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DOSSIER<br />
Dr. Maurílio Luiele,<br />
Deputado da bancada da Unita<br />
“<br />
Esta Lei é uma<br />
verdadeira oração à impunidade<br />
e, portanto, frontalmente<br />
contrária ao combate<br />
à corrupção. Não há de<br />
resto, combate à corrupção<br />
que resista à impunidade”-<br />
Maurílio Luiele<br />
“<br />
no exterior se tiver convertido este<br />
dinheiro em património imobiliário,<br />
por exemplo, não terá nada<br />
para repatriar. “Daqui a três anos<br />
fará a operação inversa e não terá<br />
obrigação de repatriar coisa alguma”,<br />
argumentou.<br />
Maurílio Luiele acha que, tendo<br />
declarado durante a discussão na<br />
especialidade que não sabe quanto<br />
dinheiro prevê repatriar ao abrigo<br />
desta Lei, nem sabe sequer quem<br />
são os sujeitos que devem fazê-lo, o<br />
Governo está na verdade a dar um<br />
tiro no escuro a ver se caça alguma<br />
coisa. “Nada mais falso e irresponsável.<br />
A ser verdade, todo o exercício<br />
no sentido da aprovação da Lei terá<br />
sido fútil e absolutamente desnecessário”,<br />
considera o parlamentar.<br />
Para si, o facto de os sujeitos<br />
candidatos a repatriar capital não<br />
serem obrigados a fazer qualquer<br />
declaração estando toda a operação<br />
de repatriamento submetida à regra<br />
do sigilo bancário; o facto de os valores<br />
repatriados ainda que obtidos<br />
e domiciliados no exterior de forma<br />
ilícita pertençam integralmente à<br />
pessoa que cometeu tais ilícitos,<br />
abrindo o Estado mão de qualquer<br />
ressarcimento, “isto, de qualquer<br />
ângulo que se analise é indiscutivelmente<br />
uma acção de branqueamento<br />
de capitais”.<br />
E faz o seguinte exercício:“A Lei<br />
promete o repatriamento coercivo<br />
se ao cabo de 180 dias as pessoas<br />
sem nome e sem rosto não procederem<br />
ao repatriamento dos seus<br />
activos financeiros domiciliados no<br />
exterior. Nada mais falacioso! Enfim,<br />
esta Lei é uma verdadeira oração à<br />
impunidade e, portanto, frontalmente<br />
contrária ao combate à corrupção.<br />
Não há de resto, combate à corrupção<br />
que resista à impunidade”.<br />
Remata Maurílio Luiele.<br />
Por seu turno, a associação angolana<br />
de defesa dos direitos humanos<br />
"Mãos Livres", acaba de tornar<br />
público um relatório que apresenta<br />
nomes de presumíveis infratores,<br />
contas bancárias, e outros dados que<br />
incluem as transações feitas. Segundo<br />
Salvador Freire, advogado e presidente<br />
da "Mãos Livres", já que "foi dito<br />
pelo próprio Governo angolano que<br />
tem dificuldades para localizar as contas<br />
bancárias, e como nós associação<br />
Mãos Livres, temos feito este trabalho<br />
de investigação, com determinadas<br />
organizações não só nacionais, mas<br />
também internacionais, decidimos<br />
dar a nossa contribuição, dispensando<br />
relatórios que vêm com todos os dados<br />
importantes, onde constam as contas<br />
bancárias, os valores retirados e,<br />
naturalmente, a transação que foi feita<br />
dentro deste processo de corrupção".<br />
Em declarações à Deutch Welle,<br />
Salvador Freire explicou que trata-<br />
-se (apenas) do primeiro relatório<br />
sobre o assunto, já que a associação<br />
que preside "está disposta a dar mais<br />
outras contribuições, caso o Governo<br />
angolano esteja interessado”.<br />
“Há envolvimento de personalidades,<br />
de figuras de proa, e como<br />
tal, é necessário que estas denúncias<br />
funcionem. É necessário que<br />
as autoridades prestem atenção às<br />
organizações da sociedade civil, que<br />
têm trabalhado com outras organizações<br />
internacionais, que sabem, de<br />
facto, como funciona este processo<br />
de corrupção feito por angolanos",<br />
afirmou.<br />
Para o jurista angolano, há todo<br />
o interesse de salvaguardar os<br />
nomes de determinadas pessoas,<br />
acrescentando que se o próprio Governo<br />
tem dificuldades em localizar<br />
estas pessoas que estão envolvidas<br />
em actos ilícitos, a “ Mãos Livres” vai<br />
apresentar nomes e provas”.<br />
“É um desafio que fazemos ao<br />
próprio Governo angolano, e vamos<br />
Salvador Freire,<br />
Presidente da Associação Mãos Livres<br />
ver qual será a reacção", sublinha<br />
Salvador Freire à D.W., sublinhando<br />
que "se, de facto, o Governo não conseguir<br />
chamar estas pessoas, porque<br />
estão ligadas ao próprio partido que<br />
governa o país, (…) então vamos<br />
dizer que o Governo não tem capacidade<br />
para combater a corrupção”.<br />
60 Figuras&Negócios - Nº 192 - MAIO 2018