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Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019 1


2 Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019


CARTA DO EDITOR<br />

A<br />

escritora Elsa Major é<br />

conhecida por ter uma<br />

pena brilhante domina<br />

o mundo literário - um<br />

espaço privilegiado que<br />

conquistou com muita<br />

tenacidade- mas tenta ser o mais transparente<br />

possível quando é "atiçada" a<br />

ventilar as suas ideias sobre o momento<br />

político do país. Pois é. Foi o que o<br />

jornalista Venceslau Mateus, nosso colaborador<br />

permanente, fez com argúcia<br />

e a escritora não esteve "pelas curvas".<br />

Para si, Angola, em algum momento,<br />

iria sofrer mudanças substanciais.<br />

"Assistimos a alguns indícios políticos e<br />

sociais que divisavam novos rumos; era<br />

inevitável e é bem chegada a hora da<br />

mudança!"- diz Elsa Major.Atenta, em<br />

Página Aberta, destaca a necessidade<br />

de se colocar "Angola em primeiro lugar".<br />

“Somos todos chamados a contribuir,<br />

sem qualquer tipo de distinção, e<br />

colocar Angola em primeiro lugar. Angola<br />

é um projecto de todos os angolanos,<br />

não podemos nos consubstanciar<br />

em minorias”, alerta.<br />

Nesta edição, os caros leitores poderão<br />

acompanhar outras abordagens<br />

sobre a actualidade política, económica,<br />

social, cultural e desportiva do país<br />

e do mundo, sustentada numa pauta<br />

em que sobressaiem obviamente temas<br />

de grande interesse público, desde o<br />

facto de se ter assistido a um autêntico<br />

"banquete" nas fábricas têxteis,<br />

onde se investiu mais de mil milhões<br />

de dólares,passando pelo desempenho<br />

miserável da nossa selecção nacional<br />

sénior de futebol no CAN do Egipto, bem<br />

como várias abordagens sobre a participação<br />

de Angola em vários fóruns internacionais,<br />

em que o país foi representado<br />

ao mais alto nível do executivo e dos<br />

diferentes departamentos ministeriais.<br />

Referimo-nos à Cimeira dos Chefes de<br />

Estado da SADC, por exemplo, e ao fórum<br />

de empresários nacionais.<br />

João Lourenço, o Presidente da<br />

República,continua a sua cruzada contra<br />

a corrupção, o nepotismo e a impunidade<br />

e disto vai dando conta em diversos<br />

actos da sua governação que no<br />

próximo mês de Setembro vai assinalar<br />

dois anos, desde que foi eleito Presidente<br />

da República.Destacamos, pois,<br />

este compromisso assumido em todas<br />

as esferas e que a todos tem levado a<br />

uma reflexão séria sobre o seu desenvolvimento.Boa<br />

leitura!<br />

Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019 3


08<br />

PÁGINA ABERTA<br />

ELSA MAJOR<br />

EM ANGOLA ERA INEVITÁVEL A HORA DA MUDANÇA<br />

3. CARTA DO EDITOR<br />

7. PONTO DE ORDEM<br />

TRIBUTO A MANDELA<br />

12. NOTAS DE IMPRENSA<br />

14. NOTÍCIAS BREVES<br />

16. PAÍS<br />

50. DESTAQUE<br />

60. MUNDO<br />

64. DESPORTO<br />

67. FIGURAS DE JOGO<br />

68. SAÚDE & BEM-ESTAR<br />

20. SOCIEDADE<br />

23. MAHEZU<br />

24. FIGURA DO MÊS<br />

28. POLÍTICA<br />

30. REPORTAGEM<br />

36. COMUNICADO DE IMPRENSA TV ZIMBO<br />

38. FIGURAS DE CÁ<br />

46. ECONOMIA & NEGÓCIOS<br />

49. NA ESPUMA DOS DIAS<br />

42.<br />

CULTURA<br />

MBANZA CONGO: UM PATRIMÓNIO CULTURAL<br />

COM VONTADE DE SE MOSTRAR À HUMANIDADE<br />

4 Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019


Publicação mensal de economia,<br />

negócios e sociedade<br />

Ano 20- n. º 202, Julho – 2019<br />

N. º de registo 13/B/97<br />

Director Geral: Victor Aleixo<br />

Redacção: Carlos Miranda,<br />

Júlia Mbumba, Sebastião Félix,<br />

Suzana Mendes e Venceslau Mateus<br />

Fotografia: George Nsimba<br />

e Adão Tenda<br />

Colaboradores:<br />

Édio Martins, Domingos Fragoso,<br />

Juliana Evangelista, João Marcos,<br />

João Barbosa (Portugal),<br />

Manuel Muanza, Rita Simões,<br />

52.<br />

Ana Kavungu, D.Dondo,<br />

Wallace Nunes (Brasil),<br />

Alírio Pina e Olavo Correia<br />

(Cabo-Verde), Óscar Medeiros<br />

(S.Tomé), Crisa Santos (Moda) e<br />

Conceição Cachimbombo (Tradutora).<br />

ÁFRICA Design e Paginação: Humberto Zage<br />

e Sebastião Miguel<br />

REPÚBLICA DEMOCRÁTICA DO CONGO Capa: Bruno Senna<br />

Publicidade: Paulo Medina (chefe),<br />

TSHISEKEDI INICIA GUERRA CONTRA REBELDES<br />

Gabriel Capapinha<br />

Tel: (+244) 937 465 000<br />

Assinaturas (geral):<br />

Katila Garcia<br />

Revisão: Baptista Neto<br />

Brasil:<br />

Wallace Nunes<br />

Móvel: (55 11) 9522-1373<br />

e-mail: nunewallace@gmail.com<br />

Inglaterra (Londres):<br />

Diogo Júnior<br />

12 - Ashburton Road Royal Docks<br />

- London E16 1PD U.K<br />

74.<br />

Portugal:<br />

Rita Simões<br />

Rua Rosas do Pombal Nº15 2dto<br />

2805-239<br />

Cova da Piedade Almada<br />

Telefone: (00351) 934265454<br />

Produção Gráfica:<br />

MODA & BELEZA<br />

Imprimarte (Angola)<br />

72.<br />

Cor Acabada, Lda (Portugal)<br />

Tiragem: 10.000 exemplares<br />

Direcção e Redacção:<br />

VIDA SOCIAL<br />

Edifício Mutamba-Luanda<br />

76.<br />

2º andar - Porta S.<br />

Tel: 222 397 185/ 222 335 866<br />

FIGURAS DE LÁ<br />

Fax: 222 393 020<br />

79.<br />

Caixa Postal - 6375<br />

E-mails: figurasnegocios@hotmail.com<br />

RECADO SOCIAL<br />

artimagem@snet.co.ao<br />

Site: www. figurasenegocios.co.ao<br />

Facebook:<br />

Revista Figuras&Negócios Angola<br />

Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019 5


6 Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019


Victor Aleixo<br />

victoraleixo12@gmail.com<br />

PONTO<br />

DE ORDEM<br />

TRIBUTO A MANDELA<br />

Angola foi um dos poucos países do mundo que não deverá ter<br />

feito o suficiente para homenagear o "Mandela Day". Poder-se-á<br />

apresentar a mais completa argumentação sobre tão gritante<br />

"súbito esquecimento" ou " curta memória colectiva", mas não se<br />

deve admitir que se passe, de forma tão leviana, por cima de tal<br />

efeméride. Foi como se o nosso país não fizesse parte do continente,<br />

da sua região austral e, sobretudo, não tivesse sido, também ele, um dos que mais<br />

se sacrificou para que a liberdade deste homem do mundo fosse um facto.Nem<br />

sequer isto fez com que certas mentes "adormecidas" pelo poder fétido e egos<br />

estupidificados parissem algumas ideias, por forma a recordar o legado de Nelson<br />

Mandela, um dos quais foi o de ter conseguido riscar do mapa um regime a todos<br />

os títulos desumano e violento na região.<br />

É verdade que se tenham registado alguns actos fugazes comemorativos do<br />

centenário do nascimento de Nelson Mandela. É verdade que os sul-africanos<br />

terão, no seu cantinho, homenageado um dos homens que mais lutou para que<br />

se libertassem do regime mais odiado do continente africano. É verdade que a<br />

União Africana terá feito alguns encontros sub-reptícios para lembrar a obra deste<br />

gigante que deixou um legado tão ou mais nobre do que dezenas, senão centenas<br />

de europeus, americanos ou asiáticos que fizeram a História dos Heróis destes e<br />

doutros tempos.<br />

Também é verdade que, na SADC, alguns países recordaram o dia do nascimento<br />

de Mandela como mais um marco histórico calendarizado para festejá-lo com<br />

orgulho, honra e dignidade, tal como o fazem com outros dias importantes para<br />

as suas gerações mais jovens, pois sabem que se estas seguirem os exemplos de<br />

Nelson Mandela, o seu futuro estará certamente melhor preenchido com mais<br />

acções benéficas que prejudiciais.<br />

Faço questão de recordar a importância do "18 de Julho" como um dia<br />

em que todos nós, conscientes da sua importância, nos devíamos orgulhar,<br />

homenageando aquele que foi, sem dúvidas, o africano que mais dignificou o<br />

continente-berço da humanidade. "Actuem, inspirem-se na mudança, façam de<br />

cada dia um Dia Mandela", exortou há dias a fundação que leva o seu nome, no<br />

âmbito das comemorações do centenário do nascimento do primeiro presidente<br />

negro da República sul-africana.<br />

Apesar de não se ter feito muito "estrondo mediático"sobre a efeméride, fica<br />

registado um facto aparentemente simples, mas significativo.No dia 18 de Julho<br />

não houve fogos de artifício, nem festas de arromba nos grandes salões da nobreza,<br />

mas se Mandela estivesse vivo, certamente agradeceria o gesto: na sua cidade<br />

natal , em Mvezo, na província de Cabo Oriental, no sudeste, foi inaugurada uma<br />

clínica.Agradeceria com a sua simplicidade,humildade e amor pelas crianças na<br />

sua procura incessante pela terra prometida, pela terra da liberdade, democracia<br />

e igualdade.<br />

O sonho de Mandela não foi cumprido tal como desejava e neste ano em que se<br />

comemorou mais um aniversário do seu nascimento, urge recordar os objectivos<br />

pelos quais foi capaz de submeter o seu corpo e a alma a uma série de sevícias, às<br />

quais poucos poderiam suportar.<br />

Está claro que, 25 anos após o fim oficial do Apartheid, a pobreza continua a<br />

fazer da vida dos sul-africanos um inferno; a economia está num sufoco e o racismo<br />

insiste em dividir a nação, provocando violentos conflitos internos. Mas, no meio<br />

de tanto desemprego também provocado pela má gestão dos imensos recursos<br />

naturais do país, apesar do quadro económico e social funesto, um nome continua<br />

a servir de farol para que se continue a lutar no sentido de fazer da África do Sul<br />

uma terra boa para que todos- negros, brancos e mestiços- possam viver em paz e<br />

harmonia, na igualdade de direitos.<br />

Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019 7


PÁGINA ABERTA<br />

A escritora Elsa Major destacou<br />

a necessidade de se colocar<br />

Angola em primeiro lugar,<br />

contribuindo com acções e<br />

ideias para o seu desenvolvimento<br />

e afirmação no contexto<br />

das nações. De acordo com<br />

a escritora, o procedimento<br />

deverá ser participativo.<br />

“Somos todos chamados a<br />

contribuir, sem qualquer tipo<br />

de distinção, e colocar Angola<br />

em primeiro lugar. Angola<br />

é um projecto de todos os<br />

angolanos, não podemos nos<br />

consubstanciar em minorias”.<br />

Para Elsa Major,as sociedades<br />

são dinâmicas e garante que<br />

Angola, em algum momento,<br />

iria sofrer mudanças substanciais.<br />

"Assistimos a alguns indícios<br />

políticos e sociais que<br />

divisavam novos rumos; era<br />

inevitável e é bem chegada a<br />

hora da mudança", afirma.<br />

Em entrevista à revista<br />

Figuras&Negócios, a autora da<br />

obra “Versos Confessos”, aborda,<br />

com especial interesse, o<br />

actual momento do mercado<br />

literário angolano e do seu<br />

dia-a-dia<br />

Entrevista: Venceslau Mateus<br />

Fotos: Elsa Major<br />

ELSA MAJOR<br />

EM ANGOLA<br />

ERA INEVITÁVEL<br />

A HORA DA MUDANÇA!!<br />

8 Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019


PÁGINA ABERTA<br />

Figuras&Negócios (F&N)<br />

– Publicou, recentemente,<br />

a sua segunda<br />

obra. O que nos pode<br />

dizer sobre este trabalho<br />

literário?<br />

E.M.: “Versos Confessos” é o título<br />

da minha segunda obra poética,<br />

cuja abordagem se encerra no mundo<br />

e nos fenómenos que se desenvolvem<br />

à minha volta e no meu interior:<br />

expresso o quotidiano, o amor, a saudade,<br />

as dores e as alegrias, com uma<br />

pitada de imaginação e revelação de<br />

sonhos poéticos. Refere-se também à<br />

nossa Angola, enfim, às vivências (…)<br />

F&N – A aposta continua a ser<br />

a poesia. Porque não outro género<br />

literário?<br />

Elsa Major (E.M).: Sou apaixonada<br />

pela poesia. A vida sem poesia não<br />

faz sentido! É nela onde encontro a<br />

minha essência e por isso a minha<br />

predilecção. Não consigo imaginar<br />

um mundo sem pinceladas poéticas...<br />

A sociedade precisa de poesia,<br />

sensibilidade e de amor.<br />

Os outros géneros literários também<br />

têm lugar na minha vida literária<br />

e oportunamente colocarei à disposição<br />

da sociedade.<br />

F&N – O que a impulsionou<br />

para apostar no mundo das letras?<br />

E.M.: Penso que não se aposta nas<br />

letras. A arte de escrever nasce connosco<br />

e se desenvolve a medida que<br />

se ganham hábitos de leitura, e da escrita<br />

- dois exercícios que dependem<br />

da exigência e acompanhamento,<br />

tanto da família como da escola. O<br />

processo de ensino e aprendizagem<br />

deve conter políticas que incentivem<br />

as crianças a desenvolverem hábitos<br />

de leitura. Felizmente tive uma boa<br />

orientação neste sentido, facto que<br />

me impulsionou a abraçar a escrita<br />

com responsabilidade.<br />

F&N – Onde ou como se inspira<br />

para a sua produção literária?<br />

E.M.: O poeta inspira-se até com<br />

o ar que respira, não há um lugar<br />

nem momento específico para a inspiração.<br />

O poeta vive em constante<br />

invasão dos espaços e se, por um<br />

lado, o quotidiano o impele a experimentações<br />

constantes, por outro<br />

lado, a imaginação o eleva a uma<br />

criatividade em que a melodia transcende<br />

o silêncio e as palavras deixam<br />

de ser somente palavras, pois o poema<br />

é uma oração e cada verso uma<br />

confissão.<br />

Hoje penso que não devemos ficar<br />

à espera da inspiração; o hábito<br />

pela escrita nos obriga a criar ambientes<br />

propícios e espaços inspiradores<br />

para o deleite.<br />

“<br />

O poeta vive em constante<br />

invasão dos espaços<br />

(...) a imaginação o eleva a<br />

uma criatividade em que a<br />

melodia transcende o silêncio<br />

e as palavras deixam de<br />

ser somente palavras, pois o<br />

poema é uma oração e cada<br />

verso uma confissão<br />

“<br />

F&N – Como caracteriza o estado<br />

actual da literatura angolana?<br />

E.M.: Observamos uma melhoria<br />

na literatura em Angola. Deixamos<br />

de constatar a letargia de há alguns<br />

anos e seguimos com atenção o aparecimento<br />

de mais escritores, produção<br />

de mais obras literárias, e de<br />

vários géneros. A juventude surge<br />

com a sagacidade que os tempos impõem,<br />

pese embora o facto de que as<br />

edições de livros terem custos muito<br />

elevados, factor que impede, sobremaneira,<br />

o maior e cabal desenvolvimento<br />

da literatura em Angola.<br />

Há, todavia, um longo caminho a calcorrear,<br />

e todos somos chamados<br />

a unir sinergias para alcançarmos<br />

o objectivo almejado, o que implica<br />

colocar livros no mercado em quantidade<br />

e qualidade, redução dos preço<br />

dos livros, aumento de bibliotecas<br />

e criação de bibliotecas nas escolas,<br />

desenvolvimento de políticas e projectos<br />

para incentivar o gosto pela<br />

leitura e pela escrita, essencialmente<br />

em crianças e jovens.<br />

Neste contexto, as organizações<br />

focadas na literatura têm esta responsabilidade.Porém,<br />

cabe essencialmente<br />

ao Executivo Angolano,<br />

isto é, aos Departamentos Ministeriais<br />

afins, implementar as políticas<br />

que concorram para o desenvolvimento<br />

da literatura de qualidade e,<br />

com certeza, os escritores angolanos<br />

estão dispostos a participar em todo<br />

este processo.<br />

F&N – Diz-se que o mercado regista<br />

escassez em termos de produção.<br />

O que se pode fazer para se<br />

reverter o quadro?<br />

E.M.: É verdade que se regista<br />

muita escassez de produção local,<br />

pois a maior parte dos livros publicados<br />

são editados fora do país.<br />

Em Angola a produção fica muito<br />

onerosa, o que dificulta a edição de<br />

obras no mercado. Este facto impede<br />

o desenvolvimento e a expansão da<br />

literatura angolana, dando lugar ao<br />

encarecimento dos livros.<br />

É evidente que o último aspecto<br />

que atrás referi também contribui<br />

para que a camada infanto-juvenil<br />

deixe de ter o livro como um amigo<br />

predilecto.<br />

F&N - O que deve ser feito para<br />

que não haja tanto custo?<br />

E.M.: Compete às instituições<br />

do Executivo Angolano, vocacionadas<br />

para o efeito, executar e implementar<br />

as políticas que concorram<br />

a redução dos custos de edição das<br />

obras. Um país sem leitores é um<br />

país sem esperança, sem futuro.<br />

F&N - Que acções podem contribuir<br />

para o incentivo ao gosto<br />

pela leitura no seio da juventude?<br />

E.M.: Aumentar o número de bibliotecas<br />

em escolas nas comunidades,<br />

incentivar e dar liberdade de escolha<br />

aos jovens dos temas, géneros<br />

literários, leitura e escrita constitui<br />

um desafio para o país. É necessário<br />

estabelecer parcerias entre a escola<br />

e a família, utilizar as tecnologias<br />

para estimular o gosto pela leitura e<br />

escrita criativa.<br />

F&N – Até que ponto a Lei do<br />

Mecenato pode ajudar para que<br />

Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019 9


PÁGINA ABERTA<br />

o livro chegue a um preço mais<br />

acessível ao consumidor final?<br />

E.M.: Atendendo que a Lei do<br />

Mecenato prevê as isenções fiscais,<br />

a sua implementação provocará a<br />

redução de custos na produção dos<br />

livros e concomitantemente um preço<br />

mais justo.<br />

F&N - Aponta-se à nova geração<br />

muitas deficiências. Não acha<br />

que está na hora de os mais velhos<br />

promoverem mais acções que levem<br />

a camada infanto-juvenil a<br />

mudar de atitude perante a sociedade?<br />

E.M.: As políticas do Executivo<br />

em relação a educação e a cultura e<br />

a respectiva implementação, constituem<br />

as marcas basilares para a criação<br />

do homem novo, e isto é uma responsabilidade<br />

do Estado. A família e<br />

a sociedade devem evidentemente<br />

contribuir para o fortalecimento<br />

dessas políticas.<br />

F&N - Como vê a convivência<br />

entre os escritores mais velhos e<br />

os mais novos?<br />

E.M.: Tem melhorado substancialmente<br />

e nota-se maior entrosamento<br />

entre os mais velhos e mais<br />

novos, sem descurar as diferenças<br />

que as considero legítimas. A medida<br />

que o tempo passa, mudam-se os estilos,<br />

as perspectivas, os interesses.<br />

Contudo, a qualidade depende em<br />

última instância de algumas editoras,<br />

por falta de critério e controlo de<br />

qualidade das obras para as colocar<br />

no mercado.<br />

“<br />

As sociedades são<br />

dinâmicas e é evidente que<br />

Angola, em algum momento,<br />

iria sofrer mudanças<br />

substanciais. Assistimos a<br />

alguns indícios políticos e<br />

sociais que divisavam novos<br />

rumos; era inevitável<br />

e é bem chegada a hora da<br />

mudança<br />

“<br />

F&N - A política do livro em Angola<br />

já satisfaz?<br />

E.M.: Ainda não satisfaz, porque<br />

o livro deve constar das prioridades<br />

do país, ser de abrangência total, inequívoca<br />

e não ficar somente em algumas<br />

capitais de províncias. O livro<br />

deve chegar em todos os municípios<br />

e comunas, para educar e prover o<br />

desenvolvimento são da mentalidade<br />

das crianças e dos jovens.<br />

F&N - Como o Estado deve actuar<br />

para consolidar a questão da<br />

identidade nacional e promover<br />

da melhor forma a cultura angolana<br />

no estrangeiro?<br />

E.M.: Somos um país que tem um<br />

número considerável de diplomas<br />

para dar resposta às questões peculiares<br />

da sociedade,mas pecamos<br />

na falta de implementação e, depois,<br />

tudo cai em letra morta.<br />

A promoção pode acontecer de<br />

dentro para fora de Angola ou incentivar<br />

os escritores, artistas e compositores<br />

angolanos que residem no<br />

estrangeiro a fazerem parte de um<br />

plano de acção previamente concebido<br />

pelo departamento ministerial<br />

correspondente para o efeito.<br />

Confesso que será mais produtivo e<br />

menos onerosa a segunda proposta,<br />

nesta fase - contudo, permitirá a<br />

divulgação e promoção efectiva da<br />

nossa cultura no exterior do país.<br />

Figuras como Barceló de Carvalho<br />

“Bonga”, José Luandino Vieira, Isabel<br />

Ferreira, Waldemar Bastos, Orlando<br />

Sérgio, Érica James, Dila Moniz,<br />

Ondina Ferreira, entre outros, são<br />

exemplos claros de promoção da cultura<br />

nacional no estrangeiro.<br />

F&N - Como vê hoje o país no<br />

novo ciclo político?<br />

E.M.: As sociedades são dinâmicas<br />

e é evidente que Angola, em algum<br />

momento, iria sofrer mudanças<br />

substanciais. Assistimos a alguns<br />

indícios políticos e sociais que divisavam<br />

novos rumos; era inevitável e<br />

é bem chegada a hora da mudança.<br />

O processo é irreversível e a liderança<br />

deve ser firme nas suas<br />

posições e decisões. Contudo, a prudência<br />

aconselha também a tender<br />

10 Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019


PÁGINA ABERTA<br />

para uma vertente de concertação<br />

interna, de forma a salvaguardar os<br />

interesses políticos e sociais já granjeados<br />

com muito sacrifício, pois<br />

momentos há em que se fica com a<br />

impressão de que se está a perder o<br />

norte.<br />

F&N – Acha que a sociedade<br />

está a conviver da melhor forma<br />

com essas mudanças?<br />

E.M.: Com toda a certeza e pelo<br />

que observamos, este país viverá um<br />

período de mudanças profundas e<br />

constantes, a curto e médio prazos,<br />

até entrarmos nos carris. Os jovens<br />

estão ávidos pelas mudanças!Hoje<br />

são agentes activos da política, fala-<br />

-se e discute-se em liberdade em<br />

todos os locais e isso é muito importante.<br />

É na juventude que a adrenalina<br />

permite aos jovens participarem<br />

nos grandes desafios sócio- políticos<br />

e sem medida, o fervor patriótico<br />

fala mais alto, pois a defesa dos<br />

ideais da pátria garantir-lhes-á um<br />

futuro melhor.<br />

F&N - Como pensa que a sociedade<br />

civil deve actuar, nesse novo<br />

quadro político?<br />

E.M.: O procedimento deverá ser<br />

participativo. Somos todos chamados<br />

a contribuir sem qualquer tipo<br />

de distinção e colocar “Angola” em<br />

primeiro lugar. Angola é um projecto<br />

de todos os angolanos; não podemos<br />

nos consubstanciar em minorias.<br />

F&N– De maneira global, que<br />

futuro antevê para Angola e quais<br />

os principais desafios?<br />

E.M.: Tenho esperança num país<br />

melhor, sem desigualdades, onde o<br />

“<br />

O processo é irreversível<br />

e a liderança deve<br />

ser firme nas suas posições<br />

e decisões. Contudo,<br />

a prudência aconselha<br />

também a tender para<br />

uma vertente de concertação<br />

interna, de forma a<br />

salvaguardar os interesses<br />

políticos e sociais já granjeados<br />

(...)<br />

“<br />

Estado desempenhe o seu verdadeiro<br />

papel, em atender às necessidades<br />

do povo, e desmistificar o dilema<br />

em que o povo tenha que agradecer<br />

ao governo porque ofereceu energia<br />

eléctrica, um pouco de água de um<br />

chafariz, um posto médico ou um hospital,<br />

escola e saneamento básico.<br />

Espero poder ver resolvidos os<br />

problemas da educação, saúde, alimentação,<br />

saneamento básico, habitação,<br />

assistência aos idosos, redução<br />

da pobreza extrema, e dos efeitos da<br />

seca, emprego para os jovens, enfim…<br />

ainda não estamos bem.<br />

QUEM É ELSA MAJOR ?<br />

Elsa M. Ventura Major<br />

C. Castellanos, natural<br />

de Namibe - Linguista.<br />

Professora de vários<br />

níveis de ensino e formadora em<br />

diversas áreas.<br />

Membro de organizações desportivas<br />

– dirigente desportivo,<br />

entre outras exerceu funções<br />

públicas e administrativas em<br />

alguns Departamentos Ministeriais.<br />

Começou a escrever pequenos<br />

versos ainda adolescente para<br />

complementar quadros de espectáculos<br />

culturais em associação<br />

infanto-juvenis e políticas.<br />

Assina epílogos e prólogos de<br />

escritores e argumenta discretamente<br />

participações nas áreas de<br />

escrita e conceitos literários.<br />

OBRAS PUBLICADAS<br />

“Versos Confessos” Poesia – 2019 – Edições Colibri –<br />

Lisboa;<br />

“Sensações, Emoções, Impressões” Poesia - livro<br />

apresentado em Março 2010, Editorial Minerva,<br />

Lisboa (Portugal) e em várias províncias de Angola.<br />

Co-autora da Antologia “Do Infinito”, Colectânea de Poesia<br />

Lusófona pela Editorial Minerva, (2010) Lisboa (Portugal);<br />

Co-autora em vários volumes da obra “Poesis” , Antologia<br />

de Poesia e Prosa Poética Portuguesa Contemporânea -<br />

Lusofonia, Editorial Minerva, Lisboa (Portugal) 1999-2011,<br />

Lisboa;<br />

Co-autora da obra “Janelas do Uni-verso” Colectânea de<br />

conto e Poesia da Lusofonia pela Editorial Minerva, (2010)<br />

Lisboa (Portugal);<br />

“Eclética” Colectânea (vários géneros literários) pela<br />

Edições Colibri, Lisboa 2017, Lisboa.<br />

Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019 11


NOTAS DE IMPRENSA<br />

PGR GARANTE:<br />

NÃO HÁ PROCESSOS-<br />

-CRIME CONTRA<br />

JOSÉ EDUARDO DOS SANTOS<br />

Em comunicado, a<br />

Procuradoria-Geral da<br />

República (PGR) de<br />

Angola nega qualquer<br />

instauração de um<br />

processo-crime contra<br />

José Eduardo dos Santos, depois<br />

de rumores de que o ex-Presidente<br />

teria sido notificado pelo DNIAP. A<br />

PGR reconheceu recentemente que<br />

a notificação enviada ao ex-Presidente<br />

do país José Eduardo dos<br />

Santos não teve em conta a imunidade<br />

de que este goza.<br />

Uma nota a que a agência Lusa<br />

teve acesso refere que a notificação<br />

a José Eduardo dos Santos para<br />

comparecer naquele órgão foi emitida<br />

por um funcionário da Direção<br />

Nacional de Investigação e Acção<br />

Penal (DNIAP).<br />

O mesmo documento adianta<br />

que durante a investigação e<br />

instrução processual dos vários<br />

processos-crime que correm os trâmites<br />

legais contra alguns gestores<br />

públicos "poderá ser preciso que o<br />

Presidente cessante preste algum<br />

esclarecimento para o bem da pessoa<br />

notificada".<br />

A PGR salienta que "não foi ins-<br />

TIRADAS DA IMPRENSA<br />

"Por mais sentimental que possa<br />

parecer, os êxtases da natureza são os<br />

maiores êxtases do mundo, as estrelas,<br />

as montanhas, crianças, bebês sorrindo<br />

são mágicos"<br />

-Michael Jackson<br />

taurado e nem sequer existe algum<br />

processo-crime contra o ex-Presidente<br />

da República, o engenheiro<br />

José Eduardo dos Santos".<br />

Ex-Presidente ainda poderá ser<br />

"A verdade não é, de modo algum,<br />

aquilo que se demonstra, mas aquilo<br />

que se simplifica..."<br />

-Antoine de Saint-Exupéry<br />

ouvido - Segundo a nota, o funcionário<br />

da DNIAP, ao notificar José Eduardo<br />

dos Santos, que foi Presidente de<br />

Angola 38 anos, "não teve em conta a<br />

qualidade da pessoa notificada".<br />

"Nós aprendemos, palavras duras,<br />

como dizer perdi, perdi, palavras<br />

tontas, essas palavras, quem falou não<br />

está mais aqui".<br />

-Chico Buarque<br />

12 Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019


NOTAS DE IMPRENSA<br />

Em declarações à Lusa, o porta-<br />

-voz da PGR, Álvaro João, explicou<br />

que, tendo em conta a imunidade<br />

de que o ex chefe de Estado angolano<br />

goza por ser igualmente membro<br />

do Conselho da República, a notificação<br />

deveria ter sido enviada e<br />

assinada pelo Procurador-Geral da<br />

República ou pelo vice-procurador.<br />

“<br />

Ex-Presidente ainda<br />

poderá ser ouvido - Segundo<br />

a nota, o funcionário<br />

da DNIAP, ao notificar José<br />

Eduardo dos Santos, que<br />

foi Presidente de Angola<br />

38 anos, "não teve em conta<br />

a qualidade da pessoa<br />

notificada<br />

"O costume português é deixar-se<br />

tudo em palavras mas palavras que<br />

são bolas de sabão deitadas ao ar para<br />

distrair pequeninos de seis anos"<br />

- Florbela Espanca<br />

“<br />

"Quando são essas entidades<br />

pode pedir-se a elas que marquem<br />

a hora, o local e o oficial desloca-<br />

-se para a sua audição", esclareceu<br />

Álvaro João.<br />

De acordo com o porta-voz, há<br />

necessidade de se ouvir o ex-chefe<br />

de Estado angolano "por conta<br />

dos vários processos em curso,<br />

em que muitos dos arguidos para<br />

a sua defesa dizem ter recebido<br />

ordens" do antigo Presidente. "É<br />

muito importante que se faça isso<br />

(ouvi-lo) porque muitos mesmo<br />

tendo recebido ordens, podem ter<br />

extravasado e agora atiram culpas",<br />

acrescentou Álvaro João.<br />

Agência Lusa | Deutsche Welle<br />

BOCAS SOLTAS<br />

"Tristeza, muitos monólogos, conversas inacabadas e perguntas sem respostas<br />

marcaram o dia de ontem, dos Palancas Negras, no Hotel Tolip Al Forsan<br />

Resort, a “República das Selecções” em Ismailia, que deixou de contar com<br />

a presença de Angola na disputa da 32ª edição da Taça de África das Nações<br />

em futebol, cujo título será decidido no dia 19, no Estádio Internacional do<br />

