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Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019 1
2 Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019
CARTA DO EDITOR<br />
A<br />
escritora Elsa Major é<br />
conhecida por ter uma<br />
pena brilhante domina<br />
o mundo literário - um<br />
espaço privilegiado que<br />
conquistou com muita<br />
tenacidade- mas tenta ser o mais transparente<br />
possível quando é "atiçada" a<br />
ventilar as suas ideias sobre o momento<br />
político do país. Pois é. Foi o que o<br />
jornalista Venceslau Mateus, nosso colaborador<br />
permanente, fez com argúcia<br />
e a escritora não esteve "pelas curvas".<br />
Para si, Angola, em algum momento,<br />
iria sofrer mudanças substanciais.<br />
"Assistimos a alguns indícios políticos e<br />
sociais que divisavam novos rumos; era<br />
inevitável e é bem chegada a hora da<br />
mudança!"- diz Elsa Major.Atenta, em<br />
Página Aberta, destaca a necessidade<br />
de se colocar "Angola em primeiro lugar".<br />
“Somos todos chamados a contribuir,<br />
sem qualquer tipo de distinção, e<br />
colocar Angola em primeiro lugar. Angola<br />
é um projecto de todos os angolanos,<br />
não podemos nos consubstanciar<br />
em minorias”, alerta.<br />
Nesta edição, os caros leitores poderão<br />
acompanhar outras abordagens<br />
sobre a actualidade política, económica,<br />
social, cultural e desportiva do país<br />
e do mundo, sustentada numa pauta<br />
em que sobressaiem obviamente temas<br />
de grande interesse público, desde o<br />
facto de se ter assistido a um autêntico<br />
"banquete" nas fábricas têxteis,<br />
onde se investiu mais de mil milhões<br />
de dólares,passando pelo desempenho<br />
miserável da nossa selecção nacional<br />
sénior de futebol no CAN do Egipto, bem<br />
como várias abordagens sobre a participação<br />
de Angola em vários fóruns internacionais,<br />
em que o país foi representado<br />
ao mais alto nível do executivo e dos<br />
diferentes departamentos ministeriais.<br />
Referimo-nos à Cimeira dos Chefes de<br />
Estado da SADC, por exemplo, e ao fórum<br />
de empresários nacionais.<br />
João Lourenço, o Presidente da<br />
República,continua a sua cruzada contra<br />
a corrupção, o nepotismo e a impunidade<br />
e disto vai dando conta em diversos<br />
actos da sua governação que no<br />
próximo mês de Setembro vai assinalar<br />
dois anos, desde que foi eleito Presidente<br />
da República.Destacamos, pois,<br />
este compromisso assumido em todas<br />
as esferas e que a todos tem levado a<br />
uma reflexão séria sobre o seu desenvolvimento.Boa<br />
leitura!<br />
Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019 3
08<br />
PÁGINA ABERTA<br />
ELSA MAJOR<br />
EM ANGOLA ERA INEVITÁVEL A HORA DA MUDANÇA<br />
3. CARTA DO EDITOR<br />
7. PONTO DE ORDEM<br />
TRIBUTO A MANDELA<br />
12. NOTAS DE IMPRENSA<br />
14. NOTÍCIAS BREVES<br />
16. PAÍS<br />
50. DESTAQUE<br />
60. MUNDO<br />
64. DESPORTO<br />
67. FIGURAS DE JOGO<br />
68. SAÚDE & BEM-ESTAR<br />
20. SOCIEDADE<br />
23. MAHEZU<br />
24. FIGURA DO MÊS<br />
28. POLÍTICA<br />
30. REPORTAGEM<br />
36. COMUNICADO DE IMPRENSA TV ZIMBO<br />
38. FIGURAS DE CÁ<br />
46. ECONOMIA & NEGÓCIOS<br />
49. NA ESPUMA DOS DIAS<br />
42.<br />
CULTURA<br />
MBANZA CONGO: UM PATRIMÓNIO CULTURAL<br />
COM VONTADE DE SE MOSTRAR À HUMANIDADE<br />
4 Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019
Publicação mensal de economia,<br />
negócios e sociedade<br />
Ano 20- n. º 202, Julho – 2019<br />
N. º de registo 13/B/97<br />
Director Geral: Victor Aleixo<br />
Redacção: Carlos Miranda,<br />
Júlia Mbumba, Sebastião Félix,<br />
Suzana Mendes e Venceslau Mateus<br />
Fotografia: George Nsimba<br />
e Adão Tenda<br />
Colaboradores:<br />
Édio Martins, Domingos Fragoso,<br />
Juliana Evangelista, João Marcos,<br />
João Barbosa (Portugal),<br />
Manuel Muanza, Rita Simões,<br />
52.<br />
Ana Kavungu, D.Dondo,<br />
Wallace Nunes (Brasil),<br />
Alírio Pina e Olavo Correia<br />
(Cabo-Verde), Óscar Medeiros<br />
(S.Tomé), Crisa Santos (Moda) e<br />
Conceição Cachimbombo (Tradutora).<br />
ÁFRICA Design e Paginação: Humberto Zage<br />
e Sebastião Miguel<br />
REPÚBLICA DEMOCRÁTICA DO CONGO Capa: Bruno Senna<br />
Publicidade: Paulo Medina (chefe),<br />
TSHISEKEDI INICIA GUERRA CONTRA REBELDES<br />
Gabriel Capapinha<br />
Tel: (+244) 937 465 000<br />
Assinaturas (geral):<br />
Katila Garcia<br />
Revisão: Baptista Neto<br />
Brasil:<br />
Wallace Nunes<br />
Móvel: (55 11) 9522-1373<br />
e-mail: nunewallace@gmail.com<br />
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Tiragem: 10.000 exemplares<br />
Direcção e Redacção:<br />
VIDA SOCIAL<br />
Edifício Mutamba-Luanda<br />
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2º andar - Porta S.<br />
Tel: 222 397 185/ 222 335 866<br />
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Revista Figuras&Negócios Angola<br />
Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019 5
6 Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019
Victor Aleixo<br />
victoraleixo12@gmail.com<br />
PONTO<br />
DE ORDEM<br />
TRIBUTO A MANDELA<br />
Angola foi um dos poucos países do mundo que não deverá ter<br />
feito o suficiente para homenagear o "Mandela Day". Poder-se-á<br />
apresentar a mais completa argumentação sobre tão gritante<br />
"súbito esquecimento" ou " curta memória colectiva", mas não se<br />
deve admitir que se passe, de forma tão leviana, por cima de tal<br />
efeméride. Foi como se o nosso país não fizesse parte do continente,<br />
da sua região austral e, sobretudo, não tivesse sido, também ele, um dos que mais<br />
se sacrificou para que a liberdade deste homem do mundo fosse um facto.Nem<br />
sequer isto fez com que certas mentes "adormecidas" pelo poder fétido e egos<br />
estupidificados parissem algumas ideias, por forma a recordar o legado de Nelson<br />
Mandela, um dos quais foi o de ter conseguido riscar do mapa um regime a todos<br />
os títulos desumano e violento na região.<br />
É verdade que se tenham registado alguns actos fugazes comemorativos do<br />
centenário do nascimento de Nelson Mandela. É verdade que os sul-africanos<br />
terão, no seu cantinho, homenageado um dos homens que mais lutou para que<br />
se libertassem do regime mais odiado do continente africano. É verdade que a<br />
União Africana terá feito alguns encontros sub-reptícios para lembrar a obra deste<br />
gigante que deixou um legado tão ou mais nobre do que dezenas, senão centenas<br />
de europeus, americanos ou asiáticos que fizeram a História dos Heróis destes e<br />
doutros tempos.<br />
Também é verdade que, na SADC, alguns países recordaram o dia do nascimento<br />
de Mandela como mais um marco histórico calendarizado para festejá-lo com<br />
orgulho, honra e dignidade, tal como o fazem com outros dias importantes para<br />
as suas gerações mais jovens, pois sabem que se estas seguirem os exemplos de<br />
Nelson Mandela, o seu futuro estará certamente melhor preenchido com mais<br />
acções benéficas que prejudiciais.<br />
Faço questão de recordar a importância do "18 de Julho" como um dia<br />
em que todos nós, conscientes da sua importância, nos devíamos orgulhar,<br />
homenageando aquele que foi, sem dúvidas, o africano que mais dignificou o<br />
continente-berço da humanidade. "Actuem, inspirem-se na mudança, façam de<br />
cada dia um Dia Mandela", exortou há dias a fundação que leva o seu nome, no<br />
âmbito das comemorações do centenário do nascimento do primeiro presidente<br />
negro da República sul-africana.<br />
Apesar de não se ter feito muito "estrondo mediático"sobre a efeméride, fica<br />
registado um facto aparentemente simples, mas significativo.No dia 18 de Julho<br />
não houve fogos de artifício, nem festas de arromba nos grandes salões da nobreza,<br />
mas se Mandela estivesse vivo, certamente agradeceria o gesto: na sua cidade<br />
natal , em Mvezo, na província de Cabo Oriental, no sudeste, foi inaugurada uma<br />
clínica.Agradeceria com a sua simplicidade,humildade e amor pelas crianças na<br />
sua procura incessante pela terra prometida, pela terra da liberdade, democracia<br />
e igualdade.<br />
O sonho de Mandela não foi cumprido tal como desejava e neste ano em que se<br />
comemorou mais um aniversário do seu nascimento, urge recordar os objectivos<br />
pelos quais foi capaz de submeter o seu corpo e a alma a uma série de sevícias, às<br />
quais poucos poderiam suportar.<br />
Está claro que, 25 anos após o fim oficial do Apartheid, a pobreza continua a<br />
fazer da vida dos sul-africanos um inferno; a economia está num sufoco e o racismo<br />
insiste em dividir a nação, provocando violentos conflitos internos. Mas, no meio<br />
de tanto desemprego também provocado pela má gestão dos imensos recursos<br />
naturais do país, apesar do quadro económico e social funesto, um nome continua<br />
a servir de farol para que se continue a lutar no sentido de fazer da África do Sul<br />
uma terra boa para que todos- negros, brancos e mestiços- possam viver em paz e<br />
harmonia, na igualdade de direitos.<br />
Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019 7
PÁGINA ABERTA<br />
A escritora Elsa Major destacou<br />
a necessidade de se colocar<br />
Angola em primeiro lugar,<br />
contribuindo com acções e<br />
ideias para o seu desenvolvimento<br />
e afirmação no contexto<br />
das nações. De acordo com<br />
a escritora, o procedimento<br />
deverá ser participativo.<br />
“Somos todos chamados a<br />
contribuir, sem qualquer tipo<br />
de distinção, e colocar Angola<br />
em primeiro lugar. Angola<br />
é um projecto de todos os<br />
angolanos, não podemos nos<br />
consubstanciar em minorias”.<br />
Para Elsa Major,as sociedades<br />
são dinâmicas e garante que<br />
Angola, em algum momento,<br />
iria sofrer mudanças substanciais.<br />
"Assistimos a alguns indícios<br />
políticos e sociais que<br />
divisavam novos rumos; era<br />
inevitável e é bem chegada a<br />
hora da mudança", afirma.<br />
Em entrevista à revista<br />
Figuras&Negócios, a autora da<br />
obra “Versos Confessos”, aborda,<br />
com especial interesse, o<br />
actual momento do mercado<br />
literário angolano e do seu<br />
dia-a-dia<br />
Entrevista: Venceslau Mateus<br />
Fotos: Elsa Major<br />
ELSA MAJOR<br />
EM ANGOLA<br />
ERA INEVITÁVEL<br />
A HORA DA MUDANÇA!!<br />
8 Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019
PÁGINA ABERTA<br />
Figuras&Negócios (F&N)<br />
– Publicou, recentemente,<br />
a sua segunda<br />
obra. O que nos pode<br />
dizer sobre este trabalho<br />
literário?<br />
E.M.: “Versos Confessos” é o título<br />
da minha segunda obra poética,<br />
cuja abordagem se encerra no mundo<br />
e nos fenómenos que se desenvolvem<br />
à minha volta e no meu interior:<br />
expresso o quotidiano, o amor, a saudade,<br />
as dores e as alegrias, com uma<br />
pitada de imaginação e revelação de<br />
sonhos poéticos. Refere-se também à<br />
nossa Angola, enfim, às vivências (…)<br />
F&N – A aposta continua a ser<br />
a poesia. Porque não outro género<br />
literário?<br />
Elsa Major (E.M).: Sou apaixonada<br />
pela poesia. A vida sem poesia não<br />
faz sentido! É nela onde encontro a<br />
minha essência e por isso a minha<br />
predilecção. Não consigo imaginar<br />
um mundo sem pinceladas poéticas...<br />
A sociedade precisa de poesia,<br />
sensibilidade e de amor.<br />
Os outros géneros literários também<br />
têm lugar na minha vida literária<br />
e oportunamente colocarei à disposição<br />
da sociedade.<br />
F&N – O que a impulsionou<br />
para apostar no mundo das letras?<br />
E.M.: Penso que não se aposta nas<br />
letras. A arte de escrever nasce connosco<br />
e se desenvolve a medida que<br />
se ganham hábitos de leitura, e da escrita<br />
- dois exercícios que dependem<br />
da exigência e acompanhamento,<br />
tanto da família como da escola. O<br />
processo de ensino e aprendizagem<br />
deve conter políticas que incentivem<br />
as crianças a desenvolverem hábitos<br />
de leitura. Felizmente tive uma boa<br />
orientação neste sentido, facto que<br />
me impulsionou a abraçar a escrita<br />
com responsabilidade.<br />
F&N – Onde ou como se inspira<br />
para a sua produção literária?<br />
E.M.: O poeta inspira-se até com<br />
o ar que respira, não há um lugar<br />
nem momento específico para a inspiração.<br />
O poeta vive em constante<br />
invasão dos espaços e se, por um<br />
lado, o quotidiano o impele a experimentações<br />
constantes, por outro<br />
lado, a imaginação o eleva a uma<br />
criatividade em que a melodia transcende<br />
o silêncio e as palavras deixam<br />
de ser somente palavras, pois o poema<br />
é uma oração e cada verso uma<br />
confissão.<br />
Hoje penso que não devemos ficar<br />
à espera da inspiração; o hábito<br />
pela escrita nos obriga a criar ambientes<br />
propícios e espaços inspiradores<br />
para o deleite.<br />
“<br />
O poeta vive em constante<br />
invasão dos espaços<br />
(...) a imaginação o eleva a<br />
uma criatividade em que a<br />
melodia transcende o silêncio<br />
e as palavras deixam de<br />
ser somente palavras, pois o<br />
poema é uma oração e cada<br />
verso uma confissão<br />
“<br />
F&N – Como caracteriza o estado<br />
actual da literatura angolana?<br />
E.M.: Observamos uma melhoria<br />
na literatura em Angola. Deixamos<br />
de constatar a letargia de há alguns<br />
anos e seguimos com atenção o aparecimento<br />
de mais escritores, produção<br />
de mais obras literárias, e de<br />
vários géneros. A juventude surge<br />
com a sagacidade que os tempos impõem,<br />
pese embora o facto de que as<br />
edições de livros terem custos muito<br />
elevados, factor que impede, sobremaneira,<br />
o maior e cabal desenvolvimento<br />
da literatura em Angola.<br />
Há, todavia, um longo caminho a calcorrear,<br />
e todos somos chamados<br />
a unir sinergias para alcançarmos<br />
o objectivo almejado, o que implica<br />
colocar livros no mercado em quantidade<br />
e qualidade, redução dos preço<br />
dos livros, aumento de bibliotecas<br />
e criação de bibliotecas nas escolas,<br />
desenvolvimento de políticas e projectos<br />
para incentivar o gosto pela<br />
leitura e pela escrita, essencialmente<br />
em crianças e jovens.<br />
Neste contexto, as organizações<br />
focadas na literatura têm esta responsabilidade.Porém,<br />
cabe essencialmente<br />
ao Executivo Angolano,<br />
isto é, aos Departamentos Ministeriais<br />
afins, implementar as políticas<br />
que concorram para o desenvolvimento<br />
da literatura de qualidade e,<br />
com certeza, os escritores angolanos<br />
estão dispostos a participar em todo<br />
este processo.<br />
F&N – Diz-se que o mercado regista<br />
escassez em termos de produção.<br />
O que se pode fazer para se<br />
reverter o quadro?<br />
E.M.: É verdade que se regista<br />
muita escassez de produção local,<br />
pois a maior parte dos livros publicados<br />
são editados fora do país.<br />
Em Angola a produção fica muito<br />
onerosa, o que dificulta a edição de<br />
obras no mercado. Este facto impede<br />
o desenvolvimento e a expansão da<br />
literatura angolana, dando lugar ao<br />
encarecimento dos livros.<br />
É evidente que o último aspecto<br />
que atrás referi também contribui<br />
para que a camada infanto-juvenil<br />
deixe de ter o livro como um amigo<br />
predilecto.<br />
F&N - O que deve ser feito para<br />
que não haja tanto custo?<br />
E.M.: Compete às instituições<br />
do Executivo Angolano, vocacionadas<br />
para o efeito, executar e implementar<br />
as políticas que concorram<br />
a redução dos custos de edição das<br />
obras. Um país sem leitores é um<br />
país sem esperança, sem futuro.<br />
F&N - Que acções podem contribuir<br />
para o incentivo ao gosto<br />
pela leitura no seio da juventude?<br />
E.M.: Aumentar o número de bibliotecas<br />
em escolas nas comunidades,<br />
incentivar e dar liberdade de escolha<br />
aos jovens dos temas, géneros<br />
literários, leitura e escrita constitui<br />
um desafio para o país. É necessário<br />
estabelecer parcerias entre a escola<br />
e a família, utilizar as tecnologias<br />
para estimular o gosto pela leitura e<br />
escrita criativa.<br />
F&N – Até que ponto a Lei do<br />
Mecenato pode ajudar para que<br />
Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019 9
PÁGINA ABERTA<br />
o livro chegue a um preço mais<br />
acessível ao consumidor final?<br />
E.M.: Atendendo que a Lei do<br />
Mecenato prevê as isenções fiscais,<br />
a sua implementação provocará a<br />
redução de custos na produção dos<br />
livros e concomitantemente um preço<br />
mais justo.<br />
F&N - Aponta-se à nova geração<br />
muitas deficiências. Não acha<br />
que está na hora de os mais velhos<br />
promoverem mais acções que levem<br />
a camada infanto-juvenil a<br />
mudar de atitude perante a sociedade?<br />
E.M.: As políticas do Executivo<br />
em relação a educação e a cultura e<br />
a respectiva implementação, constituem<br />
as marcas basilares para a criação<br />
do homem novo, e isto é uma responsabilidade<br />
do Estado. A família e<br />
a sociedade devem evidentemente<br />
contribuir para o fortalecimento<br />
dessas políticas.<br />
F&N - Como vê a convivência<br />
entre os escritores mais velhos e<br />
os mais novos?<br />
E.M.: Tem melhorado substancialmente<br />
e nota-se maior entrosamento<br />
entre os mais velhos e mais<br />
novos, sem descurar as diferenças<br />
que as considero legítimas. A medida<br />
que o tempo passa, mudam-se os estilos,<br />
as perspectivas, os interesses.<br />
Contudo, a qualidade depende em<br />
última instância de algumas editoras,<br />
por falta de critério e controlo de<br />
qualidade das obras para as colocar<br />
no mercado.<br />
“<br />
As sociedades são<br />
dinâmicas e é evidente que<br />
Angola, em algum momento,<br />
iria sofrer mudanças<br />
substanciais. Assistimos a<br />
alguns indícios políticos e<br />
sociais que divisavam novos<br />
rumos; era inevitável<br />
e é bem chegada a hora da<br />
mudança<br />
“<br />
F&N - A política do livro em Angola<br />
já satisfaz?<br />
E.M.: Ainda não satisfaz, porque<br />
o livro deve constar das prioridades<br />
do país, ser de abrangência total, inequívoca<br />
e não ficar somente em algumas<br />
capitais de províncias. O livro<br />
deve chegar em todos os municípios<br />
e comunas, para educar e prover o<br />
desenvolvimento são da mentalidade<br />
das crianças e dos jovens.<br />
F&N - Como o Estado deve actuar<br />
para consolidar a questão da<br />
identidade nacional e promover<br />
da melhor forma a cultura angolana<br />
no estrangeiro?<br />
E.M.: Somos um país que tem um<br />
número considerável de diplomas<br />
para dar resposta às questões peculiares<br />
da sociedade,mas pecamos<br />
na falta de implementação e, depois,<br />
tudo cai em letra morta.<br />
A promoção pode acontecer de<br />
dentro para fora de Angola ou incentivar<br />
os escritores, artistas e compositores<br />
angolanos que residem no<br />
estrangeiro a fazerem parte de um<br />
plano de acção previamente concebido<br />
pelo departamento ministerial<br />
correspondente para o efeito.<br />
Confesso que será mais produtivo e<br />
menos onerosa a segunda proposta,<br />
nesta fase - contudo, permitirá a<br />
divulgação e promoção efectiva da<br />
nossa cultura no exterior do país.<br />
Figuras como Barceló de Carvalho<br />
“Bonga”, José Luandino Vieira, Isabel<br />
Ferreira, Waldemar Bastos, Orlando<br />
Sérgio, Érica James, Dila Moniz,<br />
Ondina Ferreira, entre outros, são<br />
exemplos claros de promoção da cultura<br />
nacional no estrangeiro.<br />
F&N - Como vê hoje o país no<br />
novo ciclo político?<br />
E.M.: As sociedades são dinâmicas<br />
e é evidente que Angola, em algum<br />
momento, iria sofrer mudanças<br />
substanciais. Assistimos a alguns<br />
indícios políticos e sociais que divisavam<br />
novos rumos; era inevitável e<br />
é bem chegada a hora da mudança.<br />
O processo é irreversível e a liderança<br />
deve ser firme nas suas<br />
posições e decisões. Contudo, a prudência<br />
aconselha também a tender<br />
10 Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019
PÁGINA ABERTA<br />
para uma vertente de concertação<br />
interna, de forma a salvaguardar os<br />
interesses políticos e sociais já granjeados<br />
com muito sacrifício, pois<br />
momentos há em que se fica com a<br />
impressão de que se está a perder o<br />
norte.<br />
F&N – Acha que a sociedade<br />
está a conviver da melhor forma<br />
com essas mudanças?<br />
E.M.: Com toda a certeza e pelo<br />
que observamos, este país viverá um<br />
período de mudanças profundas e<br />
constantes, a curto e médio prazos,<br />
até entrarmos nos carris. Os jovens<br />
estão ávidos pelas mudanças!Hoje<br />
são agentes activos da política, fala-<br />
-se e discute-se em liberdade em<br />
todos os locais e isso é muito importante.<br />
É na juventude que a adrenalina<br />
permite aos jovens participarem<br />
nos grandes desafios sócio- políticos<br />
e sem medida, o fervor patriótico<br />
fala mais alto, pois a defesa dos<br />
ideais da pátria garantir-lhes-á um<br />
futuro melhor.<br />
F&N - Como pensa que a sociedade<br />
civil deve actuar, nesse novo<br />
quadro político?<br />
E.M.: O procedimento deverá ser<br />
participativo. Somos todos chamados<br />
a contribuir sem qualquer tipo<br />
de distinção e colocar “Angola” em<br />
primeiro lugar. Angola é um projecto<br />
de todos os angolanos; não podemos<br />
nos consubstanciar em minorias.<br />
F&N– De maneira global, que<br />
futuro antevê para Angola e quais<br />
os principais desafios?<br />
E.M.: Tenho esperança num país<br />
melhor, sem desigualdades, onde o<br />
“<br />
O processo é irreversível<br />
e a liderança deve<br />
ser firme nas suas posições<br />
e decisões. Contudo,<br />
a prudência aconselha<br />
também a tender para<br />
uma vertente de concertação<br />
interna, de forma a<br />
salvaguardar os interesses<br />
políticos e sociais já granjeados<br />
(...)<br />
“<br />
Estado desempenhe o seu verdadeiro<br />
papel, em atender às necessidades<br />
do povo, e desmistificar o dilema<br />
em que o povo tenha que agradecer<br />
ao governo porque ofereceu energia<br />
eléctrica, um pouco de água de um<br />
chafariz, um posto médico ou um hospital,<br />
escola e saneamento básico.<br />
Espero poder ver resolvidos os<br />
problemas da educação, saúde, alimentação,<br />
saneamento básico, habitação,<br />
assistência aos idosos, redução<br />
da pobreza extrema, e dos efeitos da<br />
seca, emprego para os jovens, enfim…<br />
ainda não estamos bem.<br />
QUEM É ELSA MAJOR ?<br />
Elsa M. Ventura Major<br />
C. Castellanos, natural<br />
de Namibe - Linguista.<br />
Professora de vários<br />
níveis de ensino e formadora em<br />
diversas áreas.<br />
Membro de organizações desportivas<br />
– dirigente desportivo,<br />
entre outras exerceu funções<br />
públicas e administrativas em<br />
alguns Departamentos Ministeriais.<br />
Começou a escrever pequenos<br />
versos ainda adolescente para<br />
complementar quadros de espectáculos<br />
culturais em associação<br />
infanto-juvenis e políticas.<br />
Assina epílogos e prólogos de<br />
escritores e argumenta discretamente<br />
participações nas áreas de<br />
escrita e conceitos literários.<br />
OBRAS PUBLICADAS<br />
“Versos Confessos” Poesia – 2019 – Edições Colibri –<br />
Lisboa;<br />
“Sensações, Emoções, Impressões” Poesia - livro<br />
apresentado em Março 2010, Editorial Minerva,<br />
Lisboa (Portugal) e em várias províncias de Angola.<br />
Co-autora da Antologia “Do Infinito”, Colectânea de Poesia<br />
Lusófona pela Editorial Minerva, (2010) Lisboa (Portugal);<br />
Co-autora em vários volumes da obra “Poesis” , Antologia<br />
de Poesia e Prosa Poética Portuguesa Contemporânea -<br />
Lusofonia, Editorial Minerva, Lisboa (Portugal) 1999-2011,<br />
Lisboa;<br />
Co-autora da obra “Janelas do Uni-verso” Colectânea de<br />
conto e Poesia da Lusofonia pela Editorial Minerva, (2010)<br />
Lisboa (Portugal);<br />
“Eclética” Colectânea (vários géneros literários) pela<br />
Edições Colibri, Lisboa 2017, Lisboa.<br />
Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019 11
NOTAS DE IMPRENSA<br />
PGR GARANTE:<br />
NÃO HÁ PROCESSOS-<br />
-CRIME CONTRA<br />
JOSÉ EDUARDO DOS SANTOS<br />
Em comunicado, a<br />
Procuradoria-Geral da<br />
República (PGR) de<br />
Angola nega qualquer<br />
instauração de um<br />
processo-crime contra<br />
José Eduardo dos Santos, depois<br />
de rumores de que o ex-Presidente<br />
teria sido notificado pelo DNIAP. A<br />
PGR reconheceu recentemente que<br />
a notificação enviada ao ex-Presidente<br />
do país José Eduardo dos<br />
Santos não teve em conta a imunidade<br />
de que este goza.<br />
Uma nota a que a agência Lusa<br />
teve acesso refere que a notificação<br />
a José Eduardo dos Santos para<br />
comparecer naquele órgão foi emitida<br />
por um funcionário da Direção<br />
Nacional de Investigação e Acção<br />
Penal (DNIAP).<br />
O mesmo documento adianta<br />
que durante a investigação e<br />
instrução processual dos vários<br />
processos-crime que correm os trâmites<br />
legais contra alguns gestores<br />
públicos "poderá ser preciso que o<br />
Presidente cessante preste algum<br />
esclarecimento para o bem da pessoa<br />
notificada".<br />
A PGR salienta que "não foi ins-<br />
TIRADAS DA IMPRENSA<br />
"Por mais sentimental que possa<br />
parecer, os êxtases da natureza são os<br />
maiores êxtases do mundo, as estrelas,<br />
as montanhas, crianças, bebês sorrindo<br />
são mágicos"<br />
-Michael Jackson<br />
taurado e nem sequer existe algum<br />
processo-crime contra o ex-Presidente<br />
da República, o engenheiro<br />
José Eduardo dos Santos".<br />
Ex-Presidente ainda poderá ser<br />
"A verdade não é, de modo algum,<br />
aquilo que se demonstra, mas aquilo<br />
que se simplifica..."<br />
-Antoine de Saint-Exupéry<br />
ouvido - Segundo a nota, o funcionário<br />
da DNIAP, ao notificar José Eduardo<br />
dos Santos, que foi Presidente de<br />
Angola 38 anos, "não teve em conta a<br />
qualidade da pessoa notificada".<br />
"Nós aprendemos, palavras duras,<br />
como dizer perdi, perdi, palavras<br />
tontas, essas palavras, quem falou não<br />
está mais aqui".<br />
-Chico Buarque<br />
12 Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019
NOTAS DE IMPRENSA<br />
Em declarações à Lusa, o porta-<br />
-voz da PGR, Álvaro João, explicou<br />
que, tendo em conta a imunidade<br />
de que o ex chefe de Estado angolano<br />
goza por ser igualmente membro<br />
do Conselho da República, a notificação<br />
deveria ter sido enviada e<br />
assinada pelo Procurador-Geral da<br />
República ou pelo vice-procurador.<br />
“<br />
Ex-Presidente ainda<br />
poderá ser ouvido - Segundo<br />
a nota, o funcionário<br />
da DNIAP, ao notificar José<br />
Eduardo dos Santos, que<br />
foi Presidente de Angola<br />
38 anos, "não teve em conta<br />
a qualidade da pessoa<br />
notificada<br />
"O costume português é deixar-se<br />
tudo em palavras mas palavras que<br />
são bolas de sabão deitadas ao ar para<br />
distrair pequeninos de seis anos"<br />
- Florbela Espanca<br />
“<br />
"Quando são essas entidades<br />
pode pedir-se a elas que marquem<br />
a hora, o local e o oficial desloca-<br />
-se para a sua audição", esclareceu<br />
Álvaro João.<br />
De acordo com o porta-voz, há<br />
necessidade de se ouvir o ex-chefe<br />
de Estado angolano "por conta<br />
dos vários processos em curso,<br />
em que muitos dos arguidos para<br />
a sua defesa dizem ter recebido<br />
ordens" do antigo Presidente. "É<br />
muito importante que se faça isso<br />
(ouvi-lo) porque muitos mesmo<br />
tendo recebido ordens, podem ter<br />
extravasado e agora atiram culpas",<br />
acrescentou Álvaro João.<br />
Agência Lusa | Deutsche Welle<br />
BOCAS SOLTAS<br />
"Tristeza, muitos monólogos, conversas inacabadas e perguntas sem respostas<br />
marcaram o dia de ontem, dos Palancas Negras, no Hotel Tolip Al Forsan<br />
Resort, a “República das Selecções” em Ismailia, que deixou de contar com<br />
a presença de Angola na disputa da 32ª edição da Taça de África das Nações<br />
em futebol, cujo título será decidido no dia 19, no Estádio Internacional do<br />
Cairo. O dia a seguir “day after” à eliminação dos Palancas Negras, frente às<br />
