel dos profissionais de saúde<br />

é, nesta matéria, insubstituível. Os<br />

critérios e padrões de qualidade<br />

devem ser concebidos e discutidos<br />

inter-pares porque só isso lhes dá a<br />

credibilidade e exequibilidade desejadas.<br />

A imposição de regras de actuação<br />

de forma autoritária e por via<br />

administrativa adulteram significativamente<br />

os programas de QUALI­<br />

DADE e comprometem irremediavelmente<br />

os seus objectivos: contribuir<br />

para que os cuidados de saúde<br />

sejam prestados com eficácia, com<br />

racional utilização de meios e de<br />

forma segura e satisfatória para os<br />

doentes.<br />

Temos esperaIJ.ça de que a QUALI­<br />

DADE em SAUDE evolua entre nós<br />

com profundidade e seriedade. Há<br />

muitos profissionais interessados e<br />

que já participaram em programas<br />

de qualidade que lhes deram satisfação<br />

e, acima de tudo, produziram<br />

resultados positivos junto dos doentes.<br />

Há, da parte da Direcção Geral<br />

da Saúde, vontade e capacidade<br />

para se desenvolverem programas<br />

integrados de qualidade, que mostram<br />

pertinência e oportunidade.<br />

Oxalá tais iniciativas tenham o<br />

apoio e o reconhecimento que<br />

merecem e se ultrapasse a diversão<br />

e a superficialidade em que, nesta<br />

matéria, nos vamos arrastando. 1<br />

* Administrador hospitalar<br />

10 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />

<strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> 11


Opiniãe»<br />

Menezes Duarte *<br />

Texto-base da comunicação apresentada<br />

no seminário sobre as·<br />

Compras Públicas no Sector da<br />

Saúde, organizado pela APAH<br />

em 29de Maio último.<br />

As compras públicas<br />

no sector da saúde<br />

recente publicação<br />

do Dec.-Lei nº 55/<br />

95 de 29 de Março<br />

relativo ao regime<br />

jurídico de aquisições<br />

de bens e serviços<br />

na Administração Pública<br />

constitui mais uma fonte de preocupações<br />

para os administradores e<br />

outros responsáveis hospitalares.<br />

Nos meios hospitalares havia alguma<br />

expectativa quanto ao novo<br />

diploma nomeadamente no sentido<br />

de se esperar dele alguma flexibilização<br />

e simplificação nos procedimentos<br />

administrativos.<br />

Verifica-se, face a uma primeira<br />

leitura de texto, um geral sentimento<br />

de frustração.<br />

A questão contudo é provavelmente<br />

outra, ou seja, a de saber se<br />

um diploma com estas características,<br />

pretendendo regular a actividade<br />

administrativa de todos os<br />

serviços públicos se deverá aplicar<br />

a instituições tão especiais como<br />

são os hospitais. Ou, dito de outro<br />

modo, se não deverão os hospitais<br />

ter um estatuto diferente com<br />

diferentes enquadramentos jurídicos<br />

nesta e noutras matérias.<br />

Acontece que hoje em dia ninguém<br />

tem dúvidas sobre a singularidade<br />

e especificidade das instituições<br />

hospitalares no quadro geral da<br />

Administração Pública.<br />

Constitui uma evidência que em<br />

nenhum outro sector da Administração<br />

Pública se encontram instituições<br />

que, pelos meios financeiros<br />

que movimentam, pela dimensão<br />

e variedade dos recursos<br />

humanos e materiais que envolvem,<br />

pela especificidade e delicadeza<br />

das prestações que realizam,<br />

impliquem uma tão marcada complexidade<br />

de gestão, comJ os hospitais.<br />

E, à medida que os tempos correm,<br />

mais aquela convicção se confirma<br />

e a complexidade da gestão dos<br />

hospitais se acentua, tendo em<br />

conta o crescimento dos custos, a<br />

invasão incessante de novas tecnologias,<br />

a diversificação crescente<br />

das funções que lhe são cometidas,<br />

a pressão dos utentes, as acrescidas<br />

exigências de qualidade, segurança<br />

e modernização.<br />

Face a esta realidade, as considerações<br />

relativas aos modelos de<br />

gestão apropriados para os hospitais<br />

apontam inevitavelmente para<br />

o reforço das ideias de autonomia e<br />

para aproximações a formas de<br />

gestão empresarial.<br />

Este tipo de discurso tornou-se<br />

praticamente universal. Ele é defendido<br />

por administradores e outros<br />

profissionais hospitalares, vê­<br />

-mo-lo em programas políticos e<br />

textos de organizações profissionais<br />

e sindicais da saúde, é assumido<br />

abertamente por responsáveis<br />

políticos da área da saúde, encontramo-lo,<br />

enfim, nos próprios textos<br />

legislativos que regulam a organização<br />

e gestão dos Hospitais.<br />

O Dec.-Lei nº 19/88 de 21 de Janeiro<br />

inicia desta forma inequívoca o seu<br />

preâmbulo:<br />

«Dentro da afirmação, hoje pacífica,<br />

de que a evolução do sistema<br />

hospitalar aponta claramente no<br />

sentido de uma dinâmica própria, a<br />

que subjaz uma unidade muito<br />

complexa onde se produzem bens<br />

e serviços, a sua gestão tem necessariamente<br />

de assentar em suportes<br />

compatíveis e que de forma<br />

alguma podem coincidir ou identificar-se<br />

com a situação relativamente<br />

bloqueante, como continua<br />

ainda a ser a actual, de um serviço<br />

público que, se não em teoria, pelo<br />

menos na prática, alinha a par dos<br />

que vivem integrados na gestão<br />

directa do Estado.»<br />

Dir-se-ia que o estado de amadurecimento<br />

da questão é completo<br />

para se avançar com as consequentes<br />

medidas legislativas.<br />

Paradoxalmente, contudo, não houve<br />

ainda capacidade para dar o<br />

passo em fren te e conferir aos<br />

hospitais um estatuto jurídico-adrµinistrativo<br />

adequado.<br />

A parte os benefícios bem modestos<br />

que lhe advem do estatuto de<br />

autonomia administrativa e financeira,<br />

os Hospitais continuam sujeitos<br />

ao mesmo regime administrativo<br />

dos demais serviços públicos.<br />

Trata-se de uma contradição incontornável,<br />

geradora de graves bloquamentos<br />

e preversões.<br />

As administrações hospitalares deparam<br />

no dia a dia com controlos<br />

prévios e constrangimentos legais e<br />

regulamentares que as desgatam,<br />

inibem e desresponsabilizam.<br />

A sua postura que deveria ser<br />

necessariamente de condução e de<br />

iniciativa desliza para o comportamento<br />

burocrático e defensivo: a<br />

preocupação relativa ao cumprimento<br />

de leis e regulamentos prevalece<br />

sobre os objectivos da gestão.<br />

Mais grave que isso, contudo, é a<br />

dramática realidade de que, não<br />

obstante aqueles eqforços, os constrangimentos<br />

jurídicos que pesam<br />

sobre os hospitais são em muitas<br />

situações insusceptíveis de cumprimento.<br />

A contradição entre a realidade da<br />

vida hospitalar e o quadro regulamentar<br />

que lhe é imposto é de tal<br />

forma severa, que não há compatibilização<br />

possível e a ruptura<br />

jurídica é, em muitas áreas, inevitável.<br />

Em matéria de recrutamento<br />

de pessoal e de aquisições de bens e<br />

serviços a prática de actos ilegais é<br />

constante. Entre o estrito cumpri-<br />

Não houve ainda capacidade<br />

para dar o<br />

passo em frente e con·<br />

ferir aos hospitais um<br />

estatuto jurídico-administrativo<br />

adequado.<br />

mento da lei e a continuidade do<br />

serviço hospitalar, as Administrações<br />

optam por esse último valor.<br />

Esta opção que, no ponto de vista<br />

dos administradores, por razões<br />

cívicas e deontológicas, é indiscutível,<br />

obriga-os contudo a decair na<br />

prática de actos passivos de responsabilidade<br />

disciplinar e financeira.<br />

,<br />

E o que, sem exagero, se pode<br />

chamar uma situação insustentável.<br />

A continuidade do escamoteamento<br />

da gravidade da situação e o<br />

adiamento da tomada de decisões<br />

de fundo sobre a matéria serão a<br />

pior resposta para o problema<br />

apresentado.<br />

Entretanto, o novo diploma sobre<br />

as compras públicas e a sua aplicabilidade<br />

aos hospitais não indicia a<br />

chegada de tempos melhores. Mas<br />

ele está aí, é um facto consumado,<br />

há então que o analisar e que ver as<br />

suas incidências na vida dos hospitais.<br />

A apreciação que se adianta é<br />

necessariamente genérica e incompleta<br />

pois só a prática de aplicação<br />

do novo texto legislativo poderá<br />

melhor evidenciar as suas virtudes<br />

e , defeitos.<br />

E indiscutível que como "documento<br />

técnico" o novo diploma<br />

supera obviamente o obsoleto<br />

Dec.-Lei nº 211/79, cujas ideias<br />

sobre Administração Pública remontam<br />

aos anos 50.<br />

Assim, como aspectos positivos do<br />

Dec.-Lei nº 55/95 poderão indicar-se<br />

os seguintes:<br />

1. A actualização dos novos valores<br />

que delimitam os níveis de competência<br />

para autorização de despesas<br />

e as modalidades processuais a<br />

adoptar, valores que permaneceram<br />

inalterados desde 1985.<br />

Registe-se contudo que a actualização<br />

efectuada é mais quantitativa<br />

do que qualitativa, pois se limitou à<br />

aplicação dos valores da inflacção<br />

verificados de 1985 à actualidade.<br />

2. A consubstanciação num único<br />

texto de todo o regime jurídico dos<br />

contratos dos Serviços Públicos.<br />

3. A complexa regulamentação dos<br />

procedimentos, ultrapassando-se<br />

assim a indigência que na matéria<br />

o Dec.-Lei 211/79 revelava e a<br />

necessidade concomitante de recurso<br />

à regulamentação das obras<br />

públicas, como regime supletivo.<br />

4. A adopção das modalidades<br />

processuais que envolvem mecanismos<br />

de negociação o que poderá<br />

criar condições acrescidas de eficiência<br />

nas aquisições.<br />

5. A consideração do factor urgência<br />

como causa de dispensa de<br />

formalidades, colmatando assim<br />

lacuna grave do Dec.-Lei 211/79,<br />

embora a necessidade de aprovação<br />

prévia do Ministro limite muito o<br />

alcance da medida.<br />

Como aspectos negativos sublinham-se<br />

os seguintes:<br />

12 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />

<strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> 13


o - - p 1 n 1 a o<br />

1. A obrigatoriedade do controlo<br />

escrito retoma no essencial o que<br />

se dispunha no Dec.-Lei 211/79,<br />

com actualização do "plafond"<br />

para 2500 contos.<br />

Sabendo-se que a realização deste<br />

documento implica a fiscalização<br />

prévia do Tribunal de Contas,<br />

poder-se-á concluir que não há<br />

alterações substanciais quanto<br />

aos princípios da intervenção daquele<br />

Tribunal na gestão corrente<br />

dos Hospitais.<br />

Como é conhecido, essa intervenção,<br />

além de provocar grande peso<br />

de trabalho administrativo e de<br />

produzir indesejáveis alongamentos<br />

nos prazos de aprovisionamento,<br />

constitui elemento perturbador<br />

dos processos de decisão que o<br />

orgão de gestão não controla por<br />

inteiro.<br />

Estamos nesta matéria a tocar a<br />

questão de fundo abordada no<br />

início desta exposição.<br />

A necessidade de visto prévio do<br />

Tribunal de Contas introduz intoleráveis<br />

incertezas quanto ao desenlace<br />

final das decisões, podendo<br />

comprometer ou invalidar planos e<br />

programas, ou adiando a solução<br />

de necessidades prementes.<br />

Seria bem desejável que as intervenções<br />

do Tribunal de Contas" ou<br />

de outras entidades de tutela se<br />

ef ectuassem à posteriori (não interrompendo<br />

o processo de decisão)<br />

e se concentrassem sobretudo em<br />

critérios que tenham a ver com a<br />

transparência, a objectividade e a<br />

correcção técnico-económica das<br />

decisões. Em matéria de aprovisionamento<br />

somos visados intensivamente<br />

com intervenções que procuram<br />

avaliar aspectos formais da<br />

decisão (documentos, prazos, assinaturas,<br />

etc.) mas raramente nos<br />

sentimos avaliados pelo resultado<br />

obtido ou pela qualidade da decisão<br />

adaptada.<br />

Entretanto, e porque a realidade é<br />

esta, o novo diploma não vai evitar<br />

que face à impossibilidade prática<br />

de realizar contratos escritos sempre<br />

que a tal a lei obriga, os<br />

Hospitais continuem a invocar<br />

razões inconsistentes para a 'dispensa<br />

de contrato ou desdobrem as<br />

aquisições em valores inferiores ao<br />

plafond estabelecido.<br />

2. O novo diploma torna obrigatório<br />

nos processos de aquisições a<br />

audiência escrita ou oral dos interessados<br />

prevista nos artigos 100 e<br />

seguintes do Código de Procedimento<br />

Administrativo.<br />

Constitui mais um pesado e porventura<br />

insuportável ónus que<br />

recai sobre a actividade administrativa<br />

dos Hospitais.<br />

As citadas diligências são obrigatórias<br />

para todos os processos de<br />

valor superior a 100 contos e serão<br />

ef ectuadas ou pelo orgão de gestão<br />

0) ou por delegação deste pela<br />

Comissão de Análise de Propostas<br />

composta por 3 membros.<br />

Nos hospitais de grande e média<br />

dimensão vai haver lugar anualmente<br />

a milhares de audiências,<br />

envolvendo o trabalho de grandes<br />

contingentes de pessoal hospitalar.<br />

Não se afigura com efeito, como<br />

possível, dar adequado cumprimento<br />

a esta nova determinação que<br />

vem agravar consideravelmente o<br />

estado já penoso dos Serviços de<br />

Aprovisionamento e constituir<br />

mais uma fonte de situações jurídicas<br />

irregulares.<br />

Entretanto, os prazos de aprovisionamento<br />

vão ter seguramente aqui<br />

mais um factor de agravamento.<br />

3. No que respeita às novas modalidades<br />

processuais poder-se-á dizer<br />

que a situação actual vai ser<br />

prejudicada nas aquisições de menor<br />

valor que tem uma grande<br />

incidência na vida diária dos hospitais.<br />

Para essas aquisições hoje adopta­<br />

-se a modalidade expedita e informal<br />

do Ajuste Directo cujo limite<br />

financeiro de aplicação são os 800<br />

contos.<br />

Na nova lei, o Ajuste Directo só<br />

tem lugar em aquisições de valor<br />

inferior a 100 contos. Acima deste<br />

montante têm lugar outros procedimentos<br />

que envolvem diligências<br />

(constituição de comissões, actas<br />

de reuniões, relatórios e audiência<br />

de interessados) que muito virão a<br />

sobrecarregar o trabalho administrativo<br />

dos Serviços de Aprovisionamento.<br />

4. Mantém-se no novo diploma a<br />

omissão das situações de mercado<br />

com fornecedor único como factor<br />

de dispensa de concurso.<br />

"<br />

Trata-se de situações com grande<br />

frequência nos hospitais e que, à<br />

falta de adequada previsão legal,<br />

o brigam à abertura de concursos<br />

sem qualquer sentido.<br />

5. A prática de contratos plurianuais<br />

deveria ser admitida com<br />

maior liberalidade dado o seu real<br />

interesse para as instituições, mas<br />

a manutenção da obrigatoriedade<br />

da portaria conjunta do Ministério<br />

das Finanças e da Tutela funciona<br />

como importante factor de contenção<br />

daquelas práticas.<br />

Em termos de gestão, os contratos<br />

plurianuais podem ter o maior<br />

interesse não só por razões de<br />

financiamento mas ainda porque o<br />

alargamento do prazo contratual<br />

pode em muitos casos condicionar<br />

a obtenção de melhores resultados.<br />

6. A existência de um contrato<br />

anterior como fundamento de dispensa<br />

de concurso que existia no<br />

Dec.-Lei nº 211/79 e não foi reproduzida<br />

no novo diploma, constitui<br />

uma lacuna com efeitos práticos<br />

importantes. Assim, por exemplo, o<br />

procedimento muito frequente nos<br />

hospitais de equipar laboratórios<br />

mediante a concessão do exclusivo<br />

de consumo de reagentes ao fornecedor<br />

do equipamento, não parece<br />

ter acolhimento jurídico no novo<br />

diploma.<br />

7. Continua a não haver enquadramento<br />

jurídico para os casos de<br />

aquisições sem previsão de quantidades,<br />

situações que se verificam<br />

frequentemente com produtos de<br />

consumo de gasto aleatório onde é<br />

impossível preparar concursos com<br />

estimativas de consumo credíveis.<br />

Nestes casos o que interessaria era<br />

preparar consultas de mercado,<br />

seleccionar o fornecedor e realizar<br />

Os Serviços Farmacêuticos<br />

e de Aprovisionamento<br />

dos hospitais<br />

de cada região<br />

(ou alguns deles) poderiam<br />

apoiar a realização<br />

técnica e administr<br />

ativa dos<br />

concursos, que teriam<br />

as ARS como<br />

suporte jurídico.<br />

as aquisições à medida das necessidades.<br />

Mas nestas consultas não há<br />

propriamente nem autorizações de<br />

despesa, nem adjudicações, decisões<br />

que se devolvem para as<br />

aquisições que subsequentemente<br />

vierem a ser efectuadas.<br />

Situações semelhantes se po,dem<br />

verificar com equipamentos. E do<br />

maior interesse para os hospitais<br />

preparar consultas de mercado<br />

para certos equipamentos de aquisição<br />

repetitiva mas imprevisível,<br />

por forma a evitar que se tenha de<br />

realizar um processo de compra<br />

sempre que a necessidade surja.<br />

Um comentário final relativo à<br />

perspectiva de centralização ou de<br />

agrupamento de compras hospitalares.<br />

Esta prática que teve entre<br />

nós significativo sucesso nos anos<br />

70 e 80 (Serviço de Aprovisionamento<br />

da Sec. Geral do Ministério)<br />

entrou em progressiva desactivação<br />

e está praticamente extinta.<br />

Contudo, parece fora de questão o<br />

interesse que aquele tipo de aquisição<br />

assumia para os hospitais:<br />

melhores preços (fruto das economias<br />

de escala), normalização de<br />

produtos, aceitação de novas marcas<br />

de produtos em hospitais onde<br />

outras detinham o "exclusivo",<br />

enorme simplificação do trabalho<br />

administrativo dos hospitais que se<br />

limitavam a receber as listagens de<br />

adjudicação e a colocar as respectivas<br />

encomendas, etc ...<br />

Seria importante retomar o tema.<br />

Acontece que o Dec.-Lei nº 55/95<br />

(artº. 33º, nº 7) parece abrir essa<br />

perspectiva ao permitir a adopção<br />

de modalidades de a provisionamento<br />

para sectores específicos da<br />

Administração Pública, semelhantes<br />

às que são já praticadas pela<br />

Direcção Geral do Património do<br />

Estado.<br />

Caso essa possibilidade jurídica se<br />

confirme haveria que dar-lhe o<br />

máximo de aproveitamento. Um<br />

caminho a explorar seria o da<br />

realização de contratos a nível<br />

das ARS para os principais grupos<br />

de produtos de consumo.<br />

Os Serviços Farmacêuticos e de<br />

Aprovisionamento dos hospitais<br />

de cada região (ou alguns deles)<br />

poderiam apoiar a realização técnica<br />

e administrativa dos concursos,<br />

que teriam as ARS como<br />

suporte jurídico.<br />

A viabilização desta hipótese de<br />

trabalho viria, sem dúvida, atenuar<br />

significativamente as sombrias<br />

perspectivas que o Dec .-Lei nº 55/<br />

95 suscita em todos nós. 1<br />

* Administrador-Delegado<br />

do Hospital Pulido Valente<br />

14 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />

<strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> 15


Entr~vista<br />

"Se poupamos dinheiro mas há mais pessoas a morrer, não podemos dizer que haja melhoria", afirma,<br />

categórico, numa entrevista que pode considerar-se notável, John Williamson, médico e investigador norte­<br />