Cairo. O dia a seguir “day after” à eliminação dos Palancas Negras, frente às<br />

Águias do Mali, face à derrota (0-1), na conclusão do Grupo E, foi de lamentos<br />

e acusações. Nas conversas, à mesa do pequeno-almoço e no hall do hotel,<br />

questionou-se a falha da estratégia virada para a vitória, porque o empate<br />

apurava os dois países para os oitavos-de-final, enquanto outros defendiam<br />

que o ambiente criado à volta da Selecção Nacional, antes do jogo com a Mauritânia,<br />

fez ruir o que restava da estrutura do grupo"- Foi assim que o correspondente<br />

do Jornal de Angola,no Egipto, Honorato Carlos Silva,descreveu o<br />

estado d'alma dos Palancas Negras, acabados de ser eliminados do CAN. Por<br />

cá, o desalento da maioria dos cidadãos não foi diferente e desabaram, cada<br />

um à sua maneira:<br />

....................................................<br />

" Com tanta desorganização dos dirigentes do nosso futebol não se esperava outro<br />

resultado. Infelizmente, os culpados de mais um descalabro da nossa selecção<br />

nacional de futebol não irão reconhecer os erros. Vão deixar de fazer o que, por<br />

exemplo, se faz noutras partes do mundo: demitir-se dos cargos e assumir as suas<br />

responsabilidades"<br />

....................................................<br />

"O que me afigura mais constrangedor é o facto de os atletas continuarem a acreditar<br />

em algumas promessas, pois várias vezes acontece a mesma coisa. É que os<br />

que detêm a liderança dos processos administrativos e financeiros pecam por um<br />

defeito:não cumprem e, pior ainda, não há ninguém neste país que os faça desaparecer<br />

do mundo do futebol de alta competição"<br />

....................................................<br />

"A imprensa sempre avisou que com uma competição interna tão pobre e mal organizada,<br />

as nossas representações nacionais raramente irão longe. E quando se<br />

alcança algum feito extraordinário ou é por acaso ou é porque Deus ainda sente<br />

pena de nós.Depois de mais esta eliminação, mais umas conversas e tudo voltará à<br />

normalidade: temos um futebol deorganizado!"<br />

....................................................<br />

"Eu prefiro esquecer o que se passou fora do campo, nos bastidores das discórdias,<br />

dos boatos e da irresponsabilidade . Não me interessa recordar o que se passou<br />

fora das quatro linhas, porque dentro delas, vimos uns rapazes a dar tudo pela<br />

nossa bandeira nacional e penso mesmo que, mais do que ninguém, eles queriam<br />

chegar o mais longe possível. Mas , como sempre, há quem lidera estas coisas do<br />

futebol com olho no dinheiro e esquecem-se que para obtê-lo é preciso trabalhar<br />

bem, com honestidade intelectual!"<br />

....................................................<br />

"Bom, eu não vou nesta conversa que a Federação ou o Ministério da Juventude e<br />

Desportos não tenham assumido as suas responsabilidades a tempo e horas, no<br />

que diz respeito aos pagamentos devidos aos atletas, quer na fase da preparação<br />

como competitiva. Porquê? Porque , para mim, os culpados foram os jogadores e<br />

a equipa técnica, pois se não viajassem para o estágio ou para a competição, nada<br />

disto aconteceria... E matavam logo o problema pela raiz".<br />

Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019 13


NOTÍCIAS BREVES<br />

MAIS DÓLARES,<br />

CARESTIA DE VIDA E OBRAS<br />

MAIS DINHEIRO- Um financiamento de cerca de 1.300 milhões<br />

de dólares a Angola foi aprovado pelo Conselho de Administração<br />

do Banco Mundial para 3 projectos estruturantes para<br />

apoio social, orçamental e fortalecimento do abastecimento de<br />

água à população, segundo anunciou recentemente o ministro<br />

das Finanças Archer Mangueira. Citado pelo África Monitor, o governante angolano<br />

assegurou que para o Projecto de Fortalecimento do Sistema de Protecção<br />

Social foi feita uma dotação de USD 320 milhões , para a Operação de Apoio<br />

Orçamental foram destinados USD 500 milhões e para Projecto de Água Bita ,<br />

também USD 500 milhões . Com a aprovação dessas 3 operações, o volume da<br />

carteira dos projetos do BM em Angola, passa a totalizar USD 2,5 mil milhões.<br />

ESTUDO DA BP<br />

Uma nova legislação<br />

vai permitir desenvolver<br />

um estudo de<br />

viabilidade a cargo<br />

da petrolífera BP<br />

sobre desenvolvimento<br />

de descoberta de gás natural<br />

(poço Katambi , no bloco 24 ),<br />

assegurou o director da petrolífera<br />

em Angola, Hélder Silva. Citado pela<br />

Lusa, o responsável da companhia<br />

petrolífera confirmou que a BP tem<br />

informação de que se tiver umprojeto<br />

viável para desenvolver o<br />

poço, então quer o regulador, quer<br />

as autoridades estarão disponíveis<br />

para negociar com a companhia. Em<br />

2017 , a empresa desistiu do interesse<br />

no poço Katambi, concluindo<br />

que a descoberta de gás não era<br />

comercialmente viável, mas a nova<br />

legislação tornou financeiramente<br />

mais interessante o desenvolvimento<br />

de poços marginais. Para Hélder<br />

Silva, "os frutos da nova legislação<br />

estão a começar a ser visíveis", já<br />

que ela torna também possível trabalhar<br />

nos projectos Platina e Paz ,<br />

nos blocos 18 e 31 .<br />

SUBIDA DE PREÇOS<br />

O<br />

reforço do sistema<br />

de protecção social<br />

"num momento em<br />

que ocorre a reforma<br />

do sistema de subsídios<br />

a preços", já está a ocorrer<br />

no país, segundo o ministro das<br />

Finanças Archer Mangueira. "O<br />

modelo que vigorava de subsídios<br />

a preços tornou-se injusto e<br />

insustentável em face da queda<br />

das receitas petrolíferas e do<br />

aumento da vulnerabilidade dadívida<br />

pública", disse o governante<br />

angolano, salientando que "para<br />

reforçar o compromisso com as<br />

reformas em curso, que estão a<br />

ser implementadas pelo executi-<br />

vo, bem como a transição para um<br />

novo modelo de crescimento,foi inscrito<br />

no programa de estabilização<br />

macroeconómica, a necessidade de<br />

ajustar os preçosdos bens administrativos<br />

controlados, tais como da<br />

água, da electricidade, do transporte<br />

coletivo e de combustíveis".<br />

Entretanto, o bispo de Cabinda,<br />

Belmiro Tchissengueti lançou<br />

um alerta para o impacto social<br />

das novas tarifas de electricidade.<br />

Para si, o aumento "contrasta com<br />

a actual redução ou estagnação da<br />

qualidade de vida dos cidadãos".<br />

(...) Há uma redução ou estagnação<br />

na qualidade de vida", pois, “subindo<br />

a energia vai subir o preço<br />

do táxi, das moageiras e vai subir<br />

uma série de serviços combastante<br />

descontrolo",alertou o pároco.<br />

14 Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019


NOTÍCIAS BREVES<br />

"ZENU" EM TRIBUNAL<br />

Está previsto para<br />

Setembro ou Outubro<br />

próximo o início do<br />

julgamento de José Filomeno<br />

“Zenu” dos Santos<br />

, segundo o seu advogado<br />

Benja Satula . No “processo<br />

dos 500 milhões” envolvendo uma<br />

transferência do Banco Nacional de<br />

Angola para o Reino Unido “já houve<br />

pronúncia,houve um recurso do despacho<br />

de pronúncia e já houve um<br />

acórdão a responder ao despacho”<br />

,seguindo para julgamento. No caso<br />

do Fundo Soberano houve um acordo<br />

para a libertação de Jean-Claude<br />

Bastos de Morais , sócio de Zenu<br />

dos Santos, pelo que “é provável que<br />

este processo não tenha muito mais<br />

para dar” . (A.M.)<br />

OBRAS RETOMADAS<br />

As obras de construção<br />

do Novo<br />

Aeroporto Internacional<br />

de Luanda<br />

serão retomadas<br />

ainda no decorrer<br />

deste ano e prevê-se que sejam<br />

concluídas em 2023, deu conta<br />

o ministro dos Transportes, Ricardo<br />

ViegasD’Abreu, no final de<br />

uma visita de deputados de uma<br />

comissão da Assembleia Nacional<br />

.Avançou que as negociações com<br />

o novo empreiteiro-geral da obra,<br />

o grupo Aviation Industry Corporation<br />

ofChina , deverão ficar<br />

concluídas nos próximos dias.<br />

Depois disto, será assinada uma<br />

adenda ao contrato que iniciará<br />

e definirá um novo cronograma.<br />

Durante a visita revelou-se que<br />

durante a paralisação das obras<br />

foram feitas correcções e alterações<br />

em várias áreas operacionais<br />

da obra.<br />

RECAPITALIZAÇÃO DO BANCO ECONÓMICO<br />

O<br />

Banco Nacional de Angola estabeleceu mais exigência na recapitalização<br />

do Banco Económico, segundo revelou recentemente<br />

o ministro dos Recursos Minerais e Petróleos, Diamantino Pedro<br />

Azevedo, durante a sessão pública de apresentação do Programa<br />

de Privatizações (ProPriv)2019-2022 . De acordo com o ministro,<br />

o aumento de capital "derivou, essencialmente, dos acordos parassociais<br />

tendo em conta que o regulador exigiu”. "Isto resultou em sequência de um<br />

dos accionistas não ter seguido este aumento. Claro que o aumento não será feito<br />

de uma só vez, mas, sim, em cumprimento das orientações do regulador", garantiu<br />

Diamantino Azevedo, citado pelo África Monitor. “Após o devido saneamento desse<br />

banco, é intenção do Estado também levá-lo à privatização para que a Sonangol<br />

depois se possa concentrar no seu objecto social", acrescentou .<br />

CONSULTORIA<br />

A<br />

KPMG Angola foi escolhida<br />

para consultoria<br />

especializada na<br />

apreciação e revisão<br />

de todasas peças de<br />

suporte do concurso<br />

de atribuição da quarta operadora<br />

de comunicações, bem como na<br />

apreciação das candidaturas, na<br />

avaliação das propostas e na preparação<br />

do processo de concessão,<br />

segundo comunicado do Ministério<br />

das Finanças, reactado pelo África<br />

Monbitor. A KPMG prestará igualmente<br />

apoio na realização de acções<br />

de apresentação para a divulgação<br />

internacional do concurso, a fim<br />

de captar o interesse de grandes<br />

operadores mundiais de telecomunicações;<br />

“a tramitação do procedimento<br />

do concurso decorrerá na<br />

plataforma denominada Sistema<br />

Nacional de Contratação Pública<br />

Electrónica, para que melhor se assegure<br />

a transparência, a eficiência<br />

e a eficácia do concurso” .<br />

Formalizada a constituição da<br />

Comissão de Avaliação, o anúncio<br />

de abertura do concurso deverá ser<br />

oportunamente divulgado. Note-<br />

-se que a coordenação de todo o<br />

processo foi entregue a um grupo<br />

de trabalho interministerial, constituído<br />

pelos ministros das Finanças,<br />

das Telecomunicações e Tecnologias<br />

de Informação e da Economia e<br />

Planeamento.<br />

Por outro lado, prevê-se também<br />

também o apoio da KPMG<br />

para elaborar um estudo sobre o<br />

mercado das Tecnologias de Informação<br />

e Comunicações em Angola,<br />

tendo como base o Livro Branco das<br />

Comunicações Electrónicas .<br />

Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019 15


PAÍS<br />

PRESIDENTE DA REPÚBLICA NO FÓRUM DOS EMPRESÁRIOS ANGOLANOS:<br />

A CORRUPÇÃO E A IMPUNIDADE<br />

DISTORCEM OS PRINCÍPIOS<br />

DA TRANSPARÊNCIA E DA JUSTIÇA!!<br />

O Presidente da República revelou recentemente em Luanda que a corrupção e a impunidade<br />

distorcem por completo os princípios básicos da transparência e da justiça,<br />

desvalorizam a procura do mérito e da eficiência e colocam os menos capazes, os menos<br />

competentes a vingar e a prosperar na sociedade em detrimento daqueles que têm como<br />

principal capital a dedicação ao trabalho árduo e o respeito das regras da concorrência<br />

João Lourenço, que proferiu<br />

tais declarações durante a<br />

abertura do Fórum dos Empresários<br />

angolanos, afirmou<br />

que no âmbito da remoção<br />

dos constrangimentos que se<br />

colocam ao desenvolvimento da actividade<br />

privada no nosso país e por<br />

ser um fardo enorme que é imposto<br />

aos empresários, o governo que lidera<br />

tem tomado medidas firmes<br />

contra a corrupção e a impunidade.<br />

Neste contexto, garantiu igualmente<br />

que em todo o país vêm<br />

sendo tomadas medidas tendentes<br />

a combater a concorrência desleal<br />

e o branqueamento de capitais, salientando<br />

que o repatriamento de<br />

capitais, a recuperação de activos<br />

através da perda alargada de bens,<br />

é um processo em curso cujos resultados<br />

passarão a ser periodicamente<br />

dados a conhecer à sociedade pelas<br />

instâncias competentes.<br />

O Chefe do Estado foi ao Fórum<br />

dos Empresários de Angola para<br />

também reafirmar a importância<br />

da interacção entre o Titular do<br />

Poder Executivo e os responsáveis<br />

dos Departamentos Ministeriais<br />

com os representantes da classe<br />

empresarial,pois "constituem uma<br />

oportunidade para aprofundar-se o<br />

conhecimento recíproco das acções<br />

do Executivo e das Associações que<br />

representam os interesses da classe<br />

empresarial".<br />

16 Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019


PAÍS<br />

"Estes encontros servem também<br />

para a identificação de interesses<br />

comuns e tarefas que podemos<br />

desenvolver em conjunto, num momento<br />

em que Angola está a viver<br />

um processo de mudanças em vários<br />

domínios da sua vida", disse o Chefe<br />

do Estado, qualificando o fórum<br />

como "um exercício importante de<br />

auscultação que nos vai ajudar a colocar<br />

na prática alguns dos vossos<br />

pontos de vista e ideias inovadoras,<br />

e assim ultrapassar com rapidez os<br />

actuais constrangimentos que se colocam<br />

ao bom desenvolvimento da<br />

actividade empresarial em Angola".<br />

No fórum, o Presidente homenageou<br />

os empresários que, passando<br />

por vários sacrifícios, conseguiram<br />

manter-se activos durante todos estes<br />

anos enfrentando a difícil crise de<br />

valores e as enormes dificuldades causadas<br />

pela profunda crise económica e<br />

financeira que o país ainda vive.<br />

"A estes empresários resilientes<br />

que se mantêm firmes na actividade<br />

produtiva, expresso o meu reconhecimento<br />

pelo seu empenho, pelo seu<br />

profundo patriotismo e sobretudo<br />

pela sua capacidade de empreender<br />

em momentos e circunstâncias tão<br />

difíceis", afirmou, aconselhando-os<br />

no sentido de se manterem firmes,<br />

porque, segundo sublinhou, o compromisso<br />

do governo para mudar a<br />

situação económica e social é igualmente<br />

firme e as reformas que se<br />

está a fazer vão efectivamente dar os<br />

seus frutos.<br />

Entretanto, João Lourenço confirmou<br />

durante o seu discurso o<br />

facto de o país ter estado a viver um<br />

ambiente de recessão económica<br />

nos últimos 3 anos,e que os níveis<br />

de desemprego em Angola subiram.<br />

"Trata-se de um problema que nos<br />

deve preocupar a todos e que só<br />

poderá ser resolvido através do aumento<br />

do investimento na economia,<br />

sobretudo do investimento privado",<br />

alertou.<br />

Para si, "só com o aumento do<br />

investimento poderemos voltar a<br />

crescer do ponto de vista económico,<br />

poderemos criar mais postos de<br />

trabalho e proporcionar aos angolanos<br />

em particular à nossa juventude,<br />

melhores rendimentos e por esta via,<br />

aumentar o seu bem-estar e das suas<br />

famílias.<br />

João Lourenço exortou ao empresariado<br />

nacional a investir mais<br />

nas diferentes indústrias, na agro-<br />

-pecuária, nas pescas, no turismo e<br />

em outros ramos da nossa economia,<br />

pois prevê-se o aumento da oferta<br />

de energia e água no país, sobretudo<br />

após a interligação através das redes<br />

de transportação dos sistemas eléctricos<br />

do norte ao centro do país, e<br />

com a perspectiva de ligar e expandir<br />

para sul e para o leste.<br />

“<br />

Só com o aumento do<br />

investimento poderemos<br />

voltar a crescer do ponto<br />

de vista económico, poderemos<br />

criar mais postos de<br />

trabalho e proporcionar<br />

aos angolanos, em particular<br />

à nossa juventude,<br />

melhores rendimentos (...)<br />

“<br />

O Presidente da República manifestou<br />

o seu agrado pelo facto de,<br />

apesar das dificuldades que as empresas<br />

enfrentam, se verificar um<br />

interesse crescente dos empresários<br />

em participarem das iniciativas do<br />

Executivo para alterar o quadro que<br />

vivemos, recordando que, em termos<br />

de apoios, o Executivo negociou de<br />

forma exitosa com o Deutshe Bank<br />

alemão uma linha de financiamento<br />

no valor de mil milhões de dólares<br />

americanos destinados à dinamização<br />

da actividade económica privada,<br />

com destaque para o sector produtivo.<br />

"Mas é bom que se diga que para<br />

além destes recursos, estão ainda à<br />

disposição dos empresários outras<br />

facilidades.O Banco de Desenvolvimento<br />

de Angola foi orientado<br />

no sentido de utilizar recursos do<br />

Fundo Nacional do Desenvolvimento<br />

para bonificar as taxas de juro<br />

ainda muito altas prevalecentes no<br />

mercado financeiro, para créditos a<br />

conceder pelos bancos comerciais<br />

para investimentos nos produtos<br />

prioritários definidos no âmbito<br />

do PRODESI", destacou o Chefe do<br />

Executivo, lembrando igualmente<br />

que, através do Banco Nacional de<br />

Angola, orientou ainda os Bancos<br />

Comerciais a concederem crédito<br />

para parte dos produtos priorizados<br />

pelo PRODESI, no montante mínimo<br />

equivalente a 2% do seu activo, cujos<br />

encargos de financiamento incluindo<br />

os juros e comissões não deverão<br />

exceder os 7,5%.<br />

Ainda neste contexto, o Presidente<br />

afirmou que diversas instituições<br />

financeiras multilaterais tais como o<br />

Banco Mundial, o Banco Africano de<br />

Desenvolvimento, a Agência Francesa<br />

de Desenvolvimento entre outras,<br />

estabeleceram programas com o<br />

Executivo para dedicarem recursos<br />

para financiar projectos do sector<br />

privado em Angola.<br />

"Pretendemos que estes recursos<br />

de financiamento disponíveis, sejam<br />

utilizados de modo criativo e eficaz<br />

pelos nossos empresários, de modo a<br />

tornar a nossa economia mais sustentada<br />

e menos dependente do petróleo",<br />

alertou, destacando na mesma<br />

linha a necessidade de se estabelecer<br />

uma relação positiva entre o volume<br />

de crédito concedido e os resultados<br />

que almejamos alcançar em termos<br />

de produção e produtividade.<br />

"Exigiremos seriedade e rigor<br />

na qualidade dos projectos, na análise<br />

das propostas e teremos todo o<br />

cuidado nos desembolsos e na fiscalização<br />

da sua implementação.Esta é<br />

uma forma que o Executivo encontrou<br />

de reconhecer a importância e o<br />

papel do empresariado nacional, ajudando-o<br />

a crescer, a se afirmar como<br />

um actor fundamental que contribui<br />

para a diversificação da economia,<br />

para o aumento da oferta de bens<br />

e de serviços e para o aumento da<br />

oferta de emprego", afirmou.<br />

Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019 17


PAÍS<br />

JOÃO LOURENÇO ASSEGURA:<br />

"PIIM VAI MUDAR<br />

A VIDA DOS ANGOLANOS"<br />

• "O futuro se constrói hoje, com os investimentos que<br />

fizermos agora em infraestruturas físicas e na formação dos quadros"<br />

O<br />

Presidente da República<br />

assegurou que o<br />

Programa Integrado de<br />

Intervenção nos Municípios<br />

(PIIM) será implementado<br />

como foi<br />

anunciado, pois "por ser um programa<br />

que não recorrendo ao endividamento<br />

público usará recursos que já são nossos,<br />

o que mudará significativamente a<br />

vida dos cidadãos com o aumento da<br />

oferta de serviços essenciais como os<br />

de energia, água, educação, saúde, mobilidade<br />

entre outros".<br />

Para João Lourenço,o futuro das<br />

gerações vindouras estará garantido<br />

se as crianças de hoje beneficiarem<br />

agora de melhores serviços sociais.<br />

"O futuro se constrói hoje, com os investimentos<br />

que fizermos agora em<br />

infraestruturas físicas e na formação<br />

dos quadros", augurou o Chefe<br />

de Estado, que, para o êxito do PIIM,<br />

pediu o empenho dos empresários<br />

angolanos, porque, segundo disse,<br />

são eles que vão concorrer para as<br />

empreitadas de construção das diferentes<br />

infra-estruturas contempladas<br />

no referido programa, que, através da<br />

disponibilização de recursos financeiros,<br />

vai também relançar o sector<br />

produtivo do país, garantindo emprego<br />

sobretudo para a juventude.<br />

Durante o seu discurso de abertura<br />

do Fórum dos empresários angolanos,<br />

João Lourenço assegurou<br />

também que com as actuais políticas<br />

traçadas , sobretudo com o programa<br />

de privatizações já anunciado,<br />

o Executivo dá um sinal muito claro<br />

da intenção do Estado reduzir consideravelmente<br />

sua forte presença na<br />

economia.<br />

“<br />

Contamos convosco<br />

empresários angolanos(...)<br />

porque são vocês que vão<br />

concorrer para as empreitadas<br />

de construção (...)<br />

contempladas no PIIM.Com<br />

a disponibilização destes<br />

recursos financeiros, queremos<br />

também relançar o<br />

sector produtivo do país (...)<br />

“<br />

"Pretendemos devolver este papel<br />

de actor principal da economia ao<br />

sector empresarial privado. Aceitem<br />

portanto receber esse testemunho,<br />

na certeza de que saberão fazê-lo<br />

melhor que o Estado na responsabilidade<br />

de produzir bens e serviços<br />

e na criação de emprego", salientou,<br />

desafiando os empresários angolanos<br />

nos seguintes termos: "se ocuparem<br />

convenientemente o espaço<br />

que sempre foi vosso e que por razões<br />

de conjuntura política ao longo<br />

de décadas vos foi usurpado, temos<br />

a convicção que vai proliferar pelo<br />

país o número de micro, pequenas e<br />

médias empresas e assim tornar realidade<br />

o sonho da diversificação da<br />

nossa economia".<br />

"Trabalhemos de mãos dadas<br />

para tirar a nossa economia da crise<br />

em que ainda se encontra, para retomar<br />

o crescimento económico em<br />

bases mais sustentadas e diversificadas.<br />

O papel do Executivo é o de coordenar<br />

e regular o desenvolvimento<br />

económico do país. O motor do crescimento<br />

económico reside no sector<br />

privado, nos empresários, que deverão<br />

apostar na inovação. Estabeleçam<br />

parcerias com empresas tecnologicamente<br />

mais avançadas, portadoras de<br />

know how e que facilitem o acesso ao<br />

mercado internacional", aconselhou<br />

o Chefe do Estado.<br />

18 Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019


PAÍS<br />

ESTÃO MAIORITARIAMENTE NA LUNDA NORTE<br />

COMO DECORRE O REGRESSO<br />

DOS REFUGIADOS DA RDC ?<br />

Há mais de 30 mil refugiados<br />

congoleses na<br />

província de Lunda<br />

Norte. Alguns deles<br />

querem regressar ao<br />

país de origem, mas<br />

para a maioria ainda é complicado obter<br />

documentos, ter acesso aos serviços<br />

de saúde ou trabalho.<br />

O número de refugiados congoleses<br />

na província de Lunda Norte ainda<br />

é elevado; contudo, já há muitos que<br />

mostram vontade de regressar à República<br />

Democrática do Congo (RDC).<br />

As autoridades angolanas juntamente<br />

com o governo de Kinshasa e o Alto<br />

Comissariado das Nações Unidas para<br />

os Refugiados (ACNUR) tentam dar<br />

as condições necessárias para os refugiados<br />

regressarem ao seu país de<br />

origem.<br />

Segundo números da organização,<br />

Comunidade de Refugiados em Angola<br />

(CRA), ainda estão entre 30 a 40 mil<br />

refugiados congoleses em território<br />

angolano. Os refugiados dentro deste<br />

grupo têm várias pretensões, uns desejam<br />

ficar em Angola e outros querem<br />

regressar ao país de origem como<br />

explica Mussenguele Kopel coordenador<br />

da CRA.<br />

"Há um número que quer voltar,<br />

que é originário do Kasai. E tem a<br />

maioria que quer a integração local.<br />

Também tem o grupo que não está a<br />

encontrar como se integrar e que pede<br />

para encontrar reassentamentos”,<br />

conta o coordenador angolano.<br />

AS PREOCUPAÇÕES DOS REFU-<br />

GIADOS - Os refugiados congoleses<br />

vêm sobretudo da região do Kasai<br />

na RDC há já várias décadas. Os seus<br />

problemas em Angola são vários e há<br />

reclamações constantes, Mussenguele<br />

Kopel aponta principalmente para a<br />

situação da falta de documentação e<br />

fraco acesso aos cuidados da saúde.<br />

"Primeiro os refugiados em geral<br />

não têm condições. Em todos os sítios<br />

que você vai os refugiados estão a reclamar<br />

que não têm documentos de<br />

identidade, que lhes pode facilitar os<br />

movimentos. Além disso temos ainda<br />

aqueles refugidos que estão doentes<br />

e a maioria tem tuberculose”, relata<br />

Mussenguele.<br />

O ACNUR tem distribuído kits de<br />

reintegração a todos os refugiados que<br />

regressem à RDC dentro dos pressupostos<br />

estipulados, mas há muitos que<br />

desejam ficar e isso também tem sido<br />

problemático para a integração de milhares<br />

congoleses em Angola.<br />

ÉBOLA NA RDC<br />

Um dos temas mais<br />

falados na República<br />

Democrática do<br />

Congo ultimamente<br />

tem sido a questão do<br />

ébola, onde o número de casos tem<br />

crescido nos últimos meses.Ela já<br />

fez mais de 1500 mortos e a cada<br />

dia há registo de 12 novos casos,<br />

segundo a Organização Mundial da<br />

Saúde (OMS), que já declarou o estado<br />

de emergência internacional.<br />

A OMS também alertou Angola<br />

para se precaver sobre possíveis<br />

casos de ébola nas fronteiras. O<br />

país partilha uma vasta zona fronteiriça<br />

com a RDC nas províncias<br />

do Zaire, Moxico, Lunda Norte e<br />

Lunda Sul. Mas, apesar de tudo<br />

ainda não há uma grande preocupação<br />

das autoridades angolanas<br />

com essa situação, assegura<br />

Mussenguele.<br />

"As autoridades angolanas no<br />

momento em que o ébola está a<br />

ser falada no leste, na zona norte<br />

não existem muitas preocupações.<br />

As fronteiras ainda estão abertas,<br />

Angola ainda não manifestou<br />

preocupação em fechar as fronteiras”.<br />

Muitos congoleses ainda<br />

não acreditam na estabilidade do<br />

governo atual da RDC por isso é<br />

que não regressam. As relações bilaterais<br />

entre Angola e a RDC têm<br />

sido reforçadas a nível económico,<br />

social e fronteiriço. Mas a questão<br />

dos refugiados ainda vai demorar<br />

a resolver-se.<br />

"As pessoas depois de receberem<br />

formação não têm acesso ao mercado de<br />

trabalho. É um pouco difícil aceitar os documentos<br />

dos refugiados e trabalhar com<br />

eles. É aí que também começam os problemas<br />

maiores dos refugiados”, segundo<br />

Mussenguele Kopel.<br />

Um dos temas mais falados na República<br />

Democrática do Congo ultimamente<br />

tem sido a questão do ébola, onde o número<br />

de casos tem crescido nos últimos<br />

meses.<br />

Rodrigo Vaz Pinto | Deutsche Welle.<br />

Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019 19


SOCIEDADE<br />

CRIMINALIDADE<br />

POLÍCIA QUER "LEI ESPECÍFICA"<br />

PARA O TRÁFICO<br />

DE SERES HUMANOS<br />

A polícia angolana defendeu recentemente a aprovação de uma "lei específica" para criminalizar<br />

o tráfico de seres humanos, com registo crescente de casos nas províncias de<br />

