PÁGINA ABERTA ADALBERTO DA COSTA JÚNIOR, LÍDER DA BANCADA PARLAMENTAR DA UNITA “A RAZÃO QUE ALIMENT PELO GRADUALISMO É A 12 Figuras&Negócios - Nº 192 - MAIO 2018
PÁGINA ABERTA O líder da bancada parlamentar da UNITA, Adalberto da Costa Júnior, reitera a visão do seu partido que defende a realização universal de eleições autárquicas no país frisando que a aplicação da opção gradual vai acentuar mais as assimetrias sociais entre as diferentes regiões do país. Sobre o tema, pede um <strong>amp</strong>lo debate nacional que leve em consideração as propostas dos diferentes partidos políticos e realça que é necessário colocar os interesses da nação acima do que as forças políticas defendem. Ao longo da conversa, chama atenção para os problemas sociais gravíssimos que Angola enfrenta, lembrando que,por exemplo, o grupo parlamentar da UNITA tinha feito um estudo rigoroso do número de mortes nos principais hospitais, durante a crise de febres hemorrágicas registada no país. "Nós víamos óbitos em todos os lados!. Neste estudo, tivemos a colaboração de médicos, chefes de morgues, directores de cemitérios; tínhamos a estatística diária e, num mês, apurámos que morreram nove mil pessoas. É escandaloso, é perigoso!", afirma. Texto: Suzana Mendes / Fotos: George Nsimba Figuras&Negócios (F&N): Vamos começar pela questão política da actualidade: as autarquias. A UNITA pretende eleições autárquicas universais em todos os municípios. Porquê mais este “cavalo de batalha”? Adalberto da Costa Júnior (A.C.J.): Este “cavalo de batalha” não é novo. Logo no início do processo do pós-paz, de 2002, a UNITA defendeu a posição de que deveríamos realizar primeiro as eleições autárquicas, antes das gerais. Tentámos este calendário, sempre fizemos a leitura de que as autarquias nos permitiriam uma pequena revolução mesmo que sem os benefícios de uma governação autárquica, tendo em conta a necessidade e a tentativa de transferir o poder vertical, absolutamente vertical, que caracteriza o comportamento deste país desde o pós-independência para um poder horizontal, mais democrático, com benefícios imediatos, só nesta transformação. A excessiva concentração do poder também incentiva a corrupção, a execução dos orçamentos concentra-se no sistema central. Por isso, somos absoluta- mente defensores das autarquias, pois garantem mais direitos para os cidadãos, trazem mais responsabilização e um poder mais democrático. F&N: Para além do que focou, é evidente que há muita disparidade entre os diferentes municípios. A forma como as autarquias deverão ser implantadas não deveria ser alvo de um debate mais <strong>amp</strong>lo? A.C.J.: É o que pretendemos. Começo pela questão da diferenciação. A postura do passado incrementou ainda mais estas diferenças. Se partirmos para a organização de autarquias diferenciadas, vão se entender as consequências negativas deste diferenciamento que já vem de trás. Quanto mais tarde todos os municípios acederem a uma nova realidade político institucional, mais diferença vamos ter entre ricos e pobres, mais falta de sintonia entre o litoral e o interior. O desenho que o Executivo propõe é de que vamos fazer autarquias onde há um concentrado maior de população e vamos deixar os outros até 2035, como se tivéssemos a garantia de que serão os mesmos a governar o país até 2035.(...) Está mais do que provado que em todos os países que abraçaram as autarquias o poder local tornou-se um complemento extremamente importante no combate à pobreza. O poder local torna-se um parceiro da governação central, que só traz benéficos (que não são automáticos). (...) (...) Estamos convictos de que a única razão que alimenta o MPLA nas opções do gradualismo geográfico A O MPLA HEGEMONIA” Figuras&Negócios - Nº 192 - MAIO 2018 13