Águias do Mali, face à derrota (0-1), na conclusão do Grupo E, foi de lamentos<br />
e acusações. Nas conversas, à mesa do pequeno-almoço e no hall do hotel,<br />
questionou-se a falha da estratégia virada para a vitória, porque o empate<br />
apurava os dois países para os oitavos-de-final, enquanto outros defendiam<br />
que o ambiente criado à volta da Selecção Nacional, antes do jogo com a Mauritânia,<br />
fez ruir o que restava da estrutura do grupo"- Foi assim que o correspondente<br />
do Jornal de Angola,no Egipto, Honorato Carlos Silva,descreveu o<br />
estado d'alma dos Palancas Negras, acabados de ser eliminados do CAN. Por<br />
cá, o desalento da maioria dos cidadãos não foi diferente e desabaram, cada<br />
um à sua maneira:<br />
....................................................<br />
" Com tanta desorganização dos dirigentes do nosso futebol não se esperava outro<br />
resultado. Infelizmente, os culpados de mais um descalabro da nossa selecção<br />
nacional de futebol não irão reconhecer os erros. Vão deixar de fazer o que, por<br />
exemplo, se faz noutras partes do mundo: demitir-se dos cargos e assumir as suas<br />
responsabilidades"<br />
....................................................<br />
"O que me afigura mais constrangedor é o facto de os atletas continuarem a acreditar<br />
em algumas promessas, pois várias vezes acontece a mesma coisa. É que os<br />
que detêm a liderança dos processos administrativos e financeiros pecam por um<br />
defeito:não cumprem e, pior ainda, não há ninguém neste país que os faça desaparecer<br />
do mundo do futebol de alta competição"<br />
....................................................<br />
"A imprensa sempre avisou que com uma competição interna tão pobre e mal organizada,<br />
as nossas representações nacionais raramente irão longe. E quando se<br />
alcança algum feito extraordinário ou é por acaso ou é porque Deus ainda sente<br />
pena de nós.Depois de mais esta eliminação, mais umas conversas e tudo voltará à<br />
normalidade: temos um futebol deorganizado!"<br />
....................................................<br />
"Eu prefiro esquecer o que se passou fora do campo, nos bastidores das discórdias,<br />
dos boatos e da irresponsabilidade . Não me interessa recordar o que se passou<br />
fora das quatro linhas, porque dentro delas, vimos uns rapazes a dar tudo pela<br />
nossa bandeira nacional e penso mesmo que, mais do que ninguém, eles queriam<br />
chegar o mais longe possível. Mas , como sempre, há quem lidera estas coisas do<br />
futebol com olho no dinheiro e esquecem-se que para obtê-lo é preciso trabalhar<br />
bem, com honestidade intelectual!"<br />
....................................................<br />
"Bom, eu não vou nesta conversa que a Federação ou o Ministério da Juventude e<br />
Desportos não tenham assumido as suas responsabilidades a tempo e horas, no<br />
que diz respeito aos pagamentos devidos aos atletas, quer na fase da preparação<br />
como competitiva. Porquê? Porque , para mim, os culpados foram os jogadores e<br />
a equipa técnica, pois se não viajassem para o estágio ou para a competição, nada<br />
disto aconteceria... E matavam logo o problema pela raiz".<br />
Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019 13
NOTÍCIAS BREVES<br />
MAIS DÓLARES,<br />
CARESTIA DE VIDA E OBRAS<br />
MAIS DINHEIRO- Um financiamento de cerca de 1.300 milhões<br />
de dólares a Angola foi aprovado pelo Conselho de Administração<br />
do Banco Mundial para 3 projectos estruturantes para<br />
apoio social, orçamental e fortalecimento do abastecimento de<br />
água à população, segundo anunciou recentemente o ministro<br />
das Finanças Archer Mangueira. Citado pelo África Monitor, o governante angolano<br />
assegurou que para o Projecto de Fortalecimento do Sistema de Protecção<br />
Social foi feita uma dotação de USD 320 milhões , para a Operação de Apoio<br />
Orçamental foram destinados USD 500 milhões e para Projecto de Água Bita ,<br />
também USD 500 milhões . Com a aprovação dessas 3 operações, o volume da<br />
carteira dos projetos do BM em Angola, passa a totalizar USD 2,5 mil milhões.<br />
ESTUDO DA BP<br />
Uma nova legislação<br />
vai permitir desenvolver<br />
um estudo de<br />
viabilidade a cargo<br />
da petrolífera BP<br />
sobre desenvolvimento<br />
de descoberta de gás natural<br />
(poço Katambi , no bloco 24 ),<br />
assegurou o director da petrolífera<br />
em Angola, Hélder Silva. Citado pela<br />
Lusa, o responsável da companhia<br />
petrolífera confirmou que a BP tem<br />
informação de que se tiver umprojeto<br />
viável para desenvolver o<br />
poço, então quer o regulador, quer<br />
as autoridades estarão disponíveis<br />
para negociar com a companhia. Em<br />
2017 , a empresa desistiu do interesse<br />
no poço Katambi, concluindo<br />
que a descoberta de gás não era<br />
comercialmente viável, mas a nova<br />
legislação tornou financeiramente<br />
mais interessante o desenvolvimento<br />
de poços marginais. Para Hélder<br />
Silva, "os frutos da nova legislação<br />
estão a começar a ser visíveis", já<br />
que ela torna também possível trabalhar<br />
nos projectos Platina e Paz ,<br />
nos blocos 18 e 31 .<br />
SUBIDA DE PREÇOS<br />
O<br />
reforço do sistema<br />
de protecção social<br />
"num momento em<br />
que ocorre a reforma<br />
do sistema de subsídios<br />
a preços", já está a ocorrer<br />
no país, segundo o ministro das<br />
Finanças Archer Mangueira. "O<br />
modelo que vigorava de subsídios<br />
a preços tornou-se injusto e<br />
insustentável em face da queda<br />
das receitas petrolíferas e do<br />
aumento da vulnerabilidade dadívida<br />
pública", disse o governante<br />
angolano, salientando que "para<br />
reforçar o compromisso com as<br />
reformas em curso, que estão a<br />
ser implementadas pelo executi-<br />
vo, bem como a transição para um<br />
novo modelo de crescimento,foi inscrito<br />
no programa de estabilização<br />
macroeconómica, a necessidade de<br />
ajustar os preçosdos bens administrativos<br />
controlados, tais como da<br />
água, da electricidade, do transporte<br />
coletivo e de combustíveis".<br />
Entretanto, o bispo de Cabinda,<br />
Belmiro Tchissengueti lançou<br />
um alerta para o impacto social<br />
das novas tarifas de electricidade.<br />
Para si, o aumento "contrasta com<br />
a actual redução ou estagnação da<br />
qualidade de vida dos cidadãos".<br />
(...) Há uma redução ou estagnação<br />
na qualidade de vida", pois, “subindo<br />
a energia vai subir o preço<br />
do táxi, das moageiras e vai subir<br />
uma série de serviços combastante<br />
descontrolo",alertou o pároco.<br />
14 Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019
NOTÍCIAS BREVES<br />
"ZENU" EM TRIBUNAL<br />
Está previsto para<br />
Setembro ou Outubro<br />
próximo o início do<br />
julgamento de José Filomeno<br />
“Zenu” dos Santos<br />
, segundo o seu advogado<br />
Benja Satula . No “processo<br />
dos 500 milhões” envolvendo uma<br />
transferência do Banco Nacional de<br />
Angola para o Reino Unido “já houve<br />
pronúncia,houve um recurso do despacho<br />
de pronúncia e já houve um<br />
acórdão a responder ao despacho”<br />
,seguindo para julgamento. No caso<br />
do Fundo Soberano houve um acordo<br />
para a libertação de Jean-Claude<br />
Bastos de Morais , sócio de Zenu<br />
dos Santos, pelo que “é provável que<br />
este processo não tenha muito mais<br />
para dar” . (A.M.)<br />
OBRAS RETOMADAS<br />
As obras de construção<br />
do Novo<br />
Aeroporto Internacional<br />
de Luanda<br />
serão retomadas<br />
ainda no decorrer<br />
deste ano e prevê-se que sejam<br />
concluídas em 2023, deu conta<br />
o ministro dos Transportes, Ricardo<br />
ViegasD’Abreu, no final de<br />
uma visita de deputados de uma<br />
comissão da Assembleia Nacional<br />
.Avançou que as negociações com<br />
o novo empreiteiro-geral da obra,<br />
o grupo Aviation Industry Corporation<br />
ofChina , deverão ficar<br />
concluídas nos próximos dias.<br />
Depois disto, será assinada uma<br />
adenda ao contrato que iniciará<br />
e definirá um novo cronograma.<br />
Durante a visita revelou-se que<br />
durante a paralisação das obras<br />
foram feitas correcções e alterações<br />
em várias áreas operacionais<br />
da obra.<br />
RECAPITALIZAÇÃO DO BANCO ECONÓMICO<br />
O<br />
Banco Nacional de Angola estabeleceu mais exigência na recapitalização<br />
do Banco Económico, segundo revelou recentemente<br />
o ministro dos Recursos Minerais e Petróleos, Diamantino Pedro<br />
Azevedo, durante a sessão pública de apresentação do Programa<br />
de Privatizações (ProPriv)2019-2022 . De acordo com o ministro,<br />
o aumento de capital "derivou, essencialmente, dos acordos parassociais<br />
tendo em conta que o regulador exigiu”. "Isto resultou em sequência de um<br />
dos accionistas não ter seguido este aumento. Claro que o aumento não será feito<br />
de uma só vez, mas, sim, em cumprimento das orientações do regulador", garantiu<br />
Diamantino Azevedo, citado pelo África Monitor. “Após o devido saneamento desse<br />
banco, é intenção do Estado também levá-lo à privatização para que a Sonangol<br />
depois se possa concentrar no seu objecto social", acrescentou .<br />
CONSULTORIA<br />
A<br />
KPMG Angola foi escolhida<br />
para consultoria<br />
especializada na<br />
apreciação e revisão<br />
de todasas peças de<br />
suporte do concurso<br />
de atribuição da quarta operadora<br />
de comunicações, bem como na<br />
apreciação das candidaturas, na<br />
avaliação das propostas e na preparação<br />
do processo de concessão,<br />
segundo comunicado do Ministério<br />
das Finanças, reactado pelo África<br />
Monbitor. A KPMG prestará igualmente<br />
apoio na realização de acções<br />
de apresentação para a divulgação<br />
internacional do concurso, a fim<br />
de captar o interesse de grandes<br />
operadores mundiais de telecomunicações;<br />
“a tramitação do procedimento<br />
do concurso decorrerá na<br />
plataforma denominada Sistema<br />
Nacional de Contratação Pública<br />
Electrónica, para que melhor se assegure<br />
a transparência, a eficiência<br />
e a eficácia do concurso” .<br />
Formalizada a constituição da<br />
Comissão de Avaliação, o anúncio<br />
de abertura do concurso deverá ser<br />
oportunamente divulgado. Note-<br />
-se que a coordenação de todo o<br />
processo foi entregue a um grupo<br />
de trabalho interministerial, constituído<br />
pelos ministros das Finanças,<br />
das Telecomunicações e Tecnologias<br />
de Informação e da Economia e<br />
Planeamento.<br />
Por outro lado, prevê-se também<br />
também o apoio da KPMG<br />
para elaborar um estudo sobre o<br />
mercado das Tecnologias de Informação<br />
e Comunicações em Angola,<br />
tendo como base o Livro Branco das<br />
Comunicações Electrónicas .<br />
Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019 15
PAÍS<br />
PRESIDENTE DA REPÚBLICA NO FÓRUM DOS EMPRESÁRIOS ANGOLANOS:<br />
A CORRUPÇÃO E A IMPUNIDADE<br />
DISTORCEM OS PRINCÍPIOS<br />
DA TRANSPARÊNCIA E DA JUSTIÇA!!<br />
O Presidente da República revelou recentemente em Luanda que a corrupção e a impunidade<br />
distorcem por completo os princípios básicos da transparência e da justiça,<br />
desvalorizam a procura do mérito e da eficiência e colocam os menos capazes, os menos<br />
competentes a vingar e a prosperar na sociedade em detrimento daqueles que têm como<br />
principal capital a dedicação ao trabalho árduo e o respeito das regras da concorrência<br />
João Lourenço, que proferiu<br />
tais declarações durante a<br />
abertura do Fórum dos Empresários<br />
angolanos, afirmou<br />
que no âmbito da remoção<br />
dos constrangimentos que se<br />
colocam ao desenvolvimento da actividade<br />
privada no nosso país e por<br />
ser um fardo enorme que é imposto<br />
aos empresários, o governo que lidera<br />
tem tomado medidas firmes<br />
contra a corrupção e a impunidade.<br />
Neste contexto, garantiu igualmente<br />
que em todo o país vêm<br />
sendo tomadas medidas tendentes<br />
a combater a concorrência desleal<br />
e o branqueamento de capitais, salientando<br />
que o repatriamento de<br />
capitais, a recuperação de activos<br />
através da perda alargada de bens,<br />
é um processo em curso cujos resultados<br />
passarão a ser periodicamente<br />
dados a conhecer à sociedade pelas<br />
instâncias competentes.<br />
O Chefe do Estado foi ao Fórum<br />
dos Empresários de Angola para<br />
também reafirmar a importância<br />
da interacção entre o Titular do<br />
Poder Executivo e os responsáveis<br />
dos Departamentos Ministeriais<br />
com os representantes da classe<br />
empresarial,pois "constituem uma<br />
oportunidade para aprofundar-se o<br />
conhecimento recíproco das acções<br />
do Executivo e das Associações que<br />
representam os interesses da classe<br />
empresarial".<br />
16 Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019
PAÍS<br />
"Estes encontros servem também<br />
para a identificação de interesses<br />
comuns e tarefas que podemos<br />
desenvolver em conjunto, num momento<br />
em que Angola está a viver<br />
um processo de mudanças em vários<br />
domínios da sua vida", disse o Chefe<br />
do Estado, qualificando o fórum<br />
como "um exercício importante de<br />
auscultação que nos vai ajudar a colocar<br />
na prática alguns dos vossos<br />
pontos de vista e ideias inovadoras,<br />
e assim ultrapassar com rapidez os<br />
actuais constrangimentos que se colocam<br />
ao bom desenvolvimento da<br />
actividade empresarial em Angola".<br />
No fórum, o Presidente homenageou<br />
os empresários que, passando<br />
por vários sacrifícios, conseguiram<br />
manter-se activos durante todos estes<br />
anos enfrentando a difícil crise de<br />
valores e as enormes dificuldades causadas<br />
pela profunda crise económica e<br />
financeira que o país ainda vive.<br />
"A estes empresários resilientes<br />
que se mantêm firmes na actividade<br />
produtiva, expresso o meu reconhecimento<br />
pelo seu empenho, pelo seu<br />
profundo patriotismo e sobretudo<br />
pela sua capacidade de empreender<br />
em momentos e circunstâncias tão<br />
difíceis", afirmou, aconselhando-os<br />
no sentido de se manterem firmes,<br />
porque, segundo sublinhou, o compromisso<br />
do governo para mudar a<br />
situação económica e social é igualmente<br />
firme e as reformas que se<br />
está a fazer vão efectivamente dar os<br />
seus frutos.<br />
Entretanto, João Lourenço confirmou<br />
durante o seu discurso o<br />
facto de o país ter estado a viver um<br />
ambiente de recessão económica<br />
nos últimos 3 anos,e que os níveis<br />
de desemprego em Angola subiram.<br />
"Trata-se de um problema que nos<br />
deve preocupar a todos e que só<br />
poderá ser resolvido através do aumento<br />
do investimento na economia,<br />
sobretudo do investimento privado",<br />
alertou.<br />
Para si, "só com o aumento do<br />
investimento poderemos voltar a<br />
crescer do ponto de vista económico,<br />
poderemos criar mais postos de<br />
trabalho e proporcionar aos angolanos<br />
em particular à nossa juventude,<br />
melhores rendimentos e por esta via,<br />
aumentar o seu bem-estar e das suas<br />
famílias.<br />
João Lourenço exortou ao empresariado<br />
nacional a investir mais<br />
nas diferentes indústrias, na agro-<br />
-pecuária, nas pescas, no turismo e<br />
em outros ramos da nossa economia,<br />
pois prevê-se o aumento da oferta<br />
de energia e água no país, sobretudo<br />
após a interligação através das redes<br />
de transportação dos sistemas eléctricos<br />
do norte ao centro do país, e<br />
com a perspectiva de ligar e expandir<br />
para sul e para o leste.<br />
“<br />
Só com o aumento do<br />
investimento poderemos<br />
voltar a crescer do ponto<br />
de vista económico, poderemos<br />
criar mais postos de<br />
trabalho e proporcionar<br />
aos angolanos, em particular<br />
à nossa juventude,<br />
melhores rendimentos (...)<br />
“<br />
O Presidente da República manifestou<br />
o seu agrado pelo facto de,<br />
apesar das dificuldades que as empresas<br />
enfrentam, se verificar um<br />
interesse crescente dos empresários<br />
em participarem das iniciativas do<br />
Executivo para alterar o quadro que<br />
vivemos, recordando que, em termos<br />
de apoios, o Executivo negociou de<br />
forma exitosa com o Deutshe Bank<br />
alemão uma linha de financiamento<br />
no valor de mil milhões de dólares<br />
americanos destinados à dinamização<br />
da actividade económica privada,<br />
com destaque para o sector produtivo.<br />
"Mas é bom que se diga que para<br />
além destes recursos, estão ainda à<br />
disposição dos empresários outras<br />
facilidades.O Banco de Desenvolvimento<br />
de Angola foi orientado<br />
no sentido de utilizar recursos do<br />
Fundo Nacional do Desenvolvimento<br />
para bonificar as taxas de juro<br />
ainda muito altas prevalecentes no<br />
mercado financeiro, para créditos a<br />
conceder pelos bancos comerciais<br />
para investimentos nos produtos<br />
prioritários definidos no âmbito<br />
do PRODESI", destacou o Chefe do<br />
Executivo, lembrando igualmente<br />
que, através do Banco Nacional de<br />
Angola, orientou ainda os Bancos<br />
Comerciais a concederem crédito<br />
para parte dos produtos priorizados<br />
pelo PRODESI, no montante mínimo<br />
equivalente a 2% do seu activo, cujos<br />
encargos de financiamento incluindo<br />
os juros e comissões não deverão<br />
exceder os 7,5%.<br />
Ainda neste contexto, o Presidente<br />
afirmou que diversas instituições<br />
financeiras multilaterais tais como o<br />
Banco Mundial, o Banco Africano de<br />
Desenvolvimento, a Agência Francesa<br />
de Desenvolvimento entre outras,<br />
estabeleceram programas com o<br />
Executivo para dedicarem recursos<br />
para financiar projectos do sector<br />
privado em Angola.<br />
"Pretendemos que estes recursos<br />
de financiamento disponíveis, sejam<br />
utilizados de modo criativo e eficaz<br />
pelos nossos empresários, de modo a<br />
tornar a nossa economia mais sustentada<br />
e menos dependente do petróleo",<br />
alertou, destacando na mesma<br />
linha a necessidade de se estabelecer<br />
uma relação positiva entre o volume<br />
de crédito concedido e os resultados<br />
que almejamos alcançar em termos<br />
de produção e produtividade.<br />
"Exigiremos seriedade e rigor<br />
na qualidade dos projectos, na análise<br />
das propostas e teremos todo o<br />
cuidado nos desembolsos e na fiscalização<br />
da sua implementação.Esta é<br />
uma forma que o Executivo encontrou<br />
de reconhecer a importância e o<br />
papel do empresariado nacional, ajudando-o<br />
a crescer, a se afirmar como<br />
um actor fundamental que contribui<br />
para a diversificação da economia,<br />
para o aumento da oferta de bens<br />
e de serviços e para o aumento da<br />
oferta de emprego", afirmou.<br />
Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019 17
PAÍS<br />
JOÃO LOURENÇO ASSEGURA:<br />
"PIIM VAI MUDAR<br />
A VIDA DOS ANGOLANOS"<br />
• "O futuro se constrói hoje, com os investimentos que<br />
fizermos agora em infraestruturas físicas e na formação dos quadros"<br />
O<br />
Presidente da República<br />
assegurou que o<br />
Programa Integrado de<br />
Intervenção nos Municípios<br />
(PIIM) será implementado<br />
como foi<br />
anunciado, pois "por ser um programa<br />
que não recorrendo ao endividamento<br />
público usará recursos que já são nossos,<br />
o que mudará significativamente a<br />
vida dos cidadãos com o aumento da<br />
oferta de serviços essenciais como os<br />
de energia, água, educação, saúde, mobilidade<br />
entre outros".<br />
Para João Lourenço,o futuro das<br />
gerações vindouras estará garantido<br />
se as crianças de hoje beneficiarem<br />
agora de melhores serviços sociais.<br />
"O futuro se constrói hoje, com os investimentos<br />
que fizermos agora em<br />
infraestruturas físicas e na formação<br />
dos quadros", augurou o Chefe<br />
de Estado, que, para o êxito do PIIM,<br />
pediu o empenho dos empresários<br />
angolanos, porque, segundo disse,<br />
são eles que vão concorrer para as<br />
empreitadas de construção das diferentes<br />
infra-estruturas contempladas<br />
no referido programa, que, através da<br />
disponibilização de recursos financeiros,<br />
vai também relançar o sector<br />
produtivo do país, garantindo emprego<br />
sobretudo para a juventude.<br />
Durante o seu discurso de abertura<br />
do Fórum dos empresários angolanos,<br />
João Lourenço assegurou<br />
também que com as actuais políticas<br />
traçadas , sobretudo com o programa<br />
de privatizações já anunciado,<br />
o Executivo dá um sinal muito claro<br />
da intenção do Estado reduzir consideravelmente<br />
sua forte presença na<br />
economia.<br />
“<br />
Contamos convosco<br />
empresários angolanos(...)<br />
porque são vocês que vão<br />
concorrer para as empreitadas<br />
de construção (...)<br />
contempladas no PIIM.Com<br />
a disponibilização destes<br />
recursos financeiros, queremos<br />
também relançar o<br />
sector produtivo do país (...)<br />
“<br />
"Pretendemos devolver este papel<br />
de actor principal da economia ao<br />
sector empresarial privado. Aceitem<br />
portanto receber esse testemunho,<br />
na certeza de que saberão fazê-lo<br />
melhor que o Estado na responsabilidade<br />
de produzir bens e serviços<br />
e na criação de emprego", salientou,<br />
desafiando os empresários angolanos<br />
nos seguintes termos: "se ocuparem<br />
convenientemente o espaço<br />
que sempre foi vosso e que por razões<br />
de conjuntura política ao longo<br />
de décadas vos foi usurpado, temos<br />
a convicção que vai proliferar pelo<br />
país o número de micro, pequenas e<br />
médias empresas e assim tornar realidade<br />
o sonho da diversificação da<br />
nossa economia".<br />
"Trabalhemos de mãos dadas<br />
para tirar a nossa economia da crise<br />
em que ainda se encontra, para retomar<br />
o crescimento económico em<br />
bases mais sustentadas e diversificadas.<br />
O papel do Executivo é o de coordenar<br />
e regular o desenvolvimento<br />
económico do país. O motor do crescimento<br />
económico reside no sector<br />
privado, nos empresários, que deverão<br />
apostar na inovação. Estabeleçam<br />
parcerias com empresas tecnologicamente<br />
mais avançadas, portadoras de<br />
know how e que facilitem o acesso ao<br />
mercado internacional", aconselhou<br />
o Chefe do Estado.<br />
18 Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019
PAÍS<br />
ESTÃO MAIORITARIAMENTE NA LUNDA NORTE<br />
COMO DECORRE O REGRESSO<br />
DOS REFUGIADOS DA RDC ?<br />
Há mais de 30 mil refugiados<br />
congoleses na<br />
província de Lunda<br />
Norte. Alguns deles<br />
querem regressar ao<br />
país de origem, mas<br />
para a maioria ainda é complicado obter<br />
documentos, ter acesso aos serviços<br />
de saúde ou trabalho.<br />
O número de refugiados congoleses<br />
na província de Lunda Norte ainda<br />
é elevado; contudo, já há muitos que<br />
mostram vontade de regressar à República<br />
Democrática do Congo (RDC).<br />
As autoridades angolanas juntamente<br />
com o governo de Kinshasa e o Alto<br />
Comissariado das Nações Unidas para<br />
os Refugiados (ACNUR) tentam dar<br />
as condições necessárias para os refugiados<br />
regressarem ao seu país de<br />
origem.<br />
Segundo números da organização,<br />
Comunidade de Refugiados em Angola<br />
(CRA), ainda estão entre 30 a 40 mil<br />
refugiados congoleses em território<br />
angolano. Os refugiados dentro deste<br />
grupo têm várias pretensões, uns desejam<br />
ficar em Angola e outros querem<br />
regressar ao país de origem como<br />
explica Mussenguele Kopel coordenador<br />
da CRA.<br />
"Há um número que quer voltar,<br />
que é originário do Kasai. E tem a<br />
maioria que quer a integração local.<br />
Também tem o grupo que não está a<br />
encontrar como se integrar e que pede<br />
para encontrar reassentamentos”,<br />
conta o coordenador angolano.<br />
AS PREOCUPAÇÕES DOS REFU-<br />
GIADOS - Os refugiados congoleses<br />
vêm sobretudo da região do Kasai<br />
na RDC há já várias décadas. Os seus<br />
problemas em Angola são vários e há<br />
reclamações constantes, Mussenguele<br />
Kopel aponta principalmente para a<br />
situação da falta de documentação e<br />
fraco acesso aos cuidados da saúde.<br />
"Primeiro os refugiados em geral<br />
não têm condições. Em todos os sítios<br />
que você vai os refugiados estão a reclamar<br />
que não têm documentos de<br />
identidade, que lhes pode facilitar os<br />
movimentos. Além disso temos ainda<br />
aqueles refugidos que estão doentes<br />
e a maioria tem tuberculose”, relata<br />
Mussenguele.<br />
O ACNUR tem distribuído kits de<br />
reintegração a todos os refugiados que<br />
regressem à RDC dentro dos pressupostos<br />
estipulados, mas há muitos que<br />
desejam ficar e isso também tem sido<br />
problemático para a integração de milhares<br />
congoleses em Angola.<br />
ÉBOLA NA RDC<br />
Um dos temas mais<br />
falados na República<br />
Democrática do<br />
Congo ultimamente<br />
tem sido a questão do<br />
ébola, onde o número de casos tem<br />
crescido nos últimos meses.Ela já<br />
fez mais de 1500 mortos e a cada<br />
dia há registo de 12 novos casos,<br />
segundo a Organização Mundial da<br />
Saúde (OMS), que já declarou o estado<br />
de emergência internacional.<br />
A OMS também alertou Angola<br />
para se precaver sobre possíveis<br />
casos de ébola nas fronteiras. O<br />
país partilha uma vasta zona fronteiriça<br />
com a RDC nas províncias<br />
do Zaire, Moxico, Lunda Norte e<br />
Lunda Sul. Mas, apesar de tudo<br />
ainda não há uma grande preocupação<br />
das autoridades angolanas<br />
com essa situação, assegura<br />
Mussenguele.<br />
"As autoridades angolanas no<br />
momento em que o ébola está a<br />
ser falada no leste, na zona norte<br />
não existem muitas preocupações.<br />
As fronteiras ainda estão abertas,<br />
Angola ainda não manifestou<br />
preocupação em fechar as fronteiras”.<br />
Muitos congoleses ainda<br />
não acreditam na estabilidade do<br />
governo atual da RDC por isso é<br />
que não regressam. As relações bilaterais<br />
entre Angola e a RDC têm<br />
sido reforçadas a nível económico,<br />
social e fronteiriço. Mas a questão<br />
dos refugiados ainda vai demorar<br />
a resolver-se.<br />
"As pessoas depois de receberem<br />
formação não têm acesso ao mercado de<br />
trabalho. É um pouco difícil aceitar os documentos<br />
dos refugiados e trabalhar com<br />
eles. É aí que também começam os problemas<br />
maiores dos refugiados”, segundo<br />
Mussenguele Kopel.<br />
Um dos temas mais falados na República<br />
Democrática do Congo ultimamente<br />
tem sido a questão do ébola, onde o número<br />
de casos tem crescido nos últimos<br />
meses.<br />
Rodrigo Vaz Pinto | Deutsche Welle.<br />
Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019 19
SOCIEDADE<br />
CRIMINALIDADE<br />
POLÍCIA QUER "LEI ESPECÍFICA"<br />
PARA O TRÁFICO<br />
DE SERES HUMANOS<br />
A polícia angolana defendeu recentemente a aprovação de uma "lei específica" para criminalizar<br />
o tráfico de seres humanos, com registo crescente de casos nas províncias de<br />
Luanda, Cunene e Lunda Norte e Zaire<br />
Segundo o director nacional<br />
adjunto do gabinete<br />
jurídico do Comando Geral<br />
da Polícia Angola, Osvaldo<br />
Moco, citado pela<br />
Lusa, a legislação vigente<br />
no país, nesse domínio, "deve ser<br />
aprimorada e aperfeiçoada por se enquadrar<br />
no conjunto de normas que<br />
prevêem outros ilícitos criminais".<br />
"Tendo em conta a sua pertinência<br />
e a preocupação que esse fenómeno<br />
apresenta, entendo que deveria<br />
ser concebida uma legislação<br />
específica que tratasse, especialmente,<br />
desse tipo legal de crime", disse.<br />
E a polícia nacional, adiantou,<br />
"terá o seu papel a desempenhar<br />
contribuindo com ideias para uma<br />
lei específica que trate a questão do<br />
tráfico de seres humanos no país".<br />
Falando aos jornalistas à margem<br />
de uma palestra sobre Tráfico<br />
de Seres Humanos, realizada em<br />
Luanda pelo Ministério da Justiça e<br />
dos Direitos Humanos, em parceria<br />
com o Comando Geral da Polícia angolana,<br />
sublinhou que as províncias<br />
fronteiriças "apresentam maiores<br />
preocupações".<br />