Luanda, Cunene e Lunda Norte e Zaire<br />

Segundo o director nacional<br />

adjunto do gabinete<br />

jurídico do Comando Geral<br />

da Polícia Angola, Osvaldo<br />

Moco, citado pela<br />

Lusa, a legislação vigente<br />

no país, nesse domínio, "deve ser<br />

aprimorada e aperfeiçoada por se enquadrar<br />

no conjunto de normas que<br />

prevêem outros ilícitos criminais".<br />

"Tendo em conta a sua pertinência<br />

e a preocupação que esse fenómeno<br />

apresenta, entendo que deveria<br />

ser concebida uma legislação<br />

específica que tratasse, especialmente,<br />

desse tipo legal de crime", disse.<br />

E a polícia nacional, adiantou,<br />

"terá o seu papel a desempenhar<br />

contribuindo com ideias para uma<br />

lei específica que trate a questão do<br />

tráfico de seres humanos no país".<br />

Falando aos jornalistas à margem<br />

de uma palestra sobre Tráfico<br />

de Seres Humanos, realizada em<br />

Luanda pelo Ministério da Justiça e<br />

dos Direitos Humanos, em parceria<br />

com o Comando Geral da Polícia angolana,<br />

sublinhou que as províncias<br />

fronteiriças "apresentam maiores<br />

preocupações".<br />

"A nível do país, a maior preocupação<br />

apresenta-se com a fronteira<br />

norte, sobretudo na região do Luvo,<br />

província angolana do Zaire, assim<br />

como alguns casos registados na<br />

zona leste e sul e ainda temos registos<br />

de tráficos humanos para o exterior<br />

do país", afirmou.<br />

A Procuradoria-Geral da República<br />

(PGR) angolana anunciou na altura<br />

que cerca de vinte casos de tráfico<br />

de seres humanos em Angola já transitaram<br />

em julgado e que este tipo<br />

de crime exige novos mecanismos de<br />

actuação.<br />

"Hoje o quadro do tráfico no país<br />

não podemos dizer que não é preocupante,<br />

registamos números de queixas<br />

e participações baixas, mas isso não<br />

quer dizer que a actividade não exista,<br />

portanto temos um registo baixo de<br />

casos", disse Astergidio Pedro Culolo,<br />

sub-PGR junto do Serviço de Migração<br />

e Estrangeiros (SME) angolano.<br />

Para Osvaldo Moco, as pessoas<br />

vítimas de tráfico de seres humanos<br />

sofrem "situações desastrosas, como<br />

a escravidão e exploração sexual", daí<br />

que, observou, "temos que envidar<br />

todos os esforços operativos e legislativos<br />

para contrapor a situação".<br />

Divulgar e promover a luta contra<br />

o Combate de Tráfico de Seres Humanos,<br />

reflectir com a sociedade a importância<br />

dos instrumentos internacionais<br />

e nacionais sobre o Combate<br />

ao Tráfico de Seres Humanos na realidade<br />

jurídica angolana foram alguns<br />

dos objectivos da palestra realizada<br />

em Junho.<br />

Diário de Notícias | Lusa<br />

20 Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019


SOCIEDADE<br />

TRÁFICO DE SERES HUMANOS EM ANGOLA<br />

TRIBUNAIS TÊM<br />

VINTE CASOS PARA JULGAR...<br />

A Procuradoria-Geral da República (PGR) angolana anunciou que cerca de vinte casos de<br />

tráfico de seres humanos em Angola já transitaram em julgado e que este tipo de crime<br />

exige novos mecanismos de actuação<br />

"Hoje o quadro do tráfico no<br />

país não podemos dizer que<br />

não é preocupante, registamos<br />

números de queixas e<br />

participações baixas, mas<br />

isso não quer dizer que a actividade<br />

não exista; portanto, temos<br />

um registo baixo de casos", disse Astergidio<br />

Pedro Culolo, sub-PGR junto<br />

do Serviço de Migração e Estrangeiros<br />

(SME) angolano.<br />

Em declarações aos jornalistas à<br />

margem de uma palestra sobre Tráfico<br />

de Seres Humanos em Angola, dirigida<br />

aos efectivos da polícia nacional, o magistrado<br />

deu conta que as províncias<br />

de Luanda, Lunda Norte e Zaire lideram<br />

as ocorrências.<br />

Segundo Artergidio Pedro Culolo,<br />

orador da palestra promovida<br />

(em 25 Junho) pelo Ministério da<br />

Justiça e dos Direitos Humanos, em<br />

parceria com o Comando Geral da<br />

Polícia de Angola, aquelas províncias<br />

"têm registado actividades mais<br />

relevantes" de tráfico humano, sobretudo<br />

"devido as fronteiras".<br />

"Em termos de casos, posso apenas<br />

falar dos que já foram tratados judicialmente,<br />

que são perto de 20 casos<br />

nessas províncias. Há províncias em<br />

que não há registo nenhum, mas o facto<br />

de não haver registo não quer dizer<br />

que ali não exista o tráfico", apontou.<br />

"Poderá existir, mas ainda não detectamos<br />

e se isso acontece, é porque os<br />

nossos sistemas de alerta não têm estado<br />

a funcionar devidamente", realçou.<br />

Em Janeiro, o padre católico Félix<br />

Gaudêncio disse à Lusa que a população<br />

da província do Cunene, sul do<br />

país, "estava assustada" com os "crescentes<br />

relatos" de traficantes de seres<br />

humanos, sobretudo crianças, quatro<br />

dos quais já detidos pela polícia.<br />

"O quadro é de medo, a população<br />

está mesmo com medo, em pânico,<br />

porque se trata de uma população que,<br />

anteriormente, acolhia muitas pessoas,<br />

orientava quem estivesse perdido,<br />

mas hoje em dia há esse receio de<br />

orientar ou acolher estranhos", disse o<br />

padre na altura.<br />

O também presidente da Associação<br />

Ame Naame Omuno, de defesa e<br />

promoção dos direitos humanos na<br />

província, defendeu ainda o "reforço<br />

do policiamento" no seio das comunidades,<br />

afirmando que o tráfico de seres<br />

humanos na província "é uma prática<br />

antiga".<br />

"Porém, agora ganha maior visibilidade<br />

por causa dos meios de comunicação<br />

e por causa do mediatismo;<br />

então, isso é uma realidade porque<br />

chama muito a atenção o facto de aparecerem<br />

pessoas assim mortas, de vez<br />

em quando", bem como "aparecerem<br />

pessoas a dizerem que estavam a ser<br />

aliciadas para serem levadas para a<br />

Namíbia", concluiu.<br />

Em Dezembro de 2018, um vídeo<br />

publicado nas redes sociais apresentava<br />

um suposto autor confesso desses<br />

crimes, relatando como terá matado<br />

uma mulher, a quem terá retirado os<br />

órgãos, que foram levados para a Namíbia.<br />

Questionado sobre o assunto, o<br />

delegado do Ministério do Interior de<br />

Angola no Cunene, Tito Munana, deu<br />

conta que as autoridades judiciais<br />

"ainda não provaram se os relatos<br />

do suposto traficante do vídeo divulgado<br />

eram verdadeiros".<br />

(...) Quando questionado pela<br />

Lusa sobre o tráfico de órgãos<br />

humanos, sobretudo a nível da<br />

província do Cunene, referiu que a<br />

"situação é preocupante", afirmando<br />

que "apesar de existirem, ainda não foram<br />

detectados".<br />

"É também preocupante, creio que<br />

casos desses assim ainda não foram<br />

detectados, mas existem. Temos registado,<br />

agora, com alguma preocupação<br />

a movimentação de crianças para o<br />

exterior do país, que às vezes não cumprem<br />

com as regras", frisou.<br />

"E pode ser que seja essa actividade,<br />

daí a necessidade de estarmos<br />

informados para afinarmos os mecanismos<br />

e começarmos a detectar", concluiu<br />

o também membro da Comissão<br />

Interministerial Contra o Tráfico de<br />

Seres Humanos em Angola.<br />

Diário de Notícias | Lusa.<br />

Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019 21


SOCIEDADE<br />

Sara Fialho,<br />

jornalista<br />

COOPERATIVA DOS JORNALISTAS ANGOLANOS SURGIU PARA VINGAR<br />

C.J.A. PROMETE<br />

CONGREGAR A CLASSE E<br />

DEFENDER OS SEUS INTERESSES<br />

Quem ao longo dos últimos meses acompanhou, ainda que a<br />

uma distância prudente, o percurso da constituição da Cooperativa<br />

dos Jornalistas Angolanos (CJA), tem de admitir que os<br />

seus criadores merecem, desde já, o reconhecimento generalizado<br />

da classe pelo empenho e determinação de levar até ao<br />

fim a concretização deste projecto nobre. Não foram muitos os<br />

que estiveram na base desta empreitada concluída com êxito,<br />

mas o número de jornalistas (unido e persistente) foi suficiente<br />

para que pelo menos desse mais um exemplo de maturidade<br />

e espírito de compromisso<br />

Dentre estes profissionais<br />

da comunicação<br />

social angolana, há<br />

que se destacar Sara<br />

Fialho, José Luís Mendonça,<br />

Sebastião Panzo<br />

e todos aqueles que desde o primeiro<br />

momento passaram dias a fio<br />

a sacrificar todo o seu tempo e mais<br />

algum para que no passado dia 6 de<br />

Julho se desse à luz aquela que é,para<br />

já, verdadeiramente considerada a<br />

primeira Cooperativa de Jornalistas<br />

Angolanos criada por profissionais<br />

ligados a diversos ramos da media nacional.<br />

A cerimónia da constituição desta<br />

instituição sem fins lucrativos, de natureza<br />

voluntária e de âmbito nacional,<br />

decorreu em Luanda e para a história<br />

fica marcada a presença de representantes<br />

de várias entidades sócio-profissionais<br />

ligadas à comunicação social,<br />

mas deve-se destacar também a apresentação<br />

esclarecida dos objectivos a<br />

que se propõe atingir a Cooperativa de<br />

Jornalistas Angolanos.<br />

Neste contexto, Sara Fialho fez-se<br />

ouvir pela primeira vez como coordenadora<br />

da CJA, dizendo que a associação,<br />

cuja formação dirigiu desde o primeiro<br />

momento da sua idealização,<br />

tem como objectivo social "congregar<br />

os profissionais de comunicação social,<br />

defender os interesses da classe,<br />

realizar estudos e promover acções<br />

formativas".<br />

Garantir as condições materiais<br />

para existência de parcerias que, aliadas<br />

à CJA, visem contribuir na valorização<br />

dos profissionais, colaborar<br />

com as organizações congéneres nacionais<br />

e estrangeiras, no sentido de<br />

concretizar os objectivos de defesa da<br />

dignidade humana pós carreira, figuram<br />

na lista dos objectivos da Cooperativa<br />

de Jornalistas Angolanos.<br />

De acordo com Sara Fialho, podem<br />

ser membros da organização pessoas<br />

físicas que se identificam com os valores,<br />

visão, missão e objectivos constantes<br />

dos estatutos e regulamentos,<br />

como membros fundadores, efectivos,<br />

beneméritos e honorários.<br />

Durante o acto da constituição da<br />

CJA, a sua coordenadora revelou que<br />

o património social será constituído<br />

por bens imóveis, móveis, títulos,<br />

valores e direitos, que pertençam ou<br />

venham pertencer à cooperativa, contribuições<br />

de membros, doações, subvenções<br />

recebidas, legado, auxílios,<br />

direito, créditos e quaisquer contribuições<br />

de pessoas física ou jurídicas.<br />

Já Sebastião Panzo, outro dos principais<br />

artífices da cooperativa, que foi<br />

indicado para coordenar a Comissão<br />

de Intercâmbio da cooperativa, considerou<br />

ser visão do CJA "proteger os<br />

seus integrantes tanto na fase activa das<br />

suas vidas, como prover soluções de<br />

protecção social pós carreira laboral".<br />

“<br />

Os eixos principais<br />

de actuação da CJA são a<br />

protecção da saúde, segurança<br />

e assistência social<br />

pós-trabalho, facilitação<br />

nos processos de aquisição<br />

de móveis e imóveis e<br />

auto-sustentabilidade dos<br />

profissionais membros da<br />

cooperativa<br />

“<br />

Para si, os eixos principais de actuação<br />

da CJA são a protecção da saúde,<br />

segurança e assistência social pós-<br />

-trabalho, facilitação nos processos de<br />

aquisição de móveis e imóveis e auto-<br />

-sustentabilidade dos profissionais<br />

membros da cooperativa.<br />

Na mesma linha, Panzo revelou<br />

igualmente que a cooperativa prevê<br />

a institucionalização de um seguro de<br />

saúde e evacuação dos seus membros<br />

para o estrangeiro, em caso de doença,<br />

esclarecendo, por outro lado, que a<br />

CJA "não será avalista ou financiadora<br />

na aquisição de móveis e imóveis, por<br />

parte dos seus membros, mas poderá<br />

ter o papel facilitador no processo de<br />

solicitação de crédito habitacional,<br />

automóvel, entre outros".<br />

22 Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019


MAHEZU<br />

Por: Carmo Neto<br />

ADEUS, AMIGO JOÃO!<br />

Sentados num lugar em que se acorda com o primeiro canto do galo, Bartolomeu de<br />

calças jeans coçadas, calçava sandálias de cabedal e usava cabelo curto e o João, um<br />

cambuta vigoroso com os músculos dos braços e das costas salientes, de cabelos<br />

crespos, olhos grossos sempre inquietos, também militante das jeans coçadas,<br />

olhos inquietos, esbanjavam diálogo.<br />

Folheavam, o tempo da avó Maria, com caligrafia elegante, dos tempos áureos<br />

do Quéssua, quando copiavam e liam "cabeça-braço-mão-perna-pé", a propósito dos erros<br />

ortográficos de hoje que os nossos doutores cometem sem vergonha. Pralém da desejável<br />

ressurreição generalizada dos quadros de honra em todos níveis do ensino.<br />

Cansaço não parecia percorrer suas veias. Mesmo com a queda do muro de Berlim, Bartolomeu<br />

aguardava pelo regresso do socialismo, diferente do João aparentemente despido das<br />

ideologias políticas da juventude.<br />

As horas retardavam o adeus da separação, quando a recordação era o tempo que mulheres<br />

com montanhas de carnes inflamadas rasgavam as roupas e eram assim consideradas as<br />

mais lindas!...Todos estes incêndios verbais pareciam adiar a reforma das suas idades.<br />

Espontaneamente, partilhavam gargalhadas. Pareciam mais velhos matulões repetentes<br />

que caçavam o lanche dos mais novos estudantes distraídos.<br />

Recordando Selmira, que vestia quase sempre mini saias e de salto alto, a menina mais linda<br />

do liceu, o que a tornava mais atraente ainda era o facto de que conduzia uma mini-Honda<br />

(rainha da elegância virou baleia da elegância!).Ou dos professores serenos com óculos de alta<br />

graduação capazes de descobrirem as mais bem escondidas cábulas.<br />

As horas retardavam o adeus para o dia seguinte, sobretudo quando a razão fosse o grau<br />

comparativo de desenvolvimento nacional se melhor aliados fossemos sempre do mundo<br />

desenvolvido.<br />

Sendo filhos de gente importante, era curioso o pingue-pongue do João e Bartolomeu sobre<br />

geografia universal, dois velhos amigos, orgulho do liceu da época:<br />

-Devemos ser nós próprios com os nossos milionários angolanos a desenvolver o país,<br />

afirmou o João.<br />

-Mas porquê? -questionou o Bartolomeu, bruscamente agitado .-Deves ser mais global<br />

porque o mundo hoje é uma aldeia.<br />

-Porque já vamos bem melhor só com os nossos - respondeu ele, de voz excitante. -Nossos<br />

milionários já ajudam o país a crescer.<br />

-Ah, isso é uma anedota-retorquiu o Bartolomeu, muito agitado. -Temos que estar com o<br />

mundo. Ao contrário, não vamos longe.Com os outros países do mundo seria uma boa aliança.<br />

-Não concordo, concluiu o João de forma categórica.<br />

De repente, o telemóvel reivindica que Bartolomeu atendesse a chamada. Levou tempo<br />

pra o efeito. Fixou o aparelho sobre o ouvido a mascarar pra o João que nem tudo entendia,<br />

mas mal ouvia a chamada do seu chefe milionário pra viabilizar sua ida pra os Estados Unidos<br />

acompanhado da secretária antecedida do curso básico de língua inglesa, corria pra o aparelho.<br />

Bartolomeu sempre assumiu a magia do romantismo fatal e das esperanças utópicas do<br />

fim do capitalismo. Mesmo contrariado com a nostalgia do ideal, frequentou o curso de inglês<br />

pra sua superação profissional nos Estados Unidos, questionando sempre a incompetência da<br />

secretária, cujo inglês resumia-se ao yes, mas usava cabelo tratado de véspera com uma parte<br />

do postiço a cair-lhe de lado e vestia um vestido de um dos melhores costureiros portugueses,<br />

mesmo a viver em Angola tratava do cabelo em Portugal.<br />

No seu quintal a jogar pingue-pongue durante a despedida fartou-se Bartolomeu de ouvir o<br />

conselho pra melhor aproveitamento do curso. João murmurou-lhe palavras meigas e seu pai<br />

observava pra ele com um ar de alegria. Todos desejaram-lhe boa sorte.<br />

Pessoas de todas as cores e etnias, desempregados e trabalhadores, todos desejavam o<br />

destino da boa sorte e ele numa carta endereçada ao velho amigo, não tardou em responder, a<br />

partir da América, a devolver o encorajamento no fim escreveu ao amigo João:<br />

