EFEITOS DO TABACO NA FECUNDIDADE E NA GRAVIDEZ* - BIPS
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página04<br />
PREVENIR A RECAÍDA A SEGUIR AO PARTO<br />
Está demonstrado que o uso de Bupropiona<br />
facilita a prevenção da recaída a seguir ao<br />
parto e que este resultado é independente<br />
do diagnóstico de Depressão Major no<br />
passado (Cox et al., 2004). Considerando<br />
ainda que chega ao bebé apenas uma<br />
quantidade mínima da substância activa, a<br />
Bupropriona reúne as condições necessárias<br />
para ser utilizada com a finalidade de evitar<br />
a recaída em mulheres a amamentar<br />
(Tobacco Control 2004; 13: 52-56).<br />
Apesar desta recomendação, que está a ser<br />
assumida nas Normas de Orientação<br />
Clínica para Tratamento do Tabagismo em<br />
vários países, a prevenção da recaída não<br />
deve ser reduzida ao uso de medicamentos.<br />
De acordo com as abordagens baseadas<br />
no Modelo Transteórico da Mudança<br />
(Prochaska e Diclemente, 1992), que é o<br />
modelo mais utilizado no tratamento dos<br />
comportamentos aditivos em países como<br />
o Canadá e os EUA, as tentativas bem<br />
sucedidas para deixar de fumar assentam<br />
em 4 estratégias principais. O Modelo<br />
Transteórico define as estratégias de<br />
mudança como os actos, os sentimentos e<br />
os pensamentos da pessoa que está a tentar<br />
mudar relativamente ao problema e à<br />
mudança em causa. O terapeuta ou o<br />
profissional de saúde deve activar essas<br />
estratégias de modo a contribuir para a<br />
mudança. Quando o objectivo é prevenir a<br />
recaída, as estratégias chave são: relação<br />
de ajuda e suporte (construída com base<br />
na aceitação do outro, na compreensão dos<br />
seus problemas e na confiança mútua),<br />
gestão de reforços (administração de<br />
recompensas relacionadas com a mudança<br />
pelo próprio ou por outras pessoas<br />
próximas), contra-condicionamento<br />
(descobrir alternativas para lidar com as<br />
situações e os problemas onde o<br />
comportamento tem uma função<br />
importante) e controlo de estímulos (evitar<br />
ou controlar estímulos e situações que<br />
estimulam o comportamento em causa).<br />
Outra recomendação crucial quando se<br />
trabalha com a mudança de<br />
comportamentos é ter sempre em conta as<br />
características próprias da pessoa com<br />
quem trabalhamos. A abordagem deve ser<br />
centrada no outro. Nestas situações<br />
aplicam-se os princípios “cada caso é um<br />
caso” e cada história é única. No caso das<br />
mulheres grávidas que fumam, existem<br />
muitas características comuns, mas também<br />
existem diferenças e particularidades em<br />
cada caso. Querer resolver os problemas<br />
da mulher grávida que fuma através da<br />
desejada “cura milagrosa” é obviamente<br />
uma utopia que não podemos realizar nem<br />
devemos alimentar.<br />
Vários estudos concluíram que, para evitar<br />
a recaída a seguir ao parto, é essencial não<br />
cair no erro de centrar o tratamento do<br />
tabagismo apenas nas vantagens de não<br />
PRINCÍPIOS DA ABORDAGEM MOTIVACIO<strong>NA</strong>L<br />
A Abordagem Motivacional é um método<br />
directivo, centrado na pessoa, destinado a<br />
aumentar a sua motivação para mudar<br />
através da exploração e resolução da<br />
ambivalência. Este artigo apresenta os<br />
princípios deste método que tem<br />
conseguido bons resultados em casos de<br />
dependências e, também, na mudança de<br />
outros comportamentos de risco<br />
(alimentação incorrecta, sedentarismo,<br />
stresse, …).<br />
De acordo com os seus autores (Miller e<br />
Rollnick, 1992), a Abordagem Motivacional<br />
baseia-se em 4 princípios gerais:<br />
1.º - EXPRESSAR EMPATIA<br />
Empatia implica olhar para a realidade<br />
através dos olhos do cliente, pensar sobre as<br />
