F&N202
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NA ESPUMA<br />
DOS DIAS<br />
Por: Édio Martins<br />
NESSA ESPERANÇA DESESPERADORA…<br />
ÉS MOVIMENTO EM TEMPO PARADO (!)<br />
Com o respeito que me merecem os artistas, “apropriei-me” do<br />
poema Carolina musicado pelo angolano Mago de Sousa que<br />
quase parece fazer parte de uma ode - Ode (do grego antigo<br />
ᾠδή ōidē) é um poema de estilo particularmente elevado e<br />
solene, elaboradamente estruturado, descrevendo intelectual e<br />
emocionalmente a natureza e o mundo – ao país e ao estado de<br />
(des)graça em que nos encontramos.<br />
Com as eleições de 2017 renasceu a esperança, a esperança de dias melhores,<br />
dias que não estivessem completamente vergados à omnipresença do partido no<br />
poder, dos chefes e dos seus “acólitos” (termo “emprestado” pela Igreja Católica),<br />
rompido e corrompido, muitas vezes sem dó nem piedade pelo povo que sofre e<br />
sofre…, numa fúria desenfreada de despesismos e de despotismos.<br />
Passados dois anos o que temos? Que medidas de verdadeira gestão<br />
governativa foram implementadas e que somos capazes de identificar? Nada,<br />
uma mão cheia de nada!<br />
Continua a “peregrinação” contra a corrupção e o repatriamento de capitais,<br />
o que ainda é pouco para podermos considerar enquanto “medida” de gestão<br />
governativa e, escrutinando pacientemente, pouco mais do que isso… a par<br />
de “ensaios” falhados, como é o exemplo da implementação do IVA (adiada) e<br />
algumas “danças” de cadeiras – sai<br />
este, entra aquele, troca aqueloutro,<br />
para ficar tudo na mesma. Nem mesmo<br />
as moscas mudaram já que o “resto” é<br />
mesmo!<br />
“Nessa esperança desesperadora…”<br />
que se sente num bruá crescente<br />
“Na imensidão que me circunda”, por<br />
todos os recantos do país, borbulha a<br />
insatisfação.<br />
“No calor da minha cidade”<br />
(Lobito), em que não interessa ficar<br />
preso ao que já foste, “Na nostalgia<br />
dos meus dias” que nos magoa,<br />
muito, porque “Tu és presente, não<br />
és passado”, em profunda e doentia<br />
letargia, como todo o país, de Cabinda ao Cunene (aqui agravado pela seca<br />
meteorológica e pela incúria dos governantes). E o futuro?<br />
Nota: no Porto do Lobito continuam, há mais de um ano, estacionados/<br />
adormecidos uma frota de autocarros amarelos (escolares) a apodrecer ao<br />
sol e à chuva, como exemplo acabado da podridão do regime do antes e da<br />
incapacidade de “corrigir o que está mal” do depois!<br />
Anunciam-se mais créditos externos e mais empréstimos, ficando-se com a<br />
sensação, já vista em muitos outros “filmes”, da chamada “fuga para a frente”,<br />
aparentemente sem visão nem estratégia, meramente numa de minimizar os<br />
danos! Veja-se a trapalhada do abocanhar do Fundo Soberano, em alguns biliões,<br />
para financiar os Municípios, em desvio nítido de fins. Ou será que os fins<br />
justificam os meios?<br />
Angola, angolanos, entendamos que “O tempo não pára, o tempo voa” e quem<br />
não faz e bem o trabalho de casa, atrasa-se e muitas vezes irremediavelmente,<br />
infelizmente com consequências para os mais frágeis.<br />
Angola, “No famoso do tal engarrafamento” “És movimento em tempo<br />
parado”, até quando? Estamos juntos!<br />
Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019 49