"A nível do país, a maior preocupação<br />
apresenta-se com a fronteira<br />
norte, sobretudo na região do Luvo,<br />
província angolana do Zaire, assim<br />
como alguns casos registados na<br />
zona leste e sul e ainda temos registos<br />
de tráficos humanos para o exterior<br />
do país", afirmou.<br />
A Procuradoria-Geral da República<br />
(PGR) angolana anunciou na altura<br />
que cerca de vinte casos de tráfico<br />
de seres humanos em Angola já transitaram<br />
em julgado e que este tipo<br />
de crime exige novos mecanismos de<br />
actuação.<br />
"Hoje o quadro do tráfico no país<br />
não podemos dizer que não é preocupante,<br />
registamos números de queixas<br />
e participações baixas, mas isso não<br />
quer dizer que a actividade não exista,<br />
portanto temos um registo baixo de<br />
casos", disse Astergidio Pedro Culolo,<br />
sub-PGR junto do Serviço de Migração<br />
e Estrangeiros (SME) angolano.<br />
Para Osvaldo Moco, as pessoas<br />
vítimas de tráfico de seres humanos<br />
sofrem "situações desastrosas, como<br />
a escravidão e exploração sexual", daí<br />
que, observou, "temos que envidar<br />
todos os esforços operativos e legislativos<br />
para contrapor a situação".<br />
Divulgar e promover a luta contra<br />
o Combate de Tráfico de Seres Humanos,<br />
reflectir com a sociedade a importância<br />
dos instrumentos internacionais<br />
e nacionais sobre o Combate<br />
ao Tráfico de Seres Humanos na realidade<br />
jurídica angolana foram alguns<br />
dos objectivos da palestra realizada<br />
em Junho.<br />
Diário de Notícias | Lusa<br />
20 Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019
SOCIEDADE<br />
TRÁFICO DE SERES HUMANOS EM ANGOLA<br />
TRIBUNAIS TÊM<br />
VINTE CASOS PARA JULGAR...<br />
A Procuradoria-Geral da República (PGR) angolana anunciou que cerca de vinte casos de<br />
tráfico de seres humanos em Angola já transitaram em julgado e que este tipo de crime<br />
exige novos mecanismos de actuação<br />
"Hoje o quadro do tráfico no<br />
país não podemos dizer que<br />
não é preocupante, registamos<br />
números de queixas e<br />
participações baixas, mas<br />
isso não quer dizer que a actividade<br />
não exista; portanto, temos<br />
um registo baixo de casos", disse Astergidio<br />
Pedro Culolo, sub-PGR junto<br />
do Serviço de Migração e Estrangeiros<br />
(SME) angolano.<br />
Em declarações aos jornalistas à<br />
margem de uma palestra sobre Tráfico<br />
de Seres Humanos em Angola, dirigida<br />
aos efectivos da polícia nacional, o magistrado<br />
deu conta que as províncias<br />
de Luanda, Lunda Norte e Zaire lideram<br />
as ocorrências.<br />
Segundo Artergidio Pedro Culolo,<br />
orador da palestra promovida<br />
(em 25 Junho) pelo Ministério da<br />
Justiça e dos Direitos Humanos, em<br />
parceria com o Comando Geral da<br />
Polícia de Angola, aquelas províncias<br />
"têm registado actividades mais<br />
relevantes" de tráfico humano, sobretudo<br />
"devido as fronteiras".<br />
"Em termos de casos, posso apenas<br />
falar dos que já foram tratados judicialmente,<br />
que são perto de 20 casos<br />
nessas províncias. Há províncias em<br />
que não há registo nenhum, mas o facto<br />
de não haver registo não quer dizer<br />
que ali não exista o tráfico", apontou.<br />
"Poderá existir, mas ainda não detectamos<br />
e se isso acontece, é porque os<br />
nossos sistemas de alerta não têm estado<br />
a funcionar devidamente", realçou.<br />
Em Janeiro, o padre católico Félix<br />
Gaudêncio disse à Lusa que a população<br />
da província do Cunene, sul do<br />
país, "estava assustada" com os "crescentes<br />
relatos" de traficantes de seres<br />
humanos, sobretudo crianças, quatro<br />
dos quais já detidos pela polícia.<br />
"O quadro é de medo, a população<br />
está mesmo com medo, em pânico,<br />
porque se trata de uma população que,<br />
anteriormente, acolhia muitas pessoas,<br />
orientava quem estivesse perdido,<br />
mas hoje em dia há esse receio de<br />
orientar ou acolher estranhos", disse o<br />
padre na altura.<br />
O também presidente da Associação<br />
Ame Naame Omuno, de defesa e<br />
promoção dos direitos humanos na<br />
província, defendeu ainda o "reforço<br />
do policiamento" no seio das comunidades,<br />
afirmando que o tráfico de seres<br />
humanos na província "é uma prática<br />
antiga".<br />
"Porém, agora ganha maior visibilidade<br />
por causa dos meios de comunicação<br />
e por causa do mediatismo;<br />
então, isso é uma realidade porque<br />
chama muito a atenção o facto de aparecerem<br />
pessoas assim mortas, de vez<br />
em quando", bem como "aparecerem<br />
pessoas a dizerem que estavam a ser<br />
aliciadas para serem levadas para a<br />
Namíbia", concluiu.<br />
Em Dezembro de 2018, um vídeo<br />
publicado nas redes sociais apresentava<br />
um suposto autor confesso desses<br />
crimes, relatando como terá matado<br />
uma mulher, a quem terá retirado os<br />
órgãos, que foram levados para a Namíbia.<br />
Questionado sobre o assunto, o<br />
delegado do Ministério do Interior de<br />
Angola no Cunene, Tito Munana, deu<br />
conta que as autoridades judiciais<br />
"ainda não provaram se os relatos<br />
do suposto traficante do vídeo divulgado<br />
eram verdadeiros".<br />
(...) Quando questionado pela<br />
Lusa sobre o tráfico de órgãos<br />
humanos, sobretudo a nível da<br />
província do Cunene, referiu que a<br />
"situação é preocupante", afirmando<br />
que "apesar de existirem, ainda não foram<br />
detectados".<br />
"É também preocupante, creio que<br />
casos desses assim ainda não foram<br />
detectados, mas existem. Temos registado,<br />
agora, com alguma preocupação<br />
a movimentação de crianças para o<br />
exterior do país, que às vezes não cumprem<br />
com as regras", frisou.<br />
"E pode ser que seja essa actividade,<br />
daí a necessidade de estarmos<br />
informados para afinarmos os mecanismos<br />
e começarmos a detectar", concluiu<br />
o também membro da Comissão<br />
Interministerial Contra o Tráfico de<br />
Seres Humanos em Angola.<br />
Diário de Notícias | Lusa.<br />
Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019 21
SOCIEDADE<br />
Sara Fialho,<br />
jornalista<br />
COOPERATIVA DOS JORNALISTAS ANGOLANOS SURGIU PARA VINGAR<br />
C.J.A. PROMETE<br />
CONGREGAR A CLASSE E<br />
DEFENDER OS SEUS INTERESSES<br />
Quem ao longo dos últimos meses acompanhou, ainda que a<br />
uma distância prudente, o percurso da constituição da Cooperativa<br />
dos Jornalistas Angolanos (CJA), tem de admitir que os<br />
seus criadores merecem, desde já, o reconhecimento generalizado<br />
da classe pelo empenho e determinação de levar até ao<br />
fim a concretização deste projecto nobre. Não foram muitos os<br />
que estiveram na base desta empreitada concluída com êxito,<br />
mas o número de jornalistas (unido e persistente) foi suficiente<br />
para que pelo menos desse mais um exemplo de maturidade<br />
e espírito de compromisso<br />
Dentre estes profissionais<br />
da comunicação<br />
social angolana, há<br />
que se destacar Sara<br />
Fialho, José Luís Mendonça,<br />
Sebastião Panzo<br />
e todos aqueles que desde o primeiro<br />
momento passaram dias a fio<br />
a sacrificar todo o seu tempo e mais<br />
algum para que no passado dia 6 de<br />
Julho se desse à luz aquela que é,para<br />
já, verdadeiramente considerada a<br />
primeira Cooperativa de Jornalistas<br />
Angolanos criada por profissionais<br />
ligados a diversos ramos da media nacional.<br />
A cerimónia da constituição desta<br />
instituição sem fins lucrativos, de natureza<br />
voluntária e de âmbito nacional,<br />
decorreu em Luanda e para a história<br />
fica marcada a presença de representantes<br />
de várias entidades sócio-profissionais<br />
ligadas à comunicação social,<br />
mas deve-se destacar também a apresentação<br />
esclarecida dos objectivos a<br />
que se propõe atingir a Cooperativa de<br />
Jornalistas Angolanos.<br />
Neste contexto, Sara Fialho fez-se<br />
ouvir pela primeira vez como coordenadora<br />
da CJA, dizendo que a associação,<br />
cuja formação dirigiu desde o primeiro<br />
momento da sua idealização,<br />
tem como objectivo social "congregar<br />
os profissionais de comunicação social,<br />
defender os interesses da classe,<br />
realizar estudos e promover acções<br />
formativas".<br />
Garantir as condições materiais<br />
para existência de parcerias que, aliadas<br />
à CJA, visem contribuir na valorização<br />
dos profissionais, colaborar<br />
com as organizações congéneres nacionais<br />
e estrangeiras, no sentido de<br />
concretizar os objectivos de defesa da<br />
dignidade humana pós carreira, figuram<br />
na lista dos objectivos da Cooperativa<br />
de Jornalistas Angolanos.<br />
De acordo com Sara Fialho, podem<br />
ser membros da organização pessoas<br />
físicas que se identificam com os valores,<br />
visão, missão e objectivos constantes<br />
dos estatutos e regulamentos,<br />
como membros fundadores, efectivos,<br />
beneméritos e honorários.<br />
Durante o acto da constituição da<br />
CJA, a sua coordenadora revelou que<br />
o património social será constituído<br />
por bens imóveis, móveis, títulos,<br />
valores e direitos, que pertençam ou<br />
venham pertencer à cooperativa, contribuições<br />
de membros, doações, subvenções<br />
recebidas, legado, auxílios,<br />
direito, créditos e quaisquer contribuições<br />
de pessoas física ou jurídicas.<br />
Já Sebastião Panzo, outro dos principais<br />
artífices da cooperativa, que foi<br />
indicado para coordenar a Comissão<br />
de Intercâmbio da cooperativa, considerou<br />
ser visão do CJA "proteger os<br />
seus integrantes tanto na fase activa das<br />
suas vidas, como prover soluções de<br />
protecção social pós carreira laboral".<br />
“<br />
Os eixos principais<br />
de actuação da CJA são a<br />
protecção da saúde, segurança<br />
e assistência social<br />
pós-trabalho, facilitação<br />
nos processos de aquisição<br />
de móveis e imóveis e<br />
auto-sustentabilidade dos<br />
profissionais membros da<br />
cooperativa<br />
“<br />
Para si, os eixos principais de actuação<br />
da CJA são a protecção da saúde,<br />
segurança e assistência social pós-<br />
-trabalho, facilitação nos processos de<br />
aquisição de móveis e imóveis e auto-<br />
-sustentabilidade dos profissionais<br />
membros da cooperativa.<br />
Na mesma linha, Panzo revelou<br />
igualmente que a cooperativa prevê<br />
a institucionalização de um seguro de<br />
saúde e evacuação dos seus membros<br />
para o estrangeiro, em caso de doença,<br />
esclarecendo, por outro lado, que a<br />
CJA "não será avalista ou financiadora<br />
na aquisição de móveis e imóveis, por<br />
parte dos seus membros, mas poderá<br />
ter o papel facilitador no processo de<br />
solicitação de crédito habitacional,<br />
automóvel, entre outros".<br />
22 Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019
MAHEZU<br />
Por: Carmo Neto<br />
ADEUS, AMIGO JOÃO!<br />
Sentados num lugar em que se acorda com o primeiro canto do galo, Bartolomeu de<br />
calças jeans coçadas, calçava sandálias de cabedal e usava cabelo curto e o João, um<br />
cambuta vigoroso com os músculos dos braços e das costas salientes, de cabelos<br />
crespos, olhos grossos sempre inquietos, também militante das jeans coçadas,<br />
olhos inquietos, esbanjavam diálogo.<br />
Folheavam, o tempo da avó Maria, com caligrafia elegante, dos tempos áureos<br />
do Quéssua, quando copiavam e liam "cabeça-braço-mão-perna-pé", a propósito dos erros<br />
ortográficos de hoje que os nossos doutores cometem sem vergonha. Pralém da desejável<br />
ressurreição generalizada dos quadros de honra em todos níveis do ensino.<br />
Cansaço não parecia percorrer suas veias. Mesmo com a queda do muro de Berlim, Bartolomeu<br />
aguardava pelo regresso do socialismo, diferente do João aparentemente despido das<br />
ideologias políticas da juventude.<br />
As horas retardavam o adeus da separação, quando a recordação era o tempo que mulheres<br />
com montanhas de carnes inflamadas rasgavam as roupas e eram assim consideradas as<br />
mais lindas!...Todos estes incêndios verbais pareciam adiar a reforma das suas idades.<br />
Espontaneamente, partilhavam gargalhadas. Pareciam mais velhos matulões repetentes<br />
que caçavam o lanche dos mais novos estudantes distraídos.<br />
Recordando Selmira, que vestia quase sempre mini saias e de salto alto, a menina mais linda<br />
do liceu, o que a tornava mais atraente ainda era o facto de que conduzia uma mini-Honda<br />
(rainha da elegância virou baleia da elegância!).Ou dos professores serenos com óculos de alta<br />
graduação capazes de descobrirem as mais bem escondidas cábulas.<br />
As horas retardavam o adeus para o dia seguinte, sobretudo quando a razão fosse o grau<br />
comparativo de desenvolvimento nacional se melhor aliados fossemos sempre do mundo<br />
desenvolvido.<br />
Sendo filhos de gente importante, era curioso o pingue-pongue do João e Bartolomeu sobre<br />
geografia universal, dois velhos amigos, orgulho do liceu da época:<br />
-Devemos ser nós próprios com os nossos milionários angolanos a desenvolver o país,<br />
afirmou o João.<br />
-Mas porquê? -questionou o Bartolomeu, bruscamente agitado .-Deves ser mais global<br />
porque o mundo hoje é uma aldeia.<br />
-Porque já vamos bem melhor só com os nossos - respondeu ele, de voz excitante. -Nossos<br />
milionários já ajudam o país a crescer.<br />
-Ah, isso é uma anedota-retorquiu o Bartolomeu, muito agitado. -Temos que estar com o<br />
mundo. Ao contrário, não vamos longe.Com os outros países do mundo seria uma boa aliança.<br />
-Não concordo, concluiu o João de forma categórica.<br />
De repente, o telemóvel reivindica que Bartolomeu atendesse a chamada. Levou tempo<br />
pra o efeito. Fixou o aparelho sobre o ouvido a mascarar pra o João que nem tudo entendia,<br />
mas mal ouvia a chamada do seu chefe milionário pra viabilizar sua ida pra os Estados Unidos<br />
acompanhado da secretária antecedida do curso básico de língua inglesa, corria pra o aparelho.<br />
Bartolomeu sempre assumiu a magia do romantismo fatal e das esperanças utópicas do<br />
fim do capitalismo. Mesmo contrariado com a nostalgia do ideal, frequentou o curso de inglês<br />
pra sua superação profissional nos Estados Unidos, questionando sempre a incompetência da<br />
secretária, cujo inglês resumia-se ao yes, mas usava cabelo tratado de véspera com uma parte<br />
do postiço a cair-lhe de lado e vestia um vestido de um dos melhores costureiros portugueses,<br />
mesmo a viver em Angola tratava do cabelo em Portugal.<br />
No seu quintal a jogar pingue-pongue durante a despedida fartou-se Bartolomeu de ouvir o<br />
conselho pra melhor aproveitamento do curso. João murmurou-lhe palavras meigas e seu pai<br />
observava pra ele com um ar de alegria. Todos desejaram-lhe boa sorte.<br />
Pessoas de todas as cores e etnias, desempregados e trabalhadores, todos desejavam o<br />
destino da boa sorte e ele numa carta endereçada ao velho amigo, não tardou em responder, a<br />
partir da América, a devolver o encorajamento no fim escreveu ao amigo João:<br />
Adeus, amigo João! Mahezu, ngana!<br />
Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019 23
FIGURA DO MÊS<br />
Paulo Flores, um nome incontornável da música angolana,<br />
fala à Angop sobre o panorama musical angolano e a<br />
actualidade do país. Autor de sucessos como<br />
"Inocente", "Reencontro" e "Makalakato", o artista<br />
considera necessária a união de "vontades" para<br />
levar o país a "bom porto".Com a devida vênia<br />
publicamos nesta e nas páginas seguintes a<br />
entrevista deste grande músico e compositor<br />
angolano, conduzida por Venceslau Mateus.<br />
"Enquanto artista, que, às vezes, é um bocado<br />
indissociável de mim enquanto indivíduo, a<br />
minha música acaba, muitas vezes, por<br />
funcionar, como um bálsamo,<br />
uma forma de procurar<br />
desconstruir as minhas<br />
inseguranças, expôlas<br />
e, ao partilhá-las,<br />
perceber que as minhas<br />
inseguranças também<br />
eram as dos outros",<br />
diz Paulo Flores, para<br />
quem ,hoje em dia,<br />
às vezes, "a questão<br />
principal é aguentar<br />
a dor que sinto,<br />
por achar que não<br />
estou a conseguir<br />
ajudar toda a gente<br />
como gostava e,<br />
ao mesmo tempo,<br />
o pragmatismo<br />
de sermos<br />
profissionais e<br />
de precisarmos<br />
do aplauso e<br />
não do cachê"<br />
PAULO FLORES<br />
"O SEMBA É UMA<br />
IDENTIDADE QUE NOS<br />
DEFINE COMO ANGOLANOS"<br />
24 Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019
FIGURA DO MÊS<br />
Paulo Flores é uma das<br />
referências da música<br />
angolana, principalmente<br />
na vertente do<br />
semba. Como define<br />
este estilo musical?<br />
Há várias maneiras de definir o<br />
semba. É uma música que permitiu<br />
aos angolanos começarem a celebrar<br />
a sua dor. Tem um ritmo forte, toca<br />
em todas as festas, mesmo no tempo<br />
colonial. Comecei a descobrir isso<br />
com as minhas avós, porque as ouvia<br />
cantar em casa, com uma alegria<br />
muito grande, um ritmo contagiante.<br />
Quando perguntava o que significava<br />
a música, normalmente estavam a falar<br />
de uma história de dor. Aquilo, inclusivamente,<br />
funcionou também na<br />
minha escrita, um pouco a preocupação<br />
com os outros e também o direito<br />
de celebrar e ser feliz. Ritmicamente,<br />
é um “quatro por quatro” que serve<br />
um pouco de matriz a muitos ritmos,<br />
como a capoeira e a própria kizomba.<br />
Embora seja uma derivação do<br />
zouk, é tocada com alguns elementos<br />
que o semba também possui. Tem a<br />
característica de ser uma identidade<br />
que nos define enquanto angolanos.<br />
Para Paulo Flores,<br />
Como avalia a sua carreira nesta<br />
fase. Cumpriu-se um ciclo?<br />
Ainda há muito para se fazer.<br />
Muito por aprender e muito por educar.<br />
Há muito para mostrar à juventude:<br />
que vale a pena lutar pelo bem-<br />
-estar. O que fiz, como músico, não<br />
tem valor se os outros não o fizerem.<br />
Somos um todo.<br />
Acredita no papel social, quase<br />
interventivo, da música e dos músicos?<br />
Sim, porque também foi assim<br />
que cresci. Mesmo as minhas influências<br />
da música portuguesa vieram<br />
do papel interventivo dos poetas<br />
Ary dos Santos, Carlos do Carmo<br />
e em cantores como Amália e Zeca<br />
Afonso e, em Angola, das músicas em<br />
kimbundu, antes da independência,<br />
depois o próprio Rui Mingas, o André<br />
Mingas…<br />
Enquanto artista, que, às vezes,<br />
é um bocado indissociável de mim<br />
enquanto indivíduo, a minha música<br />
acaba, muitas vezes, por funcionar,<br />
como um bálsamo, uma forma<br />
de procurar desconstruir as minhas<br />
inseguranças, expô-las e, ao partilhá-<br />
-las, perceber que as minhas inseguranças<br />
também eram as dos outros.<br />
Hoje em dia, às vezes, a questão<br />
principal é aguentar a dor que sinto,<br />
por achar que não estou a conseguir<br />
ajudar toda a gente como gostava e,<br />
ao mesmo tempo, o pragmatismo de<br />
sermos profissionais e de precisarmos<br />
do aplauso e não do cachê. Mas<br />
vejo a arte como uma forma de estar<br />
próximo dos outros e de nos ajudar a<br />
ser mais inteiros. Em relação a Angola,<br />
em particular, também serve para<br />
resgatar memórias que permitam à<br />
juventude continuar a criar e a olhar<br />
para a frente com outra substância.<br />
“<br />
A minha música, no<br />
início, era quase como uma<br />
criação que saía antes do<br />
pensamento, que vinha cá<br />
para fora por inspiração,<br />
por ingenuidade. Hoje em<br />
dia, já existe maior consciência<br />
da minha parte e,<br />
por isso, às vezes, custa-me<br />
mais acabar as músicas,<br />
porque já não é só música<br />
para mim (...)<br />
“<br />
- Como olha para a Angola de<br />
hoje e para o momento da sua música?<br />
– O país está favorável, mas falta<br />
um longo caminho a percorrer. É normal.<br />
Não foi fácil durante a guerra e<br />
também não é fácil o período de recuperação.<br />
Acredito que vamos chegar lá<br />
um dia. Acredito na capacidade de as<br />
pessoas darem a volta por cima. Com<br />
um investimento forte nas áreas sociais,<br />
principalmente nas vertentes da<br />
saúde e da educação, vamos conseguir<br />
mudar o país completamente. Politicamente,<br />
já houve uma grande mudança<br />
e temos que enaltecer este facto.<br />
Como cidadão e angolano, continuo<br />
a fazer a minha parte, portanto,<br />
é chegado o momento de todos os<br />
angolanos unirem-se e lutarem por<br />
um mesmo objectivo. Estamos num<br />
momento de esperança. Nota-se que<br />
existe maior preocupação da classe<br />
política pelos seus concidadãos. Isso<br />
dá-nos logo, à partida, uma lufada de<br />
ar fresco, sentes que há um respirar<br />
mais leve. Parece que está a sair um<br />
peso grande de cima de nós. É essa<br />
capacidade de nos reinventarmos que<br />
dá esperança. As pessoas continuam a<br />
acreditar que é possível fazer um país<br />
melhor, também, e, principalmente,<br />
através da arte.<br />
A minha música, no início, era quase<br />
como uma criação que saía antes do<br />
pensamento, que vinha cá para fora<br />
por inspiração, por ingenuidade. Hoje<br />
em dia, já existe maior consciência da<br />
minha parte e, por isso, às vezes, custa-me<br />
mais acabar as músicas, porque<br />
já não é só música para mim. Não no<br />
sentido literal político, mas no sentido<br />
de fazer as pessoas sentirem que estamos<br />
próximos e que os artistas representam<br />
as carências e as expectativas<br />
dos angolanos, em particular.<br />
De onde vem a música na sua<br />
vida?<br />
Essencialmente, é de família. A<br />
minha avó Janete tocava piano, o meu<br />
avô, guitarra, e o meu pai era Dj. Sempre<br />
estive a cantar. A minha música,<br />
de facto, tem muito a ver com a forma<br />
como me preocupo com o mundo que<br />
nos rodeia.<br />
É uma música que acontece por<br />
causa dos outros. No início, era quase<br />
um desabafo que, de repente, se tornou<br />
num bem maior do que imaginava.<br />
Mais de 30 anos de carreira, com<br />
um vasto repertório onde se podem<br />
destacar temas como “Makalakato”,<br />
que tem um cariz interventivo. O<br />
que procurou transmitir com esta<br />
música?<br />
A música é uma forma de manter<br />
a sociedade unida, principalmente<br />
a juventude. Tem a capacidade<br />
de ajudar e de transmitir os<br />
Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019 25
FIGURA DO MÊS<br />
sentimentos das pessoas.<br />
Trata-se de uma música criada e<br />
produzida, na altura, como tantas outras,<br />
para transmitir o sentimento da<br />
maioria dos angolanos.Nela, procurei<br />
sensibilizar os angolanos para a necessidade<br />
da solidariedade, da partilha<br />
e da união. Na altura, passávamos<br />
por um momento muito difícil, e, como<br />
artista, que vivia o dia-a-dia dos angolanos,<br />
a aposta passou pela produção<br />
de temas musicais com mensagens<br />
educativas.<br />
- Surge no mercado angolano e<br />
nos Palop nos anos 80, tendo como<br />
companheiros Eduardo Paim, Ricardo<br />
Abreu e Ruca Van-Dúnem…<br />
- Os dois primeiros discos são arranjados<br />
e produzidos por Eduardo<br />
Paim e Ruca. Eles começaram, na altura,<br />
a mostrar-me a diferença entre<br />
a música na diáspora e a música que<br />
se pretendia voltar a fazer em Angola,<br />
porque, no final dos anos 80, ninguém<br />
gravava em Angola. Lembro-me que<br />
foram falar comigo em Lisboa, no caso<br />
concreto o Ricardo Abreu e o Ruca<br />
Van-Dúnem, para mostrarem outra<br />
forma de abordar Angola. Na altura,<br />
na diáspora, tínhamos muitas músicas,<br />
cujas letras transmitiam o sentimento<br />
de saudade que sentíamos do<br />
país, das nossas famílias. Com o Ruca<br />
e o Eduardo, vi e percebi que Angola<br />
também podia fazer parte do mundo,<br />
com a sua alegria e a sua ginga. No<br />
caso do Ruca, era uma música mais<br />
cadenciada: a kizomba.<br />
Como se dá a sua entrada no<br />
semba, tendo em conta que, no<br />
princípio da carreira, estava mais<br />
ligado à kizomba?<br />
O nome kizomba é dado, de facto,<br />
por causa das nossas músicas. Do<br />
Luandino de Carvalho, Eduardo Paim,<br />
Ruca Van-Dúnem, Ricardo Abreu.Em<br />
relação ao semba, surge na minha linha<br />
melódica com o “Tunda Mujila”,<br />
em 1992. Mas a incursão mais forte<br />
neste género musical dá-se com o<br />
“Canto o meu Semba”. Com o tempo,<br />
tornou-se na minha principal referência<br />
musical, reforçada com os discos<br />
“Ex-Combatentes” e “Recompasso”.<br />
Vario bastante, mas tenho tido a preocupação<br />
de não deixar ficar mal as pessoas<br />
que gostam da minha música.<br />
É um ritmo com o qual mais me<br />
identifico e, ao mesmo tempo, melhor<br />
me enquadro.Tenho o compromisso<br />
moral de tornar o semba cada vez<br />
mais vivo. Já toquei em várias partes<br />
do mundo e posso afirmar que kizomba<br />
todo o mundo faz e toca, mas o<br />
semba é mesmo só angolano. É a nossa<br />
bandeira.<br />
“(O Semba) é um<br />
ritmo com o qual mais me<br />
identifico e, ao mesmo<br />
tempo, melhor me enquadro.Tenho<br />
o compromisso<br />
moral de tornar o semba<br />
cada vez mais vivo. Já<br />
toquei em várias partes<br />
do mundo e posso afirmar<br />
que kizomba todo o mundo<br />
faz e toca, mas o semba<br />
é mesmo só angolano. É a<br />
nossa bandeira<br />
“<br />
“Inocente”, “Makalakato”, “Reencontro”,<br />
o que nos pode dizer sobre<br />
estas músicas?<br />
São diferentes, mas, ao mesmo<br />
tempo, completam o puzzle. E o<br />
puzzle é sempre do amor ao lugar.<br />
“Inocente” é uma música feita, na<br />
altura, a pensar nas crianças de rua,<br />
no seu sofrimento. “Reencontro” foi<br />
produzido a pensar no sentimento<br />
de saudade do país, na necessidade<br />
de regressar às origens. Já “Makalakato”<br />
é uma música escrita por Galiano<br />
Neto, mas que tive que dar um toque<br />
diferente, mudando a forma em que<br />
estava escrita. É uma música marcante,<br />
que tem história e que continua a<br />
ser ouvida pelo país.<br />
Às vezes, não procuro tanto o<br />
aplauso ou aquele palco. O que procuro<br />
é continuar a ter o prazer quando<br />
termino uma música, sentir-me vivo,<br />
sentir-me com vontade de continuar<br />
à procura e perceber que, muitas vezes,<br />
a música ganha uma dimensão na<br />
vida das pessoas da qual não temos<br />
noção. Quero, essencialmente, continuar<br />
a criar e a comunicar de uma<br />
maneira que possa fazer diferença na<br />
vida das pessoas.<br />
QUEM É PAULO FLORES ?<br />
Paulo Flores, que nasceu<br />
no município do<br />
Cazenga, em Luanda,<br />
em 1972, é um dos<br />
cantores mais populares<br />
de Angola. Mudou-se para Lisboa<br />
durante a sua infância. Lançou o<br />
seu primeiro álbum em 1988. As<br />
suas canções tratam temas diversos<br />
como governação, quotidiano dos<br />
angolanos, guerra e corrupção.<br />
DISCOGRAFIA<br />
• Kapuete, 1988<br />
• Sassasa, 1990<br />
• Coração Farrapo e Cherry, 1991<br />
• Brincadeira Tem Hora, 1993<br />
• Inocente, 1995<br />
• Perto do Fim, 1998<br />
• Recompasso, 2001<br />
• Xé Povo, 2003<br />
• The Best, 2003<br />
• Quintal do Semba, 2003<br />
• Ao Vivo, 2004<br />
• Ex-Combatentes, 2009<br />
• Ex-combatentes Redux, 2012<br />
• O País Que Nasceu Meu Pai, 2013<br />
• Bolo de Aniversário, 2016<br />
• Kandongueiro Voador, 2017<br />
26 Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019
Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019 27
POLÍTICA<br />
EX- SECRETÁRIO GERAL DA UNITA, HOJE DEPUTADO E DIPLOMATA<br />
O PASSADO DA<br />
UNITA NA VOZ DO<br />
GENERAL N'ZAU PUNA<br />
O nacionalista angolano e<br />
actual deputado do MPLA,<br />
o partido no poder em Angola,<br />
N'zau Puna revelou<br />
que a "UNITA pediu apoio<br />
ao regime da África do Sul<br />
quando foi abandonada<br />
por todos os países”. Em<br />
entrevista exclusiva a DW<br />
África, em véspera do lançamento<br />
do seu livro ("Mal<br />
Me QUEREM"), em Portugal,<br />
também falou sobre<br />
corrupção, caso Cabinda,<br />
José Eduardo dos Santos e<br />
a governação de João Lourenço.<br />
Com a devida vênia,<br />
publicamos esta matéria<br />
feita por Manuel Muamba<br />
O<br />
ex-militante da UNI-<br />