-americano, especialista da área da Qualidade.<br />

ó é om aixar custos<br />

se se mantiver a qua i a e<br />

ESTAO HOSPITALAR -<br />

Que tipo de desenvolvimento<br />

é necessário para<br />

ef ectuar a melhoria de<br />

qualidade em todo o país, sabendo-se<br />

que há o Governo a prestar<br />

uma grande parte dos cuidados<br />

de saúde, a financiar os cuidados,<br />

a garantir a prestação dos cuidados?<br />

JOHN WILLIAMSON - Nós tivemos<br />

uma grande experiência neste<br />

campo há mais de 20 ou 30 anos ê eu<br />

continuo convencido de que se deve<br />

começar com um centro de recursos<br />

de melhoria da qualidade independente<br />

do Governo e do sector privado<br />

se neste também for utilizado. Com<br />

um centro destes, começa por ter-se<br />

um onde haverá pessoas com formação<br />

adequada para ajudar os diversos<br />

grupos. Estas pessoas estudam a<br />

qualidade, ajudam, estabelecem as<br />

prioridades, procedem a medições<br />

dos resultados e, se o problema for<br />

real, tentam resolvê-lo através de um<br />

protocolo ou de um plano que desenvolvem,<br />

voltando sempre ao princípio<br />

para reavaliação do resultado,<br />

para ver se se conseguiu a melhoria.<br />

Depois deste centro ter trabalhado<br />

com um ou dois hospitais voluntários<br />

(não se pode impor isto) e depois de<br />

se começar a assistir a progressos e a<br />

melhorias reais, vão ver, como nós<br />

vimos em cinco anos, que haverá<br />

muitos outros hospitais a querer a<br />

mesma coisa. Vêem os dados e<br />

querem também melhorar assim.<br />

Mas a essência está no centro que<br />

tem os conhecimentos especializados,<br />

os instrumentos necessários, professores,<br />

pessoas que podem formar<br />

outras dentro do hospital, consultores<br />

que podem ajudar se houver<br />

problemas graves.<br />

GH -<br />

Quais os indicadores a<br />

"'<br />

'<br />

utilizar pela administração<br />

para saber se o<br />

pessoal, o hospital ou a<br />

unidade de saúde globalmente,<br />

têm um bom<br />

ou um mau desempenho?<br />

JW - Quando começamos<br />

a falar de indicadores<br />

entramos num tema muito<br />

interessante. Posso começar<br />

por dizer, com base<br />

na minha experiência de<br />

mais de trinta anos de<br />

trabalho, que os indicadores<br />

não constituem a resposta.<br />

Os indicadores só<br />

se debruçam sobre um<br />

número muito limitado de<br />

questões relacionadas<br />

com o desempenho de um<br />

hospital. Se nos basearmos<br />

apenas nesses indicadores,<br />

vamos provavelmente<br />

perder de vista a<br />

maior parte das áreas em que se<br />

poderiam conseguir as grandes melhorias<br />

ao menor custo. Assim, a<br />

minha sugestão é que um hospital<br />

constitua um grupo, uma equipa de<br />

melhoria da qualidade, que se debruce<br />

sobre os problemas do hospital no<br />

seu todo, sobre os problemas entre<br />

serviços, problemas entre indivíduos,<br />

tais como o pessoal de enfermagem e<br />

os médicos, os administradores e os<br />

médicos, problemas fiscais e tudo o<br />

resto que se possa aplicar ao hospital<br />

no seu todo. Ora, ao criarem uma<br />

equipa destas e ao começarem a ver<br />

algum sucesso, vão estabelecer o<br />

modelo para os serviços e para<br />

Queremos que sejam os próprios profissionais a identificaros<br />

problemas nas suas áreas de responsabilidade.<br />

aquilo que cada chefe de serviço<br />

pode fazer. No Serviço de Medicina<br />

Interna, o chefe de serviço pode<br />

constituir uma equipa com médicos,<br />

pessoal de enfermagem, pessoal administrativo<br />

e esta equipa dedicar-se­<br />

-ia às questões intra-serviço, às questões<br />

que têm a ver com esse serviço<br />

específico.<br />

GH- Em Portugal tem vindo a ser<br />

a Inspecção Geral dos Serviços de<br />

Saúde (que é um departamento do<br />

Estado) a assumir algum papel<br />

conhecido em matéria de qualidade,<br />

auditando a adequação técnica,<br />

por exemplo, de serviços de<br />

A minha sugestão é que um hospital<br />

constitua um grupo, uma equipa de<br />

melhoria da qualidade, que se debruce<br />

sobre os problemas do hospital no seu<br />

todo, sobre os problemas entre serviços,<br />

problemas entre indivíduos, tais<br />

como o pessoal de enfermagem e os<br />

médicos, os administradores e os<br />

médicos, problemas fiscais e tudo o<br />

resto que se possa aplicar ao hospital<br />

no seu todo.<br />

sangue ou da hemodiálise.<br />

Pensa ser este o<br />

caminho certo?<br />

JW - Há alturas em que<br />

esse será o caminho certo<br />

a percorrer. Se há tentativas<br />

de se detectar uma<br />

melhoria e nada acontece,<br />

a administração tem<br />

de meter mãos à obra e<br />

desenvolver indicadores,<br />

fazer medições e, seguidamente,<br />

arranjar um<br />

tipo de motivação ou<br />

incentivo (muitas vezes<br />

negativo, infelizmente)<br />

para eles cumprirem.<br />

Mas, na maior parte dos<br />

casos, queremos que sejam<br />

os próprios profissionais<br />

a identificar os problemas<br />

nas suas áreas de<br />

responsabilidade. E, se<br />

eles trabalharem cotmbas<br />

pessoas com quem ra a-<br />

lham agora, identificarem os problemas<br />

e as soluções, há muito mais<br />

probabilidades de conseguir mudanças<br />

de comportamento e melhores<br />

resultados do que se se forçar tudo<br />

através de regulamentos e normas.<br />

GH - A acreditação de unidades de<br />

saúde, centros de saúde e hospitais<br />

é uma priorid~de num sistema<br />

de qualidade? E possível num<br />

sistema de saúde como o nosso,<br />

sem um verdadeiro mercado e<br />

sem livre escolha, desenvolver<br />

programas de acreditação? Quem<br />

os deverá conduzir?<br />

JW - Tal como acontece com o<br />

Estado a mandar os seus fiscais<br />

examinar os registos (o que pode ser<br />

útil numa pequena área, mas não<br />

aqui), também aqui os procedimentos<br />

de acreditação e certificação não são<br />

frequentemente válidos. Não identificam<br />

onde é que se devem introduzir<br />

as mudanças mais importantes. Nós<br />

fizemos estudos em que examinámos<br />

os exames de certificação e, sempre<br />

que havia uma pontuação elevada,<br />

víamos o que tinham feito na prática<br />

e verificávamos não haver qualquer<br />

relação. Pode ter-se uma pontuação<br />

alta e ser-se péssimo médico e pode<br />

ter-se uma pontuação, baixa e ser-se<br />

um grande médico. E por isso que<br />

tendemos a não gostar dos exames de<br />

acreditação que são feitos em dado<br />

momento, até porque é a longo prazo<br />

que se consegue fazer a melhor<br />

<strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> 17


O administrador é responsável pelas relações do hospital com a<br />

comunidade. O médico é responsável pelas comunicações e pelas relações<br />

com os seus próprios doentes.<br />

avaliação e que se pode conseguir<br />

melhores observações e resultados.<br />

Para isso, também é melhor usar<br />

equipas em que os próprios médicos<br />

tentam identificar as áreas em que<br />

podem melhorar. Não queremos estar<br />

a apontar para um médico e dizer-lhe<br />

"o senhor é mau".<br />

GH - Quer exemplificar?<br />

JW - Posso dar como exemplo o que<br />

se passa nos Países Baixos. Eles estão<br />

a abandonar a acreditação, a certificação.<br />

Tudo o que precisam é que um<br />

médico passe pelas fases da sua<br />

formação e que as pessoas que o<br />

acompanharam ao longo dos anos<br />

digam que ele é competente e está<br />

pronto para exercer a profissão:· Não<br />

os fazem passar por novos exames<br />

para mostrar que decoraram imensos<br />

factos isolados que, muitas vezes,<br />

nada têm a ver com prestação de<br />

cuidados competentes. Penso que<br />

usar este tipo de métodos para<br />

identificar a competência é melhor<br />

do que estar a fazer-lhes um exame<br />

em determinado momento e, depois,<br />

partir do princípio de que vão ser<br />

sempre bons ou maus. Penso que isso<br />

é um disparate.<br />

GH - Há uma tendência fortemente<br />

reactiva da classe médica<br />

à introdução de mecanismos de<br />

avaliação da qualidade na prática<br />

clínica, designadamente porque<br />

lhe repugna a ideia de uniformizar<br />

procedimentos, estabelecer<br />

critérios e proceder a comparações<br />

entre o exercício e os padrões.<br />

Como se poderá<br />

ultrapassar esta questão?<br />

JW - Bom, de certa maneira, esses<br />

médicos têm razão. Mas tem de se<br />

pensar em termos dos factores que<br />

vão levar à mudança e, no início, as<br />

pessoas resistem. Nos Países Baixos,<br />

por exemplo, foram precisos cinco<br />

anos para muitos hospitais ficarem<br />

convencidos de que era isso que<br />

deviam fazer. Portanto, não nos<br />

Um dos piores problemas que temos é o<br />

dos erros no diagnóstico, até porque<br />

há imensos estudos sobre autópsias<br />

que mostram que não estamos a<br />

diagnosticar a situação certa.<br />

18 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />

devemos preocupar se eles ficarem<br />

muito zangados e pouco implicados.<br />

São estes os médicos que, muito<br />

provavelmente, serão os líderes da<br />

melhoria de qualidade. Depois, começam<br />

a falar sobre as informações,<br />

sobre as razões por que não gostam e<br />

começam a ver o que se diz na<br />

literatura e o que se passa noutros<br />

países. Verificámos muitas vezes que<br />

os mais negativos dão uma reviravolta<br />

rápida e, ao fim de um ano mais ou<br />

menos, são os mais positivos.<br />

GH - Talvez por isso o Governo<br />

português tem, ainda que timidamente,<br />

investido áreas técnicas<br />

em que o "know-how" está consolidado,<br />

procurando afinar normas<br />

quanto a instalações, equipamentos<br />

com o rácio de pessoal (questões<br />

de natureza estrutural) ou,<br />

então, na área da humanização,<br />

desenvolvendo campanhas de sensibilização<br />

para a delicadeza ( estamos<br />

no "Ano da Delicadeza",<br />

disse o nosso ministro), formação<br />

em atendimento , conforto dos<br />

doentes, etc., sempre ao lado do<br />

processo clínico, da prestação de<br />

cuidados. Até que ponto estamos<br />

a tocar nas questões essenciais?<br />

Ou pensa que há abordagens mais<br />

importantes da qualidade em saúde?<br />

JW - Uma das áreas mais importantes<br />

para melhorar os cuidados de<br />

saúde tem a ver com as comunicações<br />

e com as relações interpessoais<br />

entre prestadores de cuidados e<br />

consumidores. O administrador é<br />

responsável pelas relações do hospital<br />

com a comunidade. O médico é<br />

responsável pelas comunicações e<br />

pelas relações com os seus próprios<br />

doentes mas, se falamos de clientes<br />

(que é o que se faz agora com base nos<br />

modelos industriais), temos clientes<br />

internos e clientes externos. Num<br />

hospital, o cliente interno pode ser<br />

um administrador, porque é a ele que<br />

se apresentam relatórios. Um cliente<br />

externo pode ser o próprio doente. As<br />

relações destas pessoas, dentro do<br />

pessoal, dentro do hospital, com os<br />

que estão fora - uma das melhores<br />

formas de se melhorar isto é aprender<br />

a comunicar melhor, aprender a<br />

prestar o tipo de cuidados carinhosos<br />

de saúde em vez da atitude brusca<br />

de dizer "eu sou o médico, eu é que<br />

sei". Bom, se um médicp pensa assim,<br />

geralmente não sabe. E por isso que<br />

eu acho que a área da comunicação<br />

é muito importante.<br />

Mas, para se poder depois<br />

determinar o que é que é<br />

mais importante a seguir, é<br />

necessário fazer uma avaliação<br />

e tirar as inferências com<br />

base no nosso próprio sistema.<br />

Eu sou de opinião de que,<br />

no nosso país, um dos piores<br />

problemas que temos é o dos<br />

erros no diagnóstico, até<br />

porque há imensos estudos<br />

sobre autópsias que mostram<br />

que não estamos a diagnosticar<br />

a situação certa. Portanto,<br />

o tratamento é frequentemente<br />

errado e o doente vive<br />

muito menos tempo e em<br />

condições mais duras do que<br />

se se começasse por fazer um<br />

diagnóstico correcto. Esta<br />

área da triagem diagnóstica<br />

é, a meu ver, uma daquelas<br />

em que se poderia conseguir<br />

fazer uma avaliação e obter<br />

melhorias.<br />

GH - Hoje aborda-se a qualidade<br />

muito mais na óptica dos "outcomes"<br />

(resultados) do que na óptica<br />

do processo. Olhando apenas para<br />

resultados finais ou impactes,<br />

como, por exemplo, "quality adjusted<br />

life years", não estaremos a<br />

misturar externalidades que em<br />

muito ultrapassam os sistemas de<br />

saúde e a sua capacidade de<br />

resolver problemas, ou devemos<br />

também perspectivar resultados<br />

intermédios, fiabilidade e pertinência<br />

do diagnóstico, as cirurgias,<br />

diminuição de infecções<br />

nosocomiais, etc.?<br />

JW - Eu, diria que sim, sem dúvida<br />

alguma. E muito importante pensar<br />

sobre onde devemos começar, o que<br />

devemos estudar. Acaba por verificar-se<br />

que têm de melhorar-se os<br />

procedimentos. Não se podem melhorar<br />

resultados sem se melhorarem os<br />

procedimentos, a estrutura. Se não<br />

tivermos os equipamentos certos não<br />

vamos melhorar a maneira de se<br />

tratar os cálculos renais. Portanto, é<br />

bom considerar-se os resultados intermédios,<br />

e nós fazemos isso. Talvez<br />

não seja o resultado final para a<br />

saúde do doente, mas se sabemos<br />

que há um rim gravemente infectado,<br />

esse é um resultado intermédio<br />

que tem de ser considerado. Depois,<br />

trabalhamos de forma dedutiva para<br />

Se poupamos dinheiro mas há mais pessoas a<br />

morrer, não podemos dizer que haja melhoria.<br />

encontrar os procedimentos e ver<br />

como o médico está a fazer o diagnóstico<br />

e estudamos todos os outros<br />

factores do processo que podem estar<br />

relacionados com o resultado e que<br />

podem ser inaceitáveis. Creio que<br />

não são precisos grandes prognósticos<br />

para se saber que, se os rins<br />

deixam de funcionar, temos um problema<br />

muito sério com esse doente.<br />

Portanto, neste caso, o resultado<br />

intermédio é crítico. Mas, de uma<br />

maneira geral, temos de nos manter<br />

atentos à qualidade de vida, tanto dos<br />

consumidores como dos prestadores<br />

de cuidados de saúde como sendo<br />

uma série de resultados que acabarão<br />

por ter de ser discutidos.<br />

GH - Por outro lado, cada vez<br />

mais a qualidade aparece associada<br />

à racional utilização de recursos,<br />

ou seja, à eficiência técnica e<br />

distributiva. Como conciliar esta<br />

perspectiva com a do prestador<br />

individual, geralmente avesso às<br />

questões de eficiência e mais<br />

virado para as questões da efectividade?<br />

JW - Agora estamos a transferir a<br />

nossa atenção dos resultados de<br />

saúde para os resultados económicos<br />

e estes implicam o uso de recursos<br />

económicos, implicam a análise de<br />

custos finais e de custos agregados.<br />

<strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> 19<br />

Entrevista<br />

Ao tentarmos melhorar os<br />

resultados económicos, um<br />

dos primeiros e mais úteis<br />

meios no nosso país consiste<br />

em procurar os procedimentos<br />

desnecessários, os testes desnecessários,<br />

os internamentos<br />

desnecessários ou um elevado<br />

nível técnico quando não era<br />

necessário. Isso significa desperdício<br />

de dinheiro e não<br />

melhora os resultados. Mas,<br />

a prazo, para a eficiência, que<br />

é o que estamos a tentar<br />

melhorar, não podemos dizer<br />

que baixar custos seja bom a<br />

não ser que descubramos que<br />

os resultados para a saúde se<br />

mantiveram iguais antes e<br />

depois de começarmos a aplicar<br />

o plano de melhoria económica.<br />

Se poupamos dinheiro<br />

mas há mais pessoas a<br />

morrer, não podemos dizer<br />

que haja melhoria.<br />

GH - Temos tido muita<br />

dificuldade em incluir os<br />