Adeus, amigo João! Mahezu, ngana!<br />

Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019 23


FIGURA DO MÊS<br />

Paulo Flores, um nome incontornável da música angolana,<br />

fala à Angop sobre o panorama musical angolano e a<br />

actualidade do país. Autor de sucessos como<br />

"Inocente", "Reencontro" e "Makalakato", o artista<br />

considera necessária a união de "vontades" para<br />

levar o país a "bom porto".Com a devida vênia<br />

publicamos nesta e nas páginas seguintes a<br />

entrevista deste grande músico e compositor<br />

angolano, conduzida por Venceslau Mateus.<br />

"Enquanto artista, que, às vezes, é um bocado<br />

indissociável de mim enquanto indivíduo, a<br />

minha música acaba, muitas vezes, por<br />

funcionar, como um bálsamo,<br />

uma forma de procurar<br />

desconstruir as minhas<br />

inseguranças, expôlas<br />

e, ao partilhá-las,<br />

perceber que as minhas<br />

inseguranças também<br />

eram as dos outros",<br />

diz Paulo Flores, para<br />

quem ,hoje em dia,<br />

às vezes, "a questão<br />

principal é aguentar<br />

a dor que sinto,<br />

por achar que não<br />

estou a conseguir<br />

ajudar toda a gente<br />

como gostava e,<br />

ao mesmo tempo,<br />

o pragmatismo<br />

de sermos<br />

profissionais e<br />

de precisarmos<br />

do aplauso e<br />

não do cachê"<br />

PAULO FLORES<br />

"O SEMBA É UMA<br />

IDENTIDADE QUE NOS<br />

DEFINE COMO ANGOLANOS"<br />

24 Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019


FIGURA DO MÊS<br />

Paulo Flores é uma das<br />

referências da música<br />

angolana, principalmente<br />

na vertente do<br />

semba. Como define<br />

este estilo musical?<br />

Há várias maneiras de definir o<br />

semba. É uma música que permitiu<br />

aos angolanos começarem a celebrar<br />

a sua dor. Tem um ritmo forte, toca<br />

em todas as festas, mesmo no tempo<br />

colonial. Comecei a descobrir isso<br />

com as minhas avós, porque as ouvia<br />

cantar em casa, com uma alegria<br />

muito grande, um ritmo contagiante.<br />

Quando perguntava o que significava<br />

a música, normalmente estavam a falar<br />

de uma história de dor. Aquilo, inclusivamente,<br />

funcionou também na<br />

minha escrita, um pouco a preocupação<br />

com os outros e também o direito<br />

de celebrar e ser feliz. Ritmicamente,<br />

é um “quatro por quatro” que serve<br />

um pouco de matriz a muitos ritmos,<br />

como a capoeira e a própria kizomba.<br />

Embora seja uma derivação do<br />

zouk, é tocada com alguns elementos<br />

que o semba também possui. Tem a<br />

característica de ser uma identidade<br />

que nos define enquanto angolanos.<br />

Para Paulo Flores,<br />

Como avalia a sua carreira nesta<br />

fase. Cumpriu-se um ciclo?<br />

Ainda há muito para se fazer.<br />

Muito por aprender e muito por educar.<br />

Há muito para mostrar à juventude:<br />

que vale a pena lutar pelo bem-<br />

-estar. O que fiz, como músico, não<br />

tem valor se os outros não o fizerem.<br />

Somos um todo.<br />

Acredita no papel social, quase<br />

interventivo, da música e dos músicos?<br />

Sim, porque também foi assim<br />

que cresci. Mesmo as minhas influências<br />

da música portuguesa vieram<br />

do papel interventivo dos poetas<br />

Ary dos Santos, Carlos do Carmo<br />

e em cantores como Amália e Zeca<br />

Afonso e, em Angola, das músicas em<br />

kimbundu, antes da independência,<br />

depois o próprio Rui Mingas, o André<br />

Mingas…<br />

Enquanto artista, que, às vezes,<br />

é um bocado indissociável de mim<br />

enquanto indivíduo, a minha música<br />

acaba, muitas vezes, por funcionar,<br />

como um bálsamo, uma forma<br />

de procurar desconstruir as minhas<br />

inseguranças, expô-las e, ao partilhá-<br />

-las, perceber que as minhas inseguranças<br />

também eram as dos outros.<br />

Hoje em dia, às vezes, a questão<br />

principal é aguentar a dor que sinto,<br />

por achar que não estou a conseguir<br />

ajudar toda a gente como gostava e,<br />

ao mesmo tempo, o pragmatismo de<br />

sermos profissionais e de precisarmos<br />

do aplauso e não do cachê. Mas<br />

vejo a arte como uma forma de estar<br />

próximo dos outros e de nos ajudar a<br />

ser mais inteiros. Em relação a Angola,<br />

em particular, também serve para<br />

resgatar memórias que permitam à<br />

juventude continuar a criar e a olhar<br />

para a frente com outra substância.<br />

“<br />

A minha música, no<br />

início, era quase como uma<br />

criação que saía antes do<br />

pensamento, que vinha cá<br />

para fora por inspiração,<br />

por ingenuidade. Hoje em<br />

dia, já existe maior consciência<br />

da minha parte e,<br />

por isso, às vezes, custa-me<br />

mais acabar as músicas,<br />

porque já não é só música<br />

para mim (...)<br />

“<br />

- Como olha para a Angola de<br />

hoje e para o momento da sua música?<br />

– O país está favorável, mas falta<br />

um longo caminho a percorrer. É normal.<br />

Não foi fácil durante a guerra e<br />

também não é fácil o período de recuperação.<br />

Acredito que vamos chegar lá<br />

um dia. Acredito na capacidade de as<br />

pessoas darem a volta por cima. Com<br />

um investimento forte nas áreas sociais,<br />

principalmente nas vertentes da<br />

saúde e da educação, vamos conseguir<br />

mudar o país completamente. Politicamente,<br />

já houve uma grande mudança<br />

e temos que enaltecer este facto.<br />

Como cidadão e angolano, continuo<br />

a fazer a minha parte, portanto,<br />

é chegado o momento de todos os<br />

angolanos unirem-se e lutarem por<br />

um mesmo objectivo. Estamos num<br />

momento de esperança. Nota-se que<br />

existe maior preocupação da classe<br />

política pelos seus concidadãos. Isso<br />

dá-nos logo, à partida, uma lufada de<br />

ar fresco, sentes que há um respirar<br />

mais leve. Parece que está a sair um<br />

peso grande de cima de nós. É essa<br />

capacidade de nos reinventarmos que<br />

dá esperança. As pessoas continuam a<br />

acreditar que é possível fazer um país<br />

melhor, também, e, principalmente,<br />

através da arte.<br />

A minha música, no início, era quase<br />

como uma criação que saía antes do<br />

pensamento, que vinha cá para fora<br />

por inspiração, por ingenuidade. Hoje<br />

em dia, já existe maior consciência da<br />

minha parte e, por isso, às vezes, custa-me<br />

mais acabar as músicas, porque<br />

já não é só música para mim. Não no<br />

sentido literal político, mas no sentido<br />

de fazer as pessoas sentirem que estamos<br />

próximos e que os artistas representam<br />

as carências e as expectativas<br />

dos angolanos, em particular.<br />

De onde vem a música na sua<br />

vida?<br />

Essencialmente, é de família. A<br />

minha avó Janete tocava piano, o meu<br />

avô, guitarra, e o meu pai era Dj. Sempre<br />

estive a cantar. A minha música,<br />

de facto, tem muito a ver com a forma<br />

como me preocupo com o mundo que<br />

nos rodeia.<br />

É uma música que acontece por<br />

causa dos outros. No início, era quase<br />

um desabafo que, de repente, se tornou<br />

num bem maior do que imaginava.<br />

Mais de 30 anos de carreira, com<br />

um vasto repertório onde se podem<br />

destacar temas como “Makalakato”,<br />

que tem um cariz interventivo. O<br />

que procurou transmitir com esta<br />

música?<br />

A música é uma forma de manter<br />

a sociedade unida, principalmente<br />

a juventude. Tem a capacidade<br />

de ajudar e de transmitir os<br />

Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019 25


FIGURA DO MÊS<br />

sentimentos das pessoas.<br />

Trata-se de uma música criada e<br />

produzida, na altura, como tantas outras,<br />

para transmitir o sentimento da<br />

maioria dos angolanos.Nela, procurei<br />

sensibilizar os angolanos para a necessidade<br />

da solidariedade, da partilha<br />

e da união. Na altura, passávamos<br />

por um momento muito difícil, e, como<br />

artista, que vivia o dia-a-dia dos angolanos,<br />

a aposta passou pela produção<br />

de temas musicais com mensagens<br />

educativas.<br />

- Surge no mercado angolano e<br />

nos Palop nos anos 80, tendo como<br />

companheiros Eduardo Paim, Ricardo<br />

Abreu e Ruca Van-Dúnem…<br />

- Os dois primeiros discos são arranjados<br />

e produzidos por Eduardo<br />

Paim e Ruca. Eles começaram, na altura,<br />

a mostrar-me a diferença entre<br />

a música na diáspora e a música que<br />

se pretendia voltar a fazer em Angola,<br />

porque, no final dos anos 80, ninguém<br />

gravava em Angola. Lembro-me que<br />

foram falar comigo em Lisboa, no caso<br />

concreto o Ricardo Abreu e o Ruca<br />

Van-Dúnem, para mostrarem outra<br />

forma de abordar Angola. Na altura,<br />

na diáspora, tínhamos muitas músicas,<br />

cujas letras transmitiam o sentimento<br />

de saudade que sentíamos do<br />

país, das nossas famílias. Com o Ruca<br />

e o Eduardo, vi e percebi que Angola<br />

também podia fazer parte do mundo,<br />

com a sua alegria e a sua ginga. No<br />

caso do Ruca, era uma música mais<br />

cadenciada: a kizomba.<br />

Como se dá a sua entrada no<br />

semba, tendo em conta que, no<br />

princípio da carreira, estava mais<br />

ligado à kizomba?<br />

O nome kizomba é dado, de facto,<br />

por causa das nossas músicas. Do<br />

Luandino de Carvalho, Eduardo Paim,<br />

Ruca Van-Dúnem, Ricardo Abreu.Em<br />

relação ao semba, surge na minha linha<br />

melódica com o “Tunda Mujila”,<br />

em 1992. Mas a incursão mais forte<br />

neste género musical dá-se com o<br />

“Canto o meu Semba”. Com o tempo,<br />

tornou-se na minha principal referência<br />

musical, reforçada com os discos<br />

“Ex-Combatentes” e “Recompasso”.<br />

Vario bastante, mas tenho tido a preocupação<br />

de não deixar ficar mal as pessoas<br />

que gostam da minha música.<br />

É um ritmo com o qual mais me<br />

identifico e, ao mesmo tempo, melhor<br />

me enquadro.Tenho o compromisso<br />

moral de tornar o semba cada vez<br />

mais vivo. Já toquei em várias partes<br />

do mundo e posso afirmar que kizomba<br />

todo o mundo faz e toca, mas o<br />

semba é mesmo só angolano. É a nossa<br />

bandeira.<br />

“(O Semba) é um<br />

ritmo com o qual mais me<br />

identifico e, ao mesmo<br />

tempo, melhor me enquadro.Tenho<br />

o compromisso<br />

moral de tornar o semba<br />

cada vez mais vivo. Já<br />

toquei em várias partes<br />

do mundo e posso afirmar<br />

que kizomba todo o mundo<br />

faz e toca, mas o semba<br />

é mesmo só angolano. É a<br />

nossa bandeira<br />

“<br />

“Inocente”, “Makalakato”, “Reencontro”,<br />

o que nos pode dizer sobre<br />

estas músicas?<br />

São diferentes, mas, ao mesmo<br />

tempo, completam o puzzle. E o<br />

puzzle é sempre do amor ao lugar.<br />

“Inocente” é uma música feita, na<br />

altura, a pensar nas crianças de rua,<br />

no seu sofrimento. “Reencontro” foi<br />

produzido a pensar no sentimento<br />

de saudade do país, na necessidade<br />

de regressar às origens. Já “Makalakato”<br />

é uma música escrita por Galiano<br />

Neto, mas que tive que dar um toque<br />

diferente, mudando a forma em que<br />

estava escrita. É uma música marcante,<br />

que tem história e que continua a<br />

ser ouvida pelo país.<br />

Às vezes, não procuro tanto o<br />

aplauso ou aquele palco. O que procuro<br />

é continuar a ter o prazer quando<br />

termino uma música, sentir-me vivo,<br />

sentir-me com vontade de continuar<br />

à procura e perceber que, muitas vezes,<br />

a música ganha uma dimensão na<br />

vida das pessoas da qual não temos<br />

noção. Quero, essencialmente, continuar<br />

a criar e a comunicar de uma<br />

maneira que possa fazer diferença na<br />

vida das pessoas.<br />

QUEM É PAULO FLORES ?<br />

Paulo Flores, que nasceu<br />

no município do<br />

Cazenga, em Luanda,<br />

em 1972, é um dos<br />

cantores mais populares<br />

de Angola. Mudou-se para Lisboa<br />

durante a sua infância. Lançou o<br />

seu primeiro álbum em 1988. As<br />

suas canções tratam temas diversos<br />

como governação, quotidiano dos<br />

angolanos, guerra e corrupção.<br />

DISCOGRAFIA<br />

• Kapuete, 1988<br />

• Sassasa, 1990<br />

• Coração Farrapo e Cherry, 1991<br />

• Brincadeira Tem Hora, 1993<br />

• Inocente, 1995<br />

• Perto do Fim, 1998<br />

• Recompasso, 2001<br />

• Xé Povo, 2003<br />

• The Best, 2003<br />

• Quintal do Semba, 2003<br />

• Ao Vivo, 2004<br />

• Ex-Combatentes, 2009<br />

• Ex-combatentes Redux, 2012<br />

• O País Que Nasceu Meu Pai, 2013<br />

• Bolo de Aniversário, 2016<br />

• Kandongueiro Voador, 2017<br />

26 Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019


Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019 27


POLÍTICA<br />

EX- SECRETÁRIO GERAL DA UNITA, HOJE DEPUTADO E DIPLOMATA<br />

O PASSADO DA<br />

UNITA NA VOZ DO<br />

GENERAL N'ZAU PUNA<br />

O nacionalista angolano e<br />

actual deputado do MPLA,<br />

o partido no poder em Angola,<br />

N'zau Puna revelou<br />

que a "UNITA pediu apoio<br />

ao regime da África do Sul<br />

quando foi abandonada<br />

por todos os países”. Em<br />

entrevista exclusiva a DW<br />

África, em véspera do lançamento<br />

do seu livro ("Mal<br />

Me QUEREM"), em Portugal,<br />

também falou sobre<br />

corrupção, caso Cabinda,<br />

José Eduardo dos Santos e<br />

a governação de João Lourenço.<br />

Com a devida vênia,<br />

publicamos esta matéria<br />

feita por Manuel Muamba<br />

O<br />

ex-militante da UNI-<br />

TA, o maior partido da<br />

oposição em Angola,<br />

(...) começou por explicar<br />

o tema do livro.<br />

"Aborda a trajectória<br />

de um combatente da liberdade; nós<br />

que lutamos, que fizemos a guerra de<br />

libertação nacional. Portanto, contamos<br />

factos”, salientou.<br />

E um destes factos é a ligação que<br />

a UNITA de Jonas Savimbi manteve<br />

com o regime sul-africano. "Participei<br />

em quase todas as comunicações<br />

e não posso negar. Pedi a África do Sul<br />

para vir, também fiz parte da delegação<br />

para poder nos apoiar quando<br />

fomos abandonados por todos, pelos<br />

americanos e pelos próprios sul-africanos<br />

e outros países que nos apoiavam",<br />

conta Puna.<br />

Não esconde admiração que nutre<br />

por Jonas Savimbi e a posição que<br />

este tomava, em plena reunião, na<br />

África do sul, para exigir a libertação<br />

de Nelson Mandela: "E ele dizia: É a<br />

28 Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019


POLÍTICA<br />

minha visão, África do Sul não tem<br />

outra saída se não a libertação de<br />

Mandela. Ele disse isso várias vezes<br />

porque era muitas vezes convidado<br />

pelos sul-africanos, Conselho de Segurança<br />

da África do Sul, composto<br />

por brancos apenas, para fazer palestras.<br />

E era aplaudido. Ele fazia<br />

uma análise sobre o que via para o<br />

futuro da África austral".<br />

A direcção da UNITA e a família<br />

de Jonas Savimbi esperaram mais de<br />

17 anos para o início do processo do<br />

seu funeral condigno que começou<br />

depois de um encontro realizado<br />

em em 2018 entre o Presidente angolano<br />

João Lourenço e o líder da<br />

UNITA Isaías Samakuva. N'zau Puna<br />

não tem dúvidas: a iniciativa presidencial<br />

é um "sinal de reconciliação<br />

nacional”.<br />

"O Presidente deu autorização<br />

para a exumação de Savimbi, já o fez<br />

com Ben Ben, são coisas que podem<br />

criar uma verdadeira reconciliação<br />

entre os angolanos; é um sinal de<br />

aproximação dos angolanos. Era um<br />

problema levantado constantemente,<br />

agora já não”, diz.<br />

Os restos mortais de Jonas Savimbi<br />

desceram à sepultura de Lopitanga,<br />

a 1 de Junho de 2019. N'zau<br />

Puna revela que teve de pedir autorização<br />

ao líder do partido no poder,<br />

João Lourenço, para participar na cerimónia<br />

de exumação do seu amigo,<br />

com quem esteve mais de 30 anos,<br />

24 dos quais como secretário-geral<br />

da UNITA.<br />

"Quando a direcção da UNITA e<br />

a família me pediram para ir às exéquias,<br />

eu pedi autorização porque já<br />

não sou da UNITA, sou do MPLA e<br />

tive que pedir autorização ao presidente<br />

do partido. E fui, para surpresa<br />

de alguns e animação de muitos”,<br />

conta Puna.<br />

Também falou sobre o ex-Presidente<br />

José Eduardo dos Santos que<br />

governou Angola de 1979 a 2017.<br />

Ele entende que não devia ser hostilizado,<br />

embora reconheça que deixou<br />

o país mergulhado numa crise<br />

económica e financeira e num índice<br />

de corrupção galopante. Explica que<br />

o núcleo radical do MPLA muitas vezes<br />

influenciou negativamente o antigo<br />

estadista na tomada de algumas<br />

decisões.<br />

E N´Zau Puna não é tão severo<br />

com o ex-Presidente: "Eduardo dos<br />

Santos cumpriu a missão dele. Conseguiu<br />

a paz do seu jeito e está onde<br />

está. Portanto, eu penso que ele não<br />

devia ser hostilizado”.<br />

MOMENTO ACTUAL - Em relação<br />

a actual governação, Puna louva<br />

a iniciativa da luta contra a corrupção<br />

e a impunidade, cavalo de batalha<br />

do seu partido e do Presidente<br />

João Lourenço, mas critica a "justiça<br />

selectiva”.<br />

"É uma boa iniciativa. É uma outra<br />

visão que está a dar à comunidade<br />

internacional sobre aquilo que<br />

Angola é efectivamente. Ou começamos<br />

uma coisa e andamos, ou começamos<br />

e paramos. E isso significa<br />

derrota. Tem que se ir para frente. E<br />

a corrupção tem de ser feita, não de<br />

forma selectiva. Todo que é corrupto<br />

deve ser chamado”, entende.<br />

Admite, no entanto, que a nova<br />

governação está a contribuir para o<br />

processo democrático em curso em<br />

Angola: "Actualmente há mais respeito<br />

pelos direitos e liberdades”, diz.<br />

"Com o novo Presidente há mais<br />

abertura porque hoje as pessoas já<br />

falam. Antigamente quem é que podia<br />

falar? Só os mais corajosos, mas<br />

toda gente tinha medo de falar. Também<br />

há uma certa abertura democrática”,<br />

diz Puna.<br />

Sobre o caso Cabinda, o deputado<br />

do MPLA, partido no poder, apresenta<br />

um caminho que pode ser adoptado<br />

pelo Governo para se encontrar uma<br />

solução para o enclave angolano.<br />

"O Governo se quer encontrar<br />

uma solução, tem de reunir os cabindas<br />

todos internamente. Se não,<br />

o Governo fará sempre disso uma<br />

questão de negócio”.<br />

N'zau Puna pede respeito aos que<br />

chama de "combatentes da liberdade”<br />

e quer ser recordado como um homem<br />

que lutou para o alcance da liberdade,<br />

da paz e da justiça em Angola.<br />

(Deutsche Welle).<br />

Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019 29


REPORTAGEM<br />

MAIS DE USD 1 BILIÃO DE INVESTIMENTOS AINDA NÃO "DESPERTARAM"...<br />

O "BANQUETE"<br />

NAS FÁBRICAS TÊXTEIS<br />

As três firmas representam um investimento superior<br />

a mil milhões de dólares, publicamente criticado pelo<br />

Presidente João Lourenço, sendo que duas receberam do<br />

Banco Africano de Investimentos (BAI), mediante garantia<br />

soberana do Estado, mais 12 mil milhões de Kwanzas.<br />

A fábrica de Benguela, acusada de pagar salários de miséria,<br />

está em tribunal por divergências com trabalhadores<br />

expulsos pela administração<br />

Texto e Fotos : João Marcos - Em Benguela<br />

O<br />

Presidente da República,<br />

João Lourenço,<br />

não podia ter<br />

sido mais claro ao<br />

assinalar, agora na<br />

entrevista à TPA e<br />

ao NJ, que a luta pela recuperação<br />

de activos financeiros do Estado<br />

em benefícios de privados dedica<br />

atenção especial aos «recursos volumosos»,<br />

quando o país enfrenta<br />

ainda as ondas de choque provocadas<br />

pelo investimento público nas<br />

30 Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019


REPORTAGEM<br />

três fábricas têxteis.<br />

Proveniente da linha de crédito<br />

do Japão, o financiamento nas têxteis<br />

está, seguramente, entre os vários<br />

que colocaram a dívida pública<br />

na linha vermelha, numa situação<br />

que forçou o Governo, como admitiu<br />

Lourenço, a recorrer ao Fundo<br />

Soberano para sustentar o PIIM,<br />

Plano Integrado de Intervenção<br />

nos Municípios.<br />

O Presidente da República, lembramos,<br />

fez referência directa à<br />

falência das fábricas alguns meses<br />

antes, aquando do anúncio do empréstimo<br />

de uma instituição financeira<br />

alemã no valor de mil milhões<br />

de dólares, o mesmo, curiosamen-<br />

“<br />

Proveniente da<br />

linha de crédito do Japão, o<br />

financiamento nas têxteis<br />

está, seguramente, entre<br />

os vários que colocaram a<br />

dívida pública na linha vermelha,<br />

numa situação que<br />

forçou o Governo, como admitiu<br />

Lourenço, a recorrer<br />

ao Fundo Soberano para<br />

sustentar o PIIM, Plano Integrado<br />

de Intervenção nos<br />

Municípios<br />

“<br />

"OPERAÇÕES IRREGULARES"-<br />

-Conhecida a posição da PGR, o Instituto<br />

de Gestão de Activos e Partite,<br />

que o Estado angolano investiu<br />

na reabilitação e modernização dos<br />

empreendimentos.<br />

Assistiu-se, portanto, a um regresso<br />

aos «puxões de orelhas» no<br />

enclave marcado pela chegada ao<br />

Comité Central de vários jovens,<br />

apontados pela crítica como trunfos<br />

para os desafios autárquicos e elementos-chave<br />

na luta contra a corrupção,<br />

impunidade e nepotismo.<br />

A propósito, o conhecido político<br />

Abel Chivukuvuku, que promete<br />

para 2020 um novo partido, capaz<br />

de alterar o conceito de serviço público,<br />

afirma que «este MPLA completamente<br />

corrompido obriga o<br />

Presidente a fazer varridelas».<br />

EMPRESA JÁ FOI OBJECTO DE PROVIDÊNCIA CAUTELAR ...<br />

ALASSOLA PAGA SALÁRIOS DE<br />

MISÉRIA E IGAPE FALA EM<br />

"OPERAÇÕES IRREGULARES"<br />

Sem salários há oito<br />

meses, trabalhadores<br />

da fábrica têxtil de Benguela,<br />

objecto de providência<br />

cautelar devido<br />

ao não reembolso de<br />

empréstimos solicitados<br />

pelo Estado angolano,<br />

revelam que os gestores<br />

vendem uma falsa<br />

imagem ao país, quando<br />

a realidade é de sofrimento<br />

para a maioria e<br />

enriquecimento para um<br />

pequeno grupo<br />

Paralisada por falta de<br />

matéria-prima, à semelhança<br />

das duas outras<br />

na mira da Procuradoria-geral<br />

da República<br />

(PGR), em Luanda e no<br />

Kwanza Norte, a fábrica poderá ter de<br />

indemnizar quinze funcionários expulsos<br />

por terem lutado contra «salários<br />

míseros e gestão danosa».<br />

Beneficiário de um investimento<br />

público de 480 milhões de dólares, o<br />

grupo Alassola, uma sociedade anónima<br />

que estará a esconder o rosto<br />

de altas figuras do regime angolano,<br />

apontou sempre para a falta de algodão<br />

para conter o clima de insatisfação<br />

que enfrentou em cinco anos na<br />

gestão da fábrica.<br />

À espera de indemnização, o jovem<br />

Avelino Buena, do grupo dos expulsos,<br />

fez o retracto de uma situação<br />

que nem a exportação de fios de algodão<br />

atenuou, assinalando que os mais<br />

de 130 funcionários recebiam salários<br />

de miséria (uma média de 35 mil).<br />

"Chegou-se a uma fase em que a<br />

fábrica rebentou, nem sequer dinheiro<br />

para salários tinha. Nós víamos exportações<br />

através do Porto, mas nada<br />

recebíamos, por isso pensamos que<br />

eles, os sócios, dividiam tudo", denuncia.<br />

Quanto a soluções para os problemas,<br />

extensivas às fábricas do Dondo<br />

e Textang II, o jurista Eurico Bongue<br />

aponta para a responsabilização civil<br />

dos implicados, de modo a que trabalhem<br />

para a devolução gradual da<br />

dívida.<br />

"Deve-se evitar que a balança da<br />

dívida pública seja tão alta, motivada<br />

por créditos a favor de privados. Se<br />

os seus projectos são viáveis, então<br />

devem trabalhar para o reembolso’’,<br />

aponta Bongue.<br />

Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019 31


REPORTAGEM<br />

Tambwe Mubaz, PCA da fábrica têxtil Lar Alassola<br />

cipações do Estado (IGAPE) veio a<br />

público, em comunicado, sublinhar<br />

que a privatização das três unidades<br />

foi irregular, com sociedades privadas<br />

em actividade mesmo sem terem<br />

sido apuradas entidades para a<br />

sua gestão.<br />

A nota lembra a realização de<br />

um concurso público sob os auspícios<br />

do então Ministério da Geologia<br />

e Minas e Indústria, liderado pelo<br />

agora deputado do MPLA Joaquim<br />

David, em 2010, mas sem qualquer<br />

resultado.Joaquim David, apontado<br />

como organizador do processo de<br />

financiamento, está, conforme a Procuradoria-geral<br />

da República, entre<br />

os proprietários de uma das sociedades<br />

privadas.<br />

O comunicado do IGAE acrescenta<br />

que os custos da reabilitação da<br />

Alassola – ex-África Têxtil -, da antiga<br />

Satec e da Textang II foram dez<br />

vezes mais altos do que o montante<br />

inicialmente previsto, de 50 milhões<br />

de dólares americanos.<br />

"A entrega das fábricas a sociedades<br />

privadas foi irregular por falta<br />

de competências do Instituto de<br />

Desenvolvimento Industrial e do Ministério<br />

da Geologia e Minas e Indústria",<br />

avança o documento, no qual é<br />

referido que a fábrica de Benguela<br />

produziu até agora menos de 10% da<br />

sua capacidade, a Textang II menos de<br />

5 por cento e a ex-Satec 0%.<br />

Como medida de segurança, termina<br />

o comunicado, o Governo de João<br />

Lourenço leva a cabo um processo de<br />

privatização, iniciado em 2018, afastadas<br />

que foram as sociedades sem<br />

requisitos. Em reacção, a Alassola indica<br />

que a condição de devedor a que<br />

se encontram os accionistas das fábricas<br />

têxteis resulta de «actos hostis»<br />

e constantes alterações nas decisões<br />

do Executivo, que incapacitaram as<br />

empresas «de iniciar o pagamento do<br />

financiamento».<br />

O argumento é apresentando<br />

pelo seu PCA, Tambwe Mukaz, num<br />

comunicado em que afirma que,<br />

«após o período de formação do pessoal<br />

técnico e início de laboração de<br />

duas das três empresas têxteis, foram<br />

sentidos actos hostis vindos de departamentos<br />

governamentais».<br />

Mukaz acrescenta que estas<br />

medidas «desaconselharam a continuação<br />

do programa de formação<br />

de técnicos e recrutamento<br />

de pessoal, frenaram o plano de<br />

laboração em pleno das fábricas<br />

e, consequentemente, incapacitaram-nas<br />

de iniciar o pagamento do<br />

financiamento».<br />

Inconformados com esta situação,<br />

os empresários privados<br />

«interpuseram um recurso hierárquico<br />

que teve como reacção final<br />

a publicação dos Decretos Presidenciais<br />

108/18 de 21, 109/18<br />

e 110/18 de 23 de Agosto, que<br />

orientaram a assinatura dos contratos<br />

negociados com o Ministério<br />

das Finanças para a concessão,<br />

exploração e gestão das unidades<br />

industriais pelos actuais promotores<br />

com opção de compra, uma<br />

vez que, enquanto não for feito o<br />

serviço da dívida, as unidades seriam<br />

consideradas propriedades<br />

estatais".J.M.<br />

32 Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019


REPORTAGEM<br />

Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019 33


REPORTAGEM<br />

EM ANGOLA E MOÇAMBIQUE<br />

MUITOS TRABALHADORES<br />

SEROPOSITIVOS SÃO DISCRIMINADOS<br />

Contra a legislação, instituições públicas e privadas continuam a negar o acesso ao emprego<br />

a pessoas que vivem com HIV/SIDA em Moçambique e Angola. Ouvimos as vítimas<br />

e as associações preocupadas com a discriminação<br />

Texto: Amós Zacarias<br />

Foto: DW/M. Luamba<br />

Joana Francisco é uma jovem<br />

moçambicana. Tem 26 anos e<br />

há três descobriu que é seropositiva.<br />

Na altura, era empregada<br />

doméstica. Não revelou o seu<br />

estado serológico aos patrões.<br />

Quando a patroa descobriu que era<br />

seropositiva, mandou-a embora. Igualmente,<br />

Joana viu congelados os salários<br />

de três meses que estavam em atraso<br />

"Fiquei doente, fui ao hospital, deixei<br />

meus comprimidos em cima da<br />

cama, a minha patroa entrou no meu<br />

quarto viu aqueles comprimidos e me<br />

mandou embora", conta a jovem que<br />

ainda luta para reaver os seus salários.<br />

"Ela negou pagar-me, alegando que<br />

quer levar aquele valor ao hospital para<br />

fazer o exame aos filhos para saber se<br />

ficaram infectados ou não".<br />

A lei 19/2014 para a Proteção da<br />

Pessoa, do Trabalhador e do Candidato<br />

a Emprego Vivendo com HIV e SIDA, em<br />

Moçambique, estabelece que "pessoas<br />

vivendo com HIV/SIDA não devem ser<br />

discriminadas ou estigmatizadas em razão<br />

do seu estado de seropositividade".<br />

Olhando para o caso de Joana Francisco,<br />

a jurista moçambicana Firosa Zacarias<br />

não tem dúvidas: "Não há espaço<br />

para cativar o salário dela, porque descobriram<br />

que é seropositiva". "Como é<br />

que esta senhora vai provar que antes<br />

da empregada começar a trabalhar<br />

na sua casa ela não era seropositiva?",<br />

questiona a jurista.<br />

Firosa Zacarias afirma mesmo que<br />

há espaço para uma responsabilzação<br />

criminal: "Esta trabalhadora deve procurar<br />

instituições que possam defender<br />

a causa dela e ela tem direito ao seu<br />

salário".<br />

Em Moçambique, há muitos casos<br />

semelhantes, diz Judite de Jesus, coordenadora<br />

da associação Hi Xikamwe,<br />

que apoia pessoas vivendo com o HIV<br />

nos arredores da cidade de Maputo.<br />

"Trabalhamos com muitas mulheres<br />

que passaram por uma situação idêntica.<br />

Pessoalmente, com as minhas assistentes<br />

sociais, vamos dar andamento<br />

jurídico destes casos", garante.<br />

Um estudo publicado em 2013 pela<br />

ONUSIDA aponta que 6,5% das pessoas<br />

seropositivas em Moçambique tinham<br />

perdido seus postos de trabalho.<br />

O mesmo documento indica que 9,7%<br />

das pessoas entrevistadas consideram<br />

que foram afastadas por serem seropositivas.<br />

34 Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019


REPORTAGEM<br />

No entanto, a jurista Firosa Zacarias<br />

observa que não há muitas denúncias<br />

por da parte das pessoas lesadas,<br />

por causa do auto-estigma e desconhecimento<br />

da existência de uma lei<br />

que as protege.<br />

Estarão instituições públicas<br />

em moçambique a violar a Lei? - Engane-se<br />

quem pensa que estes casos<br />

acontecem apenas no sector privado.<br />

Selmina Panguene, de 44 anos, é professora<br />

no Ministério da Educação e<br />

Desenvolvimento Humano há 21 anos.<br />

Chegou a desempenhar o cargo de directora<br />

de uma escola durante cinco<br />

anos, na província de Maputo.<br />

Em 2007, teve tuberculose associada<br />

ao HIV. Cumpriu com os tratamentos<br />

exigidos pelo sistema moçambicano<br />

de saúde. No entanto, desde<br />

2012, está suspensa das suas funções<br />

por conta do seu estado de saúde. E<br />

sabe que tem um processo de reforma<br />

antecipada que está a ser movido contra<br />

ela.<br />

"Quando souberam que eu tinha<br />

sequelas de tuberculose acabaram por<br />

dizer que eu tinha que me reformar",<br />

recorda, em entrevista à DW África.<br />

"Não é porque eu tivesse incapacidade<br />

de continuar a trabalhar, até porque já<br />

não estava na sala de aulas e estava a<br />

fazer trabalhos moderados", explica.<br />

A jurista Firosa Zacarias recomenda,<br />

neste caso, um processo contra o<br />

Estado moçambicano e justifica: "Se<br />

não há elementos bastantes que apontem<br />

que ela não está em condições<br />

para continuar a trabalhar, nenhuma<br />

instituição deve fazer isso com ela".<br />

Selmina Panguene diz-se disposta<br />

a trabalhar, até porque, desde 2017, é<br />

assistente social na associação Hi Xikamwe,<br />

em Maputo. "A minha dor é reformar-me<br />

enquanto ainda não estou<br />

na idade da reforma. Alguém cortar a<br />

minha esperança de vida", lamenta.<br />

A DW África tentou, sem sucesso,<br />

obter uma reacção do Ministério da<br />

Educação e Desenvolvimento Humano<br />

de Moçambique.<br />

Foto: DW/B. Jequete<br />

Desconhecimento da lei - Poucas<br />

pessoas em Moçambique têm o domínio<br />

ou mesmo o conhecimento da existência<br />

da lei para Protecção da Pessoa,<br />

do Trabalhador e do Candidato a Emprego<br />

vivendo com HIV e SIDA. Uma<br />

realidade que tem de ser combatida,<br />

diz a jurista Firosa Zacarias.<br />

"Este é um mal nacional, de todos<br />

os dispositivos legais. As pessoas<br />

sabem onde devem levantar os anti-<br />

-retrovirais, mas da lei ouve-se pouco",<br />

afirma a jurista salientando que "era<br />

importante nas instituições falar do<br />

HIV e da lei para transferência de conhecimento<br />

e uso, para que as leis deixem<br />

de ser letras mortas, como é o caso<br />

de Moçambique, onde temos leis extremamente<br />

brilhantes mas sem uso".<br />

Exigência de testes do HIV para o<br />

recrutamento em Angola - Para além<br />

de Moçambique, também em Angola<br />

há registo de violação dos direitos das<br />

pessoas vivendo com o HIV, segundo<br />

denunciou e condenou recentemente<br />

a deputada angolana Eulália Rocha, do<br />

MPLA, ao apontar a existência de instituições<br />

angolanas que exigem testes de<br />

HIV no processo de recrutamento.<br />

Noé Mateus é membro da Associação<br />

Amigos da Vida (AVIDA), que trabalha<br />

com pessoas vivendo com HIV<br />

em Angola. E entrevista à DW, confirmou<br />

as denúncias da parlamentar, explicando<br />

que "as empresas exigem um<br />

check-up dos funcionários na hora de<br />

contratação e nunca se sabe se isto é<br />

para fazer esta selecção de quem é HIV<br />

positivo".<br />

"Para nós, isso é inaceitável. É uma<br />

regressão de um grande esforço que o<br />

país exerceu ao longo dos tempos", sublinha<br />

o activista.<br />

O Governo angolano, através do ministro<br />

da Administração Pública, Trabalho<br />

e Segurança Social (MAPTSS),<br />

Jesus Maiato, classificou este acto como<br />

uma "atitude arbitrária", por não existirem<br />

no país leis que impõem a apresentação<br />

do teste.<br />

O artigo 6º do Decreto n°43/3 de<br />

4 de Julho, aprovado pelo Governo angolano<br />

em 2003, estabelece que "não<br />

é permitido em circunstância alguma<br />

a realização do teste para detecção de<br />

anti-corpos anti-HIV como pré-requisito<br />

na admissão ao emprego, nem o controlo<br />

forçado do HIV/SIDA no local de<br />

trabalho, salvo a pedido do candidato<br />

ou do trabalhador, exceptuando-se os<br />

casos legalmente exigidos".<br />

Noé Mateus exige uma responsabilização<br />

criminal das instituições<br />

que violem a lei, em protecção dos direitos<br />

da pessoa vivendo com a HIV/<br />

SIDA: "Se as instituições públicas ou<br />

privadas discriminam as pessoas vivendo<br />

com o HIV, como é que a comunidade<br />

vai reagir para com estas<br />

pessoas? Estamos a colocá-las entre a<br />

espada e a parede".<br />

(In Deutsche Welle /<br />

Página Global)<br />

Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019 35


COMUNICADO DE IMPRENSA<br />

TV ZIMBO<br />

LANÇA CANAL HD EM AGOSTO<br />

A<br />

TV Zimbo começou a veiculação da “Campanha TV Zimbo HD”, que anuncia o mês de<br />

Agosto como data de início da emissão do canal em HD (alta definição), nas Operadoras<br />

de TV por satélite.<br />

Sob assinatura “TV Zimbo HD é outra imagem”, a campanha destaca a oferta de imagens<br />

com muito mais qualidade ao telespectador. A transmissão em HD é a nova aposta<br />

da primeira televisão privada de Angola.<br />

Para poder ver o canal TV Zimbo em alta definição e ter acesso a melhor imagem é necessário que a<br />

box conectada à TV Digital também seja HD. Numa primeira fase nem todas as distribuidoras de sinal<br />

por satélite serão abrangidas.<br />

A sigla “HD” é uma abreviatura do inglês “High Definition”, e a sua tradução para o português significa<br />

“Alta Definição”. TV em HD (HDTV) é um formato dos aparelhos de televisão que recebem sinal digital<br />

e apresentam imagens com alta resolução. A diferença com as TVs usuais é o melhor detalhamento da<br />

imagem.<br />

Em Agosto, a Zimbo vai ficar ainda melhor. Caso para dizer: “em Agosto, a Zimbo vai dar mais gosto”.<br />

TV Zimbo em HD é mais qualidade para você ver melhor.<br />

TV Zimbo HD é Outra Imagem!<br />

Para mais informações, por favor contacte: E-mail marketing@tvzimbo.com<br />

36 Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019


Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019 37


FIGURAS DE CÁ<br />

ISAÍAS SAMAKUVA<br />

AVANÇA OU NÃO?<br />

PÉROLA<br />

FORMAÇÃO "TOP"<br />

O perfil biográfico da cantora angolana Pérola é de se<br />

tirar o chapeu uma, duas, três vezes, enfim, quantas forem<br />

necessárias para concluir que "filha de peixe é peixe". E<br />

não é para estabelecer qualquer espécie de relação com<br />

a música. Não. É a capacidade desta estrela de se assumir<br />

como uma estudante de sucesso e tem razões de sobra.<br />

Jandira Sassingui Neto, Pérola, é filha de mãe médica e<br />

de pai advogado. De acordo com a sua biografia, com<br />

nove anos, com a mãe e os três irmãos, teve de mudar-<br />

-se do Huambo para Luanda por causa da Guerra<br />

Civil Angolana. Na Wikipedia, lembra-se que, quatro<br />

anos depois, foram para Windhoek, capital da Namíbia.Mais<br />

tarde, estudou Direito na Universidade<br />

de Pretória, na África do Sul, onde teve a primeira<br />

grande oportunidade no mundo da música, no<br />

programa de caça talentos Coca Cola Pop Stars.<br />

Hoje, a senhora Jandira Sassingui Neto (nascida<br />

no Huambo, aos 28 de abril de 1983) é licenciada<br />

em Direito e continua a brilhar como<br />

uma excelente música e compositora!<br />

Pelos vistos, não está ainda confirmado o facto<br />

de Isaías Samakuva ir a jogo nas próximas<br />

eleições gerais, marcadas para 2022, na qualidade<br />

de candidato presidencial pela UNITA.A<br />

imprensa pública noticiou, a privada confirmou,<br />

as redes sociais anunciaram que Samakuva terá<br />

dado o dito pelo não dito, assegurando que, sim,<br />

senhor, iria apresentar-se como um concorrente<br />

a João Lourenço do MPLA e outros líderes dos<br />

principais partidos da oposição. Entretanto, a direcção<br />

da Unita diz que nada foi dito ou desdito.<br />

Uma confusão tremenda!.Por enquanto, nada é<br />

oficial e, no meio de tantas incertezas, só o XIII<br />

Congresso do partido , que se realiza entre os<br />

dias 13 e 15 de Novembro deste ano, poderá,<br />

de uma vez por todas, serenar os ânimos nas<br />

hostes da UNITA. Adalberto Costa Júnior,chefe<br />

da bancada parlamentar, já disse<br />

que só avançaria, caso o<br />

actual presidente cumpra<br />

com a palavra dada há<br />

já algum tempo. Isaías<br />

Samakuva, que tem<br />

setenta e três anos de<br />

idade, já se encontra à<br />

frente de tudo e todos<br />

desde 2003. Há gente<br />

a reclamar...<br />

38 Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019


FIGURAS DE CÁ<br />

TIAGO "AZULÃO"<br />

SAÍDA LIMPA<br />

Um dos pontas de lança mais marcantes na história do<br />

Petro Atlético Petróleos de Luanda pôs fim à sua ligação<br />

contratual com o clube, depois de ter exibido o seus dotes<br />

de goleador nato durante quatro épocas consecutivas. O<br />

brasileiro Tiago "Azulão" deixa a equipa, mas certamente<br />

vai figurar na galeria dos mais craques do "eixo viário",<br />

juntando-se às outras estrelas importantes como Jesus,<br />

Lufemba, Abel Campos, Macuéria e mesmo àquele que foi<br />

e é considerado o melhor jogador angolano de todos os<br />

tempos, Daniel NDunguidi, curiosamente proveniente do<br />

seu arqui-rival, o Clube Desportivo Primeiro de Agosto.<br />

Para evitar possíveis especulações, a Direcção do Atlético<br />

Petróleos de Luanda divulgou um comunicado, onde revelou<br />

a razão da saída do atleta:recebeu uma proposta do<br />

Olimpiakos de Nikosia do Chipre, feita uma época antes do<br />

fim do contrato com o atleta,e, "por uma questão de justiça<br />

e em respeito ao que havia sido acordado", decidiu cumprir<br />

o apalavrado. Só não revelou a verba financeira envolvida<br />

neste gesto amigável de quebra do vínculo contratual...Se é<br />

que tivesse existido alguma.<br />

TEIXEIRA CÂNDIDO<br />

LIDERANÇA ASSUMIDA<br />

O presidente do Sindicato dos Jornalistas Angolanos (SJA), Teixeira Cândido, ao<br />

longo do seu mandato tem dado mostras de que, quanto à liderança no cômputo<br />

geral do movimento sindical angolano, estamos conversados: sempre<br />

foi voz de destaque a clamar no meio de um deserto bastante árido para<br />

os desejos da imensa massa de trabalhadores disposta a defender os seus<br />

direitos.<br />

Nos tempos que correm , raros são os líderes sindicais que demonstrem<br />

tamanha sagacidade, espírito de compromisso e, sobretudo, capacidade de liderança<br />

nos inúmeros processos reivindicativos. Muito recentemente, Teixeira<br />

Cândido, a par de Africano Neto, coordenador do núcleo do SJA na Rádio<br />

Nacional de Angola, conseguiu "estremecer" o país, com uma ameaça muito<br />

séria de uma greve de dez dias na maior estação emissora de rádio do país- a<br />

RNA. O processo foi levado tão a sério que terá deixado em absoluto estado de<br />

nervos o próprio governo. Para já, a greve anunciada fica adiada.Enquanto isso,<br />

o conselho de administração da RNA não terá um sono sossegado porque sabe<br />

que na cabeceira da mesa de negociações para a resolução dos variadíssimos pontos<br />

em agenda, entre os quais a subida de salários, tem um líder sindical "complicado" e<br />