TA, o maior partido da<br />
oposição em Angola,<br />
(...) começou por explicar<br />
o tema do livro.<br />
"Aborda a trajectória<br />
de um combatente da liberdade; nós<br />
que lutamos, que fizemos a guerra de<br />
libertação nacional. Portanto, contamos<br />
factos”, salientou.<br />
E um destes factos é a ligação que<br />
a UNITA de Jonas Savimbi manteve<br />
com o regime sul-africano. "Participei<br />
em quase todas as comunicações<br />
e não posso negar. Pedi a África do Sul<br />
para vir, também fiz parte da delegação<br />
para poder nos apoiar quando<br />
fomos abandonados por todos, pelos<br />
americanos e pelos próprios sul-africanos<br />
e outros países que nos apoiavam",<br />
conta Puna.<br />
Não esconde admiração que nutre<br />
por Jonas Savimbi e a posição que<br />
este tomava, em plena reunião, na<br />
África do sul, para exigir a libertação<br />
de Nelson Mandela: "E ele dizia: É a<br />
28 Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019
POLÍTICA<br />
minha visão, África do Sul não tem<br />
outra saída se não a libertação de<br />
Mandela. Ele disse isso várias vezes<br />
porque era muitas vezes convidado<br />
pelos sul-africanos, Conselho de Segurança<br />
da África do Sul, composto<br />
por brancos apenas, para fazer palestras.<br />
E era aplaudido. Ele fazia<br />
uma análise sobre o que via para o<br />
futuro da África austral".<br />
A direcção da UNITA e a família<br />
de Jonas Savimbi esperaram mais de<br />
17 anos para o início do processo do<br />
seu funeral condigno que começou<br />
depois de um encontro realizado<br />
em em 2018 entre o Presidente angolano<br />
João Lourenço e o líder da<br />
UNITA Isaías Samakuva. N'zau Puna<br />
não tem dúvidas: a iniciativa presidencial<br />
é um "sinal de reconciliação<br />
nacional”.<br />
"O Presidente deu autorização<br />
para a exumação de Savimbi, já o fez<br />
com Ben Ben, são coisas que podem<br />
criar uma verdadeira reconciliação<br />
entre os angolanos; é um sinal de<br />
aproximação dos angolanos. Era um<br />
problema levantado constantemente,<br />
agora já não”, diz.<br />
Os restos mortais de Jonas Savimbi<br />
desceram à sepultura de Lopitanga,<br />
a 1 de Junho de 2019. N'zau<br />
Puna revela que teve de pedir autorização<br />
ao líder do partido no poder,<br />
João Lourenço, para participar na cerimónia<br />
de exumação do seu amigo,<br />
com quem esteve mais de 30 anos,<br />
24 dos quais como secretário-geral<br />
da UNITA.<br />
"Quando a direcção da UNITA e<br />
a família me pediram para ir às exéquias,<br />
eu pedi autorização porque já<br />
não sou da UNITA, sou do MPLA e<br />
tive que pedir autorização ao presidente<br />
do partido. E fui, para surpresa<br />
de alguns e animação de muitos”,<br />
conta Puna.<br />
Também falou sobre o ex-Presidente<br />
José Eduardo dos Santos que<br />
governou Angola de 1979 a 2017.<br />
Ele entende que não devia ser hostilizado,<br />
embora reconheça que deixou<br />
o país mergulhado numa crise<br />
económica e financeira e num índice<br />
de corrupção galopante. Explica que<br />
o núcleo radical do MPLA muitas vezes<br />
influenciou negativamente o antigo<br />
estadista na tomada de algumas<br />
decisões.<br />
E N´Zau Puna não é tão severo<br />
com o ex-Presidente: "Eduardo dos<br />
Santos cumpriu a missão dele. Conseguiu<br />
a paz do seu jeito e está onde<br />
está. Portanto, eu penso que ele não<br />
devia ser hostilizado”.<br />
MOMENTO ACTUAL - Em relação<br />
a actual governação, Puna louva<br />
a iniciativa da luta contra a corrupção<br />
e a impunidade, cavalo de batalha<br />
do seu partido e do Presidente<br />
João Lourenço, mas critica a "justiça<br />
selectiva”.<br />
"É uma boa iniciativa. É uma outra<br />
visão que está a dar à comunidade<br />
internacional sobre aquilo que<br />
Angola é efectivamente. Ou começamos<br />
uma coisa e andamos, ou começamos<br />
e paramos. E isso significa<br />
derrota. Tem que se ir para frente. E<br />
a corrupção tem de ser feita, não de<br />
forma selectiva. Todo que é corrupto<br />
deve ser chamado”, entende.<br />
Admite, no entanto, que a nova<br />
governação está a contribuir para o<br />
processo democrático em curso em<br />
Angola: "Actualmente há mais respeito<br />
pelos direitos e liberdades”, diz.<br />
"Com o novo Presidente há mais<br />
abertura porque hoje as pessoas já<br />
falam. Antigamente quem é que podia<br />
falar? Só os mais corajosos, mas<br />
toda gente tinha medo de falar. Também<br />
há uma certa abertura democrática”,<br />
diz Puna.<br />
Sobre o caso Cabinda, o deputado<br />
do MPLA, partido no poder, apresenta<br />
um caminho que pode ser adoptado<br />
pelo Governo para se encontrar uma<br />
solução para o enclave angolano.<br />
"O Governo se quer encontrar<br />
uma solução, tem de reunir os cabindas<br />
todos internamente. Se não,<br />
o Governo fará sempre disso uma<br />
questão de negócio”.<br />
N'zau Puna pede respeito aos que<br />
chama de "combatentes da liberdade”<br />
e quer ser recordado como um homem<br />
que lutou para o alcance da liberdade,<br />
da paz e da justiça em Angola.<br />
(Deutsche Welle).<br />
Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019 29
REPORTAGEM<br />
MAIS DE USD 1 BILIÃO DE INVESTIMENTOS AINDA NÃO "DESPERTARAM"...<br />
O "BANQUETE"<br />
NAS FÁBRICAS TÊXTEIS<br />
As três firmas representam um investimento superior<br />
a mil milhões de dólares, publicamente criticado pelo<br />
Presidente João Lourenço, sendo que duas receberam do<br />
Banco Africano de Investimentos (BAI), mediante garantia<br />
soberana do Estado, mais 12 mil milhões de Kwanzas.<br />
A fábrica de Benguela, acusada de pagar salários de miséria,<br />
está em tribunal por divergências com trabalhadores<br />
expulsos pela administração<br />
Texto e Fotos : João Marcos - Em Benguela<br />
O<br />
Presidente da República,<br />
João Lourenço,<br />
não podia ter<br />
sido mais claro ao<br />
assinalar, agora na<br />
entrevista à TPA e<br />
ao NJ, que a luta pela recuperação<br />
de activos financeiros do Estado<br />
em benefícios de privados dedica<br />
atenção especial aos «recursos volumosos»,<br />
quando o país enfrenta<br />
ainda as ondas de choque provocadas<br />
pelo investimento público nas<br />
30 Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019
REPORTAGEM<br />
três fábricas têxteis.<br />
Proveniente da linha de crédito<br />
do Japão, o financiamento nas têxteis<br />
está, seguramente, entre os vários<br />
que colocaram a dívida pública<br />
na linha vermelha, numa situação<br />
que forçou o Governo, como admitiu<br />
Lourenço, a recorrer ao Fundo<br />
Soberano para sustentar o PIIM,<br />
Plano Integrado de Intervenção<br />
nos Municípios.<br />
O Presidente da República, lembramos,<br />
fez referência directa à<br />
falência das fábricas alguns meses<br />
antes, aquando do anúncio do empréstimo<br />
de uma instituição financeira<br />
alemã no valor de mil milhões<br />
de dólares, o mesmo, curiosamen-<br />
“<br />
Proveniente da<br />
linha de crédito do Japão, o<br />
financiamento nas têxteis<br />
está, seguramente, entre<br />
os vários que colocaram a<br />
dívida pública na linha vermelha,<br />
numa situação que<br />
forçou o Governo, como admitiu<br />
Lourenço, a recorrer<br />
ao Fundo Soberano para<br />
sustentar o PIIM, Plano Integrado<br />
de Intervenção nos<br />
Municípios<br />
“<br />
"OPERAÇÕES IRREGULARES"-<br />
-Conhecida a posição da PGR, o Instituto<br />
de Gestão de Activos e Partite,<br />
que o Estado angolano investiu<br />
na reabilitação e modernização dos<br />
empreendimentos.<br />
Assistiu-se, portanto, a um regresso<br />
aos «puxões de orelhas» no<br />
enclave marcado pela chegada ao<br />
Comité Central de vários jovens,<br />
apontados pela crítica como trunfos<br />
para os desafios autárquicos e elementos-chave<br />
na luta contra a corrupção,<br />
impunidade e nepotismo.<br />
A propósito, o conhecido político<br />
Abel Chivukuvuku, que promete<br />
para 2020 um novo partido, capaz<br />
de alterar o conceito de serviço público,<br />
afirma que «este MPLA completamente<br />
corrompido obriga o<br />
Presidente a fazer varridelas».<br />
EMPRESA JÁ FOI OBJECTO DE PROVIDÊNCIA CAUTELAR ...<br />
ALASSOLA PAGA SALÁRIOS DE<br />
MISÉRIA E IGAPE FALA EM<br />
"OPERAÇÕES IRREGULARES"<br />
Sem salários há oito<br />
meses, trabalhadores<br />
da fábrica têxtil de Benguela,<br />
objecto de providência<br />
cautelar devido<br />
ao não reembolso de<br />
empréstimos solicitados<br />
pelo Estado angolano,<br />
revelam que os gestores<br />
vendem uma falsa<br />
imagem ao país, quando<br />
a realidade é de sofrimento<br />
para a maioria e<br />
enriquecimento para um<br />
pequeno grupo<br />
Paralisada por falta de<br />
matéria-prima, à semelhança<br />
das duas outras<br />
na mira da Procuradoria-geral<br />
da República<br />
(PGR), em Luanda e no<br />
Kwanza Norte, a fábrica poderá ter de<br />
indemnizar quinze funcionários expulsos<br />
por terem lutado contra «salários<br />
míseros e gestão danosa».<br />
Beneficiário de um investimento<br />
público de 480 milhões de dólares, o<br />
grupo Alassola, uma sociedade anónima<br />
que estará a esconder o rosto<br />
de altas figuras do regime angolano,<br />
apontou sempre para a falta de algodão<br />
para conter o clima de insatisfação<br />
que enfrentou em cinco anos na<br />
gestão da fábrica.<br />
À espera de indemnização, o jovem<br />
Avelino Buena, do grupo dos expulsos,<br />
fez o retracto de uma situação<br />
que nem a exportação de fios de algodão<br />
atenuou, assinalando que os mais<br />
de 130 funcionários recebiam salários<br />
de miséria (uma média de 35 mil).<br />
"Chegou-se a uma fase em que a<br />
fábrica rebentou, nem sequer dinheiro<br />
para salários tinha. Nós víamos exportações<br />
através do Porto, mas nada<br />
recebíamos, por isso pensamos que<br />
eles, os sócios, dividiam tudo", denuncia.<br />
Quanto a soluções para os problemas,<br />
extensivas às fábricas do Dondo<br />
e Textang II, o jurista Eurico Bongue<br />
aponta para a responsabilização civil<br />
dos implicados, de modo a que trabalhem<br />
para a devolução gradual da<br />
dívida.<br />
"Deve-se evitar que a balança da<br />
dívida pública seja tão alta, motivada<br />
por créditos a favor de privados. Se<br />
os seus projectos são viáveis, então<br />
devem trabalhar para o reembolso’’,<br />
aponta Bongue.<br />
Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019 31
REPORTAGEM<br />
Tambwe Mubaz, PCA da fábrica têxtil Lar Alassola<br />
cipações do Estado (IGAPE) veio a<br />
público, em comunicado, sublinhar<br />
que a privatização das três unidades<br />
foi irregular, com sociedades privadas<br />
em actividade mesmo sem terem<br />
sido apuradas entidades para a<br />
sua gestão.<br />
A nota lembra a realização de<br />
um concurso público sob os auspícios<br />
do então Ministério da Geologia<br />
e Minas e Indústria, liderado pelo<br />
agora deputado do MPLA Joaquim<br />
David, em 2010, mas sem qualquer<br />
resultado.Joaquim David, apontado<br />
como organizador do processo de<br />
financiamento, está, conforme a Procuradoria-geral<br />
da República, entre<br />
os proprietários de uma das sociedades<br />
privadas.<br />
O comunicado do IGAE acrescenta<br />
que os custos da reabilitação da<br />
Alassola – ex-África Têxtil -, da antiga<br />
Satec e da Textang II foram dez<br />
vezes mais altos do que o montante<br />
inicialmente previsto, de 50 milhões<br />
de dólares americanos.<br />
"A entrega das fábricas a sociedades<br />
privadas foi irregular por falta<br />
de competências do Instituto de<br />
Desenvolvimento Industrial e do Ministério<br />
da Geologia e Minas e Indústria",<br />
avança o documento, no qual é<br />
referido que a fábrica de Benguela<br />
produziu até agora menos de 10% da<br />
sua capacidade, a Textang II menos de<br />
5 por cento e a ex-Satec 0%.<br />
Como medida de segurança, termina<br />
o comunicado, o Governo de João<br />
Lourenço leva a cabo um processo de<br />
privatização, iniciado em 2018, afastadas<br />
que foram as sociedades sem<br />
requisitos. Em reacção, a Alassola indica<br />
que a condição de devedor a que<br />
se encontram os accionistas das fábricas<br />
têxteis resulta de «actos hostis»<br />
e constantes alterações nas decisões<br />
do Executivo, que incapacitaram as<br />
empresas «de iniciar o pagamento do<br />
financiamento».<br />
O argumento é apresentando<br />
pelo seu PCA, Tambwe Mukaz, num<br />
comunicado em que afirma que,<br />
«após o período de formação do pessoal<br />
técnico e início de laboração de<br />
duas das três empresas têxteis, foram<br />
sentidos actos hostis vindos de departamentos<br />
governamentais».<br />
Mukaz acrescenta que estas<br />
medidas «desaconselharam a continuação<br />
do programa de formação<br />
de técnicos e recrutamento<br />
de pessoal, frenaram o plano de<br />
laboração em pleno das fábricas<br />
e, consequentemente, incapacitaram-nas<br />
de iniciar o pagamento do<br />
financiamento».<br />
Inconformados com esta situação,<br />
os empresários privados<br />
«interpuseram um recurso hierárquico<br />
que teve como reacção final<br />
a publicação dos Decretos Presidenciais<br />
108/18 de 21, 109/18<br />
e 110/18 de 23 de Agosto, que<br />
orientaram a assinatura dos contratos<br />
negociados com o Ministério<br />
das Finanças para a concessão,<br />
exploração e gestão das unidades<br />
industriais pelos actuais promotores<br />
com opção de compra, uma<br />
vez que, enquanto não for feito o<br />
serviço da dívida, as unidades seriam<br />
consideradas propriedades<br />
estatais".J.M.<br />
32 Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019
REPORTAGEM<br />
Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019 33
REPORTAGEM<br />
EM ANGOLA E MOÇAMBIQUE<br />
MUITOS TRABALHADORES<br />
SEROPOSITIVOS SÃO DISCRIMINADOS<br />
Contra a legislação, instituições públicas e privadas continuam a negar o acesso ao emprego<br />
a pessoas que vivem com HIV/SIDA em Moçambique e Angola. Ouvimos as vítimas<br />
e as associações preocupadas com a discriminação<br />
Texto: Amós Zacarias<br />
Foto: DW/M. Luamba<br />
Joana Francisco é uma jovem<br />
moçambicana. Tem 26 anos e<br />
há três descobriu que é seropositiva.<br />
Na altura, era empregada<br />
doméstica. Não revelou o seu<br />
estado serológico aos patrões.<br />
Quando a patroa descobriu que era<br />
seropositiva, mandou-a embora. Igualmente,<br />
Joana viu congelados os salários<br />
de três meses que estavam em atraso<br />
"Fiquei doente, fui ao hospital, deixei<br />
meus comprimidos em cima da<br />
cama, a minha patroa entrou no meu<br />
quarto viu aqueles comprimidos e me<br />
mandou embora", conta a jovem que<br />
ainda luta para reaver os seus salários.<br />
"Ela negou pagar-me, alegando que<br />
quer levar aquele valor ao hospital para<br />
fazer o exame aos filhos para saber se<br />
ficaram infectados ou não".<br />
A lei 19/2014 para a Proteção da<br />
Pessoa, do Trabalhador e do Candidato<br />
a Emprego Vivendo com HIV e SIDA, em<br />
Moçambique, estabelece que "pessoas<br />
vivendo com HIV/SIDA não devem ser<br />
discriminadas ou estigmatizadas em razão<br />
do seu estado de seropositividade".<br />
Olhando para o caso de Joana Francisco,<br />
a jurista moçambicana Firosa Zacarias<br />
não tem dúvidas: "Não há espaço<br />
para cativar o salário dela, porque descobriram<br />
que é seropositiva". "Como é<br />
que esta senhora vai provar que antes<br />
da empregada começar a trabalhar<br />
na sua casa ela não era seropositiva?",<br />
questiona a jurista.<br />
Firosa Zacarias afirma mesmo que<br />
há espaço para uma responsabilzação<br />
criminal: "Esta trabalhadora deve procurar<br />
instituições que possam defender<br />
a causa dela e ela tem direito ao seu<br />
salário".<br />
Em Moçambique, há muitos casos<br />
semelhantes, diz Judite de Jesus, coordenadora<br />
da associação Hi Xikamwe,<br />
que apoia pessoas vivendo com o HIV<br />
nos arredores da cidade de Maputo.<br />
"Trabalhamos com muitas mulheres<br />
que passaram por uma situação idêntica.<br />
Pessoalmente, com as minhas assistentes<br />
sociais, vamos dar andamento<br />
jurídico destes casos", garante.<br />
Um estudo publicado em 2013 pela<br />
ONUSIDA aponta que 6,5% das pessoas<br />
seropositivas em Moçambique tinham<br />
perdido seus postos de trabalho.<br />
O mesmo documento indica que 9,7%<br />
das pessoas entrevistadas consideram<br />
que foram afastadas por serem seropositivas.<br />
34 Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019
REPORTAGEM<br />
No entanto, a jurista Firosa Zacarias<br />
observa que não há muitas denúncias<br />
por da parte das pessoas lesadas,<br />
por causa do auto-estigma e desconhecimento<br />
da existência de uma lei<br />
que as protege.<br />
Estarão instituições públicas<br />
em moçambique a violar a Lei? - Engane-se<br />
quem pensa que estes casos<br />
acontecem apenas no sector privado.<br />
Selmina Panguene, de 44 anos, é professora<br />
no Ministério da Educação e<br />
Desenvolvimento Humano há 21 anos.<br />
Chegou a desempenhar o cargo de directora<br />
de uma escola durante cinco<br />
anos, na província de Maputo.<br />
Em 2007, teve tuberculose associada<br />
ao HIV. Cumpriu com os tratamentos<br />
exigidos pelo sistema moçambicano<br />
de saúde. No entanto, desde<br />
2012, está suspensa das suas funções<br />
por conta do seu estado de saúde. E<br />
sabe que tem um processo de reforma<br />
antecipada que está a ser movido contra<br />
ela.<br />
"Quando souberam que eu tinha<br />
sequelas de tuberculose acabaram por<br />
dizer que eu tinha que me reformar",<br />
recorda, em entrevista à DW África.<br />
"Não é porque eu tivesse incapacidade<br />
de continuar a trabalhar, até porque já<br />
não estava na sala de aulas e estava a<br />
fazer trabalhos moderados", explica.<br />
A jurista Firosa Zacarias recomenda,<br />
neste caso, um processo contra o<br />
Estado moçambicano e justifica: "Se<br />
não há elementos bastantes que apontem<br />
que ela não está em condições<br />
para continuar a trabalhar, nenhuma<br />
instituição deve fazer isso com ela".<br />
Selmina Panguene diz-se disposta<br />
a trabalhar, até porque, desde 2017, é<br />
assistente social na associação Hi Xikamwe,<br />
em Maputo. "A minha dor é reformar-me<br />
enquanto ainda não estou<br />
na idade da reforma. Alguém cortar a<br />
minha esperança de vida", lamenta.<br />
A DW África tentou, sem sucesso,<br />
obter uma reacção do Ministério da<br />
Educação e Desenvolvimento Humano<br />
de Moçambique.<br />
Foto: DW/B. Jequete<br />
Desconhecimento da lei - Poucas<br />
pessoas em Moçambique têm o domínio<br />
ou mesmo o conhecimento da existência<br />
da lei para Protecção da Pessoa,<br />
do Trabalhador e do Candidato a Emprego<br />
vivendo com HIV e SIDA. Uma<br />
realidade que tem de ser combatida,<br />
diz a jurista Firosa Zacarias.<br />
"Este é um mal nacional, de todos<br />
os dispositivos legais. As pessoas<br />
sabem onde devem levantar os anti-<br />
-retrovirais, mas da lei ouve-se pouco",<br />
afirma a jurista salientando que "era<br />
importante nas instituições falar do<br />
HIV e da lei para transferência de conhecimento<br />
e uso, para que as leis deixem<br />
de ser letras mortas, como é o caso<br />
de Moçambique, onde temos leis extremamente<br />
brilhantes mas sem uso".<br />
Exigência de testes do HIV para o<br />
recrutamento em Angola - Para além<br />
de Moçambique, também em Angola<br />
há registo de violação dos direitos das<br />
pessoas vivendo com o HIV, segundo<br />
denunciou e condenou recentemente<br />
a deputada angolana Eulália Rocha, do<br />
MPLA, ao apontar a existência de instituições<br />
angolanas que exigem testes de<br />
HIV no processo de recrutamento.<br />
Noé Mateus é membro da Associação<br />
Amigos da Vida (AVIDA), que trabalha<br />
com pessoas vivendo com HIV<br />
em Angola. E entrevista à DW, confirmou<br />
as denúncias da parlamentar, explicando<br />
que "as empresas exigem um<br />
check-up dos funcionários na hora de<br />
contratação e nunca se sabe se isto é<br />
para fazer esta selecção de quem é HIV<br />
positivo".<br />
"Para nós, isso é inaceitável. É uma<br />
regressão de um grande esforço que o<br />
país exerceu ao longo dos tempos", sublinha<br />
o activista.<br />
O Governo angolano, através do ministro<br />
da Administração Pública, Trabalho<br />
e Segurança Social (MAPTSS),<br />
Jesus Maiato, classificou este acto como<br />
uma "atitude arbitrária", por não existirem<br />
no país leis que impõem a apresentação<br />
do teste.<br />
O artigo 6º do Decreto n°43/3 de<br />
4 de Julho, aprovado pelo Governo angolano<br />
em 2003, estabelece que "não<br />
é permitido em circunstância alguma<br />
a realização do teste para detecção de<br />
anti-corpos anti-HIV como pré-requisito<br />
na admissão ao emprego, nem o controlo<br />
forçado do HIV/SIDA no local de<br />
trabalho, salvo a pedido do candidato<br />
ou do trabalhador, exceptuando-se os<br />
casos legalmente exigidos".<br />
Noé Mateus exige uma responsabilização<br />
criminal das instituições<br />
que violem a lei, em protecção dos direitos<br />
da pessoa vivendo com a HIV/<br />
SIDA: "Se as instituições públicas ou<br />
privadas discriminam as pessoas vivendo<br />
com o HIV, como é que a comunidade<br />
vai reagir para com estas<br />
pessoas? Estamos a colocá-las entre a<br />
espada e a parede".<br />
(In Deutsche Welle /<br />
Página Global)<br />
Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019 35
COMUNICADO DE IMPRENSA<br />
TV ZIMBO<br />
LANÇA CANAL HD EM AGOSTO<br />
A<br />
TV Zimbo começou a veiculação da “Campanha TV Zimbo HD”, que anuncia o mês de<br />
Agosto como data de início da emissão do canal em HD (alta definição), nas Operadoras<br />
de TV por satélite.<br />
Sob assinatura “TV Zimbo HD é outra imagem”, a campanha destaca a oferta de imagens<br />
com muito mais qualidade ao telespectador. A transmissão em HD é a nova aposta<br />
da primeira televisão privada de Angola.<br />
Para poder ver o canal TV Zimbo em alta definição e ter acesso a melhor imagem é necessário que a<br />
box conectada à TV Digital também seja HD. Numa primeira fase nem todas as distribuidoras de sinal<br />
por satélite serão abrangidas.<br />
A sigla “HD” é uma abreviatura do inglês “High Definition”, e a sua tradução para o português significa<br />
“Alta Definição”. TV em HD (HDTV) é um formato dos aparelhos de televisão que recebem sinal digital<br />
e apresentam imagens com alta resolução. A diferença com as TVs usuais é o melhor detalhamento da<br />
imagem.<br />
Em Agosto, a Zimbo vai ficar ainda melhor. Caso para dizer: “em Agosto, a Zimbo vai dar mais gosto”.<br />
TV Zimbo em HD é mais qualidade para você ver melhor.<br />
TV Zimbo HD é Outra Imagem!<br />
Para mais informações, por favor contacte: E-mail marketing@tvzimbo.com<br />
36 Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019
Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019 37
FIGURAS DE CÁ<br />
ISAÍAS SAMAKUVA<br />
AVANÇA OU NÃO?<br />
PÉROLA<br />
FORMAÇÃO "TOP"<br />
O perfil biográfico da cantora angolana Pérola é de se<br />
tirar o chapeu uma, duas, três vezes, enfim, quantas forem<br />
necessárias para concluir que "filha de peixe é peixe". E<br />
não é para estabelecer qualquer espécie de relação com<br />
a música. Não. É a capacidade desta estrela de se assumir<br />
como uma estudante de sucesso e tem razões de sobra.<br />
Jandira Sassingui Neto, Pérola, é filha de mãe médica e<br />
de pai advogado. De acordo com a sua biografia, com<br />
nove anos, com a mãe e os três irmãos, teve de mudar-<br />
-se do Huambo para Luanda por causa da Guerra<br />
Civil Angolana. Na Wikipedia, lembra-se que, quatro<br />
anos depois, foram para Windhoek, capital da Namíbia.Mais<br />
tarde, estudou Direito na Universidade<br />
de Pretória, na África do Sul, onde teve a primeira<br />
grande oportunidade no mundo da música, no<br />
programa de caça talentos Coca Cola Pop Stars.<br />
Hoje, a senhora Jandira Sassingui Neto (nascida<br />
no Huambo, aos 28 de abril de 1983) é licenciada<br />
em Direito e continua a brilhar como<br />
uma excelente música e compositora!<br />
Pelos vistos, não está ainda confirmado o facto<br />
de Isaías Samakuva ir a jogo nas próximas<br />
eleições gerais, marcadas para 2022, na qualidade<br />
de candidato presidencial pela UNITA.A<br />
imprensa pública noticiou, a privada confirmou,<br />
as redes sociais anunciaram que Samakuva terá<br />
dado o dito pelo não dito, assegurando que, sim,<br />
senhor, iria apresentar-se como um concorrente<br />
a João Lourenço do MPLA e outros líderes dos<br />
principais partidos da oposição. Entretanto, a direcção<br />
da Unita diz que nada foi dito ou desdito.<br />
Uma confusão tremenda!.Por enquanto, nada é<br />
oficial e, no meio de tantas incertezas, só o XIII<br />
Congresso do partido , que se realiza entre os<br />
dias 13 e 15 de Novembro deste ano, poderá,<br />
de uma vez por todas, serenar os ânimos nas<br />
hostes da UNITA. Adalberto Costa Júnior,chefe<br />
da bancada parlamentar, já disse<br />
que só avançaria, caso o<br />
actual presidente cumpra<br />
com a palavra dada há<br />
já algum tempo. Isaías<br />
Samakuva, que tem<br />
setenta e três anos de<br />
idade, já se encontra à<br />
frente de tudo e todos<br />
desde 2003. Há gente<br />
a reclamar...<br />
38 Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019
FIGURAS DE CÁ<br />
TIAGO "AZULÃO"<br />
SAÍDA LIMPA<br />
Um dos pontas de lança mais marcantes na história do<br />
Petro Atlético Petróleos de Luanda pôs fim à sua ligação<br />
contratual com o clube, depois de ter exibido o seus dotes<br />
de goleador nato durante quatro épocas consecutivas. O<br />
brasileiro Tiago "Azulão" deixa a equipa, mas certamente<br />
vai figurar na galeria dos mais craques do "eixo viário",<br />
juntando-se às outras estrelas importantes como Jesus,<br />
Lufemba, Abel Campos, Macuéria e mesmo àquele que foi<br />
e é considerado o melhor jogador angolano de todos os<br />
tempos, Daniel NDunguidi, curiosamente proveniente do<br />
seu arqui-rival, o Clube Desportivo Primeiro de Agosto.<br />
Para evitar possíveis especulações, a Direcção do Atlético<br />
Petróleos de Luanda divulgou um comunicado, onde revelou<br />
a razão da saída do atleta:recebeu uma proposta do<br />
Olimpiakos de Nikosia do Chipre, feita uma época antes do<br />
fim do contrato com o atleta,e, "por uma questão de justiça<br />
e em respeito ao que havia sido acordado", decidiu cumprir<br />
o apalavrado. Só não revelou a verba financeira envolvida<br />
neste gesto amigável de quebra do vínculo contratual...Se é<br />
que tivesse existido alguma.<br />
TEIXEIRA CÂNDIDO<br />
LIDERANÇA ASSUMIDA<br />
O presidente do Sindicato dos Jornalistas Angolanos (SJA), Teixeira Cândido, ao<br />
longo do seu mandato tem dado mostras de que, quanto à liderança no cômputo<br />
geral do movimento sindical angolano, estamos conversados: sempre<br />
foi voz de destaque a clamar no meio de um deserto bastante árido para<br />
os desejos da imensa massa de trabalhadores disposta a defender os seus<br />
direitos.<br />
Nos tempos que correm , raros são os líderes sindicais que demonstrem<br />
tamanha sagacidade, espírito de compromisso e, sobretudo, capacidade de liderança<br />
nos inúmeros processos reivindicativos. Muito recentemente, Teixeira<br />
Cândido, a par de Africano Neto, coordenador do núcleo do SJA na Rádio<br />
Nacional de Angola, conseguiu "estremecer" o país, com uma ameaça muito<br />
séria de uma greve de dez dias na maior estação emissora de rádio do país- a<br />
RNA. O processo foi levado tão a sério que terá deixado em absoluto estado de<br />
nervos o próprio governo. Para já, a greve anunciada fica adiada.Enquanto isso,<br />
o conselho de administração da RNA não terá um sono sossegado porque sabe<br />
que na cabeceira da mesa de negociações para a resolução dos variadíssimos pontos<br />
em agenda, entre os quais a subida de salários, tem um líder sindical "complicado" e<br />
"rebelde", como se diz em certos corredores do poder. Outubro é o prazo dado pelos "grevistas"<br />
para que se resolvam os assuntos pendentes... que são graves!!<br />
Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019 39
FIGURAS DE CÁ<br />
ARCHER MANGUEIRA<br />