consumidores como parte activa<br />

nos sistemas de qualidade. Que<br />

mecanismos desenvolver para a<br />

sua efectiva participação?<br />

JW - Um dos tipos de resultados<br />

mais importantes tem a ver directamente<br />

com as expectativas do doente<br />

e com a consecussão dessas expectativas.<br />

Se as expectativas são irrealistas,<br />

o médico tem de trabalhar com o<br />

doente para o educar, de forma a que<br />

ele veja o que poderá ser uma<br />

expectativa realista. Infelizmente,<br />

muitas vezes o médico também não<br />

tem expectativas realistas, mas, se<br />

entrarmos nesta análise cíclica, descobrimos<br />

isto e podemos ensinar o<br />

médico que, por sua vez, pode ensinar<br />

o doente para que ele veja um<br />

prognóstico mais realista no seu<br />

caso específico. Mas é importante<br />

reconhecer que existem muitos caminhos<br />

para se poder melhorar eficazmente<br />

o comportamento do doente.<br />

Por exemplo, o estilo de vida; um<br />

médico tem grandes dificuldades em<br />

tentar ajudar a melhorar o estilo de<br />

vida dos seus doentes. Por exemplo,<br />

fumar. Costumávamos ter cartazes<br />

que diziam que 100 mil médicos<br />

tinham deixado de fum1:i.r e esperávamos<br />

que esta mensagem fosse compreendida<br />

pelos doentes; isto não foi<br />

conseguido e só ao fim de muito<br />

tempo e de se tomar várias outras


medidas é que se conseguiu reduzir o<br />

número de fumadores. Esta é uma<br />

área em que o médico tem de trabalhar<br />

com a comunidade. Reduzir o<br />

tabagismo requer o esforço de uma<br />

comunidade e não pode apenas dizer<br />

respeito a um doente. Se este ouvir<br />

mensagens educativas na televisão,<br />

nos jornais, nas revistas; se a igreja<br />

começar a falar da importância de se<br />

melhorar a saúde para que a vida seja<br />

melhor, quando o doente começar a<br />

ouvir toda a gente a dizer que a<br />

redução do tabaco é realmente qualquer<br />

coisa que pode melhorar a vida,<br />

então isto pode levar a uma surpreendente<br />

mudança de comportamentos<br />

benéfica para o estado de saúde das<br />

pessoas e da nação no seu todo.<br />

GH - Qual o relacionamento a ter<br />

com os médicos?<br />

JW - É preciso ver qual é a sua<br />

atitude perante a profissão no seu<br />

todo. Se se pensa que, na sua maior<br />

parte, os médicos são cabeças no ar e<br />

não poderão fazer bem aos doentes<br />

nem ter bons resultados a não ser que<br />

sejam forçados por regras, normas e<br />

exames de x em x anos, havendo esta<br />

tentativa de se melhorar a partir de<br />

cima, são necessárias regras impostas<br />

de cima para baixo. Precisam que o<br />

fiscal de cuidados de saúde venha à<br />

consulta dia sim, dia não para ver se<br />

se está a fazer o que se deve. Só que se<br />

se fizer isso, as coisas vão piorar.<br />

Mas, se, por outro lado, se partir do<br />

princípio de que os médicos são<br />

espertos, têm formação boa, são<br />

profissionais de saúde conscientes;<br />

No que respeita ao relacionamento<br />

com os médicos, "devemos ter apenas<br />

um mínimo de regras a impor<br />

de cima".<br />

se se considerar a maior parte deles<br />

assim, ter-se-á de dedicar esforços<br />

para os ajudar a trabalhar ainda<br />

melhor, levando-os a ver que poderão<br />

não estar a cuidar adequadamente<br />

dos doentes. Assim é mais possível ter<br />

melhorias. Não podemos eliminar as<br />

regras e as normas porque estas são<br />

muito importantes para os 2% ou 3%<br />

que talvez só pensem em ganhar<br />

dinheiro, que não se preocupam com<br />

os doentes e que talvez também se<br />

metam nas drogas. Haverá alguns<br />

que têm de ser mantidos debaixo de<br />

olho, mas não devem castigar-se os<br />

outros 97%, impondo-lhes regras<br />

Não podemos eliminar as regras e as<br />

normas porque estas são muito importantes<br />

para os 2°/o ou 3o/o que talvez só<br />

pensem em ganhar dinheiro, que não<br />

se preocupam com os doentes e que<br />

talvez também se metam nas drogas.<br />

Haverá alguns que têm de ser mantidos<br />

debaixo de olho, mas não devem<br />

castigar-se os outros 97%, impondo­<br />

-lhes regras duras de cima para tentar<br />

evitar o comportamento dos outros 2<br />

OU 3°/o.<br />

20 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />

duras de cima para tentar evitar 9<br />

comportamento dos outros 2 ou 3%. E<br />

por isso que acho que devemos ter<br />

apenas um mínimo de regras a impor<br />

de cima. Isto não significa termos de<br />

irritar e metermo-nos com a maioria<br />

dos médicos por causa de uma minoria<br />

a quem chamamos maçãs podres<br />

ou cabeças tontas.<br />

GH- O que é que está a acontecer<br />

então com a Joint Commission of<br />

Health Care Organizations?<br />

JW - A J oint Commission é um<br />

exemplo clássico das regras impostas<br />

de cima em que se mandam os fiscais<br />

aos diversos hospitais (eles designam­<br />

-se a si próprios por analistas). Depois<br />

de vermos as variáveis estruturais<br />

que eles examinaram e que eles<br />

trabalharam muito bem, que realmente<br />

temos as portas com largura<br />

suficiente, os extintores de incêndios<br />

no sítio certo, os edifícios estão bem<br />

arejados, é óptimo. Trabalharam<br />

bem, mas eles estão a concentrar-se<br />

nos comportamentos individuais, no<br />

desempenho individual e é aqui que,<br />

em minha opinião, eles saem dos<br />

trilhos. Temos tantos exemplos! Um<br />

foi mesmo publicado no Wall Street<br />

Journal. A Joint Commission foi<br />

fazer uma inspecção a um hospital<br />

e, quando voltou para o escritório,<br />

disse que o hospital tinha sido<br />

aprovado e era muito bom. Na<br />

realidade, esse hospital era dos piores<br />

da cidade quando os inspectores<br />

lá não estavam e os cidadãos da<br />

comunidade protestaram e conseguiram<br />

que ele fosse fechado. Verificaram<br />

haver casos em que se pegava<br />

numa toalha e se limpava a mesa de<br />

operações antes de se fazer entrar o<br />

doente seguinte. Horrível. Mas, depois<br />

de terem conseguido fechar o<br />

hospital, receberam uma carta que<br />

dizia: "Parabéns, é com prazer que<br />

informamos que passaram o nosso<br />

exame e o vqsso hospital é de boa<br />

qualidade". E um disparate, mas<br />

acontece. Se se reconhece que menos<br />

de meio por cento dos hospitais que<br />

examinam é que são reprovados,<br />

verifica-se que (e aqui estou a ser<br />

·cínico) que a Joint Commission<br />

ganha o seu dinheiro em formação.<br />

Isso, na minha opinião, representa<br />

um conflito de interesses. Eles produzem<br />

os seus próprios clientes e<br />

ganham dinheiro artificialmente pretendendo<br />

estar a proteger a qualidade.<br />

1<br />

- ~<br />

\<br />

--<br />

1 n v~st1gaçae»<br />

As questões que se põem<br />

aos sistemas de Saúde ·<br />

Mais ou menos, todos os países têm dificuldades em encontrar as<br />

melhores soluções para no plano da oferta dar satisfação à procura, o<br />

que determina situações bastante generalizadas de ajustamento<br />

qualitativo e quantitativo entre uma e outra.<br />

o contexto do desenvolvimento<br />

dos sistemas de saúde<br />

da maior parte dos paí ·<br />

ses , é hoje possível<br />

identificar claramente um conjunto<br />

significativo de problemas semelhantes.<br />

No entanto, as tentativas<br />

de resposta passam com alguma<br />

frquência ao lado das grandes questões<br />

que, assim, continuam a pôr-se<br />

aos sistemas de saúde:<br />

..-Qual a parte da riqueza produzida<br />

por cada nação que pode ser<br />

dedicada às prestações sociais em<br />

geral e às de saúde em particular?<br />

..- Como distribuir os encargos<br />

com as prestações de saúde entre<br />

os diferentes protagonistas do<br />

processo social?<br />

..- Como organizar (diferentemente?)<br />

as prestações de saúde de<br />

modo a garantir a melhoria da<br />

saúde das populações e, designadamente,<br />

a equidade no acesso e a<br />

sua eficiência sobretudo económica<br />

mas também técnica?<br />

..- Quais os resultados exigíveis<br />

das despesas e particularmente dos<br />

investimentos em saúde?<br />

..- Como fazer participar correcta e<br />

activamente os consumidores nas<br />

grandes decisões sobre a organização<br />

e o funcionamento dos serviços,<br />

conferindo-lhes autênticos direi<br />

tos e a possibilidade de<br />

intervirem no relacionamento pagadores/prestadores?<br />

Verificam-se problemas semelhantes<br />

nos sistemas de saúde da maior<br />

parte dos países, quer do lado de<br />

uma procura que continua a crescer<br />

num mundo em que a informação<br />

ignora as fronteiras facilitando a<br />

formação de ambições comuns ainda<br />

que temperadas por especificidades<br />

de índole cultural e social, quer do<br />

lado da oferta, apesar de no plano<br />

conceptual e estrutural, esta apresentar<br />

assinaláveis diferenças entre<br />

I • I<br />

os varias paises.<br />

Não é, pois, difícil aceitar que, mais<br />

ou menos todos os países tenham<br />

dificuldades em encontrar as melhores<br />

soluções para no plano da oferta<br />

dar satisfacção à procura, o que<br />

determina situações bastante generalizadas<br />

de desajustamento qualitativo<br />

e quantitativo entre uma e<br />

outra.<br />

Esta situação gerou um movimento<br />

tão vasto quanto heterógéneo que,<br />

apoiado senão mesmo dinamizado<br />

por um importante número de organizações<br />

internacionais, umas com<br />

interesses específicos ou restritos à<br />

área da saúde, outras com objectivos<br />

mais alargados e voltados para<br />

outras áreas (OCDE, Banco Mundial,<br />

OMS, Unico Europeia, Conselho<br />

da Europa, etc), ganhou o<br />

estatuto, totalmente justificado<br />

mas não por uma questão de moda,<br />

de tópico obrigatório . de todas as<br />

políticas de saúde.<br />

Abrigando-se a maior parte das<br />

Vasco Pinto dos Reis**<br />

vezes sob a mesma designação ("A<br />

Reforma do Sistema de Saúde"),<br />

importa no entanto dar-lhe contornos<br />

mais precisos, para não generalizar<br />

equívocos que hoje são dominantes.<br />

De facto, é possível encontrar múltiplas<br />

situações:<br />

• Países em q·ue as mudanças na<br />

saúde são arrastadas por alterações<br />

mais profundas do tecido<br />

económico, designadamente pela<br />

introdução directa de conceitos<br />

típicos de outros mercados que,<br />

com maior ou menor ligeireza, são<br />

adaptados à área social (caso<br />

típico das situações de "transição"<br />

de alguns países da Europa<br />

Central e de Leste);<br />

• Países em que a "reforma" se<br />

traduz em situações de simples<br />

ajustamento organizado mas de<br />

Apesar das espectaculares melhorias<br />

obtidas nos últimos anos, e11ormes<br />

problemas com a saúde permanecem<br />

por resolver.<br />

<strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> 21


tipo meramente incrementalista (a<br />

França, por exemplo);<br />

• Situações em que as reformas<br />

tiveram natureza específica, circunscrevendo-se<br />

à saúde mas com<br />

alguma profundidade (a Holanda,<br />

por exemplo);<br />

• Países em que as reformas foram<br />

afinal um somatório de medidas<br />

mais ou menos avulsas e sem<br />

coerência intrínseca;<br />

• E situações que, enquadrando-se<br />

em qualquer das tipologias atrás<br />

listadas, foram abortadas por movimentos<br />

de sentido contrário, não<br />

se chegando a concretizar (os<br />

Estados Unidos, por exemplo) ou<br />

tendo apenas concretização parcial.<br />

A origem deste movimento decorre<br />

de uma multiplicidade de factores<br />

em que avulta, por um lado, o<br />

reconhecimento generalizado de<br />

que n,ielhor saúde e/ou melhores<br />

serviços de saúde podem aumentar<br />

a equidade e melhorar a qualidade<br />

de vida dos seus cidadãos e, por<br />

outro lado, a também generalizada<br />

convicção de que, apesar das espectaculares<br />

melhorias obtidas nos<br />

últimos anos, enormes problemas<br />

com a saúde permanecem por resolver.<br />

De qualquer forma é possível identificar<br />

nestas situações, de transição,<br />

de simples mudança, de verdadeira<br />

reforma ou, mais simplesmente, de<br />

anunciada intenção de realizar qualquer<br />

um destes graus de viragem,<br />

alguns aspectos peculiares.<br />

Mas:<br />

• Se a importância da dimensão<br />

saúde como factor positivo na<br />

evolução registada não é posta em<br />

causa;<br />

• Se é quase pacífico, provavelmente<br />

até demasiado consensual<br />

face às profundas diferenças estruturais<br />

e funcionais existentes, a<br />

identificação dos chamados pontos<br />

críticos, num processo de análise<br />

que, por norma, valoriza mais<br />

semelhanças discutíveis do que<br />

diferenças tão naturais quanto<br />

enriquecedoras do ponto de vista<br />

do conhecimento crítico dos sistemas.<br />

O mesmo já não ocorre, nem com os<br />

As alternativas adiantadas nem semp(e<br />

são adequadas aos objectivos anunciados<br />

quando perspectivadas isoladamente,<br />

nem coerentes entre si quando<br />

encaradas em conjunto.<br />

seus objectivos anunciados nem com<br />

as medidas com que se pretende<br />

consubstanciar esses objectivos e<br />

ainda menos com a sua aplicação<br />

em cada caso concreto.<br />

Análise da situação<br />

Inquestionavelmente, as alternativas<br />

adiantadas nem sempre são<br />

adequadas aos objectivos anunciados<br />

quando perspectivadas isoladamente,<br />

nem coerentes entre si quando<br />

encaradas em conjunto.<br />

Saltman (Saltman, 1994), avaliando<br />

retrospectivamente o movimento de<br />

reforma dos sistemas de saúde que<br />

desde o final da década de 80<br />

atravessa o mundo, identifica como<br />

principais objectivos, explicitamente<br />

assumidos, ainda que nem<br />

sempre concomitantemente:<br />

• A procura de maior adequação e<br />

equidade no acesso aos cuidados;<br />

•A manutenção do nível de rendimento<br />

dos consumidores;<br />

• A obtenção de maior eficiência<br />

do ponto de vista macroeconómico;<br />

• A obtenção de maiores níveis de<br />

eficiência no plano microeconómico;<br />

• A atribuição ao consumidor de<br />

uma maior liberdade de escolha;<br />

• A atribuição aos prestadores de<br />

níveis de autonomia adequados (a<br />

sua responsabilização).<br />

Objectivos cuja concretização teria<br />

sido sempre graduada (ou, se se<br />

preferir, alterada ou mesmo prejudicada)<br />

em função de duas condicionantes<br />

maiores que poderemos qualificar<br />

como tendo natureza política:<br />

• O contexto "histórico, filosófico e<br />

cultural" de cada país e do seu<br />

sistema de saúde, com especial<br />

evidência para as diferenças existentes<br />

a nível do ponto de viragem<br />

em múltiplos aspectos e, designadamente,<br />

do "mix" público privado<br />

existente, dos níveis de satisfação<br />

dos consumidores e dos profissionais<br />

e até dos detentores do poder<br />

político;<br />

•A existência de "ciclos políticos"<br />

(eleições, promessas, demonstração<br />

de progressos) que determinam a<br />

definição de estratégias de çurto<br />

prazo.<br />

Uma análise atenta das reformas<br />

realizadas permite igualmente identificar<br />

três pontos ou as três dimensões<br />

de intervenção mais frequentes,<br />

quase sempre no contexto do recurso<br />

QUADRO 1<br />

PONTOS DE INTERVENÇÃO MAIS FREQUENTES<br />

I<br />

DAS REFORMAS DE SAUDE<br />

DIMENSÃO FINANCEIRA DIMENSÃO PRODUTIVA DIMENSÃO DISTRIBUTIVA<br />

RECEITAS FISCAIS SERVIÇOS PRESTADORES INTEGRAÇÃO DAS DUAS<br />

DIMENSÕES NAS MESMAS<br />

ENTIDADES<br />

PREMIOS SEGURO SOCIAL - HOSPITAIS SITUAÇOES DE CONTRATO<br />

COM SEPARAÇÃO<br />

DAS DUAS DIMENSÕES<br />

PREMIOS SEGURO PRIVADO - MEDICOS REEMBOLSO (q uase sempre<br />

por serviço recebido)<br />

PAGAMENTO PELO PROPRIO - OUTROS SERVIÇOS<br />

SERVIÇOS DE SAUDE<br />

PÚBLICA<br />

Adaptado de SALTMAN, R.;A Conceptual Overview of Recent Health Gare Reforms.In "European Jornal<br />