"rebelde", como se diz em certos corredores do poder. Outubro é o prazo dado pelos "grevistas"<br />

para que se resolvam os assuntos pendentes... que são graves!!<br />

Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019 39


FIGURAS DE CÁ<br />

ARCHER MANGUEIRA<br />

SATISFAÇÃO E CONFIANÇA<br />

O ministro angolano das Finanças, Archer Mangueira, mostrou-se<br />

satisfeito com a intervenção do Banco Mundial que<br />

decidiu financiar um projecto de fortalecimento do sistema<br />

de protecção social em Angola, exactamente numa altura em<br />

que o executivo angolano está a implementar uma série de<br />

medidas no sistema de subsídios a preços.<br />

O motivo da satisfação do ministro não é de pouca relevância,<br />

uma vez que aquela instituição financeira internacional acaba<br />

de aprovar mais um pacote financeiro para Angola no valor<br />

global de 1,32 mil milhões de dólares. Deste montante, USD<br />

320 milhões irá para o projecto de fortalecimento do Sistema<br />

de Protecção Social, USD 500 milhões para operação de Apoio<br />

Orçamental e 500 milhões de dólares para projecto de águas<br />

do Bita, em Luanda.<br />

O país "navega" num clima de confiança espectacular,sem<br />

dúvidas, pois só do Banco Mundial, Angola já recebeu um<br />

financiamento na ordem dos USD 2,52 mil milhões de dólares.<br />

Segundo se soube, o projecto de financiamento do sistema de<br />

protecção social que será implementado com o apoio técnico<br />

do BM, tem por objectivo realizar transferências monetárias<br />

para famílias vulneráveis em áreas alvos.<br />

PATRÍCIO BATSÎKAMA<br />

RELÍQUIA CIENTÍFICA<br />

"Mbôngi a Ñgîndu" , que em Português significa<br />

escola de Ciências Políticas no antigo Kongo, é o<br />

título de mais uma obra do conceituado historiador<br />

angolano Patrício Batsîkama. A obra,<br />

segundo o prefaciado de Ivaldo Lima (coordenador<br />

de Pós-Graduação em Estudos Africanos da<br />

Universidade da Bahia-Brasil), mostra detalhes<br />

dos vários aspectos políticos e administrativos do<br />

reino do Kongo, desde as escolas de formação e o<br />

corpo técnico de funcionários.<br />

A Angop revelou que, segundo Ivaldo Lima,<br />

Batsîrama , ao escrever o livro de 133 páginas,<br />

cuja tiragem inicial é de 1500 exemplares, foi<br />

movido pela inspiração de contribuir para consagração<br />

do Reino do Kongo como Património<br />

Mundial da Humanidade.<br />

Natural da província do Uíge, Patrício Batsikama<br />

é autor de obras como “Tokoismo, Teologia da<br />

Libertação”, “O Reino do Kongo e a sua Origem<br />

Meridional", "Makela ma Zombo" e " Nação,<br />

Nacionalidade e Nacionalismo em Angola". É<br />

docente do Instituto Superior Tocoísta (ISPT), de<br />

onde também é coordenador do Centro de Estudo<br />

e Investigação Científica Aplicada (CEICA).<br />

40 Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019


FIGURAS DE CÁ<br />

ANTÓNIO ASSIS<br />

OUTROS DESAFIOS<br />

Nos anos 90, foram dele algumas das mais brilhantes análises sobre o<br />

momento político, económico e social do país, nomeadamente na imprensa<br />

privada. Não escondia o seu sentimento crítico sobre a realidade vigente na<br />

altura , fundamentalmente no que toca a um sector - a Agricultura- que , para<br />

si, foi sempre decisivo para o desenvolvimento e crescimento de Angola.O<br />

engenheiro agrónomo António Assis foi colaborador permanente no extinto<br />

semanário "Comércio Actualidade" e, mais tarde, nesta revista.<br />

Fomos aos arquivos e encontrámos dois trechos de um comentário escrito<br />

em 1997 que permanecem actuais, com sentido de oportunidade para os<br />

tempos que ainda correm , difíceis e tão complicados como no passado:<br />

1º "(...) Precisamos de polir a apresentação das instituições públicas e respectivos<br />

dirigentes , por um lado,e, por outro, fornecer um quadro diplomático<br />

actuante,abrangente e competente, capaz de convencer as organizações<br />

estrangeiras em fazer doações que de facto levem Angola para um caminho<br />

de crescimento e desenvolvimento económico com reciprocidade de vantagens<br />

para quem connosco participa na reconstrução deste país".<br />

2º "(...) precisamos de rever as nossas estratégias políticas, económicas e sociais<br />

para que a Nação desponte, a bem do povo. De nada nos vale lutar para<br />

que este ou aquele seja considerado bom,mau ou vilão; muito menos contarmos<br />

aos quatro ventos com os petróleos e diamantes que não representam<br />

qualquer bem-estar para os cidadãos, nem sequer para a maioria dos que<br />

vivem nas áreas onde as ditas riquezas são extraídas".<br />

António Assis, é o actual ministro da Agricultura e florestas...<br />

GERSON LUKENY<br />

RENOVAÇÃO BÁSICA<br />

Já era praticamente garantida a renovação do contrato<br />

do Petro Atlético de Luanda com o base-extremo Gerson<br />

Lukeny, um dos frutos da formação petrolífera que, definitivamente,<br />

garantiu a sua titularidade nos cinco iniciais<br />

da actual equipa campeã nacional. Tanto mais que o "rapaz"<br />

que ganhou mais músculo e raça na época finda, foi o MVP<br />

dos "play-offs" do campeonato e tinha planos para jogar fora<br />

do país. Todavia, a direcção do clube que o criou, foi mais<br />

assertiva e convenceu a estrela a trabalhar mais em Angola.<br />

Cai assim por terra o sonho da direcção atenta do Primeiro<br />

de Agosto em ver mais um "filho" do Petro engrossar a sua já<br />

pesada fornalha de craques em ascenção permanente.<br />

Gerson Lukeni, tem 22 anos de idade, 1,92 metros, foi decisivo<br />

na conquista do título nacional de 2018/19 e prepara-se para<br />

destacar-se na selecção nacional, ao lado dos melhores de<br />

Angola e da África, no campeonato Mundial de Basquetebol.<br />

Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019 41


CULTURA<br />

MBANZA KONGO:<br />

UM PATRIMÓNIO CULTURAL<br />

COM VONTADE DE SE<br />

MOSTRAR À HUMANIDADE<br />

Detentora de um rico historial cultural, factor que a catapultou para a lista do património<br />

mundial, a mítica cidade de Mbanza Kongo, antiga capital do Reino do Kongo, carrega<br />

consigo um potencial turístico invejável por explorar e ser colocado na órbita turística<br />

nacional e internacional<br />

Texto e Fotos: Venceslau Mateus<br />

42 Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019


CULTURA<br />

Localizada a 472 quilómetros<br />

a noroeste de Luanda<br />

(capital angolana),<br />

num percurso feito pela<br />

estrada nacional 100, em<br />

aproximadamente cinco<br />

(5) horas de viagem, Mbanza Kongo<br />

possui zonas paisagísticas por explorar<br />

para o desenvolvimento do turismo,<br />

destacando-se no roteiro as cascatas<br />

do Nkungu-a-Paza, as grutas do<br />

Nza-Evua, a estância turística que se<br />

estende ao longo do rio Tuco e tantos<br />

outros locais.<br />

Para quem faz do turismo um dos<br />

seus hobbies preferidos, Mbanza Kongo<br />

oferece a oportunidade não só de<br />

conhecer a história do antigo Reino<br />

do Kongo, mas também viver, intensamente,<br />

os encantos da natureza.<br />

Agitada, quase 24 horas/dia, talvez<br />

pela aproximação da fronteira<br />

com a RDCongo, pelo Luvo, localidade<br />

que acolhe o mercado com o mesmo<br />

nome e que recebe diariamente centenas<br />

de comerciantes dos dois países,<br />

Mbanza Kongo apresenta-se com um<br />

futuro promissor na vertente turística,<br />

clamando apenas pelo investimento<br />

para alavancar um segmento que pode<br />

contribuir significativamente no desenvolvimento<br />

da província do Zaire e consequentemente<br />

reforçar o seu estatuto<br />

no mapa turístico mundial.<br />

Aos seus atractivos históricos e<br />

naturais, aliam-se também as estórias<br />

míticas sobre o Reino do Congo e o poder<br />

mortífero ou protector de que os<br />

seus soberanos eram detentores, contadas<br />

pelos “mais velhos”, conhecedores<br />

da tradição.<br />

Vice-Presidente, Bornito de Sousa, em visita à feira<br />

CAPACIDADE HOTELEIRA - A<br />

escassez de hotéis e outros serviços<br />

é um dos factores que pode pôr em<br />

risco a presença de turistas na cidade<br />

histórica. A cidade conta apenas<br />

com dois hotéis e o mais antigo não<br />

oferece condições de alojamento. No<br />

total, incluindo os serviços similares,<br />

a localidade oferece apenas 340<br />

quartos, um número quase insignificante<br />

para quem quer atrair turistas.<br />

GRUTAS DE ZAU ÉVUA - Localiza-<br />

Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019 43


CULTURA<br />

das na comuna do Nkiende, a 62 quilómetros<br />

de Mbanza Kongo, as grutas<br />

são, a par das ruínas do Kulumbimbi<br />

e das Fontes de Água, o orgulho e cartão-de-visita<br />

turístico da localidade.<br />

As grutas de Zau Évua fazem parte<br />

de uma rede de grutas e galerias, quase<br />

todas desconhecidas e ainda por<br />

explorar. É um local que não pode faltar<br />

no roteiro de quem visita Mbanza<br />

Kongo.<br />

Serviram, no passado colonial, de<br />

refúgio para os combatentes de luta<br />

de resistência contra a ocupação estrangeira.<br />

Estas cavernas, a par do Rio<br />

Zaire, concorreram na primeira edição<br />

das Sete Maravilhas de Angola.<br />

ESTÂNCIA TURÍSTICA DO TUCO<br />

- Em estado de abandono e cercada<br />

por capim que cresce ao seu redor, a<br />

estância turística que se estende ao<br />

longo do rio Tuco, localizada 12 quilómetros<br />

a sul de Mbanza Congo, já foi,<br />

em tempos idos, a jóia turística local,<br />

movimentando, no seu auge, centenas<br />

de turistas ao local. O rio apresenta características<br />

ímpares, com cachoeiras,<br />

água correndo entre as rochas e o chilrear<br />

dos pássaros.<br />

O Tuco pode, em caso de recuperação,<br />

tornar-se, novamente, num lugar<br />

aprazível para momentos de lazer<br />

inesquecíveis.<br />

FONTES DE ÁGUA - Trata-se de 12<br />

fontes naturais de água que circundam<br />

a cidade de Mbanza Kongo, nomeadamente<br />

Santa, Madungu (bairro Sagrada<br />

Esperança), Ntetembua (11 de Novembro),<br />

Kilumbu (Martins Kidito), Tuanenga,<br />

Cinza, Bulunga, Massangalavua,<br />

Mbende, Mbangu, Kilanza e Bundu.<br />

Apostado em dar uma imagem<br />

diferente a estas preciosidades históricas<br />

culturais, a administração<br />

municipal de Mbanza Kongo garante<br />

a requalificação das mesmas<br />

ainda no decorrer do ano em curso,<br />

sendo que, numa primeira fase serão<br />

abrangidas as fontes de Santa,<br />

Madungu, Ntetembua e Kilumbu,<br />

num valor global de 500 milhões de<br />

kwanzas, respondendo, desta forma,<br />

a uma das exigências da Unesco.<br />

44 Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019


CULTURA<br />

QUINTA DO KIOWA - A aldeia do<br />

Kiowa, a três quilómetros da cidade de<br />

Mbanza Kongo, nos últimos tempos<br />

tem despertado o interesse de muita<br />

gente que gosta de apreciar os encantos<br />

da natureza. No local existe a quinta de<br />

Victor Kusonga, um empreendedor que<br />

apostou na piscicultura, uma actividade<br />

pouco praticada nestas paragens.<br />

Construída numa área de 100<br />

hectares conta com um residencial<br />

para alojar os turistas.<br />

CULTURA - M'Banza Kongo é conhecida<br />

pelas ruínas da Catedral de<br />

São Salvador do Congo (construída<br />

em 1492), do século XV, considerada<br />

a igreja colonial mais antiga da África<br />

Subsaariana. Diz -se que a igreja actual,<br />

chamada São Salvador, conhecida<br />

localmente como Kulumbimbi, foi<br />

construída por anjos durante a noite.<br />

Foi elevado ao status de catedral em<br />

1596.<br />

Outro local interessante de importância<br />

histórica é o memorial da<br />

mãe do rei Afonso I, próximo ao aeroporto,<br />

que rememora uma lenda<br />

popular que começou na década de<br />

1680 em que o rei possivelmente havia<br />

enterrado a sua mãe viva, porque<br />

estava disposta a desistir de um "ídolo"<br />

que usava em volta do pescoço.<br />

Culturalmente, o visitante tem<br />

ainda ao seu dispor o Museu Real,<br />

actual Museu dos Reis do Kongo, reconstruído<br />

como uma estrutura moderna.<br />

Abriga uma impressionante<br />

colecção de artefactos do antigo Reino,<br />

embora muitos tenham sido perdidos<br />

do prédio mais antigo durante<br />

a Guerra Civil.<br />

O cemitério onde repousam os<br />

restos mortais dos antigos reis do<br />

Congo, localizado no perímetro adjacente<br />

ao Kulumbimbi, é muito visitado<br />

devido ao seu peso histórico e aspecto<br />

arquitectónico das sepulturas<br />

e da vedação.<br />

Para além das potencialidades<br />

históricas e naturais de Mbanza Kongo,<br />

a província do Zaire oferece ainda,<br />

para os mais aventureiros atractivos<br />

nos demais municípios.<br />

SOYO - De todos os municípios<br />

da província, o Soyo é a localidade<br />

que mais zonas turísticas alberga,<br />

entre as quais se destacam a Praia<br />

das Sereias, a Praia dos Pobres, localizada<br />

numa zona nobre da cidade<br />

do Soyo, na margem esquerda do Rio<br />

Zaire, a Foz do Rio Congo, as Quedas<br />

do Rio Mbridge, que servem para canoagem<br />

e rafting, e os canais Pululu,<br />

no Kwanda, e do Kimbumba, situado<br />

a dois quilómetros a leste do Soyo.<br />

Os turistas podem ainda deleitar-<br />

-se com a Ponta do Padrão, o primeiro<br />

porto que serviu aos portugueses em<br />

1482 para a descoberta de Angola por<br />

Diogo Cão.<br />

A 145 quilómetros da sede do município<br />

do Soyo está a Pedra do Feitiço,<br />

local turístico muito visitado por quem<br />

se desloca regularmente ao Soyo.<br />

BAÍA DA MUSSERA - Situada no<br />

município de Nzeto a 56 quilómetros<br />

da capital da província, Mbanza Kongo,<br />

a baía é utilizada para banhos e<br />

desportos náuticos.<br />

Mbanza Kongo, capital do antigo<br />

Reino do Kongo, é detentora de um<br />

património material e imaterial excepcional.<br />

A cidade foi inscrita na lista<br />

do Património Mundial da Unesco<br />

a 8 de Julho de 2017, durante a 41.ª<br />

sessão do Comité deste órgão, que<br />

decorreu na cidade polaca de Cracóvia<br />

(Polónia).<br />

Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019 45


ECONOMIA & NEGÓCIOS<br />

LUANDA TEM ALBERGADO A MAIOR FEIRA DE NEGÓCIOS DO PAÍS<br />

UM OLHAR SOBRE<br />

A FILDA DOS NOSSOS DIAS<br />

Com uma área estimada de 20 mil metros quadrados, a<br />

35ª edição da Feira Internacional de Luanda (Filda) foi<br />

realizada no período de 9 a 13 de Julho de 2019, com<br />

o lema “Dinamizar o sector privado e promover o crescimento<br />

económico. Fundada com o propósito de contribuir<br />

para o desenvolvimento da economia e aporte à<br />

indústria nacional, o evento assume já uma grande notoriedade<br />

internacional, a contar pelo interesse crescente<br />

de importantes agentes estrangeiros, que todos os anos<br />

reiteram e reforçam a sua participação no evento<br />

Por: Juliana Evangelista / Fotos:PlatinaLine<br />

A<br />

Filda é a oportunidade<br />

concreta de países<br />

como Portugal, Brasil,<br />

Alemanha, Espanha,<br />

África do Sul, Turquia,<br />

India, Japão entre<br />

outros, internacionalizarem as<br />

suas empresas e garantirem maior<br />

competitividade no contexto da economia<br />

onde se inserem. O interesse<br />

pela feira prende-se com o perfil altamente<br />

consumista que o país apresenta<br />

em quase todos os sectores de<br />

actividade e o programa ambicioso<br />

de realização de importantes obras<br />

públicas, e ainda ser uma oportunidade<br />

para se mostrar não só o que<br />

produz, sobretudo os produtos que<br />

se exportam.<br />

Desta forma, pretende-se reforçar<br />

a atractividade de Angola no<br />

panorama mundial, estimular parcerias<br />

entre empresários nacionais<br />

e estrangeiros, bem como construir<br />

uma Angola auto-suficiente com vista<br />

a exportação de bens de serviços.<br />

O segredo do sucesso da feira<br />

é simples: aumenta-se consideravelmente<br />

o número de exposições<br />

inovando permanentemente os serviços.<br />

Esta estratégia permitiu este<br />

ano uma estimativa de cerca de 17<br />

mil visitantes, em comparação a<br />

2018 que foram de 10.500 visitantes,<br />

com uma receita estimada de 4<br />

milhões de USD.<br />

A promotora do evento, Grupo<br />

Arena, entidade escolhida para o<br />

efeito,centrou-se na aposta da organização<br />

no sentido de atrair um<br />

público muito ligado ao negócio, o<br />

que levou a uma especialização por<br />

sectores. Esta foi a forma encontrada<br />

para tornar mais eficaz os acordos<br />

de parceria e negócios estabelecidos<br />

no recinto. Por outro lado, e tendo<br />

em conta a captação de um público<br />

jovem, em particular os estudantes<br />

universitários, a administração optou<br />

pela isenção do preço dos ingressos,<br />

o que obviamente estimulou o<br />

referido público.<br />

No entanto, o evento carece de<br />

melhorias.Os organizadores deverão<br />

explorar todas oportunidades decorrentes<br />

do seu potencial, inovando,<br />

enriquecendo, enfim, melhorando a<br />

qualidade dos seus serviços e produ-<br />

46 Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019


ECONOMIA & NEGÓCIOS<br />

tos. Tendo em conta este alinhamento,<br />

a organização deverá apostar na<br />

publicidade e branding, através da<br />

implementação do canal multimedia,<br />

mecanismo no qual as empresas<br />

poderão expor as suas marcas e<br />

anunciar seus serviços e produtos.<br />

Por exemplo, a Alemanha como<br />

líder mundial na produção de maquinarias<br />

para indústria pesada, já<br />

fez saber que tenciona potenciar<br />

contactos com actores angolanos no<br />

sentido de se desenvolverem parcerias<br />

de longo prazo naquele segmento,<br />

pois este país afigura-se como<br />

um grande parceiro se quisermos<br />

desenvolver uma indústria pesada.<br />

De referir que, actualmente, 1/4 das<br />

importações globais recaem para os<br />

bens de capital e com grande incidência<br />

para a maquinaria.<br />

O tema escolhido para 35ª edição<br />

é sugestivo, numa altura em que o<br />

crescimento económico tende para<br />

o abrandamento.O país carece de reformas<br />

estruturais com vista a consolidação<br />

do mercado interno, bem<br />

como o reforço da diversificação<br />

da económica, para que se operem<br />

maiores taxas de crescimento. Nesta<br />

perspectiva, os períodos de crise são<br />

interessantes para repensar e implementar<br />

novos modelos de crescimento,<br />

com um enfoque nos sectores<br />

comércio geral, indústria alimentar,<br />

construção, decoração de interiores,<br />

transporte de logística e, fundamentalmente<br />

a agricultura,pois, este sector<br />

juntamente com o das pescas são<br />

responsáveis por cerca de 11% do<br />

PIB nacional.<br />

Interessa lembrar que uma Feira<br />

de Negócios é uma plataforma presencial;<br />

é a maior e mais diversificada<br />

montra do sector produtivo; as<br />

feiras geram negócios para grandes,<br />

médias, pequenas e microempresas;<br />

além de que, num mesmo lugar, indústria,<br />

empresários e empreendedores<br />

podem negociar e criar parcerias.<br />

Para participar de uma feira de<br />

negócios a empresa deve actuar com<br />

pesquisa, planeamento e trabalho<br />

em equipa. Trata-se de uma oportunidade<br />

de negócios para expositores<br />

eficientes e bem preparados venderem<br />

seus produtos.<br />

A promoção comercial é uma<br />

actividade viva e dinâmica em constante<br />

mutação. Desde que esses<br />

eventos ofereçam propostas de valor<br />

alinhadas às características da economia<br />

angolana, será sempre uma<br />

mais-valia quer para os negócios<br />

em concreto, quer para a economia<br />

da cidade. Este ano a organização do<br />

evento apostou na criação da feira<br />

de emprego, na medida em que os<br />

candidatos poderiam candidatar-se<br />

a postos de trabalho temporário.<br />

Importa também lembrar que<br />

Luanda tem vindo a realizar vários<br />

eventos multissectoriais de cariz internacional,<br />

que exigem uma capacidade<br />

de resposta do sector hoteleiro,<br />

porque a cadeia produtiva do sector<br />

de Feiras de Negócios exige várias<br />

opções de gastronomia, hotelaria e<br />

lazer existentes na capital.<br />

Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019 47


ECONOMIA & NEGÓCIOS<br />

NO SEGUNDO TRIMESTRE<br />

VENDA DE DIAMANTES<br />

RENDE USD 200 MILHÕES<br />

O<br />

país arrecadou 232,8 milhões de dólares<br />

pela comercialização de 1,5 milhões de quilates<br />

de diamantes, no segundo trimestre de<br />

2019, anunciou recentemente, em Luanda,<br />

a Sociedade Nacional de Comercialização de<br />

Diamantes de Angola .O volume de vendas,<br />

segundo a SODIAM, corresponde a uma redução de 35,3<br />

por cento em relação a igual período de 2018.<br />

“Este decréscimo resulta, particularmente, da não-<br />

-concretização das vendas dos lotes da Sociedade Mineira<br />

de Catoca, no mês de Abril, que representam geralmente<br />

cerca de 80 por cento do volume de produção do trimestre”,<br />

explicou o chefe do Departamento de Planeamento da<br />

SODIAM, Sendji Vieira Dias, citado pelo "Jornal de Angola".<br />

De acordo com o diário, além das realizações do mercado<br />

de diamantes em Angola durante o segundo trimestre<br />

de 2019, a SODIAM apresentou as perspectivas para o<br />

terceiro trimestre.<br />

Sendji Vieira Dias, que procedeu à apresentação do balanço<br />

num enocntro com jornalistas, deu conta, também,<br />

que a receita bruta proveniente da actividade de comercialização<br />

registou uma redução de 87,3 milhões de dólares<br />

em relação a igual período do ano passado.<br />

“Esta redução é fundamentada pelo decréscimo de<br />

diamantes vendidos em cerca de 35 por cento”, justificou,<br />

revelando-se no encontro que o preço médio total do<br />

período cifrou-se em 155,37 dólares por quilate e que as<br />

províncias da Lunda-Sul, com 89 por cento, e Lunda-Norte,<br />

com 11 por cento, lideram o volume da produção comercializada<br />

entre Abril e Junho de 2019, sendo 1.332.939,05<br />

quilates de origem kimberlítica e 165.289,15 quilates de<br />

origem aluvionar.<br />

Segundo o J.A., agregando toda a produção e comercialização<br />

do primeiro semestre de 2019, o responsável disse<br />

que durante o mesmo período foram comercializados um<br />

volume total de 4,1 milhões de quilates, o que permitiu a<br />

arrecadação de uma receita de 601,4 milhões de dólares.<br />

O responsável recordou ainda que o volume de diamantes<br />

comercializados no primeiro semestre de 2019<br />

representou uma redução de 4,2 por cento em comparação<br />

a igual semestre de 2018 e um incremento da receita<br />

de 3,9 por cento em relação a similar período no ano anterior.Angola<br />

produz anualmente cerca de nove milhões de<br />

quilates de diamantes e as autoridades pretendem alargar<br />

a produção anual para 14 milhões.<br />

Em declarações aos jornalistas, o secretário de Estado<br />

para Geologia e Minas do Ministério dos Recursos Minerais<br />

e Petróleos, Jânio Correia Victor, disse que o incremento de<br />

3,9 por cento nas receitas se deveu à implementação de<br />

uma nova política de comercialização dos diamantes e à<br />

conjuntura internacional, marcada pela subida dos preços<br />

no mercado.<br />

Jânio Correia Victor anunciou, para breve, a realização<br />

de um concurso público para concessão de cinco minas para<br />

exploração de diamantes, ferro e fosfato. “Com o concurso,<br />

queremos maior transparência e atrair investidores nacionais<br />

e internacionais neste sector e, desta forma, a relançar a<br />

produção de ferro e de fosfato no país”, concluiu.<br />

48 Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019


NA ESPUMA<br />

DOS DIAS<br />

Por: Édio Martins<br />

NESSA ESPERANÇA DESESPERADORA…<br />

ÉS MOVIMENTO EM TEMPO PARADO (!)<br />

Com o respeito que me merecem os artistas, “apropriei-me” do<br />

poema Carolina musicado pelo angolano Mago de Sousa que<br />

quase parece fazer parte de uma ode - Ode (do grego antigo<br />

ᾠδή ōidē) é um poema de estilo particularmente elevado e<br />

solene, elaboradamente estruturado, descrevendo intelectual e<br />

emocionalmente a natureza e o mundo – ao país e ao estado de<br />

(des)graça em que nos encontramos.<br />

Com as eleições de 2017 renasceu a esperança, a esperança de dias melhores,<br />

dias que não estivessem completamente vergados à omnipresença do partido no<br />

poder, dos chefes e dos seus “acólitos” (termo “emprestado” pela Igreja Católica),<br />

rompido e corrompido, muitas vezes sem dó nem piedade pelo povo que sofre e<br />

sofre…, numa fúria desenfreada de despesismos e de despotismos.<br />

Passados dois anos o que temos? Que medidas de verdadeira gestão<br />

governativa foram implementadas e que somos capazes de identificar? Nada,<br />

uma mão cheia de nada!<br />

Continua a “peregrinação” contra a corrupção e o repatriamento de capitais,<br />

o que ainda é pouco para podermos considerar enquanto “medida” de gestão<br />

governativa e, escrutinando pacientemente, pouco mais do que isso… a par<br />

de “ensaios” falhados, como é o exemplo da implementação do IVA (adiada) e<br />

algumas “danças” de cadeiras – sai<br />

este, entra aquele, troca aqueloutro,<br />

para ficar tudo na mesma. Nem mesmo<br />

as moscas mudaram já que o “resto” é<br />

mesmo!<br />

“Nessa esperança desesperadora…”<br />

que se sente num bruá crescente<br />

“Na imensidão que me circunda”, por<br />

todos os recantos do país, borbulha a<br />

insatisfação.<br />

“No calor da minha cidade”<br />

(Lobito), em que não interessa ficar<br />

preso ao que já foste, “Na nostalgia<br />

dos meus dias” que nos magoa,<br />

muito, porque “Tu és presente, não<br />

és passado”, em profunda e doentia<br />

letargia, como todo o país, de Cabinda ao Cunene (aqui agravado pela seca<br />

meteorológica e pela incúria dos governantes). E o futuro?<br />

Nota: no Porto do Lobito continuam, há mais de um ano, estacionados/<br />

adormecidos uma frota de autocarros amarelos (escolares) a apodrecer ao<br />

sol e à chuva, como exemplo acabado da podridão do regime do antes e da<br />

incapacidade de “corrigir o que está mal” do depois!<br />

Anunciam-se mais créditos externos e mais empréstimos, ficando-se com a<br />

sensação, já vista em muitos outros “filmes”, da chamada “fuga para a frente”,<br />

aparentemente sem visão nem estratégia, meramente numa de minimizar os<br />

danos! Veja-se a trapalhada do abocanhar do Fundo Soberano, em alguns biliões,<br />

para financiar os Municípios, em desvio nítido de fins. Ou será que os fins<br />

justificam os meios?<br />

Angola, angolanos, entendamos que “O tempo não pára, o tempo voa” e quem<br />

não faz e bem o trabalho de casa, atrasa-se e muitas vezes irremediavelmente,<br />

infelizmente com consequências para os mais frágeis.<br />

Angola, “No famoso do tal engarrafamento” “És movimento em tempo<br />

parado”, até quando? Estamos juntos!<br />

Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019 49


DESTAQUE<br />

VISITA DE JOÃO LOURENÇO À CUBA<br />

SOB O OLHAR<br />

SILENCIOSO DE<br />

AGOSTINHO NETO<br />

A visita de estado que o terceiro Presidente da República de Angola, João Manuel Gonçalves<br />

