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DOSSIER<br />
do investimento directo estrangeiro,<br />
que o dinheiro que saiu de Angola<br />
suplanta em 4 mil milhões de dólares<br />
norte-americanos o que entrou.<br />
O país recebeu USD 8 mil milhões<br />
e viu partir USD 12 mil, conforme<br />
atesta o relatório económico do CEIC<br />
relativo ao ano passado, elaborado<br />
mediante dados oficiais.<br />
“<br />
A vice-presidente<br />
da organização, Filomena<br />
Oliveira, que andou à espera<br />
de uma legislação ajustada<br />
às promessas feitas<br />
por João Lourenço, afirma<br />
que o regresso do dinheiro<br />
‘’tirado de forma ilícita’’ é<br />
uma afronta a empresários<br />
em risco por falta de incentivos<br />
para a competitividade<br />
que se impõe<br />
“<br />
Logo à primeira vista, a inversão<br />
de marcha em relação aos números<br />
do investimento directo estrangeiro<br />
de 2016 aponta descortina um paradoxo,<br />
uma vez analisada a palavra<br />
de ordem do agora Chefe de Estado,<br />
mas o investigador Preciso Domingos<br />
prefere não entrar por aí.<br />
O economista alerta para a falta<br />
de confiança nas políticas monetária<br />
e orçamental, incapazes de segurar<br />
os capitais no mercado angolano.<br />
De acordo com o académico, o<br />
sistema bancário impede o levantamento<br />
da moeda estrangeira, mesmo<br />
para quem possua fundos próprios,<br />
e permite a quem não os tenha a<br />
obtenção a partir do Kwanza. ‘’Em<br />
função destas incertezas, as pessoas<br />
lutam para transferir para outros<br />
sítios, onde consigam movimentar’’,<br />
sustenta o investigador do CEIC, que<br />
insta o Banco Nacional de Angola a<br />
trabalhar para dar resposta às forças<br />
centrífugas (saída de divisas) e promover<br />
o inverso.<br />
AFINAL, QUANTO<br />
TEMOS LÁ FORA?<br />
Ao afirmar, numa<br />
sessão parlamentar,<br />
que o Governo desconhece<br />
o montante<br />
existente no exterior,<br />
o secretário para os<br />
Assuntos Políticos, Constitucionais<br />
e Parlamentares da Presidência da<br />
República, Marcy Cláudio Lopes,<br />
adensou o cenário de dúvidas em<br />
torno do assunto do momento,<br />
relegando para a insignificância<br />
pronunciamentos de colegas da<br />
sua própria equipa.<br />
Um dos colegas, o governador<br />
do Banco Nacional de Angola, José<br />
de Lima Massano, que até esteve<br />
na Assembleia Nacional a ouvir as<br />
declarações de Marcy Lopes, é o<br />
mesmo que avançou a existência<br />
de 30 mil milhões de dólares, sem<br />
nunca se ter referido a ‘’dinheiros<br />
lícitos ou ilícitos’’, o ponto que<br />
aquece o debate.<br />
Quando falou dos depósitos<br />
angolanos no estrangeiro, no fecho<br />
de um seminário promovido pelo<br />
MPLA, o governador do banco central<br />
adiantou que a lista, dominada<br />
por bancos comerciais, inscreve<br />
alguns particulares.<br />
Meio ano depois, um secretário<br />
do PR salienta que não se conhecem<br />
os números, argumentando que<br />
não se estaria a tratar deste assunto<br />
com a informação disponível.<br />
Na sequência da posição de<br />
Marcy Lopes, a jurista Mihaela<br />
Webba, deputada da UNITA, cedo<br />
questionou o facto de José de Lima<br />
Massano ter feito tal revelação,<br />
lembrando, num debate radiofónico,<br />
que algumas organizações<br />
internacionais, entre as quais a Human<br />
Rights Watch, apresentaram<br />
à opinião públicos valores na casa<br />
dos 400 mil milhões de dólares.<br />
Admitindo que não se conheça<br />
o montante a repatriar, vários analistas<br />
olham para este vazio como<br />
reflexo de um sistema financeiro<br />
bastante fragilizado, sem uma banca<br />
capaz de detectar e controlar os<br />
movimentos.<br />
64 Figuras&Negócios - Nº 192 - MAIO 2018