of Public Health, vol 4, 1994, nº- 4, pág 288<br />

22 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />

muito generalizado a modelos de<br />

regulação, normativos ou recorrendo<br />

a mecanismos de mercado (incentivos<br />

sobretudo) e listar, ainda<br />

que de modo não exaustivo, os tipos<br />

de intervenção ou as medidas mais<br />

utilizadas.<br />

Os quadros I e II procuram mostrar<br />

as medidas ou os instrumentos mais<br />

utilizados.<br />

Ainda segundo Saltman (Saltman,<br />

1994), a ponderação dos objectivos<br />

definidos para as reformas com<br />

aquelas duas condicionantes maiores<br />

que atrás se identificaram determinariam<br />

os instrumentos ou medidas<br />

escolhidos e o seu campo de<br />

intervenção.<br />

Isto é, para atingir os objectivos que<br />

atribuíram às suas "reformas", os<br />

Governos escolhem as medidas que<br />

as consubstanciam e optam pelas<br />

dimensões do mercado em que irão<br />

1 nvestigaçao<br />

Para atingir os objectivos que atribuíram<br />

às suas "reformas", os Governos<br />

escolhem as medidas que as consubstanciam<br />

e optam pelas dimensões do<br />

mercado em que 1rao intervir, em<br />

função do contexto histórico, filosófico<br />

e cultural do país e dos seus<br />

objectivos a curto prazo.<br />

intervir, em função do contexto<br />

histórico, filosófico e cultural do<br />

país e dos seus objectivos a curto<br />

prazo.<br />

Os autores que se têm dedicado ao<br />

tema - entre outros Johnson 1994,<br />

Evans 1994, Ovretveit 1994 - identificam<br />

generalizadamente, para além<br />

QUADRO li<br />

PRINCIPAIS MEDIDAS OU INSTRUMENTOB UTILIZADOS _<br />

NAS REFORMAS EM CADA UM DOS PONTOS DE INTERVENÇAO<br />

DIMENSÃO FINANCEIRA DIMENSÃO PRODUTIVA DIMENSÃO DISTRIBUTIVA<br />

ESTABELECIMENTO GESTAO QUASE CONTRATOS<br />

DE MECANISMOS . AUTÓNOMA DOS NEGOCIADOS<br />

DE COMPETIÇÃO ENTRE HOSPITAIS PÚBLICOS<br />

OS SEGURADORES<br />

PRIVADOS<br />

PROMOÇAO<br />

DOS SEGUROS<br />

PRIVADOS<br />

PROMOÇAO DO .<br />

SEGURO SOCIAL<br />

ESTABELECIM ENTO DE<br />

MECANISMOS COMPETITIVOS<br />

ENTRE HOSPITAIS E MÉDICOS<br />

DESCENTRALIZAÇAO DA<br />

PRESTAÇÃO DE CUIDADOS<br />

-------l---:-:-UT=:-:IL-=1z~AÇ-=-'= AC:::O--::D::--:::: O~S -==c<br />

L~I<br />

GERAIS COMO PORTEIROS<br />

DO SISTEMA<br />

PRIVATIZAÇAO DOS<br />

SERVIÇOS PRESTADORES<br />

MELHORIA DA COORDENAÇAO<br />

INTERSERVIÇOS SOBRETUDO<br />

PARA OS IDOSOS<br />

PROMOÇAO DA QUALIDADE<br />

DAS PRESTAÇÕES<br />

PROMOÇAO DO DIREITO<br />

DE ESCOLHA<br />

DOS DOENTES<br />

ESTABELECIMENTO DE<br />

ORÇAMENTOS PARA OS<br />

CLÍNICOS GERAIS<br />

E/OU CERTOS NÍVEIS<br />

DE ADMINI STRAÇÃO<br />

N-;-;-:IC::-;:;0:-;:-S ---i-;:- E ;:::;; ST~ABELEC IM ENTO DE<br />

PREÇOS DE REFERÊNCIA<br />

PARA OS MEDICAMENTOS<br />

DEFINIÇAO DE<br />

FORMULÁRIOS PARA<br />

OS MEDICAMENTOS<br />

RECURSO A MODELOS<br />

DE CO-PAGAMENTO<br />

E A FRANQUIAS<br />

INICIATIVAS MULTIPERSPECTIVADAS<br />

MELHORIA DOS SISTEMAS DE INFORMAÇAO<br />

MELHORIA DOS SERVIÇOS DE PROFILAXIA (OU PREVENÇÃO)<br />

PROMOÇÃO DOS DIREITOS DOS DOENTES<br />

Adaptado de SALTMAN, R.;A Conceptual Overview of Recent Health Gare Reforms.In "European Journal of<br />

Public Health, vol 4, 1994, nº· 4, pág 289<br />

<strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> 23<br />

dos instrumentos de outro tipo<br />

referidos, uma tendência muito vasta<br />

para o recurso a modelos derivados<br />

do mercado com introdução de<br />

incentivos , o que não é totalmente<br />

pacífico, suscitando no contexto de<br />

especificidades que distinguem o<br />

mercado da saúde fundadas dúvidas,<br />

pelo menos sobre a sua utilização<br />

imponderada - Campos 1993,<br />

Rodwin 1993, Grupo de Lisboa 1994<br />

e Glennerster 1994.<br />

Tem-se também considerado generalizadamente<br />

que, tendo embora as<br />

mesmas finalidades, cada modelo de<br />

intervenção seria o produto de uma<br />

actuação filosoficamente condicionada<br />

e de determinados objectivos<br />

de curto prazo em matéria de política<br />

de saúde:<br />

1 uma actuação sobre dimensão<br />

financeira tal qual se identificou<br />

no quadro I traduziria a procura de<br />

competição no quadro de um sistema<br />

predominantemente privado ou<br />

de seguro privado e em que esta<br />

não só poderia estimular a redução<br />

de preços como uma melhoria da<br />

qualidade e a produção de cuidados<br />

mais efectivos e de modo mais<br />

eficiente.<br />

Seria uma actuação que obedeceria<br />

a uma lógica económica de tipo<br />

neoclássico que, perspectivando a<br />

saúde mais como um bem comercializável<br />

do que como um bem<br />

público e colectivo, é pelo menos<br />

criticável enquanto se não provarem<br />

as vantagens da multiplicidade<br />

de seguradores, garantindo<br />

que a concor-rência entre seguradores<br />

não estimula preferencialmente<br />

o crescimento de situações<br />

de exercício de selecção ad.versa;


lnvestigaçao<br />

• uma actuação sobre a dimensão<br />

produtiva, e designadamente sobre<br />

os prestadores de cuidados de<br />

saúde, tem também e habitualmente<br />

por intenção obter mais<br />

eficiência, maior ef ectividade e<br />

maior responsabilidade perante os<br />

consumidores, através de uma regulação<br />

normativa orientada por<br />

conceitos de missão ou recorrendo<br />

a mecanismos de mercado, normal -<br />

mente incentivos, o que coloca as<br />

críticas com frequência numa sede<br />

ideológica perante a possibilidade<br />

de indução de comportamentos<br />

perversos à aludida especificidade<br />

do mercado ou de quebras da<br />

qualidade das prestações;<br />

• intervenções sobre a dimensão<br />

distributiva do sistema também<br />

procuram atingir habitualmente<br />

as mesmas finalidades (definir estí -<br />

mulos para que prestadores actuem<br />

de modo mais efectivo e eficiente)<br />

mas desta vez enfatizando outros<br />

instrumentos e, designadamente,<br />

promovendo a posição e a actuação<br />

no mercado dos próprios consumidores<br />

e procurando combinar,<br />

através dessa sua intervenção,<br />

mecamsmos<br />

de mercado com a manutenção de<br />

princípios de solidariedade financeira<br />

que podem contribuir para<br />

evitar riscos de pura competição<br />

(selecção adversa, falta de qualidade,<br />

etc).Em sentido oposto, aponta-se<br />

que a eficiência pode ser<br />

privilegiada em relação às reais<br />

necessidades das populações e às .<br />

actividades de tipo preventivo.<br />

Saltman, como se referiu, aponta a<br />

implantação de mecanismos derivados<br />

do mercado e particularmente os<br />

atinentes à competição, como as<br />

medidas mais utilizadas. Só que a<br />

expressão competição tem características<br />

potencialmente conflituantes<br />

com muitos dos outros e por<br />

vezes mais importantes objectivos<br />

perseguidos.<br />

No entanto, parece evidente que<br />

medidas desse .tipo têm tido mais<br />

capacidade de promover a eficiência,<br />

a efectividade e a contenção de<br />

custos quando utilizadas na dimensão<br />

ou como mecanismo distributivo<br />

Saltman aponta a implantação de<br />

mecanismos derivados do mercado e<br />

particularmente os atinentes à competição,<br />

como as medidas mais utilizadas.<br />

Só que a expressão competição<br />

tem características potencialmente<br />

conflituantes com muitos dos outros e<br />

por vezes mais importantes objectivos<br />

perseguidos.<br />

e, portanto, do lado da produção, do<br />

que quando introduzidas na dimensão<br />

de financiamento do sistema.<br />

De facto, na dimensão estritamente<br />

financeira do sistema, o Estado teria<br />

apenas e em algumas circunstân-<br />

. '<br />

cias, quase sempre com recurso a<br />

via normativa, maior capacidade de<br />

repartir riscos e impor soluções de<br />

contenção económica do que qualquer<br />

privado.<br />

Numa perspectiva de análise diferente<br />

e a propósito de uma interessantíssima<br />

comparação entre as<br />

enormes dissemelhanças (melhor<br />

seria dizer contradições) entre as<br />

metas da "Saúde para Todos" e as<br />

medidas de reforma tomadas pelos<br />

países que as aprovaram, Dekker<br />

(Dekker, 1994) admite uma maior<br />

diversidade de objectivos para as<br />

reformas empreendidas, reconhecendo<br />

no entanto existirem alguns<br />

factores de mudança que seriam,<br />

senão comuns, pelo menos mais<br />

frequentes:<br />

• a necessidade de conter custos;<br />

• uma insatisfação generalizada<br />

com o excesso de regulação e a<br />

burocracia daí decorrente;<br />

• uma generalizada insatisfação<br />

com a qualidade das prestações.<br />

Contudo, o que distinguiria essencialmente<br />

as reformas seriam os<br />

valores subjacentes às intenções de<br />

reforma que dariam azo a quatro<br />

diferentes tipos de abordagem:<br />

• uma de tipo humanístico, que<br />

seria caracterizada por um certo<br />

cepticismo em relação aos cuidados<br />

de saúde existentes e sobretudo<br />

ao tecnocrático e reducionista<br />

QUADRO Ili<br />

TIPOS DE REFORMAS DOS SISTEMAS DE SAÚDE *<br />

PERSP. EM TERMOS<br />

DE OFERTA<br />

ASPECTOS SUBJECTIVOS<br />

b)<br />

c)<br />

a)<br />

d)<br />

ASPECTOS OBJECTIVOS'<br />

a) Abordagem humanística;<br />

b) Abordagem organizacional;<br />

c) Abordagem administrativa/financeira;<br />

d) Abordagem de Saúde Pública.<br />

PERSP. EM TERMOS<br />

DE PROCURA<br />

*Adaptado de DEKKER, E.;Health Gare Reforms and Public Health.In "European Journal of Public Health",<br />

uol. 4, 1994, nu. 4, pág. 281<br />

1<br />

J<br />

enfoque na moderna medicina especializada;<br />

• uma de natureza organizacional,<br />

voltada para para a melhoria do<br />

modelo de prestação dos cuidados<br />

de saúde (por exemplo, um reforço<br />

dos cuidados de saúde primários,<br />

maior integração dos prestadores e<br />

das prestações);<br />

• uma de índole administrativa/<br />

/financeira, filiada na subida das<br />

despesas com a saúde e dos custos<br />

das respectivas prestações e que,<br />

criticando a sobrerregulação dos<br />

sistemas, a sua estrutura burocratizada<br />

e o sentido de inadequação<br />

que os consumidores teriam, procuraria<br />

orientar os sistemas para<br />

uma menor regulação, maior pluralismo<br />

e descentralização, tentando<br />

combinar a contenção dos<br />

custos com a protecção, a nível<br />

macroeconómico, dos rendimentos;<br />

•finalmente, uma quarta, centrada<br />

nos princípios da saúde pública,<br />

que defenderia uma transferência<br />

das atenções, dos cuidados curativos<br />

e especilizados baseados na<br />

actividade hospitalar para as<br />

áreas de cuidados comunitários,<br />

afastando-se de modelos clínicos<br />

limitados para modelos mais vastos<br />

e determinantes da doença.<br />

Identificando como subjectiva a<br />

abordagem de tipo humanístico e<br />

como mais objectivas as restantes e<br />

reconhecendo que a<br />

primeira e a última<br />

se voltam mais para a<br />

procura enquanto as<br />

duas restantes privilegiam<br />

a oferta, pode<br />

traçar-se um esquema<br />

do tipo do que é<br />

apresentado no quadro<br />

III.<br />

Nesta perspectiva, as<br />

reformas estariam a<br />

privilegiar o lado da<br />

oferta e os seus aspectos<br />

mais objectivos<br />

centrando-se em<br />

abordagens de tipo<br />

incremental desenhadas<br />

numa óptica de<br />

longo prazo que, consoante<br />

se referiu, raramente<br />

pode ser<br />

Na dimensão estritamente financeira<br />

do sistema, o Estado teria apenas e em<br />

algumas circunstâncias, quase sempre<br />

com recurso à via normativa, maior<br />

capacidade de repartir riscos e impor<br />

soluções de contenção económica do<br />

que qualquer privado.<br />

mantida.<br />

A abordagem do tipo "Saúde Pública"<br />

e a "Humanística", afinal as que<br />

conterão em si mesmas um maior<br />

conteúdo de questões de saúde<br />

propriamente ditas, teriam pois sido<br />

postergadas em favor daquelas, mais<br />

tecnologicamente dependentes e,<br />

aparentemente pelo menos, mais<br />

factíveis.<br />

Uma terceira abordagem, que se<br />

poderá considerar mais crítica do<br />

desenvolvimento do processo de<br />

reforma (ou de mudança) dos sistemas<br />

de saúde (sobretudo em países<br />

com maiores carências neste domínio),<br />

porque centrada numa Óptica<br />

mais intrinsecamente de saúde, foi<br />

apresentada pelo Banco Mundial,<br />

no seu Relatório para o Desenvolvimento<br />

Mundial de 1993 "Investindo<br />

em Saúde" (World Bank, 1993).<br />

A fim de permitir avaliar os anos de<br />

vida saudável perdidos por mortalidade<br />

precoce ou por morbilidade<br />

incapacitante, traçando assim o<br />

que se poderia chamar "quadro da<br />

doença evitável", o Banco Mundial<br />

preparou uma unidade "DAL Y s"<br />

(Disability-Adjusted Life Years),<br />

que lhe permitiu calcular o impacte<br />

nos DALY s de diferentes níveis de<br />

despesa em saúde, quer a nível de<br />

"saúde pública", quer a nível de<br />

"serviços clínicos essenciais".<br />

O quadro IV mostra a distribuição<br />

das percas em anos de vida ajustados.<br />

O quadro V mostra o resultado<br />

da aplicação daquele exercício.<br />

Questões que se põem<br />

aos sistemas de saúde<br />

- o sistema de saúde português<br />

Apresentada esta sumária "análise<br />

da situação", quatro pontos há pelo<br />

menos que devem merecer destaque<br />

QUADRO IV<br />

DISTRIBUIÇÃQ DAS PERCAS EM ANOS DE VIDA AJUSTADOS<br />

EM FUNÇAO DA INCAPACIDADE (DALYs) EM 1990 (%)<br />

AUSAS MUNDO ÁFRICA ÍNDIA CHINA *OUTROS AMÉRICA MÉDIO PAÍSES PAÍSES<br />

SUB-SAARA . LATINA ORIENTE ANTES ECON.<br />

~RIBE SOCIAL. MERCADO<br />

- - ------ -- - ----------- --- - --- - ---------<br />

POPULAÇÃO 1<br />

797<br />

DOENÇAS<br />

TRANSMIT.<br />

9.7<br />

DOENÇAS<br />

N. TRANSMIT.<br />

MILHÕES<br />

DE AVAD<br />

EQUIV.<br />

INFANTIL**<br />

AVAD<br />

1 000/H 259 575<br />

* Outros Países Asiáticos e Insulares<br />

344 178<br />

* * Equivalentes em incapacidades (disfunções) infantis.<br />

260 233<br />

FONTE - WORLD BANK; World Deuelopment Report,Inuesting in Health 1993, pág 11<br />

94<br />

2.9<br />

286 168 117<br />

24 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />

<strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> 25


QUADRO V<br />

CUSTOS ESTIMADOS E BENEFÍCIOS PARA A SAÚDE<br />

, I I<br />

DE UM CONJUNTO MINIMO DE MEDIDAS DE SAUDE PUBLICA<br />

E SERVIÇOS CLÍNICOS ESSENCIAiq EM PAÍSES<br />

COM RENDIMENTOS BAIXOS E MEDIOS (1990)<br />

GRUPOS<br />

CUSTO<br />

DÓLAR/<br />

CAP/ANO<br />

CUSTO COM<br />

% DO REND.<br />

PER CAP.<br />

REDUÇÃO<br />

DA MORB.<br />

%<br />

PAISES C/RENDIMENTO BAIXO = > 350 Dólares er ca .<br />

MEDIDAS DE SAÚDE PÚBLICA 4,2 1,2 8<br />

SERVIÇOS CLÍNICOS ESSENCIAIS 7,8 2,2 24<br />

TOTAL 12 3,4 32<br />

l ~(ilt•Jlil~~l·Jl~l~~il•l~l~·J~·- -II•l•l-t•r:lEllll·lgl!I~<br />

MEDIDAS DE SAÚDE PÚBLICA 6,8 0,3 4<br />

SERVIÇOS CLÍNICOS ESSENCIAIS 14 7- 0,6 11<br />

I<br />

TOTAL 21,5 0,9 15<br />

FONTE. WORLD BANK; World Development Report, Investing in Health1993, pág 11<br />