Lourenço, acaba de fazer à irmã Cuba, deu praticamente início de forma inspirada<br />

e inspiradora, com a simbólica deposição duma coroa de rubras flores junto ao busto<br />

do Presidente-Fundador da República Popular de Angola, António Agostinho Neto,<br />

numa breve cerimónia realizada na Praça dos Heróis Africanos, em Havana<br />

Texto: Martinho Júnior / Fotos: Arquivo NET<br />

50 Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019


DESTAQUE<br />

Quis o Presidente João<br />

Lourenço começar<br />

por honrar a memória<br />

e o passado de<br />

Angola, de África,<br />

de Cuba Revolucionária<br />

e de toda a libertária cultura<br />

transatlântica comum, rendendo em<br />

solo cubano essa justa homenagem<br />

a alguém que esteve nos arcos da<br />

heroica ponte de irmandade África-<br />

-Cuba, alguém que foi um dos mais<br />

corajosos arquitectos-combatentes<br />

da luta de libertação no continente-<br />

-berço contra o colonialismo e o<br />

“apartheid”…<br />

Sob o olhar silencioso de António<br />

Agostinho Neto decorreu assim<br />

essa visita de estado de dois dias,<br />

com a responsabilidade da memória<br />

animada por gerações e gerações de<br />

africanos e afrodescendentes vitoriosos<br />

sobre a escravatura, o colonialismo<br />

e o “apartheid”, de africanos<br />

por isso mesmo tão ávidos de vencer<br />

os desafios do presente e do futuro…<br />

A Operação Carlota nesse sentido,<br />

é um rio inesgotável de fluxos e<br />

refluxos, de torrentes caudalosas e<br />

intrépidas e de remansos recolhidos<br />

nas perenes alvoradas dos tempos…<br />

Sob o olhar silencioso de António<br />

Agostinho Neto, houve assim<br />

uma autêntica e intemporal prova<br />

de vida entre povos irmãos, prova<br />

de vida que transcendeu o momento<br />

e a emoção, algo que se distende<br />

desde o passado e nos obriga indelevelmente<br />

a assumir com humildade<br />

e solidariedade internacionalista, a<br />

água tumultuosa deste presente e<br />

do futuro iluminado pelas mais vitalmente<br />

justas aspirações!<br />

1- Sob o olhar silencioso de<br />

Neto, o terceiro Presidente<br />

angolano quis sublinhar tudo<br />

o que foi vencido, mas também a<br />

responsabilidade de no presente se<br />

colocar África no lugar de sustentável<br />

respeito que o continente-berço<br />

da humanidade merece, entre as<br />

nações, os estados e os povos… uma<br />

sensibilidade que Cuba transmite<br />

por todos os seus sensíveis poros,<br />

pelos poros dum povo que de geração<br />

em geração assume corajosamente<br />

pátria, apenas por que pátria,<br />

com os olhos dos oprimidos de todo<br />

o mundo, é humanidade!<br />

… Pátria é humanidade de há 60<br />

anos, por que de há 60 anos que essa<br />

pátria mesmo sob o efeito do mais<br />

perverso dos bloqueios, deixou de<br />

ser utopia e aqui em África sabemos<br />

quanto, de Argel ao Cabo da Boa Esperança,<br />

Cuba, essa mesma pátria,<br />

tem vindo a contribuir para se lutar<br />

pelas mais nobres causas da humanidade,<br />

pelas causas mais sólidas<br />

dos direitos humanos fundamentais<br />

que antes historicamente sempre foram,<br />

em nome da “civilização”, inibidos,<br />

subvertidos e vilipendiados!<br />

2<br />

- Houve um tempo que essa<br />

luta teve de se levar a cabo de<br />

armas na mão, por que houve<br />

alguns que não quiseram conferir<br />

aos africanos esses fundamentais<br />

direitos de, por suas próprias mãos,<br />

dirigirem com sabedoria e honestidade<br />

seus estados, suas nações, seus<br />

povos e poderem livre e democraticamente<br />

optar pelo seu destino!<br />

Se os impérios coloniais tinham<br />

os seus dias contados com o final<br />

da IIª Guerra Mundial, nem por isso<br />

acabaram as renitências, as ambiguidades,<br />

as hipocrisias, os cinismos, as<br />

ingerências opressivas, as manipulações<br />

e a velada ou aberta guerra<br />

psicológica neocolonial, pois a Conferência<br />

de Berlim abria e continua<br />

ainda a abrir, espaços a reinterpretações<br />

e novas reinterpretações, ao sabor<br />

agora dum império de hegemonia<br />

unipolar que nem seu desajuste<br />

humano e desrespeito para com a<br />

Mãe Terra, alguma vez pretende reconhecer!…<br />

3<br />

- As reinterpretações contemporâneas,<br />

geradas no ventre<br />

duma inquinada globalização<br />

propiciada pelo capitalismo financeiro<br />

transnacional e neoliberal, um<br />

capitalismo voraz e capaz de providenciar<br />

assimilações para melhor<br />

manipular, iludir, alienar e dividir,<br />

são alguns dos maiores riscos decorrentes<br />

em África.<br />

Esse comprovado diagnóstico de<br />

práticas de conspiração, indicia que<br />

o poder que quer continuar como<br />

dominante, pretende ainda mão-de-<br />

-obra barata ou escrava e matérias-<br />

-primas para sustentar as suas indústrias<br />

inscritas nos parâmetros<br />

da revolução industrial e agora da<br />

nova revolução tecnológica inerente<br />

ao seu bárbaro carácter lesa-humanidade!<br />

Pretende também que os estados<br />

africanos continuem dependentes<br />

de monoculturas, de indústrias<br />

extractivas, de asfixia económica e<br />

financeira própria duma ultraperiferia<br />

que África jamais escolheu ser<br />

por opção independente, soberana e<br />

democrática!<br />

Ainda em nome da marca de “civilização”,<br />

quanta barbárie tem sido<br />

projectada como impacto dilacerante<br />

e transversal sobre o continente-<br />

-berço!<br />

4<br />

- Um “soft power” engenhosamente<br />

estimulado para criar<br />

jogos transversais subversivos<br />

nas sociedades africanas, promove<br />

velada ou aberta guerra psicológica<br />

e agentes de seu interesse e conveniência<br />

nas disputas para alcançar e<br />

manter o frágil poder de estado em<br />

África, algo que continua a estar na<br />

ordem do dia!<br />

Mesmo em relação a esta visita<br />

de estado, alguns alinharam publicamente<br />

nesse tipo de correntes,<br />

ementas e enredos, produzindo as<br />

mais diversas mensagens comunicacionais<br />

ditas “independentes”, quiçá<br />

em nome de direitos humanos de<br />

ocasião que manipulam para fazer<br />

por desconhecer os direitos humanos<br />

fundamentais, os inalienáveis<br />

direitos humanos à autodeterminação,<br />

à independência, ao exercício<br />

de soberania e ao próprio poder em<br />

democracia representativa (que jamais<br />

foi reconhecida pelo e com o<br />

“apartheid”)!<br />

Quantos não continuam pois a<br />

passar mensagens em órgãos de co-<br />

Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019 51


DESTAQUE<br />

municação pública de Luanda, que<br />

recorrendo ao populismo e a manipulações<br />

sustentadas por máfias,<br />

alegadamente em nome do povo<br />

angolano procuram ainda subverter<br />

com seus argumentos as decisões do<br />

estado que começou a assumir inequivocamente<br />

a luta contra a corrupção<br />

e procura saídas salutares para<br />

suas opções de vida social?...<br />

dido com rigor, com probidade, com<br />

honestidade, com dignidade, com sabedoria,<br />

com vital segurança…<br />

6<br />

- Assim esta visita de estado do<br />

terceiro Presidente angolano<br />

a Cuba irmã de África, a Cuba<br />

irmã de Angola, uma visita assumida<br />

como uma autêntica prova de vida<br />

transatlântica sob o olhar silencioso<br />

João Manuel Gonçalves Lourenço entregou, em nome do seu povo e seu partido, a Ordem<br />

Agostinho Neto ao primeiro secretário do Comité Central do Partido Comunista de Cuba,<br />

general-de-exército Raul Castro Ruz<br />

5<br />

- Em cima da visita de estado<br />

do Presidente João Manuel<br />

Gonçalves Lourenço a Cuba,<br />

as relações de irmandade entre os<br />

dois povos, angolano e cubano, estão<br />

por esses meios a ser postos em<br />

causa nas relações estado a estado<br />

em função das decisões que estão a<br />

ser tomadas em especial no âmbito<br />

da saúde!<br />

Os que assim fazem perderam-se<br />

mesmo num exercício que, de tantas<br />

reinterpretadas alienações e ilusões,<br />

deixaram de facto de considerar que<br />

o estado é apenas o fiel depositário<br />

dos interesses e das legítimas aspirações<br />

do povo e, recusando-se a<br />

respeitá-lo como tal por via de argumentações<br />

de conveniência, pretendem<br />

esconder que deixaram de há<br />

33 anos a esta parte de o ter defende<br />

Neto, vem pôr em causa o hiato<br />

que foi sendo produzido paulatinamente<br />

em todas as transversalidades<br />

da sociedade angolana de há mais de<br />

33 anos a esta parte, quando o estado<br />

deixou paulatinamente de merecer<br />

o respeito que outros interesses<br />

e conveniências quiseram subverter<br />

com as tão ambíguas quão assimiláveis<br />

cumplicidades locais, “em crescendo”…<br />

Se o fim do “apartheid”, precisamente<br />

na altura do colapso do socialismo<br />

na Europa do Leste e URSS,<br />

foi um sinal para o poder dominante<br />

ideologicamente adormecer os<br />

africanos (os angolanos incluídos)<br />

e tornar possível o choque neoliberal<br />

que provocou a “Iª Guerra Mundial<br />

Africana”, na sequência aliás<br />

dos impactos previamente criados<br />

sobre a região dos Grandes Lagos e<br />

sobretudo sobre o Ruanda, a terapia<br />

neoliberal que se lhe seguiu, tirando<br />

partido do desastre e do torpor colectivos,<br />

motivou em Angola o desrespeito<br />

pelo estado de tal forma que<br />

a corrupção se tornou cancerígena a<br />

ele, contagiando em doses cada vez<br />

mais intensas a sociedade, algo que<br />

continua a ser sustentado por via<br />

de meios em relação aos quais é urgente<br />

saber como foram realmente<br />

financiados, montados e o que neste<br />

momento de facto representam!<br />

Este já começa a ser um fenómeno<br />

que se vai aproximando do<br />

que aconteceu no Brasil com as<br />

motivações subjacentes à eleição<br />

cavernícola de Bolsonaro e quando<br />

previamente foi afastada Dilma e<br />

conduzido à prisão Lula!...<br />

7<br />

- A riqueza derivada de processos<br />

endémicos de corrupção<br />

em torno do poder<br />

chegou a ser a outra face da mesma<br />

moeda de ideologias injectadas por<br />

pseudorrevolucionários, práticos<br />

de “coloridas primaveras” a sul do<br />

Equador, que tiveram o condão de<br />

pretensamente atacar o poder de<br />

forma oportunista e seguindo cartilhas<br />

de guerra psicológica ao sabor<br />

de Gene Sharp, de George Soros e de<br />

outros “filósofos”projectores das manipulações<br />

ao serviço do poder global<br />

arrogantemente dominante!<br />

Em relação a uns e a outros, os<br />

justos não se podem equivocar, por<br />

que essa moeda, com essas duas faces,<br />

jamais os puderam comprar, enganar,<br />

corromper, ou subverter!<br />

Por essa altura defendi o poder angolano<br />

em função dos direitos fundamentais,<br />

mas nem por isso me deixei<br />

enganar, ou enredar pelos equívocos!<br />

Há quem, no âmbito do poder dominante<br />

e nesses termos, queira entre<br />

os africanos reinterpretar por via de<br />

sucessivas práticas de conspiração, a<br />

Conferência de Berlim em pleno século<br />

XXI e África até já começou a ser<br />

vulnerável e sangrentamente redesenhada<br />

em função dessas correntes<br />

avassaladas!...<br />

52 Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019


DESTAQUE<br />

8<br />

- Esta consciência crítica contundente<br />

da minha parte, não<br />

inibe pois que mesmo nessas<br />

conjunturas tão adversas de choque<br />

e terapia neoliberal e suas transversalidades<br />

minando o poder e a sociedade,<br />

disseminando alienação, caos,<br />

terrorismo, confusão, ou desagregação,<br />

deixasse de em Angola ser dever<br />

patriótico, em nome dos direitos<br />

fundamentais a que me refiro e não<br />

dos “direitos humanos” produzidos<br />

por deliberadas correntes de guerra<br />

psicológica, defender o estado angolano<br />

de planos subversivos ainda<br />

maiores, que se pudessem tornar<br />

ainda mais nocivos para esse estado,<br />

para a identidade nacional e para o<br />

povo angolano enquanto dilecto alvo<br />

e vítima da devassa dum deliberado<br />

caminho neocolonial!<br />

Defender o poder dum jovem estado<br />

de pouco mais de 40 anos nessas<br />

condições, obriga à sublimação<br />

da consciência crítica, mas não inibe<br />

a capacidade de se aprender com os<br />

próprios erros e saber apontá-los<br />

com pedagogia, tendo em conta as<br />

decisões erróneas sob a aparência de<br />

legítimas ou mesmo de legais, algo<br />

que foi consumado a partir de sucessivas<br />

transversalidades induzidas<br />

a ponto de se tornar opção contra a<br />

natureza do próprio estado, que acabou<br />

por ser cada vez mais alienado<br />

de si próprio em proveito de arrojadas<br />

máfias carregadas de ambição!<br />

Não inibe também e portanto a<br />

permanente necessidade pedagógica<br />

de voltar-se a respeitar o estado angolano<br />

à altura dos direitos fundamentais<br />

que lhe assistem enquanto fiel<br />

depositários dos interesses e aspirações<br />

do povo angolano e a capacidade<br />

para o revitalizar, relativizando para<br />

não cairem mais armadilhas, quer de<br />

inconsistentes alienações e ilusões,<br />

quer de propositadas e oportunistas<br />

ingerências, manipulações ou mesmo<br />

de injectadas radicalizações.<br />

9<br />

- Sob o olhar silencioso e substantivo<br />

de Neto, conforme ao cerimonial<br />

crucial em solo cubano,<br />

o terceiro Presidente de Angola lança<br />

a pedra dum saudável reencontro com<br />

a história, autêntica prova de vida para<br />

angolanos e para a irmandade entre<br />

angolanos e cubanos, a começar pelo<br />

respeito que se deve às imprescindíveis<br />

relações estado a estado!<br />

Na saúde, os mercenários do mercado<br />

neoliberal além de atentarem<br />

contra a vida do seu próprio povo ao<br />

negarem a saúde como um direito<br />

humano universal porque estão condicionados<br />

pelo lucro fácil e a mais<br />

hedionda avidez capitalista, agora<br />

usam canais de comunicação que antes<br />

de tudo o mais é dever do estado<br />

angolano avaliar como foram implementados,<br />

tal como tantas clínicas e<br />

farmácias privadas e seu arsenal de<br />

equipamentos e medicamentos!<br />

O fenómeno do desvio de medicamentos<br />

do estado angolano, foi dos<br />

primeiros fenómenos nocivos vividos<br />

pela Angola independente, praticamente<br />

logo em cima do 11 de Novembro<br />

de 1975…<br />

Em Angola basta de saúde mercenária<br />

ao serviço exclusivo do mercado<br />

e os seus mentores devem ser postos<br />

imediata e claramente em cheque,<br />

devendo-se fazer toda a luz sobre este<br />

candente assunto!<br />

A história obriga a que se saiba<br />

estar à altura desse tão digno, quão<br />

lúcido, quão responsável, quão patriótico<br />

desafio, por que sem dúvida, para<br />

todos os justos por que incorruptíveis,<br />

lúcida e convictamente, pátria é mesmo<br />

humanidade!<br />

Agostinho Neto e o ex-líder cubano Fidel Castro, ambos já falecidos<br />

In página Global.<br />

Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019 53


ÁFRICA<br />

REPÚBLICA DEMOCRÁTICA DO CONGO<br />

TSHISEKEDI<br />

INICIA GUERRA<br />

CONTRA REBELDES<br />

Félix Tshisekedi pôs em acção<br />

o programa de estabilização<br />

militar e social da<br />

RDCongo. Ordenou operações<br />

militares sendo encorajadores<br />

como primeiros<br />

resultados : um chef rebelde<br />

de referência, coronel<br />

Soleil Kitambi, rendeu-se<br />

em Kivu-Norte. As FARDC<br />

(forças Armadas da República<br />

Democrática do<br />

Congo) reivindicam, ainda,<br />

a recuperação de quatro<br />

posições na localidade<br />

de Djugu, em Ituri. Em<br />

Kinshasa, a polícia começou<br />

a executar uma operação<br />

contra a criminalidade.<br />

Foram detidos supostos<br />

assaltantes e recuperadas<br />

viaturas roubadas. Além<br />

de desejar pacificar o país,<br />

o Chefe de Estado eleito<br />

pretende contribuir para a<br />

estabilização da região dos<br />

Grandes Lagos, onde a RD-<br />

Congo representa o foco de<br />

insegurança mais notória<br />

Texto: Manuel Muanza/ Fotos: Arquivo NET<br />

Por ocasião do 59º aniversário<br />

da independência<br />

do país (30<br />

de Junho 1961), Félix<br />

Tshisekedi anunciou<br />

um plano de operações<br />

militares visando restabelecer a segurança<br />

na região oriental do país.<br />

Referiu-se concretamente às zonas<br />

de Ituri (Kivu-Norte), Kivu-Sul, Tanganyika,<br />

Kassayi e Kassayi-Central.<br />

A « sobrevivência » dos cidadãos<br />

congoleses, das instituições e o relançamento<br />

ecnómico dependem da<br />

paz, lembrou em discurso à nação. Ao<br />

reconhecer que « o clima da paz com<br />

os vizinhos » está condicionado à estabilidade<br />

do seu país e ao concreti-<br />

54 Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019


ÁFRICA<br />

zar a promessa eleitoral, Tshisekedi<br />

lança as bases para a realização das<br />

intenções das lideranças da região<br />

dos Grandes Lagos. Como se sabe, a<br />

última cimeira decorrida em Luanda<br />

concentrou-se em « questões de<br />

segurança e de cooperação regional<br />

», segundo o comunicado oficial da<br />

Casa Civil da presidência angolana.<br />

Mas, Tshisekedi exprimiu também<br />

preocupação pela relação existentes<br />

entre as rebeliões internas e os interesses<br />

de alguns países vizinhos.<br />

Numa abordagem diplomática sobre<br />

esta questão, Tshisekedi fez alusão<br />

aos « grupos armados estrangeiros<br />

». A nosso ver, o problema que se coloca<br />

agora, para lá das intenções de<br />

Tshisekedi, tem a ver com o método<br />

para mobilizar círculos de interesse<br />

que manipulam vontades e mobilizam<br />

gente para acções armadas nos<br />

países vizinhos. Em relação a isto,<br />

Tshisekedi construiu soluções em<br />

dois planos : interno e externo. Acredita<br />

haver «causas endógenas e exógenas<br />

» do conflito.<br />

No plano interno, quer « reforçar<br />

capacidades das forças nacionais<br />

de defesa e segurança. A<br />

segunda tarefa está ligada à instauração<br />

de «diálogo entre as comunidades»<br />

congolesas. No plano<br />

externo, citou a concertação regional.<br />

Para a justificar disse haver «<br />

implicações regionais » no conflito<br />

na RDCongo.<br />

O diálogo interno e a acção diplomática<br />

externa deverão culminar<br />

com a liquidação da rebelião<br />

e a desmobilização dos efectivos.<br />

Para ambas as actividades, Tshisekedi<br />

fez alusão a um «plano de<br />

reeducação » a ser conduzido pela<br />

MONUSCO.<br />

Para a realização das intenções<br />

de Tshisekedi, o exército (FARDC)<br />

direccionou operações de grande<br />

escala para Djugu, Mahagi, Minembwe,<br />

no Kivu-Sul, bastião da rebelião.<br />

Desde o anúncio oficial, alguns<br />

líderes da rebelião têm abandonado<br />

as armas. A missão das Naçoes<br />

Unidas (MONUSCO) organiza programas<br />

de apoio à reinserção dos<br />

rebeldes dispostos à rendição designado<br />

DDR (Desmobilização, Desarmamento<br />

e Reinserção).<br />

RENDIÇÃO E PREOCUPAÇÃO -<br />

No Kivu-Norte, o exército nacional<br />

já colheu os primeiros frutos das<br />

operações : Soleil Kitambi Lyuno,<br />

autoproclamado comandante da<br />

chamada « Brigada Fimbo na Fimbo<br />

» (Chicote, em lingala), rendeu-se<br />

às autoridades. Fez-se acompanhar<br />

de outros dirigentes da guerrilha. O<br />

quartel general da « Fimbo na Fimbo<br />

» situava-se em Osso Banyungu,<br />

zona de Masisi, em Kivu-Norte.<br />

“<br />

No plano interno,<br />

quer « reforçar capacidades<br />

das forças nacionais<br />

de defesa e segurança. A<br />

segunda tarefa está ligada<br />

à instauração de «diálogo<br />

entre as comunidades»<br />

congolesas. No plano externo,<br />

citou a concertação<br />

regional. Para a justificar<br />

disse haver « implicações<br />

regionais » no conflito na<br />

RDCongo<br />

“<br />

O administrador de Masisi, Olivier<br />

Bahuma Bakulu, citado pela agência<br />

noticiosa oficial ACP, disse estar em<br />

vias de rendição « outros elementos<br />

» deste grupo rebelde. « O coronel Soleil<br />

prometeu », garantiu o governante.<br />

Entretanto, admite-se que o processo<br />

de rendição dos rebeldes será<br />

penoso e longo, pois alguns poderão<br />

mesmo impor condições ao Estado,<br />

um receio expresso também pelo administrador<br />

Olivier Bahum.<br />

Uma investida das FARDC culminou<br />

com a retomada das bases<br />

da guerrilha em Djugu, na região de<br />

Ituri, santuário dos grupos armados.<br />

Tratam-se de quatro localidades<br />

onde estavam implantados os guerrilheiros.<br />

Foram três dias de con-<br />

frontos, o que indica o poder de fogo<br />

da rebelião e dá uma ideia da complexidade<br />

das operações militares. Um<br />

dos aspectos que prejudica as campanhas<br />

militares contra as rebeliões<br />

na RDCongo tem sido a incapacidade<br />

das forças de defesa e segurança em<br />

manter vigiadas as zonas retomadas<br />

aos insurrectos armados. A título de<br />

exemplo, depois de vastas perseguições<br />

e destruição das praças-fortes<br />

da rebelião na floresta de Wago, muitos<br />

grupos reavivaram os seus postos<br />

nas zonas deixadas fora do controlo.<br />

Esta visão foi, aliás, expressa por Jules<br />

Ngongo, porta-voz das FARDC em Ituri<br />

quando fazia referência à rendição<br />

do comandante rebelde Soleil.<br />

O avanço das operações das<br />

FARDC não diminuiu as actividades<br />

armadas da rebelião. As milícias<br />

Mayi-Mayi Bakata Katanga atacaram<br />

bairros da cidade de Lubumbashi,<br />

segundo denúncias da ONG « Justicia<br />

ASBL » dirigida pelo activista Thimothée<br />

Mbuya. Sintomático, tais acções<br />

deram-se depois dos confrontos dos<br />

Mayi-Mayi com as FARDC. Nas aldeias<br />

de Dhedja, em Djugu, onde as FARDC<br />

operam, continua a haver assaltos<br />

dos grupos armados às localidades<br />

habitadas por civis.<br />

CONTRA O CRIME - Além da<br />

guerra declarada contra a rebelião<br />

nas zonas do Leste do país, o governo<br />

congolês coordena uma campanha<br />

contra o crime organizado na capital,<br />

Kinshasa. Vários assaltantes foram<br />

detidos e automóveis foram apreendidos<br />

pela polícia nacional. Postos de<br />

controlo montados nas ruas, onde todos<br />

os veículos passaram pela vistoria,<br />

conforme noticiou um correspondente<br />

da rádio francesa RFI.<br />

Lingwala foi o município em que<br />

se focalizou a maior acção da polícia.<br />

« Tínhamos nomes e endereços e<br />

tudo estava no alvo », explicou o general<br />

Sylvano Kasongo à RFI. Entre<br />

os detidos figuraram assaltantes à<br />

mão armada, assaltantes de viaturas<br />

e membros de uma rede especializada<br />

em rapto.<br />

Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019 55


ÁFRICA<br />

• Segundo o chefe de Estado,<br />

"o Governo é que<br />

tem o processo (da pena<br />

de morte) neste momento".<br />

"Assinámos o decreto<br />

da moratória porque não<br />

queremos que se mate ninguém<br />

na Guiné Equatorial<br />

por razões legais", explicou<br />

Obiang, que cumpre 40<br />

anos no poder em Agosto<br />

A<br />

Guiné Equatorial pode<br />

abolir a pena de morte<br />

até ao final do ano,<br />

estando marcada para<br />

Setembro a discussão<br />

no parlamento sobre<br />

esse tema. O presidente prometeu<br />

"influenciar" os deputados para a<br />

aprovação da lei. Nestas declarações,<br />

o governante adiantou que está a ser<br />

organizada uma visita a Portugal.<br />

Estou a organizar uma visita a Portugal.<br />

E, possivelmente, quando visitar<br />

Portugal, farei uma visita a Fátima.<br />

Está a ser tratado pela via diplomática",<br />

afirmou.<br />

Quanto à abolição da pena de<br />

morte no país disse poder "garantir<br />

que vamos influenciar o parlamento<br />

para que aceite a abolição da pena de<br />

morte. O Governo fez o seu trabalho<br />

e acaba de enviar [a proposta de diploma<br />

legal] ao parlamento".<br />

A abolição da pena de morte era<br />

uma das condições de entrada do<br />

país na Comunidade dos Países de<br />

Língua Portuguesa (CPLP) em 2014,<br />

um processo polémico porque o Governo<br />

da Guiné Equatorial, uma ex-<br />

-colónia de Espanha, é acusado de<br />

sistemáticas violações de direitos humanos<br />

e de desrespeito dos direitos<br />

da oposição.<br />

A Guiné Equatorial é um país de<br />

maioria católica numa sub-região de<br />

forte presença muçulmana e aderiu<br />

à Comunidade dos Países de Língua<br />

GUINÉ EQUATORIAL<br />

TEODORO OBIANG<br />

GARANTE ABOLIÇÃO DA PENA<br />

DE MORTE EM SETEMBRO<br />

56 Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019


ÁFRICA<br />

Portuguesa (CPLP) em 2014. Em<br />

Portugal, forças políticas e organizações<br />

da sociedade civil têm criticado<br />

a adesão da Guiné Equatorial à organização,<br />

acusando o Governo de Malabo<br />

de várias violações de direitos<br />

humanos e de bloquear a acção dos<br />

opositores políticos.<br />

A adesão à CPLP foi justificada<br />

por Obiang com a ligação da Guiné<br />

Equatorial com os países africanos<br />

de expressão portuguesa.<br />

Colónia portuguesa até 1777,<br />

data em que foi entregue a coroa<br />

espanhola por troca na normalização<br />

das fronteiras do Brasil, a Guiné<br />

Equatorial é o único país africano<br />

que tem o espanhol como principal<br />

idioma e as ligações históricas e geográficas<br />

com São Tomé e Príncipe,<br />

em particular, são evidentes.<br />

A segunda primeira-dama de<br />

Obiang é são-tomense e as duas ilhas<br />

que compõem São Tomé e Príncipe<br />

são limitadas a norte e a sul pelas<br />

ilhas equato-guineenses de Bioko e<br />

Ano Bom.<br />

"A CPLP é um movimento cultural<br />

e eu tenho vizinhos que são de expressão<br />

portuguesa: tenho São Tomé<br />

tão perto, tenho afinidades com<br />

Guiné-Bissau e Cabo Verde. Há aqui<br />

muita gente que veio de Cabo verde.<br />

Tenho laços com Angola e Moçambique.<br />

São laços culturais que temos<br />

com esses países que nos fizeram entrar<br />

na dinâmica da CPLP", resumiu<br />

Teodoro Obiang.<br />

“<br />

A abolição da pena<br />

de morte era uma das<br />

condições de entrada do<br />

país na Comunidade dos<br />

Países de Língua Portuguesa<br />

(CPLP) em 2014, um<br />

processo polémico porque<br />

o Governo da Guiné<br />

Equatorial, uma ex-colónia<br />

de Espanha, é acusado<br />

de sistemáticas violações<br />

de direitos humanos e de<br />

desrespeito dos direitos da<br />

oposição<br />

“<br />

Quanto a Portugal, o Presidente<br />

equato-guineense recordou que a herança<br />

portuguesa foi afectada pela colonização<br />

espanhola. "Portugal tinha<br />

importantes recursos económicos<br />

na Guiné Equatorial. Tinha grandes<br />

roças, grandes quintas, mas a colonização<br />

espanhola não facilitou para<br />

que pudessem continuar a investir na<br />

Guiné Equatorial", salientou.<br />

Por isso, hoje, é preciso "recuperar<br />

a herança portuguesa", disse, recordando<br />

que "foi Portugal que descobriu<br />

a ilha de Fernão Pó e lhe deu<br />

o nome". "Nós temos origens na civilização<br />

portuguesa e o nosso desejo<br />

é voltar à velha cultura que tivemos<br />

antigamente", procurando "aderir e<br />

entrar na dinâmica e cultura portuguesa",<br />

disse, justificando também deste<br />

modo a entrada na CPLP.<br />

Entre os esforços do Governo<br />

equato-guineense, Obiang salientou<br />

que "está a aprender-se o português"<br />

no país, sem esclarecer o número de<br />

alunos. Por outro lado, a "rádio e televisão<br />

estão a difundir notícias em português".<br />

"A pouco e pouco estamos a<br />

entrar na cultura portuguesa", resumiu.<br />

(Diário de Notícias | Lusa).<br />

OBIANG<br />

"NÃO AUTORIZO A EXECUÇÃO DE UMA PESSOA"<br />

Na Guiné Equatorial está em vigor uma<br />

moratória que impede o cumprimento das<br />

condenações à pena capital, que já foram<br />

decretadas pelos tribunais do país, mas<br />

sem consequências. A moratória "é uma<br />

intenção", disse Obiang.<br />

"Se a justiça aplica a pena de morte, não se pode<br />

executar a pessoa se o Presidente não autoriza. E eu<br />

não vou autorizar", prometeu, assegurando o seu empenho<br />

pessoal nesta questão.<br />

Segundo o chefe de Estado, "o Governo é que tem o<br />

processo [da pena de morte] neste momento". "Assinámos<br />

o decreto da moratória porque não queremos que se<br />

mate ninguém na Guiné Equatorial por razões legais", explicou<br />

Obiang, que cumpre 40 anos no poder em Agosto.<br />

Se o parlamento, que tem como eleitos apenas<br />

deputados do partido governamental de Obiang (Partido<br />

Democrático da Guiné Equatorial), não aceitar a<br />

proposta, será necessário "apresentar uma emenda<br />

constitucional que seja sujeita a consulta popular",<br />

disse Teodoro Obiang.<br />

"Creio que a próxima sessão do parlamento, em Setembro,<br />

terá como uma das primeiras questões a tratar<br />

a abolição da pena de morte. Estou certo de que, antes<br />

do final do ano, teremos resultados", notou.<br />

No seu entender, a abolição da pena de morte é<br />

"uma exigência da comunidade internacional" que o<br />

país quer cumprir: "Não o fazemos nem pelos europeus,<br />

pelos africanos ou pelos americanos, fazemos porque é<br />

um processo internacional".<br />

Teodoro Obiang concedeu entrevistas à Agência<br />

Lusa e ao jornal francês L'Opinion, depois da cerimónia<br />

de entrada do Partido Democrático da Guiné Equatorial<br />

(PDGE, no poder), como observador, na Internacional<br />

Democrática do Centro África (IDC, que representa<br />

partidos de centro-direita).<br />

Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019 57


ÁFRICA<br />

NOVO GOVERNO GUINEENSE<br />

ÍNDICE DE PARTICIPAÇÃO<br />

FEMININA É ALTO<br />

O novo Governo guineense liderado por Aristides Gomes tem 31 pastas e onze delas<br />

são comandadas por mulheres. São oito ministras e três secretárias de Estado, o que<br />

corresponde a 35% de participação feminina no Executivo da Guiné-Bissau. Falta apenas<br />

um por cento para atingir a lei da paridade aprovada pela Assembleia Nacional<br />

Popular (ANP), que prevê uma taxa de participação de 36% das mulheres na esfera da<br />

tomada de decisões<br />

58 Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019


ÁFRICA<br />

Em conferência de imprensa<br />

realizada na primeira<br />

semana de Julho,<br />

a Plataforma Política<br />

das Mulheres da Guiné-<br />

-Bissau (PPM) chamou<br />

de "marco histórico" a inclusão de<br />

mais de uma dezena de mulheres no<br />

novo Executivo. Silvina Tavares, Presidente<br />

da organização, considera<br />

uma conquista o elevado número de<br />

mulheres no Governo.<br />

"A participação inédita das mulheres<br />

neste novo elenco governamental<br />

não reside apenas na avaliação<br />

numérica dos factos, mas sim, na<br />

qualidade e importância dos pelouros<br />

que lhes foram confiados nesta<br />

nova etapa crucial para o processo<br />

de desenvolvimento inclusivo que a<br />

Guiné-Bissau tanto almeja", disse a<br />

activista. "A organização considera<br />

um marco histórico a observância<br />

plena da paridade no que diz respeito<br />

à atribuição de funções ministeriais,<br />

na qual se regista uma paridade<br />

plena entre homens e mulheres,<br />

50% por cada sexo."<br />

Para Silvina Tavares, a inclusão<br />

de um número aceitável das mulheres<br />

no Governo é uma mudança de<br />

paradigma em relação ao passado,<br />

que foi caracterizado por discriminação<br />

contra pessoas do sexo feminino.<br />

"A Plataforma Política das Mulheres<br />

felicita os partidos da maioria<br />

parlamentar pelo enorme esforço<br />

que se traduz na mudança de paradigma<br />

em relação ao passado, caracterizado<br />

pela discriminação infundada<br />

contra as mulheres na esfera de<br />

tomada de decisões. De igual modo,<br />

o equilíbrio do género observado na<br />

composição do actual Governo constitui<br />

um gesto de reconhecimento",<br />

finalizou.<br />

CIDADÃOS SATISFEITOS - Ouvidos<br />

pela DW, os guineenses mostram-se<br />

satisfeitos com a inclusão<br />

das mulheres no Governo. "É bom<br />

que as mulheres também mostrem<br />

a sua participação positiva no desenvolvimento<br />

do país", disse uma<br />

cidadã guineense, cuja opinião foi<br />

partilhada por outro cidadão: "Isso<br />

não é um favor. É um direito e uma<br />

obrigação para que todos nós estejamos<br />

em pé de igualdade". Essa<br />

"é a forma mais viável também das<br />

mulheres poderem mostrar as suas<br />

capacidades na tomada de decisões",<br />

opinou uma professora entrevistada<br />

em Bissau pela reportagem da DW.<br />

Na Guiné-Bissau, as mulheres<br />

Silvina Tavares, Presidente da<br />

Plataforma das Mulheres da Guiné-Bissau<br />

constituem a maioria da população,<br />

52%. Em Novembro de 2018, o Parlamento<br />

guineense aprovou a lei de paridade,<br />

que foi promulgada pelo Presidente<br />

da República em Dezembro.<br />

Até antes da formação do novo<br />

Governo guineense, várias organizações<br />

femininas do país ainda questionavam<br />

o cumprimento da lei adotada<br />

pelos deputados, uma vez que<br />

na constituição da lista dos partidos<br />

para o Parlamento, não houve o respeito<br />

pela mesma.<br />

Iancuba Dansó (Bissau) |<br />

Deutsche Welle.<br />

Guiné-Bissau aprova Lei para garantir maior representação política das mulheres<br />

Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019 59


MUNDO<br />

AS CONSEQUÊNCIAS SÃO BRUTAIS EM TODO O MUNDO...<br />

POR QUE<br />

OS PSICOPATAS<br />

CHEGAM AO PODER?<br />

Há uma dimensão pouco examinada no avanço das lógicas neoliberais. Um sistema que<br />

estimula competição, disputa e rivalismo produzirá “líderes” brutais e sem empatia. Eleger<br />

gente generosa e sensível requer uma nova democracia<br />

Texto: George Monbiot | Outras Palavras / Fotos: Arquivo NET<br />

Quem, em seu juízo<br />

perfeito, poderia desejar<br />

esse trabalho?<br />

É quase certo que<br />

acabará, como descobriu<br />

Theresa May, em<br />

fracasso e execração pública. Procurar<br />

ser primeiro-ministro britânico,<br />

hoje, sugere ou confiança imprudente<br />

ou fome insaciável de poder.<br />

Talvez necessitemos de uma ironia<br />

como a de Groucho Marx: alguém<br />

louco o suficiente para candidatar-se<br />

a essa função deveria ser desqualificado<br />

para concorrer.<br />

Alguns anos atrás, a psicóloga<br />

Michelle Roya Rad listou as características<br />

de uma boa liderança. Entre<br />

elas figuravam justiça e objectividade,<br />

desejo de servir à sociedade<br />

e não a si mesmo, falta de interesse<br />

em ser famoso e ocupar o centro das<br />

atenções, resistência à tentação de<br />

esconder a verdade ou fazer promessas<br />

impossíveis. Por outro lado, um<br />

artigo publicado no Journal of Public<br />

Management & Social Policy (Jornal<br />

de Gestão Pública e Política Social)<br />

listou as características de líderes<br />

com personalidade psicopata, narcisista<br />

ou maquiavélica. Elas incluem:<br />

tendência à manipulação dos outros,<br />

disposição em mentir e enganar para<br />

alcançar seus objectivos, falta de remorso<br />

e sensibilidade, desejo de admiração,<br />

atenção, prestígio e status.<br />

Quais dessas características descrevem<br />

melhor as pessoas que estão<br />

competindo para ser “governantes”<br />

no mundo contemporâneo?<br />

“<br />

Para algumas pessoas,<br />

é mais fácil comandar<br />

uma nação, mandar<br />

milhares para a morte em<br />

guerras desnecessárias,<br />

separar crianças de suas<br />

famílias e infligir sofrimentos<br />

terríveis do que<br />

processar sua própria dor<br />

e trauma<br />

“<br />

Na política, vê-se em todo lado<br />

o que parece ser a externalização<br />

de déficits ou feridas psíquicas. Sigmund<br />

Freud afirmou que “os grupos<br />

assumem a personalidade do líder”.<br />

Penso que seria mais preciso dizer<br />

que as tragédias privadas dos poderosos<br />

tornam-se as tragédias públicas<br />

daqueles que eles dominam.<br />

Para algumas pessoas, é mais<br />

fácil comandar uma nação, mandar<br />

milhares para a morte em guerras<br />

desnecessárias, separar crianças de<br />

suas famílias e infligir sofrimentos<br />

terríveis do que processar sua própria<br />

dor e trauma. Aparentemente, o<br />

que vemos na política, em todos os<br />

cantos, é uma manifestação pública<br />

de profunda angústia privada.<br />

Essa talvez seja uma força particularmente<br />

forte na política britânica.<br />

O psicoterapeuta Nich Duffell<br />

escreveu sobre “líderes feridos”,<br />

que foram separados da família na<br />

primeira infância para ser enviados<br />

ao colégio interno. Eles desenvolveram<br />

uma “personalidade de sobrevivente”,<br />

aprendendo a reprimir seus<br />

sentimentos e projectar um falso eu,<br />

caracterizado pela demonstração<br />

pública de competência e autoconfiança.<br />

Sob essa persona está uma<br />

profunda insegurança, que pode gerar<br />

necessidade insaciável de poder,<br />

prestígio e atenção. O resultado disso<br />

é um sistema que “sempre revela<br />

pessoas que parecem muito mais<br />

competentes do que realmente são”.<br />

O problema não está confinado a<br />

estas paragens. Donald Trump ocupa<br />

a cadeira mais poderosa do planeta,<br />

e ainda assim parece roer-se de in-<br />

60 Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019


MUNDO<br />

par de uma eleição nacional passar<br />

por uma formação em psicoterapia.<br />

A conclusão do curso seria a qualificação<br />

para o cargo. Isso não mudaria<br />

o comportamento de psicopatas,<br />

mas poderia evitar que, ao exercer<br />

o poder, certas pessoas impusessem<br />

sobre os outros suas próprias feridas<br />

profundas. Fiz dois cursos: um influenciado<br />

por Freud e Donald Winnicott,<br />

outro cuja abordagem tinha<br />

foco na compaixão de Paul Gilbert.<br />

Considero os dois extremamente<br />

úteis. Penso que quase todo mundo<br />

se beneficiaria desses tratamentos.<br />

A psicoterapia não iria garantir<br />

uma política mais gentil. A abertura<br />

admirável de Alastair Campbell ao<br />

falar sobre sua terapia e saúde mental<br />

não o impediu de comportar-se –<br />

quando desempenhou as funções de<br />

assessor político e porta-voz de Tony<br />

Blair – como um valentão desbocado,<br />

que intimidava as pessoas a apoiar<br />

uma guerra ilegal, em que centenas<br />

de milhares de pessoas morreram.<br />

Tanto quanto sei, não demonstrou<br />

remorso por seu papel nessa guerra<br />

agressiva, que cabe na definição de<br />

“crime internacional supremo” do<br />

tribunal de Nuremberg.<br />

O problema, na verdade, é o sistema<br />

no qual essas pessoas competem.<br />

Personalidades tóxicas prosperam<br />

em ambientes tóxicos. Aqueles que<br />

veja e ressentimento. “Se o presidente<br />

Obama tivesse feito os acordos<br />

que fiz”, afirmou há pouco, “a mídia<br />

corrupta os consideraria incríveis…<br />

Para mim, apesar do nosso recorde<br />

em economia e tudo o que fiz, não há<br />

crédito!”. Nenhuma riqueza ou poder<br />

parece capaz de satisfazer sua necessidade<br />

de afirmação e segurança.<br />

Penso que deveria ser necessário<br />

a qualquer um que quisesse particideveriam<br />

ser menos confiáveis para<br />

assumir o poder são justamente os<br />

que mais provavelmente vencerão.<br />

Um estudo publicado no Journal of<br />

Personality and Social Psychology sugere<br />

que o grupo de traços psicóticos<br />

conhecido como “domínio sem medo”<br />

está associado a comportamentos<br />

amplamente valorizados nos líderes,<br />

tais como tomar decisões ousadas e<br />

sobressair-se no cenário mundial. Se<br />

assim for, nós, por certo, valorizamos<br />

as características erradas. Se para alcançar<br />

o sucesso no sistema é necessário<br />

ter traços psicopatas, há algo<br />

errado com o sistema.<br />

Para pensar uma política eficiente,<br />

talvez fosse útil trabalhar de trás<br />

para frente: primeiro decidir que<br />

tipo de gente gostaríamos que nos<br />

representassem e depois criar um<br />

sistema que as levasse ao primeiro<br />

plano. Quero ser representado por<br />

pessoas ponderadas, conscientes de<br />

si e colaborativas. Como seria um sistema<br />

que promovesse essas pessoas?<br />

Não seria uma democracia puramente<br />

representativa. Esse tipo de<br />

democracia funciona com o princípio<br />

do consenso presumido: você me elegeu<br />

há três anos, então presumo que<br />

consentiu com a política que estou<br />

para implementar, não importa se<br />

na época eu a mencionei ou não. Ela<br />

recompensa os líderes “fortes e determinados”<br />

que tão frequentemente<br />

levam suas nações à catástrofe. Um<br />

sistema que fortaleça a democracia<br />

representativa com democracia participativa<br />

– assembleias de cidadãos,<br />

orçamento participativo, co-criação<br />

de políticas públicas – tem mais possibilidades<br />

de recompensar os políticos<br />

sensíveis e atenciosos. A representação<br />

proporcional, que impede<br />

governos com apoio minoritário de<br />

dominar a nação, é outra salvaguarda<br />

potencial (embora não seja garantia).<br />

Ao repensar a política, é preciso<br />

desenvolver sistemas que incentivem<br />

gentileza, empatia e inteligência<br />

emocional. É preciso nos desvencilhar<br />

de sistemas que encorajem as<br />

pessoas a esconder sua dor e dominar<br />

os outros.<br />

Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019 61


MUNDO<br />

Fotos: Arquivo NET<br />

OTAN ASIÁTICA<br />

CHINA PODERÁ CRIAR<br />

UMA ALIANÇA MILITAR<br />

COM OS VIZINHOS?<br />

• O medo de que a China venha a criar um bloco militar na Ásia já existe há vários anos<br />

No contexto das tentativas dos EUA de fazer frente ao<br />

gigante asiático em diferentes áreas, a colunista Sofia<br />

Melnichuk da Sputnik analisa se Pequim estará realmente<br />

disposto a criar uma aliança militar com países vizinhos.<br />

No passado mês de Junho, o presidente da China, Xi<br />

Jinping, sugeriu pensar em uma "estrutura de segurança"<br />

na região durante uma reunião com seus parceiros euroasiáticos<br />

no âmbito da Conferência sobre Interação e<br />

Medidas de Confiança na Ásia, que decorreu em Duchambe<br />

(Uzbequistão)<br />

Alguns especialistas<br />

qualificaram esta<br />

iniciativa como um<br />

desejo de criar uma<br />

aliança em oposição à<br />

Organização do Tratado<br />

do Atlântico Norte, uma espécie<br />

de OTAN asiática. No entanto, unir-<br />

-se contra o Ocidente num bloco<br />

asiático será bastante problemático,<br />

nota a colunista.A proposta do presidente<br />

chinês surge após a publica-<br />

62 Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019


MUNDO<br />

ção do relatório do Departamento de<br />

Defesa dos EUA que critica as atividades<br />

da Rússia, Coreia do Norte e,<br />

sobretudo, da China.<br />

"A China utiliza incentivos e sanções<br />

económicas, influencia as operações,<br />

usa ameaças militares para<br />

persuadir outros Estados a seguirem<br />

o seu programa", diz o relatório.<br />

Embora o relatório não mencione a<br />

possibilidade de Pequim poder vir<br />

a criar um bloco militar na região,<br />

verifica-se que os EUA já estão trabalhando<br />

com os países vizinhos para<br />

conter a China.<br />

De facto, parece que o círculo de<br />

aliados dos EUA está-se apertando<br />

em volta da China: o Japão, a Austrália<br />

e a Índia fazem parte do Diálogo<br />

de Segurança Quadrilateral, e para<br />

além disso, os EUA têm parceiros de<br />

confiança no Sudeste Asiático.<br />

"Há desafios na região e aquilo<br />

que Xi Jinping diz não representa planos<br />

agressivos, mas sim uma reação<br />

forçada", comentou à Sputnik Sergei<br />

Sanakoyev, Chefe do Departamento<br />

Analítico Russo-Chinês do Centro de<br />

Investigação da Ásia-Pacífico.<br />

O importante para Pequim agora<br />

é ter a oportunidade de se reunir<br />

com os parceiros, debater determinados<br />

problemas e pensar em conjunto<br />

sobre a sua solução. Para tratar<br />

disso podem ser utilizados o Fórum<br />

de Cooperação Económica Ásia-Pacífico,<br />

o grupo BRICS e a Organização<br />

de Cooperação de Xangai, sendo<br />

esta última a estrutura principal em<br />

termos de segurança na Ásia. Nesta<br />

plataforma Pequim apresenta suas<br />

iniciativas, aumenta a confiança e<br />

propõe todo o tipo de eventos, explica<br />

a autora do artigo.<br />

POLÍTICA ASIÁTICA - A China<br />

simplesmente não tem razões para se<br />

transformar num adversário aberto<br />

dos EUA nem criar um bloco militar.<br />

Os acordos e as declarações que Pequim<br />

assina com outros países não<br />

podem ser qualificados como alianças.<br />

"[ A criação] da OTAN asiática é<br />

simplesmente impossível", disse à<br />

Sputnik Vasiliy Kashin, especialista<br />

“<br />

A formação de uma<br />

rede de alianças político-<br />

-militares não está entre<br />

os planos dos líderes chineses.(...)<br />

Significaria uma<br />

revisão de todo o conceito<br />

de política exterior do seu<br />

país, formado desde os<br />

tempos de Deng Xiaoping.<br />

A retórica pacífica continua<br />

sendo parte da imagem da<br />

China (...), mas o país também<br />

não esconde a necessidade<br />

de fortalecer as suas<br />

Forças Armadas<br />

“<br />

principal do Centro de Estudos Europeus<br />

e Internacionais da Escola<br />

Superior de Economia.<br />

Todos estes países são maiores<br />

que os ocidentais e têm suas próprias<br />

obrigações e interesses. "A<br />

ideia de que a China irá criar a sua<br />

própria OTAN deve-se a uma falta<br />

de compreensão de como funciona<br />

a política na Ásia. As pessoas usam<br />

estereótipos, fazem paralelos como<br />

Guerra Fria, coisas que simplesmente<br />

não funcionam na região asiática",<br />

destacou Kashin.<br />

O especialista explicou que a ordem<br />

mundial asiática é mais complexa<br />

que a europeia, por isso aplicar<br />

o mesmo padrão aqui não faz muito<br />

sentido.Na Ásia não existe uma<br />

aliança única, o que limita consideravelmente<br />

as capacidades dos EUA<br />

na região.<br />

"Os americanos não conseguiram<br />

unir os parceiros asiáticos. Inclusive,<br />

é difícil fazer cooperar o Japão<br />

com a Coreia do Sul, por exemplo",<br />

salientou Kashin. Ao mesmo tempo,<br />

o pilar de segurança de Tóquio é a<br />

sua aliança com os Estados Unidos.<br />

A Austrália é também um aliado dos<br />

EUA. Qualquer documento relativo à<br />

defesa que se assine com os chineses<br />

discute-se com Washington.<br />

A formação de uma rede de alianças<br />

político-militares não está entre<br />

os planos dos líderes chineses. Reconhecer<br />

tal necessidade significaria<br />

uma revisão de todo o conceito de<br />

política exterior do seu país, formado<br />

desde os tempos de Deng Xiaoping. A<br />

retórica pacífica continua sendo parte<br />

da imagem da China no âmbito internacional,<br />

mas o país também não<br />

esconde a necessidade de fortalecer<br />

as suas Forças Armadas.<br />

In Sputnik/Página Global.<br />

Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019 63


DESPORTO<br />

METAS PARA O CAN FICARAM ENTERRADAS NO DESERTO<br />

PALANCAS NEGRAS:<br />

OUTRO FRACASSO<br />

MAL JUSTIFICADO!<br />

Os Palancas Negras voltaram a ter uma participação para esquecer no CAN, por terem<br />

sido afastados logo nos oitavos-de-final da 32ª edição da prova que decorreu no Egipto,<br />

onde sonhavam atingir, no mínimo, a inédita meias finais. A safra pontual dos Palancas<br />

Negras em campo foi infrutífera - derrota (1-0 frente ao Mali e empates, por 1-1 e 0-0,<br />

durante os jogos contra a Tunísia e a Mauritânia, respectivamente)<br />

Textos: António Félix / Fotos: Arquivo F&N<br />

Deste modo, a representação<br />

angolana<br />

acabaria por fechar<br />

a fase de grupos em<br />

terceiro lugar com<br />

apenas dois pontos,<br />

sendo à frente o Mali, com sete, seguido<br />

da Tunísia, com três e a Mauritânia<br />

em último, também com dois.<br />

Significa que nesta sua oitava<br />

participação num CAN, os Palancas<br />

Negras, moldados à Srdjan Vasiljevic,<br />

foram incapazes de se impor no seu<br />

grupo para depois irem conquistando<br />

resultados positivos que os fizesse<br />

chegar às meias finais.<br />

Os factores que ditaram esta<br />

desdita foram, após a eliminação,<br />

64 Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019


DESPORTO<br />

identificadas por treinadores que<br />

já seguraram as "rédeas" dos Palancas<br />

Negras, nomeadamente, Miller<br />

Gomes e Oliveira Gonçalves. No seu<br />

balanço, este último, Oliveira Gonçalves,<br />

que até agora é o que mais<br />

longe fez chegar a selecção à fase final<br />

de um CAN - os quartos-de-final<br />

das edições do Ghana 2008 e Angola<br />

2010 - considera que houve fraca<br />

competência na liderança do órgão<br />

reitor do futebol no país e também a<br />

parca qualidade de jogo demonstrada<br />

pelo combinado nacional.<br />

Miller Gomes, por seu lado, elegeu<br />

três razões fundamentais: a<br />

problemática vivida pelos Palancas<br />

Negras durante o estágio em Portugal,<br />

a anulação do último particular<br />

com a África do Sul e a exposição dos<br />

futebolistas aos órgãos de imprensa.<br />

Mesmo diante do afastamento<br />

Miller Gomes, ex-treinador dos Palancas Oliveira Gonçalves, ex-treinador dos Palancas Carlos Almeida,<br />

Secretário de Estado para o Desporto<br />

prematuro, ditado por este conjunto<br />

de constrangimentos e resultados<br />

irremediáveis em campo, o Ministério<br />

da Juventude e Desportos,<br />

que não disponibilizou a tempo as<br />

condições financeiras para uma boa<br />

preparação, considera que não foi<br />

um fracasso de todo, tendo em conta<br />

o nível de dificuldade bastante<br />

elevado da competição.<br />

O secretário de Estado para o<br />

Desporto, Carlos Almeida, conside-<br />

rou mais tarde, em Luanda, que a<br />

participação da selecção nacional de<br />

futebol no CAN 2019, que decorreu<br />

no Egipto, "não foi um fracasso de<br />

todo, tendo em conta o nível de dificuldade<br />

bastante elevado da competição".<br />

"Os jogadores, a equipa técnica<br />

e a Federação Angolana de Futebol<br />

(FAF) tudo fizeram para representar<br />

de forma condigna o nosso país.<br />

E quando assim acontece, devemos<br />

apoiá-los, não obstante alguns erros<br />

cometidos, dos quais devemos tirar<br />

ilações para se evitá-los em outras<br />

circunstâncias", expressou Carlos<br />

Almeida.<br />

O certo é que o capitão dos Palancas<br />

Negras, Mateus Galiano, admitiu<br />

o fracasso. Com ele corroborou o<br />

médio Djalma Campos que exige<br />

maior competência organizativa por<br />

parte de dirigentes desportivos do<br />

país, particularmente no futebol.<br />

Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019 65


MUNDIAL DE HÓQUEI EM PATINS<br />

ANGOLA FALHA<br />

META EM ESPANHA<br />

. Depois de 10 anos de brilho, João Pinto deixa a selecção nacional<br />

Angola adiou para 2021 o<br />

sonho de poder terminar<br />

acima do quinto lugar num<br />

campeonato do Mundo de<br />

Hóquei em Patins, depois<br />

de, desta vez em Barcelona,<br />

Espanha, quedar-se na sexta<br />

posição da prova, baixando<br />

um lugar em relação à prova<br />

de 2017, decorrido em Nanjing<br />

(China), em que obteve<br />

o inédito quinto lugar<br />

O<br />

próximo campeonato,<br />

dentro de dois anos,<br />

acontece nas cidades<br />

argentinas de Buenos<br />

Aires, Vicente López e<br />

San Juan, palcos onde<br />

a selecção angolana deverá superar<br />

as falhas registadas em Barcelona.<br />

Foi diante da Itália, já nas classificativas<br />

do quinto e sexto lugares, que<br />

o combinado nacional se viu relegado<br />

para este posto, ao perder, por 4-6.<br />

A Itália foi justamente a adversária<br />

que venceu Angola no primeiro jogo,<br />

(grupo A), por 5-4.<br />

Angola acabava de , mais uma vez,<br />

não levar a melhor sobre uma Itália<br />

que ainda em Março deste ano foi derrotada<br />

por si no Torneio de Montreux,<br />

na Suíça, por expressivos 1-7. No jogo<br />

seguinte, Angola cilindrou Moçambique,<br />

por 6-1, e qualificou-se para os<br />

quartos-de-final, mas, na terceira contenda,<br />

já frente à toda poderosa Argentina,<br />

perdeu por 6-0, tendo, assim,<br />

sido remetida para as classificativas<br />

do 5º ao 8º posto. Depois Angola conseguiu<br />

vencer o Chile, por 7-4, após<br />

prolongamento, o que abriu a possibilidade<br />

de lutar para a manutenção da<br />

quinta posição da edição transacta.<br />

Apesar de ter baixado um lugar<br />

em relação à prestação anterior, pode-<br />

-se considerar que a participação de<br />

Angola foi positiva, pois o sexto lugar<br />

foi logrado em condições extremas.<br />

Tratou-se de um mundial, diferente<br />

dos outros nos moldes de disputa, o<br />

que influenciou a prestação angolana,<br />

porque, nos outros, houve dias de descanso,<br />

mas neste não.<br />

Desde o jogo com a Argentina,<br />

nos quartos, que os jogadores já não<br />

tinham pernas para andar e, a partir<br />

daí, foi um esforço sobrenatural para<br />

suportar os jogos que restavam.<br />

Ademais, Angola ficou inserida e<br />

jogou "num grupo complicado" com a<br />

Espanha, Itália e a França. A Espanha<br />

era a campeã. A Itália tem jogadores<br />

que lhe permite sonhar sempre com<br />

a intromissão na luta pelo título e a<br />

França é sempre muito poderosa.<br />

Fernando Falé que em 2017 regressou<br />

ao comando da selecção angolana,<br />

a qual conduziu aos mundiais<br />

de 2005 e 2007 tem um colectivo que<br />

pode fazer melhor em 2021, altura em<br />

que a selecção já não contará com os<br />

préstimos de João Pinto, agora com<br />

32 anos, dez dos quais ao serviço da<br />

mesma.<br />

Melhor marcador de Angola na<br />

prova, e quarto na lista geral, com 9<br />

golos, João Pinto agradeceu o apoio<br />

dos colegas, treinadores e dirigentes<br />

ao longo do tempo que serviu ao país<br />

na selecção.O atleta prometeu ajudar,<br />

sempre que for chamado para tal.Note-se<br />

que, na época passada, chegou<br />

à campeão europeu pelo Sporting de<br />

Portugal. Entretanto, deixará este ano<br />

a equipa lusa, para juntar-se aos italianos<br />

do Lodi. (A.F.)<br />

66 Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019


FIGURAS<br />

António Félix<br />

felito344@yahoo.com.br<br />

DE JOGO<br />

ARTUR ALMEIDA PODE CAIR?<br />

No seguimento da participação<br />

pouco aplaudida<br />

dos Palancas Negras no<br />

CAN do Egipto, há vozes<br />

a clamarem para que<br />

o actual presidente da<br />

Federação Angolana de Futebol (FAF)<br />

apresente a sua demissão, saindo com<br />

os seus pares, ou então incentiva-se os<br />

associados a promoverem eleições antecipadas,<br />

o que a acontecerem, estas<br />

poderão ser altamente polémicas.Há<br />

quem defenda mesmo a intervenção do<br />

Ministério da Juventude e Desportos,<br />

suspendendo a direcção, nomeando<br />

uma comissão de gestão.<br />

Desde a data da sua fundação, em<br />

1979, a Federação Angolana de Futebol<br />

(FAF) nunca viveu momentos de verdadeira<br />

paz, sobretudo quando se passou<br />

a realizar eleições, na verdade tão<br />

polémicas, tão concorridas e mediatizadas<br />

como as que guindaram Artur<br />

Almeida e pares à sua liderança.<br />

Polémicas porque o processo<br />

eleitoral pode ser ser visto de modo<br />

diferente pela população votante, que<br />

são os clubes e associações. Concorridas<br />

e mediatizadas porque os candidatos à<br />

presidência terão muitas facilidades, não<br />

vividas nos mandatos anteriores.<br />

Na verdade, consta nos anais do futebol<br />

angolano que o primeiro presidente<br />

da FAF, Eduardo Macedo dos Santos,<br />

que dirigiu a federação de 1979 a 1983,<br />

fê-lo por via da nomeação pela então<br />

Secretaria de Estado de Educação Física<br />

e Desportos, tal como aconteceu com o<br />

segundo, Luís Gomes (1983 a 1989) e<br />

para o terceiro, José Fernandes (1990).<br />

Este último, irmão de Justino<br />

Fernandes, mas já falecido, dirigiu<br />

a federação em comissão de gestão,<br />

devido a uma crise directiva ao tempo<br />

de Luís Gomes.Com o fim do critério<br />

político de nomeação, apanágio do<br />

então regime político monopartidário,<br />

o primeiro presidente eleito, graças<br />

aos sinais da democracia participativa<br />

que também chegou ao desporto, foi<br />

Armando Machado (1991 a 2000).<br />

Este dirigente, à época vindo do<br />

Huambo, onde abdicou o cargo de presidente<br />

da Associação Provincial de Futebol,<br />

concorreu com Daniel Simas, da<br />

associação de Luanda, a quem venceu,<br />

facilmente, por 11 votos contra apenas<br />

1.Depois de dois mandatos (cada um<br />

é de quatro) eivado de alguns ganhos<br />

pelo meio, como a primeira participação<br />

de Angola numa fase final do CAN<br />

(1996, na África do Sul), conquista da<br />

Taça Cosafa (1999) e a construção de<br />

uma sede e um hotel para servir a federação<br />

e a selecção nacional, Armando<br />

Machado tinha trunfos para voltar<br />

a concorrer desde que os estatutos<br />

alargassem para um terceiro mandato,<br />

mas não logrou esta pretensão.<br />

O obstáculo foi Justino Fernandes,<br />

defesa de renome no ASA dos anos<br />

sessenta, presidente do 1º de Agosto<br />

e ministro da Juventude e Desportos.<br />

A Armando Machado ter-se-á pedido<br />

mesmo para não fazer frente a quem<br />

(Justino Fernandes) era assessor social<br />

do ex-Presidente da República, Eduardo<br />

dos Santos.<br />

Provavelmente por causa desse<br />

peso político, Justino Fernandes, nas<br />

duas eleições seguintes (2005 e 2008),<br />

não enfrentou a ousadia de candidatos<br />

de peso. No seu mandato conseguiu a<br />

conquista do título de campeão africano<br />

de Sub-20, em 2001, na Etiópia,<br />

presença no Mundial (2006), nos CAN<br />

de 2006 e 2008, no Egipto e Ghana,<br />

vitória, em 2006, no Egipto, para organização<br />

do CAN de 2010 e, finalmente,<br />

a realização, com êxito, deste evento.<br />

Sucessos à parte, foram questões<br />

da falta de apoios e contactos regulares<br />

com as associações que motivaram estas<br />

a forçarem a direcção da FAF, liderada<br />

por Justino Fernandes, a solicitar<br />

eleições antecipadas, abrindo espaço<br />

para a concorrência que só terminou<br />

no dia em que Pedro Neto subiu ao<br />

"trono", onde actualmente está Artur<br />

Almeida, também na corda bamba.<br />

Pergunta-se: Artur Almeida<br />

pode cair?<br />

Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019 67


SAÚDE & BEM-ESTAR<br />

IDEALIZADOR DA METODOLOGIA DE TREINO DE CORRIDA RESPONDE...<br />

QUANTAS VEZES TEM DE<br />

CAMINHAR PARA EMAGRECER<br />

E TONIFICAR O CORPO?<br />

• Só necessita de meia hora de caminhada por dia para começar a mudar o seu<br />

corpo, três vezes por semana - claro, se ao mesmo tempo controlar a alimentação.<br />