SATISFAÇÃO E CONFIANÇA<br />
O ministro angolano das Finanças, Archer Mangueira, mostrou-se<br />
satisfeito com a intervenção do Banco Mundial que<br />
decidiu financiar um projecto de fortalecimento do sistema<br />
de protecção social em Angola, exactamente numa altura em<br />
que o executivo angolano está a implementar uma série de<br />
medidas no sistema de subsídios a preços.<br />
O motivo da satisfação do ministro não é de pouca relevância,<br />
uma vez que aquela instituição financeira internacional acaba<br />
de aprovar mais um pacote financeiro para Angola no valor<br />
global de 1,32 mil milhões de dólares. Deste montante, USD<br />
320 milhões irá para o projecto de fortalecimento do Sistema<br />
de Protecção Social, USD 500 milhões para operação de Apoio<br />
Orçamental e 500 milhões de dólares para projecto de águas<br />
do Bita, em Luanda.<br />
O país "navega" num clima de confiança espectacular,sem<br />
dúvidas, pois só do Banco Mundial, Angola já recebeu um<br />
financiamento na ordem dos USD 2,52 mil milhões de dólares.<br />
Segundo se soube, o projecto de financiamento do sistema de<br />
protecção social que será implementado com o apoio técnico<br />
do BM, tem por objectivo realizar transferências monetárias<br />
para famílias vulneráveis em áreas alvos.<br />
PATRÍCIO BATSÎKAMA<br />
RELÍQUIA CIENTÍFICA<br />
"Mbôngi a Ñgîndu" , que em Português significa<br />
escola de Ciências Políticas no antigo Kongo, é o<br />
título de mais uma obra do conceituado historiador<br />
angolano Patrício Batsîkama. A obra,<br />
segundo o prefaciado de Ivaldo Lima (coordenador<br />
de Pós-Graduação em Estudos Africanos da<br />
Universidade da Bahia-Brasil), mostra detalhes<br />
dos vários aspectos políticos e administrativos do<br />
reino do Kongo, desde as escolas de formação e o<br />
corpo técnico de funcionários.<br />
A Angop revelou que, segundo Ivaldo Lima,<br />
Batsîrama , ao escrever o livro de 133 páginas,<br />
cuja tiragem inicial é de 1500 exemplares, foi<br />
movido pela inspiração de contribuir para consagração<br />
do Reino do Kongo como Património<br />
Mundial da Humanidade.<br />
Natural da província do Uíge, Patrício Batsikama<br />
é autor de obras como “Tokoismo, Teologia da<br />
Libertação”, “O Reino do Kongo e a sua Origem<br />
Meridional", "Makela ma Zombo" e " Nação,<br />
Nacionalidade e Nacionalismo em Angola". É<br />
docente do Instituto Superior Tocoísta (ISPT), de<br />
onde também é coordenador do Centro de Estudo<br />
e Investigação Científica Aplicada (CEICA).<br />
40 Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019
FIGURAS DE CÁ<br />
ANTÓNIO ASSIS<br />
OUTROS DESAFIOS<br />
Nos anos 90, foram dele algumas das mais brilhantes análises sobre o<br />
momento político, económico e social do país, nomeadamente na imprensa<br />
privada. Não escondia o seu sentimento crítico sobre a realidade vigente na<br />
altura , fundamentalmente no que toca a um sector - a Agricultura- que , para<br />
si, foi sempre decisivo para o desenvolvimento e crescimento de Angola.O<br />
engenheiro agrónomo António Assis foi colaborador permanente no extinto<br />
semanário "Comércio Actualidade" e, mais tarde, nesta revista.<br />
Fomos aos arquivos e encontrámos dois trechos de um comentário escrito<br />
em 1997 que permanecem actuais, com sentido de oportunidade para os<br />
tempos que ainda correm , difíceis e tão complicados como no passado:<br />
1º "(...) Precisamos de polir a apresentação das instituições públicas e respectivos<br />
dirigentes , por um lado,e, por outro, fornecer um quadro diplomático<br />
actuante,abrangente e competente, capaz de convencer as organizações<br />
estrangeiras em fazer doações que de facto levem Angola para um caminho<br />
de crescimento e desenvolvimento económico com reciprocidade de vantagens<br />
para quem connosco participa na reconstrução deste país".<br />
2º "(...) precisamos de rever as nossas estratégias políticas, económicas e sociais<br />
para que a Nação desponte, a bem do povo. De nada nos vale lutar para<br />
que este ou aquele seja considerado bom,mau ou vilão; muito menos contarmos<br />
aos quatro ventos com os petróleos e diamantes que não representam<br />
qualquer bem-estar para os cidadãos, nem sequer para a maioria dos que<br />
vivem nas áreas onde as ditas riquezas são extraídas".<br />
António Assis, é o actual ministro da Agricultura e florestas...<br />
GERSON LUKENY<br />
RENOVAÇÃO BÁSICA<br />
Já era praticamente garantida a renovação do contrato<br />
do Petro Atlético de Luanda com o base-extremo Gerson<br />
Lukeny, um dos frutos da formação petrolífera que, definitivamente,<br />
garantiu a sua titularidade nos cinco iniciais<br />
da actual equipa campeã nacional. Tanto mais que o "rapaz"<br />
que ganhou mais músculo e raça na época finda, foi o MVP<br />
dos "play-offs" do campeonato e tinha planos para jogar fora<br />
do país. Todavia, a direcção do clube que o criou, foi mais<br />
assertiva e convenceu a estrela a trabalhar mais em Angola.<br />
Cai assim por terra o sonho da direcção atenta do Primeiro<br />
de Agosto em ver mais um "filho" do Petro engrossar a sua já<br />
pesada fornalha de craques em ascenção permanente.<br />
Gerson Lukeni, tem 22 anos de idade, 1,92 metros, foi decisivo<br />
na conquista do título nacional de 2018/19 e prepara-se para<br />
destacar-se na selecção nacional, ao lado dos melhores de<br />
Angola e da África, no campeonato Mundial de Basquetebol.<br />
Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019 41
CULTURA<br />
MBANZA KONGO:<br />
UM PATRIMÓNIO CULTURAL<br />
COM VONTADE DE SE<br />
MOSTRAR À HUMANIDADE<br />
Detentora de um rico historial cultural, factor que a catapultou para a lista do património<br />
mundial, a mítica cidade de Mbanza Kongo, antiga capital do Reino do Kongo, carrega<br />
consigo um potencial turístico invejável por explorar e ser colocado na órbita turística<br />
nacional e internacional<br />
Texto e Fotos: Venceslau Mateus<br />
42 Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019
CULTURA<br />
Localizada a 472 quilómetros<br />
a noroeste de Luanda<br />
(capital angolana),<br />
num percurso feito pela<br />
estrada nacional 100, em<br />
aproximadamente cinco<br />
(5) horas de viagem, Mbanza Kongo<br />
possui zonas paisagísticas por explorar<br />
para o desenvolvimento do turismo,<br />
destacando-se no roteiro as cascatas<br />
do Nkungu-a-Paza, as grutas do<br />
Nza-Evua, a estância turística que se<br />
estende ao longo do rio Tuco e tantos<br />
outros locais.<br />
Para quem faz do turismo um dos<br />
seus hobbies preferidos, Mbanza Kongo<br />
oferece a oportunidade não só de<br />
conhecer a história do antigo Reino<br />
do Kongo, mas também viver, intensamente,<br />
os encantos da natureza.<br />
Agitada, quase 24 horas/dia, talvez<br />
pela aproximação da fronteira<br />
com a RDCongo, pelo Luvo, localidade<br />
que acolhe o mercado com o mesmo<br />
nome e que recebe diariamente centenas<br />
de comerciantes dos dois países,<br />
Mbanza Kongo apresenta-se com um<br />
futuro promissor na vertente turística,<br />
clamando apenas pelo investimento<br />
para alavancar um segmento que pode<br />
contribuir significativamente no desenvolvimento<br />
da província do Zaire e consequentemente<br />
reforçar o seu estatuto<br />
no mapa turístico mundial.<br />
Aos seus atractivos históricos e<br />
naturais, aliam-se também as estórias<br />
míticas sobre o Reino do Congo e o poder<br />
mortífero ou protector de que os<br />
seus soberanos eram detentores, contadas<br />
pelos “mais velhos”, conhecedores<br />
da tradição.<br />
Vice-Presidente, Bornito de Sousa, em visita à feira<br />
CAPACIDADE HOTELEIRA - A<br />
escassez de hotéis e outros serviços<br />
é um dos factores que pode pôr em<br />
risco a presença de turistas na cidade<br />
histórica. A cidade conta apenas<br />
com dois hotéis e o mais antigo não<br />
oferece condições de alojamento. No<br />
total, incluindo os serviços similares,<br />
a localidade oferece apenas 340<br />
quartos, um número quase insignificante<br />
para quem quer atrair turistas.<br />
GRUTAS DE ZAU ÉVUA - Localiza-<br />
Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019 43
CULTURA<br />
das na comuna do Nkiende, a 62 quilómetros<br />
de Mbanza Kongo, as grutas<br />
são, a par das ruínas do Kulumbimbi<br />
e das Fontes de Água, o orgulho e cartão-de-visita<br />
turístico da localidade.<br />
As grutas de Zau Évua fazem parte<br />
de uma rede de grutas e galerias, quase<br />
todas desconhecidas e ainda por<br />
explorar. É um local que não pode faltar<br />
no roteiro de quem visita Mbanza<br />
Kongo.<br />
Serviram, no passado colonial, de<br />
refúgio para os combatentes de luta<br />
de resistência contra a ocupação estrangeira.<br />
Estas cavernas, a par do Rio<br />
Zaire, concorreram na primeira edição<br />
das Sete Maravilhas de Angola.<br />
ESTÂNCIA TURÍSTICA DO TUCO<br />
- Em estado de abandono e cercada<br />
por capim que cresce ao seu redor, a<br />
estância turística que se estende ao<br />
longo do rio Tuco, localizada 12 quilómetros<br />
a sul de Mbanza Congo, já foi,<br />
em tempos idos, a jóia turística local,<br />
movimentando, no seu auge, centenas<br />
de turistas ao local. O rio apresenta características<br />
ímpares, com cachoeiras,<br />
água correndo entre as rochas e o chilrear<br />
dos pássaros.<br />
O Tuco pode, em caso de recuperação,<br />
tornar-se, novamente, num lugar<br />
aprazível para momentos de lazer<br />
inesquecíveis.<br />
FONTES DE ÁGUA - Trata-se de 12<br />
fontes naturais de água que circundam<br />
a cidade de Mbanza Kongo, nomeadamente<br />
Santa, Madungu (bairro Sagrada<br />
Esperança), Ntetembua (11 de Novembro),<br />
Kilumbu (Martins Kidito), Tuanenga,<br />
Cinza, Bulunga, Massangalavua,<br />
Mbende, Mbangu, Kilanza e Bundu.<br />
Apostado em dar uma imagem<br />
diferente a estas preciosidades históricas<br />
culturais, a administração<br />
municipal de Mbanza Kongo garante<br />
a requalificação das mesmas<br />
ainda no decorrer do ano em curso,<br />
sendo que, numa primeira fase serão<br />
abrangidas as fontes de Santa,<br />
Madungu, Ntetembua e Kilumbu,<br />
num valor global de 500 milhões de<br />
kwanzas, respondendo, desta forma,<br />
a uma das exigências da Unesco.<br />
44 Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019
CULTURA<br />
QUINTA DO KIOWA - A aldeia do<br />
Kiowa, a três quilómetros da cidade de<br />
Mbanza Kongo, nos últimos tempos<br />
tem despertado o interesse de muita<br />
gente que gosta de apreciar os encantos<br />
da natureza. No local existe a quinta de<br />
Victor Kusonga, um empreendedor que<br />
apostou na piscicultura, uma actividade<br />
pouco praticada nestas paragens.<br />
Construída numa área de 100<br />
hectares conta com um residencial<br />
para alojar os turistas.<br />
CULTURA - M'Banza Kongo é conhecida<br />
pelas ruínas da Catedral de<br />
São Salvador do Congo (construída<br />
em 1492), do século XV, considerada<br />
a igreja colonial mais antiga da África<br />
Subsaariana. Diz -se que a igreja actual,<br />
chamada São Salvador, conhecida<br />
localmente como Kulumbimbi, foi<br />
construída por anjos durante a noite.<br />
Foi elevado ao status de catedral em<br />
1596.<br />
Outro local interessante de importância<br />
histórica é o memorial da<br />
mãe do rei Afonso I, próximo ao aeroporto,<br />
que rememora uma lenda<br />
popular que começou na década de<br />
1680 em que o rei possivelmente havia<br />
enterrado a sua mãe viva, porque<br />
estava disposta a desistir de um "ídolo"<br />
que usava em volta do pescoço.<br />
Culturalmente, o visitante tem<br />
ainda ao seu dispor o Museu Real,<br />
actual Museu dos Reis do Kongo, reconstruído<br />
como uma estrutura moderna.<br />
Abriga uma impressionante<br />
colecção de artefactos do antigo Reino,<br />
embora muitos tenham sido perdidos<br />
do prédio mais antigo durante<br />
a Guerra Civil.<br />
O cemitério onde repousam os<br />
restos mortais dos antigos reis do<br />
Congo, localizado no perímetro adjacente<br />
ao Kulumbimbi, é muito visitado<br />
devido ao seu peso histórico e aspecto<br />
arquitectónico das sepulturas<br />
e da vedação.<br />
Para além das potencialidades<br />
históricas e naturais de Mbanza Kongo,<br />
a província do Zaire oferece ainda,<br />
para os mais aventureiros atractivos<br />
nos demais municípios.<br />
SOYO - De todos os municípios<br />
da província, o Soyo é a localidade<br />
que mais zonas turísticas alberga,<br />
entre as quais se destacam a Praia<br />
das Sereias, a Praia dos Pobres, localizada<br />
numa zona nobre da cidade<br />
do Soyo, na margem esquerda do Rio<br />
Zaire, a Foz do Rio Congo, as Quedas<br />
do Rio Mbridge, que servem para canoagem<br />
e rafting, e os canais Pululu,<br />
no Kwanda, e do Kimbumba, situado<br />
a dois quilómetros a leste do Soyo.<br />
Os turistas podem ainda deleitar-<br />
-se com a Ponta do Padrão, o primeiro<br />
porto que serviu aos portugueses em<br />
1482 para a descoberta de Angola por<br />
Diogo Cão.<br />
A 145 quilómetros da sede do município<br />
do Soyo está a Pedra do Feitiço,<br />
local turístico muito visitado por quem<br />
se desloca regularmente ao Soyo.<br />
BAÍA DA MUSSERA - Situada no<br />
município de Nzeto a 56 quilómetros<br />
da capital da província, Mbanza Kongo,<br />
a baía é utilizada para banhos e<br />
desportos náuticos.<br />
Mbanza Kongo, capital do antigo<br />
Reino do Kongo, é detentora de um<br />
património material e imaterial excepcional.<br />
A cidade foi inscrita na lista<br />
do Património Mundial da Unesco<br />
a 8 de Julho de 2017, durante a 41.ª<br />
sessão do Comité deste órgão, que<br />
decorreu na cidade polaca de Cracóvia<br />
(Polónia).<br />
Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019 45
ECONOMIA & NEGÓCIOS<br />
LUANDA TEM ALBERGADO A MAIOR FEIRA DE NEGÓCIOS DO PAÍS<br />
UM OLHAR SOBRE<br />
A FILDA DOS NOSSOS DIAS<br />
Com uma área estimada de 20 mil metros quadrados, a<br />
35ª edição da Feira Internacional de Luanda (Filda) foi<br />
realizada no período de 9 a 13 de Julho de 2019, com<br />
o lema “Dinamizar o sector privado e promover o crescimento<br />
económico. Fundada com o propósito de contribuir<br />
para o desenvolvimento da economia e aporte à<br />
indústria nacional, o evento assume já uma grande notoriedade<br />
internacional, a contar pelo interesse crescente<br />
de importantes agentes estrangeiros, que todos os anos<br />
reiteram e reforçam a sua participação no evento<br />
Por: Juliana Evangelista / Fotos:PlatinaLine<br />
A<br />
Filda é a oportunidade<br />
concreta de países<br />
como Portugal, Brasil,<br />
Alemanha, Espanha,<br />
África do Sul, Turquia,<br />
India, Japão entre<br />
outros, internacionalizarem as<br />
suas empresas e garantirem maior<br />
competitividade no contexto da economia<br />
onde se inserem. O interesse<br />
pela feira prende-se com o perfil altamente<br />
consumista que o país apresenta<br />
em quase todos os sectores de<br />
actividade e o programa ambicioso<br />
de realização de importantes obras<br />
públicas, e ainda ser uma oportunidade<br />
para se mostrar não só o que<br />
produz, sobretudo os produtos que<br />
se exportam.<br />
Desta forma, pretende-se reforçar<br />
a atractividade de Angola no<br />
panorama mundial, estimular parcerias<br />
entre empresários nacionais<br />
e estrangeiros, bem como construir<br />
uma Angola auto-suficiente com vista<br />
a exportação de bens de serviços.<br />
O segredo do sucesso da feira<br />
é simples: aumenta-se consideravelmente<br />
o número de exposições<br />
inovando permanentemente os serviços.<br />
Esta estratégia permitiu este<br />
ano uma estimativa de cerca de 17<br />
mil visitantes, em comparação a<br />
2018 que foram de 10.500 visitantes,<br />
com uma receita estimada de 4<br />
milhões de USD.<br />
A promotora do evento, Grupo<br />
Arena, entidade escolhida para o<br />
efeito,centrou-se na aposta da organização<br />
no sentido de atrair um<br />
público muito ligado ao negócio, o<br />
que levou a uma especialização por<br />
sectores. Esta foi a forma encontrada<br />
para tornar mais eficaz os acordos<br />
de parceria e negócios estabelecidos<br />
no recinto. Por outro lado, e tendo<br />
em conta a captação de um público<br />
jovem, em particular os estudantes<br />
universitários, a administração optou<br />
pela isenção do preço dos ingressos,<br />
o que obviamente estimulou o<br />
referido público.<br />
No entanto, o evento carece de<br />
melhorias.Os organizadores deverão<br />
explorar todas oportunidades decorrentes<br />
do seu potencial, inovando,<br />
enriquecendo, enfim, melhorando a<br />
qualidade dos seus serviços e produ-<br />
46 Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019
ECONOMIA & NEGÓCIOS<br />
tos. Tendo em conta este alinhamento,<br />
a organização deverá apostar na<br />
publicidade e branding, através da<br />
implementação do canal multimedia,<br />
mecanismo no qual as empresas<br />
poderão expor as suas marcas e<br />
anunciar seus serviços e produtos.<br />
Por exemplo, a Alemanha como<br />
líder mundial na produção de maquinarias<br />
para indústria pesada, já<br />
fez saber que tenciona potenciar<br />
contactos com actores angolanos no<br />
sentido de se desenvolverem parcerias<br />
de longo prazo naquele segmento,<br />
pois este país afigura-se como<br />
um grande parceiro se quisermos<br />
desenvolver uma indústria pesada.<br />
De referir que, actualmente, 1/4 das<br />
importações globais recaem para os<br />
bens de capital e com grande incidência<br />
para a maquinaria.<br />
O tema escolhido para 35ª edição<br />
é sugestivo, numa altura em que o<br />
crescimento económico tende para<br />
o abrandamento.O país carece de reformas<br />
estruturais com vista a consolidação<br />
do mercado interno, bem<br />
como o reforço da diversificação<br />
da económica, para que se operem<br />
maiores taxas de crescimento. Nesta<br />
perspectiva, os períodos de crise são<br />
interessantes para repensar e implementar<br />
novos modelos de crescimento,<br />
com um enfoque nos sectores<br />
comércio geral, indústria alimentar,<br />
construção, decoração de interiores,<br />
transporte de logística e, fundamentalmente<br />
a agricultura,pois, este sector<br />
juntamente com o das pescas são<br />
responsáveis por cerca de 11% do<br />
PIB nacional.<br />
Interessa lembrar que uma Feira<br />
de Negócios é uma plataforma presencial;<br />
é a maior e mais diversificada<br />
montra do sector produtivo; as<br />
feiras geram negócios para grandes,<br />
médias, pequenas e microempresas;<br />
além de que, num mesmo lugar, indústria,<br />
empresários e empreendedores<br />
podem negociar e criar parcerias.<br />
Para participar de uma feira de<br />
negócios a empresa deve actuar com<br />
pesquisa, planeamento e trabalho<br />
em equipa. Trata-se de uma oportunidade<br />
de negócios para expositores<br />
eficientes e bem preparados venderem<br />
seus produtos.<br />
A promoção comercial é uma<br />
actividade viva e dinâmica em constante<br />
mutação. Desde que esses<br />
eventos ofereçam propostas de valor<br />
alinhadas às características da economia<br />
angolana, será sempre uma<br />
mais-valia quer para os negócios<br />
em concreto, quer para a economia<br />
da cidade. Este ano a organização do<br />
evento apostou na criação da feira<br />
de emprego, na medida em que os<br />
candidatos poderiam candidatar-se<br />
a postos de trabalho temporário.<br />
Importa também lembrar que<br />
Luanda tem vindo a realizar vários<br />
eventos multissectoriais de cariz internacional,<br />
que exigem uma capacidade<br />
de resposta do sector hoteleiro,<br />
porque a cadeia produtiva do sector<br />
de Feiras de Negócios exige várias<br />
opções de gastronomia, hotelaria e<br />
lazer existentes na capital.<br />
Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019 47
ECONOMIA & NEGÓCIOS<br />
NO SEGUNDO TRIMESTRE<br />
VENDA DE DIAMANTES<br />
RENDE USD 200 MILHÕES<br />
O<br />
país arrecadou 232,8 milhões de dólares<br />
pela comercialização de 1,5 milhões de quilates<br />
de diamantes, no segundo trimestre de<br />
2019, anunciou recentemente, em Luanda,<br />
a Sociedade Nacional de Comercialização de<br />
Diamantes de Angola .O volume de vendas,<br />
segundo a SODIAM, corresponde a uma redução de 35,3<br />
por cento em relação a igual período de 2018.<br />
“Este decréscimo resulta, particularmente, da não-<br />
-concretização das vendas dos lotes da Sociedade Mineira<br />
de Catoca, no mês de Abril, que representam geralmente<br />
cerca de 80 por cento do volume de produção do trimestre”,<br />
explicou o chefe do Departamento de Planeamento da<br />
SODIAM, Sendji Vieira Dias, citado pelo "Jornal de Angola".<br />
De acordo com o diário, além das realizações do mercado<br />
de diamantes em Angola durante o segundo trimestre<br />
de 2019, a SODIAM apresentou as perspectivas para o<br />
terceiro trimestre.<br />
Sendji Vieira Dias, que procedeu à apresentação do balanço<br />
num enocntro com jornalistas, deu conta, também,<br />
que a receita bruta proveniente da actividade de comercialização<br />
registou uma redução de 87,3 milhões de dólares<br />
em relação a igual período do ano passado.<br />
“Esta redução é fundamentada pelo decréscimo de<br />
diamantes vendidos em cerca de 35 por cento”, justificou,<br />
revelando-se no encontro que o preço médio total do<br />
período cifrou-se em 155,37 dólares por quilate e que as<br />
províncias da Lunda-Sul, com 89 por cento, e Lunda-Norte,<br />
com 11 por cento, lideram o volume da produção comercializada<br />
entre Abril e Junho de 2019, sendo 1.332.939,05<br />
quilates de origem kimberlítica e 165.289,15 quilates de<br />
origem aluvionar.<br />
Segundo o J.A., agregando toda a produção e comercialização<br />
do primeiro semestre de 2019, o responsável disse<br />
que durante o mesmo período foram comercializados um<br />
volume total de 4,1 milhões de quilates, o que permitiu a<br />
arrecadação de uma receita de 601,4 milhões de dólares.<br />
O responsável recordou ainda que o volume de diamantes<br />
comercializados no primeiro semestre de 2019<br />
representou uma redução de 4,2 por cento em comparação<br />
a igual semestre de 2018 e um incremento da receita<br />
de 3,9 por cento em relação a similar período no ano anterior.Angola<br />
produz anualmente cerca de nove milhões de<br />
quilates de diamantes e as autoridades pretendem alargar<br />
a produção anual para 14 milhões.<br />
Em declarações aos jornalistas, o secretário de Estado<br />
para Geologia e Minas do Ministério dos Recursos Minerais<br />
e Petróleos, Jânio Correia Victor, disse que o incremento de<br />
3,9 por cento nas receitas se deveu à implementação de<br />
uma nova política de comercialização dos diamantes e à<br />
conjuntura internacional, marcada pela subida dos preços<br />
no mercado.<br />
Jânio Correia Victor anunciou, para breve, a realização<br />
de um concurso público para concessão de cinco minas para<br />
exploração de diamantes, ferro e fosfato. “Com o concurso,<br />
queremos maior transparência e atrair investidores nacionais<br />
e internacionais neste sector e, desta forma, a relançar a<br />
produção de ferro e de fosfato no país”, concluiu.<br />
48 Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019
NA ESPUMA<br />
DOS DIAS<br />
Por: Édio Martins<br />
NESSA ESPERANÇA DESESPERADORA…<br />
ÉS MOVIMENTO EM TEMPO PARADO (!)<br />
Com o respeito que me merecem os artistas, “apropriei-me” do<br />
poema Carolina musicado pelo angolano Mago de Sousa que<br />
quase parece fazer parte de uma ode - Ode (do grego antigo<br />
ᾠδή ōidē) é um poema de estilo particularmente elevado e<br />
solene, elaboradamente estruturado, descrevendo intelectual e<br />
emocionalmente a natureza e o mundo – ao país e ao estado de<br />
(des)graça em que nos encontramos.<br />
Com as eleições de 2017 renasceu a esperança, a esperança de dias melhores,<br />
dias que não estivessem completamente vergados à omnipresença do partido no<br />
poder, dos chefes e dos seus “acólitos” (termo “emprestado” pela Igreja Católica),<br />
rompido e corrompido, muitas vezes sem dó nem piedade pelo povo que sofre e<br />
sofre…, numa fúria desenfreada de despesismos e de despotismos.<br />
Passados dois anos o que temos? Que medidas de verdadeira gestão<br />
governativa foram implementadas e que somos capazes de identificar? Nada,<br />
uma mão cheia de nada!<br />
Continua a “peregrinação” contra a corrupção e o repatriamento de capitais,<br />
o que ainda é pouco para podermos considerar enquanto “medida” de gestão<br />
governativa e, escrutinando pacientemente, pouco mais do que isso… a par<br />
de “ensaios” falhados, como é o exemplo da implementação do IVA (adiada) e<br />
algumas “danças” de cadeiras – sai<br />
este, entra aquele, troca aqueloutro,<br />
para ficar tudo na mesma. Nem mesmo<br />
as moscas mudaram já que o “resto” é<br />
mesmo!<br />
“Nessa esperança desesperadora…”<br />
que se sente num bruá crescente<br />
“Na imensidão que me circunda”, por<br />
todos os recantos do país, borbulha a<br />
insatisfação.<br />
“No calor da minha cidade”<br />
(Lobito), em que não interessa ficar<br />
preso ao que já foste, “Na nostalgia<br />
dos meus dias” que nos magoa,<br />
muito, porque “Tu és presente, não<br />
és passado”, em profunda e doentia<br />
letargia, como todo o país, de Cabinda ao Cunene (aqui agravado pela seca<br />
meteorológica e pela incúria dos governantes). E o futuro?<br />
Nota: no Porto do Lobito continuam, há mais de um ano, estacionados/<br />
adormecidos uma frota de autocarros amarelos (escolares) a apodrecer ao<br />
sol e à chuva, como exemplo acabado da podridão do regime do antes e da<br />
incapacidade de “corrigir o que está mal” do depois!<br />
Anunciam-se mais créditos externos e mais empréstimos, ficando-se com a<br />
sensação, já vista em muitos outros “filmes”, da chamada “fuga para a frente”,<br />
aparentemente sem visão nem estratégia, meramente numa de minimizar os<br />
danos! Veja-se a trapalhada do abocanhar do Fundo Soberano, em alguns biliões,<br />
para financiar os Municípios, em desvio nítido de fins. Ou será que os fins<br />
justificam os meios?<br />
Angola, angolanos, entendamos que “O tempo não pára, o tempo voa” e quem<br />
não faz e bem o trabalho de casa, atrasa-se e muitas vezes irremediavelmente,<br />
infelizmente com consequências para os mais frágeis.<br />
Angola, “No famoso do tal engarrafamento” “És movimento em tempo<br />
parado”, até quando? Estamos juntos!<br />
Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019 49
DESTAQUE<br />
VISITA DE JOÃO LOURENÇO À CUBA<br />
SOB O OLHAR<br />
SILENCIOSO DE<br />
AGOSTINHO NETO<br />
A visita de estado que o terceiro Presidente da República de Angola, João Manuel Gonçalves<br />
Lourenço, acaba de fazer à irmã Cuba, deu praticamente início de forma inspirada<br />
e inspiradora, com a simbólica deposição duma coroa de rubras flores junto ao busto<br />
do Presidente-Fundador da República Popular de Angola, António Agostinho Neto,<br />
numa breve cerimónia realizada na Praça dos Heróis Africanos, em Havana<br />
Texto: Martinho Júnior / Fotos: Arquivo NET<br />
50 Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019
DESTAQUE<br />
Quis o Presidente João<br />
Lourenço começar<br />
por honrar a memória<br />
e o passado de<br />
Angola, de África,<br />
de Cuba Revolucionária<br />
e de toda a libertária cultura<br />
transatlântica comum, rendendo em<br />
solo cubano essa justa homenagem<br />
a alguém que esteve nos arcos da<br />
heroica ponte de irmandade África-<br />
-Cuba, alguém que foi um dos mais<br />
corajosos arquitectos-combatentes<br />
da luta de libertação no continente-<br />
-berço contra o colonialismo e o<br />
“apartheid”…<br />
Sob o olhar silencioso de António<br />
Agostinho Neto decorreu assim<br />
essa visita de estado de dois dias,<br />
com a responsabilidade da memória<br />
animada por gerações e gerações de<br />
africanos e afrodescendentes vitoriosos<br />
sobre a escravatura, o colonialismo<br />
e o “apartheid”, de africanos<br />
por isso mesmo tão ávidos de vencer<br />
os desafios do presente e do futuro…<br />
A Operação Carlota nesse sentido,<br />
é um rio inesgotável de fluxos e<br />
refluxos, de torrentes caudalosas e<br />
intrépidas e de remansos recolhidos<br />