e reflexão, designadamente em países<br />

que, por diferentes razões, têm<br />

vivido processos de mudança mais<br />

tardios, mais lentos ou menos rectilíneos<br />

em termos da sua evolução,<br />

designadamente por força de uma<br />

influência mais acentuada dos referidos<br />

"ciclos políticos":<br />

• Desde logo parece evidente que<br />

nunca tanto como hoje se viveu<br />

nos sistemas de saúde um período<br />

de crise tão vasto, tão profundo e<br />

tão duradouro;<br />

• As mudanças ou a "reforma"<br />

surge assim com um carácter de<br />

inelutabilidade e de premência que<br />

consideramos pelo menos inédito;<br />

• Mas também nunca os governos<br />

dispuseram de um leque tão alargado<br />

de experiências em curso e de<br />

soluções, muitas vezes já aprofundadas<br />

e corrigidas, algumas vezes<br />

já avaliadas.<br />

• No entanto há que ter a consciência,<br />

de que se estas abordagens<br />

não são mutuamente exclusivas;<br />

constituindo um tentador<br />

"cardápio" que faculta uma escolha<br />

ampla, o sucesso dos processos<br />

de reestruturação organizacional e<br />

operacional dos sistemas de saúde<br />

passa crescentemente pela correcta<br />

escolha das adaptáveis, pela sua<br />

adequada combinação, de modo a<br />

privilegiar a sua coerência intrínseca,<br />

e pelo aperfeiçoamento do<br />

sentido de oportunidade que pode<br />

fazer triunfar hoje a medida de<br />

política que amanhã já não seria<br />

aceite ou, o que é mais frequente,<br />

fazer falhar hoje medidas indubitavelmente<br />

correctas e necessárias,<br />

eficazes se lançadas com<br />

preparação no tempo próprio.<br />

O sistema de saúde português tem<br />

sido objecto, nas últimas décadas,<br />

de sucessivas mudanças (com frequência<br />

baptizadas como "reformas")<br />

que, no entanto, nem sempre<br />

terão sido esgotantemente aplica-<br />

Pese embora a dificuldade sempre<br />

existente em datar-. com exactidão<br />

mudanças que se não registaram num<br />

momento único, esse exercício sobre a<br />

história recente da saúde em Portugal<br />

é indispensável, para evitar algumas<br />

dúvidas e esclarecer situações doutro<br />

modo pouco decifráveis.<br />

Mas é sobre o período que actualmente<br />

vivemos e o movimento de mudança ou<br />

de reforma formalmente iniciado em<br />

1989 que se julga mais pertinente ou<br />

actualizada a presente reflexão.<br />

das, não sendo sequer fácil identificar<br />

e apontar de modo indiscutível<br />

os momentos de viragem do sistema<br />

de saúde português.<br />

Com efeito, mesmo no período da<br />

revolução, a realização efectiva das<br />

mudanças não corresponde temporalmente<br />

ao seu anúncio, sendo<br />

frequente que:<br />

•Já anteriormente, medidas anunciadas<br />

como novas, estivessem em<br />

execução em processos evolutivos<br />

não assumidos publicamente e que<br />

só muito mais tarde são anunciados<br />

de modo formal;<br />

• Decisões assumidas, ou até publicitadas<br />

num dado momento<br />

histórico, só muito tempo mais<br />

tarde vieram a ser concretizadas.<br />

Situação que, não sendo original do<br />

processo português, ajudou a conferir-lhe,<br />

pela manutenção nos novos<br />

modelos de posições residuais e pelo<br />

atrazo na concretização de medidas<br />

de extremo significado em termos de<br />

"viragem" do sistema, características<br />

de complexidade e atipicidade<br />

verdadeiramente singulares.<br />

Pese embora a dificuldade sempre<br />

existente em datar com exactidão<br />

mudanças que se não registaram<br />

num momento único, esse exercício<br />

sobre a história recente da saúde em<br />

Portugal é indispensável, para evitar<br />

algumas dúvidas e esclarecer<br />

situações doutro modo pouco decifráveis.<br />

Mas, naturalmente, é sobre o período<br />

que actualmente vivemos e sobre<br />

o movimento de mudança ou de<br />

reforma formalmente iniciado em<br />

1989 que se julga mais pertinente<br />

ou actualizada a presente reflexão.<br />

Com efeito, durante a década de 80,<br />

foram apontados ao sistema de<br />

saúde português alguns pontos fracos:<br />

• Manteve-se (já anteriormente<br />

existia ainda de modo bastante<br />

mais acentuado) uma evidente<br />

assimetria na distribuição dos recursos;<br />

• A existência de múltiplos "subsistemas<br />

de saúde", alguns fortemente<br />

expressivos, e a não exigência<br />

daquilo a que se poderia<br />

chamar "opting out", facilitou sistuações<br />

de dupla cobertura e a<br />

existência e efecti vação de uma<br />

"procura" muito selectiva;<br />

• Manteve-se (e até terá crescido) a<br />

insatisfação dos consumidores e<br />

dos profissionais quanto à prontidão,<br />

qualidade e adequação da<br />

"oferta" de prestações de saúde;<br />

• Aumentou a reputação das prestações<br />

privadas naqueles aspectos<br />

e cresceu a apetência pela sua<br />

utilização;<br />

• Manteve-se ou até aumentou a<br />

dificuldade em clarificar a distinção<br />

entre os diferentes intervenientes<br />

no sistema de cuidados de saúde<br />

(públicos e privados) e, dentro do<br />

sector público, de distinguir o<br />

"papel" em cada momento desempenhado<br />

pelo Ministério da Saúde;<br />

• A adequada articulação entre as<br />

unidades do SNS não progrediu;<br />

• A centralização das decisões<br />

financeiras e de gestão em geral<br />

manteve-se, tendo até crescido no<br />

fim da década;<br />

• A nível de ambulatório programado<br />

(e também por força do<br />

modelo remuneratório de salarização<br />

pura adoptado) a efectiva<br />

capacidade de resposta do sector<br />

público manteve-se insuficiente,<br />

fazendo aumentar a procura do<br />

atendimento nas urgências hospitalares<br />

que perderam, ainda mais a<br />

sua natureza de serviços de emer-<br />

~ .<br />

gencia; ·<br />

• Houve um aumento significativo<br />

das despesas totais de saúde, de-<br />

Investigação<br />

Na década de 90, a cobertura em saúde<br />

da população portuguesa não é diferente<br />

da que existia na década de 80.<br />

Mantiveram-se os subsistemas, cresceram<br />

os seguros privados de saúde,<br />

mas em matéria de obrigatoriedade de<br />

opções que evitassem duplicações, o<br />

progresso foi, senão reduzido, pelo<br />

menos formal.<br />

signadamente no que se refere às<br />

"despesas das famílias", mantendo­<br />

-se no entanto as dificuldades do<br />

seu financiamento e controlo, mormente<br />

em matéria de eficiência<br />

I '<br />

econom1ca;<br />

• Não se registou progresso na<br />

competição dentro de cada sector<br />

nem entre o sector privado e o<br />

sector público, registando-se até<br />

um aumento da forte selectividade<br />

existente, também do ponto de<br />

vista da "oferta"· '<br />

• Mantiveram-se muitas situações<br />

de múltiplo emprego e um número<br />

relativamente escasso de situações<br />

de dedicação exclusiva;<br />

• Cresceram as dificuldades de<br />

resposta às necessidades de alguns<br />

"grupos de risco" (velhos, toxicodependentes,<br />

alcoólicos, transplantes,<br />

etc);<br />

• Também cresceram as diculdades<br />

em reduzir os acidentes de trânsito<br />

e outras "doenças da civilização".<br />

Provavelmente no que terá sido<br />

entendido como primeiro e necessário<br />

passo para a superação dessas e<br />

doutras questões, a revisão constitucional<br />

de 1989 tentou promover<br />

algumas reformas do Sistema de<br />

Saúde que, em 1990, foram desenvolvidas<br />

pela nova Lei de Bases da<br />

Saúde.<br />

E, para dar execução aos princípios<br />

constitucionais, a nova Lei de Bases<br />

da Saúde determinou que:<br />

• O sistema de saúde português<br />

passasse a ser constituído pelo<br />

SNS e por todas as entidades<br />

públicas que desenvolvem a promoção,<br />

a prevenção e o tratamento na<br />

área da saúde, bem como por todas<br />

as entidades privadas e profissões<br />

liberais que acordassem com o<br />

primeiro (SNS) uma ou várias<br />

daquelas actividades;<br />

• O desenvolvimento do sector<br />

privado da saúde deveria ser apoiado<br />

na sua competição com o sector<br />

público e, especialmente, no caso<br />

de iniciativas de organizações privadas<br />

de fim não lucrativo;<br />

• Os cuidados de saúde, mesmo a<br />

nível de SNS, passariam a ser<br />

apenas tendencialmente gratuitos<br />

e os preços seriam estabelecidos de<br />

acordo com as condições económicas<br />

e sociais dos utentes;<br />

• Os seguros de saúde deveriam ser<br />

incentivados;<br />

• A gestão dos serviços públicos de<br />

saúde poderia ser transferida para<br />

o sector privado;<br />

• Os serviços de saúde deveriam ser<br />

estruturados e funcionar de acordo<br />

com o interesse dos consumidores e<br />

deveriam ter uma actividade coordenada<br />

com outros das áreas sociais;<br />

• A gestão dos recursos existentes<br />

deveria ser orientada no sentido de<br />

obter os mais vastos benefícios<br />

sociais (custo de oportunidade ?) e<br />

evitar a utilização abusiva dos<br />

serviços;<br />

• A actividade do SNS deveria ser<br />

realizada sob constante avaliação;<br />

• A qualidade dos cuidados de<br />

saúde e a satisfação dos consumidores<br />

e dos profissionais 11a utilização<br />

dos recursos deveriam ser<br />

constantemente avaliados.<br />

Na década de 90, a cobertura em<br />

26 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />

<strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> 27


saúde da população portuguesa não<br />

é diferente da que existia na década<br />

de 80. Mantiveram-se os subsistemas,<br />

cresceram os seguros privados<br />

de saúde, mas em matéria de obrigatoriedade<br />

de opções que evitassem<br />

duplicações, o progresso foi,<br />

senão reduzido, pelo menos formal.<br />

Em Janeiro de 1993, o Governo, em<br />

execução da nova Lei de Bases da<br />

Saúde, publicou dois outros importantes<br />

decretos:<br />

• Um, sobre a reorganização do<br />

Ministério da Saúde, que prevê a<br />

fusão de alguns serviços, designadamente,<br />

dos dois serviços operacionais<br />

(Direcção Geral dos Cuidados<br />

de Saúde Primários e Direcção<br />

Geral dos Hospitais) reunidos numa<br />

nova Direcção Geral de Saúde<br />

e a concessão de um estatuto de<br />

autonomia do ponto de vista administrativo<br />

e financeiro a alguns<br />

dos serviços centrais do Ministério;<br />

•Outro, que aprova o "Estatuto do<br />

Serviço Nacional de Saúde" e do<br />

qual constam algumas medidas,<br />

nalguns casos pelo menos discutíveis,<br />

com princípios cuja concretização<br />

pode alterar significati-vamente<br />

o sistema de saúde<br />

português:<br />

..- As Administações Regionais<br />

de Saúde, agora reduzidas a<br />

cinco, foram atribuídas competências<br />

e o máximo de autonomia<br />

(que a lei portuguesa prevê) para<br />

coordenar a actividade dos serviços<br />

de saúde (incluindo pela<br />

primeira vez os hospitais);<br />

..- Os centros de saúde deverão<br />

agregar-se em "grupos" que, conjuntamente<br />

com os hospitais da<br />

sua área irão formar "Unidades<br />

de Saúde" que deverão assumir a<br />

continuidade dos cuidados de<br />

saúde;<br />

..- Foram criados e regulados<br />

modelos de gestão privada para<br />

os serviços de saúde;<br />

..- Foram criadas regras que<br />

tornaram mais fácil a mobilidade,<br />

ainda que temporária, de<br />

funcionários públicos do SNS<br />

para o sector privado;<br />

..- Com a intenção de estimular a<br />

criação de uma procura privada<br />

de cuidados de saúde, foi determinada<br />

a realização de um estudo<br />

sobre a criação de um "seguro<br />

alternativo de saúde" voluntário,<br />

cujo prémio seria comparticipado<br />

pelo Ministério da Saúde.<br />

..- Pela primeira vez foi explicitamente<br />

prevista a criação de co­<br />

-pagamen tos na prestação de<br />

cuidados de saúde, de acordo<br />

com a sua capacidade económica<br />

e não apenas "taxas moderadoras".<br />

Uma parte significativa destas medidas<br />

de política de saúde não teve<br />

ainda aplicação, ou pelo menos<br />

aplicação integral, pelo que não é<br />

possível avaliar os seus efeitos<br />

concretos.<br />

No entanto, parece óbvio que elas<br />

não esgotam a totalidade dos problemas<br />

existentes e, mesmo neste<br />

contexto, é possível identificar ainda<br />

uma multiplicidade de desafios<br />

para um futuro próximo, em termos<br />

de filosofia de funcionamento, de<br />

organização da prestação de cuidados<br />

de saúde, de utilização pelos<br />

consumidores, de financiamento e<br />

de regulação do sistema.<br />

De facto e em coerência com os<br />

princípios programáticos estabelecidos<br />

ou, noutros casos, ensaiando a<br />

sua modificação, mudanças ou<br />

"reformas" devem ocorrer nestes<br />

domínios, dando resposta a autênticos<br />

desafios que permanecem ou não<br />

foram levados às últimas consequências:<br />

• Na organização do sistema de<br />

saúde, aprofundando a reorganização<br />

já iniciada ou explorando<br />

novos modelos de articulação de<br />

actividades;<br />

• Na clarificação dos limites entre<br />

o sector público e o sector privado,<br />

através da definição de modelos de<br />

prestação de cuidados de pagamento<br />

dessas prestações ou até de<br />

exploração de serviços mais claros<br />

e mais facilmente avaliáveis;<br />

• No apoio ao desenvolvimento a<br />

um verdadeiro sector privado, quer<br />

em termos de "oferta" (pouco<br />

compreensiva por muito fraccionada,<br />

designadamente no que se<br />

refere aos prestadores individuais<br />

que constituem a sua maior parte),<br />

quer em termos de "procura" de<br />

cuidados;<br />

• Na correcta definição da origem,<br />

da afectação (a nível regional, por<br />

ex.) e da utilização dos recursos<br />

financeiros do sistema (questão<br />

particularmente delicada se se<br />

mantiver a actual opção por cuidados<br />

tendencialmente gratutitos<br />

de acordo com as condições sociais<br />

e económicas dos consumidores),<br />

criando modelos que estimulem<br />

uma competição controlada dentro<br />

de cada um dos sectores e entre<br />

os sectores público e privado;<br />

• Na promoção e garantia da<br />

equidade no acesso às prestações<br />

de saúde a todos os cidadãos, num<br />

sistema que podendo combinar o<br />

sector público com o privado,<br />

conceda, pelo menos potencialmente,<br />

benefícios idênticos a toda<br />

O sistema de saúde português, tipificável<br />

constitucionalmente como um<br />

"Serviço Nacional de Saúde", foi<br />

confrontado com modificações legais<br />

de tipo estrutural cuja operacionalização<br />

está em curso e que também<br />

põem em causa a gratuitidade, apontando<br />

para co-pagamentos dos utilizadores<br />

de acordo com as suas<br />

possibilidades económicas .<br />

28 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />

a população (que não opte por se<br />

oferecer um regime distinto), independentemente<br />

de estar integrada<br />

num "subsistema de saúde";<br />

• Na promoção da satisfação dos<br />

profissionais e na motivação da<br />

sua actuação, pela criação das<br />

melhores condições de exercício<br />

no quadro das possibilidades do<br />

,<br />

pais;<br />

• Mas sobretudo na promoção da<br />

qualidade e da satisfação dos<br />

utentes, alargando a sua capacidade<br />

de escolha através de uma<br />

"carta de direitos" que lhes permita<br />

intervir do ponto de vista<br />

político e social no domínio da<br />

saúde, reforçando poderes e reequilibrando<br />

a sua intervenção,<br />

claramente limitada do ponto de<br />

vista técnico e económico pela<br />

especificidade do "mercado da<br />

saúde".<br />

Mas é especialmente no domínio do<br />

financiamento e da regulação futura<br />

do sistema que os desafios que se<br />

põem exigem respostas mais claras<br />

e, provavelmente, mais delicadas:<br />

• Ir-se-á proceder à concentração<br />

num ou em vários "fundos" dos<br />

recursos financeiros angariados ?<br />

• Será esse(s) "fundo(s)" gerido(s)<br />

com autonomia e de modo totalmente<br />

separado em relação aos<br />

prestadores ?<br />

• Continuará o Ministério da<br />

Saúde a protagonizar os mais<br />

variados "papéis" existentes no<br />

sistema e privilegiar o exercício<br />

da sua regulação por via normativa<br />

recorrendo ao poder legislativo<br />

do Estado?<br />

• Irá, atendendo à sua posição de<br />

principal pagador, exercer uma<br />

regulação por via financeira ?<br />

Investigação<br />

A gratuitidade que nos últimos ano.s<br />

tem vigorado não estimulou o aparecimento<br />

do que se poderá chamar uma<br />

"procura" privada, em que o próprio<br />

suporta, directamente ou através de<br />

seguros ou planos de saúde de tipo<br />

comercial ou outro, os encargos com as<br />

suas despesas de saúde.<br />

• Irá recorrer à sua condição de<br />

principal prestador para ensaiar<br />

uma via de regulação de tipo<br />

económico?<br />

Conclusão<br />

O sistema de saúde português,<br />

tipificável constitucionalmente como<br />

um "Serviço Nacional de Saúde",<br />

foi confrontado com modificações<br />

legais de tipo estrutural cuja<br />

operacionalização está em curso e<br />

que também põem em causa a<br />

gratuitidade, apontando para co­<br />

-pagamentos dos utilizadores de<br />

acordo com as suas possibilidades<br />

'<br />

econom1cas;<br />

.<br />

A concretização dessas alterações<br />

confronta-se com a complexidade da<br />

situação pre-existente e em particular<br />

com algumas caracteristícas do<br />

caso português;<br />

O mercado de saúde em Portugal<br />

carece de uma clarificação que está<br />

a ser ensaiada.<br />

• Do lado da oferta existe um peso<br />

muito importante da propriedade<br />

pública que, no entanto, se desenvolve<br />

assimetricamente:<br />

..- é quase exclusiva no sector<br />

FACTOR PLUS «·<br />

PRODUTOS MÉDICOS E HOSPITALARES, S.A .<br />

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hospitalar;<br />

..- é dominante a nível de cuidados<br />

primários com médicos salarizados;<br />

..- é muito limitada no entanto no<br />

que se refere às prestações de<br />

segunda linha, cada vez mais<br />

importantes no quadro de uma<br />

especialização crescente.<br />

• Do lado da "procura" há uma<br />

cobertura tendencialmente "universal"<br />

protagonizada pelo "Serviço<br />

Nacional de Saúde" em plano<br />

supletivo, no quadro de um sistema<br />

que, tradicionalmente, comporta<br />

uma série numerosa de outros<br />

"seguros" (os chamados "subsistemas")<br />

que cobrem cerca de 16 % da<br />

população;<br />

• A gratuitidade que nos últimos<br />

anos tem vigorado não estimulou o<br />

aparecimento do que se poderá<br />

chamar uma "procura" privada,<br />

em que o próprio suporta, directamente<br />

ou através de seguros ou<br />

planos de saúde de tipo comercial<br />

ou outro, os encargos com as suas<br />

despesas de saúde.<br />

Neste mercado pouco transparente<br />

e em que o Estado desempenha<br />

L<br />

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•<br />

<strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> 29<br />

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uma multiplicidade de papéis, nalguns<br />

