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Revista Março 2018 Final final

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Em condições anteriores de análise deste<br />

material os interesses se voltavam para os<br />

grandes nomes da música, seguindo um<br />

modelo que devota a todo o protagonismos<br />

da realização musical ao compositor e<br />

posteriormente ao intérprete, porém nos<br />

registros de interlocução da produção<br />

desses documentos, situam-se pelo menos<br />

quatro atores o compositor, o copista, o<br />

intérprete e o ouvinte ou receptor, sendo<br />

quase impossível entender a interface<br />

música e sociedade sem levá-los em<br />

consideração como rede social.<br />

O estudo desses documentos traz à tona<br />

práticas do escrito musical que destacam o<br />

copista como um sujeito se ocupa do<br />

registro musical, cumprindo um papel<br />

fundamental no quadrilátero compor,<br />

registrar, interpretar, ouvir.<br />

Um exemplo destes é o Copista Fructuoso<br />

Matos Couto, nascido em 1798, filho de<br />

Joaquina Allves de Oliveira, “crioula forra”<br />

conforme mencionado em seu Termo de<br />

Sacramento, sob a custódia do Arquivo<br />

Eclesiástico da Arquidiocese de Mariana.<br />

Os mestres de música e outros ofícios do<br />

século XVIII e XIX teriam desenvolvido uma<br />

concepçãoprópria de aulas públicas que<br />

permaneceram correntes até o <strong>final</strong> do<br />

século XIX. Não cobrariam pelas aulas,<br />

mas, em troca, seus aprendizes cantariam<br />

nas missas e em comemorações em que o<br />

mestre fosse empregado, conforme nos<br />

informa o pesquisador Curt Lange em suas<br />

publicações.<br />

Foi comum que os copistas de música se<br />

responsabilizassem por outras ocupações<br />

que demandassem habilidades da escrita<br />

como foi o caso de Emilio Soares de<br />

Gouvêa Horta Junior (1839-1907) muito<br />

atuante em Itabira do Mato Dentro ( Hoje<br />

Itabira), Leôncio Francisco das Chagas<br />

(1848 -1912) atuante em Lamim e<br />

Itaverava e Frutuoso Matos Couto (1797-<br />

c.1857), do Inficionado de Santa Rita,<br />

Marina, nomes muito presentes no acervo<br />

do Museu da Música que além de músicos<br />

foram professores do primário, escritores, e<br />

no caso do próprio Frutuoso Matos Couto,<br />

conforme mencionado no campo ocupação<br />

das listas nominativas do século XIX,<br />

mencionado no trabalho Cópia Musical e<br />

Contexto Social na Música Mineira do<br />

Século XIX, escrito por Francisco de Assis<br />

Gonzaga da Silva para os anais no VI<br />

Encontro de Musicologia Histórica,<br />

Frutuoso Matos Couto foi Escrivão de paz<br />

da presidência da Junta Qualificadora da<br />

subdelegacia de Mariana.<br />

Dispomos como “fonte tridimensional”, da<br />

sua possível “batuta”, que, na verdade,<br />

parece-se muito com uma palmatória ou<br />

férula. Foi comum que o objeto fosse usado<br />

para cumprir o castigo na organização<br />

escolar. Esse caso demonstra que a<br />

aprendizagem da música e de outras<br />

disciplinas, como as primeiras letras,<br />

podem ter se mesclado, tornando-se quase<br />

indissociáveis à percepção do presente.<br />

Tendo em vista os gêneros e formas<br />

musicais que esses mestres copiavam, é<br />

possível que incorporou-se, naquelas<br />

comunidades incluindo-se as escolas, a<br />

prática interpretativa da música sacra,<br />

afrodescendente, marcial e de salão.<br />

Detalhe manuscrito - Vitor Gomes<br />

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