DESTAQUE VISITA DE JOÃO LOURENÇO À CUBA SOB O OLHAR SILENCIOSO DE AGOSTINHO NETO A visita de estado que o terceiro Presidente da República de Angola, João Manuel Gonçalves Lourenço, acaba de fazer à irmã Cuba, deu praticamente início de forma inspirada e inspiradora, com a simbólica deposição duma coroa de rubras flores junto ao busto do Presidente-Fundador da República Popular de Angola, António Agostinho Neto, numa breve cerimónia realizada na Praça dos Heróis Africanos, em Havana Texto: Martinho Júnior / Fotos: Arquivo NET 50 Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019
DESTAQUE Quis o Presidente João Lourenço começar por honrar a memória e o passado de Angola, de África, de Cuba Revolucionária e de toda a libertária cultura transatlântica comum, rendendo em solo cubano essa justa homenagem a alguém que esteve nos arcos da heroica ponte de irmandade África- -Cuba, alguém que foi um dos mais corajosos arquitectos-combatentes da luta de libertação no continente- -berço contra o colonialismo e o “apartheid”… Sob o olhar silencioso de António Agostinho Neto decorreu assim essa visita de estado de dois dias, com a responsabilidade da memória animada por gerações e gerações de africanos e afrodescendentes vitoriosos sobre a escravatura, o colonialismo e o “apartheid”, de africanos por isso mesmo tão ávidos de vencer os desafios do presente e do futuro… A Operação Carlota nesse sentido, é um rio inesgotável de fluxos e refluxos, de torrentes caudalosas e intrépidas e de remansos recolhidos nas perenes alvoradas dos tempos… Sob o olhar silencioso de António Agostinho Neto, houve assim uma autêntica e intemporal prova de vida entre povos irmãos, prova de vida que transcendeu o momento e a emoção, algo que se distende desde o passado e nos obriga indelevelmente a assumir com humildade e solidariedade internacionalista, a água tumultuosa deste presente e do futuro iluminado pelas mais vitalmente justas aspirações! 1- Sob o olhar silencioso de Neto, o terceiro Presidente angolano quis sublinhar tudo o que foi vencido, mas também a responsabilidade de no presente se colocar África no lugar de sustentável respeito que o continente-berço da humanidade merece, entre as nações, os estados e os povos… uma sensibilidade que Cuba transmite por todos os seus sensíveis poros, pelos poros dum povo que de geração em geração assume corajosamente pátria, apenas por que pátria, com os olhos dos oprimidos de todo o mundo, é humanidade! … Pátria é humanidade de há 60 anos, por que de há 60 anos que essa pátria mesmo sob o efeito do mais perverso dos bloqueios, deixou de ser utopia e aqui em África sabemos quanto, de Argel ao Cabo da Boa Esperança, Cuba, essa mesma pátria, tem vindo a contribuir para se lutar pelas mais nobres causas da humanidade, pelas causas mais sólidas dos direitos humanos fundamentais que antes historicamente sempre foram, em nome da “civilização”, inibidos, subvertidos e vilipendiados! 2 - Houve um tempo que essa luta teve de se levar a cabo de armas na mão, por que houve alguns que não quiseram conferir aos africanos esses fundamentais direitos de, por suas próprias mãos, dirigirem com sabedoria e honestidade seus estados, suas nações, seus povos e poderem livre e democraticamente optar pelo seu destino! Se os impérios coloniais tinham os seus dias contados com o final da IIª Guerra Mundial, nem por isso acabaram as renitências, as ambiguidades, as hipocrisias, os cinismos, as ingerências opressivas, as manipulações e a velada ou aberta guerra psicológica neocolonial, pois a Conferência de Berlim abria e continua ainda a abrir, espaços a reinterpretações e novas reinterpretações, ao sabor agora dum império de hegemonia unipolar que nem seu desajuste humano e desrespeito para com a Mãe Terra, alguma vez pretende reconhecer!… 3 - As reinterpretações contemporâneas, geradas no ventre duma inquinada globalização propiciada pelo capitalismo financeiro transnacional e neoliberal, um capitalismo voraz e capaz de providenciar assimilações para melhor manipular, iludir, alienar e dividir, são alguns dos maiores riscos decorrentes em África. Esse comprovado diagnóstico de práticas de conspiração, indicia que o poder que quer continuar como dominante, pretende ainda mão-de- -obra barata ou escrava e matérias- -primas para sustentar as suas indústrias inscritas nos parâmetros da revolução industrial e agora da nova revolução tecnológica inerente ao seu bárbaro carácter lesa-humanidade! Pretende também que os estados africanos continuem dependentes de monoculturas, de indústrias extractivas, de asfixia económica e financeira própria duma ultraperiferia que África jamais escolheu ser por opção independente, soberana e democrática! Ainda em nome da marca de “civilização”, quanta barbárie tem sido projectada como impacto dilacerante e transversal sobre o continente- -berço! 4 - Um “soft power” engenhosamente estimulado para criar jogos transversais subversivos nas sociedades africanas, promove velada ou aberta guerra psicológica e agentes de seu interesse e conveniência nas disputas para alcançar e manter o frágil poder de estado em África, algo que continua a estar na ordem do dia! Mesmo em relação a esta visita de estado, alguns alinharam publicamente nesse tipo de correntes, ementas e enredos, produzindo as mais diversas mensagens comunicacionais ditas “independentes”, quiçá em nome de direitos humanos de ocasião que manipulam para fazer por desconhecer os direitos humanos fundamentais, os inalienáveis direitos humanos à autodeterminação, à independência, ao exercício de soberania e ao próprio poder em democracia representativa (que jamais foi reconhecida pelo e com o “apartheid”)! Quantos não continuam pois a passar mensagens em órgãos de co- Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019 51