nas perenes alvoradas dos tempos…<br />
Sob o olhar silencioso de António<br />
Agostinho Neto, houve assim<br />
uma autêntica e intemporal prova<br />
de vida entre povos irmãos, prova<br />
de vida que transcendeu o momento<br />
e a emoção, algo que se distende<br />
desde o passado e nos obriga indelevelmente<br />
a assumir com humildade<br />
e solidariedade internacionalista, a<br />
água tumultuosa deste presente e<br />
do futuro iluminado pelas mais vitalmente<br />
justas aspirações!<br />
1- Sob o olhar silencioso de<br />
Neto, o terceiro Presidente<br />
angolano quis sublinhar tudo<br />
o que foi vencido, mas também a<br />
responsabilidade de no presente se<br />
colocar África no lugar de sustentável<br />
respeito que o continente-berço<br />
da humanidade merece, entre as<br />
nações, os estados e os povos… uma<br />
sensibilidade que Cuba transmite<br />
por todos os seus sensíveis poros,<br />
pelos poros dum povo que de geração<br />
em geração assume corajosamente<br />
pátria, apenas por que pátria,<br />
com os olhos dos oprimidos de todo<br />
o mundo, é humanidade!<br />
… Pátria é humanidade de há 60<br />
anos, por que de há 60 anos que essa<br />
pátria mesmo sob o efeito do mais<br />
perverso dos bloqueios, deixou de<br />
ser utopia e aqui em África sabemos<br />
quanto, de Argel ao Cabo da Boa Esperança,<br />
Cuba, essa mesma pátria,<br />
tem vindo a contribuir para se lutar<br />
pelas mais nobres causas da humanidade,<br />
pelas causas mais sólidas<br />
dos direitos humanos fundamentais<br />
que antes historicamente sempre foram,<br />
em nome da “civilização”, inibidos,<br />
subvertidos e vilipendiados!<br />
2<br />
- Houve um tempo que essa<br />
luta teve de se levar a cabo de<br />
armas na mão, por que houve<br />
alguns que não quiseram conferir<br />
aos africanos esses fundamentais<br />
direitos de, por suas próprias mãos,<br />
dirigirem com sabedoria e honestidade<br />
seus estados, suas nações, seus<br />
povos e poderem livre e democraticamente<br />
optar pelo seu destino!<br />
Se os impérios coloniais tinham<br />
os seus dias contados com o final<br />
da IIª Guerra Mundial, nem por isso<br />
acabaram as renitências, as ambiguidades,<br />
as hipocrisias, os cinismos, as<br />
ingerências opressivas, as manipulações<br />
e a velada ou aberta guerra<br />
psicológica neocolonial, pois a Conferência<br />
de Berlim abria e continua<br />
ainda a abrir, espaços a reinterpretações<br />
e novas reinterpretações, ao sabor<br />
agora dum império de hegemonia<br />
unipolar que nem seu desajuste<br />
humano e desrespeito para com a<br />
Mãe Terra, alguma vez pretende reconhecer!…<br />
3<br />
- As reinterpretações contemporâneas,<br />
geradas no ventre<br />
duma inquinada globalização<br />
propiciada pelo capitalismo financeiro<br />
transnacional e neoliberal, um<br />
capitalismo voraz e capaz de providenciar<br />
assimilações para melhor<br />
manipular, iludir, alienar e dividir,<br />
são alguns dos maiores riscos decorrentes<br />
em África.<br />
Esse comprovado diagnóstico de<br />
práticas de conspiração, indicia que<br />
o poder que quer continuar como<br />
dominante, pretende ainda mão-de-<br />
-obra barata ou escrava e matérias-<br />
-primas para sustentar as suas indústrias<br />
inscritas nos parâmetros<br />
da revolução industrial e agora da<br />
nova revolução tecnológica inerente<br />
ao seu bárbaro carácter lesa-humanidade!<br />
Pretende também que os estados<br />
africanos continuem dependentes<br />
de monoculturas, de indústrias<br />
extractivas, de asfixia económica e<br />
financeira própria duma ultraperiferia<br />
que África jamais escolheu ser<br />
por opção independente, soberana e<br />
democrática!<br />
Ainda em nome da marca de “civilização”,<br />
quanta barbárie tem sido<br />
projectada como impacto dilacerante<br />
e transversal sobre o continente-<br />
-berço!<br />
4<br />
- Um “soft power” engenhosamente<br />
estimulado para criar<br />
jogos transversais subversivos<br />
nas sociedades africanas, promove<br />
velada ou aberta guerra psicológica<br />
e agentes de seu interesse e conveniência<br />
nas disputas para alcançar e<br />
manter o frágil poder de estado em<br />
África, algo que continua a estar na<br />
ordem do dia!<br />
Mesmo em relação a esta visita<br />
de estado, alguns alinharam publicamente<br />
nesse tipo de correntes,<br />
ementas e enredos, produzindo as<br />
mais diversas mensagens comunicacionais<br />
ditas “independentes”, quiçá<br />
em nome de direitos humanos de<br />
ocasião que manipulam para fazer<br />
por desconhecer os direitos humanos<br />
fundamentais, os inalienáveis<br />
direitos humanos à autodeterminação,<br />
à independência, ao exercício<br />
de soberania e ao próprio poder em<br />
democracia representativa (que jamais<br />
foi reconhecida pelo e com o<br />
“apartheid”)!<br />
Quantos não continuam pois a<br />
passar mensagens em órgãos de co-<br />
Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019 51
DESTAQUE<br />
municação pública de Luanda, que<br />
recorrendo ao populismo e a manipulações<br />
sustentadas por máfias,<br />
alegadamente em nome do povo<br />
angolano procuram ainda subverter<br />
com seus argumentos as decisões do<br />
estado que começou a assumir inequivocamente<br />
a luta contra a corrupção<br />
e procura saídas salutares para<br />
suas opções de vida social?...<br />
dido com rigor, com probidade, com<br />
honestidade, com dignidade, com sabedoria,<br />
com vital segurança…<br />
6<br />
- Assim esta visita de estado do<br />
terceiro Presidente angolano<br />
a Cuba irmã de África, a Cuba<br />
irmã de Angola, uma visita assumida<br />
como uma autêntica prova de vida<br />
transatlântica sob o olhar silencioso<br />
João Manuel Gonçalves Lourenço entregou, em nome do seu povo e seu partido, a Ordem<br />
Agostinho Neto ao primeiro secretário do Comité Central do Partido Comunista de Cuba,<br />
general-de-exército Raul Castro Ruz<br />
5<br />
- Em cima da visita de estado<br />
do Presidente João Manuel<br />
Gonçalves Lourenço a Cuba,<br />
as relações de irmandade entre os<br />
dois povos, angolano e cubano, estão<br />
por esses meios a ser postos em<br />
causa nas relações estado a estado<br />
em função das decisões que estão a<br />
ser tomadas em especial no âmbito<br />
da saúde!<br />
Os que assim fazem perderam-se<br />
mesmo num exercício que, de tantas<br />
reinterpretadas alienações e ilusões,<br />
deixaram de facto de considerar que<br />
o estado é apenas o fiel depositário<br />
dos interesses e das legítimas aspirações<br />
do povo e, recusando-se a<br />
respeitá-lo como tal por via de argumentações<br />
de conveniência, pretendem<br />
esconder que deixaram de há<br />
33 anos a esta parte de o ter defende<br />
Neto, vem pôr em causa o hiato<br />
que foi sendo produzido paulatinamente<br />
em todas as transversalidades<br />
da sociedade angolana de há mais de<br />
33 anos a esta parte, quando o estado<br />
deixou paulatinamente de merecer<br />
o respeito que outros interesses<br />
e conveniências quiseram subverter<br />
com as tão ambíguas quão assimiláveis<br />
cumplicidades locais, “em crescendo”…<br />
Se o fim do “apartheid”, precisamente<br />
na altura do colapso do socialismo<br />
na Europa do Leste e URSS,<br />
foi um sinal para o poder dominante<br />
ideologicamente adormecer os<br />
africanos (os angolanos incluídos)<br />
e tornar possível o choque neoliberal<br />
que provocou a “Iª Guerra Mundial<br />
Africana”, na sequência aliás<br />
dos impactos previamente criados<br />
sobre a região dos Grandes Lagos e<br />
sobretudo sobre o Ruanda, a terapia<br />
neoliberal que se lhe seguiu, tirando<br />
partido do desastre e do torpor colectivos,<br />
motivou em Angola o desrespeito<br />
pelo estado de tal forma que<br />
a corrupção se tornou cancerígena a<br />
ele, contagiando em doses cada vez<br />
mais intensas a sociedade, algo que<br />
continua a ser sustentado por via<br />
de meios em relação aos quais é urgente<br />
saber como foram realmente<br />
financiados, montados e o que neste<br />
momento de facto representam!<br />
Este já começa a ser um fenómeno<br />
que se vai aproximando do<br />
que aconteceu no Brasil com as<br />
motivações subjacentes à eleição<br />
cavernícola de Bolsonaro e quando<br />
previamente foi afastada Dilma e<br />
conduzido à prisão Lula!...<br />
7<br />
- A riqueza derivada de processos<br />
endémicos de corrupção<br />
em torno do poder<br />
chegou a ser a outra face da mesma<br />
moeda de ideologias injectadas por<br />
pseudorrevolucionários, práticos<br />
de “coloridas primaveras” a sul do<br />
Equador, que tiveram o condão de<br />
pretensamente atacar o poder de<br />
forma oportunista e seguindo cartilhas<br />
de guerra psicológica ao sabor<br />
de Gene Sharp, de George Soros e de<br />
outros “filósofos”projectores das manipulações<br />
ao serviço do poder global<br />
arrogantemente dominante!<br />
Em relação a uns e a outros, os<br />
justos não se podem equivocar, por<br />
que essa moeda, com essas duas faces,<br />
jamais os puderam comprar, enganar,<br />
corromper, ou subverter!<br />
Por essa altura defendi o poder angolano<br />
em função dos direitos fundamentais,<br />
mas nem por isso me deixei<br />
enganar, ou enredar pelos equívocos!<br />
Há quem, no âmbito do poder dominante<br />
e nesses termos, queira entre<br />
os africanos reinterpretar por via de<br />
sucessivas práticas de conspiração, a<br />
Conferência de Berlim em pleno século<br />
XXI e África até já começou a ser<br />
vulnerável e sangrentamente redesenhada<br />
em função dessas correntes<br />
avassaladas!...<br />
52 Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019
DESTAQUE<br />
8<br />
- Esta consciência crítica contundente<br />
da minha parte, não<br />
inibe pois que mesmo nessas<br />
conjunturas tão adversas de choque<br />
e terapia neoliberal e suas transversalidades<br />
minando o poder e a sociedade,<br />
disseminando alienação, caos,<br />
terrorismo, confusão, ou desagregação,<br />
deixasse de em Angola ser dever<br />
patriótico, em nome dos direitos<br />
fundamentais a que me refiro e não<br />
dos “direitos humanos” produzidos<br />
por deliberadas correntes de guerra<br />
psicológica, defender o estado angolano<br />
de planos subversivos ainda<br />
maiores, que se pudessem tornar<br />
ainda mais nocivos para esse estado,<br />
para a identidade nacional e para o<br />
povo angolano enquanto dilecto alvo<br />
e vítima da devassa dum deliberado<br />
caminho neocolonial!<br />
Defender o poder dum jovem estado<br />
de pouco mais de 40 anos nessas<br />
condições, obriga à sublimação<br />
da consciência crítica, mas não inibe<br />
a capacidade de se aprender com os<br />
próprios erros e saber apontá-los<br />
com pedagogia, tendo em conta as<br />
decisões erróneas sob a aparência de<br />
legítimas ou mesmo de legais, algo<br />
que foi consumado a partir de sucessivas<br />
transversalidades induzidas<br />
a ponto de se tornar opção contra a<br />
natureza do próprio estado, que acabou<br />
por ser cada vez mais alienado<br />
de si próprio em proveito de arrojadas<br />
máfias carregadas de ambição!<br />
Não inibe também e portanto a<br />
permanente necessidade pedagógica<br />
de voltar-se a respeitar o estado angolano<br />
à altura dos direitos fundamentais<br />
que lhe assistem enquanto fiel<br />
depositários dos interesses e aspirações<br />
do povo angolano e a capacidade<br />
para o revitalizar, relativizando para<br />
não cairem mais armadilhas, quer de<br />
inconsistentes alienações e ilusões,<br />
quer de propositadas e oportunistas<br />
ingerências, manipulações ou mesmo<br />
de injectadas radicalizações.<br />
9<br />
- Sob o olhar silencioso e substantivo<br />
de Neto, conforme ao cerimonial<br />
crucial em solo cubano,<br />
o terceiro Presidente de Angola lança<br />
a pedra dum saudável reencontro com<br />
a história, autêntica prova de vida para<br />
angolanos e para a irmandade entre<br />
angolanos e cubanos, a começar pelo<br />
respeito que se deve às imprescindíveis<br />
relações estado a estado!<br />
Na saúde, os mercenários do mercado<br />
neoliberal além de atentarem<br />
contra a vida do seu próprio povo ao<br />
negarem a saúde como um direito<br />
humano universal porque estão condicionados<br />
pelo lucro fácil e a mais<br />
hedionda avidez capitalista, agora<br />
usam canais de comunicação que antes<br />
de tudo o mais é dever do estado<br />
angolano avaliar como foram implementados,<br />
tal como tantas clínicas e<br />
farmácias privadas e seu arsenal de<br />
equipamentos e medicamentos!<br />
O fenómeno do desvio de medicamentos<br />
do estado angolano, foi dos<br />
primeiros fenómenos nocivos vividos<br />
pela Angola independente, praticamente<br />
logo em cima do 11 de Novembro<br />
de 1975…<br />
Em Angola basta de saúde mercenária<br />
ao serviço exclusivo do mercado<br />
e os seus mentores devem ser postos<br />
imediata e claramente em cheque,<br />
devendo-se fazer toda a luz sobre este<br />
candente assunto!<br />
A história obriga a que se saiba<br />
estar à altura desse tão digno, quão<br />
lúcido, quão responsável, quão patriótico<br />
desafio, por que sem dúvida, para<br />
todos os justos por que incorruptíveis,<br />
lúcida e convictamente, pátria é mesmo<br />
humanidade!<br />
Agostinho Neto e o ex-líder cubano Fidel Castro, ambos já falecidos<br />
In página Global.<br />
Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019 53
ÁFRICA<br />
REPÚBLICA DEMOCRÁTICA DO CONGO<br />
TSHISEKEDI<br />
INICIA GUERRA<br />
CONTRA REBELDES<br />
Félix Tshisekedi pôs em acção<br />
o programa de estabilização<br />
militar e social da<br />
RDCongo. Ordenou operações<br />
militares sendo encorajadores<br />
como primeiros<br />
resultados : um chef rebelde<br />
de referência, coronel<br />
Soleil Kitambi, rendeu-se<br />
em Kivu-Norte. As FARDC<br />
(forças Armadas da República<br />
Democrática do<br />
Congo) reivindicam, ainda,<br />
a recuperação de quatro<br />
posições na localidade<br />
de Djugu, em Ituri. Em<br />
Kinshasa, a polícia começou<br />
a executar uma operação<br />
contra a criminalidade.<br />
Foram detidos supostos<br />
assaltantes e recuperadas<br />
viaturas roubadas. Além<br />
de desejar pacificar o país,<br />
o Chefe de Estado eleito<br />
pretende contribuir para a<br />
estabilização da região dos<br />
Grandes Lagos, onde a RD-<br />
Congo representa o foco de<br />
insegurança mais notória<br />
Texto: Manuel Muanza/ Fotos: Arquivo NET<br />
Por ocasião do 59º aniversário<br />
da independência<br />
do país (30<br />
de Junho 1961), Félix<br />
Tshisekedi anunciou<br />
um plano de operações<br />
militares visando restabelecer a segurança<br />
na região oriental do país.<br />
Referiu-se concretamente às zonas<br />
de Ituri (Kivu-Norte), Kivu-Sul, Tanganyika,<br />
Kassayi e Kassayi-Central.<br />
A « sobrevivência » dos cidadãos<br />
congoleses, das instituições e o relançamento<br />
ecnómico dependem da<br />
paz, lembrou em discurso à nação. Ao<br />
reconhecer que « o clima da paz com<br />
os vizinhos » está condicionado à estabilidade<br />
do seu país e ao concreti-<br />
54 Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019
ÁFRICA<br />
zar a promessa eleitoral, Tshisekedi<br />
lança as bases para a realização das<br />
intenções das lideranças da região<br />
dos Grandes Lagos. Como se sabe, a<br />
última cimeira decorrida em Luanda<br />
concentrou-se em « questões de<br />
segurança e de cooperação regional<br />
», segundo o comunicado oficial da<br />
Casa Civil da presidência angolana.<br />
Mas, Tshisekedi exprimiu também<br />
preocupação pela relação existentes<br />
entre as rebeliões internas e os interesses<br />
de alguns países vizinhos.<br />
Numa abordagem diplomática sobre<br />
esta questão, Tshisekedi fez alusão<br />
aos « grupos armados estrangeiros<br />
». A nosso ver, o problema que se coloca<br />
agora, para lá das intenções de<br />
Tshisekedi, tem a ver com o método<br />
para mobilizar círculos de interesse<br />
que manipulam vontades e mobilizam<br />
gente para acções armadas nos<br />
países vizinhos. Em relação a isto,<br />
Tshisekedi construiu soluções em<br />
dois planos : interno e externo. Acredita<br />
haver «causas endógenas e exógenas<br />
» do conflito.<br />
No plano interno, quer « reforçar<br />
capacidades das forças nacionais<br />
de defesa e segurança. A<br />
segunda tarefa está ligada à instauração<br />
de «diálogo entre as comunidades»<br />
congolesas. No plano<br />
externo, citou a concertação regional.<br />
Para a justificar disse haver «<br />
implicações regionais » no conflito<br />
na RDCongo.<br />
O diálogo interno e a acção diplomática<br />
externa deverão culminar<br />
com a liquidação da rebelião<br />
e a desmobilização dos efectivos.<br />
Para ambas as actividades, Tshisekedi<br />
fez alusão a um «plano de<br />
reeducação » a ser conduzido pela<br />
MONUSCO.<br />
Para a realização das intenções<br />
de Tshisekedi, o exército (FARDC)<br />
direccionou operações de grande<br />
escala para Djugu, Mahagi, Minembwe,<br />
no Kivu-Sul, bastião da rebelião.<br />
Desde o anúncio oficial, alguns<br />
líderes da rebelião têm abandonado<br />
as armas. A missão das Naçoes<br />
Unidas (MONUSCO) organiza programas<br />
de apoio à reinserção dos<br />
rebeldes dispostos à rendição designado<br />
DDR (Desmobilização, Desarmamento<br />
e Reinserção).<br />
RENDIÇÃO E PREOCUPAÇÃO -<br />
No Kivu-Norte, o exército nacional<br />
já colheu os primeiros frutos das<br />
operações : Soleil Kitambi Lyuno,<br />
autoproclamado comandante da<br />
chamada « Brigada Fimbo na Fimbo<br />
» (Chicote, em lingala), rendeu-se<br />
às autoridades. Fez-se acompanhar<br />
de outros dirigentes da guerrilha. O<br />
quartel general da « Fimbo na Fimbo<br />
» situava-se em Osso Banyungu,<br />
zona de Masisi, em Kivu-Norte.<br />
“<br />
No plano interno,<br />
quer « reforçar capacidades<br />
das forças nacionais<br />
de defesa e segurança. A<br />
segunda tarefa está ligada<br />
à instauração de «diálogo<br />
entre as comunidades»<br />
congolesas. No plano externo,<br />
citou a concertação<br />
regional. Para a justificar<br />
disse haver « implicações<br />
regionais » no conflito na<br />
RDCongo<br />
“<br />
O administrador de Masisi, Olivier<br />
Bahuma Bakulu, citado pela agência<br />
noticiosa oficial ACP, disse estar em<br />
vias de rendição « outros elementos<br />
» deste grupo rebelde. « O coronel Soleil<br />
prometeu », garantiu o governante.<br />
Entretanto, admite-se que o processo<br />
de rendição dos rebeldes será<br />
penoso e longo, pois alguns poderão<br />
mesmo impor condições ao Estado,<br />
um receio expresso também pelo administrador<br />
Olivier Bahum.<br />
Uma investida das FARDC culminou<br />
com a retomada das bases<br />
da guerrilha em Djugu, na região de<br />
Ituri, santuário dos grupos armados.<br />
Tratam-se de quatro localidades<br />
onde estavam implantados os guerrilheiros.<br />
Foram três dias de con-<br />
frontos, o que indica o poder de fogo<br />
da rebelião e dá uma ideia da complexidade<br />
das operações militares. Um<br />
dos aspectos que prejudica as campanhas<br />
militares contra as rebeliões<br />
na RDCongo tem sido a incapacidade<br />
das forças de defesa e segurança em<br />
manter vigiadas as zonas retomadas<br />
aos insurrectos armados. A título de<br />
exemplo, depois de vastas perseguições<br />
e destruição das praças-fortes<br />
da rebelião na floresta de Wago, muitos<br />
grupos reavivaram os seus postos<br />
nas zonas deixadas fora do controlo.<br />
Esta visão foi, aliás, expressa por Jules<br />
Ngongo, porta-voz das FARDC em Ituri<br />
quando fazia referência à rendição<br />
do comandante rebelde Soleil.<br />
O avanço das operações das<br />
FARDC não diminuiu as actividades<br />
armadas da rebelião. As milícias<br />
Mayi-Mayi Bakata Katanga atacaram<br />
bairros da cidade de Lubumbashi,<br />
segundo denúncias da ONG « Justicia<br />
ASBL » dirigida pelo activista Thimothée<br />
Mbuya. Sintomático, tais acções<br />
deram-se depois dos confrontos dos<br />
Mayi-Mayi com as FARDC. Nas aldeias<br />
de Dhedja, em Djugu, onde as FARDC<br />
operam, continua a haver assaltos<br />
dos grupos armados às localidades<br />
habitadas por civis.<br />
CONTRA O CRIME - Além da<br />
guerra declarada contra a rebelião<br />
nas zonas do Leste do país, o governo<br />
congolês coordena uma campanha<br />
contra o crime organizado na capital,<br />
Kinshasa. Vários assaltantes foram<br />
detidos e automóveis foram apreendidos<br />
pela polícia nacional. Postos de<br />
controlo montados nas ruas, onde todos<br />
os veículos passaram pela vistoria,<br />
conforme noticiou um correspondente<br />
da rádio francesa RFI.<br />
Lingwala foi o município em que<br />
se focalizou a maior acção da polícia.<br />
« Tínhamos nomes e endereços e<br />
tudo estava no alvo », explicou o general<br />
Sylvano Kasongo à RFI. Entre<br />
os detidos figuraram assaltantes à<br />
mão armada, assaltantes de viaturas<br />
e membros de uma rede especializada<br />
em rapto.<br />
Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019 55
ÁFRICA<br />
• Segundo o chefe de Estado,<br />
"o Governo é que<br />
tem o processo (da pena<br />
de morte) neste momento".<br />
"Assinámos o decreto<br />
da moratória porque não<br />
queremos que se mate ninguém<br />
na Guiné Equatorial<br />
por razões legais", explicou<br />
Obiang, que cumpre 40<br />
anos no poder em Agosto<br />
A<br />
Guiné Equatorial pode<br />
abolir a pena de morte<br />
até ao final do ano,<br />
estando marcada para<br />
Setembro a discussão<br />
no parlamento sobre<br />
esse tema. O presidente prometeu<br />
"influenciar" os deputados para a<br />
aprovação da lei. Nestas declarações,<br />
o governante adiantou que está a ser<br />
organizada uma visita a Portugal.<br />
Estou a organizar uma visita a Portugal.<br />
E, possivelmente, quando visitar<br />
Portugal, farei uma visita a Fátima.<br />
Está a ser tratado pela via diplomática",<br />
afirmou.<br />
Quanto à abolição da pena de<br />
morte no país disse poder "garantir<br />
que vamos influenciar o parlamento<br />
para que aceite a abolição da pena de<br />
morte. O Governo fez o seu trabalho<br />
e acaba de enviar [a proposta de diploma<br />
legal] ao parlamento".<br />
A abolição da pena de morte era<br />
uma das condições de entrada do<br />
país na Comunidade dos Países de<br />
Língua Portuguesa (CPLP) em 2014,<br />
um processo polémico porque o Governo<br />
da Guiné Equatorial, uma ex-<br />
-colónia de Espanha, é acusado de<br />
sistemáticas violações de direitos humanos<br />
e de desrespeito dos direitos<br />
da oposição.<br />
A Guiné Equatorial é um país de<br />
maioria católica numa sub-região de<br />
forte presença muçulmana e aderiu<br />
à Comunidade dos Países de Língua<br />
GUINÉ EQUATORIAL<br />
TEODORO OBIANG<br />
GARANTE ABOLIÇÃO DA PENA<br />
DE MORTE EM SETEMBRO<br />
56 Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019
ÁFRICA<br />
Portuguesa (CPLP) em 2014. Em<br />
Portugal, forças políticas e organizações<br />
da sociedade civil têm criticado<br />
a adesão da Guiné Equatorial à organização,<br />
acusando o Governo de Malabo<br />
de várias violações de direitos<br />
humanos e de bloquear a acção dos<br />
opositores políticos.<br />
A adesão à CPLP foi justificada<br />
por Obiang com a ligação da Guiné<br />
Equatorial com os países africanos<br />
de expressão portuguesa.<br />
Colónia portuguesa até 1777,<br />
data em que foi entregue a coroa<br />
espanhola por troca na normalização<br />
das fronteiras do Brasil, a Guiné<br />
Equatorial é o único país africano<br />
que tem o espanhol como principal<br />
idioma e as ligações históricas e geográficas<br />
com São Tomé e Príncipe,<br />
em particular, são evidentes.<br />
A segunda primeira-dama de<br />
Obiang é são-tomense e as duas ilhas<br />
que compõem São Tomé e Príncipe<br />
são limitadas a norte e a sul pelas<br />
ilhas equato-guineenses de Bioko e<br />
Ano Bom.<br />
"A CPLP é um movimento cultural<br />
e eu tenho vizinhos que são de expressão<br />
portuguesa: tenho São Tomé<br />
tão perto, tenho afinidades com<br />
Guiné-Bissau e Cabo Verde. Há aqui<br />
muita gente que veio de Cabo verde.<br />
Tenho laços com Angola e Moçambique.<br />
São laços culturais que temos<br />
com esses países que nos fizeram entrar<br />
na dinâmica da CPLP", resumiu<br />
Teodoro Obiang.<br />
“<br />
A abolição da pena<br />
de morte era uma das<br />
condições de entrada do<br />
país na Comunidade dos<br />
Países de Língua Portuguesa<br />
(CPLP) em 2014, um<br />
processo polémico porque<br />
o Governo da Guiné<br />
Equatorial, uma ex-colónia<br />
de Espanha, é acusado<br />
de sistemáticas violações<br />
de direitos humanos e de<br />
desrespeito dos direitos da<br />
oposição<br />
“<br />
Quanto a Portugal, o Presidente<br />
equato-guineense recordou que a herança<br />
portuguesa foi afectada pela colonização<br />
espanhola. "Portugal tinha<br />
importantes recursos económicos<br />
na Guiné Equatorial. Tinha grandes<br />
roças, grandes quintas, mas a colonização<br />
espanhola não facilitou para<br />
que pudessem continuar a investir na<br />
Guiné Equatorial", salientou.<br />
Por isso, hoje, é preciso "recuperar<br />
a herança portuguesa", disse, recordando<br />
que "foi Portugal que descobriu<br />
a ilha de Fernão Pó e lhe deu<br />
o nome". "Nós temos origens na civilização<br />
portuguesa e o nosso desejo<br />
é voltar à velha cultura que tivemos<br />
antigamente", procurando "aderir e<br />
entrar na dinâmica e cultura portuguesa",<br />
disse, justificando também deste<br />
modo a entrada na CPLP.<br />
Entre os esforços do Governo<br />
equato-guineense, Obiang salientou<br />
que "está a aprender-se o português"<br />
no país, sem esclarecer o número de<br />
alunos. Por outro lado, a "rádio e televisão<br />
estão a difundir notícias em português".<br />
"A pouco e pouco estamos a<br />
entrar na cultura portuguesa", resumiu.<br />
(Diário de Notícias | Lusa).<br />
OBIANG<br />
"NÃO AUTORIZO A EXECUÇÃO DE UMA PESSOA"<br />
Na Guiné Equatorial está em vigor uma<br />
moratória que impede o cumprimento das<br />
condenações à pena capital, que já foram<br />
decretadas pelos tribunais do país, mas<br />
sem consequências. A moratória "é uma<br />
intenção", disse Obiang.<br />
"Se a justiça aplica a pena de morte, não se pode<br />
executar a pessoa se o Presidente não autoriza. E eu<br />
não vou autorizar", prometeu, assegurando o seu empenho<br />
pessoal nesta questão.<br />
Segundo o chefe de Estado, "o Governo é que tem o<br />
processo [da pena de morte] neste momento". "Assinámos<br />
o decreto da moratória porque não queremos que se<br />
mate ninguém na Guiné Equatorial por razões legais", explicou<br />
Obiang, que cumpre 40 anos no poder em Agosto.<br />
Se o parlamento, que tem como eleitos apenas<br />
deputados do partido governamental de Obiang (Partido<br />
Democrático da Guiné Equatorial), não aceitar a<br />
proposta, será necessário "apresentar uma emenda<br />
constitucional que seja sujeita a consulta popular",<br />
disse Teodoro Obiang.<br />
"Creio que a próxima sessão do parlamento, em Setembro,<br />
terá como uma das primeiras questões a tratar<br />
a abolição da pena de morte. Estou certo de que, antes<br />
do final do ano, teremos resultados", notou.<br />
No seu entender, a abolição da pena de morte é<br />
"uma exigência da comunidade internacional" que o<br />
país quer cumprir: "Não o fazemos nem pelos europeus,<br />
pelos africanos ou pelos americanos, fazemos porque é<br />
um processo internacional".<br />
Teodoro Obiang concedeu entrevistas à Agência<br />
Lusa e ao jornal francês L'Opinion, depois da cerimónia<br />
de entrada do Partido Democrático da Guiné Equatorial<br />
(PDGE, no poder), como observador, na Internacional<br />
Democrática do Centro África (IDC, que representa<br />
partidos de centro-direita).<br />
Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019 57
ÁFRICA<br />
NOVO GOVERNO GUINEENSE<br />
ÍNDICE DE PARTICIPAÇÃO<br />
FEMININA É ALTO<br />
O novo Governo guineense liderado por Aristides Gomes tem 31 pastas e onze delas<br />
são comandadas por mulheres. São oito ministras e três secretárias de Estado, o que<br />
corresponde a 35% de participação feminina no Executivo da Guiné-Bissau. Falta apenas<br />