casos até aparentemente pouco<br />

conciliáveis - garante do direito<br />

à saúde/regulador, proprietário,<br />

terceiro responsável pagador - o<br />

sector privado tem mostrado mais<br />

capacidade financeira do que o<br />

Estado para assumir a inovação<br />

tecnológica, funcionando de forma<br />

muito selectiva, sobretudo em<br />

áreas em que o investimento tem<br />

recuperação mais assegurada.<br />

Também a eficiência e qualidade<br />

do sistema no seu conjunto têm<br />

sido com frequência postas em<br />

causa, admitindo-se que, face aos<br />

recursos utilizados, a prestação de<br />

cuidados poderia ser mais extensa<br />

e intensa.<br />

Igualmente, no que se refere à<br />

qualidade dos cuidados, as prestações<br />

do sector público são com<br />

alguma frequência contestadas,<br />

ainda que sobretudo nas sua componente<br />

hoteleira ou no quadro<br />

das amenidades que enquadram a<br />

prestação técnica propriamente<br />

dita.<br />

• No plano financeiro tem-se registado,<br />

como é normal numa situação<br />

deste tipo, um aumento das<br />

"despesas públicas com a saúde",<br />

tendência que continua a verificar­<br />

-se.<br />

No entanto, este aumento traduzirá<br />

mais um aumento e encarecimento<br />

da "utilização" do que um<br />

aumento da "oferta". Por outro<br />

lado, o aumento das "despesas<br />

totais com a saúde" é maior do<br />

que o aumento das "despesas públicas",<br />

o que, significando um<br />

maior contributo das famílias,<br />

levanta dúvidas sobre a equidade<br />

da situação actual neste plano.<br />

I<br />

E no quadro desta situação que se<br />

quis situar a abordagem à política<br />

de saúde aqui ensaiada, centrada<br />

num primeiro momento na proposta<br />

(sem preocupações de exaustividade)<br />

de identificação e análise das<br />

grandes questões dos sistemas saúde<br />

(incluindo o sistema português)<br />

atrás indicadas.<br />

A análise da situação dos sistemas<br />

de saúde e as medidas que dela<br />

decorrem têm passado com frequência<br />

ao lado dessas grandes questões<br />

que, por isso, continuam a pôr-se aos<br />

sistemas de saúde.<br />

As alternativas de métodos e de<br />

soluções adiantadas não terão sido<br />

sempre e cabalmente adequadas aos<br />

problemas existentes nem aos objectivos<br />

anunciados, nem quando perspectivados<br />

isoladamente, nem ainda<br />

menos quando encaradas em conjunto.<br />

Quanto aos resultados, poderá ser<br />

ainda cedo para uma avaliação<br />

objectiva e cabal, mas há indiscutíveis<br />

manchas de heterogeneidade.<br />

De qualquer modo, pareceu adequado<br />

e oportuno alinhar algumas<br />

muito singelas e sumárias reflexões<br />

sobre as reformas ou as mudanças<br />

que têm atravessado os sistemas de<br />

saúde (incluindo o português), confrontando<br />

o que foi feito com aquelas<br />

grandes questões, não tanto com<br />

a intenção de propõr complementos<br />

às medidas tomadas mas apenas com<br />

o objectivo de recordar que haverá<br />

outros tópicos a abordar e que,<br />

provavelmente, a mudança, num<br />

cenário que tem um ritmo de evolução<br />

frenético, não pode ser um<br />

simples gesto pontual.<br />

Terá sempre que ser uma atitude<br />

permanentemente desperta, atenta e<br />

centrada, não apenas em preocupações<br />

de curto prazo, mas sobretudo<br />

de antecipação face a sinais de<br />

mudança, a médio e a longo prazo.<br />

O que, inevitavelmente, retirando<br />

ao sector e às suas mudanças ou<br />

reformas o pendor imediatista e<br />

circunstancial que tem vivido em<br />

múltiplas latitudes ou, por outras<br />

palavras, a influência do "ciclo<br />

político", deveria propiciar, à semelhança<br />

do que tem ocorrido noutros<br />

sectores, um espaço de consensos<br />

(pelo menos parciais), nacionais de,<br />

pelo menos, médio prazo que a<br />

resolução destas grandes questões<br />

justifica ou até exige, e que, permitindo<br />

uma transparente revalorização<br />

dos interesses em presença e das<br />

alternativa de respostas às questões<br />

ainda existentes, facilitasse uma<br />

efectiva participação na discussão<br />

das forças sociais interessadas.<br />

Que, afinal, serão todas. 1<br />

BIBLIOGRAFIA<br />

CAMPOS, A.C.; Contribuição Gerida.Contributos<br />

para num Debate Indispensável.ln "Management<br />

Forum' 1 , (Mimeog.), Lisboa, 1993, pág.16.<br />

CEE; La Protection Sociale em EUROPE. Bruxelas,<br />

1993<br />

DEKKER, E.;Health Care Refo rms and Public<br />

Health.In "European Journal of Public Health' 1 , uol.<br />

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EVANS, R.G.;Market Forces versus Regulation.OECD,<br />

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"High Levei Conference on Health Care<br />

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WORLD BANK; World Development Report, 1993,<br />

Investing in Health. New York, 1993.<br />

* Sobre este tema foi feita pelo mesmo autor uma<br />

apresentação no "Forum Saúde 1 ' , organizado em 10 de<br />

Março de <strong>1995</strong> pela Associação Portuguesa de Administradores<br />

<strong>Hospitalar</strong>es, em Lisboa, no Hotel Tiuoli.<br />

**Professor Auxiliar da Escola Nacional de Saúde<br />

Pública e Administrador <strong>Hospitalar</strong> destacado do<br />

Hospital de St 0 António dos Capuchos para o<br />

Departamento de Estudos e Planeamento da Saúde (o<br />

autor agradece a colaboração prestada pela Drª Rute<br />

Pinto dos Reis na preparação de diversos quadros)<br />

ASSOCIAÇÃO<br />

PORTUGUESA DE<br />

ADMINISTRADORES<br />

HOSPITALARES<br />

G«:tstãe><br />

As propostas dos principais<br />

partidos políticos para a Saúde<br />

GEST AO HOSPITALAR consultou os programas e outros documentos dos quatro maiores<br />

partidos. Retirou de cada um as propostas essenciais para a Saúde e construiu uma grelha<br />

comparativa por áreas temáticas consideradas fu ndamentais. Retenha as semelhanças,pondere as<br />

diferenças e reflicta sobre as omissões ...<br />

1 :;..., PARTIDOS ~ P".:l<br />

TEMAS _______________________________________ lrllt ________________ ~-- -----------<br />

Linhas de<br />

orientação<br />

estratégica<br />

Papel ·<br />

do SNS<br />

- Todos devem<br />

ter acesso à saúde<br />

- O Estado como<br />

principal organizador<br />

e garante<br />

de cuidados de<br />

saúde<br />

- Participação<br />

activa dos profissionais<br />

na reforma<br />

do sistema de<br />

saúde<br />

- Princípio da livre<br />

escolha do médico<br />

pelo doente<br />

-Reestruturação<br />

desconcentrada<br />

dos serviços, que<br />

permita, designadamente:<br />

-Reforço da<br />

-A medicina familiar<br />

como base da prestação<br />

de cuidados.<br />

- Sistema de Saúde<br />

universal que garanta<br />

a equidade no<br />

acesso.<br />

- A base do sistema<br />

continuará a ser o<br />

SNS.<br />

- Introdução de<br />

regimes de cobertura<br />

alternativos ("opting<br />

out") com direito a<br />

benefício fiscal.<br />

- Clara delimitação<br />

entre o sector público<br />

e o sector privado.<br />

- Proposta de um<br />

pacto social entre as<br />

principais forças políticas<br />

e sociais.<br />

-É a base<br />

do financiamento do<br />

sistema prestador de<br />

cuidados.<br />

- Introdução<br />

progressiva de meca-<br />

- Permitir o<br />

imperativo<br />

constitucional<br />

do direito à<br />

saúde.<br />

- Defesa do SNS<br />

e combate à sua<br />

destruição.<br />

- Reformar o SNS<br />

eliminando sistemas<br />

de direcção<br />

centralizado<br />

e de comando<br />

burocrático-administrativo.<br />

-Descentralizar,<br />

desgovernamentalizar<br />

e autonomizar.<br />

-Dotá-lo de<br />

financiamento<br />

- O Estado deve ser garante<br />

da função reguladora, coordenadora<br />

e fiscalizadora das<br />

estruturas integradas no<br />

Sistema Nacional de Saúde.<br />

- Criação de uma lei de bases<br />

do Sistema Nacional de<br />

Saúde em que o financiamento<br />

por seguro obrigatório<br />

seja uma das bases do<br />

sistema.<br />

- Separação da função<br />

financiadora da função<br />

prestadora.<br />

- O Sistema de Saúde deve ser<br />

universal e global e ter por<br />

base a solidariedade, a<br />

igualdade, a eficiência e a<br />

liberdade.<br />

- O Estado deve intervir<br />

selectivamente (em situações<br />

económicas mais débeis)<br />

preconizando-se o fim<br />

de monopólios a qualquer<br />

nível da área da prestação<br />

de cuidados de saúde. Competirá<br />

prioritariamente ao<br />

Estado a concretização correcta<br />

e eficaz de cuidados de<br />

saúde pública.<br />

- A medicina livre deverá<br />

fazer parte integrante do<br />

Sistema de Saúde, de tipo<br />

misto.<br />

- Preconiza-se a sua<br />

reforma gradual.<br />

- O SNS será, na sua função<br />

prestadora, a penas opcional,<br />

concorrendo com entidades<br />

privadas,<br />

30 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />

<strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> 31


TEMAS ---------------------------------------~----------------~--------------<br />

