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F&N202

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SOCIEDADE<br />

TRÁFICO DE SERES HUMANOS EM ANGOLA<br />

TRIBUNAIS TÊM<br />

VINTE CASOS PARA JULGAR...<br />

A Procuradoria-Geral da República (PGR) angolana anunciou que cerca de vinte casos de<br />

tráfico de seres humanos em Angola já transitaram em julgado e que este tipo de crime<br />

exige novos mecanismos de actuação<br />

"Hoje o quadro do tráfico no<br />

país não podemos dizer que<br />

não é preocupante, registamos<br />

números de queixas e<br />

participações baixas, mas<br />

isso não quer dizer que a actividade<br />

não exista; portanto, temos<br />

um registo baixo de casos", disse Astergidio<br />

Pedro Culolo, sub-PGR junto<br />

do Serviço de Migração e Estrangeiros<br />

(SME) angolano.<br />

Em declarações aos jornalistas à<br />

margem de uma palestra sobre Tráfico<br />

de Seres Humanos em Angola, dirigida<br />

aos efectivos da polícia nacional, o magistrado<br />

deu conta que as províncias<br />

de Luanda, Lunda Norte e Zaire lideram<br />

as ocorrências.<br />

Segundo Artergidio Pedro Culolo,<br />

orador da palestra promovida<br />

(em 25 Junho) pelo Ministério da<br />

Justiça e dos Direitos Humanos, em<br />

parceria com o Comando Geral da<br />

Polícia de Angola, aquelas províncias<br />

"têm registado actividades mais<br />

relevantes" de tráfico humano, sobretudo<br />

"devido as fronteiras".<br />

"Em termos de casos, posso apenas<br />

falar dos que já foram tratados judicialmente,<br />

que são perto de 20 casos<br />

nessas províncias. Há províncias em<br />

que não há registo nenhum, mas o facto<br />

de não haver registo não quer dizer<br />

que ali não exista o tráfico", apontou.<br />

"Poderá existir, mas ainda não detectamos<br />

e se isso acontece, é porque os<br />

nossos sistemas de alerta não têm estado<br />

a funcionar devidamente", realçou.<br />

Em Janeiro, o padre católico Félix<br />

Gaudêncio disse à Lusa que a população<br />

da província do Cunene, sul do<br />

país, "estava assustada" com os "crescentes<br />

relatos" de traficantes de seres<br />

humanos, sobretudo crianças, quatro<br />

dos quais já detidos pela polícia.<br />

"O quadro é de medo, a população<br />

está mesmo com medo, em pânico,<br />

porque se trata de uma população que,<br />

anteriormente, acolhia muitas pessoas,<br />

orientava quem estivesse perdido,<br />

mas hoje em dia há esse receio de<br />

orientar ou acolher estranhos", disse o<br />

padre na altura.<br />

O também presidente da Associação<br />

Ame Naame Omuno, de defesa e<br />

promoção dos direitos humanos na<br />

província, defendeu ainda o "reforço<br />

do policiamento" no seio das comunidades,<br />

afirmando que o tráfico de seres<br />

humanos na província "é uma prática<br />

antiga".<br />

"Porém, agora ganha maior visibilidade<br />

por causa dos meios de comunicação<br />

e por causa do mediatismo;<br />

então, isso é uma realidade porque<br />

chama muito a atenção o facto de aparecerem<br />

pessoas assim mortas, de vez<br />

em quando", bem como "aparecerem<br />

pessoas a dizerem que estavam a ser<br />

aliciadas para serem levadas para a<br />

Namíbia", concluiu.<br />

Em Dezembro de 2018, um vídeo<br />

publicado nas redes sociais apresentava<br />

um suposto autor confesso desses<br />

crimes, relatando como terá matado<br />

uma mulher, a quem terá retirado os<br />

órgãos, que foram levados para a Namíbia.<br />

Questionado sobre o assunto, o<br />

delegado do Ministério do Interior de<br />

Angola no Cunene, Tito Munana, deu<br />

conta que as autoridades judiciais<br />

"ainda não provaram se os relatos<br />

do suposto traficante do vídeo divulgado<br />

eram verdadeiros".<br />

(...) Quando questionado pela<br />

Lusa sobre o tráfico de órgãos<br />

humanos, sobretudo a nível da<br />

província do Cunene, referiu que a<br />

"situação é preocupante", afirmando<br />

que "apesar de existirem, ainda não foram<br />

detectados".<br />

"É também preocupante, creio que<br />

casos desses assim ainda não foram<br />

detectados, mas existem. Temos registado,<br />

agora, com alguma preocupação<br />

a movimentação de crianças para o<br />

exterior do país, que às vezes não cumprem<br />

com as regras", frisou.<br />

"E pode ser que seja essa actividade,<br />

daí a necessidade de estarmos<br />

informados para afinarmos os mecanismos<br />

e começarmos a detectar", concluiu<br />

o também membro da Comissão<br />

Interministerial Contra o Tráfico de<br />

Seres Humanos em Angola.<br />

Diário de Notícias | Lusa.<br />

Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019 21

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