um por cento para atingir a lei da paridade aprovada pela Assembleia Nacional<br />
Popular (ANP), que prevê uma taxa de participação de 36% das mulheres na esfera da<br />
tomada de decisões<br />
58 Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019
ÁFRICA<br />
Em conferência de imprensa<br />
realizada na primeira<br />
semana de Julho,<br />
a Plataforma Política<br />
das Mulheres da Guiné-<br />
-Bissau (PPM) chamou<br />
de "marco histórico" a inclusão de<br />
mais de uma dezena de mulheres no<br />
novo Executivo. Silvina Tavares, Presidente<br />
da organização, considera<br />
uma conquista o elevado número de<br />
mulheres no Governo.<br />
"A participação inédita das mulheres<br />
neste novo elenco governamental<br />
não reside apenas na avaliação<br />
numérica dos factos, mas sim, na<br />
qualidade e importância dos pelouros<br />
que lhes foram confiados nesta<br />
nova etapa crucial para o processo<br />
de desenvolvimento inclusivo que a<br />
Guiné-Bissau tanto almeja", disse a<br />
activista. "A organização considera<br />
um marco histórico a observância<br />
plena da paridade no que diz respeito<br />
à atribuição de funções ministeriais,<br />
na qual se regista uma paridade<br />
plena entre homens e mulheres,<br />
50% por cada sexo."<br />
Para Silvina Tavares, a inclusão<br />
de um número aceitável das mulheres<br />
no Governo é uma mudança de<br />
paradigma em relação ao passado,<br />
que foi caracterizado por discriminação<br />
contra pessoas do sexo feminino.<br />
"A Plataforma Política das Mulheres<br />
felicita os partidos da maioria<br />
parlamentar pelo enorme esforço<br />
que se traduz na mudança de paradigma<br />
em relação ao passado, caracterizado<br />
pela discriminação infundada<br />
contra as mulheres na esfera de<br />
tomada de decisões. De igual modo,<br />
o equilíbrio do género observado na<br />
composição do actual Governo constitui<br />
um gesto de reconhecimento",<br />
finalizou.<br />
CIDADÃOS SATISFEITOS - Ouvidos<br />
pela DW, os guineenses mostram-se<br />
satisfeitos com a inclusão<br />
das mulheres no Governo. "É bom<br />
que as mulheres também mostrem<br />
a sua participação positiva no desenvolvimento<br />
do país", disse uma<br />
cidadã guineense, cuja opinião foi<br />
partilhada por outro cidadão: "Isso<br />
não é um favor. É um direito e uma<br />
obrigação para que todos nós estejamos<br />
em pé de igualdade". Essa<br />
"é a forma mais viável também das<br />
mulheres poderem mostrar as suas<br />
capacidades na tomada de decisões",<br />
opinou uma professora entrevistada<br />
em Bissau pela reportagem da DW.<br />
Na Guiné-Bissau, as mulheres<br />
Silvina Tavares, Presidente da<br />
Plataforma das Mulheres da Guiné-Bissau<br />
constituem a maioria da população,<br />
52%. Em Novembro de 2018, o Parlamento<br />
guineense aprovou a lei de paridade,<br />
que foi promulgada pelo Presidente<br />
da República em Dezembro.<br />
Até antes da formação do novo<br />
Governo guineense, várias organizações<br />
femininas do país ainda questionavam<br />
o cumprimento da lei adotada<br />
pelos deputados, uma vez que<br />
na constituição da lista dos partidos<br />
para o Parlamento, não houve o respeito<br />
pela mesma.<br />
Iancuba Dansó (Bissau) |<br />
Deutsche Welle.<br />
Guiné-Bissau aprova Lei para garantir maior representação política das mulheres<br />
Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019 59
MUNDO<br />
AS CONSEQUÊNCIAS SÃO BRUTAIS EM TODO O MUNDO...<br />
POR QUE<br />
OS PSICOPATAS<br />
CHEGAM AO PODER?<br />
Há uma dimensão pouco examinada no avanço das lógicas neoliberais. Um sistema que<br />
estimula competição, disputa e rivalismo produzirá “líderes” brutais e sem empatia. Eleger<br />
gente generosa e sensível requer uma nova democracia<br />
Texto: George Monbiot | Outras Palavras / Fotos: Arquivo NET<br />
Quem, em seu juízo<br />
perfeito, poderia desejar<br />
esse trabalho?<br />
É quase certo que<br />
acabará, como descobriu<br />
Theresa May, em<br />
fracasso e execração pública. Procurar<br />
ser primeiro-ministro britânico,<br />
hoje, sugere ou confiança imprudente<br />
ou fome insaciável de poder.<br />
Talvez necessitemos de uma ironia<br />
como a de Groucho Marx: alguém<br />
louco o suficiente para candidatar-se<br />
a essa função deveria ser desqualificado<br />
para concorrer.<br />
Alguns anos atrás, a psicóloga<br />
Michelle Roya Rad listou as características<br />
de uma boa liderança. Entre<br />
elas figuravam justiça e objectividade,<br />
desejo de servir à sociedade<br />
e não a si mesmo, falta de interesse<br />
em ser famoso e ocupar o centro das<br />
atenções, resistência à tentação de<br />
esconder a verdade ou fazer promessas<br />
impossíveis. Por outro lado, um<br />
artigo publicado no Journal of Public<br />
Management & Social Policy (Jornal<br />
de Gestão Pública e Política Social)<br />
listou as características de líderes<br />
com personalidade psicopata, narcisista<br />
ou maquiavélica. Elas incluem:<br />
tendência à manipulação dos outros,<br />
disposição em mentir e enganar para<br />
alcançar seus objectivos, falta de remorso<br />
e sensibilidade, desejo de admiração,<br />
atenção, prestígio e status.<br />
Quais dessas características descrevem<br />
melhor as pessoas que estão<br />
competindo para ser “governantes”<br />
no mundo contemporâneo?<br />
“<br />
Para algumas pessoas,<br />
é mais fácil comandar<br />
uma nação, mandar<br />
milhares para a morte em<br />
guerras desnecessárias,<br />
separar crianças de suas<br />
famílias e infligir sofrimentos<br />
terríveis do que<br />
processar sua própria dor<br />
e trauma<br />
“<br />
Na política, vê-se em todo lado<br />
o que parece ser a externalização<br />
de déficits ou feridas psíquicas. Sigmund<br />
Freud afirmou que “os grupos<br />
assumem a personalidade do líder”.<br />
Penso que seria mais preciso dizer<br />
que as tragédias privadas dos poderosos<br />
tornam-se as tragédias públicas<br />
daqueles que eles dominam.<br />
Para algumas pessoas, é mais<br />
fácil comandar uma nação, mandar<br />
milhares para a morte em guerras<br />
desnecessárias, separar crianças de<br />
suas famílias e infligir sofrimentos<br />
terríveis do que processar sua própria<br />
dor e trauma. Aparentemente, o<br />
que vemos na política, em todos os<br />
cantos, é uma manifestação pública<br />
de profunda angústia privada.<br />
Essa talvez seja uma força particularmente<br />
forte na política britânica.<br />
O psicoterapeuta Nich Duffell<br />
escreveu sobre “líderes feridos”,<br />
que foram separados da família na<br />
primeira infância para ser enviados<br />
ao colégio interno. Eles desenvolveram<br />
uma “personalidade de sobrevivente”,<br />
aprendendo a reprimir seus<br />
sentimentos e projectar um falso eu,<br />
caracterizado pela demonstração<br />
pública de competência e autoconfiança.<br />
Sob essa persona está uma<br />
profunda insegurança, que pode gerar<br />
necessidade insaciável de poder,<br />
prestígio e atenção. O resultado disso<br />
é um sistema que “sempre revela<br />
pessoas que parecem muito mais<br />
competentes do que realmente são”.<br />
O problema não está confinado a<br />
estas paragens. Donald Trump ocupa<br />
a cadeira mais poderosa do planeta,<br />
e ainda assim parece roer-se de in-<br />
60 Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019
MUNDO<br />
par de uma eleição nacional passar<br />
por uma formação em psicoterapia.<br />
A conclusão do curso seria a qualificação<br />
para o cargo. Isso não mudaria<br />
o comportamento de psicopatas,<br />
mas poderia evitar que, ao exercer<br />
o poder, certas pessoas impusessem<br />
sobre os outros suas próprias feridas<br />
profundas. Fiz dois cursos: um influenciado<br />
por Freud e Donald Winnicott,<br />
outro cuja abordagem tinha<br />
foco na compaixão de Paul Gilbert.<br />
Considero os dois extremamente<br />
úteis. Penso que quase todo mundo<br />
se beneficiaria desses tratamentos.<br />
A psicoterapia não iria garantir<br />
uma política mais gentil. A abertura<br />
admirável de Alastair Campbell ao<br />
falar sobre sua terapia e saúde mental<br />
não o impediu de comportar-se –<br />
quando desempenhou as funções de<br />
assessor político e porta-voz de Tony<br />
Blair – como um valentão desbocado,<br />
que intimidava as pessoas a apoiar<br />
uma guerra ilegal, em que centenas<br />
de milhares de pessoas morreram.<br />
Tanto quanto sei, não demonstrou<br />
remorso por seu papel nessa guerra<br />
agressiva, que cabe na definição de<br />
“crime internacional supremo” do<br />
tribunal de Nuremberg.<br />
O problema, na verdade, é o sistema<br />
no qual essas pessoas competem.<br />
Personalidades tóxicas prosperam<br />
em ambientes tóxicos. Aqueles que<br />
veja e ressentimento. “Se o presidente<br />
Obama tivesse feito os acordos<br />
que fiz”, afirmou há pouco, “a mídia<br />
corrupta os consideraria incríveis…<br />
Para mim, apesar do nosso recorde<br />
em economia e tudo o que fiz, não há<br />
crédito!”. Nenhuma riqueza ou poder<br />
parece capaz de satisfazer sua necessidade<br />
de afirmação e segurança.<br />
Penso que deveria ser necessário<br />
a qualquer um que quisesse particideveriam<br />
ser menos confiáveis para<br />
assumir o poder são justamente os<br />
que mais provavelmente vencerão.<br />
Um estudo publicado no Journal of<br />
Personality and Social Psychology sugere<br />
que o grupo de traços psicóticos<br />
conhecido como “domínio sem medo”<br />
está associado a comportamentos<br />
amplamente valorizados nos líderes,<br />
tais como tomar decisões ousadas e<br />
sobressair-se no cenário mundial. Se<br />
assim for, nós, por certo, valorizamos<br />
as características erradas. Se para alcançar<br />
o sucesso no sistema é necessário<br />
ter traços psicopatas, há algo<br />
errado com o sistema.<br />
Para pensar uma política eficiente,<br />
talvez fosse útil trabalhar de trás<br />
para frente: primeiro decidir que<br />
tipo de gente gostaríamos que nos<br />
representassem e depois criar um<br />
sistema que as levasse ao primeiro<br />
plano. Quero ser representado por<br />
pessoas ponderadas, conscientes de<br />
si e colaborativas. Como seria um sistema<br />
que promovesse essas pessoas?<br />
Não seria uma democracia puramente<br />
representativa. Esse tipo de<br />
democracia funciona com o princípio<br />
do consenso presumido: você me elegeu<br />
há três anos, então presumo que<br />
consentiu com a política que estou<br />
para implementar, não importa se<br />
na época eu a mencionei ou não. Ela<br />
recompensa os líderes “fortes e determinados”<br />
que tão frequentemente<br />
levam suas nações à catástrofe. Um<br />
sistema que fortaleça a democracia<br />
representativa com democracia participativa<br />
– assembleias de cidadãos,<br />
orçamento participativo, co-criação<br />
de políticas públicas – tem mais possibilidades<br />
de recompensar os políticos<br />
sensíveis e atenciosos. A representação<br />
proporcional, que impede<br />
governos com apoio minoritário de<br />
dominar a nação, é outra salvaguarda<br />
potencial (embora não seja garantia).<br />
Ao repensar a política, é preciso<br />
desenvolver sistemas que incentivem<br />
gentileza, empatia e inteligência<br />
emocional. É preciso nos desvencilhar<br />
de sistemas que encorajem as<br />
pessoas a esconder sua dor e dominar<br />
os outros.<br />
Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019 61
MUNDO<br />
Fotos: Arquivo NET<br />
OTAN ASIÁTICA<br />
CHINA PODERÁ CRIAR<br />
UMA ALIANÇA MILITAR<br />
COM OS VIZINHOS?<br />
• O medo de que a China venha a criar um bloco militar na Ásia já existe há vários anos<br />
No contexto das tentativas dos EUA de fazer frente ao<br />
gigante asiático em diferentes áreas, a colunista Sofia<br />
Melnichuk da Sputnik analisa se Pequim estará realmente<br />
disposto a criar uma aliança militar com países vizinhos.<br />
No passado mês de Junho, o presidente da China, Xi<br />
Jinping, sugeriu pensar em uma "estrutura de segurança"<br />
na região durante uma reunião com seus parceiros euroasiáticos<br />
no âmbito da Conferência sobre Interação e<br />
Medidas de Confiança na Ásia, que decorreu em Duchambe<br />
(Uzbequistão)<br />
Alguns especialistas<br />
qualificaram esta<br />
iniciativa como um<br />
desejo de criar uma<br />
aliança em oposição à<br />
Organização do Tratado<br />
do Atlântico Norte, uma espécie<br />
de OTAN asiática. No entanto, unir-<br />
-se contra o Ocidente num bloco<br />
asiático será bastante problemático,<br />
nota a colunista.A proposta do presidente<br />
chinês surge após a publica-<br />
62 Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019
MUNDO<br />
ção do relatório do Departamento de<br />
Defesa dos EUA que critica as atividades<br />
da Rússia, Coreia do Norte e,<br />
sobretudo, da China.<br />
"A China utiliza incentivos e sanções<br />
económicas, influencia as operações,<br />
usa ameaças militares para<br />
persuadir outros Estados a seguirem<br />
o seu programa", diz o relatório.<br />
Embora o relatório não mencione a<br />
possibilidade de Pequim poder vir<br />
a criar um bloco militar na região,<br />
verifica-se que os EUA já estão trabalhando<br />
com os países vizinhos para<br />
conter a China.<br />
De facto, parece que o círculo de<br />
aliados dos EUA está-se apertando<br />
em volta da China: o Japão, a Austrália<br />
e a Índia fazem parte do Diálogo<br />
de Segurança Quadrilateral, e para<br />
além disso, os EUA têm parceiros de<br />
confiança no Sudeste Asiático.<br />
"Há desafios na região e aquilo<br />
que Xi Jinping diz não representa planos<br />
agressivos, mas sim uma reação<br />
forçada", comentou à Sputnik Sergei<br />
Sanakoyev, Chefe do Departamento<br />
Analítico Russo-Chinês do Centro de<br />
Investigação da Ásia-Pacífico.<br />
O importante para Pequim agora<br />
é ter a oportunidade de se reunir<br />
com os parceiros, debater determinados<br />
problemas e pensar em conjunto<br />
sobre a sua solução. Para tratar<br />
disso podem ser utilizados o Fórum<br />
de Cooperação Económica Ásia-Pacífico,<br />
o grupo BRICS e a Organização<br />
de Cooperação de Xangai, sendo<br />
esta última a estrutura principal em<br />
termos de segurança na Ásia. Nesta<br />
plataforma Pequim apresenta suas<br />
iniciativas, aumenta a confiança e<br />
propõe todo o tipo de eventos, explica<br />
a autora do artigo.<br />
POLÍTICA ASIÁTICA - A China<br />
simplesmente não tem razões para se<br />
transformar num adversário aberto<br />
dos EUA nem criar um bloco militar.<br />
Os acordos e as declarações que Pequim<br />
assina com outros países não<br />
podem ser qualificados como alianças.<br />
"[ A criação] da OTAN asiática é<br />
simplesmente impossível", disse à<br />
Sputnik Vasiliy Kashin, especialista<br />
“<br />
A formação de uma<br />
rede de alianças político-<br />
-militares não está entre<br />
os planos dos líderes chineses.(...)<br />
Significaria uma<br />
revisão de todo o conceito<br />
de política exterior do seu<br />
país, formado desde os<br />
tempos de Deng Xiaoping.<br />
A retórica pacífica continua<br />
sendo parte da imagem da<br />
China (...), mas o país também<br />
não esconde a necessidade<br />
de fortalecer as suas<br />
Forças Armadas<br />
“<br />
principal do Centro de Estudos Europeus<br />
e Internacionais da Escola<br />
Superior de Economia.<br />
Todos estes países são maiores<br />
que os ocidentais e têm suas próprias<br />
obrigações e interesses. "A<br />
ideia de que a China irá criar a sua<br />
própria OTAN deve-se a uma falta<br />
de compreensão de como funciona<br />
a política na Ásia. As pessoas usam<br />
estereótipos, fazem paralelos como<br />
Guerra Fria, coisas que simplesmente<br />
não funcionam na região asiática",<br />
destacou Kashin.<br />
O especialista explicou que a ordem<br />
mundial asiática é mais complexa<br />
que a europeia, por isso aplicar<br />
o mesmo padrão aqui não faz muito<br />
sentido.Na Ásia não existe uma<br />
aliança única, o que limita consideravelmente<br />
as capacidades dos EUA<br />
na região.<br />
"Os americanos não conseguiram<br />
unir os parceiros asiáticos. Inclusive,<br />
é difícil fazer cooperar o Japão<br />
com a Coreia do Sul, por exemplo",<br />
salientou Kashin. Ao mesmo tempo,<br />
o pilar de segurança de Tóquio é a<br />
sua aliança com os Estados Unidos.<br />
A Austrália é também um aliado dos<br />
EUA. Qualquer documento relativo à<br />
defesa que se assine com os chineses<br />
discute-se com Washington.<br />
A formação de uma rede de alianças<br />
político-militares não está entre<br />
os planos dos líderes chineses. Reconhecer<br />
tal necessidade significaria<br />
uma revisão de todo o conceito de<br />
política exterior do seu país, formado<br />
desde os tempos de Deng Xiaoping. A<br />
retórica pacífica continua sendo parte<br />
da imagem da China no âmbito internacional,<br />
mas o país também não<br />
esconde a necessidade de fortalecer<br />
as suas Forças Armadas.<br />
In Sputnik/Página Global.<br />
Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019 63
DESPORTO<br />
METAS PARA O CAN FICARAM ENTERRADAS NO DESERTO<br />
PALANCAS NEGRAS:<br />
OUTRO FRACASSO<br />
MAL JUSTIFICADO!<br />
Os Palancas Negras voltaram a ter uma participação para esquecer no CAN, por terem<br />
sido afastados logo nos oitavos-de-final da 32ª edição da prova que decorreu no Egipto,<br />
onde sonhavam atingir, no mínimo, a inédita meias finais. A safra pontual dos Palancas<br />
Negras em campo foi infrutífera - derrota (1-0 frente ao Mali e empates, por 1-1 e 0-0,<br />
durante os jogos contra a Tunísia e a Mauritânia, respectivamente)<br />
Textos: António Félix / Fotos: Arquivo F&N<br />
Deste modo, a representação<br />
angolana<br />
acabaria por fechar<br />
a fase de grupos em<br />
terceiro lugar com<br />
apenas dois pontos,<br />
sendo à frente o Mali, com sete, seguido<br />
da Tunísia, com três e a Mauritânia<br />
em último, também com dois.<br />
Significa que nesta sua oitava<br />
participação num CAN, os Palancas<br />
Negras, moldados à Srdjan Vasiljevic,<br />
foram incapazes de se impor no seu<br />
grupo para depois irem conquistando<br />
resultados positivos que os fizesse<br />
chegar às meias finais.<br />
Os factores que ditaram esta<br />
desdita foram, após a eliminação,<br />
64 Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019
DESPORTO<br />
identificadas por treinadores que<br />
já seguraram as "rédeas" dos Palancas<br />
Negras, nomeadamente, Miller<br />
Gomes e Oliveira Gonçalves. No seu<br />
balanço, este último, Oliveira Gonçalves,<br />
que até agora é o que mais<br />
longe fez chegar a selecção à fase final<br />
de um CAN - os quartos-de-final<br />
das edições do Ghana 2008 e Angola<br />
2010 - considera que houve fraca<br />
competência na liderança do órgão<br />
reitor do futebol no país e também a<br />
parca qualidade de jogo demonstrada<br />
pelo combinado nacional.<br />
Miller Gomes, por seu lado, elegeu<br />
três razões fundamentais: a<br />
problemática vivida pelos Palancas<br />
Negras durante o estágio em Portugal,<br />
a anulação do último particular<br />
com a África do Sul e a exposição dos<br />
futebolistas aos órgãos de imprensa.<br />
Mesmo diante do afastamento<br />
Miller Gomes, ex-treinador dos Palancas Oliveira Gonçalves, ex-treinador dos Palancas Carlos Almeida,<br />
Secretário de Estado para o Desporto<br />
prematuro, ditado por este conjunto<br />
de constrangimentos e resultados<br />
irremediáveis em campo, o Ministério<br />
da Juventude e Desportos,<br />
que não disponibilizou a tempo as<br />
condições financeiras para uma boa<br />
preparação, considera que não foi<br />
um fracasso de todo, tendo em conta<br />
o nível de dificuldade bastante<br />
elevado da competição.<br />
O secretário de Estado para o<br />
Desporto, Carlos Almeida, conside-<br />
rou mais tarde, em Luanda, que a<br />
participação da selecção nacional de<br />
futebol no CAN 2019, que decorreu<br />
no Egipto, "não foi um fracasso de<br />
todo, tendo em conta o nível de dificuldade<br />
bastante elevado da competição".<br />
"Os jogadores, a equipa técnica<br />
e a Federação Angolana de Futebol<br />
(FAF) tudo fizeram para representar<br />
de forma condigna o nosso país.<br />
E quando assim acontece, devemos<br />
apoiá-los, não obstante alguns erros<br />
cometidos, dos quais devemos tirar<br />
ilações para se evitá-los em outras<br />
circunstâncias", expressou Carlos<br />
Almeida.<br />
O certo é que o capitão dos Palancas<br />
Negras, Mateus Galiano, admitiu<br />
o fracasso. Com ele corroborou o<br />
médio Djalma Campos que exige<br />
maior competência organizativa por<br />
parte de dirigentes desportivos do<br />
país, particularmente no futebol.<br />
Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019 65
MUNDIAL DE HÓQUEI EM PATINS<br />
ANGOLA FALHA<br />
META EM ESPANHA<br />
. Depois de 10 anos de brilho, João Pinto deixa a selecção nacional<br />
Angola adiou para 2021 o<br />
sonho de poder terminar<br />
acima do quinto lugar num<br />
campeonato do Mundo de<br />
Hóquei em Patins, depois<br />
de, desta vez em Barcelona,<br />
Espanha, quedar-se na sexta<br />
posição da prova, baixando<br />
um lugar em relação à prova<br />
de 2017, decorrido em Nanjing<br />
(China), em que obteve<br />
o inédito quinto lugar<br />
O<br />
próximo campeonato,<br />
dentro de dois anos,<br />
acontece nas cidades<br />
argentinas de Buenos<br />
Aires, Vicente López e<br />
San Juan, palcos onde<br />
a selecção angolana deverá superar<br />
as falhas registadas em Barcelona.<br />
Foi diante da Itália, já nas classificativas<br />
do quinto e sexto lugares, que<br />
o combinado nacional se viu relegado<br />
para este posto, ao perder, por 4-6.<br />
A Itália foi justamente a adversária<br />
que venceu Angola no primeiro jogo,<br />
(grupo A), por 5-4.<br />
Angola acabava de , mais uma vez,<br />
não levar a melhor sobre uma Itália<br />
que ainda em Março deste ano foi derrotada<br />
por si no Torneio de Montreux,<br />
na Suíça, por expressivos 1-7. No jogo<br />
seguinte, Angola cilindrou Moçambique,<br />
por 6-1, e qualificou-se para os<br />
quartos-de-final, mas, na terceira contenda,<br />
já frente à toda poderosa Argentina,<br />
perdeu por 6-0, tendo, assim,<br />
sido remetida para as classificativas<br />
do 5º ao 8º posto. Depois Angola conseguiu<br />
vencer o Chile, por 7-4, após<br />
prolongamento, o que abriu a possibilidade<br />
de lutar para a manutenção da<br />
quinta posição da edição transacta.<br />
Apesar de ter baixado um lugar<br />
em relação à prestação anterior, pode-<br />
-se considerar que a participação de<br />
Angola foi positiva, pois o sexto lugar<br />
foi logrado em condições extremas.<br />
Tratou-se de um mundial, diferente<br />
dos outros nos moldes de disputa, o<br />
que influenciou a prestação angolana,<br />
porque, nos outros, houve dias de descanso,<br />
mas neste não.<br />
Desde o jogo com a Argentina,<br />
nos quartos, que os jogadores já não<br />
tinham pernas para andar e, a partir<br />
daí, foi um esforço sobrenatural para<br />
suportar os jogos que restavam.<br />
Ademais, Angola ficou inserida e<br />
jogou "num grupo complicado" com a<br />
Espanha, Itália e a França. A Espanha<br />
era a campeã. A Itália tem jogadores<br />
que lhe permite sonhar sempre com<br />
a intromissão na luta pelo título e a<br />
França é sempre muito poderosa.<br />
Fernando Falé que em 2017 regressou<br />
ao comando da selecção angolana,<br />
a qual conduziu aos mundiais<br />
de 2005 e 2007 tem um colectivo que<br />
pode fazer melhor em 2021, altura em<br />
que a selecção já não contará com os<br />
préstimos de João Pinto, agora com<br />
32 anos, dez dos quais ao serviço da<br />
mesma.<br />
Melhor marcador de Angola na<br />
prova, e quarto na lista geral, com 9<br />
golos, João Pinto agradeceu o apoio<br />
dos colegas, treinadores e dirigentes<br />
ao longo do tempo que serviu ao país<br />
na selecção.O atleta prometeu ajudar,<br />
sempre que for chamado para tal.Note-se<br />
que, na época passada, chegou<br />
à campeão europeu pelo Sporting de<br />
Portugal. Entretanto, deixará este ano<br />
a equipa lusa, para juntar-se aos italianos<br />
do Lodi. (A.F.)<br />
66 Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019
FIGURAS<br />
António Félix<br />
felito344@yahoo.com.br<br />
DE JOGO<br />
ARTUR ALMEIDA PODE CAIR?<br />
No seguimento da participação<br />
pouco aplaudida<br />
dos Palancas Negras no<br />
CAN do Egipto, há vozes<br />
a clamarem para que<br />
o actual presidente da<br />
Federação Angolana de Futebol (FAF)<br />
apresente a sua demissão, saindo com<br />
os seus pares, ou então incentiva-se os<br />
associados a promoverem eleições antecipadas,<br />
o que a acontecerem, estas<br />
poderão ser altamente polémicas.Há<br />
quem defenda mesmo a intervenção do<br />
Ministério da Juventude e Desportos,<br />
suspendendo a direcção, nomeando<br />
uma comissão de gestão.<br />
Desde a data da sua fundação, em<br />
1979, a Federação Angolana de Futebol<br />
(FAF) nunca viveu momentos de verdadeira<br />
paz, sobretudo quando se passou<br />
a realizar eleições, na verdade tão<br />
polémicas, tão concorridas e mediatizadas<br />
como as que guindaram Artur<br />
Almeida e pares à sua liderança.<br />
Polémicas porque o processo<br />
eleitoral pode ser ser visto de modo<br />
diferente pela população votante, que<br />
são os clubes e associações. Concorridas<br />
e mediatizadas porque os candidatos à<br />
presidência terão muitas facilidades, não<br />
vividas nos mandatos anteriores.<br />
Na verdade, consta nos anais do futebol<br />
angolano que o primeiro presidente<br />
da FAF, Eduardo Macedo dos Santos,<br />
que dirigiu a federação de 1979 a 1983,<br />
fê-lo por via da nomeação pela então<br />
Secretaria de Estado de Educação Física<br />
e Desportos, tal como aconteceu com o<br />
segundo, Luís Gomes (1983 a 1989) e<br />
para o terceiro, José Fernandes (1990).<br />
Este último, irmão de Justino<br />
Fernandes, mas já falecido, dirigiu<br />
a federação em comissão de gestão,<br />
devido a uma crise directiva ao tempo<br />
de Luís Gomes.Com o fim do critério<br />
político de nomeação, apanágio do<br />
então regime político monopartidário,<br />
o primeiro presidente eleito, graças<br />
aos sinais da democracia participativa<br />
que também chegou ao desporto, foi<br />
Armando Machado (1991 a 2000).<br />
Este dirigente, à época vindo do<br />
Huambo, onde abdicou o cargo de presidente<br />
da Associação Provincial de Futebol,<br />
concorreu com Daniel Simas, da<br />
associação de Luanda, a quem venceu,<br />
facilmente, por 11 votos contra apenas<br />
1.Depois de dois mandatos (cada um<br />
é de quatro) eivado de alguns ganhos<br />
pelo meio, como a primeira participação<br />
de Angola numa fase final do CAN<br />
(1996, na África do Sul), conquista da<br />
Taça Cosafa (1999) e a construção de<br />
uma sede e um hotel para servir a federação<br />
e a selecção nacional, Armando<br />
Machado tinha trunfos para voltar<br />
a concorrer desde que os estatutos<br />
alargassem para um terceiro mandato,<br />
mas não logrou esta pretensão.<br />
O obstáculo foi Justino Fernandes,<br />
defesa de renome no ASA dos anos<br />
sessenta, presidente do 1º de Agosto<br />
e ministro da Juventude e Desportos.<br />
A Armando Machado ter-se-á pedido<br />
mesmo para não fazer frente a quem<br />
(Justino Fernandes) era assessor social<br />
do ex-Presidente da República, Eduardo<br />
dos Santos.<br />
Provavelmente por causa desse<br />
peso político, Justino Fernandes, nas<br />
duas eleições seguintes (2005 e 2008),<br />
não enfrentou a ousadia de candidatos<br />
de peso. No seu mandato conseguiu a<br />
conquista do título de campeão africano<br />
de Sub-20, em 2001, na Etiópia,<br />
presença no Mundial (2006), nos CAN<br />
de 2006 e 2008, no Egipto e Ghana,<br />
vitória, em 2006, no Egipto, para organização<br />
do CAN de 2010 e, finalmente,<br />
a realização, com êxito, deste evento.<br />
Sucessos à parte, foram questões<br />
da falta de apoios e contactos regulares<br />
com as associações que motivaram estas<br />
a forçarem a direcção da FAF, liderada<br />
por Justino Fernandes, a solicitar<br />
eleições antecipadas, abrindo espaço<br />
para a concorrência que só terminou<br />
no dia em que Pedro Neto subiu ao<br />