PARTIDOS 1 J.:J ~ ~<br />

Estatuto<br />

dos<br />

profissionais<br />

Regionalização<br />

colectivos,<br />

aumentando<br />

a oferta<br />

de serviços<br />

Nada<br />

é referido sobre<br />

esta matéria<br />

- Maior<br />

responsabilização<br />

das<br />

Administrações<br />

Regionais<br />

de Saúde<br />

- Criar mecanismos que<br />

impeçam conflitos de<br />

interesses no mesmo<br />

profissional.<br />

- Clara delimitação<br />

entre exercício no sector<br />

público e privado.<br />

- Aposta na formação<br />

dos profissionais de<br />

saúde em matéria de<br />

humanização.<br />

· Reforço das ARS, de<br />

modo a poderem funcionar<br />

como agências<br />

financiadoras.<br />

- Distribuição das<br />

verbas pelas ARS com<br />

base na estrutura etária<br />

e por sexos e na<br />

morbilidade regional.<br />

- Autonomia das ARS<br />

para negociarem acordos<br />

ou convenções com<br />

as unidades estatais ou<br />

privadas com base na<br />

melhor relação custo/<br />

/qualidade.<br />

- Participação activa dos<br />

profissionais na realização<br />

dos objectivos<br />

básicos de eficácia e<br />

qualidade.<br />

- Política de estímulo aos<br />

profissionais com boas<br />

condições de trabalho e<br />

remunerações condignas<br />

e progressao nas<br />

suas carreiras.<br />

- Dentro do conceito de<br />

gestão democrática do<br />

SNS preconiza-se um<br />

poder político regional<br />

assumido pelas regiões<br />

administrativas.<br />

- As ARS serão<br />

nomeadas pela Assembleia<br />

Regional sob proposta<br />

da Junta<br />

Regional. Devem incluir<br />

um presidente,<br />

um administrador, um<br />

médico e um enfermeiro.<br />

Compete-lhes designadamente<br />

a execução<br />

do plano e orçamento e<br />

a articulação entre estabelecimentos.<br />

- Criação dum Conselho<br />

Regional de Saúde,<br />

composto por representantes<br />

das autarquias<br />

locais, associações de<br />

utentes, associações<br />

profissionais e sindicais<br />

dos trabalhadores<br />

de saúde.<br />

Saúde" de âmbito nacional<br />

e que defina índices<br />

técnicos.<br />

- Abertura ao sector<br />

privado com e sem fins<br />

lucrativos.<br />

- O espírito do médico de<br />

família implica uma remuneração<br />

por acto médico<br />

além da base fixa.<br />

- Agrupamento de médicos<br />

na área dos cuidados<br />

primários e existência de<br />

especialistas na área do<br />

ambulatório no âmbito<br />

da medicina livre ou em<br />

grupo.<br />

- Devem existir carreiras<br />

hierarquizadas.<br />

- Prática da medicina<br />

privada no âmbito dos<br />

hospitais públicos.<br />

- Não é feita qualquer<br />

menção explícita<br />

em matéria de<br />

regionalização.<br />

Apenas se preconiza a<br />

definição de uma Carta<br />

Sanitária Nacional<br />

Global que permita<br />

um reajustamento de<br />

necessidades sem<br />

duplicação de serviços.<br />

G<br />

esta o<br />

TEMA;A_R-Tl-DO-S~------:--'-4t_1 ____ 1_g_~-~-----=~=· ~=j=~--<br />

Seguros<br />

de Saúde<br />

de o desempenho<br />

do sector privado<br />

possa ser mais<br />

eficaz que o pú­<br />

blico<br />

- Criação<br />

de seguros<br />

alternativos e<br />

complementares<br />

de saúde de<br />

carácter empresarial,<br />

colectivos<br />

ou<br />

individuais<br />

- Criação de<br />

mecanismos de<br />

compensação<br />

fiscal<br />

· Possibilidade<br />

dos cidadãos optarem<br />

por seguros alternativos<br />

("opting out").<br />

· Existência de um<br />

"pacote público" universal<br />

que incluirá os<br />

gastos com a saúde<br />

pública e a cobertura<br />

de riscos "catastróficos"<br />

(Sida, tuberculose,<br />

toxicodependência,<br />

saúde mental, cuidados<br />

oncológicos, insuficiência<br />

renal<br />

crónica, etc.)<br />

- Não são<br />

consideradas propostas<br />

para um seguro<br />

alternativo de<br />

saúde. Admitem-se<br />

subsistemas de natureza<br />

corporativa<br />

ou profissional de<br />

base complementar.<br />

com certeza regras, mas<br />

a forma de fornecer cuidados<br />

de saúde, a sua<br />

organização e o pessoal<br />

dever~o depender de quem<br />

as gerir.<br />

· Defende-se um mercado<br />

concorrencial, com base<br />

num seguro obrigatório de<br />

base capitacional e estabelecido<br />

de acordo com os<br />

rendimentos dos cidadãos.<br />

- Esse seguro obrigatório<br />

será fornecido por empresa<br />

estatal, para-estatal ou<br />

privada, concorrendo entre<br />

si, podendo ainda fazer-se<br />

seguros<br />

complementares em qualquer<br />

delas.<br />

- Esse seguro obrigatório<br />

assentará num "package"<br />

básico de cuidados e será<br />

universal.<br />

<strong>Gestão</strong><br />

privada de<br />

estabelecimentos<br />

públicos<br />

- Alargamento<br />

da privatização<br />

da gestão de<br />

unidades de<br />

saúde e de<br />

,<br />

serv1ços,<br />

em areas<br />

específicas on-<br />

- Admite-se a concessão<br />

da gestão a entidades<br />

particulares ou<br />

privadas, mediante<br />

garantias públicas.<br />

- Não são conhecidas<br />

propostas sobre esta<br />

matéria, admitindo-se,<br />

face a diferentes tomadas<br />

de posição públicas,<br />

que são contra tal<br />

modelo.<br />

- Na actual situação,<br />

a tomada de atitudes<br />

avulsas nesta matéria<br />

será inconsequente.<br />

- A gestão privada<br />

e mesmo as unidades<br />

privadas de saúde, terão<br />

ASSOCIAÇÃO<br />

PORTUGUESA DE<br />

ADMINISTRADORES<br />

HOSPITALARES<br />

34 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />

<strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> 35


'<br />

1 ........_ ..... e>rle11m<br />

Preciosa Aguiar<br />

Um perfil original e humanista<br />

Falar de Preciosa Aguiar só com emoção.<br />

Deixou-nos silenciosamente, num deslisar<br />

suave e fugídio, como quem se<br />

despede da vida s·em querer fazer ruído.<br />

Tal como a sua vida também na morte ela<br />

passou como uma aragem quente, que nos<br />

envolve, mas não magoa.<br />

Agora caberiam as palavras de circunstância,<br />

as doutas palavras do saber, os<br />

encómios e louvaminhas, mas como falar<br />

da Preciosa, com retóricas e roupagens<br />

de estilo, ela que perpassou com graça e<br />

leveza no meio de nós?<br />

Ela "era pura", disse alguém.<br />

E penso que com essa palavra tudo<br />

estaria dito.<br />

Mas para quem não a conheceu de perto,<br />

que mais podemos dizer?<br />

Onde ela estava, tudo se transformava.<br />

Havia ali uma chama e tudo ficava mais<br />

quente. Um sopro que nos unia, que nos<br />

conduzia para uma perfeição sempre<br />

inatingível.<br />

Recordo os idos do 25 de Abril - o nosso<br />

glorioso "5º CURSO" na ENSP, - 1974 -<br />

-1976 - em que a juventude e irrequietude<br />

"revolucionárias" nos agitavam frementes<br />

e indómi tos.<br />

Os professores, esses queridos professores<br />

de então, olhavam para nós estupefactos,<br />

varridos pela nossa audácia, mas sedentos<br />

do nosso entusiasmo.<br />

E a Preciosa, ali estava sempre, no centro<br />

da fila, fazendo o contraponto da paz e da<br />

guerra, serena e lúcida, como um clarão.<br />

A sua alegria era calma, mas irradiava<br />

luz, nos gracejos com que temperava<br />

todas as conversas.<br />

Para muitos pareceria distraída e leve,<br />

essa arte de humildade com que sabia<br />

preservar o seu gosto pelo saber e a sua<br />

ânsia de verdade.<br />

A infinita busca que a levava a estar<br />

sempre presente, em todo o sopro de<br />

novidade, nas realizações mais vanguardistas<br />

que farejava em seu redor, como<br />

quem capta a essência última das coisas.<br />

Daí talvez o seu maior gosto pela<br />

Psiquiatria - essa "ciência oculta" - onde<br />

ela parecia sobrenadar, apreendendo os<br />

"espíritos" que pairavam à superfície das<br />

águas movediças.<br />

No Hospital Miguel Bombarda ainda<br />

agora os doentes recordam "aquela administradora"<br />

que tudo transformou - os<br />

novos jardins, os recantos de convívio, as<br />

enfermarias modernizadas, as refeições<br />

quentes e saborosas, os medicamentos<br />

pagos pela Segurança Social.<br />

A luta infatigável num quotidiano multifacetado,<br />

onde as energias se desmultiplicavam<br />

do concreto imediato aos<br />

ventos de renovação que sopravam dos<br />

mais audazes - ela sempre caminhando a<br />

par.<br />

A Escola de Eduardo Cortesão e seus<br />

discípulos - a "nova vaga" da psiquiatria<br />

das décadas de 70 e 80 - arrastou-a em<br />

novos voos e o seu contributo foi<br />

inestimável no apoio às inúmeras realizações<br />

científicas que surgiam entre os<br />

jovens médicos.<br />

Desejosa de progredir no saber e apontar<br />

sempre caminhos novos meteu-se à tarefa<br />

de fazer um estudo exaustivo para a<br />

reorganização das "URGÊNCIAS PSI-<br />

~<br />

QUIATRICAS" na Area Metropolitana<br />

de Lisboa, em estreita colaboração com o<br />

DEPS, trabalho que veio a constituir a<br />

sua dissertação de Concurso ao 1 º grau de<br />

Carreira de Administração <strong>Hospitalar</strong>,<br />

em 1983, sendo então a 1ª Administradora<br />

a atingir o mais elevado grau de Carreira<br />

por mérito próprio.<br />

Colaborou ainda intensamente na implementação<br />

do Departamento de Psiquiatria<br />

da Faculdade de Ciências Médicas,<br />

de que foi fundador o Prof. Eduardo<br />

Cortesão, e que veio a originar um<br />

movimento impulsionador dos estudos<br />

universitários no campo da psiquiatria e<br />

saúde mental.<br />

No entanto, os seus esforços e sonhos<br />

fizeram inveja de muitos e concitaram<br />

contra ela animosidades e incompreensoes.<br />

Em 1987 deixa o Hospital Miguel Bombarda<br />

com saudade e mágoa.<br />

Com uma passagem breve pelos H.C.L.,<br />

concorre em 1988 para o novo Hospital de<br />

S. Francisco Xavier, onde imaginava um<br />

campo aberto a novos desafios.<br />

Infelizmente os ventos nunca mais sopraram<br />

de feição.<br />

Coartada pelo carreirismo político reinante<br />

à sua volta, atropelada em sonhos e<br />

projectos pela ambição mesquinha dos<br />

"novos donos" do poder, viu sufocada a<br />

sua ânsia de desbravar e de levantar a<br />

voz para um novo humanismo e um novo<br />

progresso.<br />

Nos últimos anos, para fugir à estagnação,<br />

aderiu a novas experiências de<br />

intercâmbio cultural, no âmbito do<br />

PROGRAMA "HOPE" da UNIÃO EU­<br />

ROPEIA, que a levaram a estágios<br />

enriquecedores e gratificantes em Espanha<br />

(Astúrias) e França (Paris).<br />

Ouvi-la falar destas vivências era sentir a<br />

sua paixão pelos outros, pelas novas<br />

correntes da administração hospitalar,<br />

pela juventude de novos ideais.<br />

Agora essa voz sempre viva calou-se.<br />

Mas o seu exemplo não.<br />

Arminda Cepeda<br />

·'<br />

36 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />

<strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> 37


Santos Cardoso<br />

No passado dia 20 de Janeiro,<br />

decorreu em Coimbra um jantar de<br />

confraternização a propósito da então<br />

recente aposentação daquele<br />

ilustre colega. Santos Cardoso foi<br />

um dos artífices da criação da<br />

Associação Portuguesa de Administradores<br />

<strong>Hospitalar</strong>es, em 1981. Integrou<br />

o elenco da primeira direcção,<br />

então presidida por Sá Ferreira.<br />

Mais tarde, de 1984 a 1987, foi<br />

presidente da direcção. Foi o primeiro<br />

director desta revista, cujo primeiro<br />

número foi publicado em<br />

Janeiro de 1983.<br />

Profissionalmente, Santos Cardoso,<br />

tem também um currículum invejável.<br />

Liderou a abertura de vários<br />

hospitais, destacando-se o seu trabalho<br />

exemplar em Beja e Portalegre.<br />

Ultimamente dedicou-se de alma e<br />

coração ao Hospital Pediátrico de<br />

Coimbra onde deixou muitas saudades.<br />

Lembramo-nos todos muito bem da<br />

postura serena, isenta e lúcida que<br />

Santos Cardoso adoptava no seu<br />

trabalho e na vida associativa.<br />

Competente, consensual e incentivador<br />

da gestão participada, sem preconceitos<br />

nem sectarismos, Santos<br />

Cardoso é um exemplo para todos<br />

nós e perdurará sempre no nosso<br />

imaginário. Foi com simplicidade e<br />

emoção que ele aceitou confraternizar<br />

com os mais de 60 profissionais de<br />

Saúde presentes naquele jantar.<br />

Particularmente sentidas foram as<br />

presenças de Augusto Mantas, Mariana<br />

Dinis de Sousa, Delfim Rodrigues<br />

e Fernanda Dias, que lhe dirigiu<br />

uma cativante saudação em nome de<br />

todos.<br />

Forum Saúde<br />

Novas Estratégias<br />

na <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />

Decorreu, com assinalável sucesso, o<br />

Forum Saúde sobre Novas Estratégias<br />

na <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong>, realizado<br />

em Março, no Hotel Tivoli, em<br />

Lisboa. As excelentes intervenções<br />

de Bagão Félix, V asco Reis e do<br />

Secretário de Estado da Saúde,<br />

Lopes Martins, permitiram passar<br />

em revista a situação actual do<br />

nosso sistema de Saúde, o seu<br />

enquadramento na questão mais<br />

ampla do "Estado Social" ou de<br />

"Bem-Estar" e os cenários para o<br />

futuro. Tiveram ainda a presença de<br />

Michel Crema dez professor dos Altos<br />

Estudos Comerciais em Paris e<br />

especialista em estratégias hospitalares,<br />

que nos trouxe uma perspectiva<br />

interna da gestão dos hospitais<br />

para o futuro.<br />

O número de participantes, cerca de<br />

150, ultrapassou largamente as expectativas<br />

da organização, confirmando<br />

o interesse e oportunidade<br />

dos temas em debate.<br />

Os Políticos e a Saúde<br />

A direcção da APAH organizou no<br />

dia 3 de Julho, no Hotel da Lapa, em<br />

Lisboa, com o apoio da TSF, um<br />

Workshop sobre Qualidade<br />

debate sobre a Saúde, com base nas<br />

propostas dos quatro maiores partidos<br />

políticos para a próxima legislatura.<br />

Estiveram presentes pelos partidos,<br />

o dr. Fernando Andrade(PSD),<br />

o dr. José Boquinhas(PS), o engº.<br />

Edgar Correia(PCP) e a drª. Maria<br />

José Nogueira Pinto(PP).<br />

Após as intervenções dos representantes<br />

dos partidos, seguiram-se os<br />

comentários do prof. Meliço Silvestre,<br />

dr. António Galhordas, prof.<br />

Pedro Pita Barros e dr. João Urbano.<br />

As posições dos políticos, nalguns<br />

casos semelhantes e noutras<br />

substancialmente divergentes, são<br />

pormenorizadamente analisadas e<br />

comparadas noutra rúbrica deste<br />

número da GESTÃO HOSPITALAR.<br />

Também em Março, e com o apoio da Fundação Luso-Americana para o<br />

Desenvolvimento e da Escola Nacional de Saúde Pública, foi possível trazer a<br />

Portugal para um Workshop de uma semana, uma equipa de peritos norte­<br />

-americanos da área de Qualidade, liderada pelo prof. John Williamson.<br />

De renome internacional e com uma vasta bibliografia publicada, John<br />

Williamson, representa hoje uma das correntes mais inovadoras da<br />

abordagem da Qualidade em Saúde - a "Continuous Quality Improvement",<br />

muito baseada na melhoria gradual da qualidade dos actos praticados,<br />

através de critérios e padrões mutáveis e crescentemente exigentes.<br />

Reservadas de início exclusivamente para os sócios da AP AH, as inscrições<br />

foram posteriormente abertas a outros profissionais, o que propiciou a<br />

constituição de grupos de trabalho pluridisciplinares e uma discussão mais<br />

ampla e frutuosa.<br />

38 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />

As Compras Públicas no Sector da Saúde<br />

Organizado pela APAH, decorreu no<br />

Forum Picoas, em 29 de Maio último,<br />

um seminário que contou com a<br />

adesão maciça e interessada dos<br />

profissionais do sector e revestiu-se<br />

de grande actualidade.<br />

Da parte dos utilizadores (gestores<br />

hospitalares) foram, principalmente<br />

realçados os aspectos dos custos e<br />

das cargas de trabalho administrativo<br />

acrescidas, com o agravamento,<br />

dos formalismos, dos tempos de<br />

processamento, do nº de procedimentos<br />

bem como dos novos "Procedimentos<br />

da Transparência". Para<br />

estes reputam-se como necessárias<br />

milhares de horas de trabalho anual,<br />

num Hospital de média ou grande<br />

dimensão, envolvendo a afectação<br />

de grandes contingentes de pessoal.<br />

Apreciados, nesta lei, foram os<br />

aspectos ligados ao aumento dos<br />

limites de competência e das modalidades<br />

processuais a adoptar, a<br />

aglutinação, num mesmo diploma,<br />

dum conjunto de procedimentos que<br />

precedem a realização da despesa,<br />

que se encontravam dispersos ou<br />

nem sequer estavam estabelecidos,<br />

a complexa regulamentação dos<br />

procedimentos bem como a adaptação<br />

da figura da negociação, que, se<br />

pensa, poderá vir a introduzir condições<br />

de maior eficiência nas aquisições<br />

hospitalares. De salientar, ainda,<br />

o factor urgência como causa de<br />

dispensa de formalidade, facto que a<br />

nível hospitalar se reveste de grande<br />

importância e poderá agora ser<br />

explorada.<br />

Aceitaram, também, ser parte interveniente<br />

neste Seminário responsáveis<br />

pela Direcção Geral da Contabilidade<br />

Pública e do Tribunal de<br />

Contas através, respectivamente, do<br />

seu Director Geral e do Contador<br />

para a Saúde, abordando alguns<br />

aspectos importantes que de seguida<br />

mencionamos.<br />

O "peso do Estado" no desempenho<br />

das suas funções com a educação, a<br />

saúde e a segurança social, bem<br />

como o "peso dos impostos" e a<br />

crescente exigência da opinião pública<br />

nas respectivas prestações de<br />

serviços versus a "boa utilização"<br />

dos dinheiros públicos, constituem<br />

uma preocupação constante dos<br />

sucessivos Governos.<br />

A adesão de Portugal à Comunidade<br />

Europeia e mais recentemente a<br />

assinatura do Tratado de Maastricht,<br />

tendem a privilegiar as situações<br />

económico-financeiras sustentáveis,<br />

concretamente evitando os<br />

déficites excessivos.<br />

Face ao elevado volume de recursos<br />

af ectos ao Sector Público Administrativo<br />

no total da economia, torna­<br />

-se indispensável o controlo das<br />

contas públicas bem como a racionalização<br />

e modernização da gestão<br />

pública, através, designadamente,<br />

da organização dos seus sistemas<br />

de informação contabilística por<br />

forma a disponibilizarem em tempo<br />

Honraram-nos com a sua preferência, confiando-nos a gestão<br />

dos seus serviços de alimentação as Unidades <strong>Hospitalar</strong>es:<br />

HOSP. DIST. DE ABRANTES • HOSP. DIST. DE BRAGANÇA • HOSP. DIST. DE CASTELO BRANCO • HOSP. DIST. DO FUNDÃO • HOSP.<br />

DIST. DE MJRANDELA • HOSP. DIST. SOUSA MARTINS(GUARDA) • HOSP. DIST. DE TORRES VEDRAS • HOSP. GERAL DA COL. PORT.<br />

DO BRASIL(COVÕES) • HOSP. MTGUEL BOMBARDA • HOSP. PEDIÁT. DE COIMBRA • HOSP. REINALDO DOS SANTOS(V.F. DE XIRA) •<br />

HOSP. S. JOÃO DE DEUS(FAMALICÃO) • HOSP. S. JOSÉ DE FAFE • HOSP. DO STO. ESPÍRITO DE ANGRA DO HEROÍSMO(A.ÇORES) •<br />

HOSf. DE STA LUZIA(ELVAS) • HOSP. DE VIALONGA • MATERN. ALFREDO DA COSTA(LISBOA) • MATERN. JÚLIO DINIS(PORTO)<br />

NUTRIRE s T, C OMPANHIA PORTUGUESA DE RESTAURAÇÃO C OLECTIVA, S. A.<br />

SEDE: R. Francisco Tomás da Costa, 2-2º Esq. 1600 LISBOA - (01 )796 12 37 Fax (0 1)796 16 88<br />

DEL. NORTE: Av. do Conde, 6150 - l~ Esq. 4465 S. MAMEDE DE INFESTA - 'R(02) 902 44 t2 Fax (02) 902 43 96<br />

<strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> 39


útil os resultados da execução orçamental<br />

e patrimonial.<br />

Em termos de quadro legal, está-se a<br />

proceder à Reforma da Administração<br />

Financeira do Estado, da qual o<br />

novo diploma sobre aquisição de<br />

bens e serviços para o Estado faz<br />

parte.<br />

Pretende alcançar "o equilíbrio entre<br />

dois objectivos essenciais: a<br />

transparência, absolutamente indispensável<br />

à realização do objectivo<br />

da credibilidade de Estado e a<br />

flexibilidade, condição necessária<br />

para a prossecução dos o bj ecti vos -<br />

-economia, eficiência e eficácia - na<br />

gestão pública".<br />

Em termos da função aprovisionamento,<br />

foi opinião da Direcção Geral<br />

da Contabilidade Pública, que o<br />

diploma procura, uma maior especialização<br />

e profissionalismo.<br />

O representante do Tribunal de<br />

Contas analisou a fiscalização prévia<br />

no contexto da fiscalização das<br />

despesas públicas, o âmbito e conteúdo<br />

da mesma à luz da Lei Nº 86/89<br />

de 8 de Setembro, bem como, algumas<br />

notas sobre a jurisprudência do<br />

Tribunal de Contas em matéria de<br />

contratação pública.<br />

Ainda, numa perspectiva financeira,<br />

da parte dos utilizadores (Administrador<br />

<strong>Hospitalar</strong>), salientou que<br />

esta nova legislação, em matéria de<br />

controlo orçamental e cabimentação<br />

estipula que "A assunção de compromissos<br />

exige a prévia informação<br />

de cabimento dada pelos serviços de<br />

contabilidade no respectivo documento<br />

de autorização para a realização<br />

da despesa, ficando os dirigentes<br />

dos serviços e organismos responsáveis<br />

pela assunção de encargos<br />

com infracção das normas legais<br />

aplicáveis à realização das despesas<br />

públicas, nos termos da legislação<br />

em vigor". Tem como finalidade,<br />

subordinar, necessariamente, a utilização<br />

das dotações a critérios de<br />

rigorosa contenção, indispensáveis<br />

à consolidação orçamental.<br />

Contudo, tal situação não será<br />

viabilizável se anualmente os Orçamentos<br />

dos Organismos do S.N.S.,<br />

nomeadamente Hospitais, apresentarem,<br />

em regra, previsões de déficites<br />

financeiros muito significativos.<br />

Nesta matéria, opiniões existem em<br />

que, a par do controlo orçamental,<br />

deveriam ser analisados, por<br />

organismo do SNS, a sua capacidade<br />

de produção pela via dos<br />

custos reais.<br />

O mercado esteve representado<br />

pela Apifarma e Apormed, Associações<br />

representativas, respectivamente,<br />

da Indústria Farmacêutica<br />

e da Indústria e Comércio<br />

de Produtos de Uso Clínico<br />

não Farmacêutico.<br />

Estas associações salientaram<br />

nas suas comunicações, aspectos<br />

relevantes e complementares<br />

da aplicação do diploma:<br />

• Enquanto a Apifarma realça<br />

dois aspectos relevantes do<br />

preâmbulo do Dec-Lei 55/95 a<br />

saber: O Reforço de garantia<br />

dos direitos do Administrado<br />

e a transparência das normas<br />

bem como o reconhecimento de<br />

que os procedimentos nesta área<br />

devem ser mais eficazes, sim'­<br />

ples e desburocratizados.<br />

E ainda "o equilíbrio entre<br />

objectivos de transparência e<br />

de rigoroso controlo das<br />

despesas por um lado e de<br />

eficácia e simplicidade nos respecti<br />

vos procedimentos ... ";<br />

• A Apormed refere-se a outro<br />

aspecto, de não menor importância,<br />

que é o de qualidade e de<br />

certificação de empresas e<br />

produtos.<br />

Refere-se esta associação à incongruência<br />

patente na comercialização<br />

de dispositivos médicos<br />

em Hospitais em fase de<br />

instalação para a qual é necessário<br />

alvará de obras públicas e<br />

não por exemplo um alavará de<br />

"Fornecedor <strong>Hospitalar</strong>", este<br />

com a possibilidade de ser periodicamente<br />

obtido através de<br />

~ntidade competente.<br />

A semelhança da Apifarma também<br />

a Apormed alerta para o<br />

acréscimo dos custos de processamento<br />

de procedimentos mais<br />

numerosos (como por exemplo o<br />

ajuste directo) de maior volume<br />

de documentos, de garantia de<br />

empresas em circulação, bem<br />

como pela carga burocrática<br />

em geral, que contrariamente<br />

ao que o diploma preconiza<br />

vem, indubitavelmente, acarretar.<br />

1<br />

40 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />

Acontecimento<br />

w<br />

e<br />

'-=><br />


'"'e>spital al>erte><br />

existentes no vetusto Hospital da<br />

Misericórdia, no pavilhão Cirúrgico<br />

e na antiga maternidade. A segunda<br />

fase ficou concluída em 1985.<br />

Actualmente, o HSL integra a unidade<br />

de saúde de Viana do Castelo,<br />

recentemente criada por despacho de<br />

24/03/95 do Secretário. de Estado da<br />

Saúde, tendo uma área de atracção<br />

que corresponde, basicamente, ao<br />

distrito de Viana do Castelo.<br />

De acordo com o despacho 36/86, é<br />

um Hospital de nível 3, que possui,<br />

para além das especialidades médico­<br />

-cirúrgicas de base, especialidades<br />

diferenciadas e algumas altamente<br />

diferenciadas.<br />

Departamentos/Serviços<br />

com Internamento<br />

Dep. Medicina ................................ 102<br />

- Dermatologia<br />

- Endocrinologia<br />

- Gastrenterologia<br />

- Medicina Interna<br />

- Neurologia<br />

Dep. Cirúrgico ................................ 118<br />

- Cirurgia Geral<br />

- Cirurgia Plástica e Reconstrutiva<br />

- Estomatologia<br />

- Oftalmologia<br />

- Otorrinolaringologia<br />

- Urologia<br />

Dep. Psiquiatria e Saúde Mental.. .. .140<br />

Obstetrícia/ Ginecologia ..................... 5 6<br />

Pediatria/Neonatologia ..................... .37<br />

Ortopedia ......................................... 67<br />

Unidade de Cuidados Intensivos ........ 6<br />

TOTAL DE CAMAS ............. 526<br />

OBS - Serviço de Urgência .............. 13<br />

Consultas Externas<br />

-Adolescência<br />

- Cardiologia<br />

- Cirurgia Geral<br />

·,<br />

- Cirurgia Plástica e Reconstrutiva<br />

- Dermatologia<br />

- Dietética<br />

- Endocrinologia<br />

- Estomatologia<br />

- Fisiatria<br />

- Gastrenterologia<br />

- Ginecologia<br />

- Hematologia<br />

- Imuno-Hemoterapia<br />

- Medicina Interna<br />

- Neonatologia<br />

- Neurologia<br />

- Obstetrícia<br />

- Oftalmologia<br />

- Otorrinolaringologia<br />

- Pediatria<br />

- Pneumologia<br />

- Psicologia<br />

-Psiquiatria<br />

- Urologia<br />

Serviços de Diagnóstico<br />

e Terapêutica<br />

-Anatomia Patológica<br />

-Imagiologia<br />

-Imuno-Hemoterapia<br />

-Laboratório de Análises Clínicas<br />

- Medicina Física e Reabilitação<br />

-Unidade de Exames<br />

-Unidade de Oncologia<br />

Apesar da importância decrescente<br />

dos tradicionais dados de actividade<br />

assistencial para análise do desempenho<br />

das instituições, em face do<br />

crescente intercâmbio e colaboração<br />

institucional nas diferentes fases do<br />

tratamento dos doentes, não deixaremos<br />

de apresentar alguns.<br />

mesmo nível, muito embora se constatem<br />

algumas disfunções em alguns<br />

sectores pontuais se descermos à<br />

~nálise por GDH.<br />

E interessante verificarar que o<br />

número de doentes assistidos no<br />

Serviço de Urgência já foi, em 1994,<br />

bastante inferior àqueles que foram<br />

atendidos no sector do ambulatório<br />

programado, o que revela um trabalho<br />

de fundo de algumas especialidades<br />

em sede de organização e de<br />

desenvolvimento sistemático da sua<br />

capacidade de resposta.<br />

Os elementos assistenciais relativos<br />

à utilização dos serviços complementares<br />

de diagnóstico e terapêutica<br />

ctividade Assistencial 1993 1994<br />

Lotação (1)<br />

Doentes tratados (Internamento)<br />

Demora médica (Internamento)<br />

Doentes atendidos (Consulta Externa)<br />

Doentes assistidos (Urgência)<br />

(1) Excluindo SO e DPSM<br />

Da análise aos dados que reflectem o<br />

movimento assistencial no internamento<br />

hospitalar, podemos considerar<br />

uma produtividade global aceitável<br />

no centexto dos Hospitais do<br />

368<br />

13310<br />

7,7 dias<br />

81089<br />

82868<br />

368<br />

13236<br />

7,6 dias<br />

84497<br />

80240<br />

são prova de um crescimento espectacular<br />

destas áreas de actividade,<br />

apenas possível graças à conjugação<br />

de dois factores - a aposta no<br />

desenvolvimento tecnológico e o<br />

empenhamento dos profissionais envolvidos.<br />

Meios Complementares de Diagnóstico e Terapêutica<br />

Sectores de actividade 1993 1994<br />

Laboratório Análises Clínicas (análises)<br />

Imagiologia (exames)<br />

Cardiopneumografia (exames)<br />

Gastrenterologia (exames)<br />

Pneumologia (exames)<br />

Anatomia Patológica (exames)<br />

Ortóptica (tratamentos)<br />

Imuno-Hemoterapia (transfusões)<br />

Quimioterapia (tratamentos)<br />

Fisioterapia (tratamentos)<br />

Diversos (intervenções cirúrgicas)<br />

Com um bloco operatório constituído<br />

por cinco salas, o HSL tem mantido<br />

ao longo dos dois últimos anos uma<br />

produtividade estável de 25,1 intervenções/dia<br />

útil.<br />

De salientar igualmente o nível de<br />

actividade do Serviço de Anatomia<br />

Patológica que, com um quadro<br />

técnico constituído por apenas um<br />

médico e duas técnicas, executou no<br />

ano de 1994 um total de 6481 exames<br />

anátomo-patológicos.<br />

577.582<br />

55.577<br />

3.658<br />

1.068<br />

815<br />

6.176<br />

815<br />

12.782<br />

672<br />

27,622<br />

9.372<br />

615.673<br />

50.764<br />

3.736<br />

1.015<br />

1.049<br />

6.481<br />

1.459<br />

23.697<br />

457<br />

41.291<br />

9.892<br />

Movimentando anualmente verbas<br />

superiores a 5 milhões de contos,<br />

este Hospital contou com o OGE<br />

para suportar, no ano transacto,<br />

cerca de 85 % das suas necessidades<br />

financeiras, tendo o peso das receitas<br />

próprias vindo a crescer significativamente<br />

nos últimos anos.<br />

Sistematizando a acção dos órgãos<br />

de gestão nos últimos 3 anos, posso<br />

dizer que os grandes vectores de<br />

intervenção institucional se situam<br />

Recursos humanos em 31 de Dezembro<br />

Gr~pos profissionais 1992 1993 1994<br />

Pessoal dirigente<br />

Pessoal Técnico Superior<br />

•médicos<br />

•outros<br />

Pessoal de enfermagem<br />

Pessoal técnico<br />

• técnico diagnóstico e terapêutica<br />

•outros<br />

Pessoal administrativo<br />

Pessoal auxiliar<br />

Pessoal operário<br />

Outro pessoal<br />

TOTAL<br />

Com um quadro de pessoal desajustado,<br />

o HSL tinha, em 94.12.31, um<br />

total de 1010 trabalhadores ao seu<br />

serviço, distribuídos pela instituição­<br />

-sede e pelos Hospitais Psiquiátricos<br />

de Paredes de Coura e Gelfa, apresentando<br />

uma população hospitalar<br />

maioritariamente feminina (67% do<br />

total).<br />

Para tentar resolver este desajustamento,<br />

foi enviada, para aprovação<br />

superior, uma proposta de alteração<br />

do quadro de pessoal contemplando<br />

um aumento do número de lugares<br />

nas áreas médica, de enfermagem e<br />

auxiliar, fundamentalmente.<br />

6 6 6<br />

147 154 163<br />

17 14 19<br />

275 326 347<br />

35 46 45<br />

1 1 2<br />

90 95 92<br />

303 302 302<br />

28 26 31<br />

3 3 3<br />

895 973 1010<br />

na modernização e desenvolvimento<br />

da qualidade e capacidade técnica<br />

dos serviços hospitalares a par de um<br />

nível crescente de humanização de<br />

serviços e aproximação do Hospital à<br />

comunidade alto-minhota.<br />

Sem pretender ser exaustivo, gostaria<br />

de realçar as seguintes acções<br />

desenvolvidas ultimamente no contexto<br />

do primeiro vector referido:<br />

• a criação de uma Unidade de<br />

Exames e Tratamentos, um Gabinete<br />

de Informática, a reestruturação<br />

do Centro de Documentação, a<br />

constituição do Departamento de<br />

Educação Permanente de Educação<br />

Permanente Multiprofi.ssional;<br />

• a remodelação parcial do Serviço<br />

de Urgência, ampliando a área<br />

assistencial, melhorando as ligações<br />

funcionais entre os seus sectores<br />

integrantes e permitindo a<br />

criação de um sector de informações<br />

aos utentes; -<br />

• a introdução de novas técnicas<br />

operatórias, e outras·, mais eficazes<br />

e menos invasivas, como é exemplo<br />

a laparoscopia, a utilização de<br />

oxímetros com capnógrafos, etc;<br />

• Colocação ao serviço de uma<br />

ambulância medicalizada para<br />

transporte de doentes graves como<br />

os que necessitam de ventilação<br />

assistida;<br />

• o estabelecimento de protocolos<br />

de acordo com instituições de saúde<br />

altamente diferenciadas que, em<br />

áreas específicas, possam apoiar o<br />

HSL a desenvolver o seu potencial<br />

de intervenção técnica.<br />

No que concerne à humanização de<br />

serviços e à aproximação do HSL à<br />

comunidade que serve, saliento:<br />

• estabelecimento de protocolos de<br />

acordo com o Hospital Conde de<br />

Bertiandos - Ponte de Lima - para<br />

prestação nesta instituição·de consultas<br />

externas de variadas espeçialidades<br />

médicas e cirúrgicas ·e de<br />

colaboração num programa d~ cirurgia<br />

de alta precoce; ,<br />

• no domínio da reabilitação, o<br />

acordo com várias clínicas espalhadas<br />

pelo distrito, sliprindo carências<br />

evidentes dos serviços públicos<br />

nesta área;<br />

• acordos com diversas enti,des,<br />

públicas e privadas, para o tratamento<br />

de roupas e incineração de<br />

resíduos sólidos contaminados;<br />

• constituição de um Sector de Voluntariado<br />

e de um Centro de Informação<br />

e Aconselhamento de deficientes integrado<br />

na rede Handynet;<br />

• Criação de um sistema de informação<br />

aos utentes sustentada por<br />

rede televisiva e com programa<br />

informático próprio e ainda a<br />

divulgação de um Guia do Utente.<br />

Apesar do esforço desenvolvido e das<br />

concretizações que estão à vista, é<br />

evidente que há ainda um longo<br />

caminho a percorrer para que o<br />

Hospital de Santa Luzia possa assumir<br />

o nível qualitativo que os profissionais<br />

desejariam e a população<br />

merece e exige.<br />

42 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />

<strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> 43


al>erte><br />

Santa Luzia à espera<br />

de quadro actualizado<br />

O trabalho que o hospital hoje desenvolve e a qualidade de<br />

serviços que se lhe exige não são compatíveis com o seu actual<br />

quadro de pessoal - afirma Fernando Marques, administrador-delegaâo<br />

da instituição.<br />

ESTAO HOSPITALAR -<br />

-Desde há muitos anos<br />

que, no sector da saúde,<br />

se ouve falar da dificuldade<br />

de articulação entre os<br />

diferentes níveis de cuidados.<br />

Qual é o ponto da situação neste<br />

distrito?<br />

FERNANDO MARQUES - Julgo<br />

ser indiscutível e consensual a importância<br />

dessa temática. O que é<br />

deveras surpreendente é a manifesta<br />

ausência de resultados práticos em<br />

quase todo o território nacional,<br />

apesar de parecer, numa primeira<br />

análise, um problema de solução<br />

fácil e imediatista. No distrito de<br />

Viana do Castelo foram dados passos<br />

significativos na direcção certa, mas<br />

ainda estamos a alguma distância da<br />

verdadeira prestação de cuidados<br />

integrados. O conhecimento pessoal ·<br />

entre os protagonistas dos diferentes<br />

níveis de cuidados, como forma de<br />

acabar com a desconfiança instalada,<br />

uma efectiva unidade de comando<br />

na sub-região de saúde capaz de<br />

conduzir os dirigentes nas instituições<br />

em consonância com uma linha<br />

estratégica definida e previamente<br />

conhecida. Por último, é urgente<br />

inovar os métodos e a prática da<br />

44 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />

circulação da informação médico­<br />

-administrativa. Nos nossos distritos,<br />

alguns passos foram dados nesse<br />

sentido, mas muito há ainda a fazer<br />

para que possamos falar de uma<br />

verdadeira integração de cuidados<br />

de saúde.<br />

G .H. - De qualquer forma, são<br />

conhecidas algumas iniciativas<br />

bem conseguidas resultantes de<br />

um esforço conjunto entre instituições<br />

,de saúde desta zona ...<br />

F.M. - E verdade. A deslocação de<br />

médicos do Hospital de Santa Luzia<br />

de oito especialidades, médicas e<br />

cirúrgicas, para a realização de<br />

consultas externas no Hospital Conde<br />

de Bertiandos, de Ponte de Lima, é<br />

um exemplo feliz de uma forma de<br />

descentralização de serviços e da sua<br />

aproximação às populações. Em<br />

1994, realizaram-se, desta forma, no<br />

Hospital Conde de Bertiandos 8307<br />

consultas externas.<br />

Igualmente em conjunto com o Hospital<br />

Conde de Bertiandos, temos<br />

vindo a desenvolver um programa<br />

de Cirurgia de Alta Precoce, nas<br />

especialidades de Cirurgia Geral e<br />

Ginecologia, aproveitando, assim,<br />

uma disponibilidade de camas que<br />

já se torna difícil encontrar no<br />

hospital de Santa Luzia. Perante os<br />

bons resultados obtidos, em termos<br />

de lista de espera das patologias mais<br />

ligeiras nas especialidades referidas,<br />

iremos, dentro de dias, iniciar idêntica<br />

colaboração com o Centro de<br />

Saúde de Valença, num programa<br />

destinado a beneficiar os utentes<br />

dos concelhos da bacia do rio Minho,<br />

e alargado a mais algumas<br />

especialidades, como ORL e Oftalmologia.<br />

Existem outros acordos com instituições<br />

públicas de saúde do distrito nas<br />

áreas de reabilitação, tratamento de<br />

roupas e incineração de resíduos<br />

sólidos contaminados que, por razões<br />

diversas, não têm tido os resultados<br />

esperados.<br />

Uma dificuldade sentida desde que este<br />

hospital iniciou o seu funcionamento é a<br />

sistemática ausência de investimento<br />

de inovação, e até de substituição,<br />

dadas as insignificantes verbas atribuídas<br />

pelos sucessivos PIDDAC.<br />

G.H. - Para além da questão do<br />

sub-financiamento das unidades<br />

de saúde, sempre abordada nestas<br />

circunstâncias, que outras carências<br />

e dificuldades se apresentam<br />

ao Hospital de Santa Luzia?<br />

F.M. -As carências são naturalmente<br />

muitas, pois neste sector, por muito<br />

que se faça, haverá sempre muito<br />

mais para fazer. Contudo, permita-se<br />

que saliente a necessidade de ver<br />

aprovado um novo quadro de pessoal,<br />

mais compatível com o trabalho<br />

já desenvolvido neste momento e<br />

com o grau de diferenciação e a<br />

qualidade de serviços que se exigem<br />

desta instituição. Outra dificuldade<br />

sentida desde a data de início do seu<br />

funcionamento é a sistemática ausência<br />

de investimento de inovação,<br />

e até de substituição, dadas as<br />

insignificantes verbas atribuídas pelos<br />

sucessivos PIDDAC a este Hospital<br />

e as escassas verbas do orçamento<br />

de exploração não permitirem efectuar<br />

as substituições de equipamento<br />

desejáveis.<br />

G.H. - Para finalizar, gostaríamos<br />

de saber das suas expectativas<br />

para o futuro próximo.<br />

A deslocação de médicos do Hospital de<br />

Santa Luzia de oito especialidades,<br />

médicas e cirúrgicas, para a realização<br />

de consultas externas no Hospital<br />

Conde de Bertiandos, de Ponte de<br />

Lima, é um exemplo feliz de uma forma<br />

de descentralização de serviços e da<br />

sua aproximação às populações.<br />

Boehringer<br />

lngelheim<br />

<strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> 45<br />

F.M. - Sendo tantos os projectos,<br />

difícil se torna seleccioná-los. Todavia,<br />

permitam-me que distinga dois,<br />

de natureza completamente distinta.<br />

A imagem do Serviço de Urgência do<br />

Hospital de Santa Luzia junto dos<br />

utentes não é, seguramente, aquela<br />

que os trabalhadores desejariam.<br />

Nesta matéria importa congregar<br />

esforços dos responsáveis do Hospital,<br />

aos mais variados níveis, e dos<br />

dirigentes dos centros de saúde do<br />

concelho na procura de uma solução<br />

equilibrada e satisfatória, conscientes<br />

de que a satisfação da sufocante<br />

procura não é problema do Hospital<br />

de Santa Luzia mas responsabilidade<br />

de todos. A segunda preocupação<br />

tem a ver com a procura de uma<br />

solução de consenso com a Santa<br />

Casa da Misericórdia de Viana do<br />

Castelo sobre a propriedade do<br />

imóvel chamado Maternidade Velha,<br />

para onde se encontram previstas<br />

obras de remodelação com o<br />

objectivo de criar uma Unidade de<br />

Cirurgia do Ambulatório, uma Unidade<br />

de Oncologia e um novo Serviço<br />

de Medicina Física e de Reabilitação,<br />

um investimento que muito<br />

contribuirá para a melhoria da<br />

qualidade dos serviços de saúde<br />

prestados à população em áreas de<br />

crucial importância. •<br />

HOSPITAL<br />

DIVISION<br />

Value through innovation


Leituras<br />

I -<br />

E com profunda satisfação que a GESTA O<br />

HOSPITALAR, aconselha neste número,<br />

a leitura de um livro publicado por<br />

administradores hospitalares.<br />

O prof. Lopes dos Reis, doutorado em<br />

Lovaina e professor da Escola Nacional<br />

de Saúde Pública, h4 ~uito tempo que se<br />

vem dedicando às questões do<br />

aprovisionamento, regendo estas matérias<br />

na área da Saúde e em cursos superiores<br />

de <strong>Gestão</strong>.<br />

António Paulino é também um especialista<br />

na área do aprovisionamento com um<br />

curriculum profissional e docente<br />

por todos reconhecido.<br />

O carácter rigoroso, simples e didáctico<br />

desta obra, torna a leitura obrigatória para<br />

profissionais de aprovisionamento e para os<br />

gestores em geral.<br />

presente livro ocupa-se da<br />

matéria do aprovisionamento<br />

nos seus dois vectores<br />

fundamentais: a gestão<br />

dos stocks e as compras, razão de<br />

ser do seu título.<br />

Resultado de uma longa experiência<br />

dos seus autores no exercício<br />

da docência, da consultoria e da<br />

gestão do aprovisionamento, ele<br />

constitui a resultante destes três<br />

vectores, o que consideramos essencial<br />

para se conseguir a síntese<br />

ideal destas matérias com a clareza<br />

suficiente p~ra que estejam ao<br />

R. Lopes dos Reis*<br />

António Paulino *<br />

alcance de todos, sejam dirigentes<br />

interessados em melhorar o aprovisionamento<br />

nas suas empresas<br />

sejam iniciados no estudo destas<br />

técnicas.<br />

Nem sempre o aprovisionamento,<br />

mereceu o conveniente cuidado na<br />

gestão das empresas mas, nas<br />

últimas décadas tornou-se evidente<br />

como constitui um contributo<br />

apreciável para a sua rentabilidade.<br />

Apesar disso, são escassas<br />

as publicações sobre este assunto,<br />

no nosso país, daí se considerar<br />

que, o aparecimento deste livro. é<br />

extremamente oportuno.<br />

*Administradores hospitalares<br />

<strong>Gestão</strong> dos Stocks<br />

& Compras<br />

Rui Lopes dos Reis/<br />

António Paulino<br />

Livraria Internacional<br />

OLA NACIONAL DE<br />

AÚDE PÚBLICA<br />

ASSOCIAÇÃO<br />

PORTUGUESA DE<br />

ADMINISTRADORES<br />

HOSPITALARES<br />

"<br />

46 <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />

BIBLIOTECA


I,<br />

Medicamentos<br />

;..<br />

de<br />

Investigação Avançada

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