Quando se trata de praticar<br />

exercício físico, não há<br />

nada mais simples e económico<br />

do que caminhar.<br />

Sendo que este exercício<br />

é igualmente eficaz para<br />

quem pretende queimar<br />

calorias, ter um corpo mais<br />

firme, ganhar resistência,<br />

melhorar o humor e a disposição,<br />

combater o sterss<br />

e reforçar o sistema imunitário.<br />

Alguns estudos já<br />

mostraram que caminhar a<br />

um passo rápido pode trazer<br />

tantos benefícios quanto<br />

a corrida para prevenir<br />

a pressão alta, diabetes e<br />

doenças do coração<br />

O<br />

personal trainer<br />

Alexandre Machado,<br />

idealizador da metodologia<br />

de treino de<br />

corrida Dpace. Ritmo<br />

confortável (RC),<br />

partilhou com a revista Abril algumas<br />

dicas que prometem maximizar<br />

o seu treino - sempre passo a passo.<br />

FARTLEK: controla a variação de<br />

ritmo de acordo com sua condição<br />

física. “A tendência é que passe<br />

a treinar com maior intensidade<br />

a cada sessão”, diz. O método é<br />

simples e indicado para quem está a<br />

iniciar a prática.<br />

INTERVALADO FIXO: alterna<br />

trechos curtos em intensidades diferentes:<br />

depois de aumentar a velocidade,<br />

recupera o fôlego diminuindo<br />

o ritmo ou fazendo exercícios localizados<br />

(descanso dinâmico).<br />

INTERVALADO PROGRESSIVO:<br />

a diferença em relação ao intervalado<br />

fixo é que, após a recuperação, o<br />

novo trecho forte tem intensidade<br />

mais alta do que o anterior.<br />

CONTÍNUO FIXO: a mesma<br />

intensidade é mantida o tempo todo.<br />

Em treinos superiores a 15 minutos,<br />

Texto: Liliana Lopes Monteiro<br />

Fotos: Arquivo NET<br />

68 Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019


SAÚDE & BEM-ESTAR<br />

o método é ótimo para desenvolver a<br />

resistência.<br />

RITMO MODERADO (RM): a<br />

respiração fica mais acelerada e necessita<br />

de fazer pausas na conversa<br />

para retomar o fôlego.<br />

RITMO FORTE (RF): está<br />

bastante ofegante e não consegue<br />

conversar sem parar, apenas dizer<br />

frases curtas.<br />

RITMO MUITO FORTE (RMF): é<br />

a maior intensidade possível<br />

e já não consegue falar, pois toda a<br />

energia está concentrada no exercício.<br />

JOGGING (JOG): é uma corrida<br />

em baixa intensidade, que fica<br />

entre os ritmos moderado e forte da<br />

caminhada. A diferença é o padrão<br />

de movimento: os dois pés ficam fora<br />

do solo ao mesmo tempo. Trata-se<br />

de um ótimo método para quem<br />

pretende passar gradualmente da<br />

caminhada para a corrida.<br />

O QUE É MELHOR<br />

PARA EMAGRECER:<br />

CORRER 30 MINUTOS<br />

OU CAMINHAR 60<br />

MINUTOS ?<br />

Para quem pretende<br />

manter-se saudável<br />

e em forma é<br />

essencial a prática<br />

diária de pelo menos<br />

30 minutos de<br />

exercício físico, cinco vezes por<br />

semana. Se o objectivo é perder<br />

peso, a actividade deve ser um<br />

pouco mais intensa: pelo menos<br />

uma hora por dia.<br />

Se está a começar a praticar<br />

desporto, uma caminhada rápida<br />

é uma ótima opção. Todavia,<br />

para aqueles que não têm muito<br />

tempo disponível, será que uma<br />

corrida de 30 minutos é tão<br />

benéfica quanto uma hora de<br />

exercício mais lento?<br />

Para perder meio quilo por<br />

semana, é necessário queimar<br />

um total de 500 calorias por dia.<br />

Se retirar 250 da dieta, restam<br />

250 para serem gastas com actividade<br />

física.<br />

Eis a comparação do gasto<br />

calórico da caminhada de uma<br />

hora e da corrida de meia<br />

hora:<br />

• Uma caminhada de 60 min a<br />

6,4km/h gasta 243 calorias;<br />

• Uma caminhada de 60 min a<br />

7,4km/h gasta 270 calorias;<br />

• Uma corrida de 30 min a<br />

9,6km/h gasta 270 calorias;<br />

• Uma corrida de 30 min a<br />

10,7km/h gasta 300 calorias.<br />

Fonte: (MSN/<br />

Lifestyle Emagrecer).<br />

Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019 69


SAÚDE & BEM-ESTAR<br />

OLHOS AMARELOS<br />

QUATRO FACTOS<br />

QUE TEM SE SABER<br />

SOBRE A ANEMIA<br />

A anemia ocorre quando<br />

o número de glóbulos<br />

vermelhos está baixo ou a<br />

quantidade de hemoglobina<br />

(a proteína que transporta<br />

o oxigénio) dentro<br />

desses glóbulos vermelhos<br />

é diminuta.Embora a<br />

anemia, até que se torne<br />

grave, não seja perigosa,<br />

estar anémico pode ser<br />

um grande alerta para<br />

outras questões de saúde<br />

potencialmente sérias. Eis<br />

quatro factos importantes<br />

sobre a anemia, de acordo<br />

com dados divulgados pelo<br />

Sistema Nacional de Saúde<br />

Britânico (NHS):<br />

Texto: Liliana Lopes Monteiro<br />

Fotos: Arquivo NET<br />

1. A anemia é um sinal de<br />

outra doença - O facto<br />

mais importante sobre<br />

anemia é que a condição<br />

é o resultado de alguma<br />

doença subjacente. Essa condição<br />

pode ser relativamente inofensiva ou<br />

muito séria. Pense na anemia como<br />

uma febre. Uma febre é um sinal que<br />

aponta para outra condição, talvez<br />

uma infecção bacteriana ou viral.<br />

Há dezenas de causas para a<br />

anemia, que variam entre coisas<br />

relativamente pequenas, como uma<br />

dieta desequilibrada, até problemas<br />

sérios, como cancro. A anemia por<br />

carência de ferro, um dos tipos mais<br />

comuns de anemia, pode ter várias<br />

causas, incluindo menstruação<br />

abundante, doença celíaca, gravidez,<br />

cancro do cólon ou simplesmente<br />

uma dieta com défice de ferro.<br />

2. Os sintomas de anemia<br />

são bastante comuns<br />

(excepto um) - Há uma variação<br />

na contagem normal<br />

de hemoglobina e glóbulos vermelhos,<br />

e pessoas diferentes começam<br />

a apresentar os sintomas em níveis<br />

diferentes. Em geral, o sintoma mais<br />

comum da anemia é a fadiga. Mas a<br />

70 Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019


SAÚDE & BEM-ESTAR<br />

fadiga pode ser causada por muitas<br />

coisas. Atente-se para sintomas<br />

mais preocupantes, como falta de ar<br />

causada por um nível de esforço que<br />

você conseguia fazer no passado.<br />

Outro sintoma a ser observado é<br />

uma aparência mais pálida do que o<br />

normal.<br />

Um sintoma pouco usual é<br />

comum em pessoas com anemia por<br />

carência de ferro. Ele é conhecido<br />

como pica. Ela é caracterizada por<br />

mastigar e comer coisas que não são<br />

alimentos. A biologia por trás disso<br />

ainda não é bem compreendida, mas<br />

pessoas com pica mastigam coisas<br />

como gelo, papelão ou terra. Parece<br />

ser mais comum em pessoas com<br />

carências nutricionais.<br />

Talvez os sintomas mais importantes<br />

a estar atento sejam os<br />

sintomas do que está a provocar a<br />

anemia. Por exemplo, ter sangue<br />

nas fezes e perda de peso podem<br />

ser sintomas de cancro no cólon, ou<br />

olhos amarelos (icterícia) podem<br />

resultar de uma queda em seus<br />

glóbulos vermelhos.<br />

3. Os médicos não procuram<br />

a anemia - Ao<br />

contrário do colesterol ou<br />

da pressão sanguínea, a<br />

anemia não faz parte dos exames<br />

de rotina. Em vez disso, os médicos<br />

irão sempre pedir exames de sangue<br />

(chamado hemograma completo)<br />

se a pessoa se queixar de sintomas<br />

como fadiga.<br />

Se os resultados desse exame de<br />

sangue revelarem um nível baixo de<br />

hemoglobina, então o seu médico<br />

provavelmente fará um exame<br />

completo e terá uma conversa mais<br />

detalhada sobre os seus sintomas e<br />

as alterações recentes na sua saúde.<br />

Com base nos dados apurados, o<br />

clínico pode pedir mais exames de<br />

sangue para observar outras alterações<br />

no nível de hemoglobina ou no<br />

número de glóbulos vermelhos.<br />

4. Anemia 'leve' também<br />

pode ser grave - A anemia<br />

normalmente aparece lentamente,<br />

frequentemente<br />

ao longo de semanas ou meses. Tal<br />

significa que mesmo as anemias<br />

causadas por um problema<br />

grave, como um tumot, podem<br />

aparecer em estágios precoces,<br />

quando a anemia ainda é ligeira.<br />

Mas mesmo que o médico<br />

afirme que a sua anemia em<br />

concreto é 'leve', esta ainda é<br />

um indicador de um problema<br />

de saúde maior. A gravidade da<br />

anemia nem sempre corresponde<br />

à importância da sua causa.<br />

Descobrir a causa é a chave<br />

para tratar a anemia e corrigi-la. É<br />

importante ser específico com seu<br />

médico sobre qualquer alteração<br />

nos medicamentos, sintomas ou<br />

saúde em geral que possa ajudar a<br />

determinar o que está a provocar a<br />

anemia.<br />

Ou seja, 60 minutos de caminhada<br />

(a 7,4km/h) ou 30 minutos<br />

de corrida (a 9,6 km/h) queimam<br />

a mesma quantidade de calorias.<br />

Mas se tende a andar mais devagar,<br />

certamente não vai alcançar com a<br />

caminhada os mesmos benefícios da<br />

corrida.<br />

“<br />

Um sintoma pouco<br />

usual é comum em pessoas<br />

com anemia por carência de<br />

ferro. Ele é conhecido como<br />

pica. Ela é caracterizada por<br />

mastigar e comer coisas que<br />

não são alimentos<br />

“<br />

Fica a dica: mesmo que disponha<br />

de 60 minutos, faça 30 minutos<br />

de corrida e alterne com 20<br />

minutos fazendo treino muscular,<br />

o que também ajuda a aumentar o<br />

metabolismo e a queimar calorias<br />

mais rapidamente. Realize ainda 10<br />

minutos de alongamentos. Alongar<br />

é extremamente importante para<br />

prevenir lesões e evitar dores nos<br />

músculos.<br />

Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019 71


VIDA SICIAL<br />

GINÁSTICA LABORAL,<br />

O QUE É?<br />

Podemos descrever a Ginástica<br />

Laboral como o conjunto<br />

de todas e quaisquer<br />

práticas que têm como<br />

principal objectivo:<br />

• Prevenir patologias relacionadas<br />

às actividades laborais;<br />

• Incentivar os colaboradores à prática de<br />

actividades físicas<br />

• Melhorar a qualidade de vida e a saúde<br />

(segundo a OMS a saúde é "um estado de<br />

completo bem-estar físico, mental e social<br />

e não somente ausência de afecções e<br />

enfermidades".<br />

Onde se Realizam as Sessões de Ginástica<br />

Laboral?<br />

A ginástica laboral é realizada no posto<br />

de trabalho ou, tanto quanto possível,<br />

num espaço destinado a tal, dentro da<br />

empresa.<br />

Qual a Duração das Sessões de Ginástica<br />

Laboral?<br />

Apesar de não ter uma duração exacta,<br />

considera-se que um período de tempo<br />

compreendido entre os cinco e os quinze<br />

minutos é suficiente para que os objectivos<br />

da Ginástica Laboral sejam atingidos,<br />

dependendo naturalmente das vicissitudes<br />

de cada emprego/empresa.<br />

Pode ser realizada todos os dias, duas<br />

a três vezes por semana ou conforme a<br />

frequência que a empresa disponibiliza.<br />

Quais os Diferentes Tipos de Ginástica<br />

Laboral?<br />

• Preparatória (normalmente é realizada<br />

no início da jornada laboral):<br />

Tem como objectivo preparar o organismo<br />

ao nível oxigenação tecidual, do<br />

aumento da frequência cardíaca, e na<br />

melhoria dos índices de concentração e<br />

de boa disposição.<br />

São realizados exercícios de Coordenação<br />

Fisiologista José Mendes<br />

72 Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019


Fisiologista Kátia Francisco<br />

e Equilíbrio Motor, de Concentração,<br />

de Flexibilidade e de Resistência muscular<br />

(não se recomenda que sejam<br />

realizados todos na mesma sessão).<br />

• Compensatória (normalmente é<br />

realizada durante a jornada laboral):<br />

Tem como objectivo o alívio da<br />

tensão muscular, através do auxílio<br />

na remoção de resíduos metabólicos,<br />

pela correção postural e pela prevenção<br />

de fadiga muscular, decorrentes<br />

de posturas menos correctas ou de<br />

esforços excessivos.<br />

São realizados exercícios Posturais,<br />

de Flexibilidade e Alongamentos e<br />

Exercícios Respiratórios.<br />

• Relaxamento (Normalmente é realizada<br />

ao final da jornada laboral):<br />

Tem como principal objectivo o alívio<br />

de tensões e diminuição dos índices<br />

de stress.<br />

São realizados exercícios de Automassagem,<br />

Respiração, Alongamentos<br />

e, nalguns casos, de Meditação.<br />

Quais as Vantagens da Ginástica<br />

Laboral?<br />

A aplicação prática da Ginástica Laboral<br />

promove:<br />

• A valorização do profissional, na sua<br />

vertente pessoal;<br />

• A preocupação empresarial com a<br />

saúde dos seus empregados, como<br />

elemento determinante no seu rendimento;<br />

• O desenvolvimento do trabalho<br />

com maior qualidade e duração, com<br />

a possibilidade real de obtenção de<br />

melhores resultados;<br />

• A oferta de um melhor ambiente de<br />

trabalho.<br />

• Diminuição dos casos de LER /<br />

DORT (Lesão por Esforço Repetitivo /<br />

Distúrbios Osteomusculares Relacionados<br />

com o Trabalho).<br />

Concluindo, a introdução da Ginástica<br />

Laboral como parte integrante<br />

do mapa laboral de uma entidade<br />

empregadora pode possibilitar a<br />

obtenção de melhores resultados a<br />

longo prazo, na medida em que a preservação<br />

e manutenção da saúde dos<br />

empregados, acaba por se reflectir no<br />

seu rendimento.<br />

Fisiologista Kátia Francisco<br />

Fisiologista José Mendes<br />

Para além de existir um aumento do<br />

bem-estar colectivo, existe uma relação<br />

directa com a redução do número<br />

de faltas ao emprego por motivos de<br />

saúde, possibilitando deste modo a<br />

manutenção ou o aumento do ritmo<br />

diário das rotinas das empresas.<br />

EXERCÍCIOS QUE DEVE REALIZAR:<br />

• Básculas<br />

• Alongamento Estático e Dinâmico<br />

do Trapézio<br />

• Alongamento Estático da Coluna<br />

Vertebral<br />

• Rotação da Coluna (na posição<br />

sentada)<br />

• Exercícios Respiratórios<br />

• Caminhada<br />

FRASES A DESTACAR<br />

“Relação directa com a redução do<br />

número de faltas ao emprego por<br />

motivos de saúde”<br />

“Tem como principal objectivo o<br />

alívio de tensões e diminuição dos<br />

índices de stress”<br />

“Aumento do bem-estar colectivo”<br />

Artigo escrito por:<br />

Fisiologista Bruno Lourenço, Fisiologista<br />

José Mendes e Fisiologista Kátia<br />

Francisco<br />

Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019 73


MODA & BELEZA<br />

O NEGÓCIO DO MOMENTO:<br />

PERUCAS<br />

Modernas e com aparência mais próxima ao<br />

do cabelo natural, as perucas fazem as cabeças<br />

das mulheres<br />

Texto: Crisa Santos / Fotos: www.pinterest.com<br />

De cara nova! A peruca<br />

é um acessório que<br />

atravessou séculos e<br />

ainda hoje é uma opção<br />

para dar aquela<br />

variada no estilo. É<br />

comum nos Estados Unidos as mulheres<br />

negras mudarem o visual com<br />

frequência.<br />

Por Angola, a modalidade vai<br />

ganhando força. O que antes servia<br />

apenas para esconder os poucos cabelos,<br />

agora virou acessório .<br />

Sim, as perucas estão na moda,<br />

mas em formatos e modelos muito<br />

modernos do que aquelas usadas pelos<br />

nossos avós .<br />

Chamadas de “ Lace Wig”, as perucas<br />

modernas impressionam pela<br />

74 Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019


MODA & BELEZA<br />

Peruca comum - É a mais simples,<br />

não tem pentes para ajustar<br />

nem tela, os fios não são colocados<br />

um a um na rede. São mais baratas.<br />

Full lace wig - Tem tela de tule<br />

em toda extensão, que deve ter cor<br />

semelhante à pele da pessoa quer<br />

usa. Os fios são tecidos um a um,<br />

garantindo naturalidade. Custam,<br />

geralmente, a partir de $100-$1500 .<br />

Pode ser colada na cabeça com<br />

uma cola especial ou costurada no<br />

cabelo.<br />

Lace wigs - Termo usado para<br />

definir qualquer peruca com tela de<br />

tule frontal e o restante feito como<br />

peruca comum. Se dividem em dois<br />

tipos a depender da extensão da tela:<br />

a lace front wig e a half wig custam<br />

entre $50 a $199.<br />

Lace front wig - A tela é frontal,<br />

de orelha a orelha, e o resto é uma<br />

peruca tradicional, com aberturas<br />

para ventilação do cabelo natural.<br />

Permite ajeitar os fios para o lado<br />

que quiser.<br />

Half Wig - É uma peruca pela metade.<br />

Não possui franja. Nesse modelo,<br />

o cabelo natural da pessoa que a<br />

está usado se mistura com as fibras<br />

no penteado. O ideal é que o cabelo<br />

da frente esconda o começo da half<br />

wig. Não é indicada para quem não<br />

tem cabelo. Com a partir de $70 dá<br />

para comprar uma.<br />

naturalidade .<br />

Dizem por aí que o cabelo é a<br />

moldura do rosto. Imagina poder<br />

mudá-lo sempre que quiser? Algumas<br />

famosas como as cantoras Pérola<br />

,Titica ,Ary são adeptas das laces<br />

wigs, termo em inglês para perucas<br />

em que a fibra é presa em uma tela.<br />

O segredo está justamente nas<br />

“laces”; ou seja, as telas aonde são<br />

colocados à mão os fios de cabelo e<br />

que imitam o couro cabeludo .<br />

Isso sem contar a qualidade de<br />

fibras sintéticas que imitam os fios, o<br />

que garante preço .<br />

Não é exagero dizer que existe<br />

uma peruca moderna para cada ocasião<br />

.<br />

Elas são óptimas aliadas para<br />

quem está passando por transição<br />

capilar ou quer um cabelo diferente<br />

sem se submeter a químicas ou descolorações<br />

Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019 75


FIGURAS DE LÁ<br />

TRUMP E BORIS<br />

ALIADOS ESTRATÉGICOS<br />

São três o número de vezes consecutivas e em<br />

menos de três meses que o Chefe de Estado<br />

norte-americano vai encontrar-se com Boris Johnson<br />

e será para discutir muitos assuntos relacionados<br />

com a saída da Grã Bretanha da União<br />

Europeia. Donald Trump é o principal aliado de<br />

Boris e pelo menos até à data do Brexit (Outubro<br />

próximo) tem manifestado todo o seu apoio<br />

ao novo primeiro-Ministro do Reino Unido,<br />

confrontado que está com os problemas das Irlandas.<br />

Aliás, Trump mostra-se muito agradado<br />

com a escolha de Boris para Primeiro Ministro,<br />

dizendo que a sua governação vai ser fantástica.<br />

Apelidou-o mesmo de «bom rapaz», mas nunca<br />

escondeu uma maior simpatia por Nigel Farage,<br />

líder do extremista Partido do Brexit.<br />

CIPRIANO CASSAMÁ<br />

CANDIDATO À P.R.<br />

O Presidente da Assembleia Nacional Popular vai<br />

ser candidato às presidenciais agendadas para 24 de<br />

Novembro e promete convidar o presidente do PAIGC,<br />

Domingos Simões Pereira, para o cargo de primeiro-<br />

-ministro.<br />

"Depois de uma reflexão profunda, enquanto primeiro<br />

vice-Presidente do partido (PAIGC), decidi candidatar-me<br />

às eleições presidenciais. Confirmo que<br />

sou candidato e serei candidato a essas eleições de<br />

24 de Novembro", anunciou recentemente Cipriano<br />

Cassamá.<br />

"Penso que, enquanto Presidente da República,<br />

dentro de cinco a seis meses, ele voltará a chefiar o<br />

Governo da Guiné-Bissau", adiantou, referindo-se a<br />

Domingos Simões Pereira. "Domingos Simões Pereira<br />

é o presidente do meu partido. Com ele tenho uma<br />

aliança. Eu desisti no Congresso de Cacheu (2014).<br />

Fui com 379 delegados. Eu era candidato para ser<br />

presidente do partido. Dado algumas considerações,<br />

desisti da minha candidatura, fizemos uma aliança<br />

e ele é presidente do partido e continuo a ter muita<br />

confiança nele", disse, citado pela agência Lusa.<br />

76 Figuras&Negócios - - Nº Nº 201 202 - - JUNHO JUlHO 2019


FIGURAS DE LÁ<br />

JÔ SOARES<br />

ATAQUE COM HUMOR<br />

O escritor e humorista brasileiro, Jô Soares, usou a sua<br />

coluna no jornal Folha de S.Paulo para atacar, com muito<br />

humor, a indicação de Eduardo Bolsonaro, feita pelo presidente,<br />

à embaixada dos Estados Unidos<br />

"Se Napoleão nomeou irmãos e parentes como reis da<br />

Holanda, Nápoles e Espanha, por que o presidente do Brasil<br />

não poderia nomear o filho embaixador dos Estados<br />

Unidos?" -escreveu Jô Soares numa crónica , com o título<br />

'Outra carta aberta ao nosso excelentíssimo presidente<br />

da República, senhor Jair Bolsonaro'. A crítica começa na<br />

escolha da língua. Jô cria um 'francês abrasileirado' para<br />

falar com o presidente. Com múltiplos erros de grafia e<br />

conjugação verbal, ele começa parabenizando Jair Bolsonaro<br />

por escolher Eduardo como embaixador às vésperas<br />

do aniversário dele de 35 anos (idade mínima requerida<br />

para o cargo). "Que ideia genial! Assim como deve ser, respeitando<br />

as regras: primeiro completar a idade correcta.<br />

Depois, pequena festa, troca de presentinhos, etc. Cantar<br />

os parabéns, apagar as velas, comer o bolo! E depois o<br />

presente principal: ele, que já tem uma graduação em<br />

hambúrguer e talvez uma pós-graduação em cheesburguer?",<br />

escreveu o humorista e também apresentador e<br />

produtor da Tv Globo.<br />

ABEL XAVIER<br />

DESAIRE E ABANDONO<br />

Abel Xavier acabou mesmo por deixar de ser treinador<br />

da selecção moçambicana de futebol, depois de não<br />

ter chegado a acordo para renovar contrato. Nas redes<br />

sociais, o técnico revelou recentemente que não iria<br />

continuar como seleccionador nacional e coordenador<br />

do trabalho das selecções de formação, considerando ,<br />

todavia, ter sido para si uma honra servir o combinado<br />

de futebo e mais representativo das cores nacionais do<br />

seu país de origem.<br />

Abel Xavier, 46 anos de idade, tinha assumido o comando<br />

técnico de Moçambique em 2016, mas falhou as<br />

duas tentativas de se apurar para o CAN, a maior prova<br />

de selecções do continente africano.<br />

Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019 77


FIGURAS DE LÁ<br />

JACOB ZUMA<br />

AMEAÇAS DE MORTE?<br />

O antigo chefe de Estado marcou presença em Julho<br />

numa comissão de inquérito à corrupção estatal, onde<br />

negou quaisquer irregularidades cometidas com a<br />

influente família de empresários indianos-Gupta-de<br />

que é próximo. “Houve um impulso para me retirar<br />

de cena, um desejo de que eu desaparecesse”, disse,<br />

falando ainda de uma conspiração contra si. Segundo<br />

o Expresso, Jacob Zuma disse que foi ameaçado de<br />

morte na sequência do seu depoimento, na véspera,<br />

numa comissão de inquérito à corrupção estatal.<br />

"Zuma revelou que o seu assistente pessoal recebera<br />

uma chamada de uma pessoa desconhecida que<br />

ameaçou matar o ex-chefe de Estado e os seus filhos",<br />

divulgou-se, mas o vice-presidente do Tribunal Constitucional,<br />

Raymond Zondo, que encabeça a comissão,<br />

reagiu sublinhando que as ameaças são inaceitáveis. O<br />

antigo chefe de Estado, com 77 anos, é suspeito de ter<br />

concedido ilegalmente contratos públicos lucrativos e<br />

vantagens indevidas aos Gupta.<br />

HENRY ROTICH<br />

MINISTRO CORRUPTO<br />

Acusado de suborno e fraude num contrato com<br />

uma empresa italiana para a construção de duas<br />

barragens, o ministro das Finanças do Quênia,<br />

Henry Rotich, acabou mesmo por se entregar à<br />

Justiça.<br />

Com ele, vários funcionários do seu ministério<br />

foram também detidos recentemente , acusados<br />

de participar no referido esquema do projecto<br />

multimilionário de construção. O Procurador-Geral<br />

do Quénia, Noordin Haji, ordenou a detenção<br />

imediata de Rotich, juntamente com outras 27<br />

pessoas e entidades, mas, note-se, o governante<br />

entregou-se de forma voluntária.<br />

O contrato original assinalava que o custo de<br />

ambas as barragens seria de 456 milhões de<br />

dólares, mas o Tesouro aumentou essa quantia<br />

em 170 milhões de dólares "sem ter em conta o<br />

rendimento ou as obras". Até Janeiro deste ano, o<br />

Governo queniano pagou 197 milhões de dólares,<br />

ainda antes da construção ter começado.<br />

78 Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019


RECADO<br />

SOCIAL<br />

Carlos Miranda<br />

carlosimparcial@gmail.com.<br />

DESARMAMENTO: OUTRA GUERRA!!<br />

Dados recentes da Polícia<br />

Nacional dão conta que o<br />

processo de desarmamento<br />

da população civil, que<br />

iniciou em Março de 2008,<br />

permitiu a recolha de 110<br />

mil e 572 armas, mais de 68 mil carregadores,<br />

766 mil e 399 munições, bem como<br />

161mil e 834 explosivos.Citada pela Angop,<br />

a nossa polícia revelou que "por posse<br />

ilegal de armas de fogo, foram abertos mil<br />

e 945 processos-crime, mil e 900 julgados,<br />

mil e 822 condenados, 78 absolvidos e mil<br />

e 45 casos em instrução preparatória".Só?<br />

Espantoso!<br />

Já se passaram mais de dez anos, desde<br />

que foi despoletado este processo de desarmamento.<br />

Lembro-me como eram apresentados<br />

os balanços, mais ou menos regulares,<br />

sobre as operações desencadeadas pela<br />

Polícia Nacional. Umas com mais ou menos<br />

"trungungo", mas a polícia lá ia sossegando<br />

a população e esta aplaudia.Algumas delas<br />

eram publicitadas como se ainda estivéssemos<br />

em guerra declarada contra os<br />

terroristas internos, rebeldes armados até<br />

aos dentes, ou coisa que se pareça...<br />

Hoje, o quadro mudou?. Não! Continuamos<br />

assustados. Com medo de atravessar<br />

as ruas, os becos; de irmos aos bancos,<br />

aos serviços, às escolas e universidades,<br />

hospitais; continuamos com receio de regressarmos<br />

aos campos, vilas e cidades do<br />

interior porque, sinceramente, a batalha do<br />

desarmamento vitorioso dos civis em posse<br />

ilegal de armas de guerra tarda em acabar.<br />

Daí a existência de um estádio permanente<br />

de insegurança pessoal. Cada um dos<br />

vinte e quatro milhões com os seus pesadelos.<br />

Uns, sentem-se perturbados com o vizinho<br />

da frente ou com o parente ex-militar;<br />

outros, temem que o primo desmobilizado<br />

se revolte e sinta vontade de estraçalhar os<br />

miolos do mais próximo. Os dados quanto<br />

ao desarmamamento da população em posse<br />

ilegal de armas de fogo, não são muito<br />

apaziguadores.E mais: quem for apanhado<br />

com uma ou várias armas de fogo, julgado<br />

e condenado, apanha uma mísera pena de<br />

dois a seis anos de prisão efectiva.E consta<br />

que se for bem comportado, pode sair ao<br />

cabo de uns mesitos para, cá fora, voltar a<br />

ter oportunidade de armar-se em "rambo"<br />

no povoado, onde, não raras vezes, é acolhido<br />

como "herói", um "ciente" corajoso!<br />

A boa notícia é que o Ministério do<br />

Interior decidiu recrudescer esta "batalha"<br />

do desarmamento e neste contexto teve até<br />

uma decisão porreira: que se construam<br />

depósitos provinciais das armas que vão<br />

sendo recolhidas para posteriormente<br />

serem destruídas. Claro que os cidadãos<br />

acolheram com satisfação esta ideia, mas<br />

não deixam de torcer o nariz quanto à sua<br />

praticabilidade nos tempos que correm.<br />

Querem que as armas sejam apreendidas<br />

e imediatamente destruídas, num curtíssimo<br />

espaço de tempo. E porquê? Porque<br />

a própria polícia já terá reconhecido que<br />

existem muitas armas "desviadas" de<br />

vários locais de sua propriedade para o<br />

mercado negro. Não é novidade que, por<br />

exemplo, no famoso mercado "Roque<br />

Santeiro" não se tenham vendido apenas<br />

fisgas ou alicates. Vendiam-se armas<br />

de fogo e tudo indica que terão existido<br />

outras "praças" em que tais negócios proliferavam<br />

e prosperavam...<br />

Por isso, é preciso fazer uma introspecção<br />

muito séria no seio de várias instituições<br />

detentoras do "privilégio" de utilizarem<br />

armas de fogo. Feliz ou infelizmente,<br />

algumas estão ligadas às empresas de<br />

segurança privada, quer sejam de entidades<br />

colectivas, como individuais. Só falta<br />

ver basukas e lança-mísseis em posse de<br />

algumas delas, tal é a capacidade de fogo<br />

que certas armas detêm.<br />

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