"trono", onde actualmente está Artur<br />
Almeida, também na corda bamba.<br />
Pergunta-se: Artur Almeida<br />
pode cair?<br />
Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019 67
SAÚDE & BEM-ESTAR<br />
IDEALIZADOR DA METODOLOGIA DE TREINO DE CORRIDA RESPONDE...<br />
QUANTAS VEZES TEM DE<br />
CAMINHAR PARA EMAGRECER<br />
E TONIFICAR O CORPO?<br />
• Só necessita de meia hora de caminhada por dia para começar a mudar o seu<br />
corpo, três vezes por semana - claro, se ao mesmo tempo controlar a alimentação.<br />
Quando se trata de praticar<br />
exercício físico, não há<br />
nada mais simples e económico<br />
do que caminhar.<br />
Sendo que este exercício<br />
é igualmente eficaz para<br />
quem pretende queimar<br />
calorias, ter um corpo mais<br />
firme, ganhar resistência,<br />
melhorar o humor e a disposição,<br />
combater o sterss<br />
e reforçar o sistema imunitário.<br />
Alguns estudos já<br />
mostraram que caminhar a<br />
um passo rápido pode trazer<br />
tantos benefícios quanto<br />
a corrida para prevenir<br />
a pressão alta, diabetes e<br />
doenças do coração<br />
O<br />
personal trainer<br />
Alexandre Machado,<br />
idealizador da metodologia<br />
de treino de<br />
corrida Dpace. Ritmo<br />
confortável (RC),<br />
partilhou com a revista Abril algumas<br />
dicas que prometem maximizar<br />
o seu treino - sempre passo a passo.<br />
FARTLEK: controla a variação de<br />
ritmo de acordo com sua condição<br />
física. “A tendência é que passe<br />
a treinar com maior intensidade<br />
a cada sessão”, diz. O método é<br />
simples e indicado para quem está a<br />
iniciar a prática.<br />
INTERVALADO FIXO: alterna<br />
trechos curtos em intensidades diferentes:<br />
depois de aumentar a velocidade,<br />
recupera o fôlego diminuindo<br />
o ritmo ou fazendo exercícios localizados<br />
(descanso dinâmico).<br />
INTERVALADO PROGRESSIVO:<br />
a diferença em relação ao intervalado<br />
fixo é que, após a recuperação, o<br />
novo trecho forte tem intensidade<br />
mais alta do que o anterior.<br />
CONTÍNUO FIXO: a mesma<br />
intensidade é mantida o tempo todo.<br />
Em treinos superiores a 15 minutos,<br />
Texto: Liliana Lopes Monteiro<br />
Fotos: Arquivo NET<br />
68 Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019
SAÚDE & BEM-ESTAR<br />
o método é ótimo para desenvolver a<br />
resistência.<br />
RITMO MODERADO (RM): a<br />
respiração fica mais acelerada e necessita<br />
de fazer pausas na conversa<br />
para retomar o fôlego.<br />
RITMO FORTE (RF): está<br />
bastante ofegante e não consegue<br />
conversar sem parar, apenas dizer<br />
frases curtas.<br />
RITMO MUITO FORTE (RMF): é<br />
a maior intensidade possível<br />
e já não consegue falar, pois toda a<br />
energia está concentrada no exercício.<br />
JOGGING (JOG): é uma corrida<br />
em baixa intensidade, que fica<br />
entre os ritmos moderado e forte da<br />
caminhada. A diferença é o padrão<br />
de movimento: os dois pés ficam fora<br />
do solo ao mesmo tempo. Trata-se<br />
de um ótimo método para quem<br />
pretende passar gradualmente da<br />
caminhada para a corrida.<br />
O QUE É MELHOR<br />
PARA EMAGRECER:<br />
CORRER 30 MINUTOS<br />
OU CAMINHAR 60<br />
MINUTOS ?<br />
Para quem pretende<br />
manter-se saudável<br />
e em forma é<br />
essencial a prática<br />
diária de pelo menos<br />
30 minutos de<br />
exercício físico, cinco vezes por<br />
semana. Se o objectivo é perder<br />
peso, a actividade deve ser um<br />
pouco mais intensa: pelo menos<br />
uma hora por dia.<br />
Se está a começar a praticar<br />
desporto, uma caminhada rápida<br />
é uma ótima opção. Todavia,<br />
para aqueles que não têm muito<br />
tempo disponível, será que uma<br />
corrida de 30 minutos é tão<br />
benéfica quanto uma hora de<br />
exercício mais lento?<br />
Para perder meio quilo por<br />
semana, é necessário queimar<br />
um total de 500 calorias por dia.<br />
Se retirar 250 da dieta, restam<br />
250 para serem gastas com actividade<br />
física.<br />
Eis a comparação do gasto<br />
calórico da caminhada de uma<br />
hora e da corrida de meia<br />
hora:<br />
• Uma caminhada de 60 min a<br />
6,4km/h gasta 243 calorias;<br />
• Uma caminhada de 60 min a<br />
7,4km/h gasta 270 calorias;<br />
• Uma corrida de 30 min a<br />
9,6km/h gasta 270 calorias;<br />
• Uma corrida de 30 min a<br />
10,7km/h gasta 300 calorias.<br />
Fonte: (MSN/<br />
Lifestyle Emagrecer).<br />
Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019 69
SAÚDE & BEM-ESTAR<br />
OLHOS AMARELOS<br />
QUATRO FACTOS<br />
QUE TEM SE SABER<br />
SOBRE A ANEMIA<br />
A anemia ocorre quando<br />
o número de glóbulos<br />
vermelhos está baixo ou a<br />
quantidade de hemoglobina<br />
(a proteína que transporta<br />
o oxigénio) dentro<br />
desses glóbulos vermelhos<br />
é diminuta.Embora a<br />
anemia, até que se torne<br />
grave, não seja perigosa,<br />
estar anémico pode ser<br />
um grande alerta para<br />
outras questões de saúde<br />
potencialmente sérias. Eis<br />
quatro factos importantes<br />
sobre a anemia, de acordo<br />
com dados divulgados pelo<br />
Sistema Nacional de Saúde<br />
Britânico (NHS):<br />
Texto: Liliana Lopes Monteiro<br />
Fotos: Arquivo NET<br />
1. A anemia é um sinal de<br />
outra doença - O facto<br />
mais importante sobre<br />
anemia é que a condição<br />
é o resultado de alguma<br />
doença subjacente. Essa condição<br />
pode ser relativamente inofensiva ou<br />
muito séria. Pense na anemia como<br />
uma febre. Uma febre é um sinal que<br />
aponta para outra condição, talvez<br />
uma infecção bacteriana ou viral.<br />
Há dezenas de causas para a<br />
anemia, que variam entre coisas<br />
relativamente pequenas, como uma<br />
dieta desequilibrada, até problemas<br />
sérios, como cancro. A anemia por<br />
carência de ferro, um dos tipos mais<br />
comuns de anemia, pode ter várias<br />
causas, incluindo menstruação<br />
abundante, doença celíaca, gravidez,<br />
cancro do cólon ou simplesmente<br />
uma dieta com défice de ferro.<br />
2. Os sintomas de anemia<br />
são bastante comuns<br />
(excepto um) - Há uma variação<br />
na contagem normal<br />
de hemoglobina e glóbulos vermelhos,<br />
e pessoas diferentes começam<br />
a apresentar os sintomas em níveis<br />
diferentes. Em geral, o sintoma mais<br />
comum da anemia é a fadiga. Mas a<br />
70 Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019
SAÚDE & BEM-ESTAR<br />
fadiga pode ser causada por muitas<br />
coisas. Atente-se para sintomas<br />
mais preocupantes, como falta de ar<br />
causada por um nível de esforço que<br />
você conseguia fazer no passado.<br />
Outro sintoma a ser observado é<br />
uma aparência mais pálida do que o<br />
normal.<br />
Um sintoma pouco usual é<br />
comum em pessoas com anemia por<br />
carência de ferro. Ele é conhecido<br />
como pica. Ela é caracterizada por<br />
mastigar e comer coisas que não são<br />
alimentos. A biologia por trás disso<br />
ainda não é bem compreendida, mas<br />
pessoas com pica mastigam coisas<br />
como gelo, papelão ou terra. Parece<br />
ser mais comum em pessoas com<br />
carências nutricionais.<br />
Talvez os sintomas mais importantes<br />
a estar atento sejam os<br />
sintomas do que está a provocar a<br />
anemia. Por exemplo, ter sangue<br />
nas fezes e perda de peso podem<br />
ser sintomas de cancro no cólon, ou<br />
olhos amarelos (icterícia) podem<br />
resultar de uma queda em seus<br />
glóbulos vermelhos.<br />
3. Os médicos não procuram<br />
a anemia - Ao<br />
contrário do colesterol ou<br />
da pressão sanguínea, a<br />
anemia não faz parte dos exames<br />
de rotina. Em vez disso, os médicos<br />
irão sempre pedir exames de sangue<br />
(chamado hemograma completo)<br />
se a pessoa se queixar de sintomas<br />
como fadiga.<br />
Se os resultados desse exame de<br />
sangue revelarem um nível baixo de<br />
hemoglobina, então o seu médico<br />
provavelmente fará um exame<br />
completo e terá uma conversa mais<br />
detalhada sobre os seus sintomas e<br />
as alterações recentes na sua saúde.<br />
Com base nos dados apurados, o<br />
clínico pode pedir mais exames de<br />
sangue para observar outras alterações<br />
no nível de hemoglobina ou no<br />
número de glóbulos vermelhos.<br />
4. Anemia 'leve' também<br />
pode ser grave - A anemia<br />
normalmente aparece lentamente,<br />
frequentemente<br />
ao longo de semanas ou meses. Tal<br />
significa que mesmo as anemias<br />
causadas por um problema<br />
grave, como um tumot, podem<br />
aparecer em estágios precoces,<br />
quando a anemia ainda é ligeira.<br />
Mas mesmo que o médico<br />
afirme que a sua anemia em<br />
concreto é 'leve', esta ainda é<br />
um indicador de um problema<br />
de saúde maior. A gravidade da<br />
anemia nem sempre corresponde<br />
à importância da sua causa.<br />
Descobrir a causa é a chave<br />
para tratar a anemia e corrigi-la. É<br />
importante ser específico com seu<br />
médico sobre qualquer alteração<br />
nos medicamentos, sintomas ou<br />
saúde em geral que possa ajudar a<br />
determinar o que está a provocar a<br />
anemia.<br />
Ou seja, 60 minutos de caminhada<br />
(a 7,4km/h) ou 30 minutos<br />
de corrida (a 9,6 km/h) queimam<br />
a mesma quantidade de calorias.<br />
Mas se tende a andar mais devagar,<br />
certamente não vai alcançar com a<br />
caminhada os mesmos benefícios da<br />
corrida.<br />
“<br />
Um sintoma pouco<br />
usual é comum em pessoas<br />
com anemia por carência de<br />
ferro. Ele é conhecido como<br />
pica. Ela é caracterizada por<br />
mastigar e comer coisas que<br />
não são alimentos<br />
“<br />
Fica a dica: mesmo que disponha<br />
de 60 minutos, faça 30 minutos<br />
de corrida e alterne com 20<br />
minutos fazendo treino muscular,<br />
o que também ajuda a aumentar o<br />
metabolismo e a queimar calorias<br />
mais rapidamente. Realize ainda 10<br />
minutos de alongamentos. Alongar<br />
é extremamente importante para<br />
prevenir lesões e evitar dores nos<br />
músculos.<br />
Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019 71
VIDA SICIAL<br />
GINÁSTICA LABORAL,<br />
O QUE É?<br />
Podemos descrever a Ginástica<br />
Laboral como o conjunto<br />
de todas e quaisquer<br />
práticas que têm como<br />
principal objectivo:<br />
• Prevenir patologias relacionadas<br />
às actividades laborais;<br />
• Incentivar os colaboradores à prática de<br />
actividades físicas<br />
• Melhorar a qualidade de vida e a saúde<br />
(segundo a OMS a saúde é "um estado de<br />
completo bem-estar físico, mental e social<br />
e não somente ausência de afecções e<br />
enfermidades".<br />
Onde se Realizam as Sessões de Ginástica<br />
Laboral?<br />
A ginástica laboral é realizada no posto<br />
de trabalho ou, tanto quanto possível,<br />
num espaço destinado a tal, dentro da<br />
empresa.<br />
Qual a Duração das Sessões de Ginástica<br />
Laboral?<br />
Apesar de não ter uma duração exacta,<br />
considera-se que um período de tempo<br />
compreendido entre os cinco e os quinze<br />
minutos é suficiente para que os objectivos<br />
da Ginástica Laboral sejam atingidos,<br />
dependendo naturalmente das vicissitudes<br />
de cada emprego/empresa.<br />
Pode ser realizada todos os dias, duas<br />
a três vezes por semana ou conforme a<br />
frequência que a empresa disponibiliza.<br />
Quais os Diferentes Tipos de Ginástica<br />
Laboral?<br />
• Preparatória (normalmente é realizada<br />
no início da jornada laboral):<br />
Tem como objectivo preparar o organismo<br />
ao nível oxigenação tecidual, do<br />
aumento da frequência cardíaca, e na<br />
melhoria dos índices de concentração e<br />
de boa disposição.<br />
São realizados exercícios de Coordenação<br />
Fisiologista José Mendes<br />
72 Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019
Fisiologista Kátia Francisco<br />
e Equilíbrio Motor, de Concentração,<br />
de Flexibilidade e de Resistência muscular<br />
(não se recomenda que sejam<br />
realizados todos na mesma sessão).<br />
• Compensatória (normalmente é<br />
realizada durante a jornada laboral):<br />
Tem como objectivo o alívio da<br />
tensão muscular, através do auxílio<br />
na remoção de resíduos metabólicos,<br />
pela correção postural e pela prevenção<br />
de fadiga muscular, decorrentes<br />
de posturas menos correctas ou de<br />
esforços excessivos.<br />
São realizados exercícios Posturais,<br />
de Flexibilidade e Alongamentos e<br />
Exercícios Respiratórios.<br />
• Relaxamento (Normalmente é realizada<br />
ao final da jornada laboral):<br />
Tem como principal objectivo o alívio<br />
de tensões e diminuição dos índices<br />
de stress.<br />
São realizados exercícios de Automassagem,<br />
Respiração, Alongamentos<br />
e, nalguns casos, de Meditação.<br />
Quais as Vantagens da Ginástica<br />
Laboral?<br />
A aplicação prática da Ginástica Laboral<br />
promove:<br />
• A valorização do profissional, na sua<br />
vertente pessoal;<br />
• A preocupação empresarial com a<br />
saúde dos seus empregados, como<br />
elemento determinante no seu rendimento;<br />
• O desenvolvimento do trabalho<br />
com maior qualidade e duração, com<br />
a possibilidade real de obtenção de<br />
melhores resultados;<br />
• A oferta de um melhor ambiente de<br />
trabalho.<br />
• Diminuição dos casos de LER /<br />
DORT (Lesão por Esforço Repetitivo /<br />
Distúrbios Osteomusculares Relacionados<br />
com o Trabalho).<br />
Concluindo, a introdução da Ginástica<br />
Laboral como parte integrante<br />
do mapa laboral de uma entidade<br />
empregadora pode possibilitar a<br />
obtenção de melhores resultados a<br />
longo prazo, na medida em que a preservação<br />
e manutenção da saúde dos<br />
empregados, acaba por se reflectir no<br />
seu rendimento.<br />
Fisiologista Kátia Francisco<br />
Fisiologista José Mendes<br />
Para além de existir um aumento do<br />
bem-estar colectivo, existe uma relação<br />
directa com a redução do número<br />
de faltas ao emprego por motivos de<br />
saúde, possibilitando deste modo a<br />
manutenção ou o aumento do ritmo<br />
diário das rotinas das empresas.<br />
EXERCÍCIOS QUE DEVE REALIZAR:<br />
• Básculas<br />
• Alongamento Estático e Dinâmico<br />
do Trapézio<br />
• Alongamento Estático da Coluna<br />
Vertebral<br />
• Rotação da Coluna (na posição<br />
sentada)<br />
• Exercícios Respiratórios<br />
• Caminhada<br />
FRASES A DESTACAR<br />
“Relação directa com a redução do<br />
número de faltas ao emprego por<br />
motivos de saúde”<br />
“Tem como principal objectivo o<br />
alívio de tensões e diminuição dos<br />
índices de stress”<br />
“Aumento do bem-estar colectivo”<br />
Artigo escrito por:<br />
Fisiologista Bruno Lourenço, Fisiologista<br />
José Mendes e Fisiologista Kátia<br />
Francisco<br />
Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019 73
MODA & BELEZA<br />
O NEGÓCIO DO MOMENTO:<br />
PERUCAS<br />
Modernas e com aparência mais próxima ao<br />
do cabelo natural, as perucas fazem as cabeças<br />
das mulheres<br />
Texto: Crisa Santos / Fotos: www.pinterest.com<br />
De cara nova! A peruca<br />
é um acessório que<br />
atravessou séculos e<br />
ainda hoje é uma opção<br />
para dar aquela<br />
variada no estilo. É<br />
comum nos Estados Unidos as mulheres<br />
negras mudarem o visual com<br />
frequência.<br />
Por Angola, a modalidade vai<br />
ganhando força. O que antes servia<br />
apenas para esconder os poucos cabelos,<br />
agora virou acessório .<br />
Sim, as perucas estão na moda,<br />
mas em formatos e modelos muito<br />
modernos do que aquelas usadas pelos<br />
nossos avós .<br />
Chamadas de “ Lace Wig”, as perucas<br />
modernas impressionam pela<br />
74 Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019
MODA & BELEZA<br />
Peruca comum - É a mais simples,<br />
não tem pentes para ajustar<br />
nem tela, os fios não são colocados<br />
um a um na rede. São mais baratas.<br />
Full lace wig - Tem tela de tule<br />
em toda extensão, que deve ter cor<br />
semelhante à pele da pessoa quer<br />
usa. Os fios são tecidos um a um,<br />
garantindo naturalidade. Custam,<br />
geralmente, a partir de $100-$1500 .<br />
Pode ser colada na cabeça com<br />
uma cola especial ou costurada no<br />
cabelo.<br />
Lace wigs - Termo usado para<br />
definir qualquer peruca com tela de<br />
tule frontal e o restante feito como<br />
peruca comum. Se dividem em dois<br />
tipos a depender da extensão da tela:<br />
a lace front wig e a half wig custam<br />
entre $50 a $199.<br />
Lace front wig - A tela é frontal,<br />
de orelha a orelha, e o resto é uma<br />
peruca tradicional, com aberturas<br />
para ventilação do cabelo natural.<br />
Permite ajeitar os fios para o lado<br />
que quiser.<br />
Half Wig - É uma peruca pela metade.<br />
Não possui franja. Nesse modelo,<br />
o cabelo natural da pessoa que a<br />
está usado se mistura com as fibras<br />
no penteado. O ideal é que o cabelo<br />
da frente esconda o começo da half<br />
wig. Não é indicada para quem não<br />
tem cabelo. Com a partir de $70 dá<br />
para comprar uma.<br />
naturalidade .<br />
Dizem por aí que o cabelo é a<br />
moldura do rosto. Imagina poder<br />
mudá-lo sempre que quiser? Algumas<br />
famosas como as cantoras Pérola<br />
,Titica ,Ary são adeptas das laces<br />
wigs, termo em inglês para perucas<br />
em que a fibra é presa em uma tela.<br />
O segredo está justamente nas<br />
“laces”; ou seja, as telas aonde são<br />
colocados à mão os fios de cabelo e<br />
que imitam o couro cabeludo .<br />
Isso sem contar a qualidade de<br />
fibras sintéticas que imitam os fios, o<br />
que garante preço .<br />
Não é exagero dizer que existe<br />
uma peruca moderna para cada ocasião<br />
.<br />
Elas são óptimas aliadas para<br />
quem está passando por transição<br />
capilar ou quer um cabelo diferente<br />
sem se submeter a químicas ou descolorações<br />
Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019 75
FIGURAS DE LÁ<br />
TRUMP E BORIS<br />
ALIADOS ESTRATÉGICOS<br />
São três o número de vezes consecutivas e em<br />
menos de três meses que o Chefe de Estado<br />
norte-americano vai encontrar-se com Boris Johnson<br />
e será para discutir muitos assuntos relacionados<br />
com a saída da Grã Bretanha da União<br />
Europeia. Donald Trump é o principal aliado de<br />
Boris e pelo menos até à data do Brexit (Outubro<br />
próximo) tem manifestado todo o seu apoio<br />
ao novo primeiro-Ministro do Reino Unido,<br />
confrontado que está com os problemas das Irlandas.<br />
Aliás, Trump mostra-se muito agradado<br />
com a escolha de Boris para Primeiro Ministro,<br />
dizendo que a sua governação vai ser fantástica.<br />
Apelidou-o mesmo de «bom rapaz», mas nunca<br />
escondeu uma maior simpatia por Nigel Farage,<br />
líder do extremista Partido do Brexit.<br />
CIPRIANO CASSAMÁ<br />
CANDIDATO À P.R.<br />
O Presidente da Assembleia Nacional Popular vai<br />
ser candidato às presidenciais agendadas para 24 de<br />
Novembro e promete convidar o presidente do PAIGC,<br />
Domingos Simões Pereira, para o cargo de primeiro-<br />
-ministro.<br />
"Depois de uma reflexão profunda, enquanto primeiro<br />
vice-Presidente do partido (PAIGC), decidi candidatar-me<br />
às eleições presidenciais. Confirmo que<br />
sou candidato e serei candidato a essas eleições de<br />
24 de Novembro", anunciou recentemente Cipriano<br />
Cassamá.<br />
"Penso que, enquanto Presidente da República,<br />
dentro de cinco a seis meses, ele voltará a chefiar o<br />
Governo da Guiné-Bissau", adiantou, referindo-se a<br />
Domingos Simões Pereira. "Domingos Simões Pereira<br />
é o presidente do meu partido. Com ele tenho uma<br />
aliança. Eu desisti no Congresso de Cacheu (2014).<br />
Fui com 379 delegados. Eu era candidato para ser<br />
presidente do partido. Dado algumas considerações,<br />
desisti da minha candidatura, fizemos uma aliança<br />
e ele é presidente do partido e continuo a ter muita<br />
confiança nele", disse, citado pela agência Lusa.<br />
76 Figuras&Negócios - - Nº Nº 201 202 - - JUNHO JUlHO 2019
FIGURAS DE LÁ<br />
JÔ SOARES<br />
ATAQUE COM HUMOR<br />
O escritor e humorista brasileiro, Jô Soares, usou a sua<br />
coluna no jornal Folha de S.Paulo para atacar, com muito<br />
humor, a indicação de Eduardo Bolsonaro, feita pelo presidente,<br />
à embaixada dos Estados Unidos<br />
"Se Napoleão nomeou irmãos e parentes como reis da<br />
Holanda, Nápoles e Espanha, por que o presidente do Brasil<br />
não poderia nomear o filho embaixador dos Estados<br />
Unidos?" -escreveu Jô Soares numa crónica , com o título<br />
'Outra carta aberta ao nosso excelentíssimo presidente<br />
da República, senhor Jair Bolsonaro'. A crítica começa na<br />
escolha da língua. Jô cria um 'francês abrasileirado' para<br />
falar com o presidente. Com múltiplos erros de grafia e<br />
conjugação verbal, ele começa parabenizando Jair Bolsonaro<br />
por escolher Eduardo como embaixador às vésperas<br />
do aniversário dele de 35 anos (idade mínima requerida<br />
para o cargo). "Que ideia genial! Assim como deve ser, respeitando<br />
as regras: primeiro completar a idade correcta.<br />
Depois, pequena festa, troca de presentinhos, etc. Cantar<br />
os parabéns, apagar as velas, comer o bolo! E depois o<br />
presente principal: ele, que já tem uma graduação em<br />
hambúrguer e talvez uma pós-graduação em cheesburguer?",<br />
escreveu o humorista e também apresentador e<br />
produtor da Tv Globo.<br />
ABEL XAVIER<br />
DESAIRE E ABANDONO<br />
Abel Xavier acabou mesmo por deixar de ser treinador<br />
da selecção moçambicana de futebol, depois de não<br />
ter chegado a acordo para renovar contrato. Nas redes<br />
sociais, o técnico revelou recentemente que não iria<br />
continuar como seleccionador nacional e coordenador<br />
do trabalho das selecções de formação, considerando ,<br />
todavia, ter sido para si uma honra servir o combinado<br />
de futebo e mais representativo das cores nacionais do<br />
seu país de origem.<br />
Abel Xavier, 46 anos de idade, tinha assumido o comando<br />
técnico de Moçambique em 2016, mas falhou as<br />
duas tentativas de se apurar para o CAN, a maior prova<br />
de selecções do continente africano.<br />
Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019 77
FIGURAS DE LÁ<br />
JACOB ZUMA<br />
AMEAÇAS DE MORTE?<br />
O antigo chefe de Estado marcou presença em Julho<br />
numa comissão de inquérito à corrupção estatal, onde<br />
negou quaisquer irregularidades cometidas com a<br />
influente família de empresários indianos-Gupta-de<br />
que é próximo. “Houve um impulso para me retirar<br />
de cena, um desejo de que eu desaparecesse”, disse,<br />
falando ainda de uma conspiração contra si. Segundo<br />
o Expresso, Jacob Zuma disse que foi ameaçado de<br />
morte na sequência do seu depoimento, na véspera,<br />
numa comissão de inquérito à corrupção estatal.<br />
"Zuma revelou que o seu assistente pessoal recebera<br />
uma chamada de uma pessoa desconhecida que<br />
ameaçou matar o ex-chefe de Estado e os seus filhos",<br />
divulgou-se, mas o vice-presidente do Tribunal Constitucional,<br />
Raymond Zondo, que encabeça a comissão,<br />
reagiu sublinhando que as ameaças são inaceitáveis. O<br />
antigo chefe de Estado, com 77 anos, é suspeito de ter<br />
concedido ilegalmente contratos públicos lucrativos e<br />
vantagens indevidas aos Gupta.<br />
HENRY ROTICH<br />
MINISTRO CORRUPTO<br />
Acusado de suborno e fraude num contrato com<br />
uma empresa italiana para a construção de duas<br />
barragens, o ministro das Finanças do Quênia,<br />
Henry Rotich, acabou mesmo por se entregar à<br />
Justiça.<br />
Com ele, vários funcionários do seu ministério<br />
foram também detidos recentemente , acusados<br />
de participar no referido esquema do projecto<br />
multimilionário de construção. O Procurador-Geral<br />
do Quénia, Noordin Haji, ordenou a detenção<br />
imediata de Rotich, juntamente com outras 27<br />
pessoas e entidades, mas, note-se, o governante<br />
entregou-se de forma voluntária.<br />
O contrato original assinalava que o custo de<br />
ambas as barragens seria de 456 milhões de<br />
dólares, mas o Tesouro aumentou essa quantia<br />
em 170 milhões de dólares "sem ter em conta o<br />
rendimento ou as obras". Até Janeiro deste ano, o<br />
Governo queniano pagou 197 milhões de dólares,<br />
ainda antes da construção ter começado.<br />
78 Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019
RECADO<br />
SOCIAL<br />
Carlos Miranda<br />
carlosimparcial@gmail.com.<br />
DESARMAMENTO: OUTRA GUERRA!!<br />
Dados recentes da Polícia<br />
Nacional dão conta que o<br />
processo de desarmamento<br />
da população civil, que<br />
iniciou em Março de 2008,<br />
permitiu a recolha de 110<br />
mil e 572 armas, mais de 68 mil carregadores,<br />
766 mil e 399 munições, bem como<br />
161mil e 834 explosivos.Citada pela Angop,<br />
a nossa polícia revelou que "por posse<br />
ilegal de armas de fogo, foram abertos mil<br />
e 945 processos-crime, mil e 900 julgados,<br />
mil e 822 condenados, 78 absolvidos e mil<br />
e 45 casos em instrução preparatória".Só?<br />
Espantoso!<br />
Já se passaram mais de dez anos, desde<br />
que foi despoletado este processo de desarmamento.<br />
Lembro-me como eram apresentados<br />
os balanços, mais ou menos regulares,<br />
sobre as operações desencadeadas pela<br />
Polícia Nacional. Umas com mais ou menos<br />
"trungungo", mas a polícia lá ia sossegando<br />
a população e esta aplaudia.Algumas delas<br />
eram publicitadas como se ainda estivéssemos<br />
em guerra declarada contra os<br />
terroristas internos, rebeldes armados até<br />
aos dentes, ou coisa que se pareça...<br />
Hoje, o quadro mudou?. Não! Continuamos<br />
assustados. Com medo de atravessar<br />
as ruas, os becos; de irmos aos bancos,<br />
aos serviços, às escolas e universidades,<br />
hospitais; continuamos com receio de regressarmos<br />
aos campos, vilas e cidades do<br />
interior porque, sinceramente, a batalha do<br />
desarmamento vitorioso dos civis em posse<br />
ilegal de armas de guerra tarda em acabar.<br />
Daí a existência de um estádio permanente<br />
de insegurança pessoal. Cada um dos<br />
vinte e quatro milhões com os seus pesadelos.<br />
Uns, sentem-se perturbados com o vizinho<br />
da frente ou com o parente ex-militar;<br />
outros, temem que o primo desmobilizado<br />
se revolte e sinta vontade de estraçalhar os<br />
miolos do mais próximo. Os dados quanto<br />
ao desarmamamento da população em posse<br />
ilegal de armas de fogo, não são muito<br />
apaziguadores.E mais: quem for apanhado<br />
com uma ou várias armas de fogo, julgado<br />
e condenado, apanha uma mísera pena de<br />
dois a seis anos de prisão efectiva.E consta<br />
que se for bem comportado, pode sair ao<br />
cabo de uns mesitos para, cá fora, voltar a<br />
ter oportunidade de armar-se em "rambo"<br />
no povoado, onde, não raras vezes, é acolhido<br />
como "herói", um "ciente" corajoso!<br />
A boa notícia é que o Ministério do<br />
Interior decidiu recrudescer esta "batalha"<br />
do desarmamento e neste contexto teve até<br />
uma decisão porreira: que se construam<br />
depósitos provinciais das armas que vão<br />
sendo recolhidas para posteriormente<br />
serem destruídas. Claro que os cidadãos<br />
acolheram com satisfação esta ideia, mas<br />
não deixam de torcer o nariz quanto à sua<br />
praticabilidade nos tempos que correm.<br />
Querem que as armas sejam apreendidas<br />
e imediatamente destruídas, num curtíssimo<br />
espaço de tempo. E porquê? Porque<br />
a própria polícia já terá reconhecido que<br />
existem muitas armas "desviadas" de<br />
vários locais de sua propriedade para o<br />
mercado negro. Não é novidade que, por<br />
exemplo, no famoso mercado "Roque<br />
Santeiro" não se tenham vendido apenas<br />
fisgas ou alicates. Vendiam-se armas<br />
de fogo e tudo indica que terão existido<br />
outras "praças" em que tais negócios proliferavam<br />
e prosperavam...<br />
Por isso, é preciso fazer uma introspecção<br />
muito séria no seio de várias instituições<br />
detentoras do "privilégio" de utilizarem<br />
armas de fogo. Feliz ou infelizmente,<br />
algumas estão ligadas às empresas de<br />
segurança privada, quer sejam de entidades<br />
colectivas, como individuais. Só falta<br />
ver basukas e lança-mísseis em posse de<br />
algumas delas, tal é a capacidade de fogo<br />
que certas armas detêm.<br />
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