coisas como pensa o cliente, sentir como o<br />
cliente sente, enfim, partilhar as experiências<br />
do cliente. Expressar empatia é crucial na<br />
Abordagem Motivacional. Quando o cliente<br />
se sente compreendido, sente-se também<br />
mais seguro e confiante para se abrir e<br />
partilhar as suas experiências. Também assim<br />
o cliente sente-se mais confortável para<br />
enfrentar e discutir a sua ambivalência sobre<br />
a mudança e defende-se menos relativamente<br />
aos seus problemas.<br />
2.º - REFORÇAR AUTO-EFICÁCIA<br />
Auto-eficácia é a confiança do cliente na sua<br />
capacidade para resolver um problema e<br />
mudar. Esta confiança é uma fonte importante<br />
de motivação para a mudança e deve ser<br />
desenvolvida e reforçada no aconselhamento.<br />
Por exemplo, o profissional de<br />
saúde deve discutir com o seu cliente outras<br />
tentativas já realizadas para mudar<br />
comportamentos relevantes para a saúde<br />
e enfatizar as conquistas já realizadas e as<br />
aprendizagens que possam ter ficado<br />
dessas experiências.<br />
3.º - LIDAR COM A RESISTÊNCIA<br />
Através da abordagem motivacional a<br />
resistência do cliente face à mudança tende<br />
a diminuir porque as respostas do tipo<br />
“advogado do diabo” ou de contestação às<br />
propostas do profissional não são reforçadas.<br />
A Abordagem Motivacional encoraja os<br />
clientes a encontrar e adoptar as suas próprias<br />
fumar durante a gravidez e nos benefícios<br />
para o bebé (Curry et al., 2001; Scheibmeir,<br />
2000). Se o profissional adoptar esta<br />
estratégia, a recaída a seguir ao parto será<br />
bastante provável. É importante tratar o<br />
tabagismo na gravidez de modo mais<br />
global, integrando na abordagem<br />
terapêutica os diferentes elementos<br />
relacionados com o uso do tabaco.�<br />
Cox, Lisa-Sanderson et al. (2004) Efficacy of<br />
Bupropion for relapse prevention in smokers with<br />
and without a past history of major depression.<br />
Journal of General Internal Medicine. Aug 2004;<br />
vol 19 (8): 828-834.<br />
Curry, Susan J. et al.(2001) Motivation for smoking<br />
cessation among pregnant women. Psychology of<br />
Addictive Behaviors. Jun 2001; vol. 15(2): 126-132.<br />
Prochaska, J., Diclemente, C. et Norcross, J.C.<br />
(1992) In search of how people change,<br />
applications to addictive behaviors. American<br />
psychologist, pp.1102-1144.<br />
Scheibmeir, Monica S. (2000) Examination of causal<br />
factors associated with smoking status during<br />
pregnancy. Dissertation Abstracts International:<br />
Section B: The Sciences and Engineering. March<br />
2000; vol 60 (8-B): 3854.<br />
Tobacco Control 2004; 13 : 52-56<br />
soluções para os problemas que eles próprios<br />
identificaram e definiram. A tradicional<br />
hierarquia entre profissional de saúde e cliente<br />
tende a esbater-se na Abordagem<br />
Motivacional.<br />
4.º - AMPLIFICAR DISCREPÂNCIAS<br />
Segundo Miller, “a motivação para mudar<br />
surge quando as pessoas percebem a<br />
discrepância entre aquilo que fazem e aquilo<br />
que acham que deveriam fazer (ou entre<br />
aquilo que são e o que acham que deveriam<br />
ser)”. Amplificar esta discrepância é uma<br />
estratégia muito utilizada na Abordagem<br />
Motivacional. Quando os clientes percebem<br />
que o seu comportamento não está em<br />
consonância com os seus valores ou objectivos<br />
ficam mais motivados para realizar mudanças<br />
importantes na sua vida.�<br />
Miller, W. R., Zweben, A., DiClemente, C. C., &<br />
Rychtarik, R. G. (1992). Motivational Enhancement<br />
Therapy manual: A clinical research guide for<br />
therapists treating individuals with alcohol abuse<br />
and dependence. Rockville, MD: National Institute<br />
on Alcohol Abuse